Resumo: O objetivo da pesquisa foi verificar as ações que os bibliotecários desenvolvem para a formação de habilidades para a competência em informação dos usuários, bem como quais são as suas necessidades em relação a essas ações. Para tanto, foi realizada uma pesquisa de campo, descritiva, com abordagem qualitativa, tendo como participantes sete bibliotecárias de diferentes tipos de bibliotecas. Os dados foram coletados por meio de um grupo de foco para identificar suas experiências, ações e necessidades para as práticas educativas voltadas à competência em informação. Para análise dos dados, apoiou-se na técnica de análise de conteúdo. Entre os resultados foi possível perceber que os bibliotecários têm realizado diversas atividades para a formação de seus usuários que podem contribuir para a competência em informação. Conclui-se, no entanto, que ainda é necessário estreitar os laços entre os campos de atuação e instituições de ensino, de forma a atender os bibliotecários quanto às suas necessidades relativas à educação para competência em informação. Da mesma forma, evidencia-se a relevância de tornar a competência em informação integrada ao processo de formação dos bibliotecários, abordando-a como um conteúdo transversal presente em diferentes disciplinas, tendo em vista a formação de profissionais preparados para buscar e utilizar informações de forma mais crítica, ética e reflexiva.
Palavras-chave:Competência em informaçãoCompetência em informação, Formação de habilidades informacionais Formação de habilidades informacionais, Formação para competência em informação Formação para competência em informação.
Abstract: The objective of the research was to verify the actions that the librarians develop for the formation of skills for the users information literacy and their needs in relation to these actions. For that, it was carried out a field, descriptive, and qualitative research , with seven librarians from different types of libraries as participants. The data were collected through a focus group with some librarians to identify their experiences, actions and needs for educational practices focused on information literacy. Data analysis was based on the content analysis technique. Among the results it was possible to notice that the librarians have carried out several activities to train their users, that can contribute to the information literacy. It is concluded, however, that it is still necessary to strengthen the links between the fields of activity and educational institutions, in order to assist librarians with their needs regarding education for information literacy. Likewise, it is evident the relevance of making information literacy integrated into the process of training librarians, approaching it as a transversal content present in different disciplines, in view of training professionals prepared to seek and use information in a more critical, ethical and reflective way.
Keywords: Information literacy, Formation of informational skills , Training for information literacy.
Artigos
Educação para a competência em informação e as ações realizadas por bibliotecários
Education for information literacy and actions performed by librarians
Recepção: 30 Agosto 2018
Aprovação: 03 Fevereiro 2019
As formas de aprender têm se modificado ao longo dos tempos, passando de um processo passivo de recepção de conteúdo para uma aprendizagem e construção de conhecimento mais dinâmicas. Nessa perspectiva, a escola tem se pautado em um discurso para educação ativa, que visa desenvolver, nos sujeitos, habilidades metacognitivas e reflexivas. Pretende, nesta perspectiva, mais do que transmitir conteúdos, formar os estudantes para a avaliação de problemas em contextos reais que auxiliem em seu processo de desenvolvimento, não apenas acadêmico, mas também social (GASQUE; CASARIN, 2016; LIBÂNEO, 2004).
Colaborando com isso, as Diretrizes Curriculares Nacionais do Ministério da Educação (BRASIL, 2013) apontam que, para a sobrevivência no atual ambiente informacional e tecnológico, é necessário que as pessoas possuam condições de aprendizagem contínua ao longo da vida. Para isso, é requerido que os estudantes, para além de adquirirem informações, desenvolvam habilidades no intuito de realizar com autonomia as atividades acadêmicas e de aprendizagem, de tal forma que continuem aprendendo durante toda a vida.
Não basta, para a aprendizagem, que o estudante memorize o conteúdo ministrado em sala de aula, mas que seja “[...] flexível, criativo, capaz de encontrar soluções inovadoras para os problemas de amanhã [...]” (LIBÂNEO, 2004, p. 5), ou seja, que ele saiba como agir e interagir com o mundo ao seu redor. Para Belluzzo, Santos e Almeida Junior (2014), essas ações críticas e reflexivas frente ao mundo podem ser consideradas competência em informação, que pode ser definida como o resultado da internalização, construção ou potencialização de habilidades atitudinais, operacionais, cognitivas e comunicacionais que tornam o indivíduo capaz de suprir suas necessidades informacionais de forma rápida e consciente.
O conjunto dessas habilidades permeia todo o processo de aprendizagem, desde a percepção de suas necessidades, as estratégias para localizar a informação necessária, a análise crítica destas informações, assim como permeia todo o processo consciente de tomada de decisão (DUDZIAK, 2008). Sendo as habilidades informacionais essenciais à busca e uso da informação, considera-se que tanto as habilidades quanto a informação são essenciais para que o ser humano desenvolva suas atividades e o seu fazer social.
Nesse sentido, é possível refletir que o processo de formação de habilidades para a competência em informação não é necessário apenas para o contexto acadêmico. É importante que o estudante, independente das atividades que realizará, tenha suas habilidades desenvolvidas, uma vez que é por meio destas que ele se posiciona como cidadão diante do mundo; busca, analisa e utiliza a informação de forma crítica e consciente; consolidando, assim, seu papel social.
É fato que as habilidades informacionais para a competência em informação devem ser desenvolvidas em todos os ambientes de inserção e atuação do sujeito, mas é na educação e por meio dela que estas possuem maior potencial de ampliação. Para Hatschbach (2002), é no trabalho educativo que se constata uma necessidade de aprendizado contínuo, é através dele que se desperta a capacidade de análise e que se auxilia no resgate da cidadania, assim como incentiva um protagonismo na construção de uma sociedade mais igualitária e emancipadora. Dessa forma, ter as habilidades informacionais desenvolvidas é, segundo a autora, um elemento essencial na educação moderna.
