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Por um Mundo Mais Amoroso e Autopoiético! Reflexões Amorcomtur! Durante a Pandemia Covid 19

For a more Loving and Autopoietic World! Reflections Amorcomtur! during Pandemic Covid-19

MARIA LUIZA CARDINALE BAPTISTA
Universidade de Caxias do Sul, Brasil
CAMILA CARVALHO DE MELO
Universidade de Caxias do Sul, Brasil
JÓICE DOS SANTOS BERNARDO
Universidade de Caxias do Sul, Brasil
RUDINEI PICININI
Universidade de Caxias do Sul, Brasil
SIMONE MARIA SANDI
Universidade de Caxias do Sul, Brasil
JOSÉ ALMEIDA SANTOS
Universidade de Caxias do Sul, Brasil
CARLOS EDUARDO HAAS HAMMES
Universidade de Caxias do Sul, Brasil
KAREN DANNENHAUER
Universidade de Caxias do Sul, Brasil
JENNIFER BAUER EME
Universidade de Caxias do Sul, Brasil

Por um Mundo Mais Amoroso e Autopoiético! Reflexões Amorcomtur! Durante a Pandemia Covid 19

Rosa dos Ventos, vol. 12, núm. Esp.3, pp. 1-23, 2020

Universidade de Caxias do Sul

Resumo: Este texto é uma produção coletiva do Grupo de Estudos em Comunicação, Turismo, Amorosidade e Autopoiese - Amorcomtur! - com reflexões sobre desafios e sinalizadores de um mundo pós-pandemia, a partir de pesquisas que vêm apontando para o Avesso do Turismo. O grupo trabalha com referenciais teóricos transdisciplinares, na perspectiva da Ciência Contemporânea Ecossistêmica Complexa, pautada pela visão holística. A estratégia metodológica é a Cartografia dos Saberes, associada às matrizes rizomáticas (Baptista, 2014, 2017, 2020), para a pesquisa qualitativa. A Pandemia Covid-19 significou a emergência brusca de freios a processos capitalísticos, que vinham marcando os ecossistemas turístico-comunicacionais-subjetivos, nos mais diversos territórios e dimensões, atingindo a escala planetária, o que compreendemos como alertas máximos, no sentido da necessidade de emergência de um mundo mais amoroso e autopoiético, pautado pela responsabilidade ecossistêmica.

Palavras-chave: Turismo, Amorcomtur!, Amorosidade, Autopoiese, Covid-19.

Abstract: The text is a collective production by Amorcomtur! Study Group on Communication, Tourism, Lovingness and Autopoiesis, reflecting on challenges and signs of a worldwide post-pandemic, based on research that was announced like for Reverse Side of Turismo. The group works with transdisciplinary theoretical references, in the perspective of the Ecosystem Complexity of Contemporary Science, guided by the holistic view. A methodological strategy is the Cartography of Knowledge, associated with rhizomatic matrices (Baptista, 2014, 2017, 2020), for qualitative research, both in its process and in the production of its narratives. Covid's 19 Pandemic meant the sudden emergence of brakes on capitalistic processes, which had been marking the tourist-communicational-subjective ecosystems, in the most diverse territories and dimensions, reaching the planetary scale, which we understand as maximum alerts, in the sense of the need to emergence of a more loving and autopoietic world, guided by ecosystemic responsibility.

Keywords: Tourism, Amorcomtur!, Lovingness, Autopoiesis, Covid-19.

APRESENTANDO A TRAMA AMOROSA E AUTOPOIÉTICA - Maria Luiza Cardinale Baptista

O Amorcomtur! Grupo de Estudos em Comunicação, Turismo, Amorosidade e Autopoiese foi criado em 2011, na Universidade de Caxias do Sul, como Amorcom, tendo se vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Turismo e Hospitalidade em 2013, assumindo também a sua dimensão ‘tur’, daí Amorcomtur!. Desde 2011, no entanto, na sequência de estudos que eu já vinha realizando, envolvendo a Epistemologia da Ciência, a Comunicação, a Subjetividade e suas transversalidades, o Grupo já tinha, como sinalizadores ‘amorosidade e autopoiese’, pressupostos teóricos com inspiração na Biologia Amorosa e do Conhecimento, de Humberto Maturana e Francisco Varela (1997), Maturana (1998), Varela (1992), hoje referida como Biologia Cultural. As bases teóricas, no entanto, já estavam vinculadas a uma trama complexa transdisciplinar de teorias, uma trama de trilhas teóricas, sinalizadoras para a importância da conexão de saberes, da superação do paradigma da Ciência Tradicional e dos pressupostos cartesianos, mecanicistas e reducionistas.

Neste sentido, autores como Fritjof Capra (1990, 1991, 1997), Roberto Crema (1989), Boaventura de Souza Santos (2008, 2010), Ilya Prigogine (1996, 2000, 2009), Marcelo Gleiser (2006, 2007), Amit Goswami (2008), Deepak Chopra (1994, 2012), da visão epistemológica científica geral, se associavam a Cremilda Medina (1990-1991, 1994), Edvaldo Pereira Lima (2004, 2009), Muniz Sodré (2001, 2002, 2006, 2009), Ciro Marcondes Filho (1996, 2010, 2013), Derrick de Kerchove (1995, 1997), Pierre Levy (1993, 1996, 1999), para ajudarem a compreender a comunicação, as redes midiáticas, a produção de narrativas, assim como os fluxos constantes, que passavam a, cada vez mais, criar amarrações e amarras globais. Cenários de mutação, da Ciência e da Comunicação Social, que mais tarde passaram a ser discutidos em associação ao Turismo e suas transversalidades.

A Esquizoanálise de Félix Guattari e Gilles Deleuze (1995) e Suely Rolnik (1986, 1989), me permitiu compreender os engendramentos da produção da subjetividade maquínica, no cenário caosmótico, em que vinham se transformando as grandes engrenagens mundiais, de disparos de fluxos contínuos na composição coletiva de subjetividade e significação, orientados por também grandes engrenagens ligadas a universos econômicos e políticos. Estudos midiáticos em profundidade e a associação com as transversalizações de saberes que compõem a Esquizonálise me ajudaram a perceber, claramente, a força dos Equipamentos Coletivos de Produção de Subjetividade e de Significação, em nível mundial, envolvendo tecnologias as mais diversas, também as tecnologias de informação.

