Resumo: Apresenta um panorama dos periódicos da área de Ciência da Informação e Biblioteconomia indexados na base de dados SciELO Citation Index. Especificamente objetivou avaliar a internacionalização dos periódicos da área contidos nessa base de dados, através do idioma de publicação, país do editor e país de afiliação do autor, considerando a evolução temporal dos artigos. A busca foi realizada considerando o campo categoria de assunto da Web of Science “Information Science & Library Science”, para identificar os itens relacionados a essas áreas, limitando a pesquisa aos artigos de periódicos para o período de 2002 a 2015. Os dados analisados indicam baixa integração entre os países editores dos periódicos e a comunidade global de pesquisa, considerando os parâmetros da pesquisa.
Palavras-chave:SciELO Citation IndexSciELO Citation Index, Biblioteconomia Biblioteconomia, Ciência da Informação Ciência da Informação.
Abstract: Abstract: It provides an overview of Information and Library Science periodicals indexed in SciELO Citation Index database. It specifically aimed to evaluate the internationalization of these journals contained in the database, through the publication of language, country editor and country of the author’s affiliation, considering the evolution of the articles. The search was carried out considering the subject category field of Web of Science “Information Science & Library Science,” to identify the items related to these areas; limiting the search to journal articles for the period from 2002 to 2015. The data analyzed indicate low integration among the countries editing journals and the global research community, considering the research parameters.
Keywords: SciELO Citation Index, Library Science, Information Science.
Artigos
A internacionalização das coleções da SciELO Citation Index na área de Ciência da Informação e Biblioteconomia
Internationalization of SciELO Science Citation Index collections in the Information and Library Science area
A Rede Scientific Electronic Library Online (SciELO) foi implantada em 1997, no Brasil, em parceria com a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), o Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde (BIREME) e, a partir de 2002, também com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Sua criação visou o fortalecimento e a ampliação da publicação online à informação científica.
Atualmente, três coleções integram essa rede[1]: a Rede SciELO Livros, uma coleção de divulgação científica e a biblioteca eletrônica de revistas científicas SciELO.
A Rede SciELO Livros, lançada em março de 2012, objetiva
[...] a indexação, publicação e interoperação online de coleções nacionais e temáticas de livros acadêmicos, com o objetivo de maximizar a visibilidade, acessibilidade, uso e impacto das pesquisas, ensaios e estudos que publicam. (SciELO LIVROS, 2015, p. 3)[2].
A coleção de divulgação científica é formada por quatro periódicos: Ciência e Cultura, ComCiência, Pesquisa FAPESP e Revista Virtual de Química.
A coleção de periódicos SciELO é formada por 1.249 periódicos eletrônicos correntes de 14 países: África do Sul, Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Cuba, Espanha, México, Peru, Portugal, Uruguai e Venezuela. Abriga ainda uma coleção específica na área de Saúde Pública (SciELO Saúde Pública) e uma coleção em desenvolvimento, do Paraguai[3].
Dois são os objetivos principais dessa coleção:
O primeiro era desenvolver competência e infraestrutura para indexar e publicar na Internet um conjunto selecionado de periódicos brasileiros, de diferentes disciplinas, que adotassem a avaliação pelos pares, e lidar com textos em diversos idiomas. O segundo foi de aumentar a visibilidade, uso e impacto dos periódicos indexados e das pesquisas que publicam. (PACKER; MENEGHINI, 2014, p. 17).
Em janeiro de 2014 iniciou-se uma nova etapa desse programa, entrando em operação a SciELO Citation Index (SciELO CI), desenvolvida através de parceria entre o Programa SciELO/FAPESP e a Thomson Reuters, através da plataforma Web of Science (WoS). Sua integração a essa plataforma teve duas motivações principais:
A primeira é promover a presença do SciELO em um dos índices bibliográficos e bibliométricos de referência internacional para ampliar a visibilidade e credibilidade dos periódicos. A segunda é operar a indexação dos periódicos SciELO, em particular a contagem de citações em um universo amplo de periódicos, compreendendo os indexados na Rede SciELO e na plataforma WoS. (PACKER, 2014, doc. não paginado).
Observa-se na Plataforma WoS[4] um movimento de inclusão de publicações de países de diferentes regiões: além da SciELO CI, que contém periódicos de 14 países da América Latina, Portugal, Espanha e África do Sul, também compõem a plataforma a base de dados de periódicos sul-coreanos KCI[5], a Chinese Science Citation Database[6] e a Russian Science Citation Index[7].
