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Hospitalidade e Lazer na Avenida 43 em Barretos, SP

Hospitality and Leisure on 43rd Avenue in Barretos, SP, Brazil

MAYARA DA COSTA RODRIGUES SILVA
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo, Brasil
RICARDO LANZARINI
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo, Brasil

Hospitalidade e Lazer na Avenida 43 em Barretos, SP

Rosa dos Ventos, vol. 9, núm. 1, pp. 3-17, 2017

Universidade de Caxias do Sul

Recepção: 13 Junho 2016

Aprovação: 21 Dezembro 2016

Resumo: O presente artigo analisa as relações de sociabilidade e hospitalidade entre moradores e turistas a partir da prática de lazer e entretenimento oferecida na Avenida 43, em Barretos, SP, durante a Festa do Peão de Boiadeiro no ano de 2015. Para a investigação adotou-se o método hipotético-dedutivo de caráter qualitativo e quantitativo, com a aplicação de questionários aos moradores do entorno da área selecionada e aos turistas, antes e durante o evento. Dentre os resultados, identificou-se que os residentes não se incomodam com a movimentação dos visitantes e a Avenida 43, mesmo sem equipamentos específicos, é considerada uma opção de lazer à classe desfavorecida, que não participa da festa por seu custo elevado. Logo, o espaço desponta como um ponto de encontro que se sustenta pela hospitalidade dos residentes e as novas possibilidades de socialização com os visitantes, que são, em sua maioria, jovens de classe média e alta. Constatou-se, ainda, que os turistas não buscam equipamentos específicos para o lazer no local, mas sim, relacionarem-se com os residentes para festejar o evento em espaço público, sem os elevados custos dos espaços fechados, e com a liberdade de circulação na proximidade dos meios de hospedagem, bares e restaurantes.

Palavras-chave: Hospitalidade, Lazer, Sociabilidade, Barretos, São Paulo, Brasil.

Abstract: Present paper analyses sociability and hospitality relationship between local residents and tourists through leisure and entertainment practices offered at 43rd Avenue, in Barretos, SP, during the Rodeo Festival, in 2015. This research adopted hypothetical-deductive method with qualitative and quantitative characteristics. Before and during festival, questionnaires were applied to local residents who live surrounded area and also to tourists. Data showed that resident’s didn´t feel disturbed by people’s movement. It was also found that even if there is no specific leisure equipment, 43rd avenue is considered as a leisure option for those people who cannot afford or be part of the festival due to its high prices. Thus, 43rd Avenue appears as a place where people ground by the hospitality of local resident´s and new possibilities of socialization with tourist, a group of people formed mostly teenagers’ middle class and upper class. The research also present that tourist really want to be with local residents to fraternize in a way that escapes from high prices charged in indoors places besides to be free to come and go near the hotels, pubs and restaurants.

Keywords: Hospitality, Leisure, Sociability, Barretos, São Paulo, Brazil.

PRIMEIRAS CONSIDERAÇÕES

O setor turístico, no Brasil, tem despontado como uma das atividades econômicas mais importantes para o desenvolvimento de cidades ou regiões com atratividade natural. Para os espaços sem recursos naturais de interesse, criam-se grandes áreas ou complexos turísticos artificiais, capazes de atender às mais variadas demandas, como negócios e evento. A economia local é aquecida com os investimentos externos, criam-se novos empregos e aperfeiçoa-se a infraestrutura para atender a população local e flutuante.

Barretos, localizada no Estado de São Paulo, a 433 km da capital, apresenta uma população com pouco mais de 118 mil habitantes (IBGE, 2010). A cidade é conhecida pela realização, desde 1956, da Festa do Peão de Boiadeiro, que atrai anualmente cerca de 900 mil pessoas, em seus 10 dias de edição. Os turistas que se deslocam até a Festa buscam entretenimento, convívio com outras pessoas e fuga da rotina, assim como conhecimento da cultura do peão de boiadeiro, que demarca a identidade turística local, expressa na música, na alimentação, nas vestimentas e nos ambientes sociais da Festa.

Além das dinâmicas sociais e culturais promovidas na área privada do evento, boa parte do público participante costuma reunir-se na Avenida 43, via pública da cidade onde se encontram hotéis e pousadas, bares e restaurantes, lojas de souvenires, supermercados e postos de combustível, distribuídos em dez quadras, em linha reta. Essa concentração de pessoas interdita a Avenida, ocupada por turistas e moradores, numa dinâmica social que se assemelha a dos carnavais de rua, espalhados pelo país. A diversão fica por conta da criatividade de cada grupo, em atividades livres.

Durante os dois finais de semana do evento, a Avenida 43 torna-se palco alternativo à Festa do Peão de Boiadeiro, por oferecer divertimento gratuito, atraindo visitantes e moradores que, muitas vezes, frequentam o espaço público em detrimento das áreas pagas do evento central. As pessoas reúnem-se em torno de carros de som, com muita bebida. Cabe destacar que tal movimentação estabeleceu-se espontaneamente, talvez pela proximidade dos meios de hospedagem, bares e restaurantes. O alto fluxo de turistas e a concentração de pessoas na Avenida 43 modificam os hábitos locais, tanto de moradores do entorno quanto de comerciantes ali estabelecidos. Beneficiam-se serviços como revendedores de veículos automotivos, Correios, oficinas mecânicas, bancos, produtos para piscinas, jardinagem e decoração, porque a concentração na Avenida gera interdição de vias e o desvio de rota pelos consumidores locais.