Esses estudos ajudaram a discutir, no Amorcomtur!, a engrenagem geopolítica da composição de campos de forças, que direcionam leituras e significações coletivas, também em relação a destinações turísticas, criando inflexões aos processos de desterritorializações. A visão esquizoanalítica ofereceu condições para compreender que as máquinas são mais do que engendramentos mecânicos, cuja existência é explicada pela mecânica tradicional, mas representam, isso sim, engendramentos maquínicos potentes, em que está em jogo essa dimensão macro dos saberes da Física Mecânica, mas também a intensidade e energia dos fluxos das partículas subatómicas, o que é explicado pela Física Quântica, ampliando a dimensão de complexidade. Na perspectiva dos estudos quânticos, o entrelaçamento de saberes se dá com Amit Goswani (2008), Deepak Chopra (1994, 2012), Fritjof Capra (1990, 1991, 1997) e Roberto Crema (1989), em sintonia também com saberes tradicionais, a partir das reflexões de Ailton Krenak (2019, 2020) e Kaká Werá Jecupe (1998).

A essa trama de saberes também se associam os saberes amazônicos, em que discursos científicos vários, sinalizadores para a grande conexão cósmica, se mostram visíveis nos enredamentos das florestas, na grandiosidade, na exuberância da natureza dos rios e florescimentos, no derramamento de alimentos numa região também marcada pelas contradições. Assim, diante da natureza e dos rios que tudo oferecem, em termos de alimentos, a região também tem fome. Neste mesmo cenário, reconhecido como pulmão do mundo, houve um grande foco de eclosão dos efeitos do Coronavírus, com número altíssimo de mortes. Pessoas morrendo por não conseguir respirar em plena Floresta Amazônica é algo que parece impossível. Não foi, não é. Infelizmente.

Nas muitas viagens que fiz para a Amazônia, para realizar trabalhos na Universidade Federal do Amazonas, deparei-me com a definitiva informação da minha pequenez como ser humano, a compreensão de que somos minúsculos diante da floresta, dos rios, do cosmo, do desconhecido, da viagem da floresta, expressão que eu sempre tinha utilizado para me referir ao processo de pesquisa. Em 2015, em aula inaugural da pós-graduação daquela Universidade, diante de um auditório lotado de pesquisadores de todas as áreas, eu disse que a amorosidade, como estudamos no Amorcomtur!, como ética da relação e do cuidado, é a nossa única chance de sobrevivência, ‘como Planeta’.

Por óbvio, na grandiosidade daquele evento, eu não estava jogando conversa fora. Dizia com convicção, não só como cientista, doutora em Ciências da Comunicação, pesquisadora e docente em Turismo e Hospitalidade da Universidade de Caxias do Sul e professora colaboradora na Pós-Graduação em Sociedade e Cultura da Amazônia, mas também como jornalista, empresária da comunicação, chefe de família, mãe. Falei porque a amorosidade tem sido a minha marca e também a marca do grupo. Penso que é um traço potente, de gente que sabe que somente no entrelaço amoroso, ético, cuidador, hospitaleiro, de acolhimento, é possível ‘sobre-viver’ às intempéries e – acreditamos – também ao vírus de agora, à pandemia, aos desafios das pesquisas e do mundo da vida, como um todo.

Na Amazônia, os pressupostos epistemológicos teóricos do grupo se fortaleceram e no entrelaçamento com o trabalho realizado na Universidade de Caxias do Sul, na Pós-Graduação e com os estudantes de graduação, vimos brotações fortes surgirem, entendendo a noção de ecossistema, na perspectiva ampla como é estudada a partir da Ecologia Profunda, de Arne Naess, em busca de Equilíbrio Fluente, de Bertalanffy [ambos me foram apresentados por Capra, 1997], na imbricação da compreensão das complexas estruturas dissipativas de Ilya Prigogine (1996, 2001).Foi possível também ampliar a visão sinalizada a partir de Martinez Allier (2007), com o Ecologismo dos Pobres, e Boaventura de Souza Santos (2008, 2010) e sua Epistemologias do Sul, com os sinalizadores do pensamento abissal, e a criação dos abismos entre seres que vivem no mesmo Planeta e, na sua diversidade, têm saberes complementares que, reunidos, poderiam nos conduzir para a salvação coletiva e, ao contrário disso, nos colocam em risco real, concreto, de extinção como espécie humana.

A autopoiese. Para não dizer que não falei de flores, o que nem seria o meu estilo, falo da autopoiese como o conceito-flor, um conceito sinalizador de potência de florescimento e de esperança. Maturana (1998), seus estudos, entendeu que, de dentro da célula, existem processos que podem se desencadear e que levam à autoprodução, à autopoiese do organismo, desde que isso ocorra no sistema. Isso significa uma potência de reinvenção, existente sempre que estiver em sistema vibrante de ações recorrentes de cooperações, ou seja, a célula tem chance de se reinventar, se estiver no sistema, interligada, em processos recorrentes de produção de vida. Nós também. Grupos de pesquisa também. Empresas também. Universidades também.

Assim, a autopoiese, como processo de autoprodução, acionado desde o interior de sujeitos vivos – desde o micro ao macro – pode ocorrer em entrelaçamento, pulsação e vibração de vida. Assim, existe uma imensa potência de florescimento, de ressurgimento de brotações, desde que conexões amorosas – pautadas pela ética da relação, pelo investimento em cooperação e não competição – estejam ativas. Isso não é fácil, para um mundo orientado pela lógica capitalística de competição e da busca da derrota do Outro, mas é uma esperança. Maturana (1998), diz que o amor é o reconhecimento do outro como legítimo outro na convivência, e que é fundador do laço social. Eu digo: ou isso, ou nada! Vamos nos destruir todos, se não entendermos que os valores, as ações, as atitudes [como atos no todo!] devem se direcionar para o cuidado e respeito coletivo, para o cultivo da valorização das diferenças, do desejo e produção de ações, para que ‘todos’ sobrevivam e possam permanecer no planeta, tendo sua fome saciada, não só de comida, mas dos mais diversos alimentos existenciais.

