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INTRODUÇÃO

A dinâmica contemporânea das áreas rurais proporcionou o surgimento de atividades produtivas, as quais nem sempre estão diretamente relacionadas à agricultura. Diante desse cenário, são reformulados diversos fatores que incidem sobre esses espaços, o que possibilita a efetivação das novas ruralidades. Reflexos dessas transformações manifestam-se nas concepções que orientam as discussões acerca das áreas rurais, as quais distanciaram-se da ideia de atraso e pobreza, representando, atualmente, um espaço capaz de oferecer qualidade de vida e bem-estar (Wandscheer & Teixeira, 2010; Tulik, 2010). Nesse contexto, das novas ruralidades, o turismo rural se consolida. No Brasil, “o turismo rural surge como uma alternativa econômica considerada capaz de minimizar a decadência do meio rural e manter a atividade agrícola nas propriedades que estão sendo abandonadas por uma série de fatores de ordem econômica e social” (Santos & Pires, 2010, p. 60).

Desenvolver o turismo no meio rural geralmente é um ato de complementação de renda e não a principal atividade econômica para a manutenção da propriedade, substituindo totalmente a atividade agrícola desenvolvida no local. Além disso, é sugerido que nessa forma de turismo ocorra a participação efetiva da comunidade envolvida e que se desenvolva a partir do respeito das características e da identidade local (Martins & Souza, s.d., p. 915). No Paraná, as discussões relacionadas ao turismo rural, assim como as pesquisas científicas que fundamentam este segmento e suas políticas, são recentes. No município de Irati, no estado do Paraná, o cenário é o mesmo, as atividades e discussões sobre o turismo rural ainda é incipiente, embora possua condições favoráveis para o desenvolvimento desse segmento (Baptista & Goveia, 2019).

Atualmente, as atividades associadas ao turismo rural desenvolvidas no município de Irati estão centradas em duas comunidades: a do Pinho de Baixo, a qual conta com alguns roteiros turísticos [Rota do Equilíbrio], restaurantes e museu; e a comunidade do Cerro da Ponte Alta, que dispõe da Pousada Daneliv, equipamento turístico que oferece atividades de lazer em meio à natureza (Baptista & Goveia, 2019). Neste contexto, pergunta-se se o empreendedorismo no setor hoteleiro está desenvolvendo-se efetivamente nas áreas rurais de Irati-PR. Para entender esta questão, foram dimensionados os seguintes objetivos específicos: identificar os meios de hospedagem localizados na área rural de Irati-PR; realizar a análise de cenários dos meios de hospedagens identificados; ponderar sobre as potencialidades para o desenvolvimento dos meios de hospedagem voltados ao turismo rural de Irati-PR.

A OPORTUNIDADE DE EMPREENDER

Empreendedores e empreendimentos existem desde o início da história da sociedade, sendo que a primeira definição relacionada ao empreendedorismo, surgiu por volta de 1730 por meio dos autores Cantillon, J. B. Say e Schumpeter, os quais colaboraram significativamente com os estudos sobre o impacto do empreendedorismo no desenvolvimento econômico e social (Araújo, 1988). Ser empreendedor representa agir em frente à uma oportunidade (Hisrich, Peters & Shepherd, 2014), assumindo o papel de transformar um negócio simples em uma oportunidade extraordinária. Empreender, é ser visionário e sonhador, é manter a chama do futuro acessa, é viver no futuro, nunca no passado e, raramente no presente, é ser inovador, estrategista e inventor de novas táticas para o mercado (Soledade, 2015).

Um empreendedor não é necessariamente um empresário. E um empresário não é necessariamente um empreendedor. Além disso, não há um padrão de empreendedor, embora diversas pesquisas científicas busquem delimitar um estereótipo universal (Dorneles, 2007). No cenário do empreendedorismo os empreendedores devem estabelecer uma nova visão de negócio sem descuidar da segurança deste processo. Para isso, no trabalho, baseado na criatividade, deve-se delegar funções e tarefas que busquem efetivar uma organização do labor (Filion, 2000).

