Resumo: Esta entrevista foi realizada em Caxias do Sul, Brasil, em novembro de 2019, pela aluna de doutorado Juliana Rose Jasper, e pelas alunas de mestrado Natália Augusta Rothmann Eschilette e Eliane Carine Portela do Programa de Pós-Graduação em Turismo e Hospitalidade da Universidade de Caxias do Sul, com a orientadora Professora Dra. Rosane Maria Lanzer. Membro do corpo docente do Programa Pós-Graduação em Turismo e Hospitalidade desde 2001, a professora busca a aproximação teórica de temas bastante presentes na sua graduação em Ciências Biológicas, como natureza e meio ambiente com temas do Turismo.
Palavras-chave: Turismo, Natureza, Meio Ambiente.
Abstract: The interview with Dra. Rosane Maria Lanzer was conducted in Caxias do Sul, Brazil, in November 2019, for its doctoral student Juliana Rose Jasper, and masters students Natália Augusta Rothmann Eschiletti and Eliane Carine Portela from the Postgraduate Program in Tourism and Hospitality of this University. As a member of the Postgraduate Program in Tourism and Hospitality since 2001, the professor seeks a theoretical approach to themes that are very present in her undergraduate course in Biological Sciences, such as nature and the environment with themes related to Tourism.
Keywords: Tourism, Nature, Environment.
Entrevistas
Drª ROSANE MARIA LANZER NATUREZA, MEIO AMBIENTE E TURISMO
Nature, Environment and Tourism
Os problemas relacionados ao meio ambiente, a natureza, revelam-se uma das maiores ameaças à vida humana, e se impõem a sociedade industrial, pois, por anos elegemos o homem como ser superior, aos demais seres vivos e herdamos dos antepassados um modo de vida voltado para o consumo. O Turismo, por sua vez, vem tornando-se uma atividade que movimenta bilhões no mundo todo, tornando espaços rurais e urbanos cenários da prática da sua atividade. Assuntos esses abordados pela Professora Rosane Maria Lanzer da Universidade de Caxias do Sul – UCS, integrante do Programa de Pós-graduação em Turismo e Hospitalidade – PPGTURH.
A professora atua em componentes curriculares que incluem a temática: Turismo e Meio Ambiente, Desenvolvimento Regional e Seminário de Tese. Sua formação acadêmica iniciou em 1974, com graduação em Ciências Biológicas (UFRGS, 1974-1977); Mestrado em Ecologia (UFRGS, 1979-1983); Doutorado / PhD em Biogeografia (Universität des Saarlandes, Alemanha, 1985-1988), bolsista DAAD; Bolsista recém-doutor CNPq (UFRGS, Ceclimar, 1990-1991); Estágio Pós-Doutoral (Helmholz Institut, Saúde e Meio Ambiente, Alemanha, 1999). Na docência esteve no Programa de Pós-Graduação em Zoologia e Graduação em Biologia (PUCRS, 1991-1992); Professor substituto na Universität de Trier, Alemanha (1999- 2000); Professora na Universidade de Caxias do Sul (2001 até os dias atuais) atuando no curso de Ciências Biológicas e no PPGTURH desde a data de ingresso e na Pós-Graduação em Engenharia e Ciências Ambientais, desde 2013.
Caminhos pessoais - Nasci em Porto Alegre, sou filha de Ito Edgar Lanzer e Zilia Nasi Lanzer. Minha ascendência por parte de mãe é italiana e por parte do pai alemã. Estudei no Colégio Estadual Cândido Jose de Godoi em Porto Alegre e prestei vestibular na UFRGS. Na época se fazia vestibular para muitas coisas.
Segundo Lanzer, no início desejava cursar Engenharia Química, mas acabou entrando no Curso de Ciências Biológicas e, já no segundo ano, era bolsista de iniciação científica [CNPq], no Museu de Ciências Naturais da Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul, permanecendo como bolsista até o final do curso. Relatou, ainda, que teve bolsa no mestrado e doutorado, até terminar os estudos, aos 33 anos, o que segundo ela, foi um privilégio.
