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USO DE TABACO E ÁLCOOL ENTRE ACADÊMICOS DA SAÚDE
Luciana Zaranza Monteiro; Andrea Ramirez Varela; Maria de Lourdes Alves Carneiro;
Luciana Zaranza Monteiro; Andrea Ramirez Varela; Maria de Lourdes Alves Carneiro; Leonardo Rodrigues Alves; Rebeca Fabiana Gomes Góis; Thais Bergamin Lima
USO DE TABACO E ÁLCOOL ENTRE ACADÊMICOS DA SAÚDE
Use of tobacco and alcohol among health care students
Uso de tabaco y alcohol en académicos del área de la salud
Revista Brasileira em Promoção da Saúde, vol. 31, núm. 1, pp. 1-9, 2018
Universidade de Fortaleza
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Resumo: Objetivo: Verificar a prevalência do consumo de álcool e tabaco entre acadêmicos. Métodos: Estudo de corte transversal, realizado com 286 acadêmicos do Distrito Federal, no período de agosto a outubro de 2016, no qual se aplicou questionário estruturado de autopreenchimento sobre idade, sexo, tipo de escola no ensino médio, nível socioeconômico, local de moradia, frequência de uso do álcool e tabaco, e autopercepção de saúde. Dados analisados através dos testes qui-quadrado e regressões logísticas, com nível de significância de 5%. Resultados: Dos 286 acadêmicos, 190 (66,4%) consomem álcool e 14 (5%) fumam em festas ou no fim de semana. Entre eles, 132 (94,3%) mulheres e 46 (92%) homens relataram que este hábito foi adquirido antes de ingressar na instituição de ensino. Os que moram com os pais ou parentes apresentaram maior prevalência de tabagismo 25,4% [OR 1,27; IC95% 0,40-4,03]. e os que moram sozinhos um maior consumo de álcool 70,3% [OR 1,09;IC95% 0,30-3,91]. Quanto menor a autopercepção de saúde, maior a probabilidade de consumo de álcool (83,3%) [OR 2,25; IC95% 0,25-19,9]. Conclusão: A prevalência do consumo de álcool entre os acadêmicos investigados é elevada, e a sua frequência é maior entre o sexo feminino. Quanto ao uso de tabaco, notou-se baixa prevalência entre todos os participantes.

Palavras-chave:EtanolEtanol, Tabaco Tabaco, Estudantes Estudantes, Educação em Saúde Educação em Saúde.

Abstract: Objective: To assess the prevalence of alcohol and tobacco use among university students. Methods: Cross-sectional study carried out with 286 university students from the Federal District from August to October 2016 using a structured self-administered questionnaire on age, gender, type of high school, socioeconomic status, place of residence, frequency of alcohol and tobacco use, and self-perception of health. Data were analyzed using chi-squared tests and logistic regressions with a significance level of 5%. Results: Of the 286 students, 190 (66.4%) use alcohol and 14 (5%) smoke at parties or on the weekend. In all, 132 (94.3%) women and 46 (92%) men said these habits started before university admission. Those who live with their parents or relatives had a higher prevalence of smoking 25.4% [OR 1.27; 95%CI 0.40-4.03] and those who lived alone presented higher alcohol consumption 70.3% [OR 1.09; 95%CI 0.30-3.91]. The poorer the self-perception of health, the higher the probability of alcohol consumption (83.3%) [OR 2.25; 95%CI 0.25-19.9]. Conclusion: The prevalence of alcohol consumption among the analyzed students is high, with higher rates among women. As for tobacco use, there was a low prevalence among the students.

Keywords: Ethanol, Tobacco, Students, Health Education.

Resumen: Objetivo: Verificar la prevalencia del consumo de alcohol y tabaco entre académicos. Métodos: Estudio de corte transversal realizado con 286 académicos del Distrito Federal en el período entre agosto y octubre de 2016 en el cual se aplicó un cuestionario estructurado y auto aplicable sobre la edad, el sexo, el tipo de la escuela de educación secundaria, el nivel socioeconómico, el local de la vivienda, la frecuencia de uso del alcohol y tabaco y la auto percepción de salud. Los datos fueron analizados a través de las pruebas Chi-cuadrado y regresiones logísticas con el nivel de significación del 5%. Resultados: De entre los 286 académicos, 190 (66,4%) consumen alcohol y 14 (5%) fuman en fiestas o fines de semana. Entre ellos, 132 (94,3%) mujeres y 46 (92%) hombres relataron que esta costumbre ha sido adquirida antes del ingreso en la institución de enseñanza. El 25,4% que viven con sus padres o parientes presentaron mayor prevalencia de tabaquismo [OR 1,27; IC95% 0,40-4,03] y el 70,3% que viven solos presentaron mayor consumo de alcohol [OR 1,09; IC95% 0,30-3,91]. Cuanto menor es la percepción de salud más alta la probabilidad de consumo de alcohol (83,3%) [OR 2,25; IC95% 0,25-19,9]. Conclusión: La prevalencia del consumo de alcohol entre los académicos investigados es elevada y su frecuencia es mayor en el sexo femenino. Se notó baja prevalencia de uso del tabaco entre los participantes.

