Bibliografia de bibliografias[1]: a contribuição de Edson Nery da Fonseca

Bibliography of bibliography: the contribution of Edson Nery da Fonseca

Gilda Maria Whitaker Verri 1
Universidade Federal de Pernambuco, Brasil

Bibliografia de bibliografias[1]: a contribuição de Edson Nery da Fonseca

Em Questão, vol. 25, pp. 39-66, 2019

Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Recepção: 01 Maio 2019

Aprovação: 25 Junho 2019

Resumo: A Biblioteconomia levou Edson Nery da Fonseca a identificar e aplicar os princípios teóricos e as práticas que regem os elementos formativos e informativos da biblioteca e dos serviços de documentação. Ao longo dos seus estudos, entendeu que, no quadro geral dos conhecimentos, a Biblioteconomia estava classificada entre as Ciências Documentológicas Aplicadas. Ao focalizar a construção de seu objeto de estudo no quadro geral, destacou a Bibliografia como de natureza histórico-descritiva, destinada a propiciar o chamado fluxo de informação para as ciências e a tecnologia. Neste trabalho, o objetivo foi elucidar, sistematizar e destacar na vida e obra de Fonseca, conforme o tempo e o lugar, sua atuação profissional, bem como situar e dar relevo às contribuições teóricas e práticas de autores que o guiaram e lastrearam a formação e a difusão das ideias do também articulista. Para delinear a trajetória do bibliotecário/bibliógrafo, vieram à superfície as posições e definições conceituais por ele adotadas e as circunstâncias que demarcaram seu modo de divulgar e defender a prática discursiva, dando sentido à informação e à bibliografia. O levantamento existente de suas referências bibliográficas norteou a consulta e a compatibilização dos textos, para demonstrar o encaminhamento dado pelo bibliógrafo à Ciência da Informação. O conjunto das realizações e de suas obras impressas configura e consolida sua presença na História da Bibliografia e da Documentação no Brasil.

Palavras-chave: Bibliografia, Edson Nery da Fonseca, Bibliografia de bibliografia, Bibliografia e Documentação no Brasil.

Abstract: Librarianship has led Edson Nery da Fonseca to identify and apply the theoretical principles and practices governing the formative and informative elements of the library and documentation services. Throughout his studies, he understood that, in the general framework of knowledge, Librarianship was classified among Applied Documentological Sciences. By focusing on the construction of his object of study in the general framework, he emphasized Bibliography as a historical-descriptive nature, designed to provide the so-called information flow for science and technology. In this work, the objective was to elucidate, systematize and highlight in the life and work of Fonseca, according to the time and place, his professional performance, as well as to situate and give relief to the theoretical and practical contributions of authors who guided and supported the formation and the diffusion of the ideas of the also articulista. In order to delineate the path of the librarian / bibliographer, the conceptual positions and definitions adopted by him and the circumstances that marked his way of disseminating and defending the discursive practice, giving meaning to the information and the bibliography, came to the surface. The existing survey of its bibliographical references guided the consultation and the compatibility of the texts, to demonstrate the referral given by the bibliographer to the Information Science. All the achievements and their printed works configure and consolidate their presence in the History of Bibliography and Documentation in Brazil.

Keywords: Bibliography, Edson Nery da Fonseca, Bibliography of bibliography, Bibliography and Documentation in Brazil.

1 Introdução

A evocação e a repercussão dos passos dados por Edson Nery da Fonseca no espaço biblioteconômico delineados entre o ir e vir do Recife, ao Rio de Janeiro, a João Pessoa, a Maceió, a Nova York, a Brasília, à África e ao Recife, firmaram o tema central deste trabalho. Em textos vibrantes ou magníficas aulas, Edson Nery da Fonseca identificava e ressaltava a aplicação dos princípios teóricos e das práticas que regem os elementos formativos[2] e informativos[3] dos propósitos da biblioteca e dos serviços de documentação. No quadro geral dos conhecimentos, a Biblioteconomia está classificada entre as Ciências Documentológicas Aplicadas, ao lado da Arquivologia e da Museologia. Ao focalizar a construção de seu objeto de estudo destacava a Bibliografia como de natureza histórico-descritiva, destinada a propiciar o chamado fluxo de informação para as ciências e a tecnologia (FONSECA, 2007, p. 8-9).

Edson Nery da Fonseca – o nome por extenso, como desejava, mas doravante Fonseca − foi bibliotecário, bibliógrafo, professor, fundador e defensor de cursos de graduação e de pós-graduação em Biblioteconomia no século XX. A atuação desse notável bibliotecário é, hoje, pouco divulgada no âmbito da Ciência da Informação, embora tenha sido um nome forte em todos os congressos ou eventos nacionais da área, que se iniciaram no Recife, em 1954, com o primeiro Congresso Brasileiro de Biblioteconomia.

Fonseca escreveu para jornais, revistas e livros, sempre voltado para a ampla divulgação da Biblioteconomia, da Documentação estendida à Ciência da Informação. Defendia propostas em favor da preservação, organização e difusão de documentos gráficos e não gráficos. Como pensador, soube combinar questões teóricas com senso prático, dando relevo às bibliotecas escolares, universitárias, públicas, especializadas e aos serviços de informação digital. Escritas ou orais, suas palavras se encontravam para delinear as ações a desenvolver nas bibliotecas e nos serviços de documentação, tendo em vista a necessidade de capacitação dos bibliotecários para acompanhar o avanço técnico-científico. Foi um especialista de vanguarda.

As crônicas e os ensaios foram escritos sem medo dos que dele divergiam. Textos sempre “carregados de experiência”, como diria Manuel Bandeira (1986, p. 215), resultavam da observação e análise dos elementos destacados da prática, de fontes literárias, de mananciais técnico-bibliográficos. Um dos exemplos é o Apêndice, A Classificação Decimal Universal no Brasil, no livro Documentação, de Samuel Clement Bradford (1961), que menciona a importância de Paul Otlet e Henri La Fontaine, com a fundação, em Bruxelas, do Instituto Internacional de Bibliografia, do qual participavam brasileiros, como Juliano Moreira, dirigente dos Annais da Sociedade de Medicina e Cirurgia da Bahia, e de Oswaldo Cruz, que adotara a Classificação Decimal Universal, no instituto de pesquisas que leva o seu nome.

A trajetória de bibliógrafo, professor e articulista se fez em momentos sociopolíticos significativos, que se refletiram na História das Bibliotecas e da Biblioteconomia Brasileiras. Os acontecimentos demonstraram que operações e realizações específicas individuais e institucionais foram executadas desbravando caminhos ou intervindo em circunstâncias socioeconômicas ocorridas em espaços e tempos diferentes, tal como a criação dos Cursos de Biblioteconomia no Recife e em Brasília.

Para compreender a sua extensa obra sobre Biblioteconomia e Documentação no Brasil, talvez se devesse destacar a Bibliografia como a disciplina favorita, a que o fez aproximar-se das definições conceituais e fundamentais, de quatro autores preferidos: Louise-Noëlle Malclès, Paul Otlet, Suzanne Briet, e Stephane Mallarmé. Aos de língua francesa, incluiu o português Fidelino de Souza Figueiredo, ex-diretor da Biblioteca Nacional de Lisboa, e membro da Academia Brasileira de Letras, um defensor de repertórios bibliográficos. Entre os brasileiros, manteve admiração pelo bibliófilo Rubens Borba de Moraes e, de modo indicativo, por Gilberto Freyre, para elucidar questões socioculturais. Para direcionar e reafirmar sua vocação, lembrava a Misión del bibliotecário, proposta pelo espanhol José Ortega y Gasset. Leitor dos grandes autores de Biblioteconomia, muitos americanos, não esquecia de citar ou recomendar os prediletos e os desconhecidos, em textos frequentes.

Os trabalhos escritos, com citações bibliográficas registradas, proporcionaram os “indicadores de influências exercidas pelos autores dos documentos”, como assinalou Suzana Pinheiro Machado Mueller (MUELLER, 2001, p. 116), na destacada análise das Fontes da produção intelectual em Biblioteconomia e Documentação de Edson Nery da Fonseca. Mesmo diante da imensa dificuldade em localizar a sua produção gráfica, “a bibliografia de Edson Nery da Fonseca inclui muitos assuntos, pois sua curiosidade intelectual vai além da Biblioteconomia” (MUELLER, 2001, p. 117).

