Recepción: 27 Marzo 2020
Aprobación: 07 Julio 2020
DOI: https://doi.org/10.19132/1808-5245271.403-429
Resumo: Este estudo discute como as questões LGBT têm sido alvo de comentários em blogs, suscitando discursos opressores ao mesmo tempo em que favorecem contradiscursos de resistência que dão visibilidade positiva às dissidências de gênero e de sexualidade. Diante desse paradoxo, o objetivo foi investigar, em dois blogs do sertão pernambucano, interações virtuais que confirmam essas relações de força. Empregando a análise foucaultiana do discurso, verificaram-se, principalmente, a influência do discurso de moral cristã, conjugado ao da moral biológica, e a valorização de práticas discursivas que assujeitam os indivíduos à heterossexualidade compulsória e que privilegiam a biologia em detrimento de questões culturais e sociais. De outra parte, o exercício da resistência demonstrou comportamentos menos hipócritas e defendeu a inclusão da inteligibilidade LGBT nessas ordens discursivas. Conclui-se que os blogs são dispositivos em que os discursos passam a ser cada vez mais instrumentalizados conforme os interesses. Ademais, estimula-se o debate sobre a importância dos comentários na perpetuação de valores conservadores e suas repercussões sociais e políticas.
Palavras-chave: Blog, Sertão pernambucano, LGBTfobia, Análise foucaultiana do discurso.
Abstract: This study discusses how LGBT issues have been the subject of comments on blogs and how, as such, they have elicited both oppressive discourses and at the same time resistant counterdiscourses that raise the visibility of non-normative gender identities and sexualities. The study used Foucauldian discourse analysis to investigate, on two blogs from the interior of the northern Brazilian state of Pernambuco, virtual interactions that reflected those power relations. Discourses preaching traditional Christian values, discourses emphasizing biology over cultural and social issues and discourses seeking to enforce heterosexuality were found to be influential. On the other hand, the exercise of resistance exhibited less hypocritical behavior and supported the inclusion of LGBT intelligibility in these discursive orders. The findings of the study show blogs as means of communication in which discourses are increasingly put to the service of particular interests; furthermore, they also highlight the importance of social media comments to the perpetuation of conservative values, as well as their social and political repercussions.
Keywords: Blog, Pernambuco, LGBT-phobia, Foucauldian discourse analysis.
1 Introdução
Tendo se tornado comum a prática de oferecer aos leitores, em sites e blogs de notícias, condições para interação por meio dos comentários sobre o conteúdo (SAMPAIO; BARROS, 2012), é importante frisar, tendo como exemplo os fóruns online abertos, conforme Johnson-Eilola e Selber (1996), que esses discursos da seção de comentários em blogs e sites também escrevem a todos, uma vez que essa produção selecionada, organizada, controlada e redistribuída obedece a procedimentos que determinam o que pode ser dito em cada momento histórico (FOUCAULT, 2004) e que incidem sobre a pessoa como efeitos da linguagem que as sujeitam os indivíduos ao discurso (SALIH, 2015).
Logo, a noção de que a internet seja uma ferramenta de libertação é falsa, visto que as interações no ciberespaço ensejam opressões hegemônicas por meio do modelo panóptico (BRIGNALL, 2002), segundo o qual técnicas disciplinares favorecem o controle social ao vigiar os corpos continuamente e submetê-los a punições e recompensas (FOUCAULT, 1977). Por outro lado, o ciberespaço também favorece a grupos silenciados, como lésbicas, gays, bissexuais e transexuais (LGBTs), a elaboração de contradiscursos, os quais lhes dão visibilidade positiva (JESUS, 2012). Esses grupos, por meio da sua voz, violam o código estabelecido, rejeitando definições, negociando parâmetros do que é imposto pelos outros e promovendo resistências (GUITTAR; CARTER, 2014).
Nesse contexto, a pesquisa sobre LGBTfobia no ciberespaço tem se articulado a diversas perspectivas, como a interseccionalidade de sexo e gênero com raça e imigração (BARRETT, 2020; DAVIDSON, 2020; WANG, 2020); o discurso de ódio atrelado ao conservadorismo religioso (NATIVIDADE; OLIVEIRA, 2008; FEITOSA; MORATO, 2018; CARVALHO; LIONÇO, 2019; CUNHA; MARIANO, 2020); a afirmação de identidade e gênero (ADELMAN; PIRES, 2015; ROST-BANIK, 2020) e a vulnerabilidade a ataques (MOREIRA; BASTOS; ROMÃO, 2012; CAVALCANTE, 2019; PASCOE; DIEFENDORF, 2019). Apesar do amplo interesse no tema LGBTfobia no ciberespaço – isto é, em investigações centradas nas discursividades veiculadas com cunho discriminatório ante orientações sexuais e identidades de gênero dissidentes (ANDRADE, 2019) –, emerge a necessidade de abordar também a produção de resistências, as quais foram demonstradas em escassos estudos, como os de Chojnicka (2015), Strand (2019) e McKenna e Chunghtai (2020).
Ademais, dada a carência de estudos no sertão nordestino sobre estereótipos que reforçam o preconceito contra LGBTs e que se encontram nos comentários dos blogs, objetiva-se com este estudo analisar as formulações de caráter discriminatório observadas em seções de comentário de blogs pernambucanos, visto que esses espaços também oportunizam resistências. Entende-se que olhar para o ciberespaço pernambucano permite investigar a cultura local brasileira, que ainda é marcada por discursos machistas, que, articulados a preceitos religiosos, contribuem para a exclusão da população LGBT (FEITOSA, 2019).
Após identificarem-se, em dois blogs no sertão pernambucano, as postagens mais comentadas pelos sujeitos navegadores em Silva (2018) e Britto (2017), empregou-se a análise foucaultiana do discurso (FOUCAULT, 2007; 2014) para problematizar como falas se constituem para sustentar os discursos que prescrevem normas e produzem efeitos de verdade. Para tanto, analisou-se um corpus textual formado dos comentários extraídos dos blogs supramencionados.
Este texto divide-se em seis seções, incluindo esta introdução, que é a primeira delas. Na segunda, reflete-se sobre a relação do ciberespaço com a questão LGBT. Na terceira, contextualiza-se a LGBTfobia no sertão pernambucano. Na quarta, discute-se a análise foucaultiana do discurso. Na penúltima, simultaneamente, os dados são analisados e discutidos. Por fim, apresentam-se as considerações finais.