Tanto na educação básica quanto no ensino superior, as bibliotecas são instituições apropriadas para auxiliar no desenvolvimento de habilidades nos estudantes. E, conforme apontam estudos realizados no âmbito das bibliotecas universitárias (MATA; ALCARÁ, 2016; MIRANDA; ALCARÁ, 2017), os bibliotecários têm sido os grandes responsáveis no desenvolvimento de ações para a promoção de habilidades para a competência em informação. Entretanto, esses estudos também evidenciaram que, apesar dos esforços de bibliotecas e bibliotecários, as ações ainda se realizam de forma isolada e sem uma periodicidade, uma vez que a maioria delas não está integrada a projetos ou programas institucionais, dificultando, assim, a manutenção e alcance destas práticas educativas.
O documento da Association of College and Research Libraries (ACRL, 2016) sinaliza que o bibliotecário, em parceria com outros profissionais, pode redesenhar as atividades de formação dos usuários, cursos ou até mesmo currículos. Assim, para que o bibliotecário esteja preparado para isso, é imprescindível que sua formação promova o desenvolvimento de habilidades informacionais e o instrumentalize para tornar-se multiplicador destas habilidades, desenvolvendo-as no âmbito das bibliotecas por meio da formação dos usuários. Nesse contexto, o objetivo desta pesquisa foi verificar as ações que os bibliotecários desenvolvem para a formação de habilidades para a competência em informação dos usuários e quais são as suas necessidades em relação a essas ações.
A competência em informação vem da tradução do termo em inglês Information Literacy, que surgiu em 1974, no relatório The information service environment relationships and priorities, elaborado pelo bibliotecário americano Paul Zurkowski. De acordo com Dudziak (2003, p. 24), esse termo também foi traduzido como alfabetização informacional, letramento, literacia e fluência informacional, porém, “[...] a utilização da expressão competência em informação parece ser a mais adequada em função de sua definição [...]”. Isso porque, segundo a autora, a competência em informação se refere “[...] a um saber agir responsável e reconhecido, que implica mobilizar, integrar, transferir conhecimentos, recursos, habilidades, que agreguem valor, direcionados à informação e seu vasto universo.”
No Brasil, os estudos sobre a competência em informação tiveram, entre os seus precursores, Caregnato (2000), Belluzzo (2001) e Hatschbach (2002) (DUDZIAK, 2003). Na atualidade, o tema possui uma vasta produção de pesquisas e tem sido amplamente debatido em eventos técnicos e científicos da Biblioteconomia, Arquivologia e Ciência da Informação.
Durante algum tempo, as habilidades no uso das Tecnologias de Informação e Comunicação foram priorizadas para o desenvolvimento dessas competências. No entanto, com o passar dos anos, a tecnologia tornou-se mais acessível, a informação passou a estar disponível em meio digital, e o contato com aparelhos e dispositivos digitais iniciou-se cada vez mais cedo. Dessa forma, o enfoque, que antes era na utilização da tecnologia, passou a ser na percepção do sujeito quanto à sua necessidade de informação, assim como no reconhecimento de fontes para buscá-la e na sua utilização de forma crítica e mais reflexiva.
As autoras Vitorino e Piantola (2009, p. 135) seguem nesta direção apontando que:
[...] a ideia inicialmente aceita de que a competência informacional consiste essencialmente em conjunto de habilidades individuais ligadas à manipulação da informação em um suporte digital constitui apenas uma das muitas dimensões sugeridas pelo termo, que vem crescendo em complexidade à medida que as pesquisas sobre o tema evoluem.
A competência em informação é um conceito dinâmico que tem se modificado, buscando contemplar as mais diversas habilidades que se fazem necessárias para a pessoa lidar de forma adequada com a informação, tais como, planejamento, ações reflexivas no processo de busca e uso da informação, avaliação dos resultados, entre outras.
Gasque (2013, p. 5) afirma que a competência em informação é a “[...] capacidade do aprendiz de mobilizar o próprio conhecimento que o ajuda a agir em determinada situação.” A autora reforça que, durante o processo para desenvolver as habilidades, os indivíduos vão aperfeiçoando suas capacidades para identificar sua necessidade de informação, buscá-la e usá-la de maneira eficaz e eficiente, considerando seus mais diversos aspectos.
A American Library Association (ALA) publicou, em 2000, um documento que definiu competência em informação como
[...] um conjunto de habilidades que exigem que os indivíduos reconheçam quando as informações são necessárias e tenham a capacidade de localizar, avaliar e usar efetivamente as informações necessárias.
No ano de 2016, a ACRL publicou um novo e atualizado documento sobre a competência em informação, reformulando os conceitos do antigo modelo e os moldes nos quais este era estruturado. Nesse sentido, define a competência em informação como um grupo integrado de habilidades que perpassa a descoberta da informação, a percepção de sua produção e do seu valor e o seu uso “[...] na criação de novos conhecimentos e a participação ética nas comunidades de aprendizagem.” (ACRL, 2016, p. 03, tradução nossa).
Em síntese, a competência em informação pode ser vista como o resultado do processo de apropriação, desenvolvimento e potencialização de habilidades que tornam alguém capaz de realizar atividades voltadas para localizar e utilizar a informação de forma eficaz e consciente. Sendo a competência essencial no processo de busca e uso da informação, esta se faz necessária a todas as pessoas que utilizam informação para desenvolver suas atividades, sejam elas acadêmicas, cotidianas ou profissionais. Assim, todos devem ter suas habilidades informacionais desenvolvidas, no intuito de melhor realizar suas ações frente à sociedade na qual se inserem.
As habilidades mencionadas são consideradas habilidades informacionais e são definidas por Gasque (2013) como ações específicas que o sujeito necessita para alcançar a competência em informação. Dessa forma, é indispensável que o sujeito domine uma série de habilidades informacionais para que possa ser considerado competente.
Ainda quanto às habilidades informacionais, é importante que a pessoa saiba reconhecer suas necessidades, formule questões sobre as informações que precisa buscar, explore as fontes de informação para entender melhor sobre o assunto, determine o foco da busca, identifique quais termos melhor representam o conteúdo, saiba utilizar estratégias para buscar e selecionar informações pertinentes e avalie as fontes de informação considerando sua confiabilidade, atualidade, entre outros fatores. Além de ler e compreender os conteúdos apresentados, assim como assimilá-los e comunicá-los de forma que os demais possam compreendê-los.
