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Festa e Espaço Urbano: A Festa da Uva em sua Relação com a Cidade de Caxias do Sul-RS (Brasil)
Fest and Urban Space: Festa da Uva in its Relationship with the City of Caxias do Sul-RS (Brazil)
Festa e Espaço Urbano: A Festa da Uva em sua Relação com a Cidade de Caxias do Sul-RS (Brasil)
Rosa dos Ventos, vol. 9, núm. 4, pp. 537-556, 2017
Universidade de Caxias do Sul
Recepção: 18 Outubro 2016
Aprovação: 27 Fevereiro 2017
Resumo: Espera-se nesta pesquisa compreender a relação entre o espaço efêmero que se desenvolve através de uma festa e a cidade em que a mesma acontece. Em Caxias do Sul, no Estado do Rio Grande do Sul, desde a década de 1930 realiza-se a Festa da Uva, evento que tem como referência a cultura migratória e a produção de uva e vinhos. Sua origem remete a despretensiosas feiras de imigrantes italianos, para trocar mercadorias e gêneros alimentícios, que propiciavam encontros festivos. Ao longo do tempo, sua realização, ao enaltecer o cultivo e a colheita da uva, possibilita que a Festa se torne em símbolo de identidade cultural, permeando as relações dos moradores no contexto temporal, espacial, na vida social e nas relações com a natureza. A Festa em estudo, inicialmente sediada no centro da cidade, foi se apropriando de outros locais até ter sua instalação definitiva em um espaço criado para acolher eventos de dimensões nacionais, o que resulta em impactos e transformações urbanas. Nesta pesquisa, levantamento bibliográfico sobre a história da cidade e da Festa soma-se a acervos gráficos para atender ao objetivo de apresentar uma análise, que caracterize a dimensão urbana-arquitetônicos que resulta no legado da Festa da Uva para Caxias do Sul e região. Observa-se que, embora na atualidade o município não tenha a cultura vitivinícola tão eminente como as cidades vizinhas, ela agrega valor, tendo em vista que a Festa Nacional da Uva reforça um referencial de identidade da localidade e região.
Palavras-chave: Festa, Urbanismo, Espaço Urbano, Festa da Uva, Caxias do Sul, RS, Brasil.
Abstract: Through this work, we expect to understand the relationship between the fest transitional space and the city. Festa da Uva is an event that came from the Italian Immigration at first to be an unpretentious fair to exchange goods and farm products. Then, in the apex, the fair’s main objective was to praise the cultivation and the harvest of the grape. Today, the grape became a symbol of land identity that ingrained in the citizen’s relations in time space, social life and nature interaction. In Caxias do Sul – Rio Grande do Sul/Brasil, since 1930, the fest is celebrated with reference to culture and the grape and wine production. This initially based in the city center, had had some other bases till it went to its final site, with national dimensions (results in urban transformation impact). In this way, and analysis is realized aiming to describe it by its patrimonial dimension and its urban architectonic elements, that result from this event and are a legacy to the city. It is seen that, while in the actual time the city does not have a grape and winery culture, it still has economical value, noting that the Festa Nacional da Uva reinforces a city identity model as it is in the whole Serra Gaúcha.
Keywords: Feast, Urbanism, Urban Space, Festa da Uva, Caxias do Sul, RS, Brazil.
INTRODUÇÃO
Este estudo tem como referência a História Urbana e da Cidade, conforme Willi Bolle, Leonardo Benevolo e Mauricio Abreu. Destaca-se em Bolle (2000) o olhar do observador no reconhecimento do objeto. Soma-se ao arquiteto Benevolo (1983) e a formação especifica na história da formação da cidade e a Abreu (2014) a aproximação em história urbana e o estudo do espaço geográfico. Estes dados são definidos por relatos históricos [bibliográficos], fotos, mapas e outros recursos possíveis. A abordagem destes autores, entretanto, tem somente como ponto de partida para o entendimento pretendido: o reconhecimento do objeto e do contexto ontológico definido no microcosmo da Festa da Uva de Caxias do Sul e sua relação com seu entorno citadino. Evento que por sua força intrínseca elabora-se, dá forma e sintetiza a identidade a uma localidade e sua região.
