Os almanaques e a circulação social dos objetos culturais: bibliografias, coleções, rastros de leitura[1]

The almanacs and the social circulation of cultural objects: bibliographies, collections, reading traces

Regina Maria Marteleto
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil
Stella Moreira Dourado
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil

Os almanaques e a circulação social dos objetos culturais: bibliografias, coleções, rastros de leitura[1]

Em Questão, vol. 25, pp. 354-372, 2019

Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Recepção: 30 Abril 2019

Aprovação: 18 Junho 2019

Resumo: Almanaques são pequenas ou grandes brochuras, escritos populares de tempo secular, publicados desde o século XV, na Europa, produzidos e difundidos com múltiplos propósitos, dentre eles o de circular informações úteis, manter e renovar tradições culturais, relatar os eventos e personagens do seu tempo. São considerados como a versão mais completa dos anuários e calendários e conservam uma relação especial com a passagem do tempo. Cada país tem uma história de almanaques. No Brasil os de maior circulação foram os almanaques de farmácia, dentre eles o do Biotônico Fontoura. Eram publicados pelos laboratórios farmacêuticos e distribuídos pelas farmácias. E o Lunário Perpétuo, este de grande difusão e uso no Nordeste do país, principalmente pelas mãos de poetas, artistas populares, cantantes, emboladores que nele buscavam inspiração. No entanto, e apesar de seu significado social, cultural e informacional em cada época, esses livretos quase se perderam, sobretudo no Brasil, restando poucas coleções dispersas. O intento desse artigo é o de refletir sobre o modo de existência desses objetos culturais, com foco na sua circulação social, nas estratégias editoriais empregadas pelos seus produtores, além dos seus rastros de leitura e permanência. Para tanto, recorre-se a algumas bibliografias e a uma coleção particular, de modo a alcançar uma compreensão sobre a dimensão documentária dos almanaques.

Palavras-chave: Almanaque, Bibliografia, Coleção, Informação, Leitura.

Abstract: Almanacs are small or large brochures, popular secular-time writings, published since the fifteenth century in Europe, produced and disseminated with multiple purposes, including circular useful information, maintaining and renewing cultural traditions, reporting the events and characters of his time. They are considered as the most complete version of the yearbooks and calendars and retain a special relationship with the passage of time. Each country has a history of almanacs. In Brazil the ones with the highest circulation were the pharmacy almanacs, among them Biotônico Fontoura. They were published by the pharmaceutical laboratories and distributed by pharmacies. And the Perpetual Lunario, this one of great diffusion and use in the northeast of the country, mainly by the hands of poets, popular artists, singers, “emboladores” that in him looked for inspiration. However, despite their social, cultural and informational significance in each epoch, these booklets were almost lost, especially in Brazil, with few scattered collections left. The purpose of this article is to reflect on the way of existence of these cultural objects, focusing on their social circulation, the editorial strategies employed by their producers, as well as their reading and permanence traces. For this purpose, some bibliographies and a particular collection are used, in order to reach an understanding of the documentary dimension of almanacs.

Keywords: Almanac, Bibliography, Collection, Information, Reading.

1 Introdução

Por que se guardam ou não se guardam almanaques? São eles recuperados pelos dispositivos de saber (e de poder) como as bibliografias, as coleções institucionais (bibliotecas, arquivos)? Que rastros eles deixariam entrever sobre os seus modos de produção e circulação? Como foram e são apropriados, lidos, usados? Que serventia tiveram e têm como fontes históricas sobre o contexto social e cultural do seu tempo de criação, suas redes de autores, editores, mediadores, leitores? Essas são as perguntas de partida que orientam a nossa análise a respeito da dimensão documental dos almanaques, ancoradas no pressuposto de sua relevância enquanto objetos culturais e documentais para os estudos do campo informacional.

Almanaques são pequenas ou grandes brochuras, escritos populares de tempo secular, publicados desde o século XV, na Europa, produzidos e difundidos mundialmente. Cada país tem uma história de almanaques. No Brasil os de maior circulação foram os almanaques de farmácia. Dentre eles o mais popular foi o do Biotônico Fontoura. Eram publicados pelos laboratórios farmacêuticos e distribuídos pelas farmácias. Entre outros tipos de almanaque populares, o "Lunário Perpétuo" de Gerónimo Cortés (1555-1615), de grande difusão e uso no Nordeste do país, principalmente pelas mãos dos poetas, artistas populares, cantantes, emboladores que nele buscavam inspiração, e de variados leitores ávidos por saberes sobre curas e tratamentos de doenças, prognósticos lunares e tantos outros.

No entanto, e apesar do seu significado social, cultural e informacional em cada época, esses livretos quase se perderam, sobretudo no Brasil, restando poucas coleções dispersas. O intento desse artigo é o de refletir sobre o modo de existência desses objetos culturais, com foco na sua circulação social, nas estratégias editoriais empregadas pelos seus produtores, além dos seus rastros de leitura e permanência. Para tanto, recorre-se às bibliografias e ao estudo de uma coleção particular, de modo a alcançar uma compreensão sobre a dimensão documentária dos almanaques.

