Resumo: As usinas hidrelétricas são consideradas estratégicas para o país quando se analisa sua relevância e impacto para os demais setores da economia. Entretanto, a dinâmica de funcionamento de uma usina, sua estrutura de apoio e as atividades de geração de energia podem causar impactos ao meio ambiente, os quais devem ser constantemente monitorados, com o propósito de mitigar eventuais riscos ambientais. O propósito do presente estudo consiste em analisar relações de parceria estabelecidas entre uma usina, por meio de departamento inserido na área de gerenciamento ambiental, e universidades e institutos de pesquisa, visando identificar especificidades das parcerias em gestão ambiental e com usinas hidrelétricas. Selecionaram-se seis projetos para análise, sendo quatro deles relacionados a projetos com universidades e dois relacionados à cooperação com institutos de pesquisa. O foco da análise foi restrito aos principais pontos observados na gestão dessas parcerias, quais sejam: (a) motivações para estabelecer parcerias; (b) a composição dos custos previstos para viabilizar essas parcerias; (c) as dificuldades de conciliar a gestão técnica e a gestão financeira; e (d) a mensuração dos resultados e contribuições provenientes dessas interações. As práticas administrativas de gestão das parcerias também foram analisadas nas fases que antecedem a cooperação, durante a cooperação e após a cooperação. Embora sejam necessários outros estudos dessa mesma natureza para reforçar as constatações apresentadas, pode-se afirmar que os propósitos do estabelecimento de relações de cooperação na área de gestão ambiental diferem daqueles observados em outros campos do conhecimento, como a engenharia e a biotecnologia, por exemplo.
Palavras-chave:Usinas HidrelétricasUsinas Hidrelétricas,CooperaçãoCooperação,Gestão AmbientalGestão Ambiental.
Abstract: Hydroelectric power plants are considered strategic for the country when considering their relevance and impact on other sectors of the economy. However, the dynamics of the operation of a plant, its support structure and power generation activities can cause impacts on the environment, which must be constantly monitored in order to mitigate any environmental risks. The purpose of this study is to examine the partnership relations between a plant by menas of the creation of a department within the environmental management and universities and research institutes to identify specific partnerships in environmental management and hydroelectric plants. Six projects have been selected for analysis, four of them related to projects with universities and two related to cooperation with research institutes. The focus of the analysis was restricted to the main points observed in the management of these partnerships, which are: (a) motivation for establishing partnerships, (b) the composition of the estimated costs for implementing these partnerships, (c) the difficulties of reconciling technical management and financial management, and (d) the measurement of results and contributions from these interactions. Administrative practices of management of partnerships were also analyzed in the stages preceding cooperation for cooperation and further cooperation. Although other such studies are needed to strengthen the findings presented, one can conclude that the purposes of the establishment of cooperation in environmental management differ from those observed in other fields of knowledge such as engineering and biotechnology, for example.
Keywords: Hydroelectric Power Plants, Cooperation, Environmental Management.
Resumen: Las centrales hidroeléctricas se consideran estratégicos para el país al considerar su pertinencia e impacto en otros sectores de la economía. Sin embargo, la dinámica de funcionamiento de una planta, su estructura de apoyo y actividades de generación de energía pueden causar impactos sobre el medio ambiente, que debe ser monitoreado constantemente con el fin de mitigar los riesgos ambientales. El propósito de este estudio es analizar las relaciones de asociación establecidas entre una planta a través del departamento se inserta en el área de gestión del medio ambiente, y las universidades e institutos de investigación para identificar asociaciones específicas en la gestión ambiental y las plantas hidroeléctricas. Seis casos son seleccionados para el análisis, cuatro de ellos relacionados con proyectos con universidades y dos relacionadas con la cooperación con los institutos de investigación. El foco del análisis se limitó a los principales puntos señalados en la gestión de estas asociaciones, que son: (a) las motivaciones para el establecimiento de asociaciones; (b) la composición de los costos para hacer tales asociaciones; (c) las dificultades de conciliar la gestión técnica y gestión financiera; (d) la medición de los resultados y las contribuciones de estas interacciones. Procedimientos administrativos de las asociaciones de gestión también se analizaron en los pasos que conducen a la cooperación durante y después de la cooperación. Aunque otros estudios de esa naturaleza reforzaron los resultados presentados, se puede decir que los efectos de establecer relaciones de cooperación en el área de gestión ambiental difieren de los observados en otros campos del saber, como la ingeniería y biotecnología, por ejemplo.
Palabras clave: Centrales Hidroeléctricas, Cooperación, Gestión Ambiental.
Artigos
COOPERAÇÃO UNIVERSIDADE-EMPRESA EM UMA USINA HIDRELÉTRICA: ESTUDO DE COOPERAÇÕES NA ÁREA DE GESTÃO AMBIENTAL
UNIVERSITY-COMPANY COOPERATION IN A HYDROELECTRIC PLANT: COOPERATION STUDY IN ENVIRONMENTAL MANAGEMENT
CO0PERACIÓN DE UNIVERSIDAD – EMPRESA EN UNA PLANTA HIDROELECTRICA: ESTUDIO DE COOPERACIONES EN LA AREA DE GESTIÓN AMBIENTAL

Recepção: 05 Julho 2016
Aprovação: 29 Novembro 2016
Diversos estudos têm demonstrado a relevância e o avanço das relações entre universidades, institutos de pesquisa e organizações. Assim, a exploração do tema alcança consenso em determinadas frentes – como a questão das funções do governo nos sistemas nacionais de inovação (Etzkowitz & Leydesdorff, 1998; 2000; Etzkowitz, 2002; Etzkowitz & Mello, 2004) ou as necessidades de gerenciamento nas interações entre empresas e universidades (Andreassi, Vanconcellos, & Simantob, 2002; Porto, 2000; 2002).