Para Fonseca, os valores da Biblioteca e da Bibliografia figuravam como bandeiras vistosas. Concordava com os avanços da Documentação preconizada por Suzanne Briet, e discordava dos malfeitos dos bibliotecários, com todas as letras. Deixava claro que as respostas à curiosidade intelectual e o futuro de pesquisas, em todas as áreas, estavam nas bibliografias. Portanto, preparou ou sugeriu a edição de coleções especializadas de referências brasileiras, para que tivessem o aval de um órgão público, primeiro, do Instituto Brasileiro de Bibliografia e Documentação (IBBD), depois, da Câmara dos Deputados, por fim, da Fundação Joaquim Nabuco (FUNDAJ).

Pela contribuição e atuação em defesa da Biblioteconomia, da Documentação, da abrangência da Ciência da Informação (FONSECA, 2007, p. 5-8), ainda, por demonstrar a validade da Bibliografia no panorama histórico-informacional e sociocultural brasileiro, Fonseca seria o Bibliógrafo −, assim, Briquet de Lemos o distinguiu (LEMOS, 2001, p. 96) −, talvez merecedor do título singular de Bibliógrafo Brasileiro de Bibliografias.

Ao delinear o percurso efetuado pelo Bibliógrafo, no campo da organização, circulação e difusão da informação, este artigo teve por objetivo: elucidar, sistematizar e destacar na vida e obra de Fonseca, conforme o tempo e o lugar, as principais fontes autorais que instituíram os fundamentos, deram significado, sentido e uso ao estatuto da Bibliografia. As definições conceituais por ele citadas lastrearam a ampla defesa e difusão da prática discursiva do também articulista. Assim, foram destacados as circunstâncias e os preceitos que nortearam e demarcaram o desempenho de suas atividades profissionais e que determinaram seu modo de construir, divulgar, defender e dar sentido teórico prático para a organização da informação, do documento, e do alcance dos resultados. Ainda, por meio de artigos em jornais nacionais diários e periódicos especializados, apoiado em orientações didáticas de Paul Otlet e de Louise-Noëlle Malclès, a Bibliografia foi evidenciada como um instrumento capaz de reunir, registrar e divulgar informações fixadas em diferentes suportes, organizadas e representadas com características próprias.

O extenso levantamento bibliográfico (1942-2001) compilado por Cordélia Robalinho Cavalcanti, ex-bibliotecária da Câmara dos Deputados e ex-professora da Universidade de Brasília (UnB) e Lúcia Gaspar, ex-bibliotecária da Fundação Joaquim Nabuco (FUNDAJ), apresentado no livro Interpretação de Edson Nery da Fonseca (MOTA; VERRI, 2001) serviu de base e orientou o percurso deste trabalho, seguido de consulta e análise dos textos, de modo a ressaltar o encaminhamento dado pelo Bibliógrafo às referidas matérias.

Por estar atento aos escritos fundantes, o Bibliógrafo, era um “estudioso brilhante e crítico, mas também mostrou-se um profissional voltado para o esforço de compreensão da sociedade” (LEMOS, 2001, p. 98). Daí a outorga dos títulos que recebeu: Professor Emérito da Universidade de Brasília; Medalha da Ordem do Mérito Guararapes, do Governador de Pernambuco, Jarbas Vasconcelos; Título de Professor Honoris Causa, concedido pela Universidade Federal de Pernambuco, sendo Reitor Anísio Brasileiro.

2 O futuro Bibliotecário

De Gilberto Freyre, em 1925, partiu o pedido escrito feito a Manuel Bandeira (1986b), para recordar “sua infância no Recife em poema a ser publicado na obra coletiva que então organizava para comemorar o primeiro centenário do Diário de Pernambuco [...]. Um tanto irritado” (FONSECA, 2011, p. 29), a memória do poeta voltou ao lugar de origem. Daí a Evocação do Recife:

Era o Recife das Revoluções Libertárias

Mas o Recife sem história nem literatura

Recife sem mais nada

Recife da minha infância.

Amigo e conterrâneo do poeta, Fonseca poderia dar continuidade à História, falando ou escrevendo sobre os movimentos políticos e culturais ocorridos na sua cidade. Poderia rememorar os motivos pessoais pelos quais se fez leitor voraz dos clássicos franceses, brasileiros, e de Casa Grande & Senzala, do sociólogo pernambucano Gilberto Freyre, de quem tornou-se fervoroso admirador da personalidade e da obra. Ou mencionar as atividades profissionais iniciadas em 1942, aos 21 anos, quando passou a escrever para os jornais do Recife[4], fazendo crítica literária, por sugestão do escritor e professor Álvaro Lins, sendo elogiado pelo professor e secretário de redação, Aníbal Fernandes, do Diário de Pernambuco, o mais antigo jornal da América Latina.

Por decisivos os seus objetivos, interesses, conhecimentos e realizações, quando em Pernambuco só existiam três cursos superiores: Direito, Medicina e Engenharia, Fonseca escolheu Direito. Mas, no segundo ano desistiu de ser bacharel. Em busca de experiência, foi trabalhar no Departamento de Estatística, Propaganda e Turismo (DEPT), da Prefeitura Municipal do Recife (PMR) onde publicações de interesse histórico-social eram editadas e para as quais passou a colaborar: Boletim da Cidade e do Porto do Recife; Revista Arquivos e a folha volante, O Praieiro, distribuído na praia aos domingos, com grande aceitação: trazia informações práticas, curiosas e poéticas.

O momento político, definido pelo Estado Novo (1937-1945), alterou a face socioeconômica e cultural do Recife. O Prefeito Antônio de Novaes Filho, da confiança do Interventor Agamenon Magalhães, administrava grandes transformações urbanas, implementadas conforme os projetos da Comissão do Plano da Cidade. Modernizar e disciplinar a cidade nas feições urbanísticas e funcionais era o ideário. Derrubar velhos casarões coloniais, abrir avenidas, instalar fábricas e construir vilas operárias eram os objetivos. Para Manoel de Souza Barros, diretor geral do DEPT, era o momento exato de projetar, valorizar e incentivar espaços destinados à leitura, à audição musical, à cultura humanística e ao lazer, para os habitantes dos bairros em expansão. As transformações urbanas também proporcionaram instalações de instituições culturais, algumas conhecidas por sua arquitetura específica, como foi o caso das construções para as bibliotecas populares no Recife.

A montagem dos serviços culturais deveria se contrapor ao que, em 1925, dissera Bandeira (1986, p. 106): “A vida não me chegava pelos jornais nem pelos livros// Vinha da boca do povo na língua errada do povo// Língua certa do povo”. Logo, para isso mudar, seria preciso ler livros, ouvir músicas universais e brasileiras em locais apropriados, para "elevar o nível cultural da população". Isto na expressão do estatístico José Césio Regueira Costa, diretor técnico do DEPT, defensor da discoteca pública e de bibliotecas populares, a exemplo do que ocorrera em São Paulo, por empenho do escritor Mário de Andrade. Era um momento desafiador, quando, em paralelo, publicações de cunho sociopolítico eram confiscadas e retidas pela censura do DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda) e seus proprietários levados como presos políticos.

O planejamento dos espaços socioculturais a serem implantados e ambientados nos arrabaldes requeria providências inadiáveis, particularmente a capacitação de pessoal para realizar operações técnicas e organizacionais. Era a oportunidade de Fonseca conhecer, com objetividade, o alcance dos preceitos que norteariam suas atividades no Recife. Assim, mudou-se para o Rio de Janeiro, em 1944, para poder dedicar-se ao Curso Fundamental de Biblioteconomia[5] na Biblioteca Nacional (BN).