Para continuar faremos, como indica Davallon (2006), o caminho de construção do objeto que nos ocupa - os almanaques e seus repertórios - tomando-os como "objetos concretos" ou dispositivos infocomunicacionais existentes desde sempre, mas principalmente a partir da invenção da escrita e da imprensa, buscando seus sinais e significados, os diálogos entre a oralidade e a escrita, entre diversas formas de saberes, estratégias textuais e editoriais; como "objetos científicos" - os seus modos de existência e circulação social como portadores de diferentes formas de saberes e ideias; enquanto "objetos de pesquisa" são analisadas as mediações documentárias inscritas em bibliografias e coleções, operadas por uma rede de bibliógrafos, bibliófilos, autores, editores, patrocinadores, divulgadores, colecionadores, leitores.

2 Almanaques: Documentos?

No Brasil, diferentemente de outros países onde também os almanaques se fizeram historicamente presentes, muitas vezes se confundem essas publicações com folhetos, cartilhas e outros meios populares, usando o termo para nomear dispositivos editoriais que não guardam relação com os princípios seculares dos almanaques. Por outro lado, e talvez por serem considerados como "não-documentos", dado ao seu caráter de publicações populares dirigidas às camadas menos ilustradas social e culturalmente, a maior parte deles se perdeu, seja pelos seus próprios leitores ou produtores, seja pela omissão das instituições de guarda dos produtos culturais, como as bibliotecas.

Um pressuposto a ser interrogado a esse respeito seria o de que em países onde a circulação dos saberes se faz de forma mais ampla, apoiada em dispositivos editoriais, acadêmicos, jornalísticos, literários institucionalizados, os saberes escritos não-eruditos (ou “populares”) teriam maior espaço de expressão, circulação, recuperação e representação em diferentes repertórios, no movimento próprio da circulação dos saberes e da cultura. Dito de outra forma, haveria nesses países um consistente mercado de bens simbólicos (BOURDIEU, 2007) amparado em dispositivos escolares e midiáticos historicamente constituídos.

Nas classificações oficiais dos materiais bibliográficos no campo informacional e biblioteconômico, como a Classificação Decimal Universal (CDU), os almanaques ocupam a Classe 0 - Generalidades, posicionados próximos à “subclasse 058 - Anuários. Anais. Outras publicações anuais”, ocupando a “subclasse 059 - Calendários. Almanaques. Essa vizinhança classificatória é coerente com a origem e o perfil dos almanaques populares em geral, os quais conservaram ao longo dos séculos um forte elo com os calendários e anuários, sendo considerados seus contemporâneos ou substitutos. KRIKORIAN (2010), por exemplo, identificou dois tipos de produções anuais em almanaques do séc. XVIII na França: obras mais extensas que contêm um número maior de informações; e os "calendários murais", que fornecem num espaço mínimo as informações necessárias. A autora realizou o estudo "A mesa do rei no imaginário popular: as refeições de Luís XIV nos almanaques" sobre os calendários murais no século XVIII, na França, onde as figurações sobre o rei, assim como o calendário anual, são dirigidos ao meio popular e à pequena burguesia. A história contada em imagens e pequenos textos explicativos servia ao uso do público iletrado como uma ferramenta popular de política e de propaganda do reinado, disputando espaço com os primeiros tabloides, os quais forneciam conteúdos semelhantes aos dos almanaques murais, porém dirigidos a um público letrado, instruído.

Nas classificações oficiais dos materiais bibliográficos no campo informacional e biblioteconômico, como a Classificação Decimal Universal (CDU), os almanaques ocupam a Classe 0 - Generalidades, posicionados próximos à “subclasse 058 - Anuários. Anais. Outras publicações anuais”, ocupando a “subclasse 059 - Calendários. Almanaques. Essa vizinhança classificatória é coerente com a origem e o perfil dos almanaques populares em geral, os quais conservaram ao longo dos séculos um forte elo com os calendários e anuários, sendo considerados seus contemporâneos ou substitutos. KRIKORIAN (2010), por exemplo, identificou dois tipos de produções anuais em almanaques do séc. XVIII na França: obras mais extensas que contêm um número maior de informações; e os "calendários murais", que fornecem num espaço mínimo as informações necessárias. A autora realizou o estudo "A mesa do rei no imaginário popular: as refeições de Luís XIV nos almanaques" sobre os calendários murais no século XVIII, na França, onde as figurações sobre o rei, assim como o calendário anual, são dirigidos ao meio popular e à pequena burguesia. A história contada em imagens e pequenos textos explicativos servia ao uso do público iletrado como uma ferramenta popular de política e de propaganda do reinado, disputando espaço com os primeiros tabloides, os quais forneciam conteúdos semelhantes aos dos almanaques murais, porém dirigidos a um público letrado, instruído.

