Resumo:
A percepção e uso de espaços verdes é importante para compreensão das contribuições que estes locais exercem na vida da população.
Objetivo do estudo: O presente estudo avaliou o uso e a percepção de frequentadores sobre o Parque Mário Pimenta Camargo (conhecido como Parque do Povo).
Metodologia: Os dados foram coletados através de entrevistas estruturadas realizadas com 100 frequentadores do parque localizado na cidade de São Paulo, Brasil. As entrevistas foram gravadas, transcritas e categorizadas. Utilizou-se o software Iramuteq para análise de conteúdo.
Resultados: A percepção sobre o parque é positiva, destacando-se desde as áreas verdes, playground, aparelhos de ginástica, segurança, acessibilidade, bem como sanitários e bebedouros. O uso do parque está relacionado para os frequentadores com a prática de atividade física e contato com natureza, sendo relacionado com melhor qualidade de vida. A falta de estacionamento e opções de alimentação foram considerados aspectos negativos.
Conclusão: Conclui-se que o Parque do Povo é percebido e utilizado pela população de forma satisfatória tanto em relação ao contato com a natureza quanto a melhoria no bem-estar e saúde, implicando em uma melhor qualidade de vida.
Palavras-chave:Espaços verdes urbanosEspaços verdes urbanos,Percepção ambientalPercepção ambiental,BiodiversidadeBiodiversidade,SaúdeSaúde,SustentabilidadeSustentabilidade.
Resumen:
La percepción y uso de espacios verdes es importante para comprender las contribuciones que estos locales tienen en la vida de la población.
Objetivo del estudio: El presente estudio evaluó el uso y la percepción de los frecuentadores sobre el Parque Mário Pimenta Camargo (conocido como Parque do Povo).
Metodología: Fueron realizadas entrevistas estructuradas con 100 frecuentadores del parque localizado en la Zona Sur de la ciudad de São Paulo, Sureste de Brasil. Las entrevistas fueron grabadas, transcritas y categorizadas. Se utilizó el software Iramuteq para el análisis de contenido.
Resultados: La percepción sobre el parque es positiva, destacándose desde la importancia de esas áreas verdes, playground, aparatos de gimnasia, seguridad, accesibilidad, así como sanitarios y bebederos. El uso del parque está relacionado para los frecuentadores con la práctica de actividad física y contacto con la naturaleza, y es entendido, por los mismos, con mejor calidad de vida. La falta de estacionamientos y opciones de alimentación fueron considerados aspectos negativos.
Palabras clave: Espacios verdes urbanos, Percepción ambiental, Biodiversidad, Salud, Sostenibilidad.
Abstract:
The perception and use of green spaces are important factors that help understand the contributions that these places exert to the life of the population.
Objective of the study: The present study assessed the use and environment perception of the regulars of the Mário Pimenta Camargo Park (known as Parque do Povo).
Methodology: Structured interviews were carried out with 100 regulars of the Parque do Povo, located in the Southern Zone of São Paulo City, southeastern Brazil. The interviews were recorded, transcribed and categorized. The software Iramuteq was used for the analysis of the contents.
Results: The perception of the park by its regulars is positive – they who highlighted not only the importance of green areas, playground, fitness equipment, security, and accessibility, but also restrooms and drinking fountains. The use of the park is related to physical activities and contact with nature, which are perceived by the regulars as better quality of life. The lack of parking places and food kiosks were considered negative aspects.
Keywords: Urban green spaces, Environment perception, Biodiversity, Health, Sustainability.
Áreas verdes e qualidade de vida: uso e percepção ambiental de um parque urbano na cidade de São Paulo, Brasil
Áreas verdes y calidad de vida: uso y percepción ambiental de un parque urbano en la ciudad de São Paulo, Brasil
Green areas and quality of life: use and environment perception of an urban park in São Paulo city, Brazil

Recepção: 22 Fevereiro 2018
Aprovação: 07 Junho 2019
Os espaços verdes urbanos estão se tornando, ao longo dos anos, importantes instrumentos de pesquisa e conservação por conta das diversas funções ecológicas, sociais e estéticas que oferecem às metrópoles. Eles são considerados um dos itens imprescindíveis para o bem-estar da população que reside nas grandes cidades. Segundo Loboda e De Angelis (2009), essas áreas são materializadas pela produção de praças e parques, que passam a ser espaços de aproximação dos seres humanos com a natureza. Além de oferecerem estrutura para a prática de atividades de lazer e recreação, contribuindo para o envelhecimento ativo da população (Gaikwad & Shinde, 2019).