Borges e colaboradores (2012) salientam, também, que essas habilidades não são importantes apenas para a ascensão profissional ou acadêmica, mas para participação social, já que diversas ações sociais foram transferidas do meio físico para o meio digital. Muitas ações de caráter público são propostas em meios digitais, tais como as petições eletrônicas, as enquetes públicas e os grupos de debates online. Para que o cidadão possa participar ativamente do desenvolvimento dessas ações, é importante que o mesmo tenha domínio das habilidades tanto digitais como cognitivas, sociais e comunicativas.
É importante ressaltar que, para que essas habilidades sejam consideradas bem desenvolvidas, o indivíduo precisa aplicar estratégias de busca, seleção, uso e avaliação da informação, utilizando-se do senso crítico e da ética, tanto para produzir como para receber informações. Considerando todos os aspectos relacionados ao desenvolvimento de habilidades informacionais e, consequentemente, a busca pela competência em informação, é importante que o bibliotecário tenha sua formação pautada nesse processo, não apenas se tornando competente em informação, mas preparado para sua atuação enquanto formador dessas habilidades informacionais.
Como já mencionado, o bibliotecário é um dos grandes responsáveis pela promoção de habilidades informacionais. Seu papel pode ser desenvolvido nas mais diversas bibliotecas, entretanto, é importante que o ensino dessas habilidades se inicie ainda na educação básica e seja aprimorado no ensino superior, de forma que os usuários aprendam a aprender. Na sequência, será apresentado um breve relato de ações que vêm sendo promovidas por bibliotecários, tendo em vista a formação das habilidades informacionais dos usuários. O objetivo desta seção é evidenciar a necessidade de o bibliotecário ter, ao longo de sua formação, seja na graduação ou na pós-graduação, conteúdos pedagógicos que o instrumentalize para suas futuras práticas educativas voltadas à competência em informação.
Guedes e Farias (2007) entrevistaram bibliotecários de bibliotecas escolares da rede particular de Natal (RN) e seus resultados apontaram que mais da metade deles auxiliavam os estudantes no momento da busca, mas não possuíam ações de formação coletiva. As autoras também questionaram de que forma os bibliotecários procuravam auxiliar os estudantes no processo de compreensão da informação, e metade dos entrevistados indicaram realizar atividades com toda a comunidade acadêmica, com intuito de abordar a pesquisa bibliográfica, orientação no uso das fontes, organização de feiras científicas e culturais, ações para incentivo à leitura, entre outras. Entretanto, poucos afirmaram desenvolver ações para auxiliar no desenvolvimento dos trabalhos acadêmicos, como orientações à normalização e apresentação destes trabalhos. Sobre esse assunto, os bibliotecários afirmaram que esta responsabilidade é, em grande parte, dos professores e que fica a cargo da biblioteca apenas a orientação individual para os estudantes que procuram ajuda.
Silva, Neves e Gomes (2013) aplicaram um questionário com os estudantes de uma escola do Instituto Federal da Bahia (IFBA), com o objetivo de investigar como percebiam a biblioteca escolar. Os estudantes mencionaram uma série de ações que poderiam ser desenvolvidas pela biblioteca, buscando melhorar suas experiências de aprendizagem, assim como fomentar o desenvolvimento de habilidades. As ações mencionadas foram: clube do livro, jogos interativos, sorteio de livro, atividades dinâmicas de incentivo à leitura, debates, post de poesias, café científico, gincana, sarau/oficina de poesias, leitura em grupo, oficina de pesquisa, divulgação de documentários nacionais e espaço de descanso. Durante o tempo disponibilizado para a aplicação do questionário, a biblioteca promoveu a primeira ação voltada para a promoção de habilidades, sendo esta um concurso de desenho, realizado em parceria com a professora de Língua Portuguesa, onde o tema a ser desenhado seria em consonância com os conteúdos de literatura ministrados em sala de aula.
Bedin, Chagas e Sena (2015), ao realizarem uma pesquisa com bibliotecários da Rede de Bibliotecas Escolares de Florianópolis, notaram algumas melhoras na participação destes na realização de atividades nas escolas. Quanto a essas atividades, os profissionais relataram que promovem a formação dos estudantes para a pesquisa autônoma na biblioteca, e as ações são feitas de forma coletiva, com o intuito de compartilhar os conhecimentos gerados pelos próprios estudantes. No entanto, quando questionados sobre a realização de atividades para reconhecimento de fontes de informação digitais e seu manuseio, assim como análise consciente de suas informações, os profissionais não mostraram realizar atividades nesse sentido.
Na mesma perspectiva, Bedin (2017), ao levantar as ações promovidas por bibliotecários escolares em Florianópolis, encontrou algumas iniciativas de atuação na biblioteca escolar, entre elas pode-se destacar: a participação nas reuniões da escola; trabalho em cooperação com o professor; planejamento no uso da biblioteca e na pesquisa escolar; participação no processo de pesquisa escolar; uso de fontes de pesquisa no ambiente digital; uso de métodos de pesquisa; uso das redes sociais; jornal do colégio; exposições de projetos; indicação de leitura; falando com o autor; feira de livros; sacola literária; filmes; concursos; piquenique literário; uma noite na biblioteca; e debates. A autora constatou que os bibliotecários têm desenvolvido ações, mas reforça a necessidade de formação de bibliotecários com um perfil de pesquisador, de maneira que os mesmos possam contribuir para a formação de estudantes pesquisadores por meio da sua atuação em bibliotecas escolares.