Adam (2001) realizou uma pesquisa sobre as temáticas dos almanaques toulousianos publicados no século XVIII, a qual revelou uma variedade de temas e saberes veiculados nesses quase documentos: calendário, informações práticas, anuários, informações sobre a cidade de Toulouse e sobre o Languedoc, sobre as ciências, a geografia, a história, informações práticas e diversas, entre outras. Essas pesquisas comprovam o que outros estudos sobre os almanaques têm revelado: a sua feição compósita mesclando saberes populares, informação científica, literatura e poesia, curiosidades, receitas culinárias, conselhos e ensinamentos de saúde, crendices e religiosidades, humor, jogos. Em suma, o que tem permanência e movimento na vida, em todos os tempos.

No campo de estudos da comunicação, Pellegrini Filho (2009) realizou uma ampla pesquisa sobre a comunicação popular escrita em 107 países, coletando 14.014 registros de campo sistematizados em 22 classes e 40 temas e subtemas. Nesse amplo repertório os almanaques aparecem na Classe B - Brochuras populares. O autor lembra que os almanaques tiveram considerável utilidade na vida de populações rurais e urbanas, principalmente na Europa, sendo que alguns títulos ainda permanecem, mantendo assuntos de interesse geral - feiras anuais, prognósticos do clima, informações sobre agricultura e criação de animais, calendário, astronomia, informes relativos ao governo e assuntos gerais (p. 145). Desse modo, esses livretos se inscreveriam no conjunto de brochuras populares que foram publicadas desde o século XV na Europa, distribuídas por comerciantes viajantes (na França, os colporteurs), cujo apogeu se deu no século XVIII com os ideais do Iluminismo de reunião e disseminação dos saberes produzidos, e da Revolução francesa, um período de intensa agitação social e política. Esse era um quadro favorável à expansão de numerosas publicações de contestação ao antigo Regime, dentre elas os almanaques.

No domínio da história, pensadores da história cultural (Peter Burke; Roger Chartier; Robert Darnton; Carlo Ginzburg) formularam métodos histórico-etnográficos para o estudo das sociedades e das culturas, com foco no modo como as pessoas comuns formulavam ideias sobre o mundo por meio de histórias, festas, cerimônias, crendices, religiosidade, desde a Idade Média até o Renascimento e o Iluminismo. Dessa forma, vieram a contribuir para uma fundamentação sobre o modo de existência dos escritos populares que circulavam pelos países principalmente da Europa, quem eram seus leitores, editores, mediadores. E de que forma indicam, mais do que a diferenciação entre uma cultura superior e outra inferior, um movimento de "circularidade da cultura" (GINZBURG, 1989), uma abordagem relevante para pensar sobre as diferenças culturais e os fluxos dos variados elementos culturais no contexto de uma sociedade, contribuindo para o exercício de uma ruptura com a ideia de divisão entre formas culturais superiores ou eruditas e inferiores ou populares.

Nesse sentido, ao selecionar narrativas de camponeses contadores de histórias, plebeus ou pequenos burgueses do século XVIII na França, Darnton (2015, p.143) analisa de que forma intelectuais e pessoas do povo vivenciavam e lidavam com problemas comuns, reproduzidos em escritos ficcionais ou não-ficcionais cheios de "descrições", guias, almanaques e relatos feitos por amadores sobre, entre outros temas, monumentos, vida cotidiana, disputas sociais, celebridades locais.

No Brasil, além dos almanaques gerais, os mais populares são os almanaques de farmácia, de ampla divulgação e uso nas primeiras décadas do século XX, até os anos de 1970, patrocinados por laboratórios farmacêuticos. Estudos realizados no país (PARK, 1999; CASA NOVA, 1996; MEYER, 2001; GOMES, 2006) mostram o interesse dos laboratórios farmacêuticos brasileiros e estrangeiros na promoção dos seus produtos, por meio da produção e circulação de almanaques, alcançando amplas tiragens que atingiam o milhão de exemplares, com distribuição gratuita ou para o freguês que adquiria medicamentos nas farmácias em todo o território brasileiro. Além da publicidade de medicamentos para doenças e de produtos para o embelezamento feminino e masculino, da mesma forma que as espécies seculares de almanaques, também difundiam tradições culturais que repetem provérbios, adivinhas, crendices, festas e mais, as informações úteis, os calendários agrícolas, religioso e cívico. Servia como veículo de educação, sobretudo sanitária, para adultos e para o ensinamento das crianças, registrando conselhos para uma vida saudável, a higienização e a construção de um país trabalhador. O Almanaque do Biotônico Fontoura, publicado desde os anos de 1920, é representativo das redes que se formavam entre farmacêuticos, editores, escritores. Monteiro Lobato foi o intelectual mais importante nesse cenário. Amigo pessoal do farmacêutico e industrial Cândido Fontoura, foi o responsável pela idealização – e confecção – do exemplar inaugural (1920) do Almanach do Biotônico. Sua efetiva contribuição, porém, viria com a adaptação para a publicidade de seu controvertido personagem ‘Jeca Tatuzinho’, símbolo do homem do campo indolente e doente, que ao usar o Biotônico se tornaria belo, forte e saudável (GOMES, 2006).

