Servicios
Servicios
Buscar
Idiomas
P. Completa
Mapeamento da produção científica internacional sobre Valores Humanos Básicos
Evangelina da Silva Sousa; Raimundo Eduardo Silveira Fontenele
Evangelina da Silva Sousa; Raimundo Eduardo Silveira Fontenele
Mapeamento da produção científica internacional sobre Valores Humanos Básicos
Mapping the international scientific production about Basic Human Values
Em Questão, vol. 25, núm. 3, pp. 214-245, 2019
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
resúmenes
secciones
referencias
imágenes

Resumo: A publicação de documentos científicos representa o corpo de conhecimento produzido por pesquisadores especializados em determinada área do saber, bem como uma ferramenta de avaliação por meio de estudos bibliométricos que fornecem o mapeamento da produção científica nos contextos nacional e internacional. Considerando a importância dos Valores Humanos Básicos e a diversidade das investigações que examinam este constructo na área das Ciências Sociais, esta pesquisa buscou mapear as características da produção científica internacional, especificamente, sobre os Valores Humanos Básicos. Para tanto, realizou-se uma pesquisa de natureza exploratória e descritiva, com abordagem quantitativa e do tipo bibliométrica, uma vez que foram utilizados indicadores de atividade acadêmica como: redes de coautoria, cocitação, acoplamento bibliográfico e coocorrência de palavras-chave. Optou-se pela investigação de documentos científicos, da categoria artigos, disponíveis na base de dados Scopus, sem restrição temporal. Após exclusão de documentos duplicados, a amostra resultou em 490 documentos que foram analisados com auxílio do software bibliométrico VosViewer. Os resultados apontam que: i) o interesse pela temática é recente e passa por um momento de estabilidade; ii) o autor com a quantidade de publicações mais expressiva é o idealizador da Teoria dos Valores Humanos Básicos; iii) as abordagens eminentes referem-se às investigações empíricas que mensuram os valores sobre a perspectiva da Teoria dos Valores Humanos Básicos e estabelecem a relação da referida teoria com a psicologia social com diversos sujeitos de pesquisa.

Palavras-chave:Produção CientíficaProdução Científica, Valores Humanos Básicos Valores Humanos Básicos, Coautoria Coautoria, Cocitação Cocitação, Coocorrência de Coocorrência de .

Abstract: The publication of scientific documents represents the body of knowledge produced by researchers specialized in a certain area of knowledge, as well as an evaluation tool through bibliometric studies that provide the mapping of scientific production in national and international contexts. Considering the importance of Basic Human Values and the diversity of the investigations that examine this construct in the area of Social Sciences, this research sought to map the characteristics of international scientific production on Basic Human Values. In order to do so, a research of exploratory and descriptive nature, with a quantitative and bibliometric approach was carried out, since indicators of academic activity were used as: co-authorship networks, co-citation analysis, bibliographic coupling and co-occurrence of keywords. Scientific papers of the category articles, available in the Scopus database, without temporal restriction. After exclusion of duplicate documents were investigated, the sample resulted in 490 documents that were analyzed using VosViewer software. The results indicate that: i) the interest in the subject is recent and goes through a moment of stability; ii) the author with the most number of publications is the founder of the Theory of Basic Human Values; iii) eminent approaches refer to the empirical investigations that measure values from the perspective of the Theory of Basic Human Values and establish the relationship of this theory with social psychology with several research subjects.

Keywords: Scientific Production, Basic Human Values, Co-authorship, Co-citation, Co-occurrence of keywords.

Carátula del artículo

Artigos

Mapeamento da produção científica internacional sobre Valores Humanos Básicos

Mapping the international scientific production about Basic Human Values

Evangelina da Silva Sousa1
Raimundo Eduardo Silveira Fontenele2
Em Questão, vol. 25, núm. 3, pp. 214-245, 2019
Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Recepção: 18 Novembro 2018

Aprovação: 15 Março 2019

1 Introdução

À procura de elucidar os antecedentes e consequentes do comportamento humano, estudiosos motivam-se a entender o conceito de valores, como crenças que guiam o indivíduo e determinam suas ações, ideologias e comparação de si mesmo aos outros (ROKEACH, 1973), em especial, os valores humanos definidos por Shalom H. Schwartz (A raujo; Bilsky; Moreira, 2012) . Pesquisas empíricas sobre valores no sistema social estão presentes nos campos da Antropologia, Filosofia, Sociologia e Psicologia Social, representando os esforços dos pesquisadores em propor esclarecimentos sobre o tema por meio de análises estruturais (Bi lsky, 2009 ; Bi lsky; Schwartz, 1994 ).

Knafo, Roccas e Sagiv (2011) assinalam o crescimento da produção científica sobre valores, a nível individual e nacional, a partir da década de 1990, devido ao reconhecimento do papel desempenhado pelos valores humanos na compreensão das culturas, propiciando aos pesquisadores concepções que viabilizam a análise e a compreensão de indivíduos, de grupos e de instituições.

Para a pesquisa científica, a aplicação da estrutura de valores humanos permite: a) conhecer os impactos dos valores sob atitudes e comportamentos; b) compreender os efeitos de variáveis socio estruturais (econômica, étnica, familiar, política e religiosa) sobre os valores; e c) comparar valores por meio da importância do valor, do estabelecimento de semelhanças e diferenças do domínio de valores em uma cultura específica devido as suas relações estruturais (S chwartz; Bilsky, 1987) . Nesse sentido, como os Valores Humanos Básicos são importantes constructos utilizados para predizer atitudes e comportamentos, as suas respectivas investigações, na área das Ciências Sociais, especificamente, são as mais diversas envolvendo pesquisas com recortes para o comportamento do consumidor, a satisfação no trabalho, o comprometimento organizacional, a ética e a religiosidade, os traços de personalidade, entre outros (TORRES, Schwartz; NASCIMENTO, 2016).

Destaca-se que a publicação de documentos científicos em canais de comunicação reconhecidos pela comunidade, como periódicos e eventos técnico científicos, representa o corpo de conhecimento produzido por pesquisadores especializados em determinada área do conhecimento. Tais documentos podem servir como instrumento de avaliação da ciência por meio de estudos bibliométricos que mapeiam e caracterizam a produção cientifica tanto no contexto nacional, quanto no internacional (MENEZES; CAREGNATO, 2018). Nesse cenário, emerge a seguinte questão de pesquisa: como se estrutura a produção científica internacional sobre os Valores Humanos Básicos? Para responder tal indagação, delineou-se como objetivo da pesquisa o mapeamento da produção científica internacional sobre os Valores Humanos Básicos. Para tanto, realizou-se uma busca de documentos científicos disponíveis na base de dados Scopus, analisados a partir do software VosViewer. Por meio da análise bibliométrica foram identificados os autores e os periódicos com mais publicações, as obras com maior volume de citações e as redes de coautoria, cocitação, acoplamento bibliográfico e coocorrência de palavras-chave.