3 O fascínio da Bibliografia

A Biblioteca Nacional acumulava o êxito de seus últimos diretores, portanto, servia como campo de demonstração aos alunos do Curso de Biblioteconomia, que começara em 1915, sofrera interrupção e voltara às aulas em 1944. Para o jovem aluno, Ramiz Galvão, ex-diretor da BN (1870-1882), provocava admiração e fascínio, porque deixara um exemplo pioneiro e raro de intelectual e profissional a ser seguido. Era de se notar que aos 15 anos fora bacharel em Letras, aos 19 publicara um estudo sobre O púlpito no Brasil, tratando dos oradores sacros, aos 22 terminara o curso de Medicina. Professor do Colégio Pedro II aos 23 anos, ensinara grego, retórica, poética e literatura nacional. Indicado para dirigir a Biblioteca Nacional, foi passar 13 meses na Europa, estudando organização de bibliotecas, relatando com acuidade o que via nas bibliotecas públicas das grandes cidades europeias. Quando retornou, procurou meios de dinamizar a BN. Para tanto, começou por organizar o primeiro concurso público para a vaga de “oficial de biblioteca”, visto que considerava a BN “um estabelecimento de instrução superior” (FONSECA, 1963, p. 21). Em seguida, com esforço, conseguiu recursos para uma grande reforma do edifício, sabendo

Cuidar de tudo: do completamento das coleções [...], da aquisição das obras mais procuradas [...], do registro, classificação, catalogação e conservação do acervo e, especialmente, da atenção que devia ser dispensada aos leitores, uma vez que as bibliotecas existem mais para difundir os livros do que para guarda-los (FONSECA, 1963, p. 22).

Outro destaque foram as publicações editadas “por diligência de Ramiz Galvão e, de acordo com um programa por ele traçado, com o objetivo de divulgar os tesouros ali depositados”, incluindo o lançamento dos Anais da Biblioteca Nacional (1876-), contendo também reproduções de manuscritos e “trabalhos bibliográficos de merecimento” (FONSECA, 1963, p. 23). Tantas realizações o fizeram merecedor do título de “bibliotecário perfeito”, dado por Gilberto Freyre, (FONSECA, 1963, p. 22).

Das relações e trocas de experiências com as bibliotecas europeias, Ramiz Galvão promoveu o melhor exemplo, a Exposição[6] e o levantamento (DIAS, In: CHRONOS, 2015) completo e grandioso, tomado como uma bibliografia, do Catálogo da Exposição de História do Brasil, (1881) enaltecido por Fidelino de Figueiredo:

As vinte secções desse admiravel catálogo são quase uma bibliographia historica, segundo ella se oferecia em fins do seculo XIX, tão varios os generos da documentação, tão abundante o acervo das espécies em cada um, tão bem identificada cada uma dellas, segundo as normas do officio, sem esquecer a indicação do proprietário ou do paradeiro! [...] se dá importância relevante ao manuscripto e ao livro estrangeiro (FIGUEIREDO, 1941, p. 97- 98).

Para a consecução desse esforço coletivo, vez que o individual foi obra do passado, Fonseca se ateve, compreendendo as palavras de L.N. Malclès em defesa do trabalho coletivo exigido pela produção bibliográfica:

Ao final do século, o crescimento da bibliografia era tão forte e denso que dava aos que a compilavam novos modos de a dominar. Assim surgiu o trabalho em colaboração e o trabalho em equipe, desaparecendo o trabalho em quatro paredes (MALCLÈS, 1956, p. 91, tradução nossa).

As ações do diretor seguinte, o pernambucano que antes estivera à frente da Faculdade de Direito do Recife, Manuel Cícero Peregrino da Silva (1900-1924), marcara o jovem aluno. Nos Anais da Biblioteca Nacional, Peregrino informava ter organizado o “serviço de documentação em correspondência com o Instituto Bibliographico Internacional de Bruxellas, contribuindo assim o nosso paiz para a organização dos repertorios universaes acargo d’aquelle Instituto” (ANAIS, n. 32, p. 771, 1910). O chamado "Otlet brasileiro" fora o precursor em preparação de bibliografia, fazendo circular o Boletim bibliographico da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro (1918-1982). O Boletim, no âmbito sociopolítico, tal como concebido por Otlet, poderia ser utilizado à semelhança do Repertório bibliográfico universal, ou como:

O primeiro meio de organizar as relações internacionais, visto que permite juntar as ideias dos homens, possibilitando a uns os trabalhos dos outros. Portanto, o Repertório bibliográfico universal é uma bolsa intelectual possível graças a um entreposto intelectual. A oferta e a demanda lá se encontram (LEVIE, 2006, p. 69, tradução nossa).

Neste sentido, era preciso destacar que "o interesse despertado pela criação de pensamentos e a ideia de os dar a conhecer manifestaram-se ao longo dos tempos" (MALCLÈS, 1954, p. 3, tradução nossa). Portanto, a elaboração do Boletim bibliográfico foi um modo de evitar a dispersão dos escritos e possibilitar a organização, a divulgação e a consulta da produção intelectual de época.

4 A formação profissional do bibliotecário

Nos Cursos Fundamental e Superior de Biblioteconomia da BN, reestruturados em 1944, os diretores, professores e alunos eram defensores intransigentes dos fundamentos da Bibliografia e da Referência, bem como da Classificação Decimal Universal (CDU), inspirada nos princípios de classificação de Melvil Dewey. O domínio obrigatório desses princípios direcionava a formação dos bibliotecários, responsáveis pela transmissão, recepção e difusão dos registros do conhecimento.

Ao experimentar, aplicar e confirmar os preceitos teóricos recebidos durante os Cursos, duas lições foram absorvidas e definiram os rumos do futuro bibliógrafo. A primeira lição prática foi pesquisar na seção de obras raras da BN em busca de documentos para as pesquisas de Gilberto Freyre, porque foi “uma das inúmeras inovações introduzidas na historiografia brasileira por Gilberto Freyre: a de citar abundantemente os documentos e os livros em que se apoiou, alguns até então inéditos, em vez de escondê-los” (FONSECA, 2011, p. 75). A segunda foi estagiar na biblioteca organizada por Lydia de Queiroz Sambaquy[7], da Fundação Getúlio Vargas, para auxiliar na catalogação e classificação de obras literárias para a Pequena Bibliografia Crítica da Literatura Brasileira, em organização pelo escritor austríaco Otto Maria Carpeaux.

Na BN, entre os professores, o bibliófilo e bibliógrafo Rubens Borba de Moraes destacava-se "como o melhor professor do curso" (FONSECA, 2009, p. 50). A aproximação entre professor e aluno possibilitou o jovem acompanhar a compilação do Manual bibliográfico de estudos brasileiros, obra sistematizada, com detalhadas informações sobre os livros referenciados, editada em 1949. Posteriormente, seguiu a distância, a Bibliographia brasiliana (1958), em elaboração e, mais tarde, a Bibliografia da Impressão Régia do Rio de Janeiro (1808-1822).

5 O Curso de Biblioteconomia do Recife

Findo os Cursos da BN, com admiração pelos nomes que desenvolveram atividades na Biblioteconomia, Fonseca voltou ao Recife, em 1948, pós-Estado Novo, onde o movimento político-cultural se expandia. Era a oportunidade, na Região Norte/Nordeste, de estruturar o primeiro Curso de Biblioteconomia, modelando o formato e as disciplinas: Bibliografia e Referência, Catalogação, Classificação, Organização de Serviços de Biblioteca, História do Livro e das Bibliotecas.

O desenvolvimento das ações da Prefeitura em torno da preparação de pessoal especializado e da abertura da discoteca repercutia em frequentes artigos de jornais locais, assinados por Fonseca. Diante dos fatos e da necessidade de organizar suas bibliotecas, a Universidade do Recife vislumbrou a oportunidade de capacitar pessoal, adotando as disciplinas e os professores. Um acordo definido com o Prefeito da Cidade, absorveu o Curso de Biblioteconomia[8], levando Fonseca como professor, dando-lhe também a tarefa de dirigir e estruturar a Biblioteca da Faculdade de Direito, oriunda do Curso Jurídico, iniciado em Olinda, havia mais de um século.

Para a organização da biblioteca da Faculdade de Direito, Fonseca contou com o pessoal formado pela Prefeitura Municipal do Recife e mais bibliotecárias trazidas do Rio de Janeiro, como Jannice Monte-Mór, formada pelo Curso da BN, em 1947, e Myriam Gusmão de Martins, formada pelo DASP (Departamento Administrativo do Serviço Público). Implantados os trabalhos pioneiros de administração e organização da biblioteca, Fonseca desligou-se da Faculdade de Direito. Em João Pessoa, exerceu várias atividades, inspecionando bibliotecas. Em Maceió, ministrou cursos a serviço do Instituto Nacional do Livro (INL), que à época publicava a Bibliografia Brasileira (FONSECA, 1988, p. 224-231). Depois, dirigiu a Biblioteca Pública da Paraíba.