No grupo, temos discutido a proposição o Avesso do Turismo, que está sendo trabalhada, de forma ampla, envolvendo a dimensão epistemológica e teórica, para possibilitar a derivação em aproximações e ações investigativas da Cartografia dos Saberes. Por ora, posso dizer que o Avesso do Turismo é o que passamos a enxergar agora, mais detidamente, com a vivência da pandemia, o tempo de isolamento social. Passamos a enxergar, como coletivo, porque no Amorcomtur!, temos discutido a necessidade de valorização desse revés, esse Turismo do qual pouco se fala, pouco se vê. Numa prática de costura de saberes, chamamos à baila a metáfora do avesso, para pensar que o avesso é que sustenta a trama – outro pressuposto fundamental do Amorcomtur!. Se pensarmos em um bordado, há o lado que está à mostra, que pode ser visto, com os desenhos organizados, os fios cuidados, embelezado para o Outro que chega ver.

No Turismo, isso também pode ser pensado. Há o Turismo que se mostra, se exibe estruturado por anos e anos, em engrenagens maquínicas que o mostram como produto estético e pré-fabricado para o consumo. Fazeres e saberes produzidos em engrenagem maquínica. Fazeres e saberes que sofreram um mega impacto com a parada forçada da máquina, com a emergência do micro, do invisível, do incompreensível, do intangível vírus que coroa um processo capitalístico também no turismo. ‘Aquele que coroa, que tem coroa e ninguém vê’ fez parar abruptamente as engrenagens todas, fazendo emergir o avesso, o outro lado, da sujeira das marés que desaparece quando o humano, tão desumano, deixa de atuar, dos subterrâneos das relações de trabalho, do esforço para fazer, enfim, uso da tecnologia para juntar, compartilhar, aproximar, e não somente dominar, vender, atingir o público alvo.

O avesso do Turismo é proposto no Amorcomtur!, como um turismo possível, o que nos remete a produções de pensadoras como Susana Gastal e Marutschka Moesch (2004). Um turismo alinhado com a Agenda 2030 (ONU, 2015) e os objetivos de desenvolvimento sustentável. Propomos, no Amorcomtur!, o outro lado, o lado do avesso, em que sujeitos-trama moradores, visitantes, turistas, operadores do turismo, agentes ligados à gestão pública, entre outros. Enfim, todos os sujeitos-trama envolvidos estejam em entrelaçamento, pensado em convivência e coexistência pacífica, respeitosa, com responsabilidade ecossistêmica – proposição conceitual, que já tenho trabalhado discutido em eventos internacionais. A proposição refere o entendimento de que o ecossistema é mais amplo que o social, envolvendo a complexa gama de elementos bióticos e abióticos. A responsabilidade precisa ser enunciada como ecossistêmica, na perspectiva holística com que trabalho.

Enfim...

Nessa trama inicial, busquei sinalizar pressupostos basilares, que vêm marcando os percursos dos estudos Amorcomtur!, em pesquisas que são coordenadas por mim, mas são produzidas a partir de uma trama de seres, em trabalho com seus objetos empíricos. Assim, os estudos “Desterritorialização Desejante em Turismo e Comunicação: Narrativas Especulares e de Autopoiese Inscriacional”, “Trama Amorcomtur! Complexos processos comunicacionais e subjetivos, que potencializam o turismo, considerados sobre o viés da amorosidade e autopoiese”, Ecossistemas Turístico-Comunicacionais-Subjetivos: Sinalizadores teórico-metodológicos, no estudo de ecossistemas turístico-comunicacionais-subjetivos, considerados a partir de sua característica ecossistêmica, caosmótica e autopoiética e “‘Com-versar’ Amorcomtur - Lugares e Sujeitos! Narrativas transversais sensíveis, envolvendo sujeitos em processos de desterritorialização – Brasil, Espanha, Portugal, Itália, México, Colômbia, Egito, Arábia Saudita e Índia” trazem uma trilha investigativa marcada por Amorosidade e Autopoiese, como sinalizadores para um novo mundo, inclusive com entrelaçamento de pesquisadores de oito países.

Na sequência do texto, as falas de alguns dos pesquisadores do Amorcomtur! Que, seguindo a lógica da Cartografia dos Saberes, trazem seus saberes pessoais, suas conexões teóricas, os desafios e sinalizadores de suas práticas de pesquisa nesses tempos de pandemia e, especialmente, sinalizadores de sua pesquisa, como contribuição para um mundo mais amoroso, autopoiético e marcado pela responsabilidade ecossistêmica. São todos pesquisadores do Avesso do Turismo, seja pela dimensão epistemológica, teórica, metódica ou técnica. O texto é, então, uma trama de falas, em bricolagem, artesania, assim como é também este momento da pandemia, em que seguimos tentando entender e sobreviver, para construir um devir pesquisa, devir mundo, devir turismo.

A PANDEMIA E O SUJEITO ENTRE MUNDOS - Jóice dos Santos Bernardo

Na teia-trama do Amorcomtur, sou um dos fios que vem da área de Comunicação, bacharela em Relações Públicas pela Universidade de Caxias do Sul, sou uma pesquisadora que valoriza os saberes múltiplos e vive uma imersão completa em cada viagem investigativa. Eu encontrei o meu lugar no Amorcomtur! no ano de 2015 e hoje minha pesquisa intitulada “Trama de Marcas Turístico-comunicacionais no Processo de Desterritorialização de ‘sujeitos entre mundos’” está completamente conectada com a trama de saberes do grupo de pesquisa.

Neste momento que vivemos, a pandemia, eu tenho buscado me conectar com a pesquisa para permanecer psicologicamente saudável. O contato, mesmo que virtual, com sujeitos entre mundos me permite compartilhar vivências e a história de vida a partir da experiência de intercâmbio internacional. É desafiador conversar com intercambistas que tiveram seu sonho de viagem adiado, por conta da pandemia, e também conhecer histórias de jovens que não puderam voltar para seu país de origem e vivem a quarentena longe de suas famílias. A minha contribuição para um mundo mais amoroso, neste momento, concentra-se em ‘com-versar’ lugares e sujeitos, no sentido de ‘versar junto’ e valorizar a história de vida do Outro. A proposição ‘com-versar’, assim como está escrita, é proposta por Baptista (2020), tendo com inspiração as conversações de Gilles Deleuze, da Esquizoanálise, e as práticas de Conversar, propostas por Humberto Maturana e Ximena Dávila, da Biologia Cultural.