Espera-se que este trabalho auxilie os pesquisadores no aprofundamento dos estudos sobre a temática, uma vez que a análise da produção científica possibilita a investigação de potencialidades de grupos de pesquisa e instituições, contribuindo para o avanço da ciência (MACHADO JUNIOR et al., 2016), além de fornecer um retorno para sociedade por meio da produção de novos conhecimentos (MENEZES; CAREGNATO, 2018).

2 Valores Humanos Básicos

Diante dos esforços para mensurar os valores no âmbito das Ciências Sociais, destacam-se algumas contribuições propostas para a temática. Ro keach (1973 ), por exemplo, desenvolveu uma pesquisa sobre valor no campo da Psicologia e classificou os valores em terminais, referentes a estados finais desejados de existência, e instrumentais, que estão relacionados aos modos de conduta para atingir esses fins. Para mensurar tais valores, o autor propôs uma escala (Rokeach Value Survey – RVS) de 36 valores, nos quais 18 são terminais e 18 são instrumentais. Geert Hofstede (1980) por sua vez, contribuiu com um estudo sobre valores, identificando quatro dimensões (distância hierárquica, controle de incerteza, individualismo-coletivismo e masculinidade-feminilidade) que permitiram a compreensão sobre as culturas nacionais. Outro instrumento de verificação foi sugerido por Ka hle (1983 ), conhecido como List of Values (LOV), o qual relaciona os valores pessoais ao cotidiano dos indivíduos. O autor transformou os valores terminais da RVS em um modelo menor composto por nove valores, com base na Teoria das Necessidades de Maslow (1954) e outras pesquisas relacionadas. Sc hwartz e Bilsky (1987 ), baseados na pesquisa de Rokeach (1973), iniciaram uma nova teoria sobre Valores Humanos Básicos, sendo esta a mais utilizada por pesquisadores de diversas áreas do conhecimento, em especial na Administração (Araujo; Bilsky; Moreira, 2012; Torres; Schwartz; Nascimento, 2016) .

Considerando que os valores se associam a critérios que o indivíduo dispõe para selecionar e justificar seu comportamento, cinco características foram incorporadas para se conceber um conceito de valor: (a) ideias ou crenças, (b) que cercam as condições finais desejáveis ou comportamentos, (c) que transcendem situações específicas, (d) que conduzem a seleção ou avaliação de comportamentos e eventos e (e) que são dispostas por importância relativa (Sc hwartz, 1992 ; Sc hwartz; Bilsky, 1987 ).

Para conceber uma abordagem estrutural dos valores humanos, Sc hwartz (1994 ) modificou sua concepção anterior de valor, redefinindo valores como metas transsituacionais almejadas, que delineiam os princípios orientadores na vida do indivíduo ou entidade social. Diante desta definição, Schwartz (1994) pressupõe que os valores são adquiridos pela socialização em grupos e/ou pela experiência de aprendizagem individual, que motivam determinada ação e operam como parâmetro para avaliar e fundamentar tal ação. Tais valores representam respostas aos três requisitos universais: necessidade do indivíduo enquanto organismo biológico, necessidade de interação social e necessidade socioinstitucional para o bem-estar e permanência dos grupos (Sc hwartz, 1992, 1994 ).

Considerando tais necessidades, Schwartz (1992) realizou um estudo com amostras de vinte países e propôs a existência de dez tipos de valores humanos motivacionalmente diversos. Nesse contexto, citam-se: poder, realização, hedonismo, estimulação, autodeterminação, universalismo, benevolência, tradição, conformidade e segurança. O ponto central do estudo consiste na estrutura dos valores humanos, uma vez que existe uma relação dinâmica entre eles, apoiada em similaridades e incompatibilidades que possibilitam tratá-los a partir de quatro categorias distintas: abertura a mudança, autotranscendência, autopromoção e conservação. O Quadro 1 evidencia as noções propostas por Schwartz (1994 , 2012).

Quadro 1
Categorias e tipos motivacionais dos valores

Fonte: Adaptado de Sc hwartz (1994 , 2012)

A estrutura circular, evidenciada na figura 1, representa o modelo das relações de compatibilidade e conflitos entre prioridades de valor propostas no sistema de valores humanos de Sc hwartz ( 1994), sendo um continuum motivacional.


Figura 1
Modelo de relações entre dez tipos motivacionais de valor
Fonte: Adaptado de Sc hwartz (1994 ).

Schwartz (1994, 2005b) esclarece que quanto maior a proximidade entre dois tipos motivacionais, maior a semelhança entre as suas motivações. Mas, quanto mais afastados os tipos, mais adversas são as motivações subjacentes. A configuração dos valores em uma estrutura motivacional circular resulta na associação dos valores humanos com qualquer variável (comportamento, atitude, idade, gênero), de modo integrado (S chwartz, 2012) .

Os valores estão inseridos em duas dimensões bipolares opostas (ARAUJO; BILSKY; MOREIRA, 2012; SCHWARTZ, 2005a). Uma dimensão reflete o conflito entre percepções e ações do indivíduo que possibilitam a mudança (autodeterminação e estimulação) e a autolimitação resignada por meio da manutenção de práticas tradicionais, status quo e preservação da estabilidade (tradição, conformidade e segurança), contrastando as categorias “abertura a mudança” e “conservação”.

A segunda dimensão contrapõe as categorias “autopromoção” e “autotranscendência” e se apropria da dissensão entre a ênfase na aceitação do outro como igual e a responsabilidade pelo bem-estar de terceiros (universalismo e benevolência), além do anseio pelo próprio sucesso e comando sobre os outros (realização e poder), sendo que o hedonismo integra dois tipos motivacionais (autopromoção e abertura a mudança) (SCHWARTZ, 2005a). Assim, as associações entre os valores e o comportamento humano refletem um contínuo circular motivacional, no qual os valores são compatíveis à medida que o comportamento revela metas de um par de valores. Quando o comportamento apresenta efeito oposto para o par, tem-se um conflito entre valores (TORRES, SCHWARTZ; NASCIMENTO, 2016).

Os valores humanos podem ser mensurados por meio de dois instrumentos: Schwartz Values Survey – SVS e o Portrait Values Questionnaire (PVQ) (SCHWARTZ et al., 2001). O questionário SVS possibilita que o indivíduo manifeste a importância de cada um dos valores como princípios orientadores da vida em uma escala de nove pontos, e proporciona o mapeamento do modo como os indivíduos percebem os valores (SCHWARTZ, 2005a, TAMAYO; PORTO, 2009).

O questionário PVQ não retrata diretamente os valores, mas refere-se a objetivos, intenções ou anseios responsáveis por sugerir um tipo motivacional (SCHWARTZ, 2005b). Os valores dos sujeitos são identificados por meio da comparação com outras pessoas e avaliados de maneira indireta, considerando uma escala de seis pontos, que varia entre nada se parece comigo (valor 1) e se parece muito comigo (valor 6) (CAMPOS; PORTO, 2010; SCHWARTZ, 2005b).