Assim, esta pesquisa, realizada durante o ano de 2015, teve como principal objetivo compreender as dinâmicas econômicas que se estabelecem nessa área, bem como os possíveis impactos sociais positivos e negativos resultantes do encontro entre turistas e residentes, identificando quais atividades ou equipamentos de lazer o turista encontra no local. É também propósito da pesquisa compreender a noção de hospitalidade praticada pelos residentes em relação aos turistas, durante esse processo de socialização.

TURISMO, HOSPITALIDADE E LAZER

O deslocamento humano, pelos mais variados motivos, está presente ao longo da História, as experiências vivenciadas durante as viagens modificando hábitos e costumes. Castelli (2006) cita que “desde os primórdios, o homem foi fascinado por viagens, movido por necessidades e desejos dos mais variados, como férias, negócios, aventuras, saúde e religião. As viagens agregam valor às pessoas, tanto para os visitantes quanto para os visitados” (p. 141). O turismo, com as viagens agenciadas e formação de uma cadeia produtiva que envolve a prestação de serviços específicos aos viajantes, aparece no final século XIX. De acordo com a Organização Mundial do Turismo (OMT, 2001) “o turismo compreende as atividades realizadas pelas pessoas durante suas viagens e estadas em lugares diferentes do seu entorno habitual, por um período consecutivo inferior a um ano, por lazer, negócios ou outros” (p.38).

Atrelado ao conceito de Turismo está o conceito de Hospitalidade, palavra derivada do francês hospice, que indica asilo ou albergue, dar ajuda e ou abrigo a viajantes (Walker, 2002). Refere, ainda, a pessoas hospitaleiras, àquelas que exercem o papel de anfitriãs e oferecem conforto e segurança ao seu hóspede (Lashley & Morrison, 2004). O hospitaleiro e o hóspede interagem em relações sociais e comerciais complexas de aproximação pessoal e cultural, criando laços de afeto ou rejeição, dependendo das experiências estabelecidas. O encontro entre turistas e residentes consiste em trocas humanas de relações que devem se basear na Hospitalidade, tanto pela boa conduta e convivência social quanto pelas relações comerciais enquanto atividade econômica de prestação de serviços, que interpelam o turismo. Nesse cenário, as trocas simbólicas e materiais entre culturas e costumes locais são inevitáveis e necessitam ser geridas de modo a atenuar possíveis transgressões no espaço local.

A Hospitalidade pressupõe a satisfação do visitante no local visitado. Boff (2005) afirma que a Hospitalidade está ligada à reciprocidade, como uma virtude humana, sem contextos comerciais. Como exemplo, pode-se considerar o ‘estranho’, que chega a uma pequena comunidade e desperta receio e ou curiosidade no local, mas que ao se estabelecer uma relação cortês, ou seja, hospitaleira, o ‘estranho’ pode se tornar membro da comunidade, aceito como semelhante. Para Dencker (2004), a Hospitalidade se manifesta “nas relações que envolvem as ações de convidar, receber e retribuir visitas ou presentes entre os indivíduos que constituem uma sociedade, bem como formas de visitar, receber e conviver com indivíduos que pertencem a outras sociedades e culturas” (p. 189). O ato de acolher, criando laços de comprometimento, é teorizado por Marcel Mauss sob o conceito de dádiva, que para ele consiste nos atos de dar, receber e retribuir algo, seja abstrato, como um sentimento, ou material.

Em todas essas sociedades, as pessoas se apressam em dar. Não há um instante um pouco além do comum, mesmo fora das solenidades e reuniões de inverno, em que não haja obrigação de convidar os amigos, de partilhar com eles os ganhos de caça e de colheita que vêm dos deuses e dos totens; em que não haja obrigação de redistribuir tudo o que vem de um potlatch de que se foi o beneficiário; em que não haja obrigação de reconhecer mediante dádivas qualquer serviço, os dos chefes, dos vassalos, dos parentes; sob a pena, ao menos para os nobres, de violar a etiqueta e perder sua posição social (Mauss, 2002, p. 245).

A Hospitalidade é uma ferramenta importante para receber turistas e ampliar os benefícios que podem ser gerados a partir da convivência entre estes e os moradores locais. Lashley (2015) salienta que “é possível identificar uma série de razões para se oferecer hospitalidade. De um lado, a hospitalidade é oferecida na expectativa da contrapartida do ganho pessoal, enquanto, de outro, a hospitalidade é ofertada meramente pelo prazer de dar prazer a outras pessoas” (p. 72).