2 Ciberespaço e a questão LGBT
Comentários de leitores no ciberespaço são um dos modos de que se dispõe para discutir (e exprimir reações) a acontecimentos (SAMPAIO; BARROS, 2012). Porém, o imaginário de tudo poder dizer cria espaços de intolerância a determinados grupos, o que tem sido facilmente encontrado nas redes (MOREIRA; BASTOS; ROMÃO, 2012). Tal intolerância torna-se um dos meios para reproduzir e naturalizar aspectos hegemônicos da sociedade. É também nesses espaços que resistências são promovidas por vozes dissonantes que ecoam realidades múltiplas, permitindo ao leitor contato com valores diferentes daqueles que vivencia e provocando tensões nos discursos dominantes (BIROLI, 2011).
A fissura da hegemonia, mesmo que subestimada ao menor grau de legitimidade (BIROLI, 2011), também abre espaço para violências LGBTfóbicas, que organizam modos de vida baseados na heterossexualidade compulsória (SALIH, 2015). Esse processo reifica e subalterniza determinados grupos sociais, carregando em si violências simbólicas que extrapolam a liberdade de expressão e que são capazes de gerar efeitos negativos, como a internalização de valores depreciativos (CARVALHO; LIONÇO, 2019).
Dado que nas interações online, julgamentos e críticas ao comportamento “desviante” reforçam comportamentos aceitáveis segundo normas coletivas (GUITTAR; CARTER, 2014), a própria visibilidade pode tornar-se uma armadilha (OKSALA, 2011), já que, no modelo panóptico, cada indivíduo passa a ser o seu próprio agente de opressão, não controlando tanto quem o estará observando, avaliando e comparando, mas em qual momento o fará (FOUCAULT, 1972).
Assim, a internet torna-se meio de propagação de novas formas de violência e, em se tratando de temas relacionados a gênero e sexualidade, de discursos de ódio (NATIVIDADE; OLIVEIRA, 2008; CARVALHO; LIONÇO, 2019). As interações online podem produzir experiências de discriminação e resistência a partir de discursos LGBTfóbicos, “que resultam na discriminação e agressão às pessoas em função de sua orientação sexual e/ou identidade de gênero” (ANDRADE, 2019, p. 10).
Blogs, enquanto dispositivos discursivos,têm papel na criação do imaginário por meio do estímulo da relação do sujeito consigo e com os outros, tensionando passado e presente na construção de uma historicidade que, atravessando a todos, produz subjetivações por meio dos jogos de “verdade” a partir das experiências de si (GREGOLIN, 2007). Por dispositivos, entende-se a rede que se pode estabelecer entre práticas discursivas e não discursivas, saberes e poderes que normalizam as verdades a respeito dos indivíduos (FOUCAULT, 2007). Sendo assim, à medida que a internet se torna um fórum social, ela igualmente se torna local de controle social no qual sujeitos podem ser moldados para pensar e agir, disciplinados por interações contínuas (GUITTAR; CARTER, 2014).
Feitosa e Morato (2018), ao analisarem a sociopolítica virtual do Brasil e a tratativa da questão LGBT no país, fornecem pontos convergentes à leitura da internet como dispositivo discursivo. Os autores constatam que
[...] nações com insuficiente exercício democrático tenderão a encontrar dificuldades no discernimento, compreensão e distinção da linha tênue que separa a liberdade de expressão e o discurso de ódio. E essas dificuldades serão reproduzidas nos espaços on-line. (FEITOSA; MORATO, 2018, p. 211)
Vale ressaltar que o anonimato conferido ao sujeito em muitos dos espaços virtuais pode, por vezes, dar-lhe a liberdade para enunciar qualquer coisa na rede (FEITOSA; MORATO, 2018). O Marco Civil da Internet, oficialmente Lei nº 12.965/2014, prevê pena por desrespeito a princípios, garantias, direitos e deveres de quem usa o ciberespaço (BRASIL, 2014).
As reflexões esboçadas ilustram a operação do panóptico na internet, em que todos vigiam e são vigiados, podendo ser punidos por pares, com críticas e exclusão, ou por instâncias superiores, nas formas da lei, ou ainda pelos administradores da rede, com expulsão (GUITTAR; CARTER, 2014). A despeito das questões de legalidade, trata-se de processos singulares e relacionais, em que “construções simbólicas complexas e ordenamentos públicos [...]” estão contidos nos discursos e “[...] resultam na discriminação e agressão às pessoas em função de sua orientação sexual e/ou identidade de gênero” (ANDRADE, 2019, p. 10).
3 LGBTfobia no sertão pernambucano
O contexto pernambucano, de maneira geral, ainda reproduz uma cultura machista e homofóbica, e a questão da inclusão de gênero e sexualidade não é prioridade nas políticas de governo (FEITOSA, 2019). Ainda que tenha sido implantado o Centro Estadual de Combate à Homofobia (CECH), entre 2009 e 2010, este funcionou inicialmente com bastante precariedade e hoje corre risco de não mais funcionar devido à não priorização de repasses federais para essas políticas (ANDRADE, 2019).
Ao adentrar no interior do estado, no sertão, a questão agrava-se. Apesar da dinâmica de transformações socioculturais, ainda permanece o mito do nordestino “cabra macho”, que naturaliza a masculinidade baseada na relação homem-mulher (LIRA, 2018), reafirmando aquilo que está no imaginário nordestino: “a masculinidade e seus atributos são tão englobantes e universalizantes que até a mulher para ser respeitada tem que ser ‘mulher-macho, sim senhor’” (BENTO, 2011, p. 102).
O machismo aponta para um sistema de representação-dominação pelo qual um modelo normalizante define homem e mulher ao mesmo tempo que invalida outros modos e práticas que não convirjam para esse modelo, “reduzindo-os a sexos hierarquizados, divididos em polo dominante e polo dominado que se confirmam mutuamente numa situação de objetos” (DRUMONT, 1980, p. 82). Isso explica a frequência de posições misóginas nos discursos de ódio da internet, rebaixando seres próximos do feminino (CARVALHO; LIONÇO, 2019).