Em relação à indexação, a integração da Rede SciELO à Plataforma WoS oferece a vantagem de aumento da visibilidade da produção indexada. Ou seja, os artigos publicados em qualquer uma das bases integrantes dessa Plataforma têm suas citações contabilizadas em todas as bases que a compõe. A Figura 1 ilustra a questão da citação: observa-se que esse artigo, indexado na WoS, apresenta citações não apenas nessa base, mas também na Biosis CI, Chinese CI, Russian CI e SciELO CI.
Uma pesquisa preliminar mostrou que os artigos indexados na SciELO CI ainda têm baixo índice de citação nas outras bases. No entanto, considerando que a integração ainda é recente, esse volume tende a crescer com a disponibilidade de acesso que a coleção agora possui.
Outra vantagem da integração com a WoS é que a coleção SciELO CI se apresenta com a mesma interface, compartilhando funções, recursos e facilidade de navegação. Dentre os recursos que se destacam está a exportação de metadados dos artigos indexados em formato que facilita o uso de ferramentas para estudos métricos.
Diante das possibilidades que a associação entre as bases oferece, é oportuno avaliar a coleção da SciELO CI em relação à sua internacionalização. Esta pesquisa tem como objetivo apresentar um panorama dos artigos de periódicos da área de Ciência da Informação e Biblioteconomia indexados na base de dados SciELO Citation Index, desenvolvendo uma metodologia que poderá ser adotada para o estudo em outras áreas do conhecimento. Especificamente, pretende-se avaliar a internacionalização dos periódicos dessa área inseridos nas coleções nacionais, através do idioma de publicação, país do editor e país de afiliação do autor, considerando a evolução temporal dos artigos. Allison (2013) menciona esses indicadores dentre aqueles que podem avaliar o processo de internacionalização de periódicos.
A internacionalização é uma prática que vem se desenvolvendo no cenário científico e tecnológico mundial, em parte em decorrência dos avanços das tecnologias de informação e comunicação (TIC) e, segundo Santin, Vanz e Stumpf,
A internacionalização da ciência e das universidades se expressa de diversas formas, que podem ser avaliadas com base em diferentes indicadores. Dentre as dimensões internacionais estão os resultados da atividade científica, representados por diversos elementos, como o conhecimento gerado a partir das atividades de investigação científica. (SANTIN; VANZ; STUMPF, 2015, p. 210).
A fonte para a coleta de dados foi a base de dados SciELO Citation Index, abrigada na plataforma Web of Science (WoS). A busca foi realizada considerando o campo categoria de assunto da WoS “Information Science & Library Science”, para identificar os itens relacionados a essas áreas, limitando a pesquisa aos artigos de periódicos para o período de 2002 a 2015.
O campo de categoria de assunto escolhido apresenta um esquema classificatório que organiza os periódicos por áreas do conhecimento. E considerando a importância dos artigos de periódicos no ciclo de comunicação da ciência (MEADOWS, 1999), optou-se por restringir as análises subsequentes a esse tipo de documento, denominado nessa base como research article.
Os registros localizados foram recuperados em formato texto e exportados para o software VantagePoint (VP)[8], desenvolvido pela SearchTech para mineração de dados. Esse software facilita o trabalho de padronização de dados e gera planilhas e matrizes que embasam a análise dos resultados. Devido à falta de padronização, alguns campos foram tratados no referido software de forma a uniformizar os dados: país de afiliação do autor e título de periódico.
A busca foi realizada em março de 2016, tendo como resultado 2.772 itens cujo assunto é Information Science & Library Science indexados na base, considerando todas as tipologias documentais. Ao se filtrar somente os artigos de periódicos, o universo é de 2.178 referências. Esse conjunto contém artigos de 2002 a 2016, sendo que esse último ano foi eliminado por estar incompleto, resultando em 2.168 referências de artigos de periódicos no período 2002–2015.
Analisando as coleções[9] a que esses artigos pertencem, observou-se que 831 artigos não apresentavam o dado referente a esse campo. Esses artigos eram de dois periódicos: ACIMED e Investigación bibliotecológica: archivonomía, bibliotecología e información. Uma consulta no site SciELO sobre essas revistas revelou que a primeira é da coleção cubana e a segunda, da mexicana. Essa informação foi incorporada na base de dados local, abrigada no VantagePoint. Assim, consolidou-se a presença de seis coleções: Brasil, Cuba, México, Colômbia, Argentina e Venezuela.
Na análise dos periódicos foi observado que havia dois títulos similares: Investigación bibliotecológica e Investigación bibliotecológica: archivonomía, bibliotecología e información. No entanto, estes têm o mesmo ISSN, ou seja, o mesmo periódico foi indexado com e sem subtítulo. Esse campo foi padronizado de forma a conter o título e subtítulo.