Palabras clave: Etanol, Tabaco, Estudiantes, Educación en Salud.

Carátula del artículo

Artigos Originais

USO DE TABACO E ÁLCOOL ENTRE ACADÊMICOS DA SAÚDE

Use of tobacco and alcohol among health care students

Uso de tabaco y alcohol en académicos del área de la salud

Luciana Zaranza Monteiro
Centro Universitário do Distrito Federal , Brasil
Universidade Federal de Pelotas, Brasil
Andrea Ramirez Varela
Universidade Federal de Pelotas , Brasil
Maria de Lourdes Alves Carneiro
Centro Universitário do Distrito Federal, Brasil
Leonardo Rodrigues Alves
Centro Universitário do Distrito Federal, Brasil
Rebeca Fabiana Gomes Góis
Centro Universitário do Distrito Federal, Brasil
Thais Bergamin Lima
Centro Universitário do Distrito Federal, Brasil
Revista Brasileira em Promoção da Saúde, vol. 31, núm. 1, pp. 1-9, 2018
Universidade de Fortaleza

Recepção: 04 Maio 2017

Revised: 13 Setembro 2017

Aprovação: 31 Outubro 2017

INTRODUÇÃO

O ingresso no ensino superior proporciona aos jovens uma alteração no estilo de vida, principalmente quando se encontram longe de casa, o que ocorre na maioria das vezes, levando-os a adotarem hábitos errôneos em relação à saúde, os quais poderão perpetuar durante toda a vida, trazendo-lhes prejuízos para o presente e para o futuro(1).

Cerca de 3,3 milhões de mortes anuais (corresponde a 6% de todas as mortes no mundo) estão direta ou indiretamente relacionadas ao consumo de álcool(2). Indivíduos jovens (entre 20 e 49 anos) são as principais vítimas em relação às mortes associadas ao uso do álcool, representando uma importante perda de pessoas economicamente ativas(2).

O consumo de tabaco é responsável por cerca de seis milhões de mortes por ano no mundo(2). Em 2011, o tabagismo foi fator causal de 14.072 óbitos no Brasil, o que corresponde a 14,7% do total de óbitos ocorridos no país. Hoje, o tabaco mata mais que o alcoolismo, AIDS, acidentes de trânsito, homicídio e suicídio juntos, o que representa uma situação preocupante para autoridades mundiais(3).

O álcool não abrange apenas a população adulta mas também os adolescentes e jovens que começam com sua utilização muito cedo(4). Na maioria das vezes, esse consumo é influenciado pela mídia, tornando-se, assim, um problema de saúde pública. Segundo os autores, o álcool é a droga mais consumida pelos universitários(4).

No Brasil, a prevalência de uso de álcool entre universitários das capitais de estados brasileiros, no ano de 2009, foi de 86%, e 22% faziam consumo com risco para desenvolvimento de dependência(5). Isto é preocupante, pois o uso dessa substância tem sido relacionado ao menor desempenho acadêmico, a problemas orgânicos, sociais e comportamentais, e ao uso de outras drogas, podendo levar ao prejuízo no exercício profissional(6).

O tabaco também é amplamente consumido por estudantes universitários. No Brasil, no decorrer de 10 anos, a prevalência do seu uso aumentou de 43% para 50% entre universitários(6). No ano de 2009, a prevalência de uso de produtos de tabaco entre universitários foi de 47%, e 22% possuíam risco de moderado a alto de desenvolver dependência desses produtos(7). Em um estudo realizado na Espanha, 35% dos universitários já fumaram, consumiram 11 ou mais cigarros por dia, sendo a substância psicoativa mais consumida diariamente(7). Além dos efeitos prejudiciais à saúde, o consumo de tabaco também já foi associado ao uso de maconha, inalantes, alucinógenos e anfetamínicos(6).