Outro importante conceito é o de Lazer, especialmente enquanto prática social motivadora da demanda turística, público que inclui boa parte dos frequentadores da Festa do Peão Boiadeiro, de Barretos. O termo Lazer, do latim licere, equivalente a ‘ser permitido’. Do grego vem o termo scholé, que significava, simultaneamente, lazer e educação de si mesmo (Camargo & Ansarah, 2001). Trata-se de um tempo livre de obrigações, dedicado apenas ao crescimento pessoal e meditação, associado a praticas dos homens livres. Gradativamente, e não só na Grécia, o tempo livre tornou-se cada vez menor, sendo ocupado de acordo com a classe social e período histórico. Dumazedier (1973) compreende o lazer como:

Conjunto de ocupações às quais o indivíduo pode entregar-se de livre vontade, seja para repousar, seja para divertir-se, recrear-se e entreter-se ou ainda para desenvolver sua formação desinteressada, sua participação social voluntária, ou sua livre capacidade criadora, após livrar-se ou desembaraçar-se das obrigações profissionais, familiares e sociais (p. 34).

Dumazedier (1999) salienta, ainda, que “o lazer não é ociosidade, não supre o trabalho; o pressupõe. Corresponde a uma liberação periódica do trabalho no fim do dia, da semana, do ano ou da vida de trabalho” (p. 28). Logo, o lazer é parte da vida em sociedade e foi instituído pelas conquistas de melhores condições de trabalho e de tempo livre. Camargo (1998) conceitua tempo livre como tempo liberado das obrigações familiares, profissionais e escolares. Já Requixa (1980) destaca que é no tempo livre que se encontra o tempo de lazer, quando se pratica turismo, recreação ou outras atividades livres. Camargo (1992) salienta, ainda, que o lazer depende da escolha pessoal, da gratuidade, do prazer e do tempo livre das obrigações cotidianas. Tal difere das atividades turísticas pagas, que se classificam como entretenimento, e que podem constituir um bom negócio para o mercado turístico de Barretos durante o evento em questão.

Lohmann e Panosso Netto (2008) afirmam que “o entretenimento pode ser usado como algo positivo que traz algum tipo de satisfação e enriquecimento cultural ou mental” (p.79). Lazer e entretenimento passam a fazer parte da vida cotidiana, inclusive durante as práticas sociais dos turistas, que buscam, na viagem, uma válvula de escape das tensões do trabalho e das obrigações sociais e familiares (Krippendorf, 2000). Nesse sentido, entende-se que o turista que visita a cidade de Barretos motivado pela Festa do Peão, encontra-se envolto em práticas de lazer e entretenimento, que geram relações sociais temporárias com residentes e outros turistas. Marcellino (2008) argumenta que:

O acesso ao lazer, como um dos direitos sociais promulgados pela Constituição Brasileira de 1988, implica, pois, a educação de cidadãos capazes de identificar e viver as oportunidades diversificadas e disponíveis nos tempos e espaços cotidianos, com condições de compreendê-las e ressignificá-las consciente a sua importância em suas vidas e das contradições que limitam sua vivência plena (p. 45-46).

Melo e Alves Jr (2012) acreditam que “as atividades de lazer são observáveis no tempo livre das obrigações, sejam elas profissionais, religiosas, domésticas ou decorrentes das necessidades fisiológicas” (p. 32). O lazer compreende uma atividade que gera prazer e satisfação a livre escolha. Os eventos se destacam, aqui, como forma de lazer que pode, dependendo do tempo a eles dedicado, ocasionar intervalos livres. Esses intervalos, no caso dos turistas, são normalmente ocupados por atividades secundárias à viagem, como a visitação a pontos turísticos ou espaços de lazer e convivência com a população receptora, como parques ou áreas urbanas que concentrem serviços de alimentos e bebidas.

OS EVENTOS E SEUS IMPACTOS NA COMUNIDADE LOCAL

Os eventos compreendem uma significativa porção do mercado turístico, especialmente porque capazes de fomentar o deslocamento de pessoas, articulando toda a cadeia produtiva do setor turístico no local-sede. Para Zanella (2012), evento “é uma concentração ou reunião formal e solene de pessoas e/ou entidades realizadas em data e local especial, com o objetivo de celebrar acontecimentos importantes e significativos e estabelecer contatos comerciais, culturais, esportivos, sociais, familiares, religiosos, científicos, etc.” (p. 1).

No caso de Barretos, os eventos são importantes catalisadores de demandas turísticas, promovendo o município em nível nacional e internacional e alavancado seu desenvolvimento econômico e social. De acordo com Britto e Fontes (2002), o turismo de eventos é “uma solução para a crescente necessidade de ampliação dos setores de agenciamento, hotelaria, catering e transporte, diante da expansão do volume de negócios desenvolvidos no mix de eventos” (p. 53). Getz (2007) afirma que os destinos promovem eventos com o intuito de atrair turistas, especialmente para controle de sazonalidade, mas, também, é por meio dos eventos que pode haver um rejuvenescimento urbano, com o aumento das infraestruturas, acelerando o processo de regeneração local de áreas como habitação, transporte, segurança, convivência, educação e economia.