As pesquisas sobre os meios aplicados para acelerar e consolidar a interação entre universidades, institutos de pesquisa e empresas têm variado quanto à natureza. Algumas dessas investigações são feitas com o propósito de criar relatórios, de interesse principalmente do governo, ou com o objetivo de fazer auditorias sobre a forma e frequência da interação, ou seja, se a interação acontece por intermédio de uma consultoria, de um contrato de pesquisa ou de outro mecanismo. Outra consideração refere-se aos setores nos quais a maior parte dos estudos de interações e parcerias está concentrada, em especial, na área de engenharia e tecnologia (Segatto & Mendes, 2002; Ipiranga & Hora, 2009; Costa, Porto, & Plonski, 2009). Nesse contexto, dentro das esferas de estudo que carecem de investigações mais detalhadas, destaca-se a área de gestão ambiental e sustentabilidade.
Observa-se no Brasil o crescente número de estudos técnicos a respeito dos impactos ambientais causados por grandes empreendimentos. Jiang, Quiang e Lin (2016), a partir de um estudo bibliométrico, constataram que os temas relacionados aos problemas que as hidrelétricas enfrentam (dentre os quais, aqueles relacionados à gestão ambiental e à sustentabilidade) têm sido mais atraentes para os estudiosos do que a própria tecnologia de energia, e uma tendência interdisciplinar de pesquisa hidrelétrica está surgindo a partir da interação das ciências naturais, ciências sociais e tecnologia de engenharia relacionada a energia hidrelétrica.
Diante do exposto, o problema desta pesquisa pode ser descrito da seguinte forma: como ocorrem as relações de parceria entre uma usina hidrelétrica e universidades e institutos de pesquisa na área de gestão ambiental?
O objetivo do presente artigo consiste em analisar as relações de parceria estabelecidas entre uma usina hidrelétrica e universidades e institutos de pesquisa visando identificar especificidades das parcerias em gestão ambiental. Selecionaram-se seis casos para análise, sendo quatro deles relacionados a projetos com universidades e dois relacionados à cooperação com institutos de pesquisa. O foco da análise foi restrito aos principais pontos observados na gestão dessas parcerias, quais sejam: (a) motivações para estabelecer parcerias; (b) a composição dos custos previstos para viabilizar essas parcerias; (c) as dificuldades de conciliar a gestão técnica e a gestão financeira; e (d) a mensuração dos resultados e contribuições provenientes dessas interações.
A respeito desse setor, verifica-se que o consumo de energia cresceu de 456,5 GWh em 2010 para 524,6 GWh em 2015, com projeção de alcançar 613,4 GWh em 2019 (BRASIL, 2015). De forma concomitante, empreenderam-se muitas iniciativas voltadas à preservação do meio ambiente para diminuir/evitar impactos ambientais e atuar nos meios onde se instalam empreendimentos da área de energia (Alvim Filho, 2008; Santos, 2008; WWF, 2012).
As preocupações de natureza socioambiental estão cada vez mais presentes, seja para atender à legislação, apaziguar os ânimos das comunidades mais afetadas e/ou fugir de algumas incertezas decorrentes das lacunas na legislação ambiental, com riscos de causarem passivos jurídicos (Fernandes, Dutra, & Castro, 2007). Ainda no que se refere às ações voltadas à sustentabilidade no setor elétrico, observa- se que são desenvolvidas aquelas de natureza reativa, decorrentes de demandas judiciais, de stakeholders e da comunidade lindeira; as de natureza preventiva, que decorrem da decisão de monitorar questões ambientais sensíveis ao empreendimento (bordas de vegetação, qualidade de água etc.) e as de natureza proativa, resultantes da orientação estratégica das empresas (Passeti & Tenucci, 2016).
Inicia-se o trabalho com o referencial teórico, apresentando-se aspectos abordados no tocante à cooperação entre instituições e à relevância da gestão ambiental e da sustentabilidade para as usinas hidrelétricas. Em seguida, descreve-se a metodología utilizada. Posteriormente, contextualizam-se o objeto de estudo e os casos analisados e, por fim, apresentam-se a análise dos resultados e as considerações finais.
Para que o processo de cooperação conjunta e aprendizagem ocorram, tanto na esfera empresarial como no âmbito acadêmico, torna-se necessário fomentar um ambiente propício às relações entre as várias instituições/atores que um sistema cooperativo pode abranger (Lundvall, 1992; Etzkowitz & Leydesdorff, 2000; Etzkowitz, 2002).
As possibilidades de interação entre universidades, empresas e institutos de pesquisa são várias (U/E/IP). Bonaccorsi e Piccaluga (1994) mencionaram seis formas de relações e mecanismos na interação U/E: (1) relações pessoais informais, que ocorrem quando a empresa e uma pessoa da universidade efetuam trocas sem que seja elaborado qualquer acordo formal envolvendo a universidade; (2) relações pessoais formais, que são como as relações pessoais informais, mas com a presença de acordos formalizados; (3) terceira parte, quando há um grupo intermediário – interno ou externo a universidade; (4) acordos formais com alvos definidos, que são relações em que ocorrem tanto a formalização do acordo como também a definição dos objetivos específicos de colaboração desde o início; (5) acordos formais sem alvos definidos, que são acordos formalizados, como no caso anterior, mas cujas relações possuem maior amplitude, com objetivos estratégicos e de longo prazo e a (6) criação de estruturas focalizadas, que se referem às iniciativas de pesquisa conduzidas conjuntamente por indústria e universidade em estruturas permanentes específicas, criadas para tal propósito, entre outros.