É mister que a pesquisa demanda pressupostos teóricos. No presente caso, o espaço como pensado por Milton Santos (1994, 2004). De fato, neste recorte retrata-se o processo de formação das festas e os locais de suas realizações, não como palco, mas como lugar das relações sociais de uma localidade. Desta maneira, este espaço urbano é apresentado como primeira natureza da pesquisa. Local do evento, de encontros, mas, também, não se pode perder de vista, que assim como a rua, ela é reflexo, valor e fato na reprodução socioespacial. Afinal, praças e ruas, são palcos privilegiados de revoluções, mas também de estabelecimento de ordens (WEBB, 1990). Neste contexto, pensam-se nos locais que ao longo do tempo albergaram a Festa Nacional da Uva de Caxias do Sul.
A pesquisa tem como mote um apelo exploratório e ensaístico. Esta condição se justifica pois, muito embora a Festa da Uva venha sendo exaustivamente estudada, talvez pela sua condição de estar entre os mais antigos eventos brasileiros ainda em realização, sua relação com a dimensão do urbano ainda carece de estudos acadêmicos. Para tal enfoque adota-se o reconhecimento da materialidade determinada pelo evento, como objeto de pesquisa. Não um objeto rígido, mas, com o olhar de uma condição híbrida como proposto por Latour (1994), adotando distanciamento ao determinismo na relação entre coisas e sujeitos.
Nesta condição, a “prática é remodelada em termos de duas formas diferente de atividade, correspondendo ao sujeito-objeto e à distinção sujeito-objeto, como interação comunicativa e ação instrumental no processo de trabalho” (Boucher, 2015, p.269). Tem-se, assim, o questionamento: a Festa da Uva determina materialidades urbanas que se justificam ao longo do tempo? Contribui a isso o olhar dos pesquisadores sobre fotografias de época e a levantamentos cartográficos, das áreas urbanas e entorno em que o evento foi abrigado ao longo dos anos. Assim, reconhecem-se a existência de uma força específica que esta efemeridade desenvolve na cidade, representando muito mais do que uma celebração.
FESTA DA UVA E SUA PRESENÇA URBANA
Caxias do Sul (RS) está situada no Nordeste do Estado do Rio Grande do Sul, em uma área historicamente chamada de Serra Gaúcha. Nela, surgem povoamentos migratórios de europeus que deixaram principalmente a Itália, migrando para o Brasil, devido à situação de miséria enfrentada pela maioria nas suas localidades de origem. Vieram pela necessidade de trabalho, que para o camponês resumia-se a posse de terras cultiváveis. (Alencastro & Renaux, 1997). Após um curto período de produção de gêneros diversos para a subsistência, a uva e o vinho despontam como principal atividade econômica da antiga Colônia Caxias e região. Desta maneira, durante várias décadas mantém grande parte de um mercado consolidado os principais centros econômicos do país (Herédia, 1997) e sem concorrência de vinhos estrangeiros.
O imigrante, por sua vez, trouxe em sua bagagem cultural a ideia da festa e feira (Zanini & Santos, 2013). Por estes valores, tem-se a expectativa de a uva ganhar um evento específico, passando a ser o símbolo das comemorações da cidade, apesar de relatos sobre a existência de exposição da fruta desde 1881 (Erbes, 2000). A comemoração de 1931 permitiu uma maior exposição dos produtores de Caxias do Sul e região:
Na ocasião, Caxias do Sul era uma cidade em pleno desenvolvimento e comemorava a colheita de 42 mil toneladas de uva, o que tornava a cidade responsável por um terço da produção gaúcha da fruta. Esta produção possibilitou aos exportadores locais que naquele ano fossem exportados 21,1 milhões de litros de vinho, e a primeira Festa da Uva foi realizada com o objetivo de celebrar este sucesso (Barbosa, 215, p. 262).
Assim, mantem-se o valor dado à fruta até os dias atuais, embora com constantes mudanças. Busca-se, cada vez mais, mercados para o produto local (Machado, 2001), e mesmo envolvendo outros produtos.
A Festa da Uva de 2014, ocorrida no período de 20 de fevereiro a 9 de março, em sua 30º edição, agrega a 24ª Feira Agroindustrial, recebendo aproximadamente 820 mil pessoas entre visitantes no Parque de Exposições, participantes da Olimpíada Colonial, que acontece em distritos rurais, e espectadores dos desfiles cênicos que ocorreram no entorno da Praça Dante, na área Central (Barbosa, 2015; Festa Nacional da Uva, 2016). A Festa de 2016, segundo dados preliminares, desponta em mais de 940.000 pessoas, registrando lucro recorde de R$ 2.209.793,00. Associa-se ao evento, além do impulso dos setores turísticos e de serviços, a geração de empregos temporários, auxiliando na renda de trabalhadores de diversos setores, reforçando as marcas produtivas em exposição, que sobrepõem ao caráter vitícola.
