Resumo: Objetivo: Avaliar estilo de vida e adesão ao tratamento de hipertensão arterial sistêmica (HAS) em homens idosos. Métodos: Trata-se de estudo transversal, descritivo, com abordagem quantitativa, desenvolvido com 254 homens idosos, obedecendo aos seguintes critérios de inclusão: sexo masculino, idade igual ou superior a 60 anos e estar em acompanhamento da evolução da HAS na atenção primária. A coleta aconteceu por meio da aplicação de dois questionários: um semi-estruturado, contendo questões relacionadas a dados pessoais e familiares de condições de saúde e de estilo de vida, e o Questionário de Adesão ao Tratamento de Hipertensão Arterial Sistêmica (QTAHAS), entre outubro e dezembro de 2016. Resultados: A maioria dos homens idosos apresentou idade entre 70 e 79 anos (93; 36,5 %), estado civil casado/união estável (174; 68,5 %), aposentado (200; 78,7%). Houve predomínio dos hipertensos que deixam de tomar a medicação para HAS ao menos uma vez por ano, e comem praticamente sem gordura e sem doces e bebidas açucaradas (120; 47,2%). O estilo de vida é marcado pela coexistência de grupos alimentares que favorecem ao controle e descontrole da adesão ao tratamento de hipertensão em homens idosos. Conclusão: Constatou-se a adesão parcial dos homens idosos avaliados, os quais utilizam alguns hábitos saudáveis como mecanismo compensatório para manter práticas que dificultam a adesão ao tratamento.
Palavras-chave:IdosoIdoso, Estilo de vida Estilo de vida, Hipertensão Arterial Hipertensão Arterial.
Abstract: Objective: To assess the lifestyle and adherence to treatment of systemic arterial hypertension (SAH) in elderly men. Methods: This is a cross-sectional and descriptive study with a quantitative approach, developed with 254 elderly men, meeting the following inclusion criteria: male, aged over 60 years, undergoing follow-up of SAH evolution in primary care. Data collection took place by means of two questionnaires: a semi-structured one, containing questions related to personal and family data on health and lifestyle conditions, and the Questionnaire on Adherence to the Treatment of Systemic Arterial Hypertension, between October and December 2016. Results: A majority of the elderly men were aged between 70 and 79 years (93; 36.5%), marital status married/stable union (174; 68.5%) and retired (200; 78.7%). There was a predominance of hypertensive patients who stopped taking the antihypertensive medication at least once a year, and eat practically fat-free and sugar-free foods, without consumption of sugary drinks (120; 47.2%). Lifestyle is marked by the coexistence of food groups liable to improve or disturb the adherence to the treatment of hypertension in elderly subjects. Conclusion: Partial adherence was observed in the elderly men investigated, who adopt some healthy habits as a compensatory mechanism to maintain practices that hinder the adherence to treatment.
Keywords: Elderly, Lifestyle, Hypertension.
Resumen: Objetivo: Evaluar el estilo de vida y la adhesión al tratamiento de la hipertensión arterial sistémica (HAS) en hombres mayores. Métodos: Se trata de un estudio transversal, descriptivo y de abordaje cuantitativo desarrollado con 254 hombres mayores obedeciendo a los siguientes criterios de inclusión: sexo masculino, edad de 60 años o más y estar en seguimiento de la evolución de la HAS en la atención primaria. La recogida de datos se dio a través de la aplicación de dos cuestionarios: uno semi-estructurado con preguntas relacionadas con los datos personales y familiares de las condiciones de salud y del estilo de vida y el Cuestionario de Adhesión al Tratamiento de Hipertensión Arterial Sistémica (CTAHAS) entre octubre y diciembre de 2016. Resultados: La mayoría de los hombres mayores presentó edad entre 70 y 79 años (93; 36,5 %), estado civil casado/unión estable (174; 68,5 %) y jubilado (200; 78,7%). Hubo predominio de hipertensos que no toman la medicación para la HAS por lo menos una vez al año y comen alimentos casi sin grasa, dulces y bebidas con azúcar (120; 47,2%). El estilo de vida está marcado por la coexistencia de grupos alimentarios que favorezcan el control y descontrol de la adhesión al tratamiento de la hipertensión en hombres mayores. Conclusión: Se constató una adhesión parcial de los hombres mayores evaluados los cuales utilizan algunos hábitos saludables como compensación del mantenimiento de prácticas que dificultan la adhesión al tratamiento.
