Editorial

Apresentação

Gelsa Knijnik
Editora, Brazil

Apresentação

Educação Unisinos, vol. 20, núm. 3, pp. 274-275, 2016

Universidade do Vale do Rio dos Sinos

O último número de 2016 de Educação Unisinos, que estamos disponibilizando a nossos leitores, foi gestado em um período difícil da vida nacional, tanto do ponto de vista político como econômico. Em um quadro de instabilidade das instituições que sustentam nossa relativamente recente democracia e em um tempo também de incertezas quanto aos rumos de nossa economia, tem havido grandes alterações nas políticas públicas do país, que atingem, de modo significativo, a área da Educação. Essa paisagem sombria, no entanto, não tem nos imobilizado. Ao contrário, frente a ela, sentimo-nos convocados a intensificar nossos esforços na socialização de pesquisas que primem pela qualidade acadêmica e que, exatamente por isso, tenham o potencial de contribuir para o que vem sendo pensado - e feito - no âmbito de propostas de reformulações educacionais mais amplas (como, por exemplo, a reforma do Ensino Médio) e em dimensões mais pontuais, como as que vêm ocorrendo em diferentes espaços educativos.

Constatamos que as (não tão) novas configurações de nosso mundo globalizado, alinhadas com a racionalidade neoliberal hoje vigente, têm reforçado o lugar privilegiado ocupado por instituições internacionais (como o Banco Mundial e a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico - OCDE) na formulação, implantação e monitoramento de diretrizes globais para a educação. Nessas diretrizes, identificamos que as novas tecnologias na educação constituem em uma das temáticas que, recorrentemente, tem sido destacada devido a sua importância na produção e disseminação do conhecimento.

Buscando contribuir para as discussões que vêm sendo realizadas sobre essa temática, integra este número de Educação Unisinos um dossiê, intitulado Passado, Presente e Futuro das Tecnologias na Educação. Organizado pela pesquisadora Edla Eggert, que atualmente compõe o corpo docente do Programa de Pós-Graduação em Educação da PUCRS, e pelo professor Daniel Queiroz Lopes, que mais recentemente passou a integrar a Faculdade de Educação da UFRGS, o dossiê reúne importantes contribuições de pesquisadores nacionais e internacionais, elaboradas desde diferentes perspectivas teórico-metodológicas e diversificados cenários empíricos. Sua apresentação está a cargo dos colegas que, apoiados na grande experiência investigativa que possuem nessa temática, se dedicaram a organizá-lo.

Além do dossiê, publicamos neste número seis artigos, que, abrangendo diferentes enfoques, tratam de temas atuais e relevantes para o campo educacional. O primeiro deles intitula-se Prácticas culturales de consumo: limitaciones y posibilidades en la movilización de la relación diversidad, educación matemática y subjetividades juveniles. Escrito pela professora Gloria García Oliveros, da Universidad Pedagógica Nacional de Bogotá, seu texto examina esta complexa rede temática mediante um enfoque que articula ideias advindas de autores que se serviram de Foucault para pensar a educação, estudos etnomatemáticso e teorias sociais latino-americanas.

O segundo artigo - A oralidade na proposta curricular de Camaragibe: o que pensam as professoras? - foi produzido com base em uma análise documental e a realização de entrevistas com oito professoras da rede municipal dessa cidade pernambucana. Com um enfoque de cunho sóciointeracionista, o material de pesquisa foi examinado, levando suas autoras - Ana Carolina Pessoa Guimarães, Júlia Teixeira Souza e Telma Ferraz Leal - a concluir que a proposta curricular efetivamente disponibilizou "orientações para o ensino da oralidade", mas que, apesar de as docentes concordarem com as orientações ali indicadas, "tinham dificuldades para realizar atividades específicas para o ensino da oralidade e pouco domínio teórico sobre o tema".

Os próximos dois textos situam-se no âmbito da História da Educação. Inicialmente, apresentamos Trajetórias de professoras assistentes do Instituto de Educação do Rio de Janeiro nos anos 1960, que tem como autora a pesquisadora Sonia Castro Lopes. Como o próprio título indica, o estudo discute trajetórias de docentes de uma instituição carioca, na década de 1960, examinando-as na interlocução de autores como Levi, Dubar, Dubet e Thompson. O segundo texto, escrito por Claudia Panizzolo e Milena Domingos Belo, intitula-se Educar a infância para o futuro da nação: uma análise da Série de Leitura Puiggari-Barreto (1890-1920). Como escrevem suas autoras, "trata-se de uma pesquisa que investiga as representações acerca de um ideal de infância brasileira presentes na obra, bem como a centralidade conferida à escola como instituição responsável pela socialização das crianças, tendo como base o conceito de representação desenvolvido por Chartier (1990)".