Tendo em vista as possibilidades supracitadas, a seleção do processo mais adequado depende das condições e dos objetivos das partes envolvidas na cooperação (Segatto, 1996), sendo que a necessidade de gerenciamento das interações se eleva à medida que aumenta a complexidade das relações entre os envolvidos (Porto, 2000), considerando os aspectos técnicos, políticos e institucionais das parcerias. Nesse contexto, as estruturas de interface constituem mecanismos intermediários úteis para promover e facilitar as cooperações. Para Segatto (1996), esses intermediadores caracterizam-se como agentes e organizações, sendo que os acordos cooperativos deles se utilizam para a administração de certos aspectos da interação, como o controle de recursos, a divulgação de linhas de pesquisa, o contato com empresas parceiras potenciais, a facilitação e a manutenção da comunicação entre as partes. Essas funções podem ser executadas por órgãos como fundações, escritórios de transferência de tecnologia, pró-reitorias ou outros.
A conclusão de um processo cooperativo pode gerar resultados diversos, uma vez que a motivação das partes envolvidas pode ser calcada em fatores muito distintos. Mora-Valentin, Montoro-Sanchez e Guerras-Martin (2004) apresentam alguns fatores- chave que podem fomentar a cooperação. Entre os fatores motivacionais, destacam-se as ligações anteriores bem-sucedidas, a reputação do parceiro, a definição de objetivos e a proximidade geográfica. Com relação aos fatores organizacionais, destacam-se a confiança entre as partes, o fluxo de comunicação, o comprometimento e as relações de dependência entre os envolvidos, tendo-se em vista os objetivos fixados para a interação.
Segatto (1996), com base nos estudos de Bonaccorsi e Piccaluga (1994), apresenta alguns dos motivadores que influenciam na decisão das universidades em estabelecer relações de cooperação com as empresas. Entre esses motivadores, citam-se: a falta de fontes financiadoras de pesquisa; carência de equipamentos e/ou materiais para laboratório; possibilidade de geração de renda adicional para o pesquisador e para o centro de pesquisa; aumento do prestígio institucional; difusão do conhecimento e expansão de perspectivas profissionais do pesquisador.
A próxima seção complementa a discussão apresentando possíveis facilitadores e entraves às cooperações.
São diversos os dificultadores e os facilitadores que causam interferência no processo de cooperação, independentemente da disposição das partes envolvidas. Questões como grau de incerteza e duração dos projetos (Cyert & Goodman, 1997); discrepância nos objetivos (Segatto, 1996); complexidade do contrato cooperativo (Porto, 2000; Segatto-Mendes & Sbragia, 2002) entres outros, denotam a multiplicidade de elementos que podem, circunstancialmente, constituir barreiras ou mesmo facilitadores à cooperação.
Becker, Da Jornada e Ritter (1996) ao sugerirem um arcabouço conceitual para compreender a motivação da cooperação citam, por exemplo, a complexidade da organização acadêmica, que preserva fronteiras rígidas entre os diferentes departamentos universitários, limitando a interação interna. Os autores sugerem que se encontram diversas restrições quando se deseja obter cooperação através dessas fronteiras.
A estruturação de um processo sistemático e organizado desde as fases que antecedem a cooperação pode constituir facilitadores da interação empresa-universidade, conforme demonstrado por Costa, Porto e Feldhaus (2010, p.118). Os autores, em pesquisa sobre a gestão das parcerias em uma empresa de compressores, avaliaram a partir da literatura especializada a sequência de ações em fases denominadas de “pré-desenvolvimento da cooperação, desenvolvimento da cooperação e pós- desenvolvimento da cooperação”.
Na fase pré-desenvolvimento da cooperação, analisaram-se as seguintes práticas administrativas: definição do portfólio de projetos cooperativos; seleção dos parceiros tecnológicos; planejamento da cooperação tecnológica. Na fase de desenvolvimento da cooperação, listam-se as práticas de: definição dos contratos cooperativos; estrutura física e financeira; estruturação física e financeira; estruturação das equipes de trabalho; execução dos projetos cooperativos; acompanhamento das atividades cooperativas. Na fase final, denominada de pós- desenvolvimento da cooperação, identificam-se as práticas: avaliação das parcerias tecnológicas; transferência de conhecimento; garantia da propriedade intelectual.
Historicamente, reconhece-se a relevância do setor de energia elétrica para os países, considerando- se a energia como insumo para viabilização da operação de praticamente todos os outros setores da economia (Bhattacharyya, 2007). No Brasil, a capacidade de geração de energia encontra-se distribuída da seguinte forma: 69% energia hidráulica, 15% energia térmica, 2% energia nuclear, 14% energia de fontes alternativas, tais como usinas eólicas, de biocombustíveis e PCHs (Brasil, 2014).
As usinas hidrelétricas fazem parte do setor econômico concentrado e regulamentado, no qual os riscos e impactos ambientais são de grandes proporções (Andrade; Tachizawa & Carvalho, 2000; Tachizawa, 2002). De acordo com Mota (1995), não há dúvidas quanto à importância da construção de barragens, tendo-se em vista os benefícios que a água dos reservatórios oferece como, por exemplo, a geração de energia elétrica, navegação, abastecimento humano e industrial, irrigação, pesca e piscicultura, recreação, turismo e outros, dependendo da realidade local.