Palabras clave: Anciano, Estilo de vida, Hipertensión.
Artigos Originais
ESTILO DE VIDA E ADESÃO AO TRATAMENTO DE HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA EM HOMENS IDOSOS
Lifestyle and adherence to treatment of systemic arterial hypertension in elderly men
Estilo de vida y adhesión al tratamiento de hipertensión arterial sistémica de hombres mayores
Recepção: 17 Janeiro 2018
Revised: 28 Março 2018
Aprovação: 18 Maio 2018
O aumento da população idosa é um fenômeno mundial, correspondendo a 12 % da população, o que representa 901 milhões de pessoas(1). No Brasil, a proporção de crescimento da população idosa é semelhante, o que representa demandas clínicas e sociais e implicações para saúde pública(2).
Com o envelhecimento da população, há aumento da prevalência de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), com destaque para a hipertensão arterial sistêmica (HAS), devido à evolução assintomática por longo período de tempo e as dificuldades em seu controle, especialmente no caso de homens pela resistência na mudança do estilo de vida(3,4).
A HAS é uma condição clínica multifatorial caracterizada por níveis elevados e sustentados de pressão arterial (PA) (≥140 x 90 mmHg). Associa-se, frequentemente, às alterações funcionais e/ou estruturais dos órgãos-alvo (coração, encéfalo, rins e vasos sanguíneos) e às alterações metabólicas, com aumento do risco de eventos cardiovasculares fatais e não fatais, ocorrendo com maior prevalência em homens idosos(5).
A HAS pode ser classificada de acordo com a medida casual, sendo classificada em estágio 1 (140-159/ 90-99 mmHg), 2 (160-179/ 100-109 mmHg) e 3(≥ 180/ ≥ 110 mmHg). Ainda existe a hipertensão do avental branco (valores anormais somente no consultório); a mascarada (valores normais somente no consultório) e a sistólica isolada (alteração exclusiva da pressão sistólica)(5).
A prevalência média mundial estimada da HAS é de 26,4%, atingindo 21,0% nos EUA e Canadá, 33,5 a 39,7% nos países europeus, 15 a 21,7% nos países africanos e asiáticos, e cerca de 40% na América Latina(6).
Estudo epidemiológico realizado no Brasil apontou uma prevalência de HAS em 32,5% (36 milhões) na população brasileira, com mais de 60 % dos casos em idosos, sendo que, desse total, os homens representam maioria. Com isso, os homens idosos constituem a parte da população que apresenta maior prevalência de HAS(7). Observa-se prevalência superior a Portugal, que apresenta prevalência na população de 17% e de homens idosos de 44,3%(8).
O serviço de saúde destinado ao acompanhamento integral e contínuo do paciente com HAS é a Estratégia Saúde da Família (ESF), cuja atuação visa assistir, diagnosticar e tratar a HAS, assegurando o controle da doença e a redução das complicações(9).
O tratamento da HAS, que visa à redução da morbimortalidade cardiovascular, pode ter natureza não medicamentosa e/ou medicamentosa, na qual objetiva a redução gradual da PA para valores abaixo de 140 mmHg para a pressão arterial sistólica (PAS) e 90 mmHg para a pressão arterial diastólica (PAD)(5).