3 Bibliometria

A utilização de técnicas para verificar a produção científica no século XIX, por meio de métodos estatísticos, originou o que se conheceu por bibliografia estatística, na concepção de E. W. Hulme em 1923 (apud ARAÚJO, 2006). Entretanto, o termo bibliometria foi utilizado por Paul Otlet em 1934, em sua obra Traité de documentatión, mas popularizou-se com o artigo de Alan Pritchard, em 1969, que sugeriu a substituição do termo “bibliografia estatística” por “bibliometria” (MEDEIROS; VITORIANO, 2015; VANTI, 2002).

A bibliometria consiste na análise dos aspectos quantitativos da produção científica de periódicos e autores por meio de técnicas estatísticas que mensurem os processos de comunicação escrita (CAFÉ; BRÄSCHER, 2008), divulgação, uso da informação e uso de instrumentos de pesquisa on-line (BUFREM; PRATES, 2005). Nesse sentido, pode-se utilizar padrões de análise de dados oriundos de três leis fundamentais: Lei de Bradford ou Lei de Dispersão, Lei de Lotka ou Lei do Quadrado Inverso e Lei de Zipf ou Lei do Menor Esforço (MACHADO JUNIOR et al., 201 6).

A Lei de Bradford permite estimar o nível de relevância dos periódicos que atuam em áreas específicas, obtendo-se, assim, noções sobre as suas produtividades e sobre quais autores e investigações se sobressaem ao pesquisar um tema em particular. A Lei Lotka refere-se à produtividade dos autores, alcançada pela relação entre a quantidade de pesquisadores e o número de publicações de sua autoria. Já a Lei de Zipf possibilita avaliar a frequência da ocorrência de palavras no texto científico, originando listas sistematizadas dos temas mais frequentes em determinada área de conhecimento (MACHADO JUNIOR et al., 2016; VANTI, 2002).

Entretanto, Bufrem e Prates (2005) apontam que a aplicação das leis da bibliometria foram aperfeiçoadas com modificações que se estruturaram no corpo do conhecimento científico, por meio dos métodos bibliométricos que permitem identificar indicadores referentes aos autores mais produtivos e influentes em área específica, as instituições de pesquisa, os periódicos mais citados e o impacto científico de determinado tema. Assim, é possível definir tendências da produção científica no cenário internacional.

Segundo Araújo (2006), a análise de citações é a área mais relevante da bibliometria, uma vez que viabiliza a caracterização e o diagnóstico de padrões na produção do conhecimento científico. A técnica de contar referências evoluiu e se destacou com a criação do primeiro índice de citações, Science Citation Index (SCI), desenvolvido por Eugene Garfield, em 1963, que trouxe o fator de impacto como outra noção relevante a bibliometria, que é mensurado por meio da divisão da quantidade de citações recebidas por um autor pelo número de trabalhos que foram citados pelo menos uma vez.

A colaboração científica entre autores, por meio das coautorias, possibilita a realização de pesquisas mais densas, com distintas abordagens e com maior rigidez, constituindo uma espécie de capital social acadêmico-científico (HILÁRIO; GRÁCIO; GUIMARÃES, 2018). As redes de coautoria favorecem o compartilhamento de informações estratégicas entre seus membros e revelam uma estrutura social que interfere nos processos de produção e de difusão do conhecimento (ACEDO et al., 2006)

Maxwell Mirton Kessler, em 1963, desenvolveu um método para agrupar publicações baseando-se em unidades de acoplamento bibliográficas. Dessa forma, uma referência citada por dois artigos é definida como uma unidade de acoplamento entre eles (KESSLER, 1963). Nesse caso, Egghe e Rousseau (2002) concordam ao explicar que se há uma referência comum entre dois artigos, há, consequentemente, um acoplamento bibliográfico. Na concepção de Kessler (1965), o agrupamento de referências utilizado pelos autores em uma publicação científica revela o ambiente intelectual que investigam e, se dois artigos empregam bibliografias semelhantes, existe uma relação implícita entre eles, evidenciando proximidade teórica e/ou metodológica. Assim, o acoplamento bibliográfico proporciona a investigação sobre o desenvolvimento e a identificação de linhas e de núcleos de pesquisa, de pesquisadores e das publicações mais relevantes de ramos específicos da ciência (EGGHE; ROUSSEAU, 2002).

Por sua vez, Henry Small apresentou a cocitação como uma nova medida para estabelecer relações entre documentos, que consiste em identicar a frequência na qual dois documentos da literutura prévia são citados juntos pela literatura posterior, sendo uma relação constituída por autores citantes que varia de acordo com os interesses e os padrões intelectuais do campo científico (SMALL, 1973). A análise de cocitação é uma técnica relacional que acrescenta insights sobre a estrutura intelectual de um campo de estudo, isto porque quando pares de publicações são frequentemente referenciados por outros artigos, pressupõe-se que haja uma relação entre as ideias contidas em ambas referências (BENCKENDORFF; ZEHRER, 2013). Nerur, Rasheed e Natarajan (2008) destacam que este processo resulta em teias de relações entre os autores por meio da criação e difusão do conhecimento, e que a citação de autores seminais contribui para explicar padrões de associação entre eles, além de acompanhar as transformações nas correntes intelectuais no decorrer do tempo.

Outra técnica utilizada é a coocorrência de palavras-chave, referindo-se à utilização de padrões de palavras-chave como mecanismo para compreensão da estrutura de ideias dispostas nos documentos científicos, uma vez que os autores selecionam, com cautela, os termos técnicos; e a utilização de diferentes termos no mesmo artigo implica no reconhecimento de relações não triviais entre os referentes, e quando tal relacionamento é aceito por outros autores, infere-se que há significância para a área pesquisada (WHITTAKER, 1989). A análise de coocorrência de palavras-chave evidencia as suas interações em um documento científico diante da mensuração da força dos links de tal coocorrência (SU; LEE, 2010), sendo utilizada para examinar a rede de conceitos principais e tendências de pesquisa (DING; CHOWDHURY; FOO, 2001).

As análises bibliométricas são facilitadas pelo uso de softwares especializados na organização e no processamento de indicadores bibliométricos que possibilitam a concepção das redes de colaboração científica delineadas por meio de citações entre autores, periódicos e artigos científicos (SILVA; HAYASHI; HAYASHI, 2011).

4 Metodologia da Pesquisa

Para investigar o perfil da produção científica sobre os Valores Humanos Básicos, realizou-se uma pesquisa de natureza exploratória e descritiva, com abordagem quantitativa, uma vez que se mensura os aspectos da produção científica (WALLIN, 2005). Além disso, ela é do tipo bibliométrica, pois são utilizados indicadores de atividade acadêmica (CRONIN; SHAW; LA BARRE, 2003), como o acoplamento bibliográfico, a análise de coautoria, as cocitações de artigos e a coocorrência de palavras (JARNEVING, 2007)

O processo de pesquisa envolveu seis fases sequenciais, conforme ilustra a Figura 2.


Figura 2
Etapas da pesquisa
Fonte: Elaborada pelos autores .