A instalação de usinas hidrelétricas próximas a áreas urbanas pode trazer significativos problemas para o meio ambiente (Andrade et al., 2000). Para minimizar os impactos, propõe-se que a empresa considere o atendimento da legislação ambiental e o aproveitamento racional dos usos múltiplos do reservatório, viabilizando desenvolvimento econômico sustentável da região. Ressalva-se que, para qualquer estratégia surtir efeito, faz-se necessário integrar as questões ambientais aos processos decisórios da empresa, considerando-se os meios para conservar, recuperar e proteger o meio ambiente e, nesse contexto, incorporando-se as questões ambientais ao planejamento estratégico (Dalberto, 2005). O quadro 1 apresenta sugestões de ações estratégicas ambientais para usina hidrelétrica, conforme a literatura especializada.

Tundisi (2003) apresenta algumas estratégias que podem evitar e reduzir os riscos e impactos ambientais nas bacias hidrográficas e reservatórios, evidenciando que o monitoramento deve ser contínuo. O quadro 2 apresenta as estratégias para evitar riscos e impactos nas bacias hidrográficas e reservatórios.

Moreira et. al. (2015) realizam uma análise multicritério, juntamente com indicadores compostos, para inferir a evolução da sustentabilidade do setor de geração de energia no Brasil no período de 2010-2016. Os autores consideraram sete critérios: a emissão de gases de efeito estufa, a área imobilizada, o uso de recursos fósseis, o uso da água, a morbidade, a confiabilidade na geração de energia e a eficiência. Evidenciou-se que a energia eólica e nuclear representam opções sustentáveis em adição às hidrelétricas. Recomendam-se, ainda, investimentos em tecnologias de ciclo combinado (gás natural e biomassa) para reduzir os impactos na sustentabilidade.
Liu et al. (2013) identificam os principais fatores que contribuem para um desempenho sustentável da hidrelétrica de Três Gargantas, destacando as abordagens sistêmicas para resolução de problemas e o caráter de continuidade dos projetos de monitoramento ambiental. Luis et al. (2013) apontam uma série de medidas para conservação dos reservatórios das grandes hidrelétricas, focando na gestão de microbacias e nas medidas de conservação de solo. Ainda com relação à avaliação da sustentabilidade em hidrelétricas, o quadro a seguir apresenta os indicadores, sugeridos pela literatura, exclusivamente voltados às usinas hidrelétricas:

Em suma, no intuito de avaliar as relações de cooperação entre universidades e institutos de pesquisa e a área ambiental de uma usina hidrelétrica, deve-se vislumbrar as particularidades que condicionam a gestão e os projetos conjuntos nessa área, sendo que as questões de preservação de monitoramento ambiental norteiam o campo no qual se desenvolvem tais cooperações.
O estudo caracteriza-se pela utilização do método de estudo único (Yin, 2001). A investigação de natureza qualitativa se configura como pesquisa descritiva, considerando o número relativamente baixo de trabalhos existentes sobre a questão das interações entre usinas hidrelétricas e universidades e institutos de pesquisa investigados pela ótica das ciências sociais aplicadas e a possibilidade de melhor descrever como estas ocorrem.
Realizou-se um exame bibliográfico e documental para identificar possíveis frentes de pesquisa no tocante ao tema e possíveis problemas para os gestores dessas parcerias. Tais elementos foram avaliados e selecionados previamente, definidos com base na revisão da literatura especializada e na pesquisa documental na área ambiental da usina foco para este estudo. Outros eventuais fatores foram embutidos em questões que buscavam explorar as idiossincrasias das interações e do contexto em que se encontram inseridas. Tal fato justifica-se, pois:
Embora o estudo de caso se concentre na maneira como uma pessoa ou grupo de pessoas trata determinados problemas, é importante ter um olhar holístico sobre a situação, pois não é possível interpretar o comportamento humano sem a compreensão do quadro referencial dentro do qual os indivíduos desenvolvem os seus sentimentos, pensamentos e ações (Godoy, 2006, p.121).
Dessa forma, as categorias de análise identificadas foram: as motivações para estabelecimento de parcerias; a composição dos custos para viabilização dos projetos conjuntos; as dificuldades de conciliar a gestão técnica e a gestão financeira; a mensuração dos resultados e das contribuições provenientes dessas interações.
O critério para a escolha dos projetos de cooperação consistiu na seleção daqueles que: apresentavam maior relevância para a usina hidrelétrica, visto que estavam atrelados aos seus objetivos estratégicos; possuíam planos de trabalho convergentes com a literatura especializada e eran detalhados no tocante à estrutura financeira; apresentavam caráter de continuidade (estavam sendo executados há pelo menos dois anos). Assim, selecionaram-se seis casos, sendo quatro deles relacionados a projetos com universidades e dois relacionados à cooperação com institutos de pesquisa. O fato de selecionarem-se projetos com o mesmo departamento da área ambiental da usina hidrelétrica, de certa forma, auxilia no estabelecimento de comparações e reforça os resultados finais da pesquisa.
A partir da seleção dos casos e em continuidade às etapas do estudo (Gil, 2004) a investigação percorreu o seguinte caminho: (i) exame dos instrumentos contratuais e planos de trabalho dos projetos; (ii) entrevistas com os funcionários da usina hidrelétrica que ocupavam a posição de gestores dos projetos conjuntos com as universidades e institutos de pesquisa; (iii) visitas aos locais onde as parcerias estavam sendo desenvolvidas; (iv) entrevistas com os gestores dos projetos representantes das universidades e institutos de pesquisa; (v) observação direta do desenvolvimento de campo de alguns projetos; (vi) leitura de documentos que foram adquiridos durante a coleta de dados primários; (vii) acompanhamento do processo de prestação de constas e ajustes financeiros dos seis projetos; e, por fim, (viii) novo contato com os entrevistados para esclarecer eventuais dúvidas.