No intuito de minimizar as consequências geradas pelo abuso de álcool e tabaco, faz-se necessária a efetivação de políticas públicas já existentes, visto serem meios importantes para reduzir as desigualdades sociais e econômicas, de modo a assegurar o acesso equitativo a bens e serviços, inclusive atenção à saúde(8).

Neste contexto, enfatiza-se a necessidade de ações de promoção da saúde, compreendidas como estratégias de articulação transversal, com enfoque nos determinantes do processo saúde-doença da população e nas diferenças entre necessidades, territórios e culturas presentes no Brasil, a fim de construir mecanismos que diminuam as situações de vulnerabilidade e insiram a participação e o controle sociais na gestão das políticas públicas(9). Assim, entende-se a promoção da saúde como um processo de capacitação da comunidade para melhorar e controlar sua saúde. Observa-se que a produção científica que envolve a interface entre consumo do álcool/tabaco e promoção da saúde individual e/ou coletiva ainda é escassa, configurando-se como um campo de investigação a ser desvelado(10).

Sendo assim, o objetivo deste estudo foi verificar a prevalência do consumo de álcool e tabaco entre acadêmicos.

MÉTODOS

Trata-se de um estudo epidemiológico, de corte transversal, realizado nos meses de agosto a outubro de 2016, com acadêmicos do curso de Farmácia de uma instituição de ensino superior privada do Distrito Federal.

Participaram do estudo alunos matriculados cursando do primeiro ao oitavo semestre de graduação, presentes na sala de aula no momento da coleta dos dados. Foram convidados a participar 100% dos acadêmicos matriculados, totalizando 286 participantes de um universo de 480 alunos regularmente matriculados durante o segundo semestre de 2016, com idade superior a dezoito anos.

Pesquisadores treinados realizaram a coleta de dados através da aplicação de um questionário estruturado, de autopreenchimento e sem identificação do acadêmico, com perguntas referentes aos hábitos de vida relacionados à saúde. Foram analisadas as variáveis: idade, sexo, tipo de escola no ensino médio (escola pública, escola particular, parcialmente em escola particular ou outra), nível socioeconômico (ABEP – Associação Brasileira de empresas de pesquisa – 2014 – www.abep.org), local de moradia (com pais ou parentes, casa/apartamento dividido com amigos, sozinho ou outros), frequência de uso do álcool (nunca bebeu, mensal ou menos, 2-4 vezes por mês, 2-3 vezes por semana, e 4 ou mais vezes por semana) e tabaco (nunca fumou, experimentou, fuma em festa ou fim de semana, já foi fumante, e fumante atual), quando adquiriu o hábito de beber e de fumar (antes ou depois de ingressar na instituição) e autopercepção de saúde (excelente, muito boa, boa, regular e ruim).

Esse questionário foi aplicado no intervalo das aulas, numa sala com capacidade para 60 alunos, de maneira que se pudessem acomodar os alunos de cada turma com distância entre si capaz de preservar a privacidade das suas respostas, e, após o preenchimento, o questionário era colocado dentro de um envelope pardo apenas com identificação das turmas e o turno (matutino e noturno).

Na sala de aula do curso de Farmácia, antes de o questionário ser entregue junto com o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), os pesquisadores se apresentaram ao docente responsável pela turma, a quem previamente foi explicado os objetivos e a metodologia da pesquisa. Posteriormente, os pesquisadores se apresentaram à turma e explicaram os objetivos, a metodologia, a importância do estudo e fizeram o convite para participarem da pesquisa.

Para a avaliação do consumo de álcool, utilizou-se uma pergunta sobre a frequência em que o estudante bebia. Para estudantes que relataram algum tipo de consumo era aplicado o questionário CAGE(11), um instrumento de ampla utilização que classifica casos suspeitos de alcoolismo por meio de respostas afirmativas a duas ou mais de suas perguntas. O mesmo é composto por quatro questões representadas pelas palavras-chave associadas a cada letra: C – Cut Down (diminuir ingestão); A – Annoyed (irritado); G – Guilty (culpado); E – Eye-Opener (necessidade de beber ao acordar para evitar a ressaca). Quando se obteve duas ou mais afirmações, ocorre a confirmação da suspeita de uso abusivo de álcool. A validação do teste CAGE no Brasil encontrou uma sensibilidade de 88% e uma especificidade de 83%(11).

Posteriormente, operacionalizou-se o consumo de álcool em dois grupos, sendo considerados “consumidores” aqueles indivíduos que relataram beber pelo menos uma vez ao mês e o outro grupo, “não consumidores”, ou seja, aqueles indivíduos que nunca utilizam álcool.