6 Perspectivas bibliográficas

Da Paraíba, em 1952, Fonseca veio ao Recife participar do Colloquium Internacional de Estudos Luso-Brasileiros promovido pela Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos. Ao dizer que “os historiadores eram os maiores usuários dos ‘instrumentos de investigação’" (FONSECA, n. 9-10, p. 31-42, 1953), ou seja, das “bibliotecas, arquivos, bibliografias, materiais antropológicos e artísticos”, alertava que esses suportes deveriam estar disponíveis em centros de documentação. Esses instrumentos de investigação, segundo Otlet (2018, p. 522-523), deveriam servir para estudos especializados, com informações divulgadas em forma de repertórios ou bibliografias, como reforçou a bibliotecária Malclès:

A Bibliografia é o conhecimento de todos os textos impressos ou multigrafados. Ela se baseia na pesquisa, na transcrição e na classificação de documentos visando organizar os serviços ou elaborar repertórios destinados a facilitar o trabalho intelectual (MALCLÈS, 1954, p. 6, tradução nossa).

Ainda, sobre o uso desses instrumentos, diria McKenzie (2018, p. 24): "os bibliógrafos não podem mais ser satisfeitos apenas pela descrição, nem mesmo pela edição, mas sim pelo estudo histórico da feitura e do uso de livros e outros documentos".

Até então, Fonseca identificara poucas bibliografias, apenas alguns "trabalhos parcelares": Bibliotheca exótico-brasileira (1929), de Alfredo de Carvalho; Historiografia e Bibliografia do domínio holandês no Brasil (1949), de José Honório Rodrigues. ─ Anos depois, seriam acrescentados: a Bibliografia de Pereira da Costa[9] (1952), compilada por Jorge Abrantes dos Santos, tendo o repertório incluído livros, opúsculos, artigos publicados em jornais (coluna e página), revistas, com arranjo cronológico e índice analítico. Portanto, um "trabalho de monge beneditino". Posteriormente, Fonseca apresentou os repertórios: Ramiz Galvão, bibliotecário e bibliógrafo (1963); Bibliografia de obras de referências pernambucanas (1964); Álvaro Lins: bibliografia com notas remissivas (REVISTA do livro, 1970).

7 A Bibliografia iniciada no Rio de Janeiro

A trajetória no Rio de Janeiro a partir de 1954 permitiu a Fonseca buscar oportunidade de trabalho e melhores condições financeiras. Junto ao DASP e ao INL obteve um lugar na Biblioteca Demonstrativa Castro Alves, de grande afluência de leitores. Para manter contato com o público, foi trabalhar no setor de referência. Ali encontrava o poeta pernambucano Manuel Bandeira, cuja obra conhecia e divulgava. E de quem veio a tomar o poema Ubiquidade (1943), como oração religiosa diária.[10]

A oportunidade seguinte veio com o convite da presidente Lydia de Queiroz Sambaquy, do Instituto Brasileiro de Bibliografia e Documentação (IBBD – 1954-1975), recém-fundado com o apoio técnico da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e a Cultura (UNESCO) e do aporte financeiro do Conselho Nacional de Pesquisas (CNPq). O momento, que se projetava desenvolvimentista, requeria o apoio à ciência e à tecnologia. A perspectiva econômica lançada pelos planos do presidente Juscelino Kubitschek (1956-1961) previa a instalação de indústrias e superintendências regionais[11], que demandavam novas informações, pessoal capacitado e estudos técnicos. Questões que davam ao IBBD a responsabilidade de fornecer aos pesquisadores os instrumentos documentais apropriados, diante da explosão de informações técnico-científicas que avançava em progressão geométrica.

Na coordenação do Serviço de Bibliografia do IBBD, cabia a Fonseca a compilação de repertórios bibliográficos por área de conhecimento. A consecução desse projeto exigia a formação de equipes multidisciplinares. Logo, foram adotados métodos e processos de trabalho a partir do curso de Pesquisas bibliográficas em Ciências Naturais, com a duração de um ano, aberto aos bolsistas dos estados (FONSECA, 1957, p. 120). Ministrado em colaboração com a bibliotecária Laura Maia Figueiredo, a capacitação de pessoal visava os preceitos de Lasso de La Vega:

Um especialista que esteja bem informado e domine um ramo ou sub-ramo da ciência ou da técnica, de maneira a que possa redigir o resumo ou a sinopse de um artigo de matéria muito especializada, o que, ademais, conheça a fundo todos os processos modernos de reprodução, difusão e utilização de toda sorte de documentos, os sistemas de classificação, especialmente CDU e as regras de catalogação (LASSO DE LA VEGA, 1956, p. 471, tradução nossa).

Do treinamento de pessoal surgiram as “primeiras bibliografias brasileiras de ciências exatas e sociais, com a imprescindível colaboração de renomados pesquisadores nas referidas áreas do conhecimento” (FONSECA, 2009, p. 77). Como por exemplo: Ciências Sociais; Matemática e Física; Medicina; Química; Zoologia; Botânica, além do catálogo da biblioteca de energia atômica, e outras da área médica. Atendia-se, desta forma, a recomendação de “constituir, sobre bases racionais e eficientes, a organização internacional do livro e da bibliografia” (OTLET, 2018, p. 50), com o auxílio da CDU.

A Fonseca competia dar ao Serviço de Bibliografia condições para manter atualizado o guia dos Periódicos Brasileiros de Cultura e a edição do Boletim Informativo do IBBD contendo: Artigos; Resenha de livros e periódicos; Intercâmbio de Publicações; Notícias diversas; e seção Bibliografia de Bibliografias −, expressão tomada de Otlet (2018), usada por Malclès (1954), para ordenação de referências e resumos de obras bibliografadas.

No fascículo número três de 1956, do Boletim Informativo surgiu o anúncio na Bibliografia Brasileira de Documentação, que contemplaria as chamadas Ciências Documentológicas (FONSECA, 2007, p. 5), indicando: “A compilação está a cargo do bibliotecário Edson Nery da Fonseca”, com a responsabilidade de apresentar:

Uma bibliografia exaustiva, na qual serão registrados e comentados os livros e artigos publicados no Brasil, desde os primórdios até nossos dias sobre Documentação, no mais amplo sentido da palavra; compreendendo, portanto, a organização do trabalho intelectual, a Documentação no seu sentido restrito, a Bibliologia, a Bibliografia, a Biblioteconomia, a Bibliotecnia, a Museologia, a Arquivística, etc. Esta bibliografia registrará, igualmente, enciclopédias, dicionários e outras obras de Referência (IBBD, v. 2, n. 3, maio-jun. 1956).

A notícia deixava claro que a demanda e a oferta de bibliografias exigiam do bibliógrafo conhecimentos teóricos e práticas para o andamento das pesquisas, e resultados corretos. Por isso, em O Preparo de Bibliografias Especializadas, publicado no Boletim Informativo (IBBD, 1958), texto anteriormente apresentado ao Simpósio de Bibliografia e Documentação Científica[12], Fonseca enfatizou as vantagens do uso da CDU para o agrupamento e localização de assuntos. Enumerou as dificuldades decorrentes da inexistência de normalização técnica para a documentação e para os elementos das referências. Ao mesmo tempo, retomou a questão sobre “o papel dos bibliotecários, documentalistas e cientistas na elaboração de bibliografias especializadas”, afirmando: "sejamos francos e diretos: nem os bibliotecários nem os cientistas podem, sozinhos, elaborar bibliografias especializadas perfeitas [...] Ao bibliotecário não cientista faltam os conhecimentos científicos; ao cientista não bibliotecário faltam os conhecimentos técnicos" (FONSECA, 1958, p. 125).

A questão sobre a formação de bibliógrafos foi retomada mais tarde, em Ser ou não ser original em Ciências Sociais: a propósito de um artigo pioneiro[13]. O texto confirmava a necessidade de bibliografias a fim de evitar o “caos documentário” vez que, “tanto nas chamadas ciências exatas como nas da natureza, a Bibliografia e a Documentação já estão consagradas como indispensáveis ao desenvolvimento científico e tecnológico” (FONSECA, 2011, p. 72). Todavia, no campo das Ciências Sociais haveria que se ter atenção:

Por mais especializados que necessitemos de ser, em face da chamada explosão bibliográfica – causa e efeito, ao mesmo tempo, da multiplicação de especializações, pois como observou Mallarmé, ‘tudo no mundo existe para transformar-se em livro’[14] − não podemos perder de vista o que parece caracterizar tanto a realidade natural como a cultural ou humana, isto é, a inter-relação dos fatos” (FONSECA, 2011, p. 72-74, grifo do autor).