As entrevistas foram realizadas da seguinte forma: três entrevistas com gestores técnicos e duas entrevistas com gestores administrativo-financeiros da Usina Alfa, quatro entrevistas com pesquisadores das universidades envolvidas e uma entrevista com gestor técnico pertencente ao instituto de pesquisa. Cabe acrescentar que, por questões de confidencialidade, a Usina Alfa será chamada dessa forma. O quadro 4, a seguir, apresenta a codificação dos entrevistados.

Com relação à perspectiva temporal, a pesquisa se enquadra como transversal com aproximação de corte longitudinal, pois foram abordados, durante as entrevistas, temas e fatos passados que melhoraram a compreensão do contexto atual. O nível de análise da pesquisa é relacional, uma vez que o foco está na relação cooperativa estabelecida. Assim sendo, a unidade de análise são os projetos conjuntos. Para a análise e interpretação dos dados, utilizou-se a análise de conteúdo.
A partir da análise da transcrição das entrevistas, do conteúdo dos planos de trabalho e das especificações técnicas dos projetos investigados, procurou-se compreender as particularidades dos relacionamentos, bem como identificar as obrigações dos envolvidos e eventuais incoerências entre o discurso do entrevistado e a redação dos documentos (tanto da perspectiva técnica do projeto quanto a respeito das obrigações dos envolvidos). Nos casos em que isso ocorreu, os entrevistados eram novamente contatados para esclarecer eventuais dúvidas. As visitas a campo contribuíram para a melhor compreensão dos projetos examinados.
Por fim, cabe acrescer que a Usina Alfa possui capacidade de geração de 14 mil MWh, contando com 20 turbinas, com um reservatório com 1350 km² de lâmina de água e 170 km de extensão.
Todos os projetos selecionados para a pesquisa estavam, em maior ou menor grau, relacionados ao objetivo da usina de “Consolidar o processo de gestão socioambiental por bacia hidrográfica integrando a comunidade”. O quadro 5 apresenta os casos estudados e as denominações dos projetos.

Fonte: Elaboração com base na coleta de dados primários.
No que concerne aos mecanismos de cooperação (Bonaccorsi e Piccaluga, 1994), observaram-se nos casos estudados que, devido às exigências legais e de gestão técnica e financeira presentes na usina hidrelétrica objeto deste estudo, as cooperações se caracterizavam como “acordos formais com alvos definidos”. Nas interações pesquisadas, não se observou presença de estruturas de interface (Segatto, 1996; Porto, 2000), para intermediação e gestão dos recursos financeiros. Tais recursos encontravam-se sob responsabilidade da área técnica e financeira da Usina Alfa, sendo que os desembolsos ocorriam a partir do cumprimento dos marcos contratuais nas seguintes formas: adiantamentos com posterior comprovação da execução de despesas; reembolso a partir da comprovação de despesas previstas no plano de trabalho ou pagamento mediante entrega de relatórios técnicos.
Os itens apresentados a seguir foram desmembrados com o propósito de tornar as discussões correspondentes ao referencial especializado, levando-se em conta os direcionamentos que as categorias de análise fornecem. Contudo, há indícios de que esses itens estejam inter-relacionados, sendo que o caráter de continuidade das parcerias reforça esse indício, apesar de não ser possível estabelecer tais inter-relações somente por meio desta pesquisa e sem apoio estatístico.
Nas entrevistas realizadas com os gestores técnicos e demais funcionários da usina hidrelétrica Alfa, observaram-se diversas motivações, sendo algumas relacionadas com o contexto histórico e legal de uma usina de grande porte e outras relacionadas ao atendimento de seus objetivos estratégicos.
Entre as motivações identificadas a partir da coleta de dados, cabe destacar o caráter preventivo das parcerias desenvolvidas com o propósito de levantar informações técnicas que subsidiavam ações de preservação do reservatório e de mitigação de riscos ambientais subjacentes à atividade de geração de energia elétrica. Destaca-se, por exemplo, a preocupação em monitorar a qualidade de água do reservatório (haja vista seus usos múltiplos pelas comunidades ribeirinhas) e o acúmulo de sedimentos em seu leito (com vistas a empreender iniciativas para o prolongamento de sua vida útil).
Constatou-se que a reputação do parceiro (dos núcleos de pesquisa das universidades e dos institutos de pesquisa) e as experiências anteriores bem- sucedidas reforçavam a motivação para o estabelecimento da continuidade do processo de cooperação, o que reforça a argumentação de Mora- Valentin et al. (2004). Do ponto de vista organizacional, o constante aprimoramento dos canais formais de comunicação e a consolidação dos laços de confiança – observados a partir da declaração dos entrevistados – também contribuíram para que projetos fossem executados repetidamente com os mesmos parceiros. A tabela 1 resume os fatores motivadores de natureza técnica para a consolidação das parcerias por parte da Usina Alfa e o número de entrevistados que os citaram.

Observou-se, ainda, que a consolidação das parcerias representa a forma encontrada de viabilizar os projetos que não seriam executados de maneira isolada em decorrência da ausência de profissionais com qualificações específicas (expertise; know-how) pertencentes ao quadro funcional das instituições parceiras (os gestores técnicos dos projetos, pelo lado das universidades e institutos de pesquisa, possuíam o título de doutor e publicações científicas na área de estudo que os projetos abarcavam).