Quanto às ações realizadas em bibliotecas universitárias, Miranda e Alcará (2017) compilaram algumas iniciativas de formação em Instituições de Ensino Superior (IES) no Brasil, entre as citadas, é relevante destacar Freitas e Vieira (2015) e Peres, Miranda e Simeão (2016), em que os autores relatam um programa de competência desenvolvido na Universidade de Brasília (UnB), com o apoio de bibliotecários, docentes e administradores, visando o desenvolvimento de habilidades em estudantes de graduação e a realização de oficinas para estudantes do ensino médio. Vale, também, relatar a iniciativa de um programa de formação continuada de usuários na Universidade Federal do Paraná (UFPR) (UEZU; ARAÚJO; ESTEVÃO, 2014). Essas iniciativas são programas de formação institucionais, envolvendo a equipe da biblioteca e o corpo docente e administrativo da instituição. Além dos programas mencionados, Miranda e Alcará (2017) descrevem diversas iniciativas de formação de usuários, por meio de oficinas de busca da informação, treinamentos, guias de fontes de informação, tutoriais para uso de bases de dados, minicursos sobre as normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), entre outros.
Ainda em relação às ações promovidas pelas IES ou pelas bibliotecas universitárias, pode-se citar a experiência da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) na oferta do Curso de Pesquisa Bibliográfica: fontes de informações da Área de Saúde na Internet, realizada por meio do Departamento de Enfermagem e pelo Programa de Pós-Graduação em Enfermagem desde 2009. O curso em questão foi ofertado durante três anos, inicialmente com o objetivo de atualizar profissionais e estudantes em relação à pesquisa bibliográfica, e, posteriormente, abrangendo a pesquisa avançada, tornando-se parte das atividades promovidas anualmente por demanda da comunidade (FONSECA; PAULA; PADOIN, 2013).
Buscando complementar as ações promovidas por bibliotecários, ressalta-se também o estudo de Almeida (2015), que investigou a biblioteca do Instituto Federal de Educação da Paraíba (IFPB) – Campus Sousa e propôs um modelo de Projeto Educativo para desenvolvimento de competência em informação. O autor aponta a importância da realização de projetos que visem a competência para além das atividades de rotina que a promovem, salientando que projetos tendem a oferecer uma especificidade e complexidade maior e, desta forma, apresentam resultados mais satisfatórios. Entre as atividades incluídas no projeto estão as seguintes: oficinas sobre organização de dados das nuvens; elaboração e atualização do currículo Lattes; uso dos diretórios de grupo de pesquisa; minicursos sobre acesso e uso do Portal de Periódicos da Capes; acesso às bibliotecas digitais de teses e dissertações; uso dos buscadores; e uso das normas da ABNT. O autor também propõe uma série de atividades culturais como: café com o autor; sarau poético; concurso literário; exposição fotográfica; e festival de cinema.
Na perspectiva dessas atividades, Almeida (2015) utiliza-se do termo biblioteca aprendente, que reflete a visão das autoras da presente pesquisa quanto à necessidade de bibliotecas que sejam parte da aprendizagem dos sujeitos, auxiliando no seu desenvolvimento enquanto ser social. No intuito de concretizar esta visão, aponta-se a necessidade de formação de bibliotecários capacitados para seu papel educativo enquanto formadores de habilidades para a competência em informação de seus usuários.
O estudo caracteriza-se como uma pesquisa de campo, descritiva, com abordagem qualitativa. A coleta de dados ocorreu por meio de um grupo de foco com a finalidade de investigar as ações que os bibliotecários desenvolvem para a formação de habilidades para a competência em informação dos usuários, bem como quais são as suas necessidades em relação a essas ações.
O grupo de foco, segundo Di Chiara (2005), é uma técnica para a coleta de dados que requer a formação de um grupo pequeno e homogêneo, que represente o universo a ser pesquisado. Para a realização da coleta de dados cria-se uma situação informal para a discussão dos tópicos de interesse da pesquisa.
Nesse sentido, foi selecionada para participar da pesquisa uma amostragem de bibliotecários de diferentes tipos de bibliotecas. Vale ressaltar que foi utilizada uma seleção por conveniência, que de acordo com Gil (2012, p.94), “[...] é destituída de qualquer rigor estatístico”. Nesse caso, “[...] o pesquisador seleciona os elementos a que tem acesso, admitindo que estes possam, de alguma forma, representar o universo. Aplica-se esse tipo de amostragem em estudos exploratórios ou qualitativos, onde não é requerido elevado nível de precisão”.
O convite para os bibliotecários foi enviado por e-mail e o encontro com esses profissionais foi organizado pelo grupo de pesquisa (cujas autoras são integrantes), com o objetivo de aproximar os estudos realizados pelo grupo com as práticas profissionais. Para tanto, os membros do grupo e as autoras desta pesquisa realizaram algumas reuniões antes do grupo de foco, buscando definir melhores estratégias para esta atividade. Assim, o grupo de foco foi realizado com a presença de sete bibliotecárias (sendo três de biblioteca escolar, uma de biblioteca pública, duas de biblioteca universitária e uma de biblioteca universitária especializada) e os membros do grupo de pesquisa (cinco integrantes). Entres os integrantes do grupo, dois membros atuaram como mediadores das discussões e os demais tiveram o papel de observadores. Antes de iniciar a discussão, as bibliotecárias foram convidadas a assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e, em seguida, com base no roteiro pré-definido a partir dos objetivos da pesquisa, iniciou-se o grupo de foco.
Os dados obtidos a partir da discussão do grupo de foco foram registrados em áudio e, em seguida, transcritos. Posteriormente, apoiando-se na técnica de análise de conteúdo de Bardin (1977), os dados foram organizados em categorias, analisados e interpretados, tendo a literatura como apoio. Algumas falas das bibliotecárias participantes do estudo foram inseridas durante a apresentação e discussão dos resultados e, visando preservar sua identidade, foram identificadas com numerais de 1 a 7.
Os resultados foram agrupados e serão apresentados segundo duas categorias de análise, a saber: Ações dos bibliotecários que podem contribuir para a formação de habilidades para a competência em informação; Processo e necessidade de formação do bibliotecário em relação à competência em informação.