O Quadro 1 apresenta a distribuição, por país de publicação, do número de artigos indexados por revista. Analisando-se os periódicos indexados na base, observa-se nove diferentes títulos, publicados em seis países da América Latina e Caribe. Duas coleções concentram cerca de 70% dos artigos recuperados no tema: o título cubano, com 35,4%, e os dois títulos brasileiros, com 34,6%. Em que pese que os periódicos são indexados em diferentes períodos na base, esse percentual demonstra a representatividade das coleções.
A evolução histórica apresentada na Figura 2 mostra o número de artigos indexados na SciELO CI por ano. Observa-se que os artigos sobre Ciência da Informação e Biblioteconomia estão indexados a partir de 2002, com maior concentração no período de 2006 a 2009 e um pico no ano de 2007.
Para investigar o porquê desse comportamento, foi verificado o número de artigos indexados por ano em cada título de periódico, conforme ilustrado na Figura 3. Observa-se que um periódico, Enlace, esteve presente na coleção somente de 2006 a 2009, inflando dessa forma esse período. A revista ACIMED também apresenta uma curva com grande concentração nesse período, mas com um pico em 2007. Ao se visitar a página do periódico no site da SciELO Cuba se observa que nesse ano foram editados dois volumes devido ao aniversário de 15 anos da revista.
Ainda no site da SciELO Cuba é informado que o periódico ACIMED foi interrompido com esse nome em 2012 e continuado sob o título de Revista Cubana de Información en Ciencias de la Salud. Observa-se, entretanto, que esse título não foi recuperado na pesquisa realizada, pois o periódico está indexado apenas na categoria de Health Care Sciences & Services. Tal constatação sugere uma imprecisão na indexação, visto que o tema principal do periódico é informação e a base permite a indexação em mais de uma categoria de assunto.
Em relação ao país de afiliação dos autores dos artigos recuperados observou-se que esse dado estava presente em 92% dos registros. Nem todos os dados permitiam a identificação inequívoca do país, gerando um conjunto de 88% dos registros com atribuição de país, o que expressa uma representatividade que permite sua análise.
Dois aspectos em relação aos países de autoria são analisados. O primeiro diz respeito ao número de países presentes em cada coleção, e o segundo considera a colaboração entre autores de diferentes países em cada coleção.
A análise referente ao volume de países de afiliação dos autores em cada coleção apresenta diferentes comportamentos. As coleções de Brasil e Cuba, países de maior número de artigos no tema, são também as que apresentam maior concentração de autores dos seus próprios países. Em outro patamar encontram-se as coleções da Argentina e da Venezuela, que, embora apresentem cerca de 45% de seus artigos com autores locais, já apresentam maior diversidade de países de autoria. A coleção mexicana tem forte concentração em trabalhos publicados por coautores mexicanos e espanhóis, da ordem de 38% cada. Já a coleção colombiana é a que apresenta maior diversidade em termos de presença global, com cerca de 62% de artigos de autores internacionais.
Em relação ao grau de colaboração entre autores de diferentes países, são analisadas as redes de coautoria presentes em cada coleção, mostradas nas Figuras 5a, 5b e 5c. Nas coleções de Colômbia, Brasil e México, observa-se maior número de interações entre autores de diferentes países. As coleções de Cuba e Argentina exibem baixo nível de colaboração, e a da Venezuela, nenhuma interação.
A conjugação da análise do número de países de afiliação de autor (Figura 4) e da colaboração entre autores de diferentes países (Figuras 5a, 5b e 5c) permite identificar que a coleção da Colômbia é a que apresenta maior grau de internacionalização, visto que possui maior diversidade de países, e estes interagem em publicações conjuntas. Uma análise matemática corrobora essa afirmativa, pois essa coleção tem 65% de seus artigos publicados em colaboração entre autores de diferentes países. Em um patamar próximo, encontra-se a coleção mexicana, com 63% de seus artigos em colaboração.
A coleção brasileira apresenta cerca de 26% de seus artigos com autores de outros países, indicando baixo grau de colaboração internacional nessa área do conhecimento. Esse resultado se encontra na faixa identificada em artigo publicado na revista Nature, de maio de 2013, que indica grande ampliação da colaboração internacional na última década, principalmente em alguns países desenvolvidos.
No Reino Unido, a proporção de artigos com participação de autores de mais de um país aumentou de 20% para 50% entre 1981 e 2012 [...]. No Brasil, essa proporção oscilou em torno de 25% em todo o período, com o máximo na década de 90, quando alcançou pouco mais de 30%. (ADAMS, 2013[10] apud CARVALHO; TRAVASSOS; COELI, 2014, p. 1585).