Gaudereto, Gallardo, Ferreira, Nascimento e Mantovani (2018) observaram que na busca por um desenvolvimento mais sustentável, a preservação das florestas urbanas, como ocorre nos parques urbanos, se faz importante. Dentre os benefícios para as cidades destacam-se a conservação de espécies da fauna e da flora nativa, melhoria da qualidade do ar e da água, equilíbrio climático e consequentemente, conforto térmico. Além disso, essas áreas verdes se destacam entre os ambientes construídos, característicos das grandes cidades, proporcionando também benefícios estéticos. De acordo com Wang, Zhao, Meitner, Hu e Xu (2019), as pessoas tem preferência por locais com maior número de árvores e flores.
Priego, Breuste e Rojas (2008), discutem que o contato com a natureza contribui para a melhoria da qualidade de vida por proporcionar à população urbana a oportunidade de relaxar da agitação, além de contemplar e desfrutar de um ambiente natural. Os autores acrescentam que as áreas verdes, como os parques, devem satisfazer os anseios dos moradores urbanos que frequentam esses espaços, e estas necessidades devem ser refletidas nas políticas de planejamento urbano. De acordo com Pereira (2013), desde o surgimento dos parques, esses espaços verdes urbanos têm assumido múltiplas configurações e consequentemente, diferentes significados. Entretanto, os principais motivos de visitação relatados por frequentadores de parques em Sheffield, UK, ainda estão relacionados a saúde e bem-estar, conforme relatou Irvine, Warber, Devine-Wright e Gaston (2013).
Compreender a percepção ambiental permite o entendimento de como se dá a relação do ser humano com o ambiente. Essa compreensão possibilita a formulação de políticas de conservação e a tomada de decisão em estratégias de gestão de áreas verdes públicas, mais eficientes, pois estarão voltadas aos desejos e anseios da população que frequenta o local, como os parques urbanos (Suess, Bezerra & Carvalho Sobrinho, 2013; Dorigo & Lamano-Ferreira, 2015). Desse modo, será possível articular e legitimar estratégias de sustentabilidade urbana que podem servir como referência para os tomadores de decisão (Chiesura, 2004). Pois, os espaços verdes representam importantes recursos para planejar e desenvolver um ambiente urbano mais saudável (Sandifer, Sutton-Grier & Ward, 2015).
Para Brito, Régis e Lamano-Ferreira (2016) a percepção ambiental é uma importante ferramenta, capaz de orientar a formulação de políticas públicas adequadas às necessidades e ansiedades da população. De acordo com Dorigo e Lamano-Ferreira (2015), a percepção do ambiente é baseada na realidade de cada indivíduo. Dessa forma, reconhecer as diferentes percepções pode auxiliar na compreensão das interações estabelecidas por diversos indivíduos com espaços verdes públicos e se essas interações acontecem de forma sustentável ou não.
Diante do exposto acima, o Parque Municipal Mário Pimenta Camargo (Parque do Povo) foi selecionado para análise de percepção ambiental, com o objetivo de avaliar como os frequentadores percebem e utilizam este espaço público. Conhecer os anseios e percepções da população que utiliza o espaço é uma importante ferramenta, pois serve de orientação para políticas públicas compatíveis a sua população, bem como diagnóstico para identificar problemas ambientais.
Percepção Ambiental pode ser definida como o modo que cada indivíduo visualiza e interage com determinado ambiente, além das sensações que este o desperta. De modo que esta percepção promova, em cada indivíduo, a vontade de proteger e cuidar, da melhor maneira possível, do ambiente onde está inserido (Fernandes, Souza, Pelissari e Fernandes, 2004). Para Sousa, Araújo e Lopes (2012), o estudo da percepção ambiental permite compreender a dinâmica de troca entre homem e ambiente, na qual o indivíduo absorve sensações, a partir de aspectos subjetivos existentes em um determinado espaço, representados por elementos culturais e pelo entendimento do observador sobre estes.