A opção pelo Mestrado em Ecologia deu-se por conta do interesse, já durante o curso de graduação, quando a orientadora sempre estimulava a que cada bolsista da Malacologia buscasse novos conhecimentos, em outras áreas, o que levou ao interesse da nossa entrevistada pela Ecologia. As outras opções de mestrado incluíam a Paleontologia ou as áreas das Engenharias, que não eram do seu interesse. Naquele momento não havia tantas opções, como há atualmente. Assim, cursando o Mestrado, foi a Alemanha apresentar um trabalho, junto com professores e colegas, em um evento da Universidade Saarland, com a qual a UFRGS estava conveniada. Foram realizados muitos eventos em parceria, alguns no Brasil e outros na Alemanha. Nesse evento da Alemanha, onde Rosane apresentou seu trabalho, a professora recebeu, de um professor da Saarland, convite para cursar o doutorado. Isso foi importante, pois na Alemanha não se faz doutorado sem ter convite de um professor, o orientador que escolhe a gente, e ainda é assim até hoje. A partir disso fez o doutorado na Alemanha e voltou para o Brasil com bolsa recém-doutor, para trabalhar no Ceclimar [UFRGS], em Imbé, no litoral do Rio Grande do Sul. No período de dois anos de bolsa, conduziu algumas aulas na UFRGS e PUCRS.
Após este período, já casada e com filhas gêmeas, a família ficou na dúvida entre permanecer no Brasil ou voltar para Alemanha, uma vez que o marido de Rosane é natural da Alemanha. Acabaram voltando para Alemanha, onde tinham uma empresa de consultoria na área ambiental, com foco mais especifico na questão da água. Trabalharam num grande projeto do Governo Federal alemão, de restauração de habitat, que ocupou bastante tempo, fazendo com que residissem dez anos por lá.
Ao participar de um evento na Universidade de Caxias do Sul, conheceu um professor do Instituto Helmholz, de Munique, que a convidou para conhecer o Instituto. A professora Rosane acabou fazendo lá o seu estágio pós-doutoral, em 1999. Após concluir estes estudos, o casal tinha um contato com um professor de Erechim, no Rio Grande do Sul, e foram convidados para trabalhar na Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões, ali localizada. Esse mesmo professor, tempo depois, foi ministrar aulas na UCS e mais uma vez convidou a Professora Rosane e seu marido, Prof. Dr. Alois Eduard Schäfer, para a mesma instituição, para trabalharem na área da Ecologia. Chegando na Universidade de Caxias do Sul em 2001, ambos atuaram no Curso de Ciências Biológicas. Atualmente, o Professor Schäfer está aposentado e a Professora Rosane continua ministrando suas aulas no Curso de Ciências Biológicas e nos cursos de Pós-Graduação em Turismo e Hospitalidade e em Engenharia e Ciências Ambientais.
Trajetória no PPGTURH - Meu trabalho vinculado ao PPGTURH, antes apenas PPGTUR, se dá desde a primeira turma, em 2001. Conclui 18 orientações no PPGTURH. Dos 18 discentes orientados, 12 são do gênero feminino e seis do gênero masculino. Quanto as bolsas para os discentes, 8 alunos obtiveram bolsas, dos quais: três receberam bolsa Capes, três da Petrobras e dois da Fapergs.
Vale destacar que na atuação destes mestres e mestras em Turismo e em Turismo e Hospitalidade, observou-se que treze possuem formação em Turismo, um em Gastronomia e três em outras áreas. Também se observou que nove são professores atualmente, um foi professor substituto e agora atua na comunicação, e um já produziu material didático para Curso EAD em Turismo e trabalha no ramo de alimentação. Outras duas trabalham no Turismo em setor público, uma com eventos, uma outra em agência de viagens e uma é doutoranda. Portanto, mais da metade estão atuando como professor na área do Turismo.