O chamamento à inter-relação dos fatos tratava de um alerta feito por Gilberto Freyre: “é preciso que a inter-relação entre fatos humanos não seja nunca desprezada” (FREYRE, 1969 apud FONSECA, 2011, p. 74). O articulista recorria com frequência às palavras de renomados autores, mas dava ao sociólogo um lugar de destaque ou eixo em torno do qual fazia girar questões sobre bibliotecas e documentação, permeadas de assuntos literários.

Todavia, vale lembrar que Fonseca não desconhecia os fundamentos da Documentação de Otlet (2018), particularmente o item VI Organização universal, em que a presença dos fatos e ideias abrange “todo o corpo das áreas do saber e da prática, bem como o conjunto das formas e funções da documentação” (OTLET, 2018, p. 8). A este respeito, entre os objetos da bibliologia, assinalou que a “sociologia se ocupa não de fenômenos que se passam na sociedade, mas de fenômenos que reagem socialmente, [portanto] a bibliologia se ocupa de fatos que exercem uma ação geral sobre o livro” ou sobre o conteúdo de um documento (OTLET, 2018, p. 14). Nesse item, ao elaborar um documento ou compilar uma bibliografia caberia recorrer a necessidade posta pela “ciência desenvolvida até estes três níveis: 1º Registro dos fatos quando eles acontecem; 2º Previsão dos fatos e estabelecimento das consequências úteis antes de seu pleno desenvolvimento; 3º Ação em vista de produzir ou modificar os fatos” (OTLET, 2018 p. 43).

Neste sentido, Fonseca deu destaque a Malclès, enfatizando que: "a bibliografia [...] vai além do seu conteúdo e acelera o [...] caminho [...]. Diz-se que a bibliografia segue os fatos e os documentos gráficos andam ao lado dos fatos" (MALCLÈS, 1956, p. 268, apud FONSECA, 1973, tradução nossa). Mas Fonseca deu novo alerta aos bibliógrafos, apoiando-se em documento da UNESCO redigido por Jean Meyriat (1969):

Vencida a incompreensão epistemológica, surgem outras dificuldades para a bibliografia e para a documentação no campo das Ciências Sociais. Uma delas é a imprecisão conceitual que não ocorre nas ciências exatas e naturais, com seus conceitos definidos e suas taxonomias internacionalmente consagradas. [...] Motivos diversos explicam porque, no campo das Ciências Sociais, só recentemente é que aquelas técnicas vinham alcançando tão elevado reconhecimento, inclusive por parte da UNESCO (FONSECA, 2011, p. 73).

Mesmo sem indicar uma solução clara, em O Desejo de saber o articulista propôs aos bibliotecários/bibliógrafos:

O diálogo entre ciências e humanidades é difícil, mas não impossível, como provam os seminários interdisciplinares inaugurados na Universidade de Colúmbia pelo professor FrankTannembaum e na Universidade Federal de Pernambuco pelo escritor Gilberto Freyre (FONSECA, 2014, p. 119).

O diálogo acima proposto permite recorrer à interpretação de McKenzie dada por Roger Chartier: “O exame rigoroso das modalidades de inscrição dos textos não podia ser separado da análise crítica das obras nem da história dos leitores e de suas leituras” (CHARTIER, 2002, p. 12). Sobre esta interpretação, McKENZIE acrescentou e advertiu:

[Por] registrar e explicar as formas físicas que fazem a mediação do significado, a Bibliografia tem uma função interpretativa que complementa e modifica qualquer análise puramente verbal. Em princípio, ela pode preencher essa função em qualquer dos modos nos quais os textos são transmitidos, não apenas nos livros impressos. Assim, ela é igualmente relevante, como disciplina, para qualquer estrutura de significado que seja registrável e discernível. (McKENZIE, 2018, p. 84-85).

Portanto, o bibliotecário/bibliógrafo precisaria ampliar e aprofundar as informações sobre os elementos materiais, gráficos e intelectuais que atenderiam aos requisitos das ciências e das tecnologias.

8 A Bibliografia em paralelo no Rio de Janeiro

As atividades no IBBD e a divulgação de frequentes artigos propiciaram a Fonseca visibilidade e possibilidade de candidatar-se a presidente da Associação Brasileira de Bibliotecários (1956-1958). Os trabalhos se multiplicaram: pauta para o suplemento Documentação, do Jornal do Brasil (RJ), participação na enquete elaborada por Edilberto Coutinho sobre as Obras Fundamentais para o conhecimento de Pernambuco (bibliografia), e cursos ministrados: Questões de Documentação; Pesquisa aplicada à História do Brasil. Além cuidar da normalização de documentos, questão tratada pela International Organization for Standardization (ISO), no Brasil representada pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Fonseca foi membro fundador e primeiro presidente (1955-1960) da comissão de Documentação da ABNT. “Ali deixou sua marca na elaboração das primeiras normas brasileiras de apresentação de artigos de periódicos, referências bibliográficas, citações, sinopses e resumos” (LEMOS, 2001, p. 98).

9 A bibliografia em Brasília

O Rio de Janeiro, com a eleição do presidente Juscelino Kubitschek, passou por várias transformações, preparando-se para a transferência da capital federal para Brasília, o que levou a Câmara dos Deputados à abertura de concurso público para bibliotecários. Fonseca concorreu, alcançando nota superior. O resultado o fez desligar-se do IBBD e, tão logo inaugurada, mudar-se para a cidade traçada por Lúcio Costa. Ainda em construção, os edifícios arquitetados por Oscar Niemeyer abrigavam as funções dos três poderes, incluindo as respectivas bibliotecas especializadas. Ao passar do Serviço do IBBD para o lugar de bibliotecário da Câmara, começando no Rio de Janeiro, depois fixando-se em Brasília[15], Fonseca foi indicado para editar o Boletim da Biblioteca da Câmara dos Deputados, que divulgava a biografia dos presidentes da casa, bibliografias sobre temas em debate, recensão de livros e registros de obras raras.

As diretrizes sociopolíticas para a nova capital incluíam o projeto de criação de uma grande universidade, concebida por Darcy Ribeiro e Anísio Teixeira, conforme o Plano Orientador da Universidade de Brasília (1962) posto em execução na Asa Norte. Fonseca, contratado como consultor técnico, apoiava, pela primeira vez no Brasil, a implantação de uma Biblioteca Central capaz de atender professores, pesquisadores e alunos de cursos de graduação e de pós-graduação. Em espaço próprio, o acervo propiciaria: reunir documentos de todos os cursos; fomentar o livre acesso às estantes; estimular e ampliar a pesquisa interdisciplinar; divulgar o uso de registros gráficos e não gráficos; difundir o conceito de patrimônio documental. Assim, configurou-se a formação do acervo da Biblioteca Central da UnB, sob a orientação de Fonseca, que contemplou a seção de referência com inúmeras fontes de pesquisa bibliográfica: catálogos, bibliografias, enciclopédias, dicionários, inventários, biografias. Alguns exemplos: CATALOGUE de la précieuse bibliothèque unique de voyageurs et d’historiens relatifs à l’Amérique. Paris: Ch. Leclerc, 1884; A CATALOGUE of books represented by Library of Congress printed cards. Paterson, New Jersey: Pageant Books, 1960; GARRAUX, A. L. Bibliographie brésilienne... Rio de Janeiro: J. Olympio, 1962; RAEDERS, G.; FONSECA, E. N. Bibliographie franco-brésilienne. Rio de Janeiro: INL, 1960; SABIN, J. Biblioteca Americana. Amsterdam: N. Israel, 1960-1962.

Trabalhando na Câmara, o tempo foi fracionado para poder apoiar, planejar, implantar e organizar a Biblioteca Central e o Curso de Graduação e de Pós-graduação em Biblioteconomia na Universidade de Brasília. Durante dois anos (1964-1965), a Pós-graduação funcionou com três alunas bolsistas. Dentre as disciplinas ministradas quatro destacaram-se: Bibliografia Brasiliana, ministrada por Rubens Borba de Moraes; Indexação coordenada, por Abner Lelis Vicentini; Normalização da documentação científica, por Zeferino Paulo, vindo Portugal, e Estudo de fontes bibliográficas e institucionais, por Fonseca. Como resultado, as dissertações versaram sobre bibliografias. Zila Mamede sob a orientação de Fonseca compilou a vasta Bibliografia de Câmara Cascudo: 50 anos de vida intelectual, 1918/1968 (1970), em 3 volumes, tendo posteriormente organizado Civil geometria: bibliografia crítica, analítica e anotada, de João Cabral de Melo Neto, 1941-1982 (1987). Fernanda Leite Ribeiro, vinda do IBBD, apresentou A Ruiana da Universidade de Brasília (1967), orientada por Cordélia Robalinho Cavalcanti e Fonseca. Ainda, Viajantes franceses no Brasil (1994), bibliografia compilada por Gilda M. W. Verri sob a orientação de Rubens Borba de Moraes.