As categorias “homem” e “mulher” são construídas discursivamente dentro de uma matriz heterossexual de poder em que não há liberdade tácita para além do discurso (BUTLER, 2008), estando, portanto, no discurso a produção cultural de gênero (SALIH, 2015). Todavia, essas categorias de identidade binárias naturalizadas, a depender de como são articuladas em face do poder, podem ser compreendidas como meio de resistência, pelo qual se busca tensionar a hegemonia heteronormativa, desde que se identifique qual seria a repetição subversiva capaz de questionar a própria prática da identidade que suprime as multiplicidades (BUTLER, 2008).
Foucault (2007) considera que a sexualidade se dá no interior das matrizes de poder/discurso e a serviço de um sistema reprodutivo regulador, voltado para o controle da natalidade e produtividade em detrimento do prazer. Esse processo interfere sobre os corpos, em despropósito sexual que não julga, mas que, por meio do exame de si mesmo, produz efeitos hegemônicos sustentados pela intensidade de todos esses afrontamentos. Isso não quer dizer que não haja resistência, pois sempre haverá possibilidade de levantes do indivíduo ou do grupo. Porém, essas resistências são fragilizadas pela distribuição de poder e pela apropriação do saber (FOUCAULT, 2007).
Outro aspecto da LGBTfobia no sertão é a religiosidade, que apresenta característica “penitencial e sofredora, mística ou messiânica”, havendo forte simbolismo da cultura cristã em que os pecados podem provocar o fim do mundo (POMPA, 2004, p. 75). Por isso, estabelece-se aquilo que pode ser dito, visto e praticado em se tratando da sexualidade (FOUCAULT, 2007).
Segundo Foucault (2006), o poder pastoral age sobre os indivíduos garantindo a salvação, ensinando a verdade e a moral e controlando corpos por meio da confissão. Essa é uma característica do Estado moderno, que desenvolve tecnologias de poder visando ao controle político dos indivíduos de forma individualizante. Compreende-se que “tais discursos apresentam para a sociedade a representação da homossexualidade como uma ameaça a ser combatida, levando ao pânico moral” (CARVALHO; LIONÇO, 2019, p. 168).
Esses discursos assinalam contornos de um cenário cultural em que as respostas religiosas ao reconhecimento e à visibilidade da população LGBT são o recrudescimento de posturas de rejeição da diversidade sexual, reforçando a heterossexualidade compulsória. Todas as expressões da sexualidade que coloquem em xeque padrões hegemônicos cultivados em âmbito religioso são desqualificadas (NATIVIDADE; OLIVEIRA, 2008).
De outro modo, não há centro do poder nem centro de resistência, mas uma rede instável de práticas (FOUCAULT, 2007). É possível subverter as relações de poder a partir de emancipações particulares de diferentes estados de dominação (OKSALA, 2011). Assim, podem ser fundadas novas relações de poder com a produção de novos efeitos de “verdade” pelo afrontamento de estratégias (FOUCAULT, 2007). “Resistir através do discurso significa que os indivíduos desafiam e tentam mudar esses papéis predeterminados para produzir papéis alternativos, ou subjetividades, para si mesmos” (COOPER; SELFE, 1990, p. 851, tradução nossa) e, coletivamente, pelo entendimento de comunidade discursiva (COOPER; SELFE, 1990), esses indivíduos podem provocar reajustes sobre qual discurso é normal e aceitável.
4 Análise foucaultiana do discurso
Para operacionalizar a análise, consideraram-se os blogs Farol de Notícias e Carlos Britto como espaços privilegiados onde foram incluídos os comentários dos sujeitos navegadores. A escolha desses artefatos pautou-se, no caso do primeiro, pela “[...] repetição, no tempo, de informações sérias e relevantes e de opiniões certeiras” (SERRA, 2006, p. 6), e no caso do segundo, pelo fato de o proprietário ser um blogger já conhecido, “dotado de uma certa reputação e prestígio e que assim transporta para o blog a credibilidade que já tem” (SERRA, 2006, p. 7).
Cabe mencionar que o primeiro blog é sediado em Serra Talhada, e o segundo, em Petrolina, ambas cidades regiões geográficas intermediárias do estado do Pernambuco (IBGE, 2017). A coleta de dados ocorreu em janeiro de 2020, quando foi inserido o descritor “LGBT” para consulta de notícias do primeiro semestre de 2017 ao último semestre de 2019.
Os dados foram analisados pela identificação, nos enunciados, de práticas discursivas ancoradas nas relações de poder (FOUCAULT, 2004), não só nas respostas às notícias, como também nas interações entre internautas, que ocorrem por meio de réplicas e tréplicas de outras opiniões. A análise de dados pautou-se pelas propostas teórico-metodológicas de Foucault (2007; 2014), que buscam mostrar procedimentos exercidos interna e externamente aos discursos, bem como problematizam a hipótese repressiva da sexualidade, segundo a qual não há proibição de discursos sobre sexualidade, mas sua incitação, proliferação e regulação por meio de dispositivos.
Assim, os procedimentos externos analisados (independentemente dos discursos, destinados à exclusão e à imposição de limites à circulação de determinados enunciados), no discurso LGBTfóbico do ciberespaço pernambucano, foram: a) a interdição (em que circunstâncias os objetos de discursos têm sido interditados/limitados?); b) a separação/rejeição (como os discursos dos sujeitos têm sido silenciados e censurados?); c) a vontade de verdade (que práticas de saber disciplinam o objeto do discurso em questão?). Este último procedimento externo, prevalente sobre os dois primeiros, os fundamenta e modifica segundo seus parâmetros (FOUCAULT, 2014).
Quanto aos procedimentos internos do discurso (que classificam, ordenam e distribuem os discursos, encarregando-se de sua contínua reprodução e controle da sua dispersão e acontecimento), investigam-se: d) o comentário (de que forma relaciona-se o comentário ao discurso? Está integrado a ele ou busca subvertê-lo?); e) o autor (qual é o sujeito por trás do discurso e qual o seu status?); f) as disciplinas (que proposições são reconhecidas como verdadeiras, às expensas de outras, tornadas falsas?). É de se observar que as disciplinas agem em sentido inverso dos dois primeiros procedimentos: elas distanciam-se do comentário por não buscarem a essência do já dito, mas também, repetirem determinados enunciados, atualizando uma dada formação discursiva; as disciplinas também distanciam-se do autor, pois permitem o acesso de qualquer indivíduo anônimo às formações discursivas, isto é, “constitui uma espécie de sistema anônimo à disposição de quem quer ou pode servir-se dele, sem que seu sentido ou sua validade estejam ligados a quem sucedeu ser seu inventor” (FOUCAULT, 2014, p. 30).