Quanto aos temas pesquisados, entre as dezoito investigações, destaca-se como tema principal o uso dos recursos naturais no turismo, com dez trabalhos. Destes, quatro pesquisas relacionam os recursos naturais com as potencialidades e usos, duas relacionam os Recursos Naturais com turismo de aventura, duas conectam os recursos naturais com o enoturismo. Uma delas relaciona o uso dos recursos para turismo pedagógico, uma com o uso dos recursos naturais e tecnologias e uma foca no perfil do turista e geodiversidade. Os demais temas abordados nas pesquisas foram o turismo em Unidades de Conservação, com quatro trabalhos, uma pesquisa sobre turismo rural, uma sobre hotéis de selva e políticas de ecoturismo e mais uma sobre qualidade ambiental.
Com relação ao local de pesquisa: nove foram realizadas no Rio Grande do Sul, duas foram realizadas em âmbito nacional, duas no Paraná, uma no Mato Grosso, uma no Amazonas, uma no Rio de Janeiro e uma na Bahia. Mais da metade das pesquisas foram realizadas no RS, porém em diferentes Municípios como quatro em Osório, uma em Mostardas e Tavares, uma em Três Coroas, uma em Santa Maria e uma com abrangência regional, o Litoral Norte, uma na região turística Uva e Vinho e uma no Vale dos Vinhedos.
No que tange aos títulos e temas das dissertações defendidas, no ano de 2004 foram dois trabalhos: “O Turismo no Espaço Rural: Delimitando Tendências”, do discente Rodrigo Barriquello Pinto, professor graduado em Comunicação Social, tendo como tema principal o turismo rural; e “A Pedra como Recurso Turístico: Estudo da Pedra Basalto na Região Uva e Vinho”, da discente Janete Rotta Antunes, graduada em Geologia, cujo tema principal é recursos naturais.
No ano de 2006 foram duas dissertações defendidas: “Ecoturismo em Reservas Particulares do Patrimônio Natural e seu papel na conservação dos ecossistemas brasileiros”, trabalho premiado pela ANPTUR, da discente Laura Rudzewicz, graduada em Turismo, e que teve como tema principal Unidades de Conservação; e “A prática do turismo de natureza em hotéis de selva do estado do Amazonas e sua relação com as Ações Estratégicas da Política Nacional do Ecoturismo”, da discente Maria Adriana Senna Bezerra Teixeira, com graduação em Turismo, tendo políticas no ecoturismo como temática principal.
No ano de 2007, foi defendido um trabalho, intitulado “O uso turístico dos reservatórios de hidrelétricas: estudo dos terminais turísticos da Hidrelétrica no Lago da Itaipu, Paraná, Brasil” de Iara Pertille, graduada em Turismo, tendo como tema principal os recursos naturais e subsidiado com bolsa da CAPES. No ano de 2008, foram dois trabalhos defendidos: “A paisagem na Rota Enoturística Vale dos Vinhedos-RS, na Perspectiva do visitante”, pela discente Joice Lavandoski, graduada em Turismo, tendo como tema principal recursos naturais e enoturismo; e “Contribuição das atividades turísticas na manutenção socioambiental e econômica de Reservas Particulares do Patrimônio Natural: estudo de caso RPPN Lote Cristalino, Alta Floresta-MT”, pela discente Vanessa Fernandes Welter, com graduação em Turismo e hoje gestora de eventos, que abordou o tema unidades de conservação e RPPN.
Em 2009 foi defendida a dissertação “A visão da população de Mostardas e Tavares-RS sobre a contribuição do turismo no Parque Nacional da Lagoa do Peixe ao desenvolvimento local”, premiado pela ANPTUR, e realizado pelo discente graduado em Turismo, Paulo Roberto Teixeira com bolsa CAPES, cujo tema principal foi unidade de conservação. Em 2011, a dissertação defendida intitula-se “As potencialidades do Bairro de Vargem Grande para o turismo do Rio de Janeiro e as relações com o Parque Estadual da Pedra Branca”, pela discente Patricia Kreusburg Marques, graduada em Turismo, com tema principal unidades de conservação.
