Editorial

Neste número da Revista Pensamento Contemporâneo em Administração (RPCA), privilegiamos artigos que versam, principalmente, sobre o contexto brasileiro e as questões enfrentadas pelo país.

Começamos com Black female entrepreneurs in Rio: Challenges of Covid-19 (Mulheres empreendedoras pretas no Rio: desafios da Covid-19). Daniela Longobucco Teixeira Balog, Deborah Moraes Zouain e Ana Christina Celano Teixeira estudam a percepção das mulheres empreendedoras sociais pretas, com ensino superior, no município do Rio de Janeiro em relação aos desafios no sistema de empreendedorismo por necessidade, em meio à crise da Covid-19, sob a ótica dos impactos gerados nesses negócios. Os resultados mostraram que elas compartilham de desafios por estarem em posição de vulnerabilidade e na base de uma pirâmide social. Porém, lutam para quebrar barreiras invisíveis.

Em the institutional logics of corruption: An analysis by the discursive patterns of managers in Brazil (Lógica institucional da corrupção: uma análise pelos padrões discursivos de gestores no Brasil) de Luiz Romeu de Freitas Júnior, Cíntia Rodrigues de Oliveira Medeiros, Valdir Machado Valadão Júnior e Mayla Cristina Costa Maroni Saraiva apresentam quatro categorias e níveis de análise da lógica da corrupção: Individual, Organizacional, Redes e Sistema Interinstitucional. Segundo os autores, a compreensão da lógica institucional da corrupção pode promover uma transformação do comportamento corrupto e uma mudança institucional, por meio da cognição individual, que pode levar a uma mudança prática na sociedade.

Solidarity economy enterprises, social technologies, and institutional environment (Empreendimentos econômicos solidários, tecnologias sociais e ambiente institucional), construído por Daniel Teotonio do Nascimento, Fábio Melges e Elcio Gustavo Benini, analisam o posicionamento, a contribuição ou a limitação do ambiente institucional formal brasileiro para a criação, o fomento e a implementação dos Empreendimentos Econômicos Solidários e das Tecnologias Sociais. Para os autores, o ambiente institucional formal brasileiro não tem fornecido os elementos necessários para o fortalecimento dos Empreendimentos Econômicos Solidários e das Tecnologias Sociais, constituindo-se, portanto, em um espaço pouco desenvolvido diante da existência de tais organizações.

The vulnerability of the young adult consumer to food consumption (A vulnerabilidade do consumidor jovem adulto ao consumo de alimentos), de Bruno Medeiros Ássimos, Marcelo de Rezende Pinto e Adriana Ventola Marra, aborda um dos principais problemas alimentares do Brasil: o excesso de peso que atinge cerca de 25,4% dos adolescentes e 53,8% dos adultos. Os autores identificaram maiores evidências de significância entre conhecimento do produto e interesse nutricional, reforçando a importância da informação para a avaliação satisfatória dos consumidores para a redução da sua vulnerabilidade.

“Cliques”: Academic relationships among higher education students (As “panelas”: relacionamentos acadêmicos de alunos de ensino superior) de Geraldo Magela Rodrigues de Vasconcelos, Ester Sarah Liandro, Velcimiro Inácio Maia e Gustavo Melo Silva, mostra que a homofilia é preponderante na formação de grupos nos cursos presenciais de nível superior. O desempenho, também, influencia a formação das “panelas”. Do mesmo modo, a análise dos resultados indica, ainda, que alunos com papéis sociais de brokerage possuem desempenho superior aos de seus pares.

Understanding the logic of organizational ambidexterity (Entendendo a lógica da ambidestria organizacional), de Rodrigo Marques de Almeida Guerra e Maria Emília Camargo, investiga o efeito das dimensões exploration e exploitation sobre a lucratividade e crescimento em vendas de empresas exportadoras. A visão baseada em recursos (VBR) deu suporte aos achados, tendo sido analisados 132 casos de gestores de empresas exportadoras do estado do Paraná/PR. Os resultados reforçam a multidimensionalidade da ambidestria, característica de empresas exportadoras inseridas em ambientes de instabilidade. Ressalta-se a demanda pelo desenvolvimento de habilidades e competências nos gestores, visando criar estruturas e mecanismos que deem suporte à ambidestria organizacional.