Nesse sentido os autores Peters e Shepherd (2014), apontam a ação como um fator determinante no processo de empreender, uma vez que a ação empreendedora objetiva encontrar oportunidades, entrar em novos mercados e disponibilizar produtos e serviços diferenciados, sendo intencional este processo. A intenção, de acordo com os autores supracitados, auxilia na compreensão dos fatores que influenciam o comportamento, indicando a intensidade com que os indivíduos pretendem arriscar-se e esforçar-se para realizar determinada ação. Sendo assim, entende-se que o empreendedorismo requer ação, a qual deve basear-se na inovação de produtos, serviços, processos e na conquista de novos mercados, sendo, normalmente, trabalhada através da organização pré-estabelecida pelo mercado (Heinrich, Peter & Shepherd, 2014).

Entretanto, compreende-se que para alcançar bons resultados no empreendedorismo, o empreendedor deve transcender a ação e a visão de negócio, buscando a profissionalização técnica, a qual pode direcioná-lo com mais seguridade à competência profissional. Nestas circunstâncias, os empreendedores serão indivíduos visionários com boa percepção do futuro para seus negócios (Dorneles, 2007). Como resultados o empreendedorismo atua fortemente na criação de novos negócios, como também no desenvolvimento das localidades onde instala-se. Portanto, a reflexão acerca do empreendedorismo pode auxiliar na transformação da compreensão do mercado e da interpretação do ambiente de trabalho, além de contribuir para discussões sobre o desenvolvimento local (Heinrich, Peter & Shepherd, 2014).

ASPECTOS GERAIS SOBRE O TURISMO RURAL

O meio rural sofreu diversas transformações ao longo do século XX e os fatores mais evidentes dessas transformações foram as dificuldades no campo, as crises agrárias e a modernização, a qual inseriu no meio rural a tecnificação dos maquinários agrícolas e a utilização de insumos em sua produção. Essa novidade tecnológica impossibilitou a permanência dos pequenos agricultores no campo, uma vez que não conseguiam, devido às suas condições financeiras, acompanhar esse novo ciclo e nesse contexto inicia-se o processo do êxodo rural (Wandscheer & Teixeira, 2010).

Apesar do êxodo rural resultar na exclusão do pequeno agricultor do meio agrícola ele também resultou em novas ruralidades, ou seja, em novos sentidos e valores sobre o meio rural. “Desencadeou o processo de valorização do campo, da cultura e do ambiente rural que, posteriormente, deixou de ser visto como espaço em atraso para ser vislumbrado como local onde se centraram os anseios de descanso, lazer e contato com a natureza” (Wandscheer & Teixeira, 2010, p. 47).

As novas ruralidades apresentam ao homem do campo uma nova forma de pensar e viver seu local. E são nessas transformações que o turismo rural surge como uma atividade econômica possível. Entende-se que diversos fatores favoreceram o desenvolvimento do turismo no meio rural, porém em geral as experiências iniciaram em locais com dificuldades econômicas ou que enfrentaram crises agrárias. Além disso, o poder público por um período incentivou o desenvolvimento do turismo em localidades distintas das praias, buscando desafogar o litoral, uma vez que o segmento turístico de sol e praia vem sofrendo, há décadas, com o fenômeno do turismo de massa (Tulik, 2010).

Conforme o Ministério do Turismo (2010), o início do turismo rural no Brasil, como atividade econômica teria surgido em 1986, onde algumas propriedades rurais abriram suas portas a visitações, para algumas atividades. Propriedades estas, localizadas no município de Lages, na região serrana de Santa Catarina. Então, o turismo rural iniciou a partir de uma ação conjunta da iniciativa privada e da pública, onde a partir do auxílio do governo, a Fazenda Pedras Brancas juntou-se à outras fazendas da mesma região serrana, para apoiar atrações específicas de cada uma e da região do estado catarinense, de modo a preservar as heranças culturais, deixadas pelos colonizadores europeus (Tulik, 2003). Daí por diante, a atividade do turismo rural começou a ser caracterizada como uma oportunidade, para proprietários e famílias que vivem no meio rural e que enfrentam dificuldades, no setor agropecuário. A partir do final de 1990, o turismo rural acabou sendo difundido no país, fazendo com que um expressivo número de empreendedores de todas as regiões investisse nesse segmento (Ministério do Turismo, 2010).