Ainda pelo lado das universidades e dos institutos, verificou-se que o fortalecimento dos grupos de pesquisa ocorreu, em parte, devido à execução desses projetos conjuntos. Tais projetos representam um campo fértil para estudo e posterior publicação de trabalhos. Ademais, em decorrência da continuidade dos projetos, seus desdobramentos permitiam aos pesquisadores/professores conduzir atividades correlatas em projetos de pesquisa paralelos. A complementaridade entre esses tem sido aproveitada pelas universidades, inclusive como campo de estudo para mestrado e doutorado. Aqui, cabe destacar que teses e dissertações podem ser considerados resultados indiretos dessas parcerias.
Nessa seara, possibilitou-se a complementaridade dos projetos a partir das contrapartidas recebidas nos convênios e contratos, especialmente com relação ao recebimento de recursos para melhoria de infraestrutura e para aquisição de equipamentos específicos (de campo e laboratório), os quais serão também utilizados em projetos paralelos. Do ponto de vista dessas instituições, as motivações citadas foram ao encontro daquelas mencionadas por Bonaccorsi e Piccaluga (1994). Cabe acrescentar, por fim, que as externalidades positivas estão mais visíveis naquelas parcerias mais longas. Nessas, as mudanças de estrutura física antes e pós-parceria são significativas.

A partir da coleta de dados, constatou-se existirem algumas etapas que antecedem a execução prática dos projetos, quais sejam:
• as cartas de intenção de trabalho conjunto: documento no qual as universidades e institutos de pesquisa formalizam o interesse em desenvolver projetos conjuntos com a usina hidrelétrica Alfa ou em dar continuidade aos trabalhos já executados;
• redação de plano de trabalho: depois de manifestado o interesse das partes envolvidas em realizar a parceria, ocorrem reuniões de preparação, ajustes, revisão e aprovação do plano de trabalho. Nesse documento, descrevem-se todas as atividades que serão executadas, bem como os objetivos da parceria e os cronogramas de execução;
• elaboração de planilha de custos: documento que complementa o plano de trabalho, no qual estão expostos todos os custos que o projeto abrange, separados por macrorrubricas, cada qual com seu detalhamento. Entre as macrorrubricas identificadas, destacam-se: (i) custos de execução do projeto; (ii) materiais de consumo; (iii) materiais permanentes; (iv) cursos, consultorias, participações em eventos; (v) manutenção de equipamentos e gestão administrativa das parcerias; (vi) outros custos.
Segundo os entrevistados, a determinação dos custos e a alocação dos recursos disponíveis entre as categorias de gastos representam a etapa que demanda mais tempo. Conforme declaração de um funcionário diretamente envolvido na elaboração das planilhas de custos: “por vezes, são necessárias seis ou sete revisões até que todos concordem com a distribuição dos valores”. Sobre a composição dessas planilhas, a tabela a seguir apresenta a distribuição percentual dos custos de cada parceria investigada.

Os custos necessários para mobilizar os profissionais das universidades e institutos de pesquisa no desenvolvimento prático, incluindo as posteriores análises e elaboração dos relatórios técnicos, estão alocados nas “atividades de campo e de execução do projeto”. Para a maioria das parcerias, nesse item estão concentrados os maiores valores.
Outro item que representa um custo significativo aos projetos refere-se aos gastos com “materiais permanentes”. Esses, em sua maioria, estão relacionados à melhoria da estrutura física da instituição parceira, abrangendo equipamentos de laboratório, equipamentos específicos, veículos, barcos e reforma da estrutura física do núcleo de pesquisas. Segundo declaração de um pesquisador vinculado ao projeto 4: “sem as contrapartidas, não teríamos condições de melhorar nosso laboratório, tampouco comprar materiais e equipamentos. Os recursos repassados pelo governo não são suficientes para esse tipo de gasto”.
Deve-se salientar ainda as diferenças na estrutura de custos nas parcerias com as universidades e institutos de pesquisa. Enquanto as primeiras (representadas pelos projetos 1 a 4) declaradamente necessitam do aporte financeiro para aquisição de materiais permanentes, dadas as suas restrições de recursos e a falta de apoio de suas respectivas pró- reitorias, os institutos de pesquisa dispõem de estrutura montada (projetos 5 e 6). Para esses últimos, a alocação dos custos concentra-se principalmente na execução do projeto.
Outra questão citada em algumas entrevistas refere-se às mudanças nos instrumentos contratuais que regem essas parcerias. Dos projetos analisados, há cinco convênios e um contrato. Durante as entrevistas com os gestores da Usina Alfa, abordou-se o “porquê” da seleção desse tipo de instrumento.
[...] anteriormente, não tínhamos noção clara do quanto custava para fazer esse serviço todo. Pagávamos um preço fechado quando recebíamos os relatórios, sem saber se estaba caro ou barato. Passamos então a abrir a planilha, para compreender quais eram os custos envolvidos ao invés de pagarmos por um produto pronto. A partir dessa mudança, o convênio tornou-se mais adequado que o contrato [...] (grifo nosso) (entrevistado 5, entrevista pessoal, 4 de fevereiro, 2015).
E ainda:
[...] a partir da mudança de contrato para convênio, passamos a conhecer melhor os custos. Isso nos deu maior poder de negociação com os parceiros, e maior poder de decisão a respeito de como alocamos os recursos e negociamos nossas contrapartidas. Em geral, reduzimos os custos dos projetos em 30% (entrevistado 4, entrevista pessoal, 12 de Janeiro, 2015).