Posso dizer, que em tempos difíceis, a pesquisa Trama de Marcas Turístico-comunicacionais no Processo de Desterritorialização de ‘sujeitos entre mundos’ valoriza a história, as marcas do tempo e seus entrelaçamentos com os diversos ecossistemas do mundo da vida, importantes para a Ciência Contemporânea.

TEMPOS DE DESTERRIORIALIZAÇÃO? - Camila Carvalho de Melo

Como doutoranda recém-chegada ao programa, que já havia me recebido em 2016 como mestranda, hoje pesquiso sinalizadores do processo de desterritorialização e autopoiese, como dispositivos agenciadores de uma responsabilidade ecossistêmica no sujeito-trama do turismo. Mas isso é só um avesso, para utilizar o termo que está em discussão no grupo, de uma expressão maior de vida, que se configura mesmo em imensos processos de desterritorialização, do momento em que nasci até hoje. Para explicar o conceito, proponho pensar a palavra em três trilhas: território, ‘des’ território [saída do território] e ‘re’ território [reconhecimento do território; reterritorialização]. A expressão de território aqui é compreendida para além do território físico, segundo as proposições de Guattari e Rolnik (1996).

Na perspectiva dos autores, os “seres existentes se organizam segundo territórios que os delimitam e os articulam aos outros existentes e aos fluxos cósmicos” (Guattari; Rolnik, 1996, p. 313). Nesse sentido, o que está em jogo é a percepção de sentir-se em casa em tempos em que se sentir em casa significa também a condição diferente, de desterritorialização em relação a um cotidiano, que envolvia muitos trânsitos, saídas, deslocamentos, para depois voltar para casa. Venho desbravando essa trilha epistemológico-teórico-conceitual desde o início do mestrado. De lá pra cá, me reconheço sempre em territórios diferentes, nas perdas do chão de mim mesma, tal qual acontece com o sujeito quando viaja, quando precisa deslocar seus territórios conhecidos para outros lugares, com conceitos e estruturas tão diferentes que aquilo que ele traz na bagagem não serve como uma luva, embora sirva como inspiração para encontrar lugares semelhantes.

Nesse sentido, para mim, também é natural pensar que o momento pelo qual passamos agora nada mais é do que um grande processo de desterritorialização, uma vez que perdemos todos, como humanidade, nosso chão, e não sabemos muito bem como ou onde construir novos. No caminho da simulação, tateamos, procuramos sinais que nos digam em quais lugares podemos nos acomodar novamente. Conforta saber que isso é só um processo e que, logo mais, de um jeito ou de outro, estaremos reterritorializados, com o desafio de que esse novo território terá que ser construído e que essa construção só se efetivará se for uma construção coletiva.

DESAFIOS DE CONFIANÇA EM TEMPOS DE PANDEMIA - Rudinei Picinini

O ano de 2020 seria, por si só, um ano de grandes transformações. A aprovação na seleção do Programa de Pós-Graduação em Turismo e Hospitalidade já traria mudanças e desafios o suficiente, para me tirar da zona de conforto, tendo o campo da pesquisa como grande motivação. O que eu não esperava é que, antes mesmo que as aulas do primeiro semestre começassem e me lançassem ao mar da vida acadêmica, o mundo também fosse forçado a se adaptar a um novo cenário, uma pandemia.

Confesso que, na minha cabeça, o início das disciplinas do Programa e da quarentena ganharam aspectos representativos, por ocorrerem no mesmo período. Nesse contexto, quando boa parte das pessoas viram suas casas virarem, simbolicamente, bunkers, sinto que estar imerso em artigos, livros, trabalhos acadêmicos, discussões em vídeos chamadas nas aulas ou nos encontros do Amorcomtur!, também foi uma maneira de descer um nível no subconsciente, me impedindo de pensar a todo tempo em fatores que são externos a minha vontade, quando o cuidado é o melhor que posso fazer por mim e pelos outros.

Essa bolha criada perante aos acontecimentos não tem como objetivo ser alienadora; pelo contrário, pensar dessa forma e mergulhar em conhecimento me fez perceber que, para lidar com um momento tão delicado, é preciso olhar a situação por diferentes perspectivas. Só assim criamos a confiança, necessária para lidar psicologicamente com esse desafio.

Não por acaso a confiança é tema central das minhas pesquisas no programa, tendo se tornado quase o meu bordão nos últimos tempos. Conforme Silva Terres e Santos (2011), a confiança é comumente resumida como a expectativa de acontecimentos favoráveis ou a espera do comprimento de determinadas promessas, mas como todas as coisas comuns do dia a dia, a qual não nos debruçamos epistemologicamente, a confiança é formada e é necessária por um emaranhado de outros fatores.

Luhmann, um dos pioneiros no estudo da confiança, já em 1979 afirmava que ela é importante para que os sujeitos tomem decisões perante a complexidade presente no sistema social e na psiquê humana. O sociólogo também cita a preocupação com o futuro como fator que aumenta a insegurança, perante a complexidade do mundo, lembrando que devemos podar o futuro e trazê-lo para a perspectiva do presente, para, de fato, tomarmos decisões.

Quando relacionamos as ideias de Luhmann (2017)[i] com o sentimento coletivo atual de insegurança em relação ao futuro, penso que esse seja o desafio de fato, pensarmos a partir do que temos, e não de um futuro, onde boa parte das projeções podem não se tornar realidade. Esse é o momento de explorarmos todas as dimensões da confiança, conforme Silva Terres e Santos (2011), seja ela a da cognição, onde somos pragmáticos nas nossas escolhas, seja pelo afeto, impulsionado pelos nossos sentimentos e pelo desejo de cuidar do outro e deixar-se ser cuidado, ou pelo comportamento, que nos leva tomar inciativas.