Há uma diversidade de conceitos sobre o turismo rural, mas o adotado nesta pesquisa será do Ministério do Turismo [MTUR], o qual compreende o turismo rural como o conjunto de atividades turísticas desenvolvidas no meio rural, comprometido com a produção agropecuária, agregando valor a produtos e serviços, resgatando e promovendo o patrimônio cultural e natural da comunidade (MTUR, 2010). Sendo assim, entende-se que o turismo rural ou turismo no meio rural possibilita o contato com a natureza, conhecer atividades ligadas à agricultura e pecuária, aos costumes e cultura local, como também complementa a renda da população local, através da oferta e consumo dos serviços oferecidos.

O desenvolvimento do Turismo Rural no Brasil é um processo recente. E mais recente ainda são os instrumentos políticos voltados ao fomento dessa atividade, em nosso país. Somente após a Política Nacional de Turismo (Embratur, 1995) é que se passa a dispor de alguns mecanismos que vão contribuir para fomentar o turismo no espaço rural brasileiro, um bom exemplo disso é a implantação desde 1996, do Programa Nacional de Municipalização do Turismo [PMNT], que tem como objetivo “fomentar o desenvolvimento turístico sustentável nos Municípios, com base na sustentabilidade econômica, social, ambiental, cultural e política” (Embratur, 1999, p. 11).

No estado do Paraná, o turismo rural apresenta uma expansão gradativa nos últimos anos. O Paraná é diverso em recursos naturais e culturais, além disso devido a sua forte tradição agrícola dispõe de infraestruturas e equipamentos, que estão sendo explorados para desenvolver o turismo rural em suas diversas regiões (Calvente, 1999). Normalmente, as atividades desenvolvidas nas pequenas propriedades estão vinculadas à agricultura familiar e agropastoris, contudo, para complementar a renda buscam diversificar as atividades locais, sobretudo com atividades não agrícolas, como o turismo. Entretanto, é importante destacar, que nem todas as pequenas propriedades trabalham com o turismo rural.

Trabalhar com o turismo rural é orientar iniciativas, diversificar atividades e promover o desenvolvimento de antigos espaços rurais, detentores de estruturas obsoletas passíveis de ressignificação, onde é possível unir o passado com a inovação (González, 1997). De acordo com MTur (2010) existem alguns fatores que ajudam no momento da escolha de investir neste segmento, como a diversificação social e uma fonte de renda extra, uma vez que a demanda por esse segmento vem aumentando, pois atualmente há uma busca pelas pequenas propriedades a fim de reencontrar as raízes e interagir com a comunidade local. Outro fator que tem promovido essa escolha é o incentivo oferecido pelo poder público, pois desde 1995 há uma linha de crédito no Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar [PRONAF] criada especialmente para o turismo rural (Almeida, 2010).

Para concluir revisão de bibliografia acerca do turismo rural é importante salientar que embora esse segmento turístico seja interpretado como uma atividade estratégica para “preservar e recuperar o ambiente agrícola; garantir a manutenção das atividades agrícolas e a consequente manutenção das famílias no campo e de formular um novo conceito de produção com a incrementação de receita para o espaço rural” (Almeida, 2010, p. 44), ele depende de um bom planejamento turístico para efetivar-se como uma estratégia benéfica de fato.

METODOLOGIA

A presente pesquisa optou pela abordagem qualitativa descritiva, a qual buscou compreender o desenvolvimento dos meios de hospedagem nas áreas rurais do município de Irati, Paraná. Para definir a área de estudo foi realizado um levantamento dos meios de hospedagens voltados ao turismo rural, no Inventário Turístico do município de Irati, realizado em 2016 por meio da parceria entre o curso de Turismo da Universidade Estadual do centro Oeste [Unicentro] e a prefeitura municipal. Por conseguinte, chegou-se a Pousada Daneliv, o único empreendimento turístico do município direcionado a tal segmento.

Após a definição da área estudo iniciou-se os preparativos para a coleta de dados, a qual ocorreu por meio de duas ferramentas: a observação direta e a entrevista. A observação direta aconteceu em outubro de 2019 e centrou-se em identificar a infraestrutura existente no empreendimento e os serviços ofertados, sendo os dados resultantes desta etapa registrados em diário de campo. Em relação à entrevista, esta foi realizada com o proprietário do empreendimento no mesmo período das observações diretas, ou seja, em outubro de 2019. Optou-se pelo formato semiestruturado e com perguntas abertas, as quais estavam relacionadas aos motivos para empreender no turismo, ao histórico da Pousada, à infraestrutura e serviços oferecidos, às dificuldades enfrentadas e aos planos para o futuro da pousada.