Em relação ao tabagismo, questionou-se aos que relataram “sim” se eles adquiriram o hábito de fumar antes ou depois do ingresso na Instituição, assim, dividiu-se em dois grupos: os fumantes, ou seja, aqueles que relataram consumir cigarro em festas ou fins de semana, e aqueles que fumam regularmente. Por outro lado, consideraram-se como não fumantes aqueles que não consomem cigarro, mesmo que já tenham sido fumantes.

Os questionários preenchidos adequadamente foram duplamente digitados em planilhas Excel e checados em relação a possíveis inconsistências. Em seguida, passaram por análise estatística pelo programa STATA 9.0, em que ocorreram as análises descritivas (com médias e proporções) e, por fim, análises de associação através dos testes de qui-quadrado para heterogeneidade e regressões logísticas, com nível de significância de 5% e intervalo de confiança de 95%.

Este estudo obteve aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa do Centro Universitário do Distrito Federal – UDF, sob Parecer n° 1.794.275, de acordo com a Resolução n° 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde.

RESULTADOS

Participaram do estudo 286 acadêmicos, sendo 215 (75,1%) do sexo feminino e 71 (24,9%) do masculino. A média de idade dos acadêmicos era de 25,1 (± 4) anos, sendo que 195 (68,2%) tinham entre 20 e 29 anos. A Tabela I descreve a amostra segundo as características demográficas, socioeconômicas e de saúde. Em relação ao tipo de escola no ensino médio, 190 (66,4%) estudaram em escola pública e 185 (64,7%) moram com pais ou parentes. Em relação à autopercepção de saúde, 116 (40,6%) acadêmicos consideram sua saúde como “boa” e 75 (26,2%) “muito boa”.

Tabela I
Descrição da amostra segundo variáveis demográficas e socioeconômicas. Brasília, Distrito Federal, 2016.

O consumo de álcool e o tabagismo estão descritos na Tabela II. Foi verificado que 112 (39,2%) estudantes consumiam álcool pelo menos uma vez ao mês, não mostrando diferença segundo o sexo (p=0,08).

Em relação ao tabagismo, 14 (5%) acadêmicos afirmaram que fumam em festas ou no final de semana. Entre os entrevistados, 11 (3,8%) já foram fumantes, mas pararam com o consumo, e aproximadamente 217 (75,9%) relataram nunca ter fumado.

Tabela II
Consumo de álcool e tabaco entre acadêmicos do curso de Farmácia. Brasília, Distrito Federal, 2016.

A suspeita para o alcoolismo foi investigada entre os acadêmicos que relataram o consumo de álcool, sendo que 07 (2,4%) destes apresentaram resultado positivo segundo o questionário CAGE (05 homens e 02 mulheres).

Ainda entre aqueles acadêmicos que ingeriram álcool, 132 (94,3%) mulheres e 46 (92%) homens relataram que esse hábito foi adquirido antes de ingressar na instituição de ensino, não mostrando diferença significativa segundo o sexo (p=0,40) (Tabela III). A Tabela III também não apresentou diferença significativa entre o sexo em relação ao tabagismo (p=0,55), pois 40 (80%) mulheres e 13 (68,4%) homens adquiriram o hábito antes de ingressarem na instituição.

Tabela III
Descrição da amostra segundo o momento que iniciou a consumir álcool e/ou cigarro. Brasília, Distrito Federal, 2016.

A Tabela IV mostra a associação entre o consumo de álcool e o tabagismo com variáveis demográficas, socioeconômicas e de saúde. Os acadêmicos na faixa etária dos 20 a 29 anos apresentaram uma prevalência maior para o consumo de álcool (69,7%), e aqueles acima de 30 anos de idade, uma maior prevalência para o tabagismo (25%). Acadêmicos que fizeram o ensino médio parcialmente em escolas particulares apresentaram maior probabilidade de consumir tabaco. Da mesma forma, o grupo de nível socioeconômico C também apresentou maior probabilidade de consumir álcool e tabaco.

Os estudantes que moram com os pais ou parentes apresentaram maior prevalência de tabagismo (25,4%) e aqueles que moram sozinhos, um maior consumo de álcool (70,3%). Em contraste, quanto menor a autopercepção de saúde, maior foi a probabilidade de consumo de álcool (Tabela IV).