O tratamento não medicamentoso, ou mudança no estilo de vida, é o recomendado para os idosos, devendo ser a primeira proposta terapêutica, pois é parte fundamental no controle da HAS, especialmente nos casos de hipertensão arterial leve, quando os níveis tensionais estão entre 140-159/ 90-99 mmHg(10).
Há eficácia comprovada dos hábitos relacionados ao estilo de vida saudável, inerente ao tratamento não medicamentoso, no controle dos níveis pressóricos e na diminuição das complicações. Esse tratamento envolve mudanças no estilo de vida, como prática de atividade física regular, redução do peso, controle lipídico, alimentação saudável, controle de estresse, cessação do tabagismo e do consumo do álcool, exigindo de seus portadores controle durante toda a vida(5,11).
A inatividade física tem sido considerada um dos maiores problemas de saúde pública por ser o mais prevalente dos fatores de risco para HAS. Por isso, a oferta de práticas de atividade física deve fazer parte dos trabalhos efetuados pela rede básica de saúde, já que o exercício físico regular reduz a PA e peso corporal(12), muito útil para manter uma boa saúde cardiovascular e qualidade de vida(5).
A adoção de hábitos relacionados ao estilo de vida saudável requer mudanças que não são facilmente realizadas, pois exigem disciplina e paciência para obter resultados(13). Com isso, o tratamento não medicamentoso se constitui o item mais difícil de ser alcançado na adesão ao tratamento de HAS, pois requer um maior empenho por parte dos pacientes gerando um sério problema de saúde pública(14).
Como benefícios da adesão ao tratamento não medicamentoso, evidenciam-se: o controle dos níveis pressóricos; a redução na incidência, ou retardamento, na ocorrência de complicações e a melhoria da qualidade de vida do idoso, sendo esta última a meta primordial das ações das equipes de saúde direcionadas a otimizar a adesão do idoso ao tratamento. Assim, a promoção da adesão ao tratamento de HAS é essencial para que os idosos alcancem qualidade de vida(15), já que os idosos possuem maior facilidade em aderir ao tratamento medicamentoso do que realizar mudanças comportamentais e de estilo de vida(16).
Logo, o trabalho foi impulsionado pela necessidade de se avaliar o grau de adesão dos idosos ao tratamento da HAS com ênfase no estilo de vida, uma vez que os estudos mostram existir baixa adesão às mudanças comportamentais e de estilo de vida, típicas do tratamento não medicamentoso(15,16).
A adesão ao tratamento não medicamentoso é fundamental para a elaboração de estratégias que otimizem o envolvimento do idoso com as mudanças no estilo de vida, contribuindo no aprimoramento do conhecimento sobre o tratamento e a prevenção de complicações. Esta pesquisa, portanto, justifica-se pela pretensão em estimular os profissionais de saúde que atuam na ESF para a importância de orientarem e estimularem continuamente os idosos com HAS a adotarem um estilo de vida saudável, que contribua para a melhoria da qualidade de vida.
Este estudo tem como objetivo avaliar o estilo de vida e a adesão ao tratamento da hipertensão arterial sistêmica em homens idosos.
Trata-se de um estudo transversal, analítico, com abordagem quantitativa, realizado com 254 homens idosos hipertensos (erro amostral: 5% e nível de confiança: 95%) no município de Floriano, Piauí, Brasil, localizado a 240 km da capital do estado, Teresina, com população estimada de 57.690 habitantes.
A coleta de dados ocorreu no período de outubro a dezembro de 2016, sendo que os participantes foram submetidos aos seguintes critérios de inclusão: sexo masculino, idade igual ou superior a 60 anos e estar em acompanhamento da evolução da HAS por uma equipe de ESF. Excluíram-se os participantes com transtorno mental descompensado e com comorbidade em estágio avançado ou terminal.