10 O desdobramento das bibliografias

Ao aposentar-se como técnico legislativo da Câmara dos Deputados, Fonseca passou a professor titular com dedicação exclusiva, na UnB. Foi o começo de uma nova fase em sua carreira de autoridade em Biblioteconomia. As articulações da Universidade de Brasília com as congêneres internacionais o levaram a avaliar e planejar a expansão da Coleção Brasileira de livros, da Universidade de Illinois (Champaign/Urbana), Estados Unidos. Em seguida, o Reitor da Universidade Federal da Paraíba o contratou para formular plano e programa da Biblioteca Central, em João Pessoa. Posteriormente, foi contratado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), para executar o Convênio MEC/BID/UFPE, como consultor técnico do projeto de construção do edifício da Biblioteca Central da Universidade Federal de Pernambuco. Esteve também na Comissão do Acordo MEC/USAID, coordenando o programa de padronização de bibliotecas universitárias em várias cidades brasileiras. Convidado pela UNESCO, foi assessor do projeto de um sistema nacional de bibliotecas em Guiné-Bissau.

De volta ao Brasil, em 1980, retornou ao Recife convidado para ocupar a direção do Instituto de Documentação, da FUNDAJ, participar do Seminário de Tropicologia, coordenado por Gilberto Freyre, e compor o Conselho Editorial da Editora Massangana, além de coordenar o departamento de Assuntos Internacionais e tornar-se editor da Revista Ciência & Trópico. Ao desligar-se da Fundação, em 1987, reintegrando-se a UnB, participou, no mesmo ano, em Roma, do Seminário Internacional sobre o Padre Antônio Vieira.

Em meados dos anos oitenta, passou a fazer parte da Comissão Especial da Presidência da República incumbida de estudar as condições para instalação do Conjunto Cultural de Brasília (1986)[16]. Depois, integrou a comissão prévia encarregada do levantamento, preservação e organização dos documentos que integravam o acervo particular dos Presidentes: Memória dos Presidentes da República (1991)[17]. Posto como adjunto da Assessoria Especial do Presidente, trabalhou como consultor dos projetos especiais. E, para marcar uma linha de pensamento contra a rotina dos bibliotecários, lançou pela Associação de Bibliotecários do Distrito Federal, em 1988, várias crônicas sob o título: Ser ou não ser bibliotecário e outros manifestos.

Em licença sabática durante o ano de 1990, dedicou-se a reescrever Introdução à Biblioteconomia, editado por Briquet de Lemos. Aposentado por idade da Universidade de Brasília, em 1992 veio morar em Olinda, dedicando-se às atividades literárias, às pesquisas bibliográficas e à escrita sobre a obra de Gilberto Freyre. Logo voltou a fazer parte do Seminário de Tropicologia, da FUNDAJ. A partir daí participou de vários seminários: 70 Anos de Modernismo, promovido pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte, com a conferência Gilberto Freyre e o Movimento Regionalista. Da Mesa redonda sobre Casa-grande & Senzala, promovida pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Recife. Como palestrante esteve no Simpósio Gilberto Freyre: interpenetrações do Brasil, João Pessoa e no Seminário Outros Gilbertos, Recife. Convidado pelo cineasta Nelson Pereira dos Santos, atuou como personagem nas filmagens dos quatro documentários sobre Casa-grande & Senzala, colaborando como coautor do roteiro e como narrador.

Em seguida, foi convidado a presidir a Comissão encarregada de avaliar o acervo bibliográfico, arquivístico e museológico deixado pelo escritor Luís da Câmara Cascudo, em Natal. No XXIV Encontro Nacional de Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação, ocorrido na Universidade Federal do Rio Grande do Norte, pronunciou: A nova missão do bibliotecário em face da Internet. Em Salvador, BA, foi aclamado na conferência de abertura do III Encontro Nacional de Ensino e Pesquisa em Informação (CINFORM), promovido pelo Instituto de Ciência da Informação da Universidade Federal da Bahia. Na Academia Brasileira de Letras fez parte da Mesa Redonda em homenagem a Memória de Francisco de Assis Barbosa. Participou da Festa Literária Internacional de Paraty (FLIP), em 2009, falando sobre Gilberto Freyre. Ainda, na Biblioteca Rodolfo Garcia, da Academia Brasileira de Letras (ABL), foi contratado para selecionar os livros destinados ao uso público, fazendo o exercício de identificação da literatura nacional e universal, alargando o espaço da revisão bibliográfica e de critérios válidos para o descarte de obras.

Entre outras atividades, fez parte do Conselho Editorial da Revista Continente Multicultural, editada pela CEPE (Companhia Editora de Pernambuco); do Conselho Deliberativo do Instituto Ricardo Brennand, Recife. Em paralelo, trabalhou com Guillermo Francisco Giucci e Enrique Rodriguez Larreta, na organização da edição crítica: Gilberto Freyre, uma Biografia Cultural, publicada pela Editora Civilização Brasileira (2007). Sob seus cuidados, as obras de Gilberto Freyre foram editadas pela Imprensa Oficial de São Paulo e pela Editora da UnB: Americanidade e latinidade da América Latina; Três histórias mais ou menos inventadas; China tropical e outros ensaios sobre a influência do Oriente no Brasil; e Palavras repatriadas. Reuniu textos para a edição da coletânea de artigos de O Grande Sedutor: escritos sobre Gilberto Freyre de 1945 até hoje.

11 O Bibliógrafo

Dos textos escritos por Fonseca, entende-se que a bibliografia seria um instrumento composto por elementos informacionais, organicamente sistematizados, que daria visibilidade ao todo de cada peça referenciada, de modo a agrupar informações segundo critérios definidos. O conjunto de informações relacionadas com a produção do livro e dos demais materiais gráficos ou não gráficos seria usado como representação simbólica. A partir daí se poderia “tentar o recenseamento do mundo dos livros na sua totalidade da mesma maneira que a demografia procede com o recenseamento da população” (ZOLTOWSKI, 1952 apud FONSECA, 2011, p. 79). Isso não indicaria que “os bibliógrafos [seriam] como uns pobres secarrões que, absorvidos pela técnica, seriam capazes de qualquer afeição por autores dos livros que referenciam” (FONSECA, 2011, p. 68).

Ao registrar “O que devo a Gilberto Freyre” declarou ter sido “o gosto pela pesquisa bibliográfica [que] não me transformou – graças a Deus! – ‘num maníaco de fichinhas’ nem turvou em mim a paixão pelas letras e a admiração exaltada por certos autores” (FONSECA, 2011, p. 68). Em a Obra de Gilberto Freyre, publicado em 1979 na Revista do Arquivo Público, Recife, Fonseca confessou: “volto à minha condição de bibliógrafo, da qual não tenho porque me envergonhar” (FONSECA, 2011, p. 142). A frase completava o que em 1973 escrevera sobre o que devia ao sociólogo, quando, como conhecedor de cada livro do escritor, informava estar “dando os últimos retoques na bibliografia de Gilberto Freyre” (FONSECA, 2011, p. 68).

Considerava, porém, que o levantamento feito para as bibliografias deveria corresponder à tentativa de recensear o mundo do impresso na sua totalidade, sem que, para isso, fosse preciso ler o documento na íntegra. Em raros casos, poderia ocorrer a referência a um documento inexistente, mencionado como real, portanto, considerado espectro bibliográfico, que seria assinalado como jamais encontrado (FONSECA, 2011, p. 72).

Em oportunidade anterior, Fonseca tinha demonstrado, na Associação Paulista de Bibliotecários, em 1975, que “existe um outro tipo de pesquisa que dá à bibliografia categoria científica. Refiro-me às análises bibliométricas resultantes da aplicação da estatística à bibliografia” (FONSECA, 1988a, p. 217). Questão apontada por Otlet, por Bradford e por outros autores que desenvolveram estudos sobre bibliografias e índices de citações. Por concordar com o sociólogo Victor Zoltowski confirmou: “Introduzindo a bibliografia como ciência concreta e a estatística bibliográfica que a torna quantificável, pode-se estudar, através dos séculos, certos problemas sociológicos sobre o mesmo terreno e com o mesmo método” (ZOLTOWSKI apud FONSECA, 1988, p. 220).