Tabela IV
Associação do consumo de álcool e tabagismo com variáveis demográficas, socioeconômicas e de saúde. Brasília, Distrito Federal, 2016.

DISCUSSÃO

O presente estudo constatou uma elevada prevalência no consumo de álcool (66,4%) entre os acadêmicos. Um trabalho realizado em mais de cem cidades brasileiras com mais de 200 mil habitantes apontou que o consumo de álcool é muito relevante na faixa etária de 18 a 24 anos, e que 15,5% dessa população refere dependência(12). Entre estudantes de Medicina, esse percentual variou 25% de consumo exagerado até 98% em algumas regiões, dependendo da amostra e da forma de coleta dos dados(13). Estudantes de Juiz de Fora, por exemplo, apresentaram prevalência de 25% de consumo exagerado(13).

A juventude brasileira tem cultivado o hábito de ficar sob efeito do álcool (“embriagar-se”). No Brasil, estudos epidemiológicos mostram que o consumo de álcool é maior entre universitários do que entre estudantes do ensino médio(14).

Estima-se que o uso de álcool esteja aumentando em decorrência do estilo de vida, ansiedade, estresse, depressão e baixa autoestima(14). Os universitários estão mais expostos aos ambientes em que o álcool é mais fácil. Isso aponta uma necessidade maior de o ambiente acadêmico oferecer apoio e treinamento efetivo para os estudantes pararem de beber(13).

Um estudo realizado com 174 alunos de uma universidade pública de São Luís, Maranhão, observou que 59% dos participantes responderam já ter consumido de forma abusiva algum tipo de bebida alcoólica, dos quais 20,7% relataram já ter se embriagado nos último 19 dias, e 14,9%, nos últimos cinco dias que antecederam à coleta(15).

Em contrapartida, um estudo realizado na cidade de Piracicaba, interior do estado de São Paulo, avaliou o consumo do álcool e a qualidade de vida em universitários, sendo sua amostra composta por 170 indivíduos de ambos os sexos. Nele, observou-se que 68,20% dos participantes faziam uso de baixo risco do álcool, 21,80% faziam uso de alto risco, e 5,29% dos alunos se encontravam em provável dependência do álcool(16).

Do mesmo modo, resultados encontrados por uma pesquisa realizada em uma escola pública em São Paulo, com 112 alunos do curso de Enfermagem, com idades entre 17 e 28 anos, indicaram que 79,5% dos indivíduos se encontravam com baixo risco de dependência do álcool(17).

Com relação ao grupo amostral, houve um predomínio do sexo feminino no presente estudo. Em concordância com esses resultados, estudo anterior(18) que investigou o consumo de álcool verificou predomínio do sexo feminino (61,6%) e apenas 38,4% da amostra era do sexo masculino, assim como em outros trabalhos sobre o uso do álcool, o que corrobora os achados(19,20).

O fácil acesso a essas substâncias é demonstrado pelo fato de que 80,3% dos universitários experimentaram álcool com 18 anos ou menos, enquanto que 89,4% fizeram o uso inicial do tabaco com 19 anos ou menos(21). Entre os acadêmicos do curso de Farmácia, já foi demonstrado que o uso inicial de álcool ocorre substancialmente antes da entrada na faculdade e com menos de 21 anos(22), corroborando os dados do presente estudo, em que se demonstrou que 94,3% das mulheres e 92% dos homens já consumiam álcool antes de ingressar na instituição.

Uma pesquisa com alunos do curso de Medicina da Universidade Federal de Uberlândia mostrou que quase metade dos estudantes começaram a experimentar bebidas alcoólicas entre 16 e 18 anos de idade (46,15%)(23). O estudo também mostrou que, em pessoas do sexo masculino, essa idade média foi ainda mais baixa, com 15 anos ou menos (52,68%), enquanto ocorreu, para estudantes do sexo feminino, entre 16 e 18 anos (53,92%)(23). Em relação à frequência com que os universitários faziam uso de bebidas alcoólicas: 65,17% bebiam ocasionalmente; 27,86% de uma a duas vezes por semana; 5,97% de três a quatro vezes por semana e 1% todos os dias, sendo, neste último caso, todos do sexo masculino(23). Esses dados são diferentes do atual estudo, em que apenas 19,2% faziam uso do álcool de duas a quatro vezes por mês e 7% de duas a três vezes por semana.

Um estudo realizado com acadêmicos do curso de Enfermagem em uma instituição privada da cidade de Montes Claros, Minas Gerais, mostrou um consumo de álcool de 77,4%, com prevalência discretamente superior entre indivíduos do nível socioeconômico B(24). No presente estudo, observou-se que o nível socioeconômico C apresentou maior probalidade de consumir álcool e tabaco.