Quando ligo para os meus pais, sinto que minhas palavras de conforto, muitas vezes, se resumem à aplicação da Cartografia dos Saberes (Baptista, 2014), como estratégia metodológica para a vida. Nessas ocasiões, cartógrafo, retomo a nossa história, para lembrar como enfrentamos os momentos difíceis, exploro experienciais de autoridades para reforçar cuidados e pensar em saídas para os assuntos do cotidiano, ouço as necessidades deles e vou a campo para buscar repostas, e por fim, compartilho minhas observações intuitivas em relação a esse novo momento. Posso estar equivocado, mas me parece que, nesse momento, direta e indiretamente, todos nos encontramos em segurança, quando nos apropriamos dos caminhos indicados pela Ciência, não só na área da saúde, mas também na perspectiva social, no nosso caso, especialmente buscando cultivar amorosidade e autopoiese.

TURISMO EM FOZ DO IGUAÇU EM RELAÇÃO À COVID-19 - Simone Maria Sandi

A minha pesquisa na área do turismo está se direcionando à discussão de responsabilidade ecossistêmica relacionada ao turismo de Foz do Iguaçu. Escolhi esta cidade por me identificar com o turismo natural das Cataratas e do Parque Nacional, além de a cidade ser rica de culturas provenientes de várias etnias.

O Parque Nacional do Iguaçu, no Brasil, e o Parque Nacional Iguazú, na Argentina, foram reconhecidos pela Unesco como Patrimônio Mundial Natural. São ricos em biodiversidade de animais e árvores centenárias, no maior remanescente de Mata Atlântica no interior do Brasil. Os parques são separados por uma linda visão cênica, que são as 275 quedas de águas do Rio Iguaçu que formam as Cataratas, também reconhecida, por meio de eleição virtual, uma das 7 maravilhas da natureza. Em 2019, foram visitados por 2.020.358 turistas no lado brasileiro, e cerca de 1,6 milhões de turistas no lado argentino.

De um lado o meio ambiente, mecanismo funcionante da natureza seguindo o seu fluxo na engrenagem de subsistências dos seres vivos nas dimensões bióticas e abióticas, por outro, o progresso capitalista. Mas, quanto vale este progresso? Será que temos que comprometer a natureza para atingi-lo? Não poderíamos ter progresso respeitando a natureza?

A parte este assunto, já conhecido e discutido em alguns grupos e pela mídia, temos a visita de um vírus, chamado Coronavírus ou mais precisamente Sars Cov2 que provoca a doença Covid-19 em humanos. O vírus chegou sem avisar, nos pegou desprevenidos, cheio de mistérios e de complexidades para ser combatido. Parece que este vírus veio para nos dar algum ensinamento: será que não seria para ter mais respeito à natureza? Se fôssemos infalíveis a ela, não nos pegaríamos desprevenidos por um simples vírus, que atingiu milhões de pessoas e vitimou milhares delas no mundo.

De acordo com Beni e Moesch (2017), se percebem trocas energéticas, materiais e informacionais que ocorrem entre o sistema e o ambiente, permitindo que ele internalize o que necessita para manter sua organização e estrutura em funcionamento. Por isso a importância de cada um assumir sua responsabilidade ecossistêmica com a amorosidade que todo o sistema permite. Assim como um vapor d’água juntamente com outros vapores d’água no seu percurso se encontra com os ventos alísios e se transformam em chuvas que mantém todas as espécies de seres vivos, nós também fazemos a diferença por existirmos e agirmos nas pequenas manifestações.

Se progresso depende também do turismo, o que seria de Foz de Iguaçu sem as lindas Cataratas do Iguaçu e a biodiversidade dos Parques Nacionais? Que seria do turismo de Foz de Iguaçu se o Parque Nacional do Iguaçu, perdesse o selo de reconhecimento de Parque Natural Mundial? E/ou se as cataratas perdessem o reconhecimento de uma das 7 maravilhas da natureza?

Para finalizar, fica aqui o convite para aproveitarmos este período de isolamento, mesmo parcial, porém, controlado para refletirmos com atenção ao que realmente está acontecendo ao nosso redor, sem dispersão, ilusão e negação. A natureza está reivindicando respeito ao seu bom funcionamento que, por consequência, dependemos dela. Como diz Lovelock (1991), o futuro da humanidade depende mais de um correto relacionamento com a Terra, do que com o interminável drama de outros interesses.

NO AVESSO DO TURISMO E DA PANDEMIA: A COMIDA DE BOTECO - José Almeida Santos

Sou integrante do Amorcomtur! desde 2018, antes mesmo de ingressar no doutorado em Turismo e Hospitalidade, na Universidade de Caxias do Sul. Tenho participado dos Encontros Caóticos e das conversas, quando são discutidos os mais diversos assuntos, todos na perspectiva da Amorosidade e Autopoiese e Responsabilidade Ecossistêmica. Apesar das diversidades das temáticas discutidas aleatoriamente, os assuntos sempre acabam mergulhando na pesquisa de cada um, por isso, utilizo o termo aleatoriamente entre aspas. Isto sempre transforma o encontro em uma dinâmica potente, o que sempre justifica os encontros e que o torna muito rico no que tange o processo de ensino aprendizagem. Nesses encontros, cada integrante tem seu próprio objeto de pesquisa e, na conversa, vai aprendendo e com todos os outros, vão surgindo novas ideias e esclarecendo dúvidas. Neste momento, desenvolvo uma pesquisa sobre Comida de Bares Populares em Maceió, no PPGTURH-UCS, sob a orientação da Professora Doutora Susana Gastal. Seguindo a proposta do Amorcomtur!, para refletir um pouco sobre os acontecimentos relativos à pandemia do Covid-19 e nossas pesquisas, apresento algumas reflexões.

De acordo com os noticiários diários, que temos acompanhados por meio da mídia televisa, de jornais e, principalmente, pelas mídias sociais, observa-se que o setor de Turismo vive a pior fase, em toda a sua história. Nunca se viu uma guerra [sem recursos bélicos!] que causasse tamanho impacto econômico, social e cultural. A dramaticidade do contexto agrava-se, pelo fato de que a crise é mundial, sem precedentes e sem previsão para o fim. A humanidade sofre e fica evidente que o mundo não estava preparado para uma pandemia, em nenhum sentido, em nenhuma área.