A primeira etapa compreendeu a escolha da base de dados e do software bibliométrico. Para identificar as tendências da literatura internacional sobre os Valores Humanos Básicos, optou-se pela investigação de documentos disponíveis na base de dados Scopus, uma das mais relevantes considerando a quantidade e o impacto do material indexado no portal da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal do Nível Superior (CAPES), além de ser uma opção sugerida pelo software bibliométrico utilizado.

Em relação ao software, utilizou-se o VosViewer, versão 1.6.9, desenvolvido por Nees Jan Van Eck e Ludo Waltman, que permite a construção de mapas bibliométricos por meio da visualização de similaridades baseado na distância entre os nós da rede analisada, de forma que quanto menor a distância entre um par de objetos maior a relação de similaridade entre eles (VAN ECK; WALTMAN, 2009). Além disso, ele permite o cruzamento entre publicações científicas, journals, autores, organizações de pesquisa, países, palavras-chave e a análise de redes bibliométricas por meio do uso de dados provenientes das bases: Web of Science, Scopus, Dimensões, PubMed, RIS ou CrossrefJSON.

A etapa seguinte envolveu a constituição da amostra da pesquisa. O critério para busca dos documentos, indexados na base de dados da Scopus, foi a utilização dos termos “Schwartz Values”, “Schwartz Human Values”, “Human Values Theory” e “Portrait Values” nos campos título, resumo ou palavras-chave, selecionando apenas a categoria artigos (articles), sem restrição temporal, e considerando todos os registros presentes na base até a data de realização da extração (22/10/2018). Com isso, alcançou-se um quantitativo de 528 documentos.

A terceira etapa abrangeu a coleta de dados na base por meio da compilação de informações que foram exportadas (em formato *.csv) para, posteriormente, efetuar o tratamento e a análise.

Na quarta etapa, utilizou-se o software Excel para tabulação de dados descritivos acerca da amostra dos artigos coletados, tais como evolução das pesquisas sobre a temática, autores, filiação (universidade de origem) e região demográfica. Entretanto, verificou-se que 38 documentos estavam duplicados, uma vez que foram utilizados 4 termos distintos e para cada termo foi construída uma coleta na base de dados. As duplicações foram excluídas, resultando em uma amostra final de 490 documentos. Para o tratamento dos dados e a elaboração das redes bibliométricas, utilizou-se o softwareVOSViewer.

Por fim, na quinta etapa, os dados foram analisados e mapeados por meio da investigação de redes de coautoria, de cocitação, de acoplamento bibliográfico e de coocorrência de palavras-chave. Identificou-se, ainda, o volume de publicações de autores, periódicos e instituições, temas de determinada área e os artigos de maior impacto em função do número de citações.

5 Resultados

A evolução temporal da temática sobre valores, incluindo os Valores Humanos Básicos, vem sendo estudada nos últimos anos, sendo possível observar que 95% das publicações ocorreram a partir do ano de 2000. Isso evidencia que é um campo de interesse recente, embora o conceito do termo valor, como guia para o comportamento humano, seja atribuído a Kluckhohn (1951). A evolução das publicações sobre a temática é apresentada na Figura 3.


Figura 3
Evolução das publicações de 1965 a 2018
Fonte: Dados da pesquisa.

Nesse sentido, mesmo que a Figura 3 evidencie a atualidade da temática, observa-se que em 2017 houve uma queda das publicações, a qual se mantém em 2018, e pode indicar o estágio de maturidade da pesquisa, fato já ocorrido no período entre 2013 a 2015 em que as publicações mantiveram-se estáveis, tornando descontínuo o crescimento de um período de cinco anos (2008 a 2012).

5.1 Autores com mais publicações

Após 26 anos da publicação do artigo de Schwartz (1992), no qual foi definida a estrutura do sistema de Valores Humanos Básicos, observa-se que a produção científica é esparsa. Dos 1080 autores que compõem a amostra analisada, cerca de 83% (900 autores) publicaram apenas um artigo, enquanto 17% (180 autores) publicaram pelo menos dois artigos. Somente 2% dos autores investigados (20 autores) publicaram cinco ou mais artigos. O Quadro 2 expõe os 20 autores mais importantes, considerando o volume de publicações.

Diante do apresentado, constata-se que são poucos os autores mais produtivos na amostra investigada e muitos deles com poucas publicações.

Quadro 2
Autores com maior volume d e artigos publicados

Fonte: Dados da pesquisa

O autor com a quantidade de publicações mais expressiva é Schwartz S. H., idealizador da Teoria dos Valores Humanos Básicos, associado à Hebrew University of Jerusalem, em Israel, com 21 artigos publicados. Em seguida, tem-se Feather, N. T., da instituição australiana Flinders University, com 13 publicações e Cieciuch J., da Uniwersytet Kardynala Stefana Wyszynskiego w Warszawie na Polônia, com 12 artigos.

A Finlândia é o país com maior volume de autores publicando na área, com destaque para Verkasalo M. (nove artigos), Lönnqvist J. E. (sete artigos) e Myyry I. (sete artigos) ambos afiliados à Helsingin Yliopisto e Dobewall H. (seis artigos) vinculado à University of Helsinki Faculty of Medicine.

5.2 Periódicos com mais publicações

Os 490 documentos que compõem a amostra estão distribuídos em 292 fontes de publicação, que foram segmentadas em três grupos, considerando a quantidade de artigos publicados. O primeiro grupo é composto por periódicos com pelo menos cinco publicações. Já o segundo grupo é constituído por periódicos que contemplam entre duas e quatro publicações. Por sua vez, as revistas com apenas uma publicação foram reunidas no terceiro grupo. O Quadro 3 evidencia as fontes de publicação com maior volume de artigos na amostra investigada.

Quadro 3
Principais fontes de publicação

Fonte: Dados da pesquisa.

Em relação às fontes de publicação, verificou-se que os 16 journals que compõem o grupo 1 concentram 25% das publicações (122 artigos) que integram a amostra, com destaque para o Journal of Cross-Cultural Psychology, e o Personality and Individual Differences, ambos com mais de dez artigos publicados no período analisado (Quadro 3). O segundo grupo constituído 157 artigos (32% da amostra), do que se obtém uma média de dois vírgula quarenta e um artigos para cada fonte de publicação, enquanto o último grupo é formado por 211 periódicos, com 211 artigos publicados (43% da amostra).

Com os resultados apresentados, infere-se que o núcleo de periódicos que publica pesquisas sobre o tema em questão corresponde à Psicologia, embora determinadas publicações busquem compreender os Valores Humanos Básicos no contexto organizacional, bem como há uma dispersão da temática no conjunto de fontes de publicações.

5.3 Obras de maior impacto

Foram elencadas, no Quadro 4, as publicações mais influentes, considerando o volume de citações recebidas por outros artigos publicados em journals e indexados na Scopus. Utilizou-se como critério de corte o número mínimo de 100 citações no período analisado, resultando em 16 documentos.

Quadro 4
Publicações de maior impacto

Fonte: Dados da pesquisa.