Após a coleta de dados, as questões relativas à pesquisa de campo, foram analisadas por meio da matriz de avaliação SWOT. A sigla SWOT é uma abreviação de Forças [Strengths], Fraquezas [Weaknesses], Oportunidades [Opportunities] e Ameaças [Threats]. Em aspectos operacionais é uma ferramenta utilizada para analisar os cenários reais e potenciais de um empreendimento. Para tanto, tais cenários são divididos em ambiente interno [forças e fraquezas] e ambiente externo [oportunidades e ameaças]. Dessa forma, esta ferramenta de análise torna-se importante no processo de gestão e monitoramento do turismo, pois possibilitará a demarcação das principais linhas de atuação a ser seguidas pelo destino ou empreendimento turístico, circunstância que poderá efetivar seu posicionamento frente ao mercado (Souza Dantas, Galvão & Melo, 2008; Bigné, Font & Andreu, 2000).

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Esta pesquisa foi desenvolvida no município de Irati, o qual é pertencente ao estado do Paraná. Irati possui uma população de 60.070 habitantes e área total de 999,51 km². A economia baseia-se principalmente no setor terciário [serviços] e no setor primário [agropecuária]. Cabe destacar, que dentre as atividades executadas no setor terciário está a atividade turística, a qual tem sua oferta turística composta por meios de hospedagem [urbanos e rurais], restaurantes, atividades de lazer, agências de viagens e transporte rodoviário (Irati, 2016).

No âmbito da oferta hoteleira o município dispõe de 10 meios de hospedagem, sendo eles: Hotel Colonial, Hotel Abib, Hotel Luz, Hotel Luiz XV, Hotel Astória, Hotel dos Viajantes, Hotel Monte Líbano, Hotel Sollievo e Paradise in Florest, ambos localizados na área urbana do município, e a Pousada Daneliv, na área rural. Estes empreendimentos são classificados como de pequeno porte e de gestão familiar, oferecem o total de 320 UH’s, com tarifas a partir de R$ 35,00 e R$ 150,00 (Irati, 2016).

No que tange aos atrativos turísticos, destacam-se na área urbana do município o Parque Aquático, o Salão de Exposições Santa Terezinha, a Colina Nossa Senhora das Graças, e na área rural as localidades do Pinho de Baixo e Itapará que oferecem atividades em meio à natureza, como passeios na cachoeira, visitas ao Museu do Pinho [Casa dei Nonni] e às vinícolas que comercializam vinhos artesanais (Irati, 2016).

De acordo com os dados supracitados, compreende-se que a oferta turística, no âmbito dos equipamentos turísticos, nas áreas rurais de Irati é modesta, uma vez que contém apenas um empreendimento, a Pousada Daneliv, área de estudo desta pesquisa, a qual será caracterizada abaixo.

Um Meio de Hospedagem e um Sonho Familiar: A Pousada Daneliv - A propriedade Daneliv está localizada no Cerro Alto, área rural de Irati-PR. Por meio das observações identificou-se que a via de acesso à pousada é pavimentada até o distrito de Gonçalves Júnior e após inicia-se o trajeto por estrada de cascalho até a Pousada. Não há sinalização ao longo do percurso, apenas uma placa no início e segundo relato do entrevistado “não há interesse na disponibilização de sinalização durante o percurso, pois se as colocar, as pessoas do local acabam tirando ou mudam o sentido para prejudicar o negócio”. De acordo com as observações e com o relato do entrevistado, a propriedade da família Daneliv conta com uma área de 50 alqueires, divididos em reflorestamento, agropecuária e o espaço da pousada. Além de dispor de fontes de água, florestas nativas, tanques de peixes e alguns animais. É um espaço considerável que se planejado pode ser uma oportunidade de diversificação da oferta turística, já que possui espaços distintos e com potencial de atratividade.