A intenção desta parte da pesquisa consistia em identificar ações para formação de usuários em relação à busca e seleção de informações no acervo e na web; avaliação de fontes de informação; compartilhamento da informação; orientações à pesquisa em âmbito escolar e acadêmico; atividades lúdicas; e uso ético e crítico da informação; que podem contribuir para a formação de habilidades para a competência em informação.
Quanto ao processo de busca e seleção da informação por parte de seus usuários, algumas das participantes se referiram às estratégias que utilizam para facilitar a localização no acervo. Nesse sentido, duas das participantes que atuam em biblioteca escolar mencionaram o uso das cores, assim como a separação por tipo de materiais (mais finos, com mais ilustrações), além da organização tradicional do acervo, buscando facilitar para que os estudantes menores possam se localizar na biblioteca.
Aguiar (2012, p. 41) salienta que a organização da informação na biblioteca escolar é muito significativa, pois
[...] favorece a recuperação da informação de forma independente, e por isso auxilia o processo de aprendizagem das crianças, de um modo geral e em particular àquelas dos anos iniciais do ensino fundamental, não só para as pesquisas escolares, mas para toda vida acadêmica.
Guedes e Farias (2007) se referem ao ambiente da biblioteca e a importância deste espaço ser bem sinalizado, organizado, autoexplicativo, de forma que o estudante possa aprender a se localizar dentro do mesmo, desenvolvendo sua autonomia. Assim como no estudo realizado pelas autoras, em que a maioria dos bibliotecários afirmou que o espaço é bem organizado e apresenta estratégias que facilitam seu entendimento pelo público, na presente pesquisa isso também ficou evidente. A Participante 2 expôs que na instituição em que trabalha “[...] foi dividido o acervo também, em I e J, infantil e juvenil, para o pessoal saber, e os alunos começarem a conhecer onde está [o material e ter independência para acessá-lo]”. Esta participante também mencionou que colocou faixas coloridas nas estantes, indicando a faixa etária de cada parte do acervo, possibilitando, assim, que os estudantes reconheçam os materiais adequados para sua idade.
A participante 1 também citou uma atividade realizada com a professora de Literatura, em que duas vezes por ano fazem uma gincana na qual as crianças precisam localizar materiais no acervo, possibilitando, de maneira lúdica, a localização em relação aos materiais e a independência no uso da biblioteca.
As bibliotecárias que atuam nas bibliotecas escolares e na biblioteca pública expuseram sobre diversas ações promovidas de forma lúdica, buscando auxiliar as crianças em seu processo de aprendizagem e autonomia na busca e uso da informação. Nesse sentido, a Participante 3 relatou que fazem workshops, oficinas e cursos. Destacou uma ação específica, desenvolvida pela biblioteca, denominada friendship (amizade), em que os usuários escrevem cartas para pessoas de outros países. Essa bibliotecária atua em uma biblioteca de escola de idiomas, espaço em que desenvolve várias ações para a aprendizagem de outro idioma.
Já a Participante 4 reportou que durante as férias escolares a biblioteca oferece entre “[...] as programações um dia de produção de história, no outro, jogos, no outro, dobradura, palestras [...]”. Outra ação mencionada pelas Participantes 3 e 4 é o encontro às cegas, em que a biblioteca organiza uma mesa com livros embrulhados e os estudantes escolhem sem saber qual o título ou tema do livro. Nos relatos dessas participantes, percebe-se o envolvimento dos usuários nessas atividades e a relevância para sua interação com a biblioteca. Assim como, visualizou-se a importância das ações realizadas pelas bibliotecárias, que podem contribuir tanto para a autonomia dos usuários na busca da informação como para o uso e produção da informação, que são essenciais para a formação de habilidades para a competência em informação
Vale ainda mencionar que as atividades citadas pelas bibliotecárias participantes desta pesquisa se aproximam das ações já relatadas por bibliotecários escolares nos estudos de Guedes e Farias (2007), Silva, Neves e Gomes (2013) e Bedin (2017), as quais visam promover a aprendizagem das crianças por meio de ações lúdicas.
A Participante 2 expôs um projeto realizado pela biblioteca escolar onde atua, e como as crianças reagiram a ele. Ela comentou que iniciou um projeto de leitura com estudantes do 1º ao 5º ano, no qual eles contavam histórias aos mais pequenos e uma das regras do projeto era que as histórias precisavam ser de algum livro. Umas das alunas inventou uma história e escreveu um livro para realizar a contação aos colegas. O que se pode ressaltar na fala dessa bibliotecária é que, além de participar das atividades, os estudantes também colaboram na sua elaboração. E isso é relevante para a formação da competência em informação, já que, de acordo com a ACRL (2016), a competência em informação inclui diversas habilidades, dentre elas, a produção da informação, que, nesse caso, pôde ser evidenciada quando a estudante criou e escreveu uma história para ser contada aos seus colegas.
A Participante 3 também relatou atividades desenvolvidas pelos próprios usuários, denominadas “[...] movimento fazer (Maker Space), que é onde você volta a fazer as coisas que você delegava para as indústrias, descobre como é feito [...]”. Ela menciona que planejam realizar uma atividade de programação de jogos, onde os estudantes poderão desenvolver seus próprios jogos eletrônicos. Tal atividade auxilia na promoção da criatividade, pois o estudante não vai apenas participar de jogos ou brincadeiras, mas auxiliar no seu processo de criação e desenvolvimento.
Em relação ao movimento citado pela participante, Santos Neto e Zaninelli (2017, p. 02) dissertam que
[...] o maker space seja um dispositivo para inovar o contexto biblioteconômico, vislumbra-se que ele possa ser inserido em diversos tipos de equipamentos informacionais, isto é, universitários, públicos, especializados, escolares etc.
Os autores reiteram que, nas bibliotecas, este movimento tem como objetivo não apenas o acesso às tecnologias, mas a formação em relação à competência em informação e competência digital, para que estes usuários possam, de maneira autônoma, tornar tangível seus projetos e ideias. Esse conceito necessita de uma aproximação entre a comunidade de usuários e as tecnologias e, por meio disso, é possível que as bibliotecas incentivem a criatividade de seus usuários. O movimento Maker pode, ainda, ser citado como caminho para a aproximação entre as bibliotecas e suas comunidades, criando atividades que convidem a comunidade a participar ativamente do espaço destas unidades informacionais.