Os homens idosos hipertensos foram pesquisados em um único momento em seus domicílios. A visita era previamente agendada pelo agente comunitário de saúde (ACS). A pesquisa aconteceu por meio da aplicação de dois questionários: um questionário semi-estruturado, contendo questões relacionadas a dados pessoais e familiares, de condições de saúde e de estilo de vida, e o Questionário de Adesão ao Tratamento de Hipertensão Arterial Sistêmica (QTAHAS)(17).
Os dados pessoais e familiares abrangeram: a idade em anos completos; etnia autodeclarada; estado civil; escolaridade; renda individual e familiar em salários mínimos, considerando o valor (R$ 880,00) no momento da coleta; desempenho de chefe da família relacionado com maior contribuição com renda familiar; ocupação ou profissão.
Os dados de condições de saúde abrangeram período de diagnóstico de HAS em anos completos, se possuía histórico familiar de 1º grau de HAS, se possuía outra doença associada e se teve complicações decorrentes da HAS. A medida do índice de massa corporal (IMC) foi realizada por meio de balança digital Techline e fita métrica, seguindo classificação específica para idosos: baixo peso (<22 Kg/m2); peso adequado (22 – 27 Kg/m2) e sobrepeso (>27 Kg/m2)(1). A medida da circunferência abdominal foi realizada com fita métrica, sendo que a interpretação foi de risco aumentado quando em homens > 94 cm, sendo risco muito aumentado quando homens > 102 cm(18).
Os dados sobre o estilo de vida abrangeram a prática de atividade física, tabagismo, uso de bebida alcoólica e dieta diária (incluem alimentos grelhados ou cozidos, frutas, legumes e verduras, carnes brancas e magras, carnes vermelhas ou gordas, temperados com pouco sal, fritos, enlatados ou industrializados, doces).
A avaliação da adesão ao tratamento de HAS ocorreu por meio da aplicação do instrumento QATHAS, validado(17), composto por 12 (doze) questões e com coeficiente alfa (α) de Cronbach de 0,81. O QATHAS representa um instrumento hábil de avaliação da adesão ao tratamento da HAS e pode facilitar a detecção e aferição do cumprimento à terapêutica prescrita, além de viabilizar o estabelecimento de metas a serem alcançadas(19).
A resposta é um valor do parâmetro (θ) estimado para o desempenho daquele participante. A escala pode variar entre 60 e 110, sendo que, quanto maior a pontuação, maior a adesão ao tratamento.
Os dados foram armazenados e analisados no pacote estatístico Statistical Package for the Social Science - SPSS®19.0. O plano de análise compreendeu a estatística descritiva do perfil socioeconômico, condições de saúde, estilo de vida e classificação da adesão tratamento por meio de frequência absoluta e relativa, organizada em tabelas. Por fim, houve avaliação de associação da adesão ao tratamento de HAS com características do estilo de vida por meio do Teste Qui-quadrado (p<0,05) e razão de prevalência com intervalo de confiança de 95%. Nessa estatística, considerou-se aderido o participante com QATHAS igual ou maior que 90, e não aderido o participante com classificação menor que 90.
O estudo recebeu aprovação do Comitê de Ética e Pesquisa (CEP), da Universidade Federal do Piauí (UFPI), respeitando os preceitos éticos da Resolução nº 466/12 do Conselho Nacional de Saúde, com Parecer nº 1.668.881.
Considerando as variáveis socioeconômicas dos 254 idosos em tratamento de HAS, pôde-se observar predomínio da faixa etária de 70 a 79 anos (93; 36,5%), da etnia parda (136; 53,5%), com estado civil casado/união estável (174; 68,5%) e escolaridade até o ensino fundamental (128; 50,4%) (Tabela I).
A renda individual dos participantes foi de 1 a 3 SM (218; 85,8%) e a renda familiar permaneceu a mesma (205; 80,7%). Os participantes exercem o papel de chefe da família (204; 80,3%), embora a maioria dos participantes seja aposentado (200; 78,7%) (Tabela I).