Estudos sobre percepção ambiental são necessários para identificar qual papel os espaços verdes, introduzido nas metrópoles, desempenham na sociedade. Quais os benefícios os espaços verdes trazem aos grupos populacionais, como a gestão pública e/ou privada podem garantir sua conservação e manutenção, ou até mesmo, se há indícios de degradação ambiental. Tais dados se fazem necessários para direcionamento e tomada de decisões sobre soluções para os problemas, visando a melhoria contínua das áreas verdes urbanas.
Segundo Sousa et al. (2012) quando uma pessoa visita determinado local, dá-se início a uma reverência oriunda de sentimentos envolvidos ao meio natural, decorrentes da admiração de belas paisagens. No entanto cada pessoa tem uma visão particular do mundo (Tuan, 2012). Assim, cada indivíduo percebe, reage e responde de maneiras diferentes as questões ambientais (Cunha & Canan, 2015), ainda que estejam convivendo na mesma cidade, no mesmo bairro, as pessoas percebem ambientes distintos (Tuan, 2012).
As percepções entre indivíduos são distintas, pois leva-se em consideração fatores socioeconômicos e culturais, que resultam em pensamentos, expectativas e julgamentos diferentes. Desta forma, entende-se a importância dos estudos de percepção ambiental para compreensão das relações entre o homem e a natureza, por meio de diferentes pensamentos e julgamentos de indivíduos de diferentes planos sociais. O que reforça a premissa de que as pessoas de diferentes origens e culturas usam e percebem as áreas verdes urbanas de maneiras distintas (Priego et al., 2008).
O constructo da percepção ambiental passou a ser utilizado nos estudos sobre parques públicos nos grandes centros urbanos. A investigação científica proporciona oportunidades de compreender como os indivíduos formam suas percepções sobre o ambiente natural (Petrosillo, Zurlini, Corliano, Zaccarelli & Dadamo, 2007). Bi, Zhang e Zhang (2010) acrescentaram que a compreensão da natureza, pode ser vista como uma ferramenta importante na formação do ambiente baseada nas escolhas e comportamentos dos seres humanos.
A investigação sobre a percepção ambiental, pode ser usada como uma ferramenta pelos gestores públicos, gerando subsídios e envolvendo a sociedade (Viana, Lopes, Neto, Kudo, Silva Guimarães & Mari, 2014; Dorigo & Lamano-Ferreira, 2015; Mak & Jim, 2019) nas estratégias de gestão das áreas verdes, como os parques urbanos. Pois como ressaltaram Bi et al. (2010) a participação pública na tomada de decisões a respeito de políticas que visam o desenvolvimento sustentável tem sido cada vez mais reconhecida.
Os fragmentos florestais, como áreas verdes urbanas (Barros, Bisaggio & Borges, 2006), nas últimas décadas vêm se tornando os principais defensores do meio ambiente, pelo espaço que lhes é destinado nas grandes cidades (Loboda & De Angelis, 2009), pois de acordo com Fiera (2009), essas áreas são caracterizadas por muitas pressões, como: espaço limitado, condições climáticas adversas, poluição do ar, dentre outras.
Para Jankovska, Straupe e Panagopoulos (2010) o papel desses espaços verdes urbanos diverge entre algumas cidades, devido aos distintos aspectos ambientais e socioculturais. Consistindo em um valioso recurso para as cidades superlotadas, conforme define Ryan (2005). Como parte do ecossistema urbano (Li, Wang, Paulussen & Liu, 2005), os parques urbanos oferecem benefícios ambientais como contato com a natureza e oportunidades de lazer (Lo & Jim, 2012). Além de promoverem melhorias na qualidade de vida dos cidadãos que habitam as grandes cidades (Acar & Sakici, 2008).
Segundo Chiesura (2004) os parques urbanos representam uma importante estratégia na qualidade de vida da população que reside nas áreas urbanas, por fornecerem serviços ambientais como a purificação do ar e estabilização do microclima. Para Chaves e Amador (2015), as áreas verdes urbanas, como os parques, proporcionam um ambiente agradável para recreação e lazer por filtrarem a poluição do ar e amenizarem as altas temperaturas. Além disso, promovem interações sociais nas grandes cidades.