O artigo seguinte é de autoria de Felipe Rodrigues da Silva e Raquel Venera e tem como título As linhas ou alinhavos do tempo: jogos de linguagem e os sentidos de tempo nas Políticas Curriculares de História. Trata-se de um trabalho que é parte de uma pesquisa mais abrangente, cujo objetivo consiste em "investigar os sentidos de sujeito e tempo na política curricular de história da rede municipal de uma cidade catarinense, construída pelos professores, no contexto das orientações dos Parâmetros Curriculares Nacionais de História". Especificamente, neste texto, com o apoio de autores como Laclau, Lopes e Macedo, são examinados os "sentidos dessa política curricular" no que diz respeito à noção de tempo.

O último artigo publicado intitula-se A produção intelectual docente na pós-graduação em Educação no norte do Brasil: avanços e desafios. Nele, Wilma de Nazaré Baía Coelho e Carlos Aldemir Farias da Silva examinam quatro programas dessa região do país, mediante uma abordagem metodológica rigorosa e complexa. Entre as conclusões do estudo, vale ressaltar aquela que mostra que "o corpo docente atuante na região tem empreendido esforços para o crescimento social, científico, tecnológico e educacional com vistas ao desenvolvimento e a diminuição das desigualdades regionais".

Com a apresentação deste terceiro e último número de 2016, encerro minha atuação como editora de Educação Unisinos, cujo início ocorreu em finais de 2010 e se estendeu até aqui. Muito aprendi ao longo de todos esses anos. Nesse período, houve importantes mudanças no processo de editoração da revista, que passou a integrar a plataforma SEER. Tornando-se mais conhecida no meio acadêmico nacional e internacional, o número de submissões e sua qualidade acadêmica tiveram um grande crescimento, o que nos possibilitou publicar, em cada número, excelentes trabalhos de pesquisa produzidos no país e pelo menos um artigo proveniente de instituição estrangeira. Com isso, foi dado início ao processo de internacionalização de nosso periódico, que, gradativamente, vem se consolidando. Esse novo contexto exigiu a ampliação do corpo de avaliadores ad-hocs. Seus pareceres tiveram significativa importância para a qualificação de nossa revista.

Outro protagonismo também foi marcante nesse processo de qualificação. Refiro-me à decisiva colaboração dos colegas do Programa de Pós-Graduação em Educação da Unisinos, que integraram anteriormente - e hoje integram - nossa Comissão Editorial. Sua grande capacidade intelectual, dedicação e entusiasmo na realização de um trabalho coletivo, que abarcasse as múltiplas dimensões da atividade editorial, foram determinantes para que, neste ano, atingíssemos a classificação A2 no Qualis/ Periódicos. Isso em muito se deveu, também, à equipe da Secretaria Editorial da Universidade, que com grande profissionalismo atuou na parte técnica da editoração de cada número da revista.

Sou grata a cada um/a- autores, avaliadores, colegas da Comissão Editorial, membros da Comissão Científica e integrantes da Secretaria Editorial da Universidade - que partilharam comigo a desafiadora tarefa de "publicar" os três números anuais de nossa revista. Meu agradecimento também se dirige aos colegas que, neste período, estiveram na coordenação do Programa de Pós-Graduação em Educação da Unisinos, pela confiança e apoio dado a nosso trabalho.

A partir de 2017, a colega Isabel Bilhão será a editora de Educação Unisinos. Sua seriedade acadêmica e experiência editorial, que foram determinantes no trabalho de qualificação da revista realizado nos últimos anos, são garantia de que será muito bem-sucedida nesta sua nova atividade. Tenho a convicção de que, sob sua liderança, Educação Unisinos alçará voos ainda mais altos, disponibilizando a seus leitores artigos cada vez mais densos, que favoreçam a reflexão sobre as coisas da educação e sirvam de inspiração para nosso aprimoramento como professores e pesquisadores interessados em inventar "linhas de fuga" que possam romper, mesmo que de modo infinitesimal, com o que "aí está".

Gelsa KnijnikEditora

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