O entrevistado ainda afirma que foi essa estrutura aliada ao primeiro evento de Cicloturismo desenvolvido pela Secretaria Municipal de Cultura, Turismo, Patrimônio Histórico, Lazer e Desportos de Irati, realizado em 2013, que possibilitaram a formação da Pousada Daneliv, pois durante a realização do evento os ciclistas paravam para almoçar na propriedade e muitos ficaram interessados em voltar para passar o final de semana, o que desencadeou a criação da pousada, a qual iniciou suas atividades no mês de novembro de 2013.

Com relação ao histórico, inicialmente, o empreendimento recebeu o nome de Recanto, por apresentar uma área verde, paisagens e muita água. A família trabalhava com a produção do fumo, entretanto, devido às grandes quantidades de agrotóxicos utilizada no plantio dessa cultura optou-se por suspender a produção, porém a estrutura utilizada para essa atividade, a estufa, foi preservada e, posteriormente, foi transformada em uma unidade habitacional, servindo de hospedagem e restaurante (Cesário, 2014). Esta transformação caracteriza-se como o primeiro passo para uma nova atividade econômica, o turismo rural, conforme demonstra a Figura 1.

A estufa de fumo foi importante para família, pois neste local produziam o fumo, que era uma das atividades econômicas da família. Atualmente, essa estufa tem outra finalidade, foi ressignificada e adaptada para novos usos, os turísticos. Hoje a antiga estufa dispõe de quartos simples, suíte, banheiros, cozinha, salão para dança, uma área de confraternização e descanso (Cesário, 2014). Após essa transformação nomeou-se o local como Pousada Daneliv, segundo o entrevistado no momento da escolha do nome buscou-se destacar a tipologia de hospedagem oferecida. Com o decorrer do tempo investiu-se na infraestrutura do local [Quadro 1]

De acordo com o entrevistado, esta infraestrutura também é utilizada para oferecer eventos, os quais destacam-se como atividade complementar no empreendimento. São realizados eventos de pequeno porte, como festas de aniversário e comemoração de casamentos, conforme demonstra a Figura 2.

A pousada, de acordo com o entrevistado, opera com a limitação da demanda, recebendo grupos de no mínimo de 35 pessoas e de no máximo 58 pessoas. Optou-se por essa estratégia de atendimento para oferecer proximidade e mais atenção ao cliente, que por sua vez, poderá promover a divulgação do local. Além disso, o empreendimento disponibiliza uma página na rede social para sua divulgação e avaliação, objetivando melhorar o atendimento, conforme relato do entrevistado.

Análise de Cenário da Pousada Daneliv - Os aspectos positivos e negativos relacionados à pousada foram sintetizados por meio análise SWOT, verificando, além dos pontos positivos e negativos, quais foram e são as oportunidades e ameaças que este empreendimento enfrenta.

Na análise de cenário o primeiro fator positivo identificado foi a proximidade oferecida na recepção da demanda. Nesse sentido, Ferreti (2013) afirma:

A proximidade com os clientes é muito importante para estabelecer vínculos e, principalmente, conhecer os detalhes e as necessidades em cada operação. Quando se está mais próximo dos clientes, se ganha conhecimento em relação aos possíveis gargalos existentes e respectivos impactos. E, no momento em que há um relacionamento mais próximo, o fornecedor passa a ser visto como parte integrante do processo e não apenas como mais um prestador de serviço (Ferretti, 2013, p.1).

Ou seja, a proximidade com o cliente pode transmitir confiança e resultar, consequentemente, na fidelização. Também foram identificados como fatores positivos a valorização local e a chefia própria. Compreende-se que estes fatores estão relacionados ao ambiente familiar em que o empreendimento é operado. E nesse sentido, a fala do entrevistado evidencia está ligação, uma vez que o mesmo afirma que o êxito foi alcançado devido à ação, à união, à família e à dedicação das mulheres. E, interpreta o empreendedorismo como “trabalho unido entre duas famílias”. Nesta perspectiva Dorneles (2007) ressalta que “a participação de parentes nas sociedades ocorre, em grande medida, por se tratar de pessoas de confiança” (p.53). Para o autor supracitado, empreendedor de sucesso pode ser o pequeno empreendedor, médio ou grande, que tem apoio e colaboração da família. Um negócio tende a ser próspero, desde que a família seja unida e deseje ter aquele empreendimento.