Os almanaques serviam dessa forma para a promoção da saúde pública por meio do higienismo, além dos contrapontos e comparações com os modelos de saúde “... o homem (camponês) triste, doente e, logo em seguida aconselha-se o uso do Biotônico Fontoura. Mostra-se uma mulher doente e, em seguida, o que ela deve fazer para ser saudável e bela" (CASA NOVA, 1996, p. 73). Dessa forma, os almanaques de farmácia serviram como auxiliares para a circulação de ideias sobre medicina social, medicina sanitária, saneamento básico e reurbanização: "Mais do que isso, a raça brasileira precisava ser moldada para trilhar o caminho da civilização. O almanaque de farmácia traz em seu bojo a medicalização do espaço urbano-rural, trazendo uma política higienista, com normas de conduta individual e social" (PARK, 1999, p. 77).

Outro formato de repercussão no país, sobretudo no Nordeste, mas em outras regiões, trazido pelos colonizadores portugueses, é o Lunário Perpétuo de Gerônimo Cortês, publicado primeiramente em Valência, em 1594, pelo astrólogo Gerónimo Cortés, e reeditado inúmeras vezes ao longo de séculos, com variações em seu título e conteúdo. Sua primeira edição em português na data de 1703. Contém todos os conteúdos e seções próprios aos almanaques gerais, os quais serviram de inspiração aos artistas populares na criação de suas canções, poesias e emboladas. Funcionou ainda como um compêndio de medicina popular, contendo conhecimentos da medicina astrológica e hipocrática trazidos pelo colonizador europeu, ou seja, "um conjunto de saberes e práticas preservados pela tradição, os quais teriam sempre um espaço na cultura dos povos, muito antes do advento da medicina acadêmica" (ALMEIDA, 2012).

Configura-se, assim, o almanaque, como uma publicação de ampla circulação, promotora de práticas de leitura e escrita, construída a partir de elementos textuais cujas características se situam nas fronteiras entre as formas de sistematização científica, apropriadas pela concepção popular de “informação útil”. E servindo, ao mesmo tempo, como espaço de expressão da cultura popular naquilo que esta conserva, cria e recria do mundo da vida, da ciência, das mídias. (MARTELETO, DAVID, 2014).

3 Bibliografias

De acordo com Meyriat (2001), a bibliografia constituiu-se gradualmente, desde a Antiguidade, sobretudo a partir do Renascimento, segundo a história traçada por Malclès: "Tratando-se da descrição das unidades impressas, o grande princípio é o de que em cada caso ela deverá se adaptar ao objetivo visado" (p. 386), isto é, ao perfil do público que utilizará a bibliografia. O autor assinala que as bibliografias dirigem-se a todas as ciências e são também necessárias ao trabalho dos profissionais da biblioteconomia. Podem funcionar ainda como uma fonte de dados para as pesquisas históricas ou sociológicas, além de servir aos métodos bibliométricos.

Autores contemporâneos no Brasil e outros países têm procurado rever e ampliar a compreensão sobre os métodos bibliográficos e os seus produtos - as bibliografias – de modo a perceber as mudanças ocorridas em torno das produções escritas e a sua diversidade, para além do formato livro. Mckenzie (2018) considera que a bibliografia não deveria mais se pautar apenas pela descrição, nem mesmo pela edição, mas pelo estudo histórico da produção e do uso dos livros e outros documentos, sugerindo que a bibliografia se recomponha, sem perder a sua essência, como uma "sociologia dos textos" , ou seja, como a disciplina que estuda textos enquanto formas registradas e os processos de sua transmissão, incluindo sua produção e recepção. Dessa forma:

[a bibliografia] considera textos que não estão em livros, suas formas físicas, versões textuais, transmissão técnica, controle institucional, a percepção de seus significados e seus efeitos sociais. Considera uma história do livro e, na verdade, todas as formas impressas, incluindo todos os textos efêmeros, como registro de mudanças culturais, seja na civilização de massa ou em cultura minoritária. (Mckenzie, 2018, p. 26).

Segundo Crippa (2015), em sintonia com outros estudiosos da bibliografia nos cenários brasileiro e internacional mais recente, esse campo de estudos e práticas não se limita mais à descrição dos documentos, mas ocupa-se do estudo histórico de sua produção e uso, buscando meios para estudar os motivos, tanto quanto as formas técnicas e sociais de transmissão, circulação e apropriação de documentos em seus múltiplos formatos. Essas revisões estendidas a respeito do tema são necessárias e relevantes para compreender a forma como as bibliografias consideram os almanaques, ou seja, se as mesmas alcançam uma compreensão histórica interpretativa e situada sobre essas brochuras populares e seus modos de criação, circulação, apropriação e uso.