As participantes deste estudo mencionaram, também, as ações realizadas para capacitação e formação de usuários no uso de bases de dados ou demais fontes de informação. No âmbito das bibliotecas universitárias, a Participante 5 relatou sobre as capacitações no uso de base de dados na semana de recepção aos novos estudantes, ainda complementou que, após estas atividades, eles sempre retornam à biblioteca para tirar dúvidas durante seu processo de formação.
Semelhante a isso, as Participantes 6 e 7 citaram que, no início de cada ano letivo, oferecem treinamentos básicos que auxiliam o usuário na busca do material pelo nome do autor e título. Assim como orientam os usuários na pesquisa para elaboração de artigos, especialmente no uso do Portal de Periódicos da Capes e recursos disponíveis no Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT). Em relação ao uso de fontes de informação para pesquisa, é imprescindível a participação dos bibliotecários nesse processo. Conforme argumenta Soares (2014), a pesquisa é um momento importante para o desenvolvimento de habilidades informacionais, já que depende da busca, seleção, avaliação e uso das informações. Embora a competência em informação não se restrinja apenas às habilidades de busca e uso da informação, vale salientar que esses são os primeiros passos para desenvolvê-la, já que a autonomia para buscar, selecionar e usar a informação precede o processo de uso reflexivo e as ações de produção e compartilhamento da informação, inerentes à competência em informação.
No âmbito das bibliotecas escolares, apesar das diferenças no processo de busca da informação quando comparadas às universitárias, é possível perceber, através das ações mencionadas, os esforços das bibliotecárias em auxiliar seus estudantes no uso das fontes. Nesse sentido, a Participante 1 apontou que auxilia os estudantes do ensino médio na seleção de fontes confiáveis por meio de uma lista de sites, que fica disponível ao lado dos computadores utilizados por eles durante as pesquisas na internet.
Bedin, Chagas e Sena (2015, p. 370), em sua pesquisa com bibliotecários escolares, observaram que, em relação à formação para utilização de fontes de informação na web, “[...] os dados mostraram um índice negativo, pouco explorado no ambiente escolar.” Percebe-se necessidade de mais atividades referentes à avaliação de fontes de informação da web. Apesar dos esforços relatados pelas bibliotecárias participantes da presente pesquisa, pode-se notar que ainda não há uma percepção dos administradores das instituições e professores em relação à importância dos recursos informacionais para a pesquisa escolar e formação dos estudantes.
No sentido da avaliação das fontes de informação, Tomaél, Alcará e Silva (2016) ressaltam que esse procedimento sempre foi relevante e tem se intensificado com a proliferação de fontes de informação digitais, tornando-se cada vez mais necessário. Assim sendo, as autoras propõem alguns parâmetros para avaliação das fontes de informação digitais, entre eles estão a confiabilidade, a credibilidade, a precisão, a integridade e a relevância da informação. Em alguns relatos, foi possível perceber que os bibliotecários têm procurado auxiliar seus usuários na seleção das fontes de informação, principalmente na web. A participante 5 diz que nem sempre os estudantes sabem a confiabilidade de fontes, principalmente na internet, então ela auxilia no estabelecimento de critérios, tais como a confiabilidade e a atualidade das informações recuperadas. Nesse caso, a bibliotecária orienta os usuários a identificarem a procedência e o autor responsável e suas credenciais, assim como a data de criação ou atualização da fonte de informação.
Retomando as atividades mencionadas pelas participantes bibliotecárias de bibliotecas escolares, é relevante citar as atividades realizadas em parceria com os professores. Nesse caso, vale destacar que algumas enfatizaram que os professores solicitam sua ajuda no momento da seleção do material para as atividades das disciplinas. Porém, relataram que não há uma sistemática na realização dessas parcerias, e que, nem sempre, os professores avisam com antecedência sobre as pesquisas que serão realizadas pelos estudantes, inviabilizando assim o planejamento e a organização do material bibliográfico para subsidiar as pesquisas escolares.
Conforme aponta Bedin (2017), diversos profissionais citaram os professores como parte essencial para o bom desenvolvimento de seu trabalho, sendo que as parcerias se dão por meio da “[...] escolha do acervo, o acompanhamento do planejamento de sala de aula e o desenvolvimento de projetos [...]”. Para bibliotecários que atuam em instituições de ensino, o desenvolvimento de atividades alinhadas com os docentes é de grande ajuda, não apenas na interação da biblioteca com a instituição e na sua valorização enquanto parte do processo de aprendizagem, mas também é essencial para o desenvolvimento de habilidades transversais necessárias aos estudantes, com as quais a biblioteca tem muito a colaborar.
Já em relação às parcerias nas bibliotecas universitárias, a Participante 5 comentou que existe um trabalho sendo realizado com os professores, por meio de um projeto denominado “Caminhos Jurídicos”, no qual ela está inserida e realiza orientações e atividades com vistas à busca e uso da informação. A ação mencionada pela bibliotecária vai ao encontro da proposta realizada pelo documento da ACRL (2016, p. 21) de oferecer “[...] recursos para aperfeiçoar a competência do corpo docente [...]”, assim como incluir ações para a formação da competência em informação no currículo dos cursos. Dessa forma, é possível que não só os professores se tornem mais capacitados para formar seus estudantes, como também entendam as necessidades de ações voltadas para a competência em informação no currículo de forma integrada.
Vale salientar que as bibliotecárias também auxiliam seus usuários na apresentação dos conteúdos, seja em relação à normalização bibliográfica, por meio da orientação e disponibilização das normas, ou demais necessidades, como o uso de power point. A Participante 1, responsável por uma biblioteca escolar, informou que os estudantes já constroem projetos de pesquisa científica, e que estes procuram auxílio da biblioteca para sanar necessidades ligadas a este projeto. Ela menciona uma atividade denominada “Projetão na Iniciação Científica”, em que os estudantes são orientados não apenas na busca da informação, mas também na elaboração e apresentação de trabalhos. Segundo ela, os estudantes apresentam dificuldades para inserir anexos em e-mails, organizar slides e até mesmo para criar seus e-mails.