FORMAÇÃO DA LOCALIDADE
O município de Caxias do Sul origina-se a partir de um projeto imperial de colonização no Rio Grande do Sul, adotando práticas de políticas migratórias desenvolvidos pelo Governo brasileiro. Este projeto tinha como mote principal a ocupação de terras disponíveis, por pessoas estrangeiras. Assim, a província de São Pedro do Rio Grande do Sul recebe levas de açorianos, germânicos e Itálicos, entre outros grupos migratórios europeus, durante o período que abrangeu as décadas de 1820 até 1870 (Herédia, 1997; Machado, 2001). Essas práticas de ocupação fundiária seguiam uma política de colonização baseada no trabalho livre de mão de obra branca e familiar, com assentamento e posse de pequenas propriedades.
Nesse processo, foram ocupadas, inicialmente pelos imigrantes açorianos portugueses, as terras localizadas nas regiões de Depressão Central, além das fronteiras, sendo sucedidos pelos germânicos, que se instalaram nas regiões de florestas, banhadas pelos rios Taquari, dos Sinos e Caí (Ribeiro, 1995). Na década de 1870 fecha-se este círculo migratório praticado no Rio Grande do Sul, com a chegada de imigrantes italianos (Herédia, 1997). Assim, a área de encosta do Nordeste do Estado é dividida em léguas para a vinda e formação de comunidades agrícolas, como na Colônia Caxias. A ocupação pelos recém-chegados estabelece modos religiosos, econômicos e culturais como os herdados do vilarejo de onde procediam (Machado, 2001; Brambatti, 2015).
No ano de 1873 a sede da Colônia, antes localizada na primeira légua, foi transferida para uma área mais central, ou seja, para quinta légua, visando facilitar a administração do povoamento (Machado, 2001, Nascimento, 2009). Outras questões fundiárias associaram-se a esta mudança, como a relação de centralidade estabelecida no local de formação das festas. A área destinada o assentamento urbano segue o modelo de traçado xadrez, apresentando desde então a demarcação de uma praça central. Embora mais presente na América espanhola, este modelo tem uma formação marcante no sul do Brasil.
Desta forma, o presidente da então Província de São Pedro do Rio Grande do Sul, Marcondes de Andrade, autoriza a demarcação da praça e do seu entorno, a construção da igreja, escola pública e da diretoria de terras. Embora não recorrente, o nome da sede presta homenagem a origem italiana, passando a serem denominados como praça Dante Alighieri e Sede Dante (Figura 1) (Machado, 2001, Nascimento, 2009). Sua formação associa a definição de um marco urbano, como determina Lynch (1999), podendo ser definida como ponto nodal[3].

Entretanto, o terreno ocupado pela praça Dante Alighieri era muito acidentado, coberto de vegetação e com muitas vertentes de água. Previsto desde o início como área pública a ser apropriada pela intendência municipal [órgão de gestão municipal], a sua não ocupação imediata facilitou o alojamento de diversas famílias no seu interior. Após a desocupação, a praça foi cercada, sendo que apenas o acesso frontal a Igreja Matriz ficou livre [Figura 2]. Posteriormente, no processo de formação urbana, foram edificados quiosques para usos comerciais na área (Machado, 2001).

Nota-se que durante muitos anos era comum a população local se reunir aos domingos de manhã na Igreja Matriz para cumprir suas obrigações religiosas e, após, apropriar-se o espaço público para negociar produtos advindos da sua produção agrícola (Machado, 2001).
A evolução urbana levou à mudança na denominação e estatuto administrativo da Colônia Caxias, depois distrito e por fim de município no ano de 1890, já com 16.000 habitantes. Assim, no ano de 1900, alguns comerciantes da emancipada cidade de Caxias do Sul, começaram a colocar barris de vinho e graspa em mercados do centro do país, reforçando internamente os setores produtivos agrícolas locais. Os principais consumidores destes mercados conquistados eram imigrantes italianos habituados com a bebida na Itália. Com isso, a vitivinicultura caracteriza a economia local, tornando-se uma das principais culturas e o principal produto comercial da cidade e região (Machado, 2001, Herédia, 1997).