Apresentam-se a seguir algumas bibliografias de almanaques a fim de buscar pistas para o que nos interessa, qual seja, o papel e o lugar dos almanaques no movimento da cultura e da sociedade do seu tempo, quem são os atores que se movimentam nas redes de saberes e ideias que se formam em torno dessas formas documentais populares.

Entretanto, importante lembrar que para serem produzidas, as bibliografias necessitam que tenham vida e estejam disponíveis e acessíveis os seus ingredientes de trabalho, ou seja, os documentos em suas variadas formas. No tocante aos almanaques, essa é uma dificuldade maior ou menor, dependendo do papel dos almanaques em cada sociedade, como e quanto foram circulados, lidos e apropriados, como e se foram guardados e preservados por instituições e colecionadores.

No Brasil, Park (1999, p. 25) observa, em sua pesquisa sobre as práticas de leitura dos leitores de almanaques de farmácia, que a busca exaustiva de almanaques realizada em museus, sebos, Internet, arquivos e bibliotecas "pode permitir a afirmação de que esse material, com raríssimas exceções, como a Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, não foi considerado válido para merecer uma preservação institucional sistemática".

No importante acervo da Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin encontram-se 48 exemplares de almanaques com títulos variados, relativos a cidades e estados brasileiros, almanaques literários, de jornais. O título mais presente é do Almanach litterario paulista editado por José Maria Lisboa, dos séculos XIX e XX, além do Almanak administrativo, mercantil e industrial do Imperio do Brazil. Faz parte da coleção a obra Os primeiros Almanaques de São Paulo (1983), organizada pelo Convênio Imesp/Daesp, contendo a edição fac-similar dos almanaques de 1857 e 1858 e uma introdução sobre o tema, além de uma bibliografia dos almanaques editados em São Paulo no século XIX, de autoria de Ana Maria de Almeida Camargo, contendo 113 referências feitas pela autora (CAMARGO, 1983).

O Colóquio Internacional Os Almanaques Populares: Da Europa à América - Gênero, Circulação e Relações Interculturais, realizado em Campinas e em São Paulo, em 1999, resultou em uma exposição de almanaques brasileiros na Fundação Memorial da América Latina, a partir da reunião de exemplares recuperados com estudiosos, em bibliotecas e coleções particulares, a qual posteriormente resultou num catálogo organizado por Meyer (2001), publicado em formato de livro com o título Do almanak aos almanaque, estruturado de acordo com as duas grandes seções da exposição: almanaques gerais e almanaques de farmácia. Cada título é ilustrado com frontispícios, páginas selecionadas, entremeados de textos escritos por estudiosos de almanaques ou retirados dos próprias páginas dos exemplares do catálogo.

Abrãao Zacuto, que aparece no título da bibliografia, foi um astrônomo e astrólogo nascido em Salamanca, reino de Castela, em 1450. Inventou o astrolábio e as tábuas astronômicas, publicou durante anos o Almanach Perpetuum contendo conselhos, calendários com santos de cada dia, orientações úteis às atividades e ao imaginário social e às aplicações técnicas da época dirigidas aos navegantes espanhóis e portugueses daquele tempo sobre as viagens em terras de além mar. Os títulos variados de almanaques contidos na bibliografia, segundo a apresentação feita por Lisboa (2002, p. 11-23) dão conta da variedade e da abundância produtiva desse tipo de publicações em Portugal, das censuras impostas pela Igreja, à medida que os almanaques passavam a incorporar em seus conteúdos, além dos provérbios, conselhos e prognósticos, certas informações científicas a partir do século XVI:

Se podemos falar de fortunas desencontradas, de críticas violentas, de chiste e de desconsideração, de um estatuto que não as faz constar em catálogos e inventários, o certo é que essas brochuras gozaram ao longo dos tempos de uma muito larga procura (Lisboa, 2002, p. 14).

Assim como em outros países da Europa, é intensa a disputa e a competição entre o grande número de autores, editores, impressores e ainda a concorrência entre os diferentes almanaques, principalmente a partir do século XVIII. A esse conjunto juntam-se os almanaques jocosos, que fazem paródias com os títulos e conteúdos dos prognósticos sérios, como lembra Lisboa (2002, p. 18): normalmente os autores dos conteúdos sérios terminam seus textos dizendo que " 'o que deixa dito é verdade, salvo vontade de Deus que tudo pode'. O "Cosme" dirá que os seus vaticínios são errados, salvo vontade de Deus, que está sobre todos. Ou seja, Deus poderia querer que a mentira se transformasse em verdade."