Ainda relacionado à apresentação e elaboração de trabalhos científico, a Participante 5, que é responsável por uma biblioteca universitária especializada, relatou sobre uma semana de atividade da qual a biblioteca é parte, e que ministra palestras sobre
[...] como fazer projeto, como fazer o TCC, normalizar, fazer pesquisa em bases de dados, então a gente leva isso na semana jurídica, e a gente tem notado que além dos nossos alunos, os alunos das [demais] universidades da região têm ido participar também. (PARTICIPANTE 5)
Semelhante à ação citada pela bibliotecária, Lima e colaboradores (2017) mencionam a Semana de Metodologia e Produção Científica, promovida pela Universidade Federal do Ceará (UFC), na qual diversas atividades são ministradas com o objetivo de auxiliar os estudantes na realização de suas pesquisas acadêmicas. Para os autores, essas ações contribuem de forma positiva para minimizar as lacunas informacionais dos indivíduos, mostrando, ainda, que a biblioteca é adequada para auxiliar nos processos de pesquisa e fomentar discussões em relação à construção do conhecimento.
Em relação ao uso de recursos informacionais digitais, algumas participantes da pesquisa evidenciaram sua importância na formação da competência em informação, como pode ser identificado no relato da Participante 3: “Quando eu entendo essa competência informacional, eu vejo essa parte de você ensinar a fazer uma pesquisa, ele aprender a usar os recursos, [que] hoje você necessita para a aprendizagem [...]”. As Participantes 3 e 5 relatam o uso de mídias sociais para alcançar a comunidade de usuários, a participante 5 citou o uso de recursos, em especial o Facebook. Apesar destas duas menções, pode-se perceber que ainda são poucas as ações que fazem uso de mídias sociais como ferramenta para auxiliar no compartilhamento da informação e na formação de seus usuários.
A participante 3 também salientou sobre os conteúdos que são trabalhados nas atividades promovidas pela biblioteca: “[...] a gente traz ciência, tecnologia, engenharia, artes, matemática, liderança, empreendedorismo, esses são os temas”. De acordo com ela, essa atividade possibilita ao estudante o conhecimento e o aprendizado sobre as diferentes áreas e permite a visão do todo, para que o próprio estudante possa descobrir a área que mais se identifica. Assim como permite respeitar e aceitar as diferenças em relação às opções dos demais estudantes.
Essa integração entre os conteúdos também é considerada por Dudziak (2005), ao apontar que conteúdos pré-determinados podem estreitar os horizontes e diminuir as oportunidades de descoberta ativa dos estudantes. Para a autora, a transdisciplinaridade beneficia o ensino, que vai além do projeto pedagógico voltado para o contexto disciplinar, e questiona fragmentações da realidade, sendo também esse o sentido da competência em informação. Ela ainda complementa que a biblioteca pode ser o ponto de mudança, agregando novos valores não condicionados à educação tradicional e à separação de conteúdos por disciplinas, mas centralizando aspectos multidisciplinares e convergindo-os em atividades que considerem as “[...] experiências pessoais dos aprendizes, reconhecendo suas diferenças e complexidade.” (DUDZIAK, 2005, p. 9).
Na categoria relacionada à formação dos bibliotecários, foi questionado sobre que formas utilizam para obter formação voltada para a competência em informação. Nesse sentido, além da graduação em Biblioteconomia, as bibliotecárias ressaltaram os recursos e fontes utilizadas para complementação de sua formação. A Participante 5 mencionou que buscou ajuda de outros profissionais da mesma área para ampliar a sua formação: “[...] para me capacitar, para poder capacitá-los, eu entrei nos grupos jurídicos de São Paulo, já que é uma biblioteca especializada em Direito.” A Participante 7 destacou que, para tirar dúvidas, trocar ideias e se atualizar em algumas situações, também faz contato com outros bibliotecários:
[...] a gente tem o grupo no WhatsApp, e-mail, essas coisas, e tem um encontro também, no mínimo uma vez por ano, em que todas as bibliotecárias se encontram, fora as outras atividades que são por Skype. E então, a gente acaba conversando bastante, tanto esses colegas do próprio trabalho quanto com os outros das outras instituições. (PARTICIPANTE 5)
A Participante 3 também enfatizou que desenvolveu parcerias com outras bibliotecas, com as quais realizava encontros mensais e citou que precisou buscar formação em outras áreas, além da Biblioteconomia, para poder atuar na sua unidade de informação. Para tal, ela buscou formação complementar em cursos de extensão e pós-graduação, mencionou também a participação em cursos de empreendedorismo e o uso do YouTube para assistir cursos e palestras relevantes à formação de suas habilidades.
É possível notar que a formação exigida destes bibliotecários requer conhecimentos multidisciplinares, que vão muito além dos aspectos ligados apenas à Biblioteconomia ou à Ciência da Informação. Isso reforça a importância do aprender a aprender ao longo da vida, endossando que, para a competência em informação, são requeridas habilidades diversificadas, as quais se constituem em pilares importantes que auxiliam o bibliotecário a reconhecer suas necessidades e buscar informações que o ajudem a supri-las.
Algumas participantes reportaram-se ao processo de formação ocorrido durante a graduação. A participante 5 ressaltou que seu interesse para desenvolver ações de capacitação dos usuários começou durante a frequência em algumas disciplinas, e também apontou um evento de Biblioteconomia como parte importante da sua formação enquanto multiplicadora de habilidades. Soares (2014) também considera, em sua pesquisa, que os eventos da área auxiliam muito na formação dos profissionais e no desenvolvimento de ações educativas no âmbito das bibliotecas. Evidencia-se, assim, que os eventos técnicos e científicos podem ser considerados uma importante fonte de informação, aprendizagem e compartilhamento de experiências para profissionais e podem contribuir para a formação continuada dos mesmos.