A Festa e seu desenvolvimento - No ano de 1912, Penna de Morais, novo intendente municipal, percebe que Caxias do Sul já possuía um nome com certo reconhecimento no país, associado à sua produção agrícola, mas carecia de infraestrutura urbana. Foram então iniciados diversos projetos, entre eles o nivelamento da Praça Dante, provavelmente o mais agressivo, quanto ao aspecto urbano (Machado, 2001). Como visto, o local situava-se em área tornada central, na proposta urbanística do primeiro traçado regulador, de 1881, e sua adequação ao entorno topográfico torna-se necessária para a consolidação urbana do território.
Entretanto, desde o projeto inicial, as características internas da praça passam por diversas modificações, até encontrar-se na formulação atual de seu uso urbano. As alterações como o nivelamento do terreno, suavizando sua topografia acentuada, tiveram como objetivo principal, estabelecida pelo poder público, que buscava dinamizar o local com novas funções, como abrigar quiosques comerciais para a venda de itens comuns na época, além do uso cotidiano aos fins de semana, feiras de produtores rurais. Ela também servia para exposição, e estava intimamente ligada à função religiosa, devida sua localização em frente à Igreja Matriz. No ano de 1927, foram iniciadas obras de infraestrutura básica urbana nas calhas viárias para acompanhar e viabilizar a chegada dos automóveis na cidade facilitando a apropriação no entorno da praça (Erbes, 2000).

Desde sua chegada, os imigrantes cultivavam o hábito de celebrar suas conquistas, estas muitas vezes associadas à colheita de produtos como a uva. Comumente, chama-se a esta celebração de festa de vindima. Eram comuns, também, as feiras, a primeira organizada em 1881, onde a uva, o vinho e a graspa dividiam espaço com milho e trigo, além de outros produtos desenvolvidos por pequenas empresas, como enxadas, arados e foices. Entre os anos de 1881 e 1925 foram realizadas em torno de dez feiras, que culminaram nas Festas da Uva, iniciadas na década de 1930 (Erbes, 2000). Somam-se a estas, dezenas de outros eventos com a mesma característica, que aconteceram anteriormente a oficial. Nesta condição, no dia 7 de março do ano de 1931 foi realizada aquela que seria tratada como Primeira Festa da Uva, com exposições discretas da fruta e apenas um dia de duração. Realizada na sede do Recreio da Juventude, este um clube privado da sociedade caxiense localizado nas proximidades da praça. No ano seguinte os organizadores, entre eles a Associação dos Comerciantes de Caxias, expôs as uvas na Praça Dante Alighieri, construindo pequenos pavilhões, feitos especialmente com o intuito de abrigar as suas exposições. Iniciava-se o ciclo de apropriação urbana da Festa [Figura 3].
No final do ano de 1936, inicia-se o projeto de reforma da Praça Dante. Foram feitos os acabamentos e o calçamento em pedra, com motivos como folhas de parreira e cachos de uva [Figura 4], executados seguindo sugestão de um turista estrangeiro, em visita à cidade por ocasião da Festa da Uva realizada em 1932. Reforça-se, assim, o caráter da Praça como palco da Festa nos anos seguintes (Machado, 2001). Em 1937 finaliza-se a reforma. Na Festa da Uva realizada naquele ano, também foi inaugurado o chafariz em sua área central. Presente até os dias de hoje, juntamente com adornos que rememoram a uva e a videira e que em dias de festa, jorra água na cor do vinho (Arquivo Histórico da Festa Da Uva, 1991).

A década de 1940 foi marcada pela Segunda Guerra Mundial. Neste período algumas das principais indústrias de Caxias do Sul foram classificadas como de interesse militar, o que significava que deveriam trabalhar com capacidade plena para as Forças Armadas do país. Este aumento da produção industrial também alavancou o comércio, devido ao aumento de renda dos trabalhadores. A Praça Dante, neste ínterim, teve seu terreno rebaixado. Ela demarcava o centro econômico da cidade e em seu entorno surgem prédios de arquitetura mais elaborada, como os clubes sociais, existentes até os dias atuais (Erbes, 2000). A economia crescia, porém, os eventos foram adiados ou extintos no país no período de guerra. Soma-se a este fator, um conflito de interesse político cultural, afinal, o conflito bélico envolvia o Brasil e o país de origem dos imigrantes.