O que já está claro é que precisamos nos reinventar para sobreviver. Provavelmente, as empresas que conseguirem atravessar esse momento ficarão mais fortalecidas e mais cuidadosas no que tange à higienização e, quem sabe, mais amorosas para com os seus clientes. Trata-se também de uma oportunidade para que a humanidade passe por uma transformação, no que tange o respeito coletivo, a solidariedade e um pouco mais de amor pela natureza de modo geral.

Em Maceió, no Estado de Alagoas, cidade onde será realizada minha pesquisa sobre a comida de bares populares, e uma das cidades do Nordeste brasileiro mais procurada pelos turistas, está deserta, os hotéis estão fechados bares e restaurantes, também (gazetaweb.com, 2020). O setor do Turismo, um dos principais da economia alagoana e que envolve bares, hotéis, pousadas, restaurantes, entre outros estabelecimentos, já é atingido economicamente pela pandemia do Coronavírus, que causa a doença Covid-19. As reservas para os hotéis estão sendo canceladas. Ainda segundo informações da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis de Alagoas [ABIH-AL], diante deste novo cenário, a entidade analisa o quadro e diz que deve solicitar à prefeitura de Maceió e ao governo do Estado um plano emergencial, "para que o segmento consiga atravessar essa crise sem maiores prejuízos, principalmente porque o segmento é responsável pelo emprego de milhares de alagoanos”.

Neste cenário, parece muito interessante pensar a proposição o Avesso do Turismo. Imagina-se que a comida de se vincule à lógica do Avesso do Turismo, por não estar nas rotas do turismo tradicional. De acordo com as discussões promovidas por Baptista (2020), nos Encontros Caóticos Amorcomtur!, o Avesso do Turismo pode ser caracterizado, também, pelo turismo ainda invisível, aqueles espaços que o turista não conhece, mas que existem, como, por exemplo, os bares simples, os restaurantes tradicionais, os quais são mais frequentados pelas pessoas da cidade, também conhecidos por alguns, por nativos.

Nesse contexto inserem-se: as padarias e confeitarias, que fornecem seus produtos para hotéis, restaurantes, pequenos e médios agricultores, que, às vezes, nem sabem onde vai parar seu produto final. Há também pequenas e médias produções de artesanato que não têm acesso aos espaços turísticos, mas que, de alguma forma, constituem um tecido mais amplo, que, muitas vezes, é acessado pelos turistas, por meio da ação de atravessadores. Todos esses segmentos provavelmente fazem parte desse Avesso do Turismo. Eles não são vistos, entretanto, são necessários para a sobrevivência de muitas comunidades produtoras e para subsistência do próprio turismo tradicional. Nessa perspectiva, há clientes frequentadores desses lugares que são turistas, porém não são reconhecidos como tal.

Retomando ao meu objeto de estudo, os bares populares, diante da pandemia, mais que nunca, também estão no Avesso. Na maioria, eles estão invisíveis para o trade turístico, mas têm uma comida de raiz com muito sabor, cheiro, cultura, roça, muitas histórias, tradição e poesia. A culinária servida nestes botecos remete à comida caseira, aquela preparada e servida pela nossa mãe e ou nossa avó. Por isso tem sabor especial e diferenciado, é feita sem as modernas técnicas culinárias presentes no cotidiano e, por meio desses atributos, nos remete ao passado, resgatando sempre os prazeres que um dia nos foi proporcionado com muita amorosidade.

Entendo até que as comunidades inseridas nas tramas do avesso do turismo sejam pessoas mais simples, porém mais autênticas, que tem muito mais a oferecer. Há a proposta de reinvenção do Turismo, desde as relações e o respeito coletivo e ecossistêmico. Nesse contexto, imagina-se que a cultura, as tradições, os hábitos alimentares, o artesanato entre outros costumes vendidos para o turismo de massa, sejam advindos desse outro lado desconhecido, mas com potencial valoroso a ser descoberto. Acreditamos na possibilidade de valorização dos avessos e reconhecimento de suas potencialidades para a construção de laços baseados em outra coerência, mais ética e amorosa.

O destino do Turismo nessas regiões, assim como no mundo, é incerto. No caso dos botecos, em grande parte, são estabelecimentos de gestão individualizada ou familiar, sem um planejamento maior, em termos de marketing ou recursos financeiros. Isso faz com que uma situação de pandemia seja muito avassaladora, porque esses estabelecimentos não tinham recursos guardados, o que compromete em termos de possibilidade de sustentabilidade. Geralmente, esses estabelecimentos não têm reservas acumuladas.

Estamos vivendo ainda um tempo de perplexidade e incertezas. Existem as mais variadas especulações sobre, por exemplo, se o turismo será mais elitista, o turismo será mais barato, ou mais caro, as pessoas irão viajar mais de carro, o turismo interno será mais valorizado, os preços dos restaurantes serão reajustados... Há uma explosão de falas; entretanto, não se sabe de fato o que pode ocorrer. Nesse contexto, além dos noticiários diários, ainda, têm surgido as lives – palestras ou conversas virtuais – que de repente dão a impressão que todo mundo é especialista. O que pode se observar é que não existe uma previsão definitiva da retomada total do setor de turismo, nem da Gastronomia, embora alguns segmentos tenham criado algumas estratégias sanitárias, para antecipar o funcionamento, mas seguindo as normas previstas pelos órgãos públicos responsáveis. No caso dos botecos, a improvisação e individualização das ações segue a mesma dinâmica anterior, em meio às enormes preocupações, riscos e desafios de sobrevivência, literalmente.

BIOS MIDIÁTICO E A TRAMA TELEVISUAL-TURÍSTICA - Carlos Eduardo Haas Hammes

Como jornalista, repórter de televisão e produtor cultural, tenciono entender como o conceito de bios midiático, articulado por Muniz Sodré (2002), pode ajudar a compreender a interação entre os sujeitos que produzem informação televisual sobre o turismo. A intenção de entender essa troca surgiu com a experiência de conduzir programa jornalístico veiculado pela TV Assembleia do Rio Grande do Sul, especializado em feiras e festas realizadas no Estado e, com o advento da pandemia, drasticamente alterado para atender as medidas de distanciamento social. A produção jornalística em eventos turísticos mostrou os tantos entrelaçamentos existentes na interação entre mídia e turismo, especialmente entre os sujeitos que produzem informação televisual e os sujeitos fazedores do turismo. Nessa nova realidade produzida pela Covid-19, os tensionamentos entre esses sujeitos passaram a ser mediados tecnicamente e a experiência da interação ressignificada.