Sobre as questões sociais e os impactos que os grandes eventos podem causar nas localidades, especialmente pelo acúmulo de pessoas que não pertencem ao lugar, Mendes (2010) destaca como positivos: o aumento da qualidade de vida, a experiência educacional, as trocas culturais, a valorização da identidade cultural da população, uma maior tolerância às diferenças sociais e a satisfação de necessidades fisiológicas, como o sexo. Em contrapartida, pode haver excesso de álcool, jogo, prostituição, drogas e contrabando, alteração na linguagem e modos culturais locais, mudanças significativas no estilo de vida, deslocamento dos residentes, mudanças dos valores culturais, desmembramento de famílias, exclusão de recursos naturais, mudança da estrutura social e desentendimento nas relações políticas e privadas. Cabe destacar que, conforme Faulkner e Tideswell (1997), “as comunidades que beneficiam do turismo têm duas perspectivas: a alta sazonalidade e o número excessivo de visitantes que pode provocar reações negativas. Por outro lado, quem usufrui diretamente do turismo é mais tolerante nos impactos” (p.19).

No caso em estudo, a população em torno da Avenida 43 usufrui do contato com os turistas especialmente nos finais de semana. Há casos de moradores que alugam jardins para descanso, oferecem serviços de alimentação e higiene pessoal, mas, a maioria mantém-se alheia ao movimento, o que tende a gerar descontentamento pela quebra das rotinas e dos costumes locais.

METODOLOGIA

A pesquisa teve duração de abril a novembro de 2015 e adotou o método hipotético-dedutivo, criado pelo austríaco Karl Popper (1975) e que se baseia em identificar problemas centrais e procurar soluções por meio de tentativas [conjecturas, hipóteses, teorias], testando o falseamento para eliminar os erros (Marconi & Lakatos, 2010). Nesse estudo, tem-se como problema central o encontro esporádico de residentes e turistas que modificam o espaço social não apenas pelo acúmulo de pessoas, mas também por comportamentos que possam ser moralmente inadequados, dado o consumo excessivo de bebidas alcoólicas, fato que é característico do público frequentador do evento em questão. Como hipóteses consideraram-se: (1) o incômodo gerado aos residentes é fruto do comportamento inadequado do turista, o que gera rejeição dos moradores do entorno da Avenida 43, aos turistas; e (2) há rejeição dos turistas pela ausência de hospitalidade local e falta de opções de lazer e entretenimento adequados e acessíveis a todos.

De caráter qualitativo e quantitativo, que considera aspectos de qualidade e percepção pessoal com critérios estatísticos e documentais, foi realizada a observação participante e a aplicação de questionários a moradores do entorno da Avenida 43 e turistas. A observação participante consiste no relato do observador como membro do grupo pesquisado, sendo bem mais que mero espectador, visto que se coloca na posição e ao nível dos elementos humanos que integram o fenômeno observado (Richardson, 1999).

Já os questionários, que consistem em um “instrumento por meio do qual o pesquisador coleta as informações ou os dados de que precisa para atender aos seus objetivos de pesquisa e para testar suas hipóteses” (Rossi, 2012, p.208), foram aplicados em dois momentos distintos: cem foram aplicados aos moradores do entorno durante duas semanas que antecederam o evento, em 2015; e outros cem aplicados aos turistas que se encontravam no local durante os dois finais de semana de realização do evento. Estabeleceu-se a amostragem aleatória, seguindo a tabela de cálculo amostral de Arkin e Colton (1995) com a margem de erro de 11,2 % para os residentes. Como a Avenida 43 não possui estatísticas oficiais sobre o fluxo de turistas, a amostragem para os questionários com os turistas baseou-se no resultado anterior, adotando-se como critério básico que os entrevistados fossem maiores de dezoito anos. A pesquisa com os residentes foi realizada em uma área de dez quadras ao entorno da avenida, conforme demonstra a Figura 1.

Perímetro de pesquisa
Figura 1
Perímetro de pesquisa
Google Maps (2015)

A Avenida 43 é uma das principais entradas da cidade e está localizada no bairro Jardim Alvorada, na região centro-oeste de Barretos, onde encontra-se diversificada oferta comercial. Durante a Festa do Peão de Boiadeiro, ela é palco de encontros e práticas de lazer e entretenimento diurnos, aos finais de semanas, com interação entre moradores e turistas. Estes necessitam ocupar-se durante o dia, uma vez que as atividades diurnas se voltam a leilões e rodeios, que não despertam maior interesse do público por contar com ingresso pagos e bebidas expressivamente mais caras, se comparados aos da Avenida 43. São custos que elevam o dispêndio com a participação, tanto pelo público local e como pelos turistas.

O movimento na Avenida se inicia por volta das 10h e se estende até às 19h, quando os participantes começam a se deslocar para o Parque do Peão, localizado na Rodovia Brigadeiro Faria Lima [SP-326], onde ocorre o evento. Na Figura 2 é possível ver uma das esquinas centrais, com o aglomerado de pessoas e as unidades móveis da Polícia Militar.