Na década de 1950, com o fim da guerra, a Festa da Uva voltou a ser realizada, porém, em outro local, a Cooperativa Madeireira Caxiense [Figuras 5 e 6], onde foi promovida uma grande exposição de uvas e produtos industriais. Em seu interior, foi erguido um pavilhão cultural, o que reforçou a celebração e a euforia do recomeço das exposições. Este ano ficou marcado por inúmeras atividades realizadas em toda cidade e região, grandes desfiles nas ruas centrais, além de contar, pela primeira vez, com a presença de um Presidente da República, no caso, Getúlio Vargas (Arquivo Histórico da Festa da Uva, 1991).


Para 1951, operários da construção civil, desde o ano anterior, trabalhavam exaustivamente com o objetivo de finalizar os pavilhões que abrigariam a festa. A decisão acerca da construção do novo pavilhão foi tomada pelo prefeito da época, Euclides Triches. Escolhido um terreno não urbanizado, localizado a poucas quadras da Praça Dante, conhecido como ‘buraco da usina’ devido à grande declividade do terreno. Este local era uma grande área não ocupada, que resolveria dois problemas levantados pelos órgãos municipais: ocupar a área pertencente à família Giuriollo, que estava ociosa, e encontrar um local que comportasse um espaço exclusivo para a Festa da Uva. Pela primeira vez o evento seria chamado de Festa da Uva e Feira Agroindustrial. A construção dos pavilhões para esta finalidade define um local específico para a Festa. Segue-se na cidade a construção de outro marco da imigração, principalmente por seu valor simbólico, nas proximidades: o Monumento Nacional ao Imigrante[4] (Erbes, 2000).
Diante dessas novidades, a Festa realizava-se nos novos pavilhões situados na Rua Alfredo Chaves, acompanhados de várias atrações como a Feira Agroindustrial [Figura 7], inovações no corso alegórico, simpósios de enologia, encontros e congressos (Ribeiro, 2002). Destaca-se que o crescimento urbano e industrial do município em relação á produção vitivinícola impunha ao cenário de celebração festiva um espaço com maior área para a realização da festa e exposição de outros produtos agroindustriais.

Na década de 1970 marca-se a necessidade em comemorar o centenário da imigração italiana para o Rio Grande do Sul, e tornar a Festa da Uva símbolo dessa celebração. Pensa-se, assim, que a Festa de 1972 precisaria superar em todos os sentidos as edições anteriores. Cria-se a expectativa levantada pela organização na Festa anterior, de mais espaço físico para as festividades (Erbes, 2000). Porém, a festa nesta edição mantém-se no mesmo local das edições anteriores. Subsequentemente, a prefeitura adquiriu da Mitra Diocesana uma área com 40 hectares nos arredores do perímetro urbano, com capacidade para abrigar um evento com dimensões maiores, definindo para o novo local a denominação de Parque da Festa da Uva.
Realiza-se, em 1975, com um maior apoio da comunidade local, segundo relatos, a prometida e inovadora Festa em comemoração ao Centenário da Imigração Italiana na Serra Gaúcha. Teve nesta ocasião, a duração de um mês, período que trouxe para a cidade ótimos negócios, aumento de lucros no comércio e restaurantes, abrindo todos os dias devido ao alto fluxo de pessoas que lotavam os pavilhões e a cidade. Porém, continuava no entorno da Praça Dante o desfile em vias públicas. A sua não transferência para a área do Parque é justificada pela necessidade de um trajeto linear para este corso, que exibia os trunfos da colheita, acompanhado pelo ritual da distribuição da uva aos populares ao longo do trajeto, tradição consolidada desde as primeiras edições da Festa (Erbes, 2000). Nesta edição, vale ressaltar, o corso alegórico também inaugurou a transmissão a cores, na televisão brasileira.


Com o decorrer dos anos, a Festa da Uva tornou-se símbolo de Caxias do Sul. Assim, mesmo passando por inúmeras mudanças em seu formato, adaptou-se a crises e transformações diversas (Erbes, 2000). Atualmente, o evento permanece sendo realizado nos Pavilhões da Festa da Uva. Desde a sua inauguração, ao longo dos anos, foram construídos novos pórticos, pavilhões, e inúmeras instalações. Destacam-se na área do Pavilhão da Festa da Uva, construções de caráter memorial e monumental como as ditas réplicas [prédios que simulam a ambiência da cidade de Caxias do Sul na década de 1910] e o Monumento Cristo do Terceiro Milênio, com museu adjunto. Somam-se, prédios diversos, como os que albergam órgãos públicos, destacando-se o da Secretaria de Turismo, além de restaurante, área para shows, rodeios, acampamentos, além de um amplo estacionamento e espaço de feira livre.