Valorizar a bibliografia como um instrumento imprescindível à configuração de qualquer projeto de pesquisa ou de elucidação intelectual, sempre foi o objetivo de Fonseca. Ao apresentar os dados sobre A Fortuna crítica de Gilberto Freyre em 1980, explicou: “A fortuna de um autor ou de uma obra pode ser estudada pela chamada curva das edições, pelas traduções, adaptações, imitações, avaliações e também pela influência literária ou espiritual que exerceram. [...] fortuna crítica é o fenômeno conhecido, mais recentemente pela palavra recepção” (FONSECA, 2011, p. 149). Por isso, seria preciso optar por bibliografias seletivas ou exaustivas, considerando que “as bibliografias exaustivas deixaram de ter sentido com a explosão bibliográfica de nossa época. O que os pesquisadores querem saber não é tudo o que foi escrito sobre determinado autor ou assunto, e sim as contribuições originais e o estado atual da fortuna crítica” (FONSECA, 2011, p. 150).

12 Considerações finais

Jean Starobinski (2000, p. 9) ao estudar Montesquieu o apresentou com o título de O perfil glorioso, dando ao personagem o destaque de suas próprias palavras: “minha alma se interessa por tudo” (MONTESQUIEU apud STAROBINSKI, 2000, p. 7). O mesmo se poderia dizer de Edson Nery da Fonseca: Glorioso. Glorioso por se interessar, por ter interpretado, adotado e aplicado os conceitos advindos de autores fundadores da Documentação. Por ter firmado em instrumentos do conhecimento, com rigor e ordem, os fundamentos da Bibliografia inseridos no campo da difusão do saber, abrindo possibilidades para um mundo cultural e científico mais amplo e positivo, muito além do seu tempo.

A extensa produção bibliográfica de Edson Nery da Fonseca, caracterizada por textos de poucas páginas, destinava-se a orientar novas perspectivas para problemas de comunicação científica, com base em uma prática teórica, merecedora de reflexão sobre a construção de um objeto privilegiado, a Bibliografia. Em outros “manifestos contra a rotina” revestia os escritos de observações e análise crítica sobre a situação da Biblioteconomia brasileira, que deixava à mostra os infortúnios das bibliotecas. Os temas e as concepções de autores fundadores foram selecionados para orientar as ações que “abrangem todo o ciclo das operações de que resultam a produção de documentos, sua circulação, distribuição, conservação e utilização (OTLET, 2018, p. 15). Os artigos estão ligados a uma época, com a marca do tempo e das circunstâncias. Contudo, não perderam a validade porque foram pioneiros no trato e na divulgação da informação científica e técnica. Os escritos abriram trilhas para os cursos de formação profissional e demonstraram uma produção significativa, garantindo ao Bibliógrafo, pela totalidade da obra, um lugar na História da Bibliografia e da Documentação estendida à Ciência da Informação, no Brasil.

Agradecimentos

Aos organizadores do V Seminário A Arte da Bibliografia, especialmente a Murilo Artur Araújo da Silveira, os agradecimentos pela oportunidade de celebrar, em 6 de dezembro de 2018, o 97o ano de nascimento de Edson Nery da Fonseca.

Referências

BANDEIRA, Manuel. Andorinha, andorinha. Rio de Janeiro, J. Olympio, 1986.

BANDEIRA, Manuel. Evocação do Recife. In: BANDEIRA, M. Estrela da vida inteira (poesias reunidas e poemas traduzidos). Rio de Janeiro: J. Olympio, 1986b.

BRASILEIRO, Fellipe Sá; LOUREIRO, José Mauro Matheus; FREIRE, Gustavo Henrique de Araújo. Uma reflexão histórico-epistemológica da perspectiva social no campo da Ciência da Informação. Investigación Bibliotecológica, México, v. 29, n. 65, p. 137-159, ene./abr., 2015.

CHRONOS. Publicação cultural da UNIRIO (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro. v. 1, n. 10, 2009. Rio de Janeiro: UNIRIO, 2015. Edição comemorativa dos 100 anos de instalação da Escola de Biblioteconomia no Brasil: 1915-2015.

CHARTIER, Roger. Do palco à página. Tradução de Bruno Feitler. Rio de Janeiro: Casa da Palavram, 2002.

DIAS, Antônio Caetano. Na Biblioteca Nacional. Chronos: publicação cultural da UNIRIO, Rio de Janeiro, v. 7, n. 10, p. 16-39, 2015. Edição comemorativa dos 100 anos de instalação da Escola de Biblioteconomia no Brasil: 1915-2015.

FERREIRA, Orlando da Costa; HOUAISS, Antônio. Bibliografia. In: ENCICLOPÉDIA MIRADOR INTERNACIONAL. São Paulo; Rio de Janeiro: Encyclopaedia Britannica do Brasil Publicações, 1975. v. 4, p. 1355-1359.

FIGUEIREDO, Fidelino de Souza. Aristarchos, Quatro conferências sobre methodologia da crítica literário no Departamento Municipal de Cultura de São Paulo. Rio de Janeiro: Livraria H. Antunes, 1941.

FONSECA, Edson Nery da. A Biblioteconomia brasileira no contexto mundial. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro; Instituto Nacional do Livro, 1979.

FONSECA, Edson Nery da. A Classificação decimal universal no Brasil. In: BRADFORD, S. C. Documentação (1878-1348). Rio de Janeiro: Fundo de Cultura, 1961. p. 269-278.

FONSECA, Edson Nery da. Desenvolvimento da biblioteconomia e da bibliografia no Brasil. Revista do Livro, Rio de Janeiro, a. 2, n. 5, p. 95-124, mar. 1957.

FONSECA, Edson Nery da. Duas bibliografias. Diário de Pernambuco, Recife, 10 ago. p. 4, 1952.

FONSECA, Edson Nery da. Gilberto Freyre de A a Z. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional; Departamento Nacional do Livro; Zé Mario Editor, 2002.

FONSECA, Edson Nery da. O grande sedutor: escritos sobre Gilberto Freyre de 1945 até hoje. Rio de Janeiro: Cassará, 2011.

FONSECA, Edson Nery da. A importância da bibliografia e da biblioteca nos estudos históricos. Recife: Arquivo Público Estadual, 1956. Separata da Revista do Arquivo público brasileiro, Recife, n. 9-10, p. 31-42, 1953. [Conferência lida no dia 22de janeiro de 1951]

FONSECA, Edson Nery da. Introdução à Biblioteconomia. 2. ed. Brasília: Briquet de Lemos, 2007.

FONSECA, Edson Nery da. Precursores da bibliografia brasileira. Estudos Universitários, Recife, n. 4, v. 9, p. 69-87, out./dez. 1969.

FONSECA, Edson Nery da. O preparo de bibliografias especializadas. IBBD Boletim Informativo, Rio de Janeiro, a, 4, n. 3/6, p. 123-128, maio/dez. 1958.

FONSECA, Edson Nery da. Problemas brasileiros de documentação. Brasília: Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia, 1988a.

FONSECA, Edson Nery da. Problemas de comunicação da informação científica. São Paulo: Thesauros, 1973.

FONSECA, Edson Nery da. Ramiz Galvão, bibliotecário e bibliógrafo. Rio de Janeiro: Livraria São José, 1963.

FONSECA, Edson Nery da. Ser ou não ser bibliotecário e outros manifestos contra a rotina. Brasília: Associação dos Bibliotecários do Distrito Federal, 1988.

FONSECA, Edson Nery da. Tentativas de interpretação: textos reunidos, revisto e organizados por Clênio Sierra de Alcântara. Rio de Janeiro: Cassará, 2014.

FONSECA, Edson Nery da. Vão-se os dias e eu fico: memórias e evocações. São Paulo: Ateliê Editorial, 2009.

FREYRE, Gilberto. Sugestões em torno da ciência e da arte da pesquisa social. Recife: Instituto Joaquim Nabuco, 1969.

HOUAISS, Antônio. Elementos de bibliologia. Rio de Janeiro: INL, 1967.