Avenida 43 durante a realização da Festa
do Peão de Barretos 2015
Figura 2
Avenida 43 durante a realização da Festa do Peão de Barretos 2015
Tininho Junior, O Diário de Barretos, 2015

Nesse período, foram coletados relatos de experiências vividas pelos moradores durante os vários anos que o evento acontece, hoje em sua 60ª edição. Não há registros oficiais a respeito do surgimento da Avenida 43 como atração alternativa ao evento, mas um dos residentes relata que o movimento começou mais ou menos no ano de 1985, depois que a festa passou a ser realizada no Parque do Peão. Nessa época, havia, nas proximidades da Avenida 43 um clube social, chamado União, que realizava bailes com ingressos de alto custo e muitas pessoas, especialmente moradores de Barretos, não tinham condições de pagar. Então, esses moradores seguiam até a Avenida, a fim de aproveitarem o clima de festa do clube, mesmo que do lado de fora, de modo que se aglomeravam para beber e ouvir música ao longo da via.

Com o passar do tempo, o clube parou de realizar esses bailes, mas o movimento externo continuou, motivado também pelas novas infraestruturas que se instalaram, como os postos de combustíveis com serviço de conveniência e bares. Nasce, aqui, o costume local de se estacionar os carros em postos com conveniência para beber e ouvir som automotivo com alto volume, inclusive com disputas entre eles, o que vem caracterizar, durante muitos anos, um lazer local de final de semana, com a adesão de jovens de todas as classes sociais. Atualmente, a prática cotidiana desse tipo de lazer foi coibida, perdurando apenas durante a realização do evento.

Durante a aplicação dos questionários, cada casa encontrada no perímetro demarcado foi visitada, com o critério de entrevistar ao menos um morador que pudesse relatar os possíveis transtornos ou benefícios gerados pelo movimento turístico e de lazer local concentrado na via pública. Embora algumas casas estivessem vazias, a maioria delas é de propriedade de antigos moradores, fato que contribuiu para a construção da historicidade dos processos de interação entre turistas e residentes. Já as entrevistas com os turistas foram facilitadas pela vontade de manifestação e pela curiosidade: muitos deles frequentam o evento e a Avenida já há alguns anos, mas nunca tiveram a oportunidade de exporem suas opiniões ou reclamações, pois nunca viram qualquer pesquisa sendo realizada. Houve casos em que os turistas pediram para serem entrevistados, especialmente quando estavam descontentes com sua visita à cidade. A seguir, são apresentados os resultados e discussões das entrevistas.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Entrevistas com residentes - Aos residentes das proximidades da Avenida 43 foram aplicados cem questionários com nove questões, no período da tarde, durante duas semanas. Para traçar um perfil básico desses entrevistados, considera-se que essa é uma das áreas mais antigas da cidade e boa parte das residências tem mais de trinta anos de construção, pertencentes a famílias de classe média baixa, que trabalham, majoritariamente, no setor de serviços. Da amostragem, 63% eram do sexo feminino e 37% masculino. Desses, mais da metade [51%] se encontrava em uma faixa etária maior de 40 anos, sendo todos naturais do município.

De acordo com os residentes, o movimento de turistas nas proximidades da festa sempre ocorreu: quando ainda era realizada no Recinto Paulo Lima Correa, no centro da cidade, essa movimentação de pessoas acontecia em uma área conhecida como ‘Vietinã’, onde se encontravam bares, bordéis e pequenos comércios. Depois de alguns anos, em 1985, a partir da 30ª edição da Festa, esta passou a ser realizada no Parque do Peão, localizado fora do perímetro urbano de Barretos, com amplo espaço e diversificação de atividades. Com o novo endereço, o fluxo de turistas passou a acontecer na Avenida 43, que é a área urbanizada e comercial com melhor infraestrutura nas proximidades do Parque, além da facilidade comercial encontrada e o espaço livre, já que no local existem vários pontos de venda de bebidas alcoólicas, postos de combustíveis e supermercados.

A respeito da aceitação dos moradores frente ao movimento de turistas, 58% afirmam que o movimento é bom, pois compreende uma quebra da rotina pelo encontro com o outro, o diferente: para eles, estar em contato com costumes e culturas diferentes dá uma vivacidade que não existe em outros períodos do ano. Muitos também ressaltaram como ponto positivo o giro na economia do município e a agitação social. Já 27% relataram que as atividades do local não alteram suas rotinas e o aumento do fluxo de pessoas e veículos na região é indiferente. Somente para 15% dos entrevistados, essa movimentação intensa na região é considerada ruim, pois acreditam que ela não traz benefícios à população local, além de causar desordem.

Como era de se esperar, a presença dos turistas divide opiniões, mas, os residentes, em sua maioria, estão de acordo com o evento e o movimento na Avenida 43, pois eles conseguem extrair experiências positivas do convívio com os visitantes, fato que refuta a hipótese de rejeição à presença do turista, considerando-se os indiferentes como positivos, tendo 85% dos entrevistados favoráveis à atividade. Sobre a organização dessa movimentação por parte dos órgãos públicos responsáveis pela via, 32% consideram-na muito organizada; 46%, dizem que o movimento é organizado e tem melhorado a cada ano, sendo que vários entrevistados argumentam que é possível apreciar a Festa na cidade da varanda de sua casa, sem preocupação; 16% discordam, alegando que há pouca organização, o que gera um ambiente perigoso, com riscos de assédio e assaltos; e apenas 6% dos entrevistados acreditam que é totalmente desorganizado. Se tomarmos como base o critério de favorável versus desfavorável, 78% são favoráveis e 22% desfavoráveis, fato que vai ao encontro da questão anterior, sobre uma visão positiva da presença do turista no local.