No ano de 2016, ocorre a 31ª edição da Festa da Uva e a 25ª Feira Agroindustrial. Neste ano, uma mudança interfere em diversos aspectos da Festa, principalmente nos urbanístico: os desfiles do corso alegórico, que tradicionalmente ocorriam nas vias públicas da área central da cidade, foram transferidos para um logradouro situado em área próximo ao centro, a rua Plácido de Castro, em área de verticalização associada a prédios de classe média alta e empresas coorporativas. A proposta presente no discurso do poder público, responsável pela mudança, é de que a mesma traria maior comodidade aos espectadores, maior facilidade de locomoção dos carros alegóricos, além de aliviar o trânsito na área central da cidade, em especial junto ao entorno da Praça Dante. Certamente, esta mudança demarcará um novo momento da festa, que ao longo do tempo se adaptou às novas demandas sociais e demarcou o espaço urbano da cidade de Caxias do Sul.
PRAÇA COMO PALCO DA FESTA
Os ítalos descendentes associavam a Festa da Uva a um marco dos avanços e conquistas dos imigrantes na região, reforçando a identidade associada à etnicidade, muito embora o evento tenha sido criado por um imigrante português (Ribeiro, 2002). Nela, celebram-se os avanços e conquistas dos ítalo-descendentes, embora, de início, não houvesse a dimensão da grandiosidade que o evento alcançaria e, muito menos, o legado urbanístico que traria à cidade. Por muitos anos, a Praça Dante Alighieri foi o local público escolhido para sediar a Festa da Uva. Mesmo antes do início oficial das comemorações, em 1931, esta área central da cidade fora escolhida para abrigar trocas de produtos, comercializações diversas, além de comemorações da vindima associada ao festejo. Entretanto, para a primeira Festa da Uva apenas uma pequena dimensão para exposição era suficiente, sendo escolhido um local coberto nos arredores deste espaço público, como visto anteriormente. O aumento das suas dimensões justifica no seu deslocamento, sendo notável a relação que se mantem ente a Praça e a Festa da Uva (Erbes, 2000).
Durante toda a década de 1930 pode ser presenciado em Caxias do Sul o crescimento do evento, assim como a ascensão e a definição de centralidades urbanas da Praça e, nesta condição, reforçando um apelo símbolo identitário de Caxias do Sul. Por décadas, a Festa foi realizada na Praça Dante, recebendo pavilhões e quiosques, além dos desdobramentos associados ao redesenho do local, buscando atrair a população local e visitantes diversos [Figura 8] (Arquivo Histórico da Festa da Uva, 1991).
Com o passar do tempo, a Praça Dante perde lugar como sede dos festejos. Associam-se a este fato as adequações dadas como necessárias para comportar um evento com maior dimensão e popularidade. Desta forma, a Festa da Uva desloca-se da Praça, para ocupar um terreno urbanizado, anteriormente conhecido como Madeireira Caxiense. Posteriormente, com o ideário de escolha de um local definitivo, inclusive previsto em Plano Diretor, com pavilhões para Festa e para a administração pública, além de amplo local para o lazer (Paiva, 1953). Estas novas dimensões territoriais reforçam a importância dada ao festejo (Arquivo Histórico da Festa da Uva, 1991). Entretanto, a Praça não é descartada como referência de eventos, espontâneos ou organizados, sendo palco, atualmente, de alguns acontecimentos comemorativos e festivos relacionados à Festa da Uva. Provavelmente, para recordar e manter sua relação de identidade associada a uma centralidade de valor memorial e espaço natural de manifestações diversas.

O PAPEL DA FESTA DA UVA EM SEU TERRITÓRIO APROPRIADO
Após anos de comemorações espontâneas da vindima, decide-se realizar uma celebração que inicialmente tinha como objetivo maior mostrar o fruto símbolo da produção local, qualificando-a e facilitando a aproximação entre o produtor e o comprador. Desde então, processos se alteram, mas permanece uma relação urbana no contexto Praça e Festa, mesmo atualmente sem a sua realização nesse local. Soma-se a essa, a formação de novos territórios e territorialidades. A Praça, presente desde o primeiro traçado regulador que organizaria o arruamento citadino da Colônia Caxias [hoje Caxias do Sul], sempre esteve ligada aos imigrantes, como local de moradia, mesmo que para um grupo restrito, e local de acesso e comercialização de produtos rurais e urbanos. Acentuam-se seus usos como praça da igreja, por sua localização fronteiriça a matriz, e como sede, aos finais de semana, de feiras de produtos agrícolas e até mesmo como local de festejos as boas colheitas.