Pensando na melhoria da qualidade de vida dos cidadãos paulistanos, a Secretaria do Verde e do Meio Ambiente (SVMA), decidiu ampliar o sistema de áreas verdes no Município de São Paulo (Branco, Brischi, Souza, Silva, Pereira, Ferreira, Neves, Sepe, Garcia, & Geraldi, 2011), criando o Programa 100 Parques para São Paulo, e posteriormente, o Plano Diretor Estratégico do Município de São Paulo. Atualmente a Cidade dispõe de 107 parques (SVMA, 2019), distribuídos pelas regiões metropolitana. Porém, não basta apenas criar e distribuir os parques pela cidade, é preciso se atentar à formação de cidadãos mais conscientes e sensibilizados ambientalmente (Viana et al., 2014).
As políticas públicas precisam ser muito bem articuladas, para efetivamente envolver a população na defesa pela qualidade ambiental (Mello-Théry, 2011). Dessa forma, a realização de estudos sobre a percepção ambiental de frequentadores de parques urbanos, gera importantes resultados que podem ser usadas como estratégia de gestão, por serem embasados nos desejos e anseios da população que frequenta, usufrui dos serviços, atividades, eventos e da infraestrutura oferecida em parques urbanos (Régis, 2016).
O estudo foi realizado no Parque Municipal Mário Pimenta Camargo (conhecido como Parque do Povo), localizado no distrito do Itaim Bibi, região nobre da zona Sul da Cidade de São Paulo (Figura 1). Segundo a Prefeitura de São Paulo, sua área de formato orgânico é de 133.547 m² e sua infraestrutura possui quadras esportivas, aparelhos de ginástica, playground infantil, ciclovia (que faz ligação com outros parques da Cidade, como o Villa-Lobos e o Ibirapuera), pista de caminhada, sanitários, roteiros botânicos (Jardim Sensitivo) e outras particularidades. Quanto à flora, sua vegetação possui exemplares arbóreos adultos e mudas de espécies exóticas, madeiras nobres, trepadeiras e um jardim sensitivo com plantas aromáticas. Sobre a fauna, foram localizados, aproximadamente, 37 tipos de espécies de aves típicas em ambientes abertos (PMSP, 2014).

O parque funciona diariamente das 6h às 22h e está próximo de diversos estabelecimentos comerciais, centros empresariais e residenciais. Possui boa localização e acessibilidade, como a presença de pontos de taxi, ônibus e a estação de trem da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), no entorno do espaço. O Parque estava instalado numa área pertencente à Caixa Econômica Federal e ao Instituto Nacional de Seguro Social. Durante duas décadas, diversas agremiações irregulares fizeram o uso do local, até que em 2006 a Prefeitura da Cidade de São Paulo conseguiu a cessão do espaço. Foi reinaugurado em 2008, pertencente agora a Prefeitura Municipal de São Paulo (PMSP), sob administração da Secretaria do Verde e Meio Ambiente (SVMA) e direção do Departamento de Parques e Áreas Verdes (DEPAVE 5).
As visitas ao Parque, para a coleta de dados, ocorreram em dias aleatórios entre os meses de outubro de 2016 e maio de 2017. O público alvo foram os frequentadores do Parque do Povo com idade acima de 18 anos, e as entrevistas foram realizadas no método face a face (como no estudo de Lo & Jim, 2012), onde o pesquisador fala diretamente com o entrevistado (Creswell, 2014). As entrevistas foram gravadas e posteriormente transcritas pela autora.
Cabe destacar, que respondentes foram escolhidos aleatoriamente dentre os frequentadores que estavam no Parque durante o período de coleta dos dados. Para cada participante foram explicados os propósitos da entrevista e entregue o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Este foi lido e assinado por cada entrevistado, permitindo o uso das informações. O roteiro e o TCLE foram aprovados pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Humanos (CoEP), da Universidade Nove de Julho, sob o protocolo nº 848.248.
O roteiro das entrevistas (Quadro 1), consistiu em duas seções, sendo uma delas a caracterização do perfil dos entrevistados e a outra a avaliação da percepção ambiental. Para traçar o perfil dos frequentadores, foram identificadas as seguintes variáveis: 1. Faixa etária; 2. Escolaridade; 3. Situação conjugal; 4. Número de filhos; 5. Número de habitantes por residência; 6. Frequência de uso do Parque; 7. Companhia; 8. Período que frequenta o Parque; 9. Facilidade de acesso ao Parque; e 10. Transporte utilizado. Nessa pesquisa optou-se por não questionar informações sobre a renda dos entrevistados, uma vez que outras variáveis pesquisadas (como a 2 e 5), indicam condições socioeconômicas.