Outro fator positivo identificado foi o atendimento baseado na satisfação da demanda. Baseando-se nos autores Peters e Shepherd (2014) entende-se que esta forma de atendimento é intencional e surge na identificação das oportunidades, as quais, neste caso, estão na hospitalidade, no ato de ser hospitaleiro. Colocar o foco na satisfação da demanda está diretamente ligado ao bom atendimento e consequentemente à hospitalidade, uma estratégia utilizada amplamente nos empreendimentos turísticos como algo positivo. A visão empreendedora também aparece como um fator positivo na análise de cenário, isto porque de acordo com Heinrich, Peters e Shepherd (2014) empreender requer a criação de novos produtos ou de novas utilizações e foi isso que a família, proprietária do empreendimento, fez com a antiga estufa de fumo, a ressignificou lhe atribuindo novas funcionalidades.

São em situações como esta que o turismo rural se destaca na promoção da ressignificação e reutilização de espaços considerados arcaicos, como destaca González (1997) trabalhar com o turismo rural é orientar iniciativas, diversificar atividades e promover o desenvolvimento de antigos espaços rurais, detentores de estruturas obsoletas passíveis de ressignificação, onde é possível unir o passado com a inovação. Entretanto, é importante salientar que não basta simplesmente um empreendedor ter ação e visão, é necessário agregar a competência e conhecimento (Filion, 2002), uma vez que os “ empreendedores de sucesso são também pessoas visionárias e que possuem boa percepção de como será seu negócio no futuro” (Dorneles, 2007, p.57).

Todos estes fatores positivos supracitados resultaram na geração de renda para os proprietários, circunstância que não pode ser desconsiderada como outro fator positivo na análise de cenário, uma vez que a família, atualmente, consegue vislumbrar cenários econômicos mais confortáveis, devido aos benefícios econômicos gerados pela atividade turística desenvolvida. Em relação aos fatores negativos identificou-se a falta de tempo para dedicar-se ao negócio uma vez que o empreendimento não é a única atividade econômica da família, e burocracia para legalização da Pousada, esta foi listada como uma das maiores dificuldades do empreendimento, pois de acordo com o entrevistado faltam pessoas especializadas para orientar o processo burocrático. Contudo, o empreendimento está dentro das normas exigidas pela Vigilância Sanitária, Corpo de bombeiro, Prefeitura e demais instituições. Tais fatores foram considerados negativos devido ao potencial de desmotivação que têm sobre os proprietários.

No que tange as ameaças foram identificados a sazonalidade, a falta de sinalização e a inadequação das vias de acesso. A sazonalidade é um problema bastante comum no turismo e sua resolução ultrapassa os limites da propriedade privada, requerendo atuação do setor público no planejamento local e regional do turismo. Entretanto, pode ser amenizada a partir da diversificação da oferta de serviços e produtos disponibilizados pela pousada, o que também requer planejamento, porém dentro dos limites da propriedade privada. A falta de sinalização turística – consentida pelo proprietário – e inadequação das vias de acesso também foram identificadas como ameaça, pois estas têm a finalidade de facilitar o acesso ao atrativo e caracterizam-se como um elemento fundamental para o desenvolvimento da atividade. Segundo Scatolin, Silva, Barbosa e Monteiro (2006) para que o turista chegue ao seu destino, mesmo que seja sua segunda visita, precisará de informações e de uma via adequada para se deslocar, uma vez que não tem conhecimento profundo sobre a localidade. E nessa perspectiva, a sinalização terá um papel fundamental para o sucesso do atrativo ou do empreendimento turístico. Dessa forma, a falta de sinalização para o acesso da Pousada Daneliv torna-se um ponto negativo no desenvolvimento do empreendimento.