O artigo Extending the cross-cultural validity of the theory of basic human values with a different method of measurement, publicado no Journal of Cross-Cultural Psychology, é considerado o trabalho de maior impacto, pois recebeu 873 citações. Nesta publicação, os autores evidenciaram que a Teoria dos Valores Humanos Básicos pode ser aplicada em diversas culturas e introduzem um novo método de mensuração de valores denominado perfil de valores (Portrait Values Questionnaire – PVQ).

Em seguida, com 455 citações tem-se o artigo The impact of natural culture and economic ideology on managerial work values: a study of the United States, Russia, Japan, and China, publicado no Journal of International Business Studies, que investigou o impacto da ideologia econômica e da cultura nacional nos valores individuais de trabalho dos gerentes em quatro países, utilizando a escala de valores de Schwartz.

O terceiro artigo de maior impacto é o Personal determinants of organic food consumption: a review, publicado no British Food Journal, com 331 citações. Os autores utilizaram a Teoria dos Valores Humanos Básicos e a Teoria do Comportamento Planejado para investigar quais valores humanos influenciam a atitude do consumidor em relação à escolha por alimentos orgânicos.

5.4 Redes de coautoria

A tendência à coautoria vem progredindo no campo das Ciências Sociais e representando um indicador de colaboração científica (CRONIN; SHAW; LA BARRE, 2003), pois envolve a participação de dois ou mais autores na produção de uma pesquisa, gerando uma rede social de pesquisadores que contribuem para o desenvolvimento científico (ACEDO et al., 2006). Por meio da análise das redes de coautoria é possível identificar as redes de dependência científica, mensuradas pelos fluxos de citação entre países, autores e instiuições (GLÄNZEL; SCHUBERT, 2004).

Com a finalidade de identificar a interação e a colaboração entre autores em torno da temática investigada, mapearam-se as redes de coautoria a partir de autores com pelo menos dois artigos na amostra e 20 citações a suas obras. Com este filtro, foi gerada uma rede com 52 autores dispostos em dez clusters, conforme vê-se na Figura 4. O tamanho dos círculos denota o volume de publicações de cada autor, com evidência para: Schwartz S. H., Cieciuch J., Verkasalo M., Schmidt P., Vecchione M. e Davidov E.


Figura 4
Redes de coautoria
Fonte: Dados da pesquisa.

O primeiro cluster, constituído por oito autores, centraliza-se em Verkasalo M., tendo como participantes os autores: Helkama K., Juujärvi S., Lönnqvist J. E., Myyry I., Niit T., Pesso K. e Silfver M. O segundo cluster, também formado por oito autores, tem Lee J. A. com a maior quantidade de links, e conta com a participação de Knafo A., Bardi A., Daniel E., Hofmann-Towfigh N., Sagiv I., Soutar G., Soutar G. N. O terceiro cluster, constituído por seis autores, é polarizado em torno de Dobewall H. com colaboração de Aavik T., Allik J., Borg I., Rudnev M. e Schwartz S. Por sua vez, o quarto cluster é constituído em torno de Fischer R, destacando, também, os autores Fontaine J. R. J., Karabati S., Poortinga Y. H., Porto J. B. e Vauclair C. M. O autor Cieciuch J. polarizou o quinto cluster com o apoio de cinco autores: Bilsky W., Döring A. K., Gouveia, V. V., Harasimczuk J. e Milfont T. L., enquanto o sexto cluster é centralizado em Schmidt P. com a colaboração de Albani C., Brähler E., Hinz A. e Steinmetz H. O sétimo cluster agrupou quatro autores, cujas publicações centralizam-se em Barni D., com apoio de Alfieri S., Marta E. e Rosnati R. O oitavo cluster é constituído por Vecchione M., com maior volume de publicações, seguido de Alessandri G., Torres C. e Welzel C. Por sua vez, o autor Schwartz S. H. polariza o nono cluster, com colaboração de Saris W. E. e Knoppen D., e o décimo e último cluster é constituído por Davidov E., com maior volume de publicações, e por Beierlein C.

5.5 Redes de Cocitação

A análise de cocitações de autores ou de documentos possibilita identificar as conexões intelectuais entre ambos, sendo que a proximidade e a interlocução entre dois documentos são determinadas pela comunidade científica que se apodera do assunto dos artigos e estabelece conexões, além de produzir conhecimento (BRAUM, NASSIF, 2018). A unidade de análise de cocitação utilizada nesta pesquisa são os autores, devido à consistência temática das pesquisas, à defesa de uma abordagem específica e às contribuições acumulativas sobre determinadas questões de pesquisa (NERUR, RASHEED; NATARAJAN, 2008).

A Figura 5 evidencia a rede de cocitações entre os autores, considerando como parâmetro de corte o número de 60 citações por autor, resultando em uma rede de 40 autores distribuídos em cinco clusters. Os círculos foram rotulados pelo nome do primeiro autor dos artigos e a cor dos círculos denota o espaço com o qual o artigo está relacionado. O tamanho dos círculos indica o volume de citações que cada pesquisador recebeu e a espessura das linhas representa a intensidade dos laços de cocitações.


Figura 5
Redes de cocitação
Fonte: Dados da pesquisa.

O primeiro cluster reuniu 14 autores, sendo os mais relevantes, em ordem, Schwartz S. H. e Rokeach M., que abordaram o tema Valores humanos na Psicologia Social. Considerando as investigações realizadas por estes pesquisadores, destaca-se a importância de Rokeach M. pela classificação dos valores como instrumentais e terminais e pela concepção da escala de mensuração conhecida como Rokeach Value Survey (RVS). Já Schwartz S. H. estendeu o modelo teórico de Rokeach ao conceber uma abordagem estrutural dos valores, sendo o responsável pela Teoria de Valores Humanos Básicos e pela criação de dois instrumentos de mensuração de valores: Schwartz Values Survey e Portrait Values Questionnaire (GOUVEIA et al., 2001).

O segundo cluster é formado por nove autores, sendo os mais citados Sagiv L. e Bardi A. que investigam a influência dos valores humanos na percepção, nas atitudes e no comportamento humano. Sete autores formaram o terceiro cluster, destacando-se as citações de Hofstede G., Fischer R. e Inglehart R. que pesquisam os valores a nível cultural. O quarto cluster é constituído por sete pesquisadores, evidenciando-se como mais citados Davidov E., Vecchione M., Cieciuch J. e Schmidt P., que realizam pesquisas cross-cultural com a utilização da escala PVQ. O último cluster reuniu três pesquisadores, os quais os mais citados, nesta ordem, são: Bisky W., Boehnke K. e Borg I. que utilizaram o escalonamento multidimensional como uma técnica para analisar a estrutura de valores humanos proposta.

Assim, nota-se que as redes de cocitação propiciam uma representação da estrutura intelectual sobre os Valores Humanos Básicos, contribuindo para a caracterização e a visualização de como a comunidade científica reconhece as similitudes entre os pesquisadores.

5.6 Redes de acoplamento bibliográfico

O acoplamento bibliográfico é um método de agrupamento de documentos com foco de pesquisa semelhante, capaz de fornecer um mapeamento da ciência e que complementa a análise de cocitação (JARNEVING, 2007). Considerando que o acoplamento bibliográfico entre dois documentos se dá quando há, em comum, pelo menos a referência de uma publicação, infere-se que existe uma conexão entre os documentos quando se utilizam das mesmas referências (GRÁCIO, 2016).