Quanto às reflexões esboçadas em torno do dispositivo da sexualidade (hipótese repressiva), oportuniza-se o ato de “passar em revista não somente esses discursos, mas ainda a vontade que os conduz e a intenção estratégica que os sustenta” (FOUCAULT, 2007, p. 14), pois “toda crítica, pondo em questão as instâncias do controle, deve analisar ao mesmo tempo as regularidades discursivas através das quais elas se formam; e toda descrição genealógica deve levar em conta os limites que interferem nas formações reais” (FOUCAULT, 2014, p. 66-67). Outro pressuposto é que toda forma de exercício do poder porta, no seu bojo, também as devidas formas de resistências a ele, indicando formas de exercício da subjetividade coletivas e alternativas aos termos agenciados, por reprodução e interdição, por instituições, práticas sociais e formações discursivas.
Empregando-se a análise foucaultiana do discurso (AFD), busca-se contribuir para o campo das análises críticas esboçadas com base em Foucault, bem como agregar novas questões às reflexões centradas em torno do discurso LGBTfóbico, principalmente nos meios virtuais, capturando as especificidades desse discurso inscrito na dinâmica regional e micropolítica do sertão pernambucano.
Na próxima seção, resultados e discussão, os enunciados analisados são identificados conforme o seguinte esquema de codificação: (E1), (E2),..., (E16).
5 Resultados e discussão
Antes de apresentarem-se enunciados emergentes dos comentários, foi analisado o teor das publicações que mais repercutiram. O texto veiculado no portal Carlos Britto trata-se de publicação de gênero discursivo próximo ao da notícia, na qual se divulgou a ocorrência da Semana da Visibilidade Lésbica, entre agosto e setembro de 2017, em Petrolina (BRITTO, 2017). A repercussão dessa notícia foi de 12 comentários. O segundo texto enquadra-se como do gênero discursivo artigo de opinião, em que, no âmbito do portal Farol de Notícias, o pseudônimo “Manu Silva”, tomando por substrato reações negativas de grupos religiosos a uma performance teatral em que Jesus Cristo era representado como LGBT (SILVA, 2018), discute a incoerência dos valores da comunidade religiosa local, chegando a defender que indivíduos LGBT também se identificam com muitos dos preceitos religiosos e não deveriam ser excluídos. Em termos de repercussão, o segundo texto alcançou 123 comentários.
Em um dos parágrafos da publicação de Britto (2017), é realçada, em específico, a realização do evento “piquinique sapatônico” (sic). Compreende-se que, para o movimento LGBT, mesmo em toda a sua heterogeneidade interna, o campo discursivo é uma arena onde relações sociais de força consolidam preconceitos e discriminações. Não obstante, é também nessa arena que esses indivíduos lutam contra o agenciamento negativo de suas subjetividades. A ressignificação de ditos injuriosos torna-se pauta comum no quadro das coletividades organizadas LGBT. Esse anseio reflete-se, inclusive, na academia, quando os estudos passam a espelhar-se na vertente teórica queer, que evita qualquer forma de assimilação e propõe a radical desnaturalização do regime sexo/gênero. Por isso, valer-se da própria injúria queer é pautar-se na diferença, e não no reconhecimento, como perspectiva política (SALIH, 2015).
No caso em questão, o emprego do vocábulo insultuoso “sapatão”, por parte da própria comunidade lésbica, reforça como a apropriação discursiva depende, paradoxalmente, das injúrias, pois, se socialmente o/a “sapatão” é uma identidade abjeta, motivo de repulsa e desprezo, no léxico LGBT, legitima-se como marcador de diferença (ERIBON, 2008). Em âmbito queer, a apropriação discursiva é aquilo que busca resistir a qualquer norma e imposição cultural, mesmo que, para isso, atue de forma provocadora e instável (SALIH, 2015).
O segundo texto volta-se para uma disputa discursiva mais complexa. A liberdade de representar teatralmente Jesus Cristo como LGBT colide diretamente com a própria narrativa hegemônica – não só vigente no espectro das religiões neopentecostais, mas na própria sociedade brasileira. Nesse sentido é exemplar como instituições, práticas sociais e valores difundidos no Brasil atual, de cunho religioso, regulam a ordem social atual pela proliferação discursiva, com amparo em dispositivos regionais (FEITOSA, 2019) e até na política nacional (LIONÇO et al., 2019; NATIVIDADE; OLIVEIRA, 2008). Tratam-se de grupos conservadores que têm recrudescido reações contrárias perante qualquer levante no sentido de corrigir iniquidades sociais enfrentadas por LGBTs (FEITOSA; MORATO, 2018; LIONÇO et al., 2019). Assim, o conflito em torno da liberdade de expressão e do discurso de ódio, fundamentado na religião, exacerba-se no ciberespaço virtual brasileiro (CARVALHO; LIONÇO, 2019; FEITOSA; MORATO, 2018; MOREIRA; BASTOS; ROMÃO, 2012).
Ainda sobre o segundo texto, é sustentada a tese de que, embora existam pessoas LGBTs afastadas das crenças judaico-cristãs, há significativa parcela dessas pessoas que optam por partilhar de tal doutrina, mas que passam por uma espécie de “inquisição moderna”: são condenadas, vilipendiadas e consideradas inaptas a esses ambientes, ainda que professem sua fé aos preceitos (SILVA, 2018). O exercício da agência passa, portanto, não somente pela apropriação discursiva, mas também pela injunção à instituição religião.
Apresentam-se, a seguir, as discussões dos comentários, evidenciando que eles se encontram alicerçados em duas práticas discursivas: por um lado, a discriminação e a resistência em relação à doutrina cristã e à moral religiosa e, por outro lado, a defesa e a subversão do modelo macho x fêmea e da moral biológica.
5.1 Moral religiosa: discriminação e resistência pela doutrina cristã
A ponderação dos comentários indicou, como primeira prática discursiva, a reprodução de enunciados que visam regular o elo entre a questão LGBT e os preceitos da doutrina/moral cristã. Admite-se, à luz de estudos anteriores (CARVALHO; LIONÇO, 2019; LIONÇO et al., 2018; NATIVIDADE; OLIVEIRA, 2008), que na contemporaneidade, a moral religiosa surge como cruzada do combate à diferença sexual e de gênero, inclusive na arena sociopolítica brasileira, e que esse discurso se propaga com o auxílio de usuários da internet nos mais variados veículos virtuais.