As condições de saúde dos participantes são caracterizadas pelo período de diagnóstico de até 5 anos (82; 32,3%), possuem prescrição medicamentosa (242; 95,3%) e familiar com HAS (158; 62,2%). A maioria dos participantes possui peso adequado (119; 46,9%), mas a circunferência abdominal aumentada (164; 65%). Quanto aos níveis pressóricos, a maioria dos participantes apresenta hipertensão estágio 1 (86; 36,9%) (Tabela II).
A adesão ao tratamento da HAS dos participantes obteve todos os níveis de classificação, mas com predomínio do nível em que os hipertensos deixam de tomar a medicação para HAS ao menos uma vez por ano, e comem praticamente sem gordura e sem doces e bebidas açucaradas (120; 47,2%). Outro nível representativo foi o em que os hipertensos deixam de tomar a medicação nos horários estabelecidos ao menos uma vez por mês; reduziram à metade o sal, a gordura, e os doces e bebidas com açúcar (83; 32,7%) (Tabela III).
A adesão dos participantes ao tratamento não medicamentoso é caracterizada pela equivalente frequência entre prática e não prática de exercícios físicos, e absenteísmo de fumo (204; 90,7%) e de bebida alcoólica (180; 80%). Quanto aos alimentos saudáveis, os participantes consomem alimentos grelhados (210; 93,3%); frutas, legumes e verduras (209; 92,9%); carnes brancas e magras (199; 88,4%); alimentos hipossódicos (212; 94,2%). Quanto aos alimentos não indicados, os participantes relataram não consumir frituras (128; 56,9%); enlatados ou industrializados (182; 80,9%); doces (138; 61,3%), mas consomem carnes vermelhas ou gordas (168; 74,7%) (Tabela IV).
Constatou-se relação significativa entre adesão do tratamento da HAS ao absenteísmo de fumo; consumo de frutas, verduras e legumes; consumo de carnes brancas e magras, constituindo fatores de proteção. Ainda apresenta relação com alimentos fritos, industrializadas, ou enlatados, e doces, constituindo fatores de exposição (Tabela IV).
Identificaram-se hábitos e alimentos que reduzem a prevalência da adesão, tais como: alimentos enlatados reduzem em 67%; os alimentos fritos e doces reduzem em 72%; e o hábito de fumar reduz em 81% a adesão ao tratamento de HAS. Também foram identificados alimentos que aumentam mais que o triplo a prevalência da adesão, tais como carnes brancas e magras, alimentos hipossódicos e frutas, legumes e verduras.
O presente estudo evidenciou o aumento da ocorrência da HAS associado à idade, o que coincide com outros estudos(20,21). A associação direta e linear entre envelhecimento e prevalência de HAS, deve-se ao envelhecimento vascular caracterizado por alterações na microarquitetura da parede dos vasos, com consequente enrijecimento arterial(11).
A maioria dos participantes da atual investigação era pardos, o que coincide com estudo realizado em João Pessoa, Brasil, onde 48 % dos hipertensos eram pardos(22). Nesse sentido, sabe-se que a HAS é duas vezes mais prevalente em indivíduos de cor não branca(5).
No presente estudo, os participantes eram casados ou viviam em união estável, corroborando o estudo realizado em São Paulo, em que 63% dos participantes eram casados(23). O estado civil casado ou união estável pode influenciar na maior adesão ao tratamento por causa do incentivo do parceiro (a) em seguir as recomendações de saúde(24).
Em relação à baixa escolaridade dos participantes do estudo em questão, sabe-se que influencia na dificuldade de controle eficaz da pressão arterial e na maior prevalência de HAS. Logo, o grau de instrução é considerado um dos fatores determinantes da adesão terapêutica(25). A associação entre controle da HAS e menor escolaridade pode refletir a dificuldade para o conhecimento da doença e seus fatores de risco, bem como adesão a medidas de controle(26).