Optou-se por realizar a rede de acoplamento bibliográfico entre os autores da amostra, posto que este método pode fornecer uma visão mais abrangente da estrutura e da evolução das redes de conhecimento científico (GRÁCIO, 2016).

Participaram da rede autores com pelo menos cinco documentos indexados na base de dados e dez citações, gerando uma relação entre dez autores agrupados em três clusters (Figura 6). Cada pesquisador integrante de um cluster inclina-se a citar os mesmos autores que os demais participantes do mesmo cluster.


Figura 6
Redes de acoplamento bibliográfico
Fonte: Dados da pesquisa.

Foram agrupados no primeiro cluster 12 autores. Verkasalo M., Dobewall H., Lönnqvist J. E. e Myyry L. estão associados a instituições finlandesas, sendo que os dois últimos pertencem à Helsingin Yliopisto e tem a mesma quantidade de documentos na amostra (sete), enquanto Barni D. e Caracciolo F. estão vinculados a instituições italianas, este com cinco e aquele com nove documentos na amostra.

O segundo cluster é constituído por seis autores, sendo Schwartz S. H. o mais produtivo com 21 documentos na amostra vinculado à instituição israelita The Hebrew University of Jerusalem, Cieciuch J. (12 documentos), Vecchione M. (nove documentos), Schmidt P. (oito documentos), todos de países e instituições distintas, enquanto dois autores, Davidov E. (nove documentos) e Maercker A. (cinco documentos), estão vinculados a University of Zurich na Suíça. O terceiro cluster reuniu os autores Feather N. T., com 13 documentos na amostra, e Mckee I. R, com cinco documentos, ambos vinculados a instituições australianas, Flinders University e University of Adelaide, respectivamente.

O acoplamento bibliográfico proporciona a identificação das similaridades temática, teórica, metodológica ou outra peculiaridade compartilhada nas referências entre dois documentos científicos (LUCAS; GARCIA-ZORITA; SANZ-CASADO, 2013), permitindo a identificação dos núcleos de pesquisa, dos autores e dos artigos mais relevantes. Desse modo, verificou-se que os núcleos são heterogêneos, com destaque para os autores com afiliações em instituições europeias, embora o autor com maior quantidade de documentos acoplados pertença a uma instituição israelita, mas que colabora com as pesquisas dos demais por meio da coautoria.

5.7 Redes de coocorrência de palavras-chave

A coocorrência de palavras é determinada pela frequência de coocorrência de duas palavras-chave nos documentos científicos (WHITTAKER, 1989). A análise em questão denota as interações entre palavras-chave, examina a rede de tópicos de pesquisa em uma área específica e analisa as suas relações com as ideias apresentadas nas pesquisas (COBO et al., 2011).

Ao analisar duas palavras-chave no mesmo artigo, compreende-se que há uma relação entre elas, e quanto mais vezes essa ocorrência é repetida, maior é a conexão. Assim, quanto mais artigos abordam dois assuntos simultaneamente, maior a intensidade do relacionamento (ORTIZ-DE-URBINA-CRIADO; NÁJERA-SÁNCHEZ; MORA-VALENTÍN, 2018).

Para investigar a rede de coocorrência de palavras-chave e identificar o conjunto de tópicos sobre os Valores Humanos Básicos que demonstram uma relação entre si e com os demais termos, formou-se um rede restrita a palavras-chave com no mínimo dez ocorrências, o que resultou em 52 palavras-chave, agrupadas em quatro clusters, conforme Figura 7.


Figura 7
Redes de coocorrência de palavras-chave
Fonte: Dados da pesquisa.

O primeiro cluster reuniu 22 palavras-chave, e as que apresentaram maior frequência foram: values, personal values, human values, motivation e Schwartz Value Survey. Neste cluster percebe-se a presença de constructos que compõem a Teoria dos Valores Humanos Básicos, sugerindo investigações empíricas que mensurem os valores sobre tal perspectiva, ao utilizarem como instrumento o SVS.

O segundo cluster foi constituído por 14 palavras-chave, destacando-se os seguintes termos: social values, adult e social psychology. Diante de tais coocorrências, infere-se que há núcleos de pesquisas que utilizam a Teoria dos Valores Humanos Básicos no âmbito da Psicologia Social, investigando valores sociais com jovens, adultos e indivíduos de meia idade.

O terceiro cluster agrupou 12 palavras-chave, tendo como as mais frequentes: human, male, female, questionnaire, adolescent e controlled study. Estas palavras sugerem o desenvolvimento de pesquisas com grupos de controle (controlled study) que investigam os Valores Humanos entre adolescentes do sexo masculino e feminino.

O quarto cluster agrupou quatro palavras-chave com maior frequência de ocorrência, nesta ordem: questionnaires, psychological aspect, students e statistics. Nota-se a existência de pesquisas de abordagem quantitativa que investigam os aspectos psicológicos de estudantes em relação aos valores.

Diante do exposto, conclui-se que as palavras-chave apresentadas na Figura 7 são as que apresentam maior frequência nos artigos analisados, indicando a temática central dos documentos científicos.

6 Considerações f inais

Os dados coletados evidenciaram o panorama da produção científica internacional sobre valores humanos, considerando os artigos indexados na base de dados Scopus.

Em relação às fontes de publicação, verificou-se que os journals que concentram maior volume de publicações foram o Journal of Cross-Cultural Psychology e o Personality and Individual Differences. Desse modo, observa-se que a concentração de publicações sobre a temática volta-se para os journals da área da Psicologia, embora haja publicações que busquem compreender os Valores Humanos Básicos no contexto organizacional.

Em relação ao acoplamento bibliográfico, verificou-se a heterogeneidade dos grupos de pesquisa com destaque para autores afiliados às instituições europeias, embora o autor com maior quantidade de artigos acoplados seja Shalom H. Schwartz, também com maior quantidade de citações, afiliado à The Hebrew University of Jerusalem, em Israel.

Com o mapeamento das redes de coautoria, restrito a pesquisadores com pelo menos dois artigos na amostra e 20 citações a suas obras, verificou-se a existência de dez clusters de colaboração de pesquisa, evidenciando a concentração das pesquisas no campo.

Por meio das redes de cocitação foi possível reconhecer as similitudes entre os pesquisadores, uma vez que os artigos científicos analisados foram agrupados em cinco clusters: o primeiro destaca a abordagem do tema Valores Humanos no campo da Psicologia Social; o segundo cluster investiga a influência dos Valores Humanos na percepção, nas atitudes e no comportamento humano; o terceiro cluster predomina investigações dos valores a nível cultural. O quarto agrupamento desenvolve pesquisas cross-cultural sob a perspectiva da Teoria dos Valores Humanos Básicos com a utilização da escala PVQ; enquanto os pesquisadores do quinto cluster utilizam o escalonamento multidimensional como uma técnica para analisar a estrutura de Valores Humanos.