(E1, Jesus é a verdade – Blog Farol de Notícias): Bom dia meus queridos, isso é um absurdo o que falam a respeito do todo poderoso, do reino dos ceús; pois na própria bíblia está escrito em Levítico cap. 18 vs. 22 – Nenhum homem deverá ter relações com outro homem; Deus detesta isso, Ninguém, homem ou mulher, deverá ter relações com animal; isso é uma imoralidade, e a pessoa fica impura. (Examinem as escrituras). Não debochem do criador do céus e da terra. Pra vocês que não sabem e nem tem conhecimento da verdade; o verdadeiro gay, viado, Lgbt, seja o que for é Satanás, o diabo; esse sim é quem engana a muitos e está levando milhares ao inferno. Por favor examinem as Escrituras.
(E2, SERVO DE DEUS – Blog Farol de Notícias): Bom, eu como evangélico respeito a opinião pois vivemos em um país democrático, mas como conhecedor e pregador do evangelho, não posso esquecer a palavra de Deus. Para fim de conhecimento da palavra, leiam a bíblia pois ela é a maneira que o Senhor Jesus tem de falar conosco. Aqui algumas passagens bíblicas que devemos ler a respeito do assunto: 1 Corintios 6:9-10; Levítico 20,13. Então pessoal leiam a bíblia e sirvam somente a um Deus. O Senhor Jesus nos ama.
(E3, Samara – Blog Farol de Notícias): Meu Deus, perdoa ela, porque ela não sabe o que fala . Alguém lê a bíblia pra ela por favor.
(E4, Bruno – Blog Farol de Notícias): Esse é o seu deus, um deus que não existe, não o Deus que te criou. O Deus vivo é bem diferente, o Deus revelado por Sua cognoscibilidade não é esse que você acha que é. O Deus da Bíblia não negocia com mundanismo, conceitos pessoais e filosofias humanistas. LEIA AS ESCRITURAS SAGRADAS E ELA TE LIBERTARÁ.
(E5, Guilherme – Blog Carlos Britto): Falou DESCONSTRUIR já sei que tem má fé intelectual envolvida. Deixem nossos conceitos judaico-cristãos quietos, camarada, bom de desconstruir sua agenda LGBT sobre nossos filhos, isso sim…
A rede de enunciados indica a vontade de verdade, na qual práticas de saber são valorizadas nas sociedades, sobretudo aquelas em que a religião é fator preponderante. Conforme Foucault (2014), a vontade de verdade, sob o amparo de interdição de determinados conceitos e da rejeição/censura daquilo considerado impróprio para sociedades modernas, é o que permite que determinados saberes sejam valorizados, distribuídos e repartidos por meio de práticas sociais, como a religiosidade.
Como o discurso LGBTfóbico de grupos conservadores da internet visa responder à prática social de excluir, ao longo da história (FOUCAULT, 2007), modos de vida em desacordo com a heterossexualidade compulsória (NATIVIDADE; OLIVEIRA, 2008; SALIH, 2015), é notável reconhecer que o suposto da liberdade de expressão tem tornado ilimitado e costumeiro o uso de enunciados que desqualificam, por exemplo, a homossexualidade, pela sua associação até mesmo à zoofilia; que a opõem ao sexo heterossexual e que corroboram comentários anteriores que associam irrestritamente a homossexualidade a qualquer “impureza moral” (NATIVIDADE; OLIVEIRA, 2008; LIONÇO et al., 2018; CARVALHO; LIONÇO, 2019).
Compreende-se, a partir dessa rede de enunciados, que “todas as formas de viver a sexualidade sem fins reprodutivos, sejam lícitas ou ilícitas, significam, nesse registro, a degradação dos valores e a ruína da sociedade” (LIONÇO et al., 2018, p. 604). No lugar de dissiparem-se equívocos, a partir da disseminação de informações coerentes sobre sexualidade/gênero, de forma contrária, tem sido usual a fabricação de discursos que, do saber pastoral (FOUCAULT, 2007), alimentam ainda mais estigmas.
É possível destacar também, partindo dessas asserções, o uso do procedimento de autoria (FOUCAULT, 2014). Este permite constituir um status de enunciador no interior do discurso, evidenciado na própria adoção de pseudônimos por parte dos autores, como “Jesus é a verdade” (E1) e “Servo de Deus” (E2). A afirmação de status de propagador de verdade é evidenciada em trechos como “conhecedor e pregador do evangelho”. Segundo Natividade e Oliveira (2008), o anonimato é um estratagema frequentemente adotado em discursos religiosos em websites, o que permite a utilização de pseudônimos com cunho religioso.
Outro procedimento interno constatado é a disciplina, que tem valor de verdadeiro para determinadas proposições e de falso para outras. No julgamento de “Jesus é a verdade”, a proposição “Deus é LGBT pois o homem é a sua semelhança” teria conotação falsa, uma vez que o enunciador afirma que “o verdadeiro gay, viado, LGBT, seja o que for é Satanás, o diabo; esse sim é quem engana a muitos e está levando milhares ao inferno” (E1). Para “Bruno”, a proposição também seria falsa, já que Deus não poderia ser LGBT, e sim alguém que “não negocia com mundanismo, conceitos pessoais e filosofias humanistas” (E4). O que confere autoridade de saber nessa rede de discursividades é que essas interpretações advêm de princípios doutrinários e conservadores dos textos bíblicos (NATIVIDADE; OLIVEIRA, 2008).
O terceiro aspecto que subjaz aos enunciados é a estratégia persuasiva de leitura da verdade, que guarda pertinência com a vontade de verdade (FOUCAULT, 2014). Todos os enunciados ofertam uma injunção de exame da verdade, nítida nas expressões “Alguém lê a bíblia pra ela por favor” (E3), “Leia as escrituras sagradas, e ela [sic] te libertará” (E4) e, mais de uma vez, “leiam a bíblia” (E2) e “examinem as escrituras” (E1). Ainda, vontade de verdade na amostra discursiva é o que cruza com separação e rejeição pelo fato de os comentários terem teor de censura, impondo o silêncio sobre o assunto ao autor (“Deixem nossos conceitos judaico-cristãos quietos” [E5]).