Em relação ao idioma de publicação dos artigos, foram encontrados quatro idiomas: espanhol (1.425), português (717), inglês (25) e francês (1). O espanhol é dominante, como esperado, visto que a maioria das revistas é em língua espanhola e, além disso, os dois periódicos brasileiros também aceitam trabalhos nesse idioma.
As revistas Acimed e Perspectivas em Ciência da Informação não apresentavam de forma explícita a indicação dos idiomas aceitos para publicação. Entretanto, numa análise dos artigos publicados no período estudado, observou-se que na Acimed só constavam artigos em espanhol, e na Perspectivas em Ciência da Informação, artigos em português, espanhol e inglês. Esse tipo de informação deve constar das instruções aos autores, de forma a orientar os interessados nos idiomas aceitos para publicação.
As publicações Transinformação, Palabra Clave e Revista Interamericana de Bibliotecología aceitam a submissão em três idiomas: espanhol, inglês e português. A Transinformação destaca que, “[...] para atender aos critérios para sua internacionalização, os artigos enviados em inglês terão prioridade na publicação.” (TRANSINFORMAÇÃO, doc. não paginado).
O periódico Investigación bibliotecológica: archivonomía, bibliotecología e información (México) aceita artigos em espanhol, francês e português.
Os títulos Información, Cultura y Sociedade aceitam, preferencialmente, artigos em espanhol e português, e a revista Enlace, somente em espanhol.
Observou-se baixa presença de autores de países com língua pátria diversa daquela do periódico, conforme ilustrado no Quadro 2. Esse quadro apresenta o idioma de publicação e os países de origem dos autores que não tenham esse idioma como língua mãe: os artigos publicados em espanhol têm cerca de 3% de autores de outro idioma, e os artigos publicados em português se apresentam na mesma faixa, com cerca de 4%. Tais índices mostram baixa internacionalização das revistas da região inseridas na SciELO CI.
A inclusão da SciELO na plataforma Web of Science foi um processo gradativo, iniciando na década passada e culminando com o lançamento da SciELO Citation Index em 2014. É, sem dúvida, importante avanço para a pesquisa desenvolvida na América Latina e demais países que compõem as coleções. Considerando que a plataforma WoS é um dos mais importantes sistemas de recuperação de informação cientifica do mundo, essa inserção trará, a médio prazo, aumento do impacto das pesquisas desenvolvidas nas regiões, fomentando sua visibilidade e acessibilidade.
A análise dos dados da SciELO CI na área de Ciência da Informação e Biblioteconomia se apresentou como um recorte que permite a análise de alguns parâmetros importantes, tais como indexação, consistência e padronização.
A primeira questão que se destaca é existência de registros que não estão vinculados a uma coleção. Neste estudo identificou-se que 38% dos artigos desse campo não estavam preenchidos.
Foi constatado que o periódico ACIMED mudou de nome e o novo título não foi indexado na mesma categoria de assunto. Tal inconsistência prejudica a representatividade dos artigos sobre Biblioteconomia e Ciência da Informação em sua totalidade. Cabe destacar ainda que a SciELO Citation Index não engloba todo o universo de fascículos de um periódico. Há títulos que têm um determinado ano de criação, em outro ano começa a ser indexado na SciELO e em ano posterior integra a SciELO Citation Index. Por exemplo, a revista Transinformação foi lançada em 1989, está indexada na SciELO desde 2000 e na SciELO Citation Index a partir de 2002.
Outra questão levantada no estudo se refere à falta de padronização de campos de fácil normalização, tais como país e título do periódico. Sendo uma base de citações, própria para estudos métricos, tais questões são de suma relevância.
Esta pesquisa mostra, portanto, que é necessário um esforço para melhorar a qualidade dos dados disponibilizados. Note-se que a própria base da Web of Science ainda apresenta lacunas em relação à sua padronização, conforme apontado por Bochner et al. (2012, doc. não paginado): “Atualmente, a informação disponível na base de dados Web of Science apresenta erros e inconsistências que podem impactar as análises informétricas”.
Apesar das inconsistências identificadas, foi possível analisar parâmetros relativos à internacionalização após a devida normalização dos campos na base de dados local. Essa análise mostrou a baixa integração entre os países editores dos periódicos e a comunidade global de pesquisa, considerando o idioma de publicação, o país das coleções e a origem geográfica de afiliação dos autores.
Por fim, sugere-se a realização de outros estudos com a metodologia desenvolvida para a pesquisa em outras áreas do conhecimento, a fim de se identificar padrões de comportamento da ciência produzida nos países integrantes da Rede SciELO.
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