Dessa forma, sendo perseguidos, ridicularizados muitas vezes, considerados como literatura ou documento menor, alimentavam e alimentam até hoje, em Portugal e pelo mundo, a circulação de saberes e ideias. Dentre outros títulos, continuam a ser publicados e a circular pelo país o Borda d’Água - (Repertório útil a toda gente) contendo todos os dados astronômicos e religiosos e muitas indicações úteis de interesse geral. É produzido pela Editora Minerva desde 1929, vendido em pequenos comércios, quiosques de jornais e por vendedores ambulantes. E o Almanaque Bertrand, produzido e vendido pela livraria do mesmo nome, desde 1899.

BOTREL (2006), historiador francês estudioso da cultura espanhola dos séculos XIX e XX, produziu uma espécie de guia para a elaboração de bibliografias dos almanaques e calendários dos séculos XIX e XX na Espanha. Da mesma forma que outros autores, lembra que os almanaques, apesar de fazerem parte dos impressos com maior difusão e uso compartilhado, não são em geral conservados, apesar de serem, pela sua longa existência (mesmo antes da imprensa) um indicador por excelência do compartilhamento social das formas escritas, mesmo em regiões ou províncias da Espanha onde não existiam as condições para o acesso à cultura escrita.

Para o historiador da cultura que quer se valer dos almanaques e outros impressos populares em seus estudos, é preciso empreender um trabalho quase arqueológico em pesquisas regionais em todo o território. O caminho metodológico se iniciaria pelo conhecimento do objeto a ser estudado, fazendo a sua descrição de acordo com uma pauta que considere não apenas as suas características bibliográficas tradicionais, “como, de acordo com a moderna bibliografia material, a materialidade do suporte, o paratexto e o próprio texto, a fim de se interrogar sobre os possíveis usos, partindo do externo ao mais profundo, do conjuntural ao diacrônico”. (BOTREL, 2006, p. 36).

Algumas buscas realizadas na biblioteca virtual Gallica, da Bibliothèque Nationale de France, e na Bibliothèque d'Étude et du Patrimoine, em Toulouse, indicaram uma grande quantidade e variedade de almanaques, anuários, calendários em suas coleções raras, além de títulos correntes publicados regularmente em diversas regiões da França. Dentre o número expressivo de repertórios bibliográficos sobre os almanaques e seus congêneres editados na França, citam-se como títulos representativos Les Almanachs français: bibliographie-iconographie, organizado por John Grand-Carteret (1896) e Les Almanachs bordelais du XVIè au XIXè siècle (bibliographie historique), de Ernest Labadie (1917).

Grand-Carteret (1896) dedicou-se por quatro anos, junto a colaboradores, à produção de uma ampla bibliografia-iconografia de impressos populares: almanaques, anuários, calendários, cancioneiros, étrennes, états, horas, listas de livros de endereços, quadros ou pranchas e outras publicações anuais editadas em Paris entre 1600 e 1895. A obra contém 800 páginas, é ilustrada por cinco pranchas em cores e 306 vinhetas: cartazes, encadernações, títulos e figuras de almanaques. Para demarcar os tipos de publicações consideradas em sua vasta obra, Grand-Carteret (1896, p. XVIII) observa que os almanaques e os anuários são as duas formas do livro destinado a rememorar os fatos passados, a trazer, anualmente, as informações e os documentos necessários a todas as classes da sociedade ou a grupos especiais de cidadãos. Para tanto, o bibliógrafo acredita:

“... ter dado a nota justa, encontrado a forma precisa do que deve ser a bibliografia; não mais uma nomenclatura seca, árida, não mais uma simples inscrição sobre uma espécie de registro ad hoc, mas sim uma análise. Uma descrição do assunto das gravuras, uma apuração completa do texto, com a reprodução das passagens curiosas que poderiam apresentar interesse para a história, os hábitos e os costumes; um apanhado vivo, colorido, uma verdadeira fotografia [...] ocupando de certa maneira o lugar do próprio objeto para aquele que não o possui ou não poderia vê-lo.” (Grand-Carteret, 1896, p. XII).

A bibliografia histórica e comentada dos almanaques bordoleses publicados entre os séculos XVI e XIX, Les almanachs bordelais du XVIe au XIXe siècle (bibliographie historique) organizada por Ernest Labadie (1917), atesta a vocação regional dos almanaques e outras publicações próximas na França, e por isso mesmo das próprias bibliografias. Compreende uma centena de séries diferentes de almanaques, formando uma coleção de mais de 1.500 referências, recuperadas em bibliotecas e arquivos públicos, além de coleções particulares, portanto dispersas em diversos acervos. A obra, dividida por séculos, mostrando a variação na composição dos conteúdos e da rede de autores, editores, impressores, leitores, colecionadores ao longo do tempo, é dirigida aos estudiosos da história local da região de Bordeaux, França. Contém um frontispício e doze fac-símiles de títulos de almanaques e dois índices: dos títulos dos almanaques; dos impressores, livreiros e editores. Cada seção é aberta com um texto referente ao contexto histórico da produção e circulação dos almanaques do século tratado, e cada referência fornece, além da catalogação descritiva, um texto-resumo de cada almanaque.