A temática central dos artigos científicos e as três linhas de pesquisas conduzidas pelos autores foram identificadas por meio da rede de coocorrência de palavras-chave. A primeira linha sugere investigações empíricas que mensurem os valores sobre a perspectiva da Teoria dos Valores Humanos Básicos ao utilizar primeiro instrumento de mensuração de valores proposto por Schwartz (SVS). Já para a segunda linha, propõe-se que os núcleos de pesquisas direcionam a Teoria dos Valores Humanos Básicos para a Psicologia Social, investigando os valores com jovens, adultos e indivíduos de meia idade. A terceira linha sugere o desenvolvimento de pesquisas com grupos de controle que investigam os Valores Humanos entre adolescentes de sexos distintos. Por sua vez, os pesquisadores da quarta linha de pesquisa investigam os aspectos psicológicos de estudantes em relação aos valores utilizando a abordagem quantitativa.

Esta pesquisa apresenta as seguintes limitações: a) não foram selecionados periódicos específicos da área de Administração e Negócios e; b) a escolha das palavras-chave e da base de dados é um fator limitador, pois outros documentos científicos podem ter sido desconsiderados da amostra.

Sugere-se, para pesquisas futuras, a realização do estudo com uma base menor e específica, com a finalidade de analisar a perspectiva de pesquisadores da área de Administração e Negócios sobre a Teoria dos Valores Humanos Básicos e a utilização de outra metodologia, a exemplo do Knowledge Development Process – Contrutivist (ProKnow-C), para construção de um portfólio bibliográfico, sobre essa temática.