No ano de 2012 foi defendida a dissertação “Interferências do uso turístico na qualidade ambiental das lagoas costeiras do Litoral Norte – Rio Grande do Sul”, pelo discente Bernardo Villanueva de Castro Ramos, com graduação em Turismo, cujo tema principal foi qualidade ambiental, sendo executado dentro de projeto com apoio do Programa Petrobras Ambiental. Em 2013 a dissertação defendida intitulou-se “A energia eólica sob a ótica do turismo: um estudo sobre os conjuntos eólicos dos municípios de Água Doce-SC e Osório-RS”, pela discente Kárin Ane Côrso, com graduação em Turismo e Hotelaria, tendo com tema principal tecnologia e recursos naturais. Em 2015 foi defendida a dissertação “Análise do potencial turístico das Lagoas Costeiras de Osório-RS” pelo discente Leonardo Reichert, com bolsa CAPES, e com formação em Turismo, cujo tema principal é recursos naturais.
No ano de 2016, foram quatro dissertações defendidas: “Turismo de Aventura em Osório-RS: Uma possibilidade para consolidação de um destino”, pelo discente Lucas Fruet Gil, com graduação em Educação Física, cujo tema principal foram os recursos naturais, turismo de aventura, e executado com apoio do Programa Petrobras Ambiental; “Turismo de Aventura em Três Coroas-RS: análise a partir dos critérios do Adventure Tourism Development Index. pelo discente Felipe Decol, com bolsa FAPERGS, e com graduação em Turismo, tendo como tema principal recursos naturais e turismo de aventura; “A vitivinícola e o desenvolvimento do Enoturismo em Bituruna-PR”, pela discente Leidh Jeane Sampietro, graduada em Gastronomia com tema principal recursos naturais e enoturismo; e “Turismo nas Lagoas Costeiras e a valoração ambiental em Osório-RS”, pela discente Rita Gabriela Araujo Carvalho, com bolsa FAPERGS, e graduada em turismo.
Em 2019 foi defendida a dissertação “A prática de roteiro turístico-pedagógico voltada para educação ambiental no ensino fundamental da rede pública de Santa Maria-RS” pela discente Eliane Carine Portela, agente de viagens com graduação em Turismo, com tema principal turismo pedagógico, trabalho que recebeu menção honrosa em evento científico. Em 2020 foi defendida a dissertação “O perfil do geoturista no território proposto para o Geoparque Serra do Sincorá-BA”, de Natália Augusta Rothmann Eschilletti, bolsista CAPES, graduada em Geografia, que tem como tema principal recursos naturais.
Há duas teses em andamento, uma intitulada “Indicadores de sustentabilidade para o turismo rural: Região Uva e Vinho-RS”, da discente Juliana Rose Jasper, graduada em Turismo, tendo como tema principal turismo rural e sustentabilidade; e outra, “Proposta de uma matriz classificatória de perdas e desperdício de alimentos no setor gastronómico”, de Marcelo Zaro, engenheiro ambiental, com tema voltado ao desperdício de alimentos e segurança alimentar.
Outros projetos desenvolvidos - Foram vários projetos na UCS, dos quais posso destacar alguns como Projeto Capes/Daad Programa Unibral, Gestão sustentada dos recursos hídricos do litoral médio e sul do Rio Grande do Sul; Projeto Lagoas Costeiras, com três edições; sustentabilidade da vitivinicultura na Serra Gaúcha; e Turismo no Espaço Rural como Atividade Complementar de Geração de Renda e Ocupação Não-Agrícola no Litoral Norte do Rio Grande do Sul.