O autor finalmente observa que, apesar da liberdade de imprensa e das livrarias, ou mesmo por conta dessa liberdade, que criou uma concorrência sem limites entre os produtores de almanaques, dos 30 títulos de almanaques citados na bibliografia para o período entre 1870-1900, apenas 4 quatro ou cinco sobreviveram, os demais desapareceram.

4 Os almanaques e suas coleções - a coleção da família Carneiro Rezende

Como temos visto, para estudar ou consultá-los, estudiosos, curiosos e bibliógrafos dos almanaques têm recorrido a coleções institucionais e muitas das vezes particulares, devido à falta de práticas e políticas de coleta, conservação e tratamento desses documentos pelas bibliotecas, arquivos ou museus no país. Algumas referências dão conta da existência de coleções de almanaques de farmácia em laboratórios que mantêm um acervo de títulos editados, como o Catarinense, que publica o Renascim Sadol, e o Kraemer, que edita o Almanaque Iza (PARK, 1999). Existem indicações sobre o acervo do Almanaque do Biotônico Fontoura, sob a guarda do laboratório Brainfarma Indústria Química e Farmacêutica S.A, fabricante do produto. Além dessas coleções particulares esparsas, a Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, dentre outras, conservam títulos de almanaques em seus acervos. Consultas na Internet apontam para blogs de leitores e colecionadores de almanaques.

A fim de aprofundar a reflexão sobre coleções de almanaques no país, Dourado (2017) estudou em sua tese de doutorado a coleção particular da família Carneiro Rezende, inaugurada pelo seu patriarca no início do século XX, o qual se instalou em 1902 na região de Ipameri, sudeste do estado de Goiás, onde construiu e expandiu a fazenda do Britto, embrião do desenvolvimento da cidade e seus arredores. Nesse período estradas de ferro eram construídas, porém ainda se enfrentavam problemas de mobilidade, devido à falta de meios e caminhos, sendo o transporte a cavalo o único existente. Devido a essas dificuldades de mobilidade, os impressos como jornais e outros não chegavam ao interior do país e o almanaque torna-se um dos únicos meios de informação na zona rural, devido às suas grandes tiragens e distribuição gratuita pelas farmácias. Carneiro (2015), atual guardador da coleção da família, observa que morando na zona rural, o objeto de informação, o veículo de informação que se tinha era o almanaque. Não tinha rádio, estava apenas começando e longe de chegar à zona rural:

As pessoas ficavam ansiosas para já no início do ano irem à cidade mais próxima. Tinha que comprar alguma coisa na farmácia, quase sempre tinha que comprar e ganhava o almanaque e a folhinha, o calendário. O almanaque trazia, de acordo com os tempos, informações importantes sobre agricultura, pecuária, fases da lua: o plantio pode ser feito na lua nova, como é o corte da madeira, a lua regula isso, se cortar a madeira na lua nova, você vai ter uma madeira sem caruncho. Então essas instruções todas e, é claro que recheados de vendas de produtos farmacêuticos. (CARNEIRO, Entrevista I, 2015).

Em 1906 José Carneiro de Rezende adquire seu primeiro almanaque, um exemplar do Almanak do Dr. Richards e dá início à coleção. Toda a família possuía algum envolvimento com os almanaques como leitores, catadores[2] e guardadores. O colecionador demonstrou o valor dos almanaques para os seus filhos, ensinou-os a importância de guardá-los e utilizá-los, seja como fonte de informação ou de entretenimento. No ano de 1945 veio a falecer, deixando a coleção de almanaques como um legado para sua família. E assim a coleção foi repassada em diferentes gerações da família, até ficar sob a guarda de Hamilton Carneiro, publicitário que mantém um programa televiso, Frutos da Terra, há mais de 30 anos, na TV Anhanguera, de Goiânia, mostrando diferentes tradições da cultura do Cerrado brasileiro.

Seu interesse pelos almanaques iniciou-se desde a infância, quando ainda menino buscava os almanaques, a mando de seu pai. Além dos almanaques que seus pais adquiriam, Hamilton, quando criança, tomou conhecimento dos almanaques mais antigos do bisavô, guardados numa cômoda junto a objetos de valor e se interessou.

“Bom, aí quando me deparei com a coleção do meu bisavô, que eu nem cheguei a conhecer, ele guardava isso numa cômoda. Uma coisa muito bem guardada, os livros dele. Aí comecei a ver os almanaques, não só os mais recentes, mas esses antigos. Me interessei, comecei a folhear todos” (CARNEIRO, Entrevista I, 2015).