Material suplementar
Referências
ACEDO, F. J.; BARROSO, C.; CASANUEVA, C.; GALÁN, J. L. Co-authorship in management and organizational studies: An empirical and network analysis. Journal of Management Studies, United Kingdom, v. 43, n. 5, p. 957-983, 2006.
Araujo, B. F. V.; Bilsky, W.; Moreira, L.M.C.O. Valores pessoais como antecedentes da adaptação transcultural de expatriados. Revista de Administração Mackenzie, São Paulo, v. 13, n. 3, p. 69–95, 2012.
ARAÚJO, C. A. A. Bibliometria: evolução histórica e questões atuais. Em Questão, Porto Alegre, v. 12, n. 1, p. 11-32, 2006.
BENCKENDORFF, P.; ZEHRER, A. A network analysis of tourism research. Annals of Tourism Research, Wisconsin, v. 43, p. 121-149, 2013.
BILSKY, W. A estrutura de valores: sua estabilidade para além de instrumentos, teorias, idade e culturas. Revista de Administração Mackenzie, São Paulo, v. 10, n. 3, p. 12–33, 2009.
BILSKY, W.; SCHWARTZ, S. H. Values and personality. European Journal of Personality, Netherlands, v. 8, n. 3, p. 163–181, 1994.
BRAUM, L. M. S.; NASSIF, V. M. J. Estrutura intelectual da produção científica sobre propensão ao empreendedorismo: uma análise à luz das cocitações. Administração: Ensino e Pesquisa, Rio de Janeiro, v. 19, n. 3, p. 422-468, 2018.
BUFREM, L. S.; PRATES, Y. O saber científico registrado e as práticas de mensuração da informação. Ciência da Informação, Brasília, v. 34, n. 2, p. 9-25, 2005.
CAFÉ, L.; BRÄSCHER, M. Organização da informação e bibliometria. Encontros Bibli: Revista Eletrônica de Biblioteconomia e Ciência da Informação, Florianópolis, Edição Especial, p. 54-75, jan. 2008.
CAMPOS, C. B.; PORTO, J. B. Escala de valores pessoais: validação da versão reduzida em amostra de trabalhadores brasileiros. Psico, Porto Alegre, v. 41, n. 2, p. 208-213, 2010.
COBO, M. J.; LÓPEZ-HERRERA, A. G.; HERRERA-VIEDMA, E.; HERRERA, F. An approach for detecting, quantifying, and visualizing the evolution of a research field: A practical application to the fuzzy sets theory field. Journal of Informetrics, Netherlands, v. 5, n. 1, p. 146-166, 2011.
CRONIN, B., SHAW, D.; LA BARRE, K. A cast of thousands: co-authorship and subauthorship collaboration in the twentieth century as manifested in the scholarly literature of psychology and philosophy. Journal of the American Society for Information Science and Technology, North Carolina, v. 54, n. 9, p. 855–871, 2003.
DING, Y., CHOWDHURY, G. G.; FOO, S. Bibliometric cartography of information retrieval research by using co-word analysis. Information Processing & Management, United Kingdom, v.37, n. 6, p. 817–842, 2001.
EGGHE, L.; ROUSSEAU, R. Co-citation, bibliographic coupling and a characterization of lattice citation networks. Scientometrics, Hungary, v. 55, n. 3, p. 349-361, 2002.
GLÄNZEL, W.; SCHUBERT, A. Analysing scientific networks through co-authorship. In: H.F. MOED H. F., GLÄNZEL, W; SCHMOCH, U. (eds.) Handbook of Quantitative Science and Technology Research, Springer, Dordrecht, p. 257-276, 2004.
GOUVEIA, V. V., MARTÍNEZ, E., MEIRA, M.; MILFONT, T. L. A estrutura e o conteúdo universais dos valores humanos: análise fatorial confirmatória da tipologia de Schwartz. Estudos de Psicologia, Natal, v. 6, n. 2, p. 133-142, 2001.
GRÁCIO, M. C. C. Acoplamento bibliográfico e análise de cocitação: revisão teórico-conceitual. Encontros Bibli: Revista Eletrônica de Biblioteconomia e Ciência da Informação, Florianópolis, v. 21, n. 47, p. 82-99, 2016.
HILÁRIO, C. M.; GRÁCIO, M. C. C.; GUIMARÃES, J. A. C. Aspectos éticos da coautoria em publicações científicas. Em Questão, Porto Alegre, v. 24, n. 2, p. 12-36, 2018.
HOFSTEDE, G. Culture’s consequences, international differences in work-related values. Newbury Park, CA: Sage, 1980.
JARNEVING, B. Bibliographic coupling and its application to research-front and other core documents. Journal of Informetrics, Netherlands, v. 1, n. 4, p. 287-307, 2007.
KAHLE, L. R. Social values and social change: adaptation to life in America. New York: Praeger, 1983.
KESSLER, M. M. Bibliographic coupling between scientific papers. American documentation, North Carolina, v. 14, n. 1, p. 10-25, 1963.
KESSLER, M. M. Comparison of the results of bibliographic coupling and analytic subject indexing. American Documentation, North Carolina, v. 16, n. 3, p. 223–233, 1965.
KLUCKHOHN, C. Values and value-orientations in the theory of action: an exploration in definition and classification. In: PARSONS, T.; SHILS, E., (eds.), Toward a general theory of action, Harvard University Press, Cambridge, p. 388-433, 1951.
KNAFO, A.; ROCCAS, S.; SAGIV, L. The value of values in cross-cultural research: A special issue in honor of Shalom Schwartz, Journal of Cross-Cultural Psychology, North Carolina, v. 42, n. 2, p. 178-185, 2011.
LUCAS, E. O.; GARCIA-ZORITA, J. C.; SANZ-CASADO, E. Evolução histórica de investigação em informetria: ponto de vista espanhol. Liinc em Revista, Rio de Janeiro, v. 9, n. 1, p. 255-270, 2013.
MACHADO JUNIOR, C.; SOUZA, M. T. S.; PARISOTTO, I. R. S.; PALMISANO, A. As leis da Bibliometria em diferentes bases de dados científicos. Revista de Ciências da Administração, Florianópolis, v. 18, n. 44, p. 111-123, 2016.
MASLOW, A. H. Motivation and Personality. New York: Harper, 1954.
MEDEIROS, J. M. G. de; VITORIANO, M. A. V. A evolução da bibliometria e sua interdisciplinaridade na produção científica brasileira. RDBCI: Revista Digital de Biblioteconomia e Ciência da Informação, Campinas, v. 13, n. 3, p. 491-503, 2015.
MENEZES, S. D.; CAREGNATO, S. E. Produção científica brasileira em química entre 2004 e 2013: análise dos artigos indexados na Web of Science. Encontros Bibli: Revista Eletrônica de Biblioteconomia e Ciência da Informação, Florianópolis, v. 23, n. 53, p. 25-38, 2018.
NERUR, S. P.; RASHEED, A. A.; NATARAJAN, V. The intellectual structure of the strategic management field: an author co‐citation analysis, Strategic Management Journal, Chicago, v. 29, n. 3, p. 319-336, 2008.
ORTIZ-DE-URBINA-CRIADO, M.; NÁJERA-SÁNCHEZ, J. J.; MORA-VALENTÍN, E. M. A research agenda on open innovation and entrepreneurship: a co-word analysis. Administrative Sciences, Switzerland, v. 8, n. 3, p. 34, 2018.
ROKEACH, M. The nature of human values. New York: Free Press, 1973.
SCHWARTZ, S. H. Universals in the content and structure of values: theoretical advances and empirical tests in 20 Countries. Advances in Experimental Social Psychology, Canada, v. 25, p. 1-65, 1992.
SCHWARTZ, S.H. Are there universal aspects in the structure and contents of human values? Journal of Social Issues, Nebraska, v. 50, n. 4, p. 19–45, 1994.
SCHWARTZ, S. H. Valores humanos básicos: seu contexto e estrutura intercultural. In: TAMAYO, A.; PORTO, J. B. (org.) Valores e comportamento nas organizações. Petrópolis, RJ: Vozes, p.21-55, 2005a.
SCHWARTZ, S. H. Validade e aplicabilidade da teoria de valores. In: TAMAYO, A.; PORTO, J. B. (org.) Valores e comportamento nas organizações. Petrópolis, RJ: Vozes, p.56-95, 2005b.
SCHWARTZ, S. H. An overview of the Schwartz Theory of basic values. Online Readings in Psychology and Culture, Allendale, v. 2, n. 1, p. 1–20, 2012.
SCHWARTZ, S. H.; BILSKY, W. Toward a universal psychological structure of human values. Journal of Personality and Social Psychology, USA, v. 53, n. 3, p. 550–562, 1987.
SCHWARTZ, S.H.; MELECH, G., LEHMANN; A., BURGESS, S.; HARRIS, M.; OWENS, V. Extending the cross-cultural validity of the theory of basic human values with a different method of measurement. Journal of Cross-Cultural Psychology, North Carolina, v.32, n. 5, p. 519-542, 2001.
SILVA, M. R. da; HAYASHI, C. R. M.; HAYASHI, M. C. P. I. Análise bibliométrica e cientométrica: desafios para especialistas que atuam no campo. InCID: Revista de Ciência da Informação e Documentação, São Paulo, v. 2, n. 1, p. 110-129, 2011.
SMALL, H. Co‐citation in the scientific literature: A new measure of the relationship between two documents. Journal of the American Society for Information Science, North Carolina, v. 24, n. 4, p. 265-269, 1973.
SU, H.; LEE, P. Mapping knowledge structure by keyword co-occurrence: a first look at journal papers in Technology Foresight. Scientometrics, Hungary, v. 85, n. 1, p. 65-79, 2010.
TAMAYO, A.; PORTO, J. B. Validação do questionário de perfis de valores no Brasil. Psicologia: Teoria e Pesquisa, Brasília, v.25, n.3, p. 369-376, 2009.
TORRES, C. V.; SCHWARTZ, S. H.; NASCIMENTO, T. G. A Teoria de Valores Refinada: associações com comportamento e evidências de validade discriminante e preditiva. Psicologia USP, São Paulo, v. 27, n. 2, p. 341-356, 2016.
VAN ECK, N. J.; WALTMAN, L. Software survey: VOSviewer, a computer program for bibliometric mapping. Scientometrics, Hungary, v. 84, n. 2, p. 523-538, 2009.
VANTI, N. A. P. Da bibliometria à webometria: uma exploração conceitual dos mecanismos utilizados para medir o registro da informação e a difusão do conhecimento. Ciência da Informação, Brasília, v. 31, n. 2, p. 152-162, 2002.
WALLIN, J. A. Bibliometric methods: pitfalls and possibilities. Basic & Clinical Pharmacology & Toxicology, Denmark, v. 97, n. 5, p. 261-275, 2005.
WHITTAKER, J. Creativity and conformity in science: titles, keywords: and co-word analysis. Social Studies of Science, Canada, v. 19, n. 3, p. 473–496, 1989.
Notas
Autor notes
1 Doutora; Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, CE, Brasil

evangelinasousa@gmail.com

2 Doutor; Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, CE, Brasil

prof.eduardo.fontenele@gmail.com

Quadro 1
Categorias e tipos motivacionais dos valores

Fonte: Adaptado de Sc hwartz (1994 , 2012)

Figura 1
Modelo de relações entre dez tipos motivacionais de valor
Fonte: Adaptado de Sc hwartz (1994 ).

Figura 2
Etapas da pesquisa
Fonte: Elaborada pelos autores .

Figura 3
Evolução das publicações de 1965 a 2018
Fonte: Dados da pesquisa.
Quadro 2
Autores com maior volume d e artigos publicados

Fonte: Dados da pesquisa
Quadro 3
Principais fontes de publicação

Fonte: Dados da pesquisa.
Quadro 4
Publicações de maior impacto

Fonte: Dados da pesquisa.

Figura 4
Redes de coautoria
Fonte: Dados da pesquisa.

Figura 5
Redes de cocitação
Fonte: Dados da pesquisa.

Figura 6
Redes de acoplamento bibliográfico
Fonte: Dados da pesquisa.

Figura 7
Redes de coocorrência de palavras-chave
Fonte: Dados da pesquisa.
Buscar:
Contexto
Descargar
Todas
Imágenes
Visualizador XML-JATS4R. Desarrollado por Redalyc