Nesse aspecto, outra verdade que não a imposta torna-se perigosa, o que permite inferir que crenças se tornam fortes obstáculos para se romper com discriminações fundamentadas em sexualidade/gênero, pois, como são arraigadas, impedem o distanciamento de qualquer outra forma de análise. Nesta análise do ciberespaço, também se pode apontar a organização de inteligibilidades LGBTs como marginais, efeito do próprio dispositivo de sexualidade (FOUCAULT, 2007).
O discurso da diversidade sexual, na moral religiosa, é subversivo, já que atribuir a Deus a imagem de LGBT (SILVA, 2018) indica algo pecaminoso, que, portanto, deve ser combatido. Em análise regional, tais considerações comprovam que a religiosidade seja eixo norteador da LGBTfobia no sertão, onde a homossexualidade é portadora do mesmo significado de um pecado que pode “provocar o fim do mundo” (POMPA, 2004, p. 75).
Esses discursos se disseminam no momento em que articulam sua produção a um contexto sócio-histórico de resignação dos sertanejos à religiosidade. Essa religiosidade, forjada pelo imaginário das figuras místico-míticas – que remontam aos tempos coloniais e são fruto de uma formação predominantemente católica, mas somada ao protestantismo e aos sincretismos indígenas/africanos –, exerce poder também por amparar a vida em um ambiente considerado inóspito (PONTES, 2014).
De outra parte, mesmo dentro da prática discursiva da moral religiosa, constata-se o exercício da resistência – entendida como conjunto de táticas discursivas de grupos que buscam valorizar a diversidade das práticas de sexualidade.
(E6, Deus ama a TODOS – Blog Farol de Notícias): "Deus é LGBT sim" isso quer dizer q ele está com os LGBT da msm forma e Ele está com os brancos, negros, heteros... enfimmm. não sejam hipócritas e entendam a ideia de Manu, se vocês notarem a notícia está na parte "opinião" então é a opinião dela. Anjos e o Espírito Santo não tem sexo, então parem de colocar todos no masculino, Deus ama os seus filhos independente de qualquer coisa, o amor é o seu maior mandamento, então dizer q ele é LGBT é uma forma de falar q ele está do nosso lado da msm forma q está do lado de uma homem hetero cis. Vocês falam tanto de Jesus, defendem tanto ele mas n fazem metade do q ele fez, vocês n amam uns ao outros e só sabem julgar a todos, da mesma forma q estão julgando a OPINIÃO da jornalista Manu Silva. bando de hipócritas.
(E7, Fernanda – Blog Farol de Notícias): Deus te ama sim e me ama também. Deus é amor. Eu não consigo entende com essas pessoas dos comentários conseguem viver com tanto ódio dizendo que segue as escrituras.
Constata-se, em ambos os enunciados, a mesma vontade de verdade. Antes, articulada como procedimento externo discursivo para a discriminação, agora, aparece de modo a abarcar qualquer inteligibilidade, inclusive LGBT, como individualidades passíveis de serem inseridas na formação discursiva da doutrina cristã. As associações ao vocábulo “amor” permitem indicar que a doutrina é vista por tais autores como um preceito da inclusão universal.
No primeiro enunciado, nota-se a contestação do procedimento interno da disciplina, numa tônica de denúncia do julgamento do certo ou errado como falho e carregado de hipocrisia, retratada especificamente nos trechos: “Ele está com os brancos, negros, héteros... enfimmm. não sejam hipócritas”; “Vocês falam tanto de Jesus, defendem tanto ele mas n fazem metade do q ele fez”, e “vocês n amam uns aos outros e só sabem julgar a todos” (E6).
Em ambos os excertos – “Deus ama os seus filhos independente de qualquer coisa, o amor é o seu maior mandamento” (E6) e “Eu não consigo entende com essas pessoas dos comentários conseguem viver com tanto ódio dizendo que segue as escrituras” (E7) –, é possível verificar também a tentativa de subversão do procedimento do comentário, utilizando-se da estratégia de “dizer o que estava articulado silenciosamente no texto primeiro” (FOUCAULT, 2014, p. 24), retomando o discurso cristão preexistente como tentativa de resistência aos discursos de ódio veiculados. Em consonância com a crítica genealógica, o comentário “decorre de sua capacidade de provocar uma experiência no leitor.”. Ele “[...] tem de nos obrigar, à força de um choque, a ver algo que até então nos recusávamos a ver” (OKSALA, 2011, p. 68-69).
Nesse sentido, tais discursos também se apoiam em correntes católicas que difundem uma visão autônoma no sertão, ou seja, que buscam superar a visão autoritária e vertical de um Deus punidor, por uma atuação que dê sentido de transcendência, ao mesmo tempo que se compromete com a realidade local, empoderando o humano a assumir o seu próprio destino (PONTES, 2014).
Porém, permeando os enunciados da moral religiosa, encontram-se elementos que permitem aferir que uma estratégia argumentativa produzida na contemporaneidade é a de forjar a cientificidade em torno do modelo biológico do macho e da fêmea, como meio para afastar LGBTs de suas próprias reivindicações (LIONÇO et al., 2018).
5.2 Moral biológica: defesa e subversão do modelo macho x fêmea
A ponderação dos comentários presentes nos artigos indicou como segunda prática discursiva um conjunto de enunciados que buscam reafirmar a primazia da biologia sobre questões sociais e culturais. A recorrência dessas normas de gênero pode ser constatada nos seguintes enunciados:
E8, Guilherme – Blog Carlos Britto): Não existem GÊNEROS, somente SEXOS, você sim, se informe em princípios biológicos, sua torpe e vil ideologia não suplanta a ciência, minha cara.
(E9, José J. Matheus – Blog Carlos Britto): Viadagem.
(E10, Guilherme – Blog Carlos Britto): Proponho um DIA DE INVISIBILIDADE LGBT e visibilidade DA MORAL E RETORNO AOS BONS COSTUMES, essa gente não se cansa de aparecer não? Idiotas.
(E11, Maria – Blog Carlos Britto): Qual o objetivo do evento??? visibilidade “lésbica”?? Piquenique “Sapatônico”??? Pelo que vejo em outras discussões de diversidade de gênero, há um repúdio da classe a esses termos “viado, sapatão, baitola…” pelo fato de sempre terem sido usados de forma pejorativa pela sociedade preconceituosa.