Com relação às contrapartidas das universidades e institutos de pesquisa, verificou-se que elas abrangiam os seguintes itens:
• utilização da capacidade instalada da instituição, correspondendo à estrutura de laboratórios, biblioteca, equipamentos específicos, softwares estatísticos;
• dedicação (descrita em horas) dos pesquisadores, analistas de laboratório e uso de materiais de laboratório da universidade e dos institutos de pesquisa.
A esse respeito, nenhum dos projetos conjuntos analisados envolvia contrapartida financeira na forma de desembolsos.
Uma vez definido o plano de trabalho e a estrutura de custos do projeto, quando assinado os termos contratuais que nortearão as relações entre os parceiros, as atividades passam para a fase de execução.
Nessa fase, encontravam-se as maiores dificuldades de gerenciamento da cooperação, sendo que os principais percalços se relacionavam com gestão conjunta dos aspectos técnicos e financeiros. Nesse contexto, procurou-se abordar a percepção dos gestores das universidades e institutos de pesquisa e dos gestores da Usina Alfa responsáveis pelas atividades administrativas e financeiras dos projetos. Concomitantemente, acompanharam-se processos de prestação de contas e de tramitação documental das solicitações de pagamento. Pelo lado da Usina Alfa, as declarações concentram-se nos seguintes pontos:
• número insuficiente de profissionais para trabalhar nas parcerias: em decorrência da falta de profissionais, por vezes, os gestores especializados atuam em mais de um projeto, de modo que sua disponibilidade para acompanhamento das atividades e redação dos relatórios técnicos fica comprometida;
• centralização de responsabilidades: na Usina Alfa, a gestão das parcerias ocorre de maneira centralizada. Em sua estrutura, não há uma divisão clara de responsabilidades, de modo que as atribuições pela gestão do projeto concentram-se em uma ou poucas pessoas;
• dificuldade de divulgação apropriada do conceito do projeto às comunidades: quando os projetos envolviam cursos de capacitação às comunidades locais, foram enfrentadas dificuldades para conseguir a adesão necessária para o atendimento dos objetivos do projeto e para transmitir o conhecimento na forma de cursos e palestras;
• dificuldade de atendimento dos procedimentos de prestação de contas: quaisquer questionamentos ou equívocos na prestação de contas resultam em atraso para todo o cronograma de desembolsos.
Pela perspectiva das universidades, citaram-se alguns dificultadores comuns e outros específicos do papel que esses atores assumem enquanto parceiros, sendo que muitos deles possuíam uma causa comum: a ausência de um profissional habilitado para trabalhar com as questões administrativas e financeiras dos projetos.
Os pesquisadores, em sua maioria com formação na área de biologia, zootecnia ou engenharia, por vezes, assumiam todas as responsabilidades do projeto. Nesse contexto surgiam problemas decorrentes da natural falta de familiaridade com a estruturação de processos que fogem de suas competências de formação. Conforme declaração de um pesquisador entrevistado:
[...] para trabalhar na Usina Alfa, não basta ser técnico na área de especialidade. Você precisa ser também administrador, contador, economista, advogado [...], por essas demandas burocráticas do convênio, perco tempo de trabalho que poderia estar me dedicando à execução prática do projeto, ao invés de estar preenchendo planilhas e formulários (entrevistado 7, entrevista pessoal, 18 de fevereiro de 2015).
Outra observação comum (para empresa e universidades e institutos de pesquisa) refere-se à falta de recursos humanos para auxiliar na execução prática e na tabulação de dados e análises laboratoriais. A tabela a seguir sintetiza os dificultadores citados pelos entrevistados das universidades e institutos de pesquisa.

Durante a coleta de dados foi possível observar que alguns frutos das interações e trabalhos conjuntos estavam presentes em todos os casos estudados, enquanto outros resultados representaram colaborações específicas, que em circunstâncias únicas (normalmente ligadas às especificidades dos projetos de pesquisa) possibilitaram a sua ocorrência.
A disseminação dos resultados e conhecimentos adquiridos na pesquisa conjunta por meio da submissão de artigos científicos foi um dos frutos observados em todos os projetos. Verificaram- se, ainda, os benefícios para as universidades, decorrentes da melhora de suas estruturas – instalações e equipamentos. Tais benefícios extrapolam a perspectiva temporal das parcerias, uma vez que esses ativos serão utilizados por anos e em vários outros projetos.
Para a Usina Alfa, cabe afirmar que todas as parcerias acabam por reforçar sua imagem institucional como uma organização de responsabilidade socioambiental. Outrossim, ações como as desenvolvidas em todos os projetos vão ao encontro das estratégias de citadas por Tundisi (2003) para evitar riscos e impactos em nível de bacias hidrográficas e reservatórios e, em especial, práticas de monitoramento, educação ambiental, controle da pesca e aquicultura.
Os resultados desses projetos e as informações geradas, supracitados no quadro 5 também fornecem subsídios para construção de relatórios e obtenção de certificações, tais como: IHA (International Hydropower Association), GRI (Global Report Initiative), Dow Jones Sustainability Index, ISE (BM&FBovespa), entre outros. Esses, por sua vez, representam uma fonte relevante de acompanhamento das boas práticas para a sustentabilidade.