Uma explicação para o alto padrão de consumo de álcool por mulheres é que, com a independência financeira feminina, a conquista de determinados direitos e postos na sociedade e a luta por igualdade entre os gêneros, a mulher adotou alguns hábitos tipicamente masculinos, o consumo de álcool(25) dentre eles.

Um estudo realizado com 492 universitários brasileiros constatou que os universitários da área da Saúde não consideram a nicotina como causadora de dependência e classificam-na como fator redutor de estresse(26). Contudo, estudo desenvolvido com estudantes de Enfermagem de uma instituição privada mostrou que o tabaco gera grande dependência psicológica(27).

De forma geral, a prevalência do uso do tabaco entre universitários de outras áreas é um pouco mais baixa do que entre os da área da Saúde (variando entre 8,1% e 14,7%), sendo o cigarro industrializado o mais utilizado por esses universitários(28).

Pesquisas realizadas no Chile, com 490 universitários(29), e na Colômbia(30), com cerca de 1324 universitários, revelam que os homens dos cursos das áreas de Ciências Sociais consomem mais tabaco do que as mulheres. Evidenciou-se esse fato também para estudantes da saúde(31).

O tabaco e o álcool são substâncias prejudiciais à saúde. Estima-se que até 2020 serão fatores determinantes de morte e incapacidade de indivíduos predispostos à dependência(32).

Vários trabalhos têm sido realizados no Brasil a fim de descrever a prevalência do tabagismo no meio universitário, especialmente nos cursos envolvidos na área de Saúde(33). O tabagismo foi observado em 17% dos estudantes de medicina de Vassouras(34), número bem superior aos demais levantamentos semelhantes realizados com estudantes universitários em Pouso Alegre, que mostraram prevalência de 7,8%(35) e 6%(36) na Universidade Federal do Piauí, 6,7%(37) entre estudantes de Enfermagem em Minas Gerais, 3% entre universitários norte-americanos e surpreendentes 58% no Japão, assim como na Espanha e Grécia, países onde o hábito atinge os mais altos índices(38).

O consumo do álcool cada vez mais crescente pode levar as pessoas a utilizarem outros tipos de substâncias psicoativas. Estudo relata que o tabaco é a segunda droga mais consumida entre os jovens no mundo, e que existe uma relação entre as duas substâncias, pois aqueles que fazem uso do álcool utilizam ou já utilizaram o tabaco(39).

Propagandas de bebidas alcoólicas influenciam o uso dessas substâncias pelos jovens, uma vez que, na maioria das vezes, são voltadas para esse público. No Brasil, quase não há programas de alerta aos perigos do abuso do álcool, e as propagandas sobre bebidas alcoólicas não possuem restrições ao serem veiculadas ao público(40).

A seleção de apenas um curso se apresenta como limitação do estudo em questão. Considera-se importante a ampliação de estudos sobre os riscos causados pelo uso abusivo do álcool e do tabaco entre universitários da área da Saúde, pois são detentores do conhecimento e promotores da saúde. Conclui-se, portanto, que as medidas preventivas devem ser realizadas em período prévio ao ingresso na universidade. É preciso reforçar esse aspecto na formação dos futuros profissionais de saúde.

CONCLUSÃO

A prevalência do consumo de álcool entre os acadêmicos de Farmácia é elevada, e a sua frequência é maior entre as mulheres. Quanto ao uso de tabaco, notou-se baixa prevalência entre todos os participantes.

Material suplementar
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Notas
Autor notes

Endereço para correspondência: Luciana Zaranza Monteiro Centro Universitário do Distrito Federal - UDF Escola da Saúde SEP/SUL EQ 704/904 Conj. A Bairro: Asa Sul CEP: 70390-045- Brasília - DF - Brasil

Tabela I
Descrição da amostra segundo variáveis demográficas e socioeconômicas. Brasília, Distrito Federal, 2016.

Tabela II
Consumo de álcool e tabaco entre acadêmicos do curso de Farmácia. Brasília, Distrito Federal, 2016.

Tabela III
Descrição da amostra segundo o momento que iniciou a consumir álcool e/ou cigarro. Brasília, Distrito Federal, 2016.

Tabela IV
Associação do consumo de álcool e tabagismo com variáveis demográficas, socioeconômicas e de saúde. Brasília, Distrito Federal, 2016.

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