(E12, Guilherme – Blog Carlos Britto): … E CONTINUA A INCESSANTE MARCHA DOS RIDÍCULOS CONTRA A FAMÍLIA TRADICIONAL E NOSSAS CRIANÇAS.
MAS ESTAREMOS À POSTOS CONTRA TODA A AGENDA GAY.
As representações simbólicas elencadas permitiram, em primeiro momento, por meio da multiplicidade de manifestações concretas, dar conta do machismo como prática social dentro de uma unidade de análise (DRUMONT, 1980). A vontade de verdade, procedimento de exclusão (FOUCAULT, 2014), foi observada no apoio institucionalizado do que deveria ser visto como verdadeiro nos seguintes enunciados: “Não existem gêneros, somente sexos” (E8), enunciado em que a biologia é acionada como conhecimento científico para reiterar esse discurso de exclusão – “[...] gênero são os significados culturais assumidos pelo corpo sexuado” e suas normas socialmente instituídas e mantidas (SALIH, 2015, p. 46); “Retorno aos bons costumes” (E10), enunciado que atribui, aos princípios de moralidade, razão para apontar o “falso” que deve ser deixado de lado, e “Pelo que vejo em outras discussões de diversidade de gênero, há um repúdio da classe a esses termos ‘viado, sapatão, baitola…’” (E11), enunciado que remete a uma verdade ancorada de maneira superficial nos estudos de sexualidade e gênero, que, equivocadamente, desconsideram os intentos subversivos como válidos.
Examinando-se o enunciado (E8), entende-se que o ciberespaço em questão promove mais do que a biologia como prática discursiva. O autor reafirma que a distinção sexo/gênero não seria, na verdade, nenhuma forma de separação, já que o gênero seria algo culturalmente construído, e o sexo adquiriria a verdade de ser unicamente o próprio gênero (BUTLER, 2008). Outros procedimentos verificados nessa prática discursiva foram interdição e separação/rejeição, os quais interrompem discursos por não os considerarem permitidos, mostrando as regiões da sexualidade e da política como “um dos lugares onde elas exercem, de modo privilegiado, alguns de seus mais temíveis poderes” (FOUCAULT, 2014, p. 9).
A interdição foi verificada em “viadagem” (E9), que, discursivamente, delimita a homossexualidade como algo reprovável, e o procedimento de separação e rejeição foi verificado em “essa gente não se cansa de aparecer não? Idiotas…” (E10). Tais excertos podem ser associados a aspectos do conceito de estigma, por trazerem atributos depreciativos que afirmam a não normalidade do outro, servindo de mecanismo de controle e dominação (DRUMONT, 1980). Assim, é “evidenciado o papel da linguagem sexista no reforço dos estereótipos machistas” (GOUVEIA, 2009, p. 7), que inferioriza o feminino e exclui masculinidades entendidas como subalternas (CONNELL, 2000).
Ainda no que compete ao enunciado “viadagem” (E9) e à indagação de E11, é possível inferir que a injúria, na seara da sexualidade, seja elemento de polivalência tática (FOUCAULT, 2007). É um discurso que se origina na ofensa e inviabiliza qualquer possibilidade de diálogo, organizando, de modo subalternizante, inteligibilidades LGBTs nas sociedades (ou até mesmo qualquer indivíduo cisgênero/heterossexual que escape à morfologia esperada para o seu gênero/sexualidade). Mas é também por meio da injúria que se promove a ressignificação da ofensa como elemento de coletividade (ERIBON, 2008) – vide a expressão “piquenique sapatônico” (sic), em que a apropriação discursiva figura como tática de subversão de interdição e separação/rejeição.
Também, em termos de procedimentos internos, observou-se, no trecho “Estaremos a postos contra toda a agenda gay” (E12), a disciplina: faz-se uso de anonimato para requerer a construção de novos enunciados, buscando um papel indissociável da verdade para coagir e controlar a produção de determinado discurso. Vale ressaltar que esse mesmo autor, de pseudônimo “Guilherme”, aparece mais de uma vez nesses comentários analisados (E5, E8, E10, E12), “e é provável que não se possa explicar seu papel positivo e multiplicador [em reatualizar regras da disciplina], se não se levar em consideração sua função restritiva e coercitiva [de polícia discursiva]” (FOUCAULT, 2014, p. 34), que busca impingir um modelo panóptico (FOUCAULT, 1972) de vigilância a manifestações LGBTs.
Também no enunciado (E12), é possível, por meio da análise do vocábulo “crianças”, inferir como há uma tática para manutenção dos níveis de discriminação. Associando-se pedofilia a homossexualidade, difundem-se o medo e o pânico moral (CARVALHO; LIONÇO, 2019). Os reflexos têm sido, notadamente, a obstrução das políticas inclusivas. Conforme indicaram Lionço e outros (2018), é por meio de tal leitura que se atravancam diversas outras pautas, seja pela construção da narrativa de pânico moral em torno do casamento gay, seja pela simples configuração da ideologia de gênero como ameaça à ordem biológica (LIONÇO et al., 2018).
No sertão pernambucano, essa leitura é potencializada, uma vez que:
A figura do sertanejo estaria permeada por representações que, de certa forma, definiria[m] um tipo de masculinidade. Por essa perspectiva, o sertanejo é antes de tudo um “macho”, não é um homem qualquer, é um representante legítimo do patriarcado, pois rejeita as superficialidades e delicadezas da vida moderna, realçando valores tradicionais em um contexto em que outras regiões do país, especialmente o Sul e o Sudeste, vinham se “afeminando” através do contato com os valores burgueses e modernos e a influência de estrangeirismos que descaracterizavam a nação. (VASCONCELOS; VASCONCELOS, 2018, p. 134)
As tentativas de resistências, nessa categoria discursiva, também se fizeram presentes. É de se considerar que a resistência é coextensiva e contemporânea ao próprio problema do poder (FOUCAULT, 2007). Isso quer dizer que, para resistir, é preciso atuar do mesmo modo que o poder (FOUCAULT, 1979). Portanto, o discurso que reage à LGBTfobia busca traçar outros mecanismos que reforcem estratégias e táticas para suplantar formações discursivas.
(E13, Larissa – Blog Carlos Britto): Incrível como as opções dos outros incomodam. O que outro escolhe não muda minha vida em nada. Tenho que respeita-lo. Todos somos seres humanos. Como vamos fazer sexo não é problema do outro.