Com o início da Festa da Uva nesse espaço urbano, inúmeras modificações e intervenções urbanísticas são realizadas. Nela, locam-se pavilhões ali edificado ou provisoriamente montado. Muda-se sua pavimentação interna, que passa a reproduzir motivo inspirado nas uvas, se introduz um chafariz no centro, que tem desenhos que relembram a cultura vinícola e jorra água iluminada em tons arroxeados, para simular jorros de vinho, durante os dias do evento à uva. Somam-se legados urbanos do evento, como a melhora do arruamento das vias centrais da cidade, pelas quais passaria o desfile de carros alegóricos da festa (Machado, 2001). Em um segundo momento, ao sair da praça, o evento viabiliza a construção do pavilhão no terreno da família Giuriollo. Área ímpar, com grande extensão e dimensões disponíveis ao crescimento da Festa, e localizada próxima ao centro da cidade. Nota-se que mesmo deslocando, mantem-se vínculos com a praça central.
Posteriormente, nova transferência propicia, no contexto citadino, a urbanização de um terreno que abriga nascentes que foram utilizadas inicialmente pela localidade como fonte de água potável para a população, e não tendo sido ocupado, ainda, devido as grandes declividades presentes na área. A iniciativa de sua apropriação está associada a um amplo projeto da década de 1950. Esperava-se, inicialmente, entre outros serviços, abrigar um pavilhão fixo da Festa e da Feira Agroindustrial, além de sedes da Administração Municipal (Paiva, 1953). Com a construção, somente da edificação para a Festa, o local recebe inúmeros investimentos, facilitando o acesso dos visitantes e de altos mandatários da nação que visitam a cidade e o evento. Ainda assim, mesmo que deslocada do eixo central, a Festa permanece próxima e os desfiles continuam a percorrer o traçado original. Por fim, com o intuito de celebrar o centenário da imigração italiana no Rio Grande do Sul, nota-se uma necessidade de expansão de seu espaço físico mudando-se para outra área, adquirida para esta festividade [o Pavilhão da Festa da Uva]. O espaço liberado, ou seja, não mais utilizado com pavilhão da Festa, agora abriga a sede da Prefeitura Municipal, além da Câmara de Vereadores [em nova edificação] e a área popularmente chamada de Parque dos Macaquinhos [Parque Getulio Vargas], hoje o mais frequentado da cidade (Machado, 2001).
Após trazer transformações urbanas para a área central, a Festa da Uva com sua transferência para o novo terreno na área conhecida como Altos do Seminário, proporciona um notável crescimento para a região norte da cidade, implantando infraestrutura urbana e com ligação por via perimetral. Destaca-se, ainda, a pavimentação das vias do entorno, novas sinalizações e a viabilização e crescimento de inúmeros bairros e loteamentos na região. Além disso, o Parque de Exposições da Festa se torna local de visitação de estudantes devido o acervo associada às réplicas [Figura 9], edificações que retratam a história da cidade, grandes shows, eventos diversos [entre coorporativos e culturais] e opções de lazer como as pistas de caminhada e ciclovias. Porém, no local sobressai a Festa da Uva, que normalmente acontece a cada dois anos na cidade (Erbes, 2000).
No ano de 2016, após vários anos de debate entre a população e autoridades, o desfile realizava em rua limítrofe a Praça Dante é transferido para uma outra via, não mais no centro da cidade. A justificativa para tal mudança é dada pela melhoria do transito de veículos e pedestres, durante o desfile da festa além da maior comodidade para abrigar estruturas e trânsito das alegorias que fazem parte do desfile cênico. Provavelmente, esta será umas das novas modificações que transformarão este trecho da cidade, desdobrando alterações futuras.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A relação existente entre a cidade de Caxias do Sul e as festividades da uva pode ser percebida desde os primórdios da chegada dos imigrantes a Serra Gaúcha. O trabalho, associado à vitivinicultura, à vindima e ao culto ao vinho, vindos do passado europeu, nortearam os caminhos dos agricultores na terra nova. A Festa contribui para justificar as melhorias dos equipamentos urbanos, pavimentação de vias e criação de novos locais na cidade. Desta maneira, parte do alargamento das vias centrais, associado à Praça Dante Alighieri, o prédio da atual Prefeitura Municipal, o desenvolvimento da região próxima ao atual Pavilhão de eventos e até mesmo a recente pavimentação de rua para os desfiles do corso alegórico associa-se ao evento.