Para a segunda seção, foi avaliada a percepção e uso do parque pelos frequentadores. Nesta etapa, utilizou-se métodos mistos, e foi dividida em dois blocos. No bloco 1: Assertivas sobre a infraestrutura do parque, avaliadas pelos entrevistados por uma escala likert (escala psicométrica usada em pesquisas de opinião) com as seguintes opções: 1. Muito ruim; 2. Ruim; 3. Razoável; 4. Boa e 5. Muito boa.

E no bloco 2, para a avaliação e compreensão da percepção ambiental do entrevistado, foram realizadas as seguintes perguntas: “Para você, como é o Parque do Povo?” e “Como você descreveria o parque para alguém que nunca o visitou?”. Estas foram perguntas abertas, em que as falas dos entrevistados foram analisadas e categorizadas, em como eles percebem e utilizam este espaço público. Após a transcrição, os dados foram processados no software IRAMUTEQ® (Interface de R pour les Analyses Multidimensionnelles de Textes et de Questionnaires), o que a análise estatística de dados textuais (Kami et al., 2016), bem como o tratamento mais organizado e rigoroso aos dados qualitativos (Duarte, 2004).
As respostas de cada pergunta foram processadas e analisadas separadamente no software IRAMUTEQ., e utilizado o método de análise de conteúdo. Para a análise da pergunta “Para você, como é o Parque do Povo?”, utilizou-se os recursos do IRAMUTEQ. para a elaboração de fluxograma das palavras ativas das entrevistas por similitude e dendograma de classes. Os resultados foram expressos em quadros, fluxogramas de similitude de palavras e figuras explicativas (nuvem de palavras), mediante ao uso de palavras-chave de maior incidência no discurso dos entrevistados (Camargo & Justo, 2013; Brito, 2017).
No período em que foram realizadas as entrevistas, 100 frequentadores aceitaram voluntariamente responder o roteiro, sendo 61 (61%) mulheres e 39 (39%) homens, conforme apresentado na Tabela 1. Foi perguntado aos entrevistados sua idade, e a faixa etária de maio ocorrência, tanto em mulheres (39,34%) quanto homens (41,03%), foi a faixa etária entre 30 e 39 anos. Entretanto, são encontrados no Parque do Povo frequentadores de todos os grupos etários, ou seja, adolescentes, adultos e idosos.

Kim e Jin (2018) enfatizam que as vantagens de parques urbanos sobre o bem-estar das pessoas, e apontam que os benefícios são muito maiores para idosos do que para jovens adultos. Estes autores ressaltam ainda que idosos demonstram disposição para pagar por parques urbanos. Entretanto, um dos primeiros estudos com adolescentes também indicam benefícios que espaços verdes exercem sobre a saúde mental desta faixa etária na Califórnia, EUA (Wang, Meng, Lam & Ponce, 2019). Neste contexto, cabe sugerir que visitas aos parques urbanos na cidade de São Paulo poderiam ser orientadas, em especial para idosos, uma vez que a cidade possui 107 parques e um número crescente de idosos. E desta forma, os parques contribuiriam com o envelhecimento ativo da população, como apontado por Gaikwad e Shinde (2019).
Quanto ao nível de escolaridade, a maior ocorrência em ambos os gêneros prevaleceu o grau de instrução de nível superior, onde 65,57% das mulheres e 71,79% dos homens possuem ensino superior completo. A alta incidência de frequentadores de nível superior pode ser justificada pelo local em que o parque está implantado, pois de acordo com o Centro de Estudos da Metrópole (CEM, 2016), o distrito de Itaim Bibi possui baixos registros de favelas e nenhum registro de loteamento irregular. Além disso, cerca de 76% dos habitantes da área possuem renda domiciliar superior a 5 salários mínimos (Infocidade, 2010). Sobre a situação conjugal, 47,54% das mulheres responderam que são solteiras e 53,85% dos homens são casados ou estão em união estável.