O interesse do Hamilton em guardar a coleção está associado ao seu trabalho com comunicação, para mostrar a importância do almanaque como veículo de informação e pelo interesse no uso das informações históricas contidas nos almanaques. Além da carga afetiva que a coleção carrega, pois afirmou que essa coleção de almanaques o inspirou a colecionar, e que seu bisavô, José Carneiro de Rezende, deixou enraizada a cultura de almanaques nas várias gerações da família ao longo de cem anos.

O acervo é composto por 55 títulos e 241 exemplares de almanaques que formam a coleção no período de 1906 a 2014. Estão conservados no estúdio de publicidade do guardador, em Goiânia, organizados por ano e compostos, em sua maioria, por almanaques de farmácia. Com a análise da coleção, constatou-se que os almanaques tiveram usos diversificados pelo colecionador e seus familiares.

Foram identificados rastros de leitura por meio dos vestígios e de usos deixados nos exemplares, abrangendo anotações manuscritas, sinalizações à caneta e receitas culinárias digitadas, impressas e grampeadas nas páginas dos exemplares. A análise desses rastros de leitura e dos usos do almanaque permitiram perceber quais os assuntos eram mais relevantes para o colecionador, com destaque para anedotas, poesia, saúde, astronomia, predições, passatempos, curiosidades, clima, religião e agricultura. Além das anotações sobre o conteúdo, o colecionador escreveu frases como "O que é dado não se come e nem joga fora, poristo guardo meos almanacks" no Almanaque do Biotônico de 1920; ou "Quem guarda tem, porisso guardei" no Almanaque Ross de 1926, demonstrando o valor dos almanaques e a importância de guardá-los.

Os rastros em marcas de leitura mostraram que os almanaques foram amplamente utilizados pela família, pois foram encontradas várias assinaturas dos membros da família ao longo dos anos. Crianças utilizaram os almanaques para a leitura e entretenimento e os jovens os utilizaram como apoio didático. Seu atual guardador utiliza os exemplares, como vimos, como fonte de informação histórica e cultural para o seu programa de televisão Frutos da Terra. Utilizou também as receitas culinárias dos almanaques no seu programa, para tanto datilografava/digitava e grampeava ao almanaque para facilitar a leitura e a gravação. Hamilton também fez sinalizações com setas em receitas culinárias e conselhos domésticos, além das dicas de saúde contidas nos exemplares.

Pode-se constatar que as diferentes apropriações e usos que o colecionador, utilizadores, leitores e guardadores fizeram da coleção, caracterizam o almanaque como documento de informação e comunicação popular escrita, comprovando seu valor informacional, comunicacional, social, histórico e cultural e sua relevância para a formação e instrução pragmática da vida popular e para a circulação dos saberes. Quanto à continuidade e guarda da coleção, seu guardador, como outros, aguardam a sua acolhida, tratamento e conservação por uma instituição cultural e de memória, como bibliotecas, arquivos ou museus.

5 Conclusão

No início desse trabalho, cujo objetivo é realizar algumas reflexões a respeito do significado cultural, histórico, social e documental dos almanaques, indagamos a respeito da razão da guarda ou não guarda desses quase documentos tão lidos, circulados, editados, disputados em cada tempo de sua produção e permanência, na sua ampla diversidade. O que levaria à sua rememorização e, ao mesmo tempo, ao seu esquecimento no passar do tempo?

As bibliografias, coleções e repertórios analisados mostram que para a manutenção da memória e do valor documental dos almanaques e de outros impressos populares, é importante registrar o seu papel de mediadores de saberes e informações, dispositivos de informação-documentação, ouvindo seus gestos de escrita e leitura, representados em redes de coletivos híbridos de autores, editores, impressores, colecionadores e, principalmente, leitores. Para tanto é oportuno e necessário, no campo informacional, buscar a complementação entre arquivos e teorias, o empírico e o analítico, combinando a pesquisa documental e o trabalho de análise no estudo social da produção do conhecimento, seus nexos, contextos, contingências, redes, estruturas culturais, poderes, tensões, conflitos. É o que se pode denominar de processos de circulação dos objetos culturais.

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Notas

[1] Este artigo está baseado em resultados do projeto de pesquisa “Documento, mediações e narrativas: processos info-comunicacionais nas práticas e escritas populares em saúde”, sob a coordenação de Regina Marteleto, com apoio do CNPq/MCTIC; e da tese de doutorado “O almanaque enquanto documento de informação e comunicação popular escrita: a coleção da família Carneiro Rezende". Rio de Janeiro: PPGCI/IBICT-UFRJ, 2018, de autoria de Stella Dourado.
[2] O termo “catador” foi utilizado por Hamilton Carneiro durante a entrevista realizada em 2017, para falar sobre seus familiares que buscavam os almanaques nas farmácias durante o período de formação da coleção.

Autor notes

Doutora; Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil;

regina.mar2@gmail.com

Doutora; Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil;

sdourado1@gmail.com

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