Este legado abrange benefícios à população, mesmo no período em que não ocorre a Festa. O lazer, como definido por Dumazedier (1999), fica em segundo plano. O tempo livre [do ócio] do morador, muitas vezes se transforma como o do negócio, ou como o de uma prática associada a uma obrigação cívica municipal. Porém, o cogitar de sua não realização tira uma opção de entretenimento ao caxiense. Ao turista e ao sistema turístico a ocasião é um grande atrativo de lazer no calendário da cidade. O Parque em seus dias sem evento transforma-se em uma grande área de lazer para uma parcela considerável dos moradores locais
O artigo, retornando a Santos (1994, 2004), tem na materialidade da Festa da Uva a definição da natureza da pesquisa. Sua condição inicial de festa diversa, a oficialização em um clube, a apropriação na praça central, a transferência para o galpão de uma empresa, sua determinação em um parque e finalmente consolidação em uma área de eventos é a todo o momento reconstruído como novas naturezas, na determinação do objeto urbano. Por sua vez, sua realização assume relações horizontais e verticais diversas, extrapolando de um local determinado, com usos diferenciados e eventos paralelos, e definindo diversos impactos no contexto urbano. Sua ação reforça toda uma identidade regional.
Resumidamente, e como recorte com certos aspectos de redução na complexidade da produção socioespacial, pode-se observar que a função específica do objeto, a Festa da Uva, justifica a pesquisa apresentada. Sua realização, que ao ser denominado como ‘a primeira’, embora pudesse ter ganhado outra adjetivação numérica, se fosse considerada às anteriores, caracteriza e dialoga com os territórios apropriados. Curiosamente, por estratégia, diferentemente das que antecederam, ocorre em um recanto fechado. Desta maneira, reforça o intuito de alterar suas novas formas, definindo as estruturas diversas determinadas ao longo do tempo.
Com este formato, provavelmente, a equipe organizadora ganha mais força institucional. Pode-se associar a um maior controle territorial da mesma. Importante reforçar que este grupo altera sua constituição, transferindo de algo ligado a grupos de empresários locais para uma empresa pública municipal. Porém, nela não se perde o caráter de atender demandas dos atores econômicos. A saída do ambiente privado na segunda edição para uma área pública caracteriza os moldes do processo espacial da Festa, sobrepondo dimensões urbanas, dialogando e confrontando com o cotidiano da cidade. Por vez, a presença dos organizadores, como agentes disciplinadores do evento, tira qualquer caráter de uma festa espontânea e de expressão pública.
Da quadra urbanizada, a área de eventos, passando pelo parque municipal, esses locais escolhidos agregam fortes caráteres urbanizadores. Suas instalações determinam e caracterizam todos os arredores nos anos de suas edições e, mesmo até os dias atuais, deixando legado no seu interior e entorno. Condição que não caracteriza tão marcantemente na Praça Dante, ao ter definida sua função de espaço público da cidade e independente da festa. Importante salientar acerca deste local, que a praça agrega definitivamente marcas do evento, caracterizando os equipamentos internos e do entorno imediato, como cicatrizes urbanas que expressam a localidade como a Cidade da Uva. Condição reforçada, por exemplo, em seu calçamento e outros adereços alusivos a efeméride, que se associa a Festa ao ocorrer em outro ponto da cidade.
A Festa da Uva sobrepõe sua função de comemoração à colheita e venda de um produto agrícola. Essa se posiciona como marca coorporativa que identifica a cidade e região. Seus pavilhões, desde a segunda edição, distinguem-se por um caráter urbano que determina um estatuto de monumental. Estas observações nos mostram que o evento para a cidade de Caxias do Sul tem como papel não só a celebração e encantamento que traz para região nos dias de festa. Reforça a associação à cidade, tornando patrimônio do município, e motivo de orgulho para seus cidadãos. Nela enfatiza-se o simbolismo, e o papel central ao município perante a Serra Gaúcha. Região definida histórica e turisticamente pela Uva e a Migração Italiana.
Referências
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Notas