Ainda sobre a Tabela 1, é possível observar que aproximadamente metade das mulheres e homens não possuem filhos, e 75,41% das mulheres e 82,05% dos homens residem com até três pessoas. Tanto a escolaridade quanto o número de moradores na residência, indicam que os frequentadores entrevistados do Parque do Povo possuem um bom poder aquisitivo, sugerindo uma classe econômica média alta.
Quando perguntados sobre a frequentabilidade de uso do Parque do Povo, 57,38% das mulheres e 48,72% dos homens declararam que costumam frequentar o parque somente aos finais de semana, e 83,61% das mulheres e 76,92% dos homens alegaram que costumam frequentar o parque sozinho, conforme demonstrado na Tabela 2. Quanto ao período que utilizam o parque, a maioria das mulheres (54,10%) preferem o parque no período da manhã e os homens (53,85%) preferem à noite.
Sobre a acessibilidade, 90,16% das mulheres e 84,62% dos homens disseram que possuem fácil acesso ao parque, e o tipo de transporte mais utilizados pelas mulheres (57,38%) e homens (46,15%) é o carro. Baum e Palmer (2002) relatam que um dos fatores que levam as pessoas a frequentarem as áreas verdes é a facilidade de se chegar ao local, bem como o conforto e a segurança. Para Zhang e Zhou (2018), que estudaram a acessibilidade de parques em Pequim, na China, a acessibilidade via transporte público influência o uso de parques, assim com a distância e número de ônibus afetam as visitas.

Os dados levantados demonstram que das dez assertivas realizadas para identificar como os frequentadores do Parque do Povo avaliam a infraestrutura, os equipamentos e os serviços oferecidos nesse espaço, nove foram consideradas um cenário Bom, pois foram atribuídas a elas a resposta: 4. Boa. Enquanto um foi considerado um cenário Ruim, por ter recebido a resposta: 2. Ruim, conforme demonstra a Figura 2.
É possível observar que os cenários avaliados como Bom pelos entrevistados, tanto do gênero masculino quanto do gênero feminino, foram: Qualidade das áreas verdes (52,0%) - 1A; Infraestrutura do Parque (60,6%) - 1B; Qualidade dos banheiros (50,6%) - 1C; Disponibilidade de bebedouros (41,6%) - 1D; Qualidade dos brinquedos – playground (61,1%) - 1E; Disponibilidade de bancos (46,5%) - 1F; Disponibilidade de equipamentos de ginástica (51,1%) - 1G; Qualidade da pista de caminhada (47,0%) - 1H; e Segurança do parque (61,6%) - 1J.


A avaliação positiva sobre a infraestrutura, equipamentos e serviços encontrados no Parque do Povo (tanto pelos homens, quanto pelas mulheres), indica que os entrevistados percebem e utilizam o Parque, como um espaço de lazer e recreação. Uma vez que este oferece bons equipamentos para a realização dessas e de outras atividades, assim como observado no estudo de Régis, Lamano-Ferreira, Ramos e França (2016). E mesmo com a duplicação do número de parques municipais criados na última década, este parque está sendo bem avaliado e utilizado pelos frequentadores.
Quanto ao cenário avaliado como ruim, observa-se na figura 2, que 34,8% dos homens e mulheres entrevistados consideram a “Disponibilidade de estacionamento” como ruim. A avaliação negativa sobre esse elemento, apresenta um aspecto que podem influenciar, significativamente, os visitantes a deixarem de frequentar o Parque do Povo, pois como demonstra a tabela 2, 56,45% das mulheres e 47,37% dos homens utilizam carro para chegar ao Parque.
Esses resultados indicam que a aproximação com a natureza e a facilidade de acesso não são os únicos aspectos que atraem e influenciam a população estudada a frequentar o Parque do Povo. Mas também, as características particulares deste local, como as condições de funcionamento, da manutenção e dos equipamentos, bem como, os serviços oferecidos ao público que o frequenta, conforme observa Costa (2012). O Parque também conta com vigias que atuam durante todo o período de funcionamento do espaço, aspecto percebido como local seguro e tranquilo à população que frequenta.