IBBD Boletim Informativo, Rio de Janeiro, a. 2, n. 3, maio-jun. 1954.

IBBD Boletim informativo, Rio de Janeiro, a. 4, n. 3/9, p. 123-128, maio-dez. 1958.

JUVÊNCIO, Carlos Henrique; RODRIGUES, Georgete Medleg. A bibliografia no Brasil, segundo os preceitos Otletianos: a liderança da Biblioteca Nacional e outras ações. Informação & Informação, Londrina, v. 20, n. 2, p. 184-204, maio/ago. 2015.

LASSO DE LA VEGA, J. Bibliotecário y documentalista, una frición y un problema. Revista de Archivos, Bibliotecas y Museos, Madrid, v. 60, n. 2, p. 471, 1956.

LEMOS, Antônio Agenor Briquet de. O bibliógrafo. In: MOTTA, Antônio: VERRI, Gilda Maria Whitaker (org.). Interpretação de Edson Nery da Fonseca. Recife: Bagaço, 2001.

LEVIE, Françoise. L'Homme qui voulait classer le monde: Paul Otlet et le Mundaneum. Posface de Benoit Peeters. Bruxelles: Les Impressions Nouvelles, 2006.

McKENZIE, Donald Francis. Bibliografia e a sociologia dos textos. Tradução Fernanda Verissimo. São Paulo: Edusp, 2018.

MALCLÈS, Louise-Noëlle. La bibliographie. Paris: Presses Universitaires de France, 1956.

MALCLÈS, Louise-Noëlle. Cours de bibliographie a l'intention des étudiants de l'université et des candidats aux exames de bibliothécaire. Gènève: Librairie E. Droz; Lille: Librairie Giard, 1954.

MEYRIAT, Jean; BEAUCHET, Micheline. Guide pour l’établissement de centres nationaux de documentation en sciences sociales dans le pays en voie de development. Paris: UNESCO, 1969.

MONTE-MÓR, Jannice. Patrimônio bibliográfico e problemática das bibliotecas nacionais. Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Rio de Janeiro, n. 22, p. 163-170, 1987.

MOTA, Antônio; VERRI, Gilda Maria Whitaker. Interpretação de Edson Nery da Fonseca. Recife: Bagaço, 2001.

ODDONE, Nanci. Ciência da informação em perspectiva histórica: Lydia de Queiroz Sambaquy e o aporte da Documentação (Brasil, 1930-1970). Rio de Janeiro. 2004. Tese (Doutorado em Ciência da Informação) – IBICT/UFRJ/ECO, 2004.

OTLET, Paul. Tratado de documentação, o livro sobre o livro: teoria e prática. Brasília: Briquet de Lemos, 2018.

SALDANHA, Gustavo Silva; ORTEGA, Cristina Dotta. Itinerários da obra de Suzanne Briet: inflexões e tensões. Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documentação. v. 14, n. esp. Naudé & Briet, p. 103-134, jul. 2018.

STAROBINSKI, Jean. Montesquieu. Traducción de Monica Utrilla. México: Fonde de Cultura Econômica, 2000.

VERRI, Gilda Maria W. Templários da ausência em bibliotecas populares. Recife: EDUFPE, 2010.

ZOLTOWSKI, Victor. Les cycles de la creátion intellectuelle et artistique. In: ZOLTOWSKI, Victor. L’Année Sociologique. Paris: Presses Universitaires de France, 1955.

Notas

[1] Bibliografia de bibliografias, expressão tomada de Otlet (2018), depois por Malclès (1954), quando se tratava de referências e resumos de obras bibliografadas, ou seja, de instrumentos de 3.o grau.
[2] Livro, biblioteca, leitor, bibliotecário.
[3] Catálogos, informes, resumos, índices.
[4] Fonseca escreveu na década de 1940 para: Folha da Manhã, Recife, jornal em duas edições: matutina e vespertina, de propriedade do Interventor Estadonovista (1937-1945), Agamenon Magalhães, que também escrevia uma coluna diária, lida e divulgada na Rádio Clube de Pernambuco, PRA8. Fonseca teve artigos publicados nos: Jornal do Commercio (1919- ), Recife, de propriedade do Dr. F. Pessoa de Queiroz; Diário de Pernambuco (1825- ), Recife; O Praieiro (?), Recife; Jornal Pequeno (1898-?), Recife; Correio da Manhã (1901-1974), RJ; Jornal do Brasil (1891- ), RJ; Suplemento Documentação do Jornal do Brasil (1957-1959), RJ; Tribuna da Imprensa (1959-1969), RJ; Letras e Artes: Suplemento literário de A Manhã (1937-1945), RJ; O Jornal (1919-1974), RJ; Anais da Biblioteca Nacional (1876- ), RJ; A Ordem (1947) RJ; Diário de Notícias (1930-1976), RJ; Revista do Livro, BN, RJ (1939- ); Revista do Arquivo Público (1946- ), Recife; Revista Estudos Universitários (1962- ), Recife; Revista Continente Multicultural (2001- ), Recife; e outras mais.
[5] Mais dois funcionários do DEPT foram estudar Biblioteconomia. Milton Melo seguiu os Cursos de São Paulo, fundado por Rubens Borba de Moraes, na Escola de Sociologia e Política sob a coordenação de Maria Luísa Monteiro da Cunha. Outro, Jorge Abrantes, jornalista, foi para os Cursos da Biblioteca Nacional, tendo assumido posteriormente a disciplina Bibliografia e Referência, na então denominada Universidade do Recife.
[6] Para comemorar o aniversário do Imperador Pedro II, em 2 de dezembro de 1881, a Biblioteca Nacional, sob a direção de Ramiz Galvão, inaugurou a Exposição de História do Brasil, compreendendo documentos impressos, manuscritos, desenhos e objetos de arte pertencentes a instituições públicas e a coleções de particulares. Eram as riquezas históricas do país.
[7] Lydia de Queiroz Sambaquy, depois de organizar a Biblioteca da Fundação Getúlio Vargas, passou a coordenar o curso de Biblioteconomia do Departamento Administrativo do Serviço Público (DASP), e algum tempo depois, fundou, junto ao Conselho Nacional de Pesquisa, e apoio da UNESCO, o Instituto Brasileiro de Bibliografia e Documentação (IBBD).
[8] A primeira turma de bibliotecários formou-se em 1950, pela Prefeitura Municipal do Recife.
[9] Francisco Augusto Pereira da Costa (1851-1923), bacharel em Direito, membro do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano (IAHGP), fundador da Academia Pernambucana de Letras, entre várias obras, escreveu: Anais Pernambucanos, dedicado à História de Pernambuco.
[10] A admiração crescente pela obra do poeta o fez organizador de: O Recife de Manuel Bandeira (1986); Alumbramentos e Perplexidades, vivências bandeirianas (2002).
[11] O presidente Juscelino Kubitschek criou as superintendências regionais, incluindo a Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE), com sede no Recife. Teve o economista Celso Furtado como primeiro superintendente e coordenador geral do I Plano Diretor de Desenvolvimento Econômico, com programas e projetos, incluindo a instalação de bibliotecas especializadas, que mudaram a situação socioeconômica e cultural da Região.
[12] Simpósio de Bibliografia e Documentação Científica realizado em São Paulo, em 1958, durante a X Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).
[13] Artigo publicado originalmente em: Ciência & Trópico, Recife, v. 1, n. 2, p, 227-235, jul./dez. 1973.
[14] A citação preferida do articulista encontra-se no texto Le Livre, instrument spirituel, incluído nas Divagations, 1897, p. 273-280, conforme LEMOS (2015, p. 360).
[15] As moradias do funcionalismo estavam em superquadras residenciais: ora em edifícios de poucos andares, ora em casas de dois pavimentos. Para a casa onde se instalou, levou muitos gatos.
[16] O Centro Cultural de Brasília estava previsto no Plano Piloto de Lúcio Costa para o setor cultural do Eixo Monumental, entre o Teatro Nacional e os Ministérios compreendia a sede da Secretaria de Cultura, o Arquivo Nacional, a Biblioteca Nacional e o Museu.
[17] Lei nº 8.394, de 30 de dezembro de 1991, estabelece o "Sistema dos Acervos Documentais Privados dos Presidentes da República".

Autor notes

1 Doutora; Universidade Federal de Pernambuco, Recife, PE, Brasil

gmverri@yahoo.com.br

HMTL gerado a partir de XML JATS4R por