Numa retrospectiva encontramos:
(1) 2006 a 2009 e 2013-2014: Projeto Capes/Daad Programa Unibral, onde atuou como coordenadora do intercâmbio docente e discente de graduação entre a Universidade de Trier na Alemanha e a Universidade de Caxias do Sul. Esta parceria possibilitou vivências acadêmicas em Instituições de Ensino Superior distintas, propiciando aos inter cambistas o conhecimento dos costumes e a realidade social em outros países. Experiências essas, que sempre propiciam o amadurecimento do estudante e aprendizagens sobre cidadania e sociedade, além de conhecimentos em diversas áreas.
(2) 2007-2009: Gestão sustentada dos recursos hídricos do litoral médio e sul do Rio Grande do Sul. Projeto Lagoas Costeiras; 2011-2013 Projeto Lagoas Costeiras II; 2014 - 2016 Lagoas Costeiras 3. O projeto Lagoas Costeiras foi elaborado para concorrer ao edital do então Programa Ambiental da Petrobrás, que foi contemplado, e a partir deste foram realizados os projetos Lagoas Costeiras II e Lagoas Costeiras 3, a convite da própria Petrobrás, para continuação dos estudos. Os Projetos Lagoas Costeiras foram de cunho socioambiental, portanto, tinham como meta principal a disseminação do conhecimento científico junto à comunidade via escolas municipais dos municípios parceiros. Por ter como local de estudo a zona costeira, o turismo é aspecto relevante na integração das atividades humanas no meio ambiente e foi trabalhado nas suas potencialidades e nas possibilidades de conservação dos recursos naturais.
Por meio destes projetos foram realizados muitos trabalhos de pesquisa com relação a qualidade das águas, junto à socialização dos conhecimentos. Em todas edições foram elencadas escolas-piloto, na verdade uma por município, e somente em Osório foram duas escolas parceiras. Houve realização de cursos, organização de grupos de educação ambiental, realização de atividades na escola, além de encontros com todos professores planejando em conjunto com as secretarias de Educação dos Municípios, além de eventos junto à comunidade para falar sobre os resultados e o meio ambiente, com direito a certificação. O Projeto Lagoas Costeiras sempre teve auxílio de bolsistas da graduação e da pós-graduação, muitos destes últimos também incluídos como técnicos, o que possibilitou que vários estudantes pudessem concluir sua formação por meio de bolsas tanto na graduação como no mestrado.
Os projetos propiciaram ainda recursos para UCS, como aquisição de veículos, computadores e outros equipamentos para realizar as atividades de pesquisa, cursos e palestras, para os municípios. Foram entregues quatro laboratórios móveis equipados com materiais para atividades práticas junto às escolas municipais: Osorio (uma Van), Pinhal, Palmares e Cidreira (Kombis). Foram entregues em torno de mil Atlas didáticos sobre a região para auxiliar nos estudos das escolas e auxiliar à gestão junto às Prefeituras; foram elaborados guias de flora, fauna e turismo que acompanhavam um caderno de atividades para serem realizadas com alunos; também foram elaborados jogos lúdicos e vídeos disponibilizados no YouTube para auxiliar nas atividades de educação.
A segunda edição do projeto foi premiada pela Agência Nacional da Água – ANA, categoria Educação em 2008 e por dois anos foi indicado como finalistas na Agencia Nacional da Água – ANA, também na categoria Educação 2010 e 2012.
(3) 2010-2013: Sustentabilidade da vitivinicultura na serra gaúcha: estrutura da paisagem, diversidade biológica, aspectos fitossanitários e produtivos e Qualificação da vitivinicultura para região serrana do Rio Grande do Sul, com apoio da Cientec.A Professora Rosane participou como colaboradora. Entre as 11 ações propostas que englobam diversos parâmetros a serem empregados para comparações entre áreas, comunidades de insetos associados, qualidade e produtividade. Os subprojetos de envolvimento trataram da definição das características meso e microclimáticas na região do Vale dos Vinhedos e do município de Pinto Bandeira, além da caracterização e comparação da diversidade de insetos associados a cultivos de videira destes mesmos locais e ainda trataram da caracterização da estrutura de suas paisagens. A paisagem pode contribuir com o turismo, conforme Joice Lavandoski trata em sua dissertação, orientada pela Professora Rosane, e, portanto, é importante conhecer a estrutura da paisagem.