Santos et al. (2016a), também ressaltam que o Parque do Povo tem ótima infraestrutura esportiva e inferem que o parque foi destinado ao público que busca praticar atividades físicas, como o futebol, os circuitos de ginástica e CrossFit, corridas e caminhadas, yoga, massagem, artes marciais, entre outras práticas. O Parque também é frequentado por adultos acompanhados de crianças que fazem uso de playgrounds, bem como, por idosos que utilizam as academias da terceira idade. As autoras também observaram a presença de visitantes passeando com animais, e outros utilizando os espaços mais sombreados para prática de piquenique e de descanso.
Ainda de acordo com as palavras de Santos et al. (2016b), em toda a área do Parque do Povo são encontradas placas informativas identificando as espécies de plantas, os equipamentos e infraestrutura do local (pistas, banheiros, bebedouros, quadras, administração, entre outros). Bem como, informativos sobre as normas de cada ambiente do parque. As autoras destacam que o Parque não dispõe de pontos de venda de alimentos, telefones públicos e estacionamento, assim justificando os entrevistados (34,8%) perceberem a disponibilidade de estacionamento como um aspecto ruim do Parque (tabela 2).
A análise dos resultados permite enfatizar que os entrevistados interagem, utilizam e percebem o Parque do Povo de forma positiva. E o fato de terem apontado um aspecto negativo confirma que esses indivíduos percebem o Parque baseados em suas reais experiências e interações estabelecidas com o local, não em aspectos fantasiosos e ilusórios, assim como descrito por Régis (2016).
Quando perguntado aos frequentadores “Para você como é o Parque do Povo?”, foram geradas uma lista de palavras, e optou-se por colocar somente as seguintes classes gramáticas: nominal (nom), adjetivos (adj), verbos (ver) e advérbios (adv). A Tabela 3 demonstra as vinte palavras de maior ocorrência nas falas dos frequentadores.

No fluxograma da análise da similitude (Figura 3) nota-se que a palavra “parque” é a mais citada pelos frequentadores, que possui conexão com as palavras “gostoso”, “organizado”, “bonito”, “organizado”, “calmo”, “seguro”. Nesse sentido, é possível inferir que os frequentadores associam o parque a algo ótimo, e por isso recomendariam. A palavra “muito” está associada com as palavras “bom”, “não”, “cheio”, “tranquilo” e “pequeno”. No discurso geral dos frequentadores, o parque é visto como um bom parque, tranquilo e não muito cheio e pequeno quando comparado com outros parques da cidade, podendo observar nas opiniões dos entrevistados: “Excelente, muito bom.”. “É um parque bem localizado no meu entendimento, é um parque com jardins bem cuidados, pista bem cuidada também, frequentado por famílias, enfim, muito bom, gosto bastante.”. “É um lugar bem tranquilo, bonito, e não é muito cheio, é isso.”. “Pra mim é de fácil acesso, que eu moro a menos de 1km daqui, eu acho ele bem conservado, bem frequentado, não muito cheio, então eu gosto bastante.”. “Relativamente pequeno comparado a outros parques, e proximidade boa com área grande de circulação.”.

A palavra “bem” está fortemente ligada com as palavras “estruturado”, “agradável”, “cuidado” e “conservar”. Compreende-se que os frequentadores consideram o parque estruturado e bem conversado, conforme os relatos dos entrevistados: “Vista excelente a agradável, pessoal simpático, educado, nível muito bom. Bem cuidado os bancos, brinquedos, arvores, folhas, gramado, bom para animais.”; .O parque do povo ele é bem estruturado, bem distribuído é...Tem local para caminhada, pra bike, pra piquenique, pra crianças, porém eu acho que ele peca um pouco no sentido de mais arvores, falta de mais vegetação mas no geral ele é bom.”; “Um parque bem conservado, tem boas áreas verdes, tem área de caminhada, e... eu acho um parque bom, um bom parque”.
Outra palavra bastante citada pelos frequentadores foi o verbo “achar”, que pode ser usada para julgar ou opinar algo. No discurso dos frequentadores, ela foi usada principalmente para expressar as melhorias que podem ser aplicadas no espaço: “Parque do Povo é um lugar agradável, com muita segurança, mas que eu acho que faltam mais áreas de sombra pra as pessoas poderem descansar, e eu acho que falta um pouco de... alguma coisa pra você se alimentar, uma lanchonete aqui dentro, mas não é... ambulante, uma coisa fixa, pra você ir lá e comprar.”. “Olha, eu considero uma localização boa, pois eu moro aqui perto, eu acho que é um parque bacana, mas que está faltando mais árvores né, mas eu gosto dele e acho muito importante para a região aqui.”. “O Parque do Povo funciona bem, a gente aproveita bastante as estruturas de quadra e eu acho que ele poderia estar mais direcionado a essa pratica de esportes para crianças.”.