(E14, Cristã – Blog Farol de Notícias): Em tempos atuais José Saramago não teria publicado o evangelho segundo jesus cristo por blasfemar contra Deus. Em momentos desses precisamos fortalecer nossa luta. Parabéns, Manu por não arrefecer diante de tanta barbárie.
(E15, Jumentinho Rosa – Blog Farol de Notícias): Pecado eh julgar as pessoas como vcs tao fazendo com a jornalista Manu. Eu sou gay com orgulho e Deus me ama sim do jeitinho q eu sou p tristeza de vcs. Vcs agem da mesma forma q agiram com Jesus... julgando ele com base em seus preconceitos. O Deus de vcs eh do antigo testamento. Ja o meu Deus e o de Manu eh o do novo pq ele prega o AMOR!!! BANDO DE PECADORES!!! BANDO DE DEMONIOS DO ODIO!!! DEUS me ama do jeito GAY QUE EU SOU!! E vcs morram com essa VERDADE!
(E16, Thiago Correa – Blog Farol de Notícias): Parabéns, Manu. Muita gente aqui cobrando respeito, mas cadê que respeitam a liberdade artística, a liberdade de expressão, a opção sexual de cada um?
Observou-se o procedimento interno de comentário em “O que outro escolhe não muda minha vida em nada”, “Como vamos fazer sexo não é problema do outro” (E13) e “cobrando respeito, mas cadê que respeitam” (E16). Esses excertos demonstram reprimendas a falas LGBTfóbicas, usando da estratégia de retomada de discurso e associando o discurso retomado a conceitos já existentes no senso comum para promover resistências e para mudar papéis predeterminados (COOPER; SELFE, 1990). Nesse aspecto, a formulação de discursos é algo que subverte enunciados de determinada ordem discursiva de acordo com o interesse em questão (FOUCAULT, 2014).
Por fim, nos trechos “precisamos fortalecer nossa luta” (E14) e “Bando de pecadores!!! Bando de demonios do odio!!! Deus me ama do jeito gay que eu sou!! E vcs morram com essa Verdade!” (E15), chama a atenção a autoria como procedimento interno discursivo (FOUCAULT, 2014), não apenas pelo seu discurso que busca modificar o que foi dito, mas pelo valor de quem fala – “cristã” e “Jumentinho Rosa”. Isso demonstra estratégias retóricas subversivas que são frutos de uma multiplicidade de pontos de resistências que podem existir no campo estratégico das relações de poder. São essas resistências, muitas vezes, “[...] selvagens, solitárias, combinadas, impetuosas ou violentas; outras ainda que se apressam em transgredir, são interesseiras e sacrificatórias; por definição” (OKSALA, 2011, p. 82). No trecho “E vcs morram com essa verdade!” (E15), o enunciador tenta influenciar outros discursos por meio do procedimento de exclusão da vontade de verdade (FOUCAULT, 2014).
Desse modo, mesmo no contexto sertanejo, “práticas de sujeitos que, de certa forma, subvertem essas imagens” (VASCONCELOS; VASCONCELOS, 2018, p. 134) acabam por evidenciar que, se o poder não é apenas repreensivo, sempre haverá espaço para formas coextensivas de resistência, já que ele se manifesta nas relações discursivas, reforçando e minando normas (FOUCAULT, 1979).
6 Considerações finais
Com este estudo, conclui-se que, conforme Foucault (2014), uma formação discursiva não é finita em seu propósito, mas atualiza-se, partindo não somente da repetição das mesmas práticas discursivas que se encontram no seu bojo, mas da intersecção com outros campos de saber. Compreendeu-se o blog como dispositivo em que os discursos cada vez mais são instrumentalizados conforme os interesses. Constatou-se, conforme aborda a literatura precedente, a existência do discurso de ódio contra pessoas LGBTs em comentários dos blogs analisados, ainda que tal prática tenha sido objeto de resistência.
Dentro da primeira prática discursiva analisada (moral religiosa), foi verificada a valorização de práticas discursivas que assujeitam os indivíduos à heterossexualidade compulsória por meio de estratégias como o anonimato, que facilita uma postura de interdição e rejeição interligada à defesa de uma verdade que busca o convencimento no discurso de razão. De outra parte, o exercício da resistência foi percebido em enunciados construídos com as mesmas estratégias, nos quais quer se exigia um comportamento menos hipócrita e se obrigava a ver sob outra ótica o discurso de ódio proferido, quer se chegava a defender uma inteligibilidade que incluísse o segmento LGBT na ordem discursiva cristã. Evidenciou-se que, de todo modo, o conteúdo sócio-histórico de religiosidade sertaneja se articula à produção de novos comentários.
Nos comentários analisados da segunda prática discursiva (moral biológica), foram identificadas a primazia da biologia sobre as questões culturais e sociais e, com essa primazia, certa defesa do machismo, que põe em jogo o poder e o desejo, para normatizar homens e mulheres, desqualificar intentos subversivos e subalternizar, também pela injúria, as inteligibilidades LGBTs. Como resistências, nessa prática discursiva, os discursos foram retomados, e práticas LGBTfóbicas foram combatidas na tentativa de mudar papéis predeterminados. Contudo, na maioria dos enunciados, foi percebida a desqualificação das sexualidades desviantes do “macho” sertanejo, ainda que alguns sujeitos resistissem a subverter essa imagem.
No contexto do sertão pernambucano, apresentaram-se combinadas as duas morais, para as quais a matriz de inteligibilidade de gênero e a heterossexualidade compulsória são imperativos da inteligibilidade (BUTLER, 2008; SALIH, 2015). Todavia, quando a tônica foi a resistência, não se descartaram por completo as formações discursivas biológica e cristã, pois se recorreu a esse mesmo discurso, subvertendo-se suas diretrizes.
Em análise crítica, sem desqualificar a importância da agência de resistência, foi possível observar nesses arquivos o preconceito que faz falar o LGBT como desviante dos padrões ditos “normais”, discursos já ditos por outros atores e em outros ambientes, numa evocação da LGBTfobia. Este artigo estimula o debate sobre o papel desses comentários na perpetuação de valores conservadores, com repercussões sociais e políticas. Além disso, lança um alerta aos responsáveis por esses canais de comunicação sobre a importância do papel ético e político dos responsáveis por esses canais de administrar os conteúdos publicados nessas redes.
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Notas de autor