Muniz Sodré, ao refletir sobre as mudanças nos interesses e costumes a partir da midiatização da sociedade, acrescenta uma quarta esfera à pólis grega aristotélica, que chamou bios midiático, onde as relações sociais são articuladas sobre o solo da informação. Lembro definição de comunicação-trama, proposta por Baptista (2000), onde comunicação é interação e fluxo de informações entre sujeitos [humanos ou não] “numa espécie de trama-teia complexa” (p. 33), que produz afetos. A trilha de saberes pessoais, encontrou guarida, portanto, nas reflexões desenvolvidas no Amorcomtur! que permitem articular as noções de bios midiática e de comunicação-trama para problematizar a trama midiático-turística na produção de informação televisual sobre o turismo.

Em entrevista concedida ao programa Xeque-Mate da TV Universitária da UFRN, Sodré reitera que somos uma forma de vida pautada e regida pela informação: “a informação é solo, é território, nós pisamos nela quando compramos a roupa, o sapato, quando lemos uma informação, escutamos uma notícia”. Mas antes de termos acesso a uma informação ela é produzida na trama subjetiva que envolve a rotina produtiva midiática, nas afetações entre os sujeitos envolvidos nessa rotina: produção, apuração, edição, transmissão, etc. e é sobre interações que a pandemia se mostrou mais transformadora. Agora, além de serem mediadas, se tornaram mais objetivas, pontuais, menos pessoais e os afetos do contato com sujeitos não-humanos engendrados nessa trama, como o próprio destino ou equipamento turístico, perderam potência.

Não é possível visualizar, pelo menos por enquanto, como será a produção de informação televisual sobre turismo pós-pandemia. Enquanto vigorarem as medidas de distanciamento social, essa produção tende a acontecer reduzindo os afetos na via da produção, entre fontes de informação e agentes midiáticos e o contrário. Na outra via, no consumo de informação, os afetos tornam-se ainda mais significantes e mais intensos, para que se tornem solo firme para a vida no interior da polis midiática, reforçando a noção de Sodré sobre a televisão que, por sua natureza, seduz pelo afeto, pela produção de sensações e emoções engendradas, pela articulação intencional entre imagem e som.

TURISMO E NARRATIVAS MIDIÁTICAS EM EVENTOS LGBT - Karen Dannenhauer

Diante da pandemia Covid-19, que abala toda a cadeia produtiva de bens e serviços e das decorrentes relações que permeiam a esfera da vida pública e privada, é possível uma série de reflexões na pesquisa e na vida. No Amorcomtur!, pela orientação da estratégia metodológica Cartografia do Saberes, produzimos nossas pesquisas, orientados por algumas ideias e proposições em trilhas, no sentido de amorosidade e autopoiese. Assim, buscamos em nossas próprias histórias, saberes e sentimentos, que podem ser colocados em conversa com as teorias, relativas aos fenômenos que estudamos, ajudando a dar significado, não só para o coletivo, mas também para nós mesmos.

Desde que tive a noção de que sentia atrações afetivas e sexuais por pessoas do mesmo sexo, há mais ou menos 10 anos, iniciei um processo de autocompreensão e aprendizado. Este processo incluía questões do tipo: como iria me definir perante uma sociedade que é majoritariamente moldada pelo padrão heteronormativo, tomando a noção de maioria de Deleuze e Guattari (1995), que, antes de ser um processo quantitativo puro e simples, a “maioria supõe um estado de poder e de dominação, e não o contrário” (p. 45). E, se eu me definisse como tal, com que condições iria prosseguir está caminhada?

Essas inquietações me tomaram por inteiro, de tal forma que, antes de iniciar na pesquisa em iniciação científica e de fazer parte de algum movimento organizado, eu já participava autonomamente de manifestações, contribuía com o ativismo digital e me debruçava na Filosofia, para compreender questões que entravam em consonância com a minha orientação sexual e a vida, como tal, em sociedade.  Foi pensando nesta trajetória de vida, já como bolsista de IC, que, em 2019, meu objeto de estudo foi: Imprensa alternativa, no processo de singularização dos LGBT, e a mobilização de eventos ligados a esse grupo de sujeitos, considerando as décadas de 1970, 1980 e 1990, no Brasil.

A partir dos questionamentos, discussões e resultados da pesquisa levantados, estou dando continuidade na pesquisa sobre os sujeitos LGBT; entretanto, com um novo objeto: Narrativas midiáticas relativas a eventos institucionais LGBT de 2019 no Brasil e na Espanha. Reflexões sobre Responsabilidade Ecossistêmica.

Com a proposta de refletir sobre o episódio da pandemia, em relação ao objeto de pesquisa, posso afirmar que, em relação aos eventos, os reflexos da pandemia estão aparecendo rapidamente. Os eventos e as paradas LGBT costumam acontecer na metade do ano, próximo do dia Internacional do Orgulho LGBT, 28 de junho, fazendo referência ao dia 28 de junho de 1969, dia em que ocorreu a revolta de Stonewall, no famoso bar, em Nova Iorque. Em decorrência do Coronavírus, no Brasil, as datas foram adiadas e transferidas para o final do ano. Na Espanha, o evento foi adaptado para ser transmitido virtualmente.