A renda entre 1 e 3 salários foi predominante entre os participantes da atual pesquisa, que, por sua vez, tem como ocupação serem aposentados/pensionistas. Tais dados corroboram o achado do estudo realizado em João Pessoa, Brasil, em que 84 % dos participantes apresentavam renda mensal de 1 a 3 salários(22). O baixo nível socioeconômico é identificado como um fator que dificulta o controle efetivo da adesão ao tratamento de HAS(17,20).
A HAS é uma doença silenciosa e de longo curso assintomático, sendo o diagnóstico recente favorece ao menor índice de abandono. No presente estudo, o período de diagnóstico da HAS mais frequente foi de até 5 anos, convergindo para mesmo achado um estudo na cidade de São Paulo, Brasil, em que 51,6 % dos participantes possuíam diagnóstico entre 1 e 5 anos, PA sob controle(27).
Os participantes da presente pesquisa possuíam prescrição medicamentosa, o que sugere ações na atenção primária e na melhoria do acesso aos serviços de saúde(28). Sabe-se que a decisão do momento de início da medicação anti-hipertensiva deve ser considerada avaliando a preferência da pessoa, o seu grau de motivação para mudança de estilo de vida, os níveis pressóricos e o risco cardiovascular(10).
No atual estudo, os participantes tinham histórico familiar de HAS, o que coincide com estudo que encontrou associação entre a história familiar de HAS em 86,7 % dos idosos da amostra(3). Com isso, ratifica-se a influência do fator hereditário no surgimento das doenças cardiovasculares (DCV).
O desenvolvimento da HAS se constitui um fator de risco para outras doenças, especialmente no sistema endócrino, tal como a diabetes mellitus (DM), o que justifica a existência de outras doenças entre os participantes(11). A HAS constitui-se ainda um importante fator de risco para complicações cardíacas e cerebrovasculares, com repercussões qualidade de vida dos indivíduos implicando negativamente na avaliação geral de qualidade de vida(29,30).
O presente estudo evidenciou que a maioria dos idosos encontra-se com índice de massa corporal (IMC) adequado, entretanto a circunferência abdominal (CA) apresenta-se aumentada. A CA mostra-se um importante indicador antropométrico, devido sua associação significativa com a HAS(31). A composição corporal do homem idoso apresenta tendência acentuada de deposição de gordura da região abdominal, o que caracteriza essa alteração. O aumento da gordura visceral é considerado um fator de risco para HAS(11).
No momento da coleta do atual estudo, verificou-se que a maioria dos participantes apresentava descontrole pressórico, achado semelhante ao estudo no qual 87,9 % dos pacientes apresentou níveis pressóricos acima dos limites de normalidade num estudo realizado no Rio de Janeiro(32).
A adesão parcial dos participantes da atual investigação demonstra a complexidade envolvida no seguimento das condutas terapêuticas inerentes ao tratamento de HAS. Em estudo desenvolvido no município de Picos, estado do Piauí, com 118 idosos, foi observado o mesmo nível de adesão após atividade de educação em saúde(33).
O atual estudo mostrou que os participantes não realizam atividade física, coincidindo com o achado de uma pesquisa em que 65,9% dos participantes não praticavam atividade física no Piauí(34), alegando falta de motivação advinda da idade e dificuldade em mudar hábitos de vida. O sedentarismo é considerado o fator de risco mais prevalente para HAS(22).
O efeito protetor da atividade física vai além da redução da PA, estando associado à redução dos fatores de risco cardiovasculares e à menor morbimortalidade quando comparadas pessoas ativas com indivíduos de menor aptidão física, o que explica a sua recomendação na prevenção primária e no tratamento da hipertensão(35).
O absenteísmo do tabagismo e do álcool são dois hábitos indicados para adesão ao tratamento de HAS e controle da PA. O abandono do tabagismo é condição essencial para reduzir o risco de DCV, obrigatória na abordagem ao portador de HAS, enquanto a redução ou abandono do consumo do álcool reduz a PA(11).