Em relação às oportunidades, foram identificadas três, sendo a primeira a exclusividade na área de turismo no meio rural, como mencionado anteriormente, a Pousada Daneliv é o único empreendimento hoteleiro na área rural do município de Irati, acredita-se que esta exclusividade é resultante do desenvolvimento incipiente do turismo no município, circunstância que pode ser interpretada como uma oportunidade para Pousada se destacar no setor, podendo beneficiar-se da oferta de serviços exclusivos e de consolidar-se no mercado turístico. A segunda oportunidade identificada foi a extensa área que a Pousada possuí, na qual podem ser desenvolvidas diversas atividades complementares ao serviço de hotelaria oferecido pelo empreendimento, além de possibilitar a ampliação da infraestrutura turística disponível. A terceira oportunidade é o marketing digital, o qual, por meio das redes sociais, sites, e-mail, entre outros, poderia impulsionar a divulgação da pousada, auxiliando dessa forma o aumento nas vendas de hospedagens. E por fim, a última oportunidade identificada foi a parceria com o poder público, uma vez que há interesse de instituições públicas, como a prefeitura municipal e universidade, em desenvolver o potencial turístico do município.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O turismo em meio rural caracteriza-se como uma alternativa econômica passível de auxiliar no desenvolvimento local, atuando nas esferas econômica, sociocultural e ambiental. No município de Irati esse segmento tem sido percebido como uma possibilidade para a geração de renda das comunidades rurais. No entanto, percebeu que o desenvolvimento da atividade turística em Irati ainda é incipiente, o município conta com uma pequena oferta turística e pouca visitação, no entanto, há interesse da sociedade civil e de instituições públicas, como a prefeitura e universidade, em avançar no desenvolvimento turístico local.

Identificou-se apenas um meio de hospedagem no município, a Pousada Daneliv, a qual surge, oficialmente, no ano de 2013, impulsionada, pela criatividade e visão dos seus proprietários, que perceberam através de um evento de Cicloturismo, a oportunidade de geração de emprego, renda e de diversificação de suas atividades econômicas. Por meio da análise de cenários identificou-se que o ambiente interno da Pousada Daneliv é marcado por pontos positivos relacionados à proximidade com a demanda no atendimento, com o trabalho familiar e com a visão empreendedora dos proprietários. Em relação aos pontos negativos, estes estão ligados à fatores externos, como a burocracia aplicada sobre as empresas. No âmbito do cenário externo, conclui-se que as ameaças estão associadas à sazonalidade, um problema recorrente no campo do turismo, e à inadequação da infraestrutura de acesso, especificamente, da sinalização e das vias de acesso. Quanto às oportunidades, estas estão vinculadas às parcerias (setor público), à estrutura e exclusividade.

Isto posto, compreende-se que os pontos positivos e oportunidades elencadas possibilitam que os proprietários da Pousada Daneliv continuem desenvolvendo atividades no setor hoteleiro e demonstram, também, que há elementos como a valorização do trabalho familiar, as parcerias e a exclusividade no segmento que podem ser mais explorados. Estes, são recursos que se bem aproveitados serão capazes de maximizar o desenvolvimento da Pousada, enquanto serviço e equipamento turístico, e de potencializar o desenvolvimento socioeconômico dos proprietários.

Recomenda-se que a Pousada Daneliv se adiante frente às ameaças e as solucione, oferecendo uma boa estrutura, tanto de pavimentação quanto de sinalização, em suas estradas de acesso. Além disso, também se sugere que as oportunidades sejam aproveitadas, fazendo parceiras com o poder público, uma vez que está parceria pode auxiliar na resolução dos problemas das estradas rurais que dão acesso à Pousada e na formação técnica voltada ao turismo. Portanto, conclui-se, a partir do levantamento dos meios de hospedagem nas áreas rurais e da análise positiva sobre seu desenvolvimento, que no município de Irati-Paraná existem possibilidades para a expansão do empreendedorismo no setor hoteleiro nas áreas rurais, uma vez que a Pousada Daneliv demonstra que há demanda para esse segmento e seus respectivos equipamentos e serviços turísticos, como há também incentivo e apoio do setor público para tal desenvolvimento.

Em suma, espera-se com esta pesquisa, evidenciar que trabalho e empreendedorismo caminham juntos e, tudo depende da forma como os envolvidos se posicionam, à frente de uma nova oportunidade. Além disso, busca-se também divulgar exemplos bem-sucedidos de atividades turísticas, que aliadas ao empreendedorismo, mudaram a realidade econômica de famílias ou comunidades, demonstrando a capacidade do turismo em gerar renda e diversificar as atividades produtivas. E para finalizar, sugere-se, para pesquisas futuras, pesquisar sobre o benefício do marketing digital para pousadas de pequeno porte voltadas ao segmento de turismo rural.

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