Quando questionados sobre como se sentem em relação à mudança de rotina por conta da movimentação de pessoas e interdição das vias, 66% afirmam não sentirem nenhum tipo de incômodo e 34% afirmam que sim, sentem-se incomodados. Do percentual de pessoas incomodadas, 62% dizem que a poluição sonora é o fator que gera maior descontentamento e 38% destacam ser o transtorno no trânsito o maior problema. Vale ressaltar que essa pesquisa com os residentes foi realizada antes da realização do evento em 2015, portanto, as opiniões tiveram uma base histórica das edições anteriores. Outra ressalva importante é que essas reclamações são recorrentes aos mais de 30 anos de atividade na Avenida 43, tanto que, no ano de 2015, houve uma ação mais ostensiva da Polícia Militar local e estadual para controlar a multidão e impedir a interdição desordenada das vias e o excesso de barulho de carros de som em horários inapropriados.

Durante vários anos, o encontro de pessoas realizado na Avenida 43 foi sinônimo de festa sem regras de ordem moral, com vários relatos e registros de assédio sexual, comportamentos inadequados e atentado violento ao pudor, com excesso de consumo de bebidas alcoólicas misturadas à direção de carros e disputas de som. Porém, nos últimos quatro anos, as pessoas têm sofrido uma abordagem mais ostensiva por parte das autoridades locais, que vêm montando esquemas rigorosos de controle, com aplicação de multas e detenção, quando necessário.

Assim, uma nova história tem sido criada e o costume tende a ser alterado nos próximos anos. A agitação que antes começava no primeiro sábado do evento, ainda pela manhã, e não tinha hora certa para acabar, hoje é controlada e obrigada a acabar ao anoitecer, aproximadamente às 20h, com ações enérgicas por parte da polícia para dispersar os visitantes e reabrir as vias, além de silenciar o ambiente para que o morador possa repousar. Sobre a ação policial, 44% dos residentes consideram a segurança do local muito boa e 53% responderam que é boa, porém, ressaltam que a ação da policia tem sido muito agressiva, fato que tem diminuído, a cada ano, o número de turistas na referida via. Já 3% disseram que a segurança do local é ruim e 1% diz que é inexistente e que não frequenta o espaço durante o evento.

Sobre o uso do espaço para a socialização e prática de lazer para moradores e turistas, 90% relatam que não há nenhuma atividade de lazer oferecida na Avenida 43, mas somente pontos comerciais de suvenires e pontos de venda de bebidas alcoólicas, fato que gera desgaste social e estimula o turista a buscar um divertimento livre, sem muita preocupação com o uso adequado do local. Alguns entrevistados sugerem que a Prefeitura Municipal promova atividades de lazer de forma organizada como, por exemplo, colocar um trio elétrico com bandas e apresentações folclóricas da região, promover concursos de bandas e outras ações que dessem oportunidade aos próprios barretenses de mostrarem seu valor cultural e participarem das festividades de forma mais sadia e moral, interagindo com os turistas. Os 10% que afirmam que o local oferece atividades de lazer para os visitantes não souberam citar exemplos, o que demonstra o desconhecimento a respeito da noção de lazer e entretenimento, a não ser pelo senso comum de divertimento.

De modo geral, os residentes consideram o espaço seguro e organizado, mas afirmam que, depois que a Policia Militar interveio no evento, a aceitação/frequência da população residente no local aumentou, pois, os residentes, de modo geral, sentem-se menos vulneráveis ao excesso de pessoas que antes lhes causava receio por medo de violência, dado também o elevado consumo de bebidas alcoólicas. Outro fato que chamou a atenção foi a preocupação quanto às atividades de lazer, pois demonstram-se interessados em opinar e sugerir atividades para o lazer dos turistas, entendendo que seria bom para ambos, turistas e moradores.

Ao que tange aos aspectos da hospitalidade, os residentes contam experiências vividas em anos anteriores que demonstram um traço marcante da cultura local de base rural, habituada ao bem-receber e ainda pouco contaminada pela cultura da indiferença, típica dos grandes centros urbanos. Há casos em que o encontro entre residentes e turistas se tornou em amizade, romance ou se criou laços comerciais de prestação de serviços como a hospedagem informal. Assim, há grupos que sempre se hospedam com uma mesma família e criam laços de afetividade, além do fato de que os residentes demonstram um compromisso humano [e, para alguns, uma oportunidade de ganhos] em atender as necessidades dos turistas ao abrir as portas de suas casas para uso de banheiros, por exemplo.