Já a Participante 6 ressaltou que, durante a graduação, aprendeu a auxiliar no desenvolvimento da autonomia do usuário. A partir dos relatos das bibliotecárias, foi possível perceber que a graduação não é suficiente para a educação para a competência em informação. Isso se evidenciou especialmente porque, na ocasião da formação, as bibliotecárias participantes desta pesquisa não tiveram a oportunidade de refletir sobre as questões relativas à competência em informação nas disciplinas que frequentaram. Assim como não tiveram disciplinas específicas sobre a temática, com exceção de uma das participantes que teve a oportunidade de frequentar uma disciplina de competência em informação no mestrado.
Ainda se referindo ao curso de graduação, as participantes da pesquisa consideram que a formação em Biblioteconomia forneceu a base para a atuação profissional, porém, assim que ingressaram no mundo do trabalho, precisaram buscar a formação continuada. Também foi possível perceber que estas profissionais se mostram flexíveis ao desenvolver ações nas bibliotecas, buscando contextualizar os conteúdos aprendidos na academia às necessidades apresentadas pela unidade de informação.
De forma geral, os resultados indicam que as participantes deste estudo têm buscado diferentes formações e recursos para suprir as necessidades de novos conhecimentos e desenvolver ações que visem à formação de seus usuários. Em relação a essa formação complementar, ficou evidente que algumas das participantes são bastante proativas quanto à busca de novas ideias e aprendizagem para a sua atuação.
Na continuidade da discussão sobre as questões relacionadas à formação das bibliotecárias, indagou-se, também, sobre a necessidade de alguma formação que gostariam de ter para sua atuação profissional. Para tal, as bibliotecárias referiram-se a algumas atividades que poderiam ser oferecidas para contribuir com a formação das habilidades informacionais e que auxiliariam no desenvolvimento de ações para a formação da competência em informação.
Em relação à biblioteca escolar, destacaram a falta dos conteúdos que abordassem atividades lúdicas e pedagógicas para apoiar nas ações de formação para competência em informação. Já no que tange às formações voltadas para bibliotecas universitárias, foram mencionadas as constantes mudanças nas fontes de informação e bases de dados. Nesse sentido, uma das participantes externou seu interesse, e talvez de outros profissionais da área, em participar de cursos e oficinas sobre estas ferramentas, para aprimorar seus conhecimentos sobre o tema e, consequentemente, obter melhores condições para capacitar seus usuários.
As ações relatadas pelas bibliotecárias são bastante variadas, de acordo com o contexto de cada unidade de informação. Também foi possível notar que, apesar das dificuldades que algumas bibliotecárias apresentaram para desenvolver estas ações, elas têm envidado esforços para que estas aconteçam da melhor forma. E, mesmo não sendo diretamente relacionadas à competência em informação, as ações que desenvolvem podem contribuir tanto para a formação dos usuários quanto às habilidades para a competência em informação, seja para maior autonomia no uso da biblioteca e na busca da informação, ou para o uso mais reflexivo da informação.
Quanto às necessidades de formação das bibliotecárias, é visível a demanda por formação complementar, além da graduação, especialmente no que se refere à falta de formação pedagógica dessas bibliotecárias. Isso porque, nos relatos sobre sua formação na graduação, explicitaram que não tiveram disciplinas voltadas à competência em informação e às práticas pedagógicas para desenvolver ações de formação para os usuários. Ficou evidente que, em relação a esse aspecto, elas buscam conhecimentos em cursos de educação continuada e por meio do compartilhamento de experiências de outros profissionais. Nesse sentido, é importante uma maior aproximação entre os campos de atuação do bibliotecário e as instituições de ensino, de modo a atender às necessidades de educação para a competência em informação. Assim como é imprescindível integrar a competência em informação ao longo da formação dos bibliotecários, seja por meio de disciplinas específicas para tal ou de modo transversal nos currículos dos cursos de Biblioteconomia.
Durante o grupo de foco, o compartilhamento e a reflexão sobre as experiências e habilidades já desenvolvidas por alguns profissionais chamou a atenção de outras participantes, que demonstraram interesse em receber formação das bibliotecárias que possuíam mais domínio em determinada área de atuação. Esse aspecto nos permite constatar que muitos bibliotecários têm desenvolvido ações no intuito de formar seus usuários, revelando ser preciso disponibilizar espaços nas instituições de ensino superior para que estas ações sejam reconhecidas e compartilhadas com estudantes e demais profissionais. Assim como se evidenciou a relevância do bibliotecário multiplicador da competência em informação.
Outro resultado que merece destaque foi a possibilidade de vislumbrar a competência em informação como algo que vai além das habilidades para buscar e usar a informação, como relatado na fala de uma das participantes do grupo de foco ao mencionar a sua percepção em relação ao papel da biblioteca:
[...] é esse apresentar, esse compartilhar, esse momento de aprendizagem junto [com o usuário]; você passa a atividade em que um está ensinando o outro; eles ensinam a gente, nem tudo a gente sabe, muitas vezes a gente aprende com eles, muita coisa, e ensina também.
A fala da bibliotecária contempla uma dimensão da competência que é ressaltada nesta pesquisa, que está na possibilidade de compartilhar as experiências de aprendizagem de maneira a colaborar com a formação do outro.
Para finalizar, vale enfatizar que a competência em informação não perpassa apenas aspectos profissionais ou acadêmicos da vida de um indivíduo, ela deve ser adotada como uma das maneiras de formar cidadãos mais reflexivos frente ao ambiente informacional, mais conscientes de seu papel social, mais autônomos no processo de busca de informações e mais éticos na produção e compartilhamento de conteúdo. Assim, a visão de educação para a competência em informação colabora para uma formação profissional adequada às necessidades atuais da sociedade, permitindo às instituições de ensino formarem pessoas mais dispostas e capazes de utilizar a informação em prol de uma sociedade mais justa e igualitária.
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