O software forneceu cinco classes que contém as palavras que obtiveram maior porcentagem quanto à frequência média entre si e diferente entre elas (Figura 4). Na Classe 1, explicitou-se na importância do parque para os frequentadores que praticam atividades físicas, relatando a área como adequada para a prática de exercícios físicos. As Classes 2 e 3 foram relacionadas com as sensações e características despertadas pelos frequentadores que visitam o Parque do Povo. As opiniões sobre a acessibilidade que o parque garante aos frequentadores foram expressos na Classe 4, e a Classe 5 expressou a avaliação dos entrevistados sobre a infraestrutura geral.

A análise realizada a partir do dendograma de classes possibilitou a construção do Quadro 2, onde os dados apresentados foram sustentados pela narrativa qualitativa por meio de interpretação pessoal, e sustentada pela literatura conforme realizado por Souza et al.(2018).


Observa-se que os entrevistados, quando perguntados sobre como eles descreveriam o local para uma pessoa que nunca o visitou, atribuíram qualidades ao Parque do Povo, caracterizando o parque como “agradável”, “seguro”, “gostoso”, “limpo”, “sossegado”, “familiar” e “organizado”, conforme Figura 5. Não foram identificados adjetivos que qualifique negativamente o parque. Chiesura (2004) realizou um estudo em um parque na Holanda e constatou que os homens relatam sentimentos positivos quando questionados sobre suas experiências com a natureza urbana. Tais experiências se assemelham com as do Parque do Povo, por conta da alta proporção de respostas positivas informadas pelos entrevistados desta pesquisa.

O uso e percepção de frequentadores sobre parques urbanos, e outras áreas verdes, raramente são coletados e analisados visando melhorar o planejamento e gerenciamento do espaço público. Estes resultados se assemelham com o estudo de Mak e Jim (2019), em que seus resultados permitiram a formulação de uma estratégia abrangente, socialmente relevante e sensível, adequando os parques as necessidades de lazer daqueles que realmente utilizam estes espaços. Sugere-se a construção de indicadores sociais que avaliem os usos de áreas verdes urbanas e estimem usos como o cultivo de hortas comunitárias.
Os dados de percepção ambiental do parque mostraram que os frequentadores entrevistados estão satisfeitos com a infraestrutura e serviços oferecidos no parque, destacando o papel e os benefícios destas áreas verdes para a cidade e sociedade. Durante as visitas ao parque, foi observado bom estado de conservação em todos os ambientes do local e a presença de vigias, que inspira aos frequentadores tranquilidade, segurança e o contato com a natureza. O único aspecto negativo identificado durante o levantamento de dados foi à disponibilidade de estacionamento, já que o parque não possui o serviço disponível e a maioria dos frequentadores utilizam o carro como meio de transporte para acesso ao espaço.
É importante ressaltar alguns cenários que os voluntários estudados apontaram que necessitam de melhorias no local, como a disponibilidade de estacionamento, visto que muitos frequentadores utilizam o carro como meio de transporte para visita ao parque, relatando a dificuldade de estacionar o veículo. Outro aspecto citado pelos frequentadores foi sobre a área arbórea, que apesar diversidade na composição florística de espécies nativas, exóticas, frutíferas e madeiras nobres, nota-se a baixa densidade dessas espécies, tornando o espaço uma área aberta e com pouca sombra.
Conclui-se que o Parque do Povo é percebido e utilizado pela população de forma satisfatória tanto em relação ao contato com a natureza quanto a melhoria no bem-estar e saúde, implicando em uma melhor qualidade de vida. Sugere-se a gestão pública ofereça manutenção para a conservação destes espaços nas cidades, uma vez que os benefícios a saúde da população estão relacionados com a qualidade e quantidade de parques disponíveis nas cidades. Ressalta-se a importância de se considerar e aplicar as informações sobre a percepção e preferências de frequentadores para melhorar os parques urbanos.