Observou-se no estudo em questão a relação da adesão ao tratamento de HAS e o consumo de um grupo de alimentos saudáveis (grelhados, cozidos, frutas, legumes, verduras, carnes brancas e magras, hipossódicos) e com alimentos que não são indicados no tratamento não medicamentos de HAS (fritos, enlatados, doces)(33). Tal achado demonstra um mecanismo compensatório dos participantes, ingerindo alimentos saudáveis e não indicados, e sugere que os participantes busquem o controle da HAS, mas não abandonam o consumo dos alimentos de exposição.
Achados semelhantes foram encontrados no estudo com 385 hipertensos em que as mudanças na dieta foram relatadas por 266 (69,1 %). Destes, a grande maioria (99,6 %) alegou redução do consumo de alimentos de risco, sendo a restrição do consumo de sal (84,2 %), gorduras (36,2 %) e doces (26,0 %) os mais referidos(36). De maneira complementar, um estudo mostrou que 85,2 % dos participantes mantêm pelo menos um hábito de vida não saudável(37) e outro estudo relatou a dificuldade de adesão ao tratamento não medicamentoso em longo prazo(38).
Vale ressaltar que os achados evidenciaram que os idosos avaliados na presente pesquisa, mesmo possuindo uma baixa condição socioeconômica, conseguem consumir alimentos saudáveis. No entanto, a ausência de um padrão-ouro para avaliar consumo alimentar, sobretudo em população idosa, é uma importante limitação(39).
Os profissionais de saúde responsáveis pelo acompanhamento dos idosos com HAS podem usar a escuta no planejamento ações resolutivas; educação em saúde; orientação sobre hábitos de vida saudáveis de forma clara, com o objetivo do autocuidado; e práticas humanizadas promotoras da empatia, pois facilitam a adesão, o controle pressórico e propiciam o sucesso do tratamento(40).
Assim, os profissionais de saúde podem contribuir de forma significativa para a melhoria nas condições de saúde e qualidade de vida do portador de HAS. Os profissionais de saúde deveriam estabelecer uma relação dialogada e realizar ações educativas com os idosos para demonstrar a importância da mudança integral no estilo de vida, preservando seu empoderamento. Tais estratégias visam o controle da pressão arterial e redução de riscos de complicações, subsidiando uma assistência qualificada e integral dos idosos com HAS.
O estudo da adesão ao tratamento de hipertensão arterial sistêmica, com ênfase no estilo de vida em homens idosos, constatou a adesão parcial dos homens idosos avaliados, que utilizam alguns hábitos saudáveis como mecanismo compensatório para manter práticas que dificultam a adesão ao tratamento.
Aline de Sousa Falcão elaboração e delineamento do estudo; redação e/ou revisão do manuscrito. Maira Geny Carvalho e Silva aquisição, análise e interpretação de dados. Adalberto Fortes Rodrigues Junior aquisição, análise e interpretação de dados. Silmara da Rocha Moura aquisição, análise e interpretação de dados. Flávia Raymme Soares e Silva aquisição, análise e interpretação de dados. Antônia Sylea de Jesus Sousa redação e/ou revisão do manuscrito. Erisonval Saraiva da Silva redação e/ou revisão do manuscrito Igho Leonardo do Nascimento Carvalho elaboração e delineamento do estudo; redação e/ou revisão do manuscrito.
Aline de Sousa Falcão
Universidade Federal do Piauí - UFPI
Campus Universitário Amilcar Ferreira Sobral
BR 343, Km 3,5
CEP: 64808-605 - Floriano - PI - Brasil
E-mail: alinesousafalcao@hotmail.com
Igho Leonardo do Nascimento Carvalho
Universidade Federal do Piauí - UFPI
Campus Universitário Amilcar Ferreira Sobral
BR 343, Km 3,5
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E-mail: igho_leonardo@yahoo.com.br