A presença do turista, durante a Festa do Peão de Boiadeiro, tornou-se parte da paisagem. Nesse sentido, os residentes já se organizam anualmente, seja mudando um pouco a rotina pela interdição de espaços, seja pelo barulho diferenciado do simples movimento urbano, seja para atender comercialmente esses turistas, com serviços de banho e venda informal de bebidas, fato bastante comum nas varandas das casas que ficam nas ruas paralelas à Avenida 43. O fator negativo mais considerável é certamente o comportamento inapropriado de alguns turistas que, excedendo as normas da boa convivência, causam constrangimentos a todos, especialmente em virtude da busca por sexo, misturado ao descontrole que o excesso de álcool pode causar. Mas, vale destacar, tem havido uma mudança radical nesse quesito, dada a ação ostensiva das autoridades locais para o controle e manutenção da ordem no espaço público.

Entrevistas com turistas - A pesquisa realizada com os turistas teve por objetivo identificar sua satisfação com relação à hospitalidade e o lazer encontrados na Avenida 43. Os questionários foram aplicados nos dois finais de semana (22, 23, 29 e 30 de agosto de 2015), no período vespertino, pois, atualmente, a concentração de pessoas na Avenida 43 tem se dado a partir das 14 horas. Como primeiro resultado, demonstra-se a concentração do público jovem como principal interessado no evento e nas atividades diurnas na Avenida, como mostra a Tabela 1, a seguir.

Faixa Etária dos Turistas entrevistados
Tabela 1
Faixa Etária dos Turistas entrevistados
Elaboração própria (2015)

Há a predominância do público masculino, com representatividade de 65% da amostra, enquanto que o feminino equivale a 35%. A esse quesito relaciona-se o perfil do consumidor ligado à cultura do peão de boiadeiro, a prática de rodeios e montarias que historicamente está atrelada ao universo masculino. Diferente do público feminino, que se vê atraído pelos shows musicais, comidas e comércio de roupas, botas e suvenires, entre outras atividades de entretenimento. Muitos desses jovens são estudantes mantidos por suas famílias, ou já profissionais em início de carreira, majoritariamente solteiros, que vêm a Barretos, sozinhos ou em grupos de amigos, tendo a busca sexual como parte de seu divertimento. Quando questionados sobre a motivação para frequentar a Avenida 43, há um consenso de opiniões que se converge em conhecer pessoas, criar laços afetivos ou sexuais e passar o tempo livre com divertimento gratuito, como uma forma de lazer. Outro fator atrativo é a fama que o espaço ganhou ao longo dos anos, pela propaganda boca-a-boca, que dissemina a ideia de que a Festa do Peão de Boiadeiro começa na Avenida, embora esse espaço não tenha relações oficiais com a organização do evento central.

As cidades com maior recorrência de entrevistados foram: Goiânia, GO; Maringá, PR; Salvador, BH; Cássia, MG; Patos de Minas, MG; Ibatiba, ES; Iuna, ES; Conchas, SP; Rio Claro, SP; Barueri, SP; Jundiaí, SP; São José dos Campos, SP; Campinas, SP e Botucatu, SP, dentre outras, especialmente as das proximidades de Barretos, como Olímpia, SP, São José do Rio Preto, SP e Ribeirão Preto, SP. Sobre a frequência na visitação, é possível verificar, na Tabela 2, que a grande maioria dos entrevistados estava em Barretos ao menos pela segunda vez [75%], atestando igualmente já terem frequentado a Avenida 43 em anos anteriores, para lazer e socialização com o local.

Identificação de reincidência do turista
na Festa do Peão
Tabela 2
Identificação de reincidência do turista na Festa do Peão
Elaboração própria (2015)

Os fatores mais importantes para a reincidência do turista ao local visitado são a qualidade do serviço e a hospitalidade. Quando questionados a respeito da hospitalidade na cidade durante a festa, especialmente na região da Avenida 43, eles apontam ser: 35% excelente, 40% muito boa, 17% boa e 8% afirmam ser inadequado. Nesse quesito, pode-se considerar que 92% dos entrevistados avaliam positivamente a hospitalidade dos residentes, o que demarca as boas lembranças e elogios feitos ao longo das entrevistas como: “a atenção do povo barretense é fantástica!” ou “quando solicitada alguma informação, as pessoas prontamente nos ajudavam”. Um dos relatos que mais chamou atenção foi de um grupo de jovens que afirmou ter vindo para a festa sem ter onde ficar, apenas com a vontade de aproveitar o evento, mas que, ao chegar à cidade, não encontraram quartos disponíveis nos meios de hospedagem. Então, foram para a Avenida 43 e, no final da tarde, conseguiram uma hospedagem informal com um morador do entorno que cedeu o banheiro e alugou o quintal para que pudessem montar suas barracas e dormir em segurança.