Conforme Viana (2020), a ONG Associação da Parada do Orgulho GLBT de São Paulo (APOGLBT SP), entidade responsável por organizar os eventos do Mês do Orgulho LGBT+ e a parada do Orgulho LGBT de São Paulo-SP, a data da realização dos eventos e da parada foi modificada devido a pandemia de Covid-19 e o calendário de São Paulo, os eventos e a parada foram transferidos para o mês de novembro de 2020. Em razão disso, no dia 14 de junho, dia que aconteceria a 24ª Parada do Orgulho LGBT de São Paulo LGBT, com o tema: Democracia e o slogan: Sejamos o pesadelo dos que querem roubar a nossa Democracia, a ONG organizou, em parceria com a Dia Estúdio, a 1ª Parada Virtual do Orgulho LGBT de São Paulo ao vivo, com transmissão simultânea nas plataformas do Facebook, Twitter, Instagram e YouTube. A organização juntamente com outras 19 organizações LGBT e outros parceiros viabilizou a live Lgbti Vive – Festival pelo Dia Mundial de Combate à LGBTIfobia e a Marcha Online Contra a Lgbtifobia e a covid-19, no dia 17 de maio de 2020, com o objetivo de proporcionar bate-papo e atividades educacionais e culturais na modalidade online. Além disso, a organização vem promovendo o projeto Rede Parada para a solidariedade, em parceria com outras entidades, com o objetivo de ajudar sujeitos que se encontram em vulnerabilidade social.

Na Espanha, segundo o Comité Organizador do Orgulho Estatal LGBTI (2020), composto pela Federação Estatal de Lésbicas, Gays, Transexuais e Bissexuais (FELGTB), Coletivo LGTB+ de Madrid (COGAM) e pela Associação de empresas e profissionais para gays e lésbicas, bissexuais e transexuais de Madri e sua comunidade (AEGAL), inicialmente, a proposta que vigorava era a de adiantamento do evento; contudo, levando em consideração o surto da pandemia de covid-19 e a preocupação dos organizadores com a saúde e a segurança de todos, foi decidido que o evento acontecerá do dia 01 a 05 de julho e a celebração do dia do Orgulho LGBTI, no dia 28 de junho, virtualmente.

A ação virtual está focada para a prestação de homenagem aos cidadãos e, em especial, aos sujeitos LGBT, grupo que é composto por sujeitos que apresentam a saúde mental mais afetada, em decorrência dos preconceitos que sofrem diariamente, e que estão sofrendo com a situação atual.

O AVESSO É TAMBÉM O REPUXO, DA PANDEMIA E DO TURISMO - Jennifer Bauer Eme

Sou o que eu mesma costumo chamar de Velha Guarda do Amorcomtur!. Participo do grupo há muitos anos, fiz iniciação científica, comecei fazer pesquisa, escrever artigos. Já apresentei trabalhos em eventos nacionais e internacionais. Na graduação em Jornalismo, fiz uma pesquisa sobre os artesãos de Caxias do Sul e suas produções nômades, trabalho que foi desenvolvido com um trabalho de campo marcado pela escuta e produção de narrativas, a partir da vida de sujeitos do cotidiano.

Atualmente, minha pesquisa também segue com as orientações de escuta sensível, de sujeitos do cotidiano, só que com um viés um pouco diferente. No mestrado estou pesquisando sinalizadores do repuxo do Turismo em Torres/RS, analisados a partir de narrativas de moradores. Para compreender a metáfora, é possível pensar no repuxo como ‘corrente de retorno’. No ‘repuxo’, sente-se o mar mais forte, enxerga-se o chão, tem-se contato com a trama, com seus traços, pedras, cacos, lixos minúsculos que o compõem, sem a poética da ‘onda’ do mar. Talvez seja esta também uma oportunidade de compreender o Turismo, para além e subjacente à ‘onda’ do Turismo. O repuxo, no caso da minha pesquisa específica, equivale ao que, no grupo todo, estamos chamando de Avesso do Turismo.

Há, no caso do meu estudo, uma associação com áreas da cidade que ficam longe da movimentada ‘orla turística’ da cidade. Assim, o interior, o lado rural, é lugar de brotação para uma vivência mais conectada com a natureza, onde é possível viver num ritmo mais lento, reconhecendo a importância de todo o ecossistema. Na lógica do que Boaventura de Sousa Santos (2002) aborda como ideia de produzir para viver, acredita-se que os saberes do interior podem mostrar aspectos interessantes para (re)pensar o Turismo. A questão, aqui, é também pensar o que há para além do Turismo, no seu repuxo, no que ‘não é o mar do Turismo’.

A temática que desenvolvo ajuda a pensar, também, esse período de pandemia, de parada forçada das atividades turísticas, de grande transformação em processos todos, nos fazeres e saberes do turismo e de todas as áreas. Contra uma lógica desenvolvimentista desenfreada, de grande valorização do desenvolvimento, evolução, inovação e aumento do número de turistas, a pandemia trouxe a demanda de começar a enxergar por debaixo desse mar de produtividade turística. O que está sendo questionado é, nada mais, nada menos, que as possibilidades de sobrevivência. Assim, no meu trabalho, já no título, eu questiono: “Quem não vive do mar, vive de quê?”. Eu falo neste título, do mar de Torres, município do Rio Grande do Sul, conhecida pelo seu potencial turístico. Só que eu falo também do ‘mar do turismo’, da invasão de turistas que acontece todos os verões, inchando a cidade desproporcionalmente, sem que se consiga dar conta do aumento desenfreado da população nos períodos de veraneio. Todos os anos Torres é invadida por um mar de turistas. No inverno, eles vão embora e a cidade vive o repuxo do turismo, a corrente de retorno, a necessidade de sobreviver, para além das atividades de praia, de alta temporada. Neste tempo de pandemia, a corrente de retorno assume uma proporção gigantesca, o repuxo é mais forte que nunca. Nesse sentido, governança, população, agentes do turismo, pesquisadores, todos somos chamados a discutir o que fazer ‘quando não há’ [a grande onda].

Então, repuxo e avesso expressam a complexa trama inerente ao ‘outro lado’, o que subjaz, o que existe, por dentro da costura, entranhado nas terras, nos cacos de garrafas atiradas ao mar, em tempos de bebedeiras à beira mar. Estamos sendo chamados à consciência, a retomar a lucidez, bruscamente, compreender que o ecossistema todo precisa sobreviver, para que tenhamos alguma chance. O repuxo é forte, muito forte. No Amorcomtur, também inspirados na filosofia africana Ubuntu, pensamos que somente podemos sobreviver entrelaçados, em relações éticas e responsáveis, em processos de acionamento constante de autopoiese... Assim seguimos tentando...assim acreditamos ser possível um mundo mais amoroso e autopoiético, com saberes e seres entrelaçados.

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