O presente estudo procurou avaliar a relação de cooperação empresa-universidade a partir da análise de projetos conjuntos desenvolvidos na área de gestão ambiental de uma usina hidrelétrica. Assim, a partir da análise de relações de parceria estabelecidas entre uma usina, por meio de departamento inserido na área de gerenciamento ambiental, e universidades e institutos de pesquisa, procurou-se identificar especificidades das parcerias em gestão ambiental. A partir da revisão da literatura e dos principais pontos de discussão dessas parcerias, delimitaram-se as seguintes categorias de análise: (a) motivação para a consolidação das parcerias; (b) a composição dos custos previstos para viabilização das parcerias; (c) dificuldades para conciliar a gestão técnica com a gestão financeira das cooperações; e (d) a mensuração dos resultados e contribuições provenientes dessas interações.
Com relação às motivações para cooperar, observaram-se razões distintas, sendo que a usina hidrelétrica possuía como foco o atendimento de suas responsabilidades socioambientais e o levantamento de informações de natureza técnica que auxiliavam no direcionamento de ações de preservação do reservatório, das áreas protegidas e a mitigação de riscos ambientais. Pelo lado das universidades, as questões relativas à consolidação dos núcleos de pesquisa, a possibilidade de melhorar sua estrutura de equipamentos e instalações (derivadas das contrapartidas recebidas) estavam entre os principais motivos. As experiências anteriores bem-sucedidas reforçavam a manutenção da parceria. Para os institutos de pesquisa, a manutenção da parceria constituía a principal motivação, uma vez que reforçava sua condição de referência na área de pesquisa, mantinha-se com os recursos recebidos e agregava projetos correlatos em seu portfólio de projetos.
A respeito da estrutura de custos das parcerias, verificou-se a maior concentração de recursos destinados à execução prática dos projetos e a aquisição de materiais permanentes para as universidades. Em contrapartida, as universidades e os institutos de pesquisa ofereciam seu contingente de pessoas tecnicamente especializadas, seus materiais e sua estrutura, além das horas de dedicação de seus pesquisadores para execução prática, desenvolvimento de análises e elaboração de relatórios técnicos.
No tocante às dificuldades para conciliar a gestão técnica com a gestão financeira das cooperações, constataram-se limitações semelhantes para as partes envolvidas: a restrição de mão de obra qualificada bem como o excesso de controle e exigências documentais para comprovação da execução de despesas, representaram – com conotações distintas – gargalos tanto para os gestores da Usina Alfa e quanto para os pesquisadores.
Sobre os resultados e contribuições provenientes dos projetos desenvolvidos em cooperação, destaca-se o reforço da imagem institucional na usina e a possibilidade de empreender ações de natureza preventiva como, por exemplo, o monitoramento da qualidade da água do reservatório, a preservação das áreas protegidas e a melhora da qualidade de vida das comunidades locais. Na perspectiva dos parceiros, a publicação dos trabalhos e a consolidação de seus núcleos de pesquisa, bem como a possibilidade de dar continuidade aos projetos referem-se às principais contribuições observadas. Nesse quesito, cabe ressalvar que – diferentemente das cooperações na área tecnológica (Segatto & Mendes, 2002; Costa et al., 2010) – não houve menções sobre a preocupação com a transferência de conhecimentos entre os envolvidos.
A partir das relações de parcerias observadas na área de gestão ambiental, pode-se afirmar que um dos propósitos principais dessas relações consistiu na geração de dados e informações que servirão de subsídios para que a usina hidrelétrica direcione suas ações. De posse dessas informações, desenvolvem-se propostas de novos projetos com vistas a atender determinados objetivos estratégicos da usina investigada, voltados para a sustentabilidade. Acrescenta-se que a referida usina possui, em sua declaração de visão, o objetivo de se tornar “a geradora de energia limpa e renovável com o melhor desempenho operativo e as melhores práticas de sustentabilidade do mundo, impulsionando o desenvolvimento sustentável e a integração regional”.
A declaração de visão supracitada consiste num facilitador específico identificado nessa usina hidrelétrica: o suporte formal da empresa assegura credibilidade, legitimidade e acesso a recursos para a execução de projetos na área ambiental. A visão fornece também a sustentação necessária para a forma de atuação da usina com o meio que a circunda, o que inclui: comunidades ribeirinhas, pescadores, agricultores, índios e outros grupos.
Embora sejam necessários outros estudos dessa mesma natureza para reforçar as constatações apresentadas, pode-se afirmar que os propósitos de estabelecer relações de cooperação na área de gestão ambiental diferem daqueles observados em outros campos do conhecimento, como a engenharia e a biotecnologia, por exemplo. A afirmação é reforçada quando se analisa o quadro com as fases da cooperação – pré-desenvolvimento da cooperação, desenvolvimento da cooperação e pós- desenvolvimento da cooperação –, bem como as práticas administrativas de cada fase, como analisado por Costa et al. (2010) com base na literatura especializada.

Como limitações da pesquisa, pode-se apontar o fato da investigação ter sido desenvolvida uma única usina, tendo em vista que as particularidades locais podem alterar o escopo dos projetos conjuntos. As questões legais, condicionantes da operação de usinas hidrelétricas, e com forte interface com a gestão ambiental também não foram abordadas neste trabalho, representando outra limitação do estudo.
Como sugestão para estudos futuros, propõe-se replicar os estudos de cooperação em outras usinas de modo a avaliar a consistência dos resultados desta pesquisa. Dada a relevância do setor para a economia do país, a replicação dos estudos em usinas térmicas, nucleares e eólicas também constitui uma opção de pesquisa promissora. Outra sugestão consiste na possível utilizar dados achados desta investigação para que os gestores se atentem à questão da transferência de conhecimento entre as partes envolvidas, uma vez que esse tema representou uma das principais lacunas identificadas a partir do quadro 6.