Outros entrevistados também ressaltaram o bom atendimento nos comércios que frequentaram. Algumas características atribuídas aos barretenses foram: muito prestativo, generoso, acolhedor e “típico do interior”, fazendo menção à proximidade humana que ainda prevalece nos pequenos centros urbanos. Para Boff (2005), “a virtude da hospitalidade é abertura de coração, a coragem de enfrentamentos e superarmos as diferenças, é acolher as pessoas assim como elas se apresentam, sem desconfiança e preconceitos” (p.19). Logo, a segunda hipótese levantada sobre a hospitalidade como esfera comprometida por relações de fragilidade e descontentamento nos encontros entre turistas e residentes também fica refutada, visto que ela se apresenta como ponto positivo que motiva o retorno do turista para os anos seguintes.

Em relação à segurança na Avenida 43, os entrevistados classificam como: 60% muito boa e 40% boa, fator muito positivo para os turistas e moradores que se sentem seguros no local e, claro, na cidade de modo geral. Contudo, foi unânime a reclamação quanto à ação ostensiva dos policiais para a dispersão de pessoas ao cair da noite e para evitar a interdição de muitas vias, além de coibir o som automotivo, proibir algumas brincadeiras consideradas tradicionais no evento como as “laçadas” [com um laço de rodeio, os homens brincavam de laçar as mulheres e pediam um beijo em troca da liberdade]. Foram também realizadas ações intensivas de trânsito, com uso de bafômetros para coagir os motoristas embriagados. Muitos turistas passaram a reclamar da perda da liberdade que anteriormente não era controlada, fato que está desagradando aos participantes e forçando-os a buscarem divertimento livre em espaços sociais pagos, promovidos oficialmente pelo evento, na estrutura de campings, que são fechados e onde não há a presença da polícia.

Levando em conta que 94% dos turistas consideram a Avenida 43 um espaço de lazer, em virtude dos bares e das interações sociais decorrentes da festa, que geram divertimento e ocupação do tempo livre diurno, eles sugerem para a melhoria do espaço que se mantenha a segurança, mas com menos repressão policial, que o som automotivo seja novamente liberado, bem como as laçadas e demais práticas de outrora.

ÚLTIMAS CONSIDERAÇÕES

Esta pesquisa demonstra que a população residente no entorno da Avenida 43, em sentido amplo, percebe o turista como um fator positivo no cenário local durante a Festa do Peão de Boiadeiro e pratica a hospitalidade como essência natural do bem-receber, do acolhimento no cotidiano, independentemente de ganhos monetários. Os residentes percebem, assim, o convívio com o turista como um fator positivo para a movimentação da economia local e para a quebra da rotina, uma oportunidade para novas amizades e/ou encontros sexuais e afetivos. Foi possível notar, ainda, que o aumento do fluxo de pessoas e carros não gera grandes incômodos, visto que ocorre o devido controle e segurança do viver urbano.

Por parte dos turistas, constata-se que a Avenida 43 é uma opção de lazer alternativa, já que podem conhecer pessoas, frequentar os bares e festejar sua visitação em Barretos, promovendo o encontro entre turistas e residentes de maneira economicamente acessível a todos. Os comerciantes que não se vinculam à prestação de serviço aos turistas parecem não se importar com o movimento: alguns optam por tirar o dia para descanso e mantêm suas portas fechadas, o que equivale apenas a meio dia de sábado, visto que não há qualquer prejuízo no funcionamento dos estabelecimentos durante a semana.

Do ponto de vista turístico, percebeu-se que a presença da polícia, ainda que de fundamental importância para a organização e segurança do evento, gera certo desconforto aos turistas, em contraposição a uma sensação de segurança aos residentes. Há de se considerar que essa forma de divertimento, com base em bebidas alcoólicas, possível consumo de drogas e maior busca por sexo [o que é bastante característico de muitos eventos com esse perfil de público no Brasil, como carnavais, ravings, festivais de música, etc.], inevitavelmente ocasiona desordem social e descontrole comportamental para aqueles que se excedem. Porém, a generalização na coerção da liberdade também gera descontentamentos tanto dos turistas quanto dos residentes que se assemelham a esse perfil de evento. Em várias cidades brasileiras, há delegacias especializadas em dar apoio ao turismo e a compreender o universo particular que envolve o cidadão exógeno, inclusive no tratamento com hospitalidade, pois ela deve transmitir uma sensação de segurança e ordem, mas nunca de violência.

O movimento na Avenida 43 tem diminuído a cada ano. Em busca de mais liberdade, os turistas passam a adotar os campings privados para manter sua diversão, a preço fixo e inflacionado. Quem ganha com esse novo cenário é a organização do evento central e os proprietários de campings, que podem proporcionar espaços livres de moralidade, longe das regras urbanas. Mas, esse movimento também é excludente, visto que segrega a população local que não pode pagar pelo acesso, tão pouco socializar-se com os turistas, além dos comerciantes locais que deixam de atender os turistas em seus estabelecimentos porque ele foi confinado em espaços privados. Em qualquer umas das situações, há ganhos e perdas para o município e para a população residente.

Agradecimentos

A concretização desta pesquisa faz parte de um projeto-piloto a respeito das práticas de hospitalidade e lazer no município de Barretos/SP, fomentada pelo Grupo de Pesquisa CNPq: Sociedade, Cultura e Turismo – diálogos interdisciplinares (SoCulTur), com sede no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo (IFSP), Campus Barretos.

Referências

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