Business strategies under the new marketing myopia perspective (Estratégias de negócio sob o enfoque da nova miopia em marketing), de Ana Tereza Freitas Delapedra e Juliano Domingues da Silva, tratam da ênfase excessiva no cliente, desconsiderando demandas de outros stakeholders que transformam o mercado e levam as empresas à falência. A partir de um estudo de casos múltiplos de empresas sul-americanas reconhecidas pela Forbes por sua orientação para o cliente, os resultados mostram a dificuldade das empresas equilibrarem as demandas dos clientes e stakeholders, considerando suas estratégias de negócio.

Desafios de empreendedoras na economia criativa periférica: um olhar interseccional (Challenges of women entrepreneurs in the peripheral creative economy: An intersectional look), de Emmanuelle Lopes de Almeida, Pâmela Karolina Dias e Elisabeth Cavalcante dos Santos, analisa as principais dificuldades, em nível macro e as micro social, vivenciadas por empreendedoras na Economia Criativa em Caruaru-PE. A pesquisa foi realizada durante a pandemia do Covid-19 no período de maio e junho de 2020. Constatou-se que suas principais dificuldades estão relacionadas à gestão financeira, ao acúmulo de jornadas, à dificuldade tecnológica, ao contexto periférico e aos desafios de atuar no meio digital.

“Muito além da Capitã Marvel”: socialização profissional de policiais federais (“Far Beyond Captain Marvel”: Professional socialization of federal police), de Raissa Mota Menezes, Tereza Cristina Batista de Lima, Luis Eduardo Brandão Paiva e Rafaela de Almeida Araújo, evidenciam uma inserção marcada pela necessidade de conciliar vida pessoal e profissional e “gerenciar” o machismo presente na instituição. Identificou-se que a forma de trabalhar, a maneira de se vestir e a postura foram modificadas durante a formação da identidade profissional. As barreiras encontradas vão desde a dificuldade de progredir na carreira ao preconceito de gênero enfrentados na organização.

Estereótipo, preconceito e assédio nas trajetórias de expatriadas brasileiras (Stereotype, prejudice and harassment in the trajectories of Brazilian female expatriates), de Aline Mendonça Fraga, Shalimar Gallon e Elem Rabelo Duarte Vaz, mostra que, a despeito da alta qualificação e do status de mobilidade internacional, as mulheres, ainda, convivem com estereótipos, preconceitos e situações de assédio, no ambiente de trabalho, fora do Brasil. Seja porque são mulheres, porque são brasileiras ou por ambos os motivos, sobretudo em áreas de trabalho com pouca representatividade feminina.

Transformação digital na Contabilidade: os contadores estão preparados? (Digital transformation in Accounting: Are the accountants prepared for it?), de William Zilli Merlugo, Wendy Beatriz Witt Haddad Carraro e Alan Bandeira Pinheiro, evidencia que há empresas acomodadas, que não buscam atualizar seu modelo de negócios, nem adquirir novas ferramentas. As dificuldades se dão por motivos diversos: desde a implantação de novos sistemas, demonstrando um provável estágio inicial de transformação digital nas empresas analisadas à utilização da própria tecnologia.

Como enfrentar a Covid-19? O Sol de maio vai nos ajudar? (How to face Covid-19? The Sun of May will save us?), de Maraí de Freitas Maio Vendramine, Fábio Chaves Nobre e Almir Martins Vieira, nos apresenta a concretude dos dias atuais. O caso para ensino apresenta o desafio do executivo de uma empresa argentina, frente à necessidade de viabilizar negócios diante da pandemia Covid-19. A empresa atua na cadeia automotiva, mineração e construção civil, e presencia uma crise pandêmica sem precedentes. O caso propõe reflexão a respeito de tomada de decisão em tempos de crise, considerando aspectos próprios de situações semelhantes às da pandemia causada pelo coronavírus.