(4) 2015 a 2018: Turismo no espaço rural como atividade complementar de geração de renda e ocupação não-agrícola no Litoral Norte do Rio Grande do Sul (Apoio CNPq, Universal). Esse projeto teve como objetivo identificar as limitações e possibilidades das atividades turísticas como geração de renda complementar em propriedades rurais ativas do Litoral Norte do Rio Grande do Sul. Estavam atuando no estudo o professor Doutor Eurico dos Santos, coordenador do projeto e, na época, também professor do PPGTURH, além da Professora Rosane Lanzer e da doutoranda do PPGTURH, Juliana Jasper. Como resultado da pesquisa realizada no Litoral Norte foram publicados dois trabalhos em Anais de eventos e apresentados em dois eventos internacionais. Neste projeto foi evidenciado que na área de estudo há grande diversidade de atividades envolvendo desde trilhas, passeios a cavalo e equoterapia, comercialização de produtos, vivências junto a natureza entre outros. Muitas das propriedades tiveram as mulheres como responsáveis o que denota o seu empoderamento no turismo rural. Além disso, vale destacar que não foram apenas entrevistas com a família dos produtores que trabalham com turismo, o trabalho foi uma troca de informação que contribuiu com pesquisa e com as atividades de turismo realizadas pelas famílias rurais.
Projetos atuais - Atualmente faço parte do grupo de pesquisa chamado Sistema de Informação Geográfica Regional Ambiental [SIGRA], atuando como coordenadora. Vários projetos foram elaborados e cadastrados, porém não foram contemplados com verbas, pois os recursos vêm se tornando cada vez mais escassos.
Toda pesquisa precisa estar atenta e de certa forma acompanhar o momento, a alguma demanda. O que gera a necessidade de estudos e grandes desafios com relação a recursos, principalmente. A dificuldade maior é o convencimento da comunidade sobre a importância da pesquisa e reconhecimento dos benefícios que elas podem acarretar, embora nem sempre a curto prazo, pois tem por objetivo contribuir com uma sociedade melhor, uma qualidade de vida melhor e não a onerar. Outra dificuldade é fazer chegar o resultado da pesquisa até a comunidade e o poder público municipal, para que realmente possa trazer novas práticas e novas políticas, capazes de transformarem suas ações e propiciarem uma sociedade mais justa e uma melhor qualidade de vida para todos. Percebe-se então, que uma tem relação com a outra e que a preocupação do pesquisador deve ser também, fazer chegar o resultado de sua pesquisa na comunidade, no município e nos órgãos públicos.
Assim a professora sugere que a influência dos estudos pode ocorrer de forma mais direta ou indireta. Direta quando se avalia o ambiente e os aspectos do turismo local, retornando na forma de publicações acessíveis a comunidade como foi no Projeto Lagoas Costeiras com artigos, dissertações e com Atlas e guias, que foram entregues nas comunidades, escolas e ao setor público, também com as palestras, cursos e trocas de informações realizadas nos locais pesquisados. Ou de forma indireta, contribuindo com o conhecimento sobre problemáticas da atividade turística em áreas preservadas ou adjacentes, bem como o cumprimento da legislação no desenvolvimento de atividades como no turismo de aventura, interferências que podem ocorrer no uso dos espaços naturais pelo turismo entre outros, como também foi o caso de algumas pesquisas e dissertações orientadas pela professora.
Relacionando Biologia e Turismo - Um dos meus principais focos é a Ecologia e o Turismo, que apresentam forte apelo ao meio ambiente, há uma extensa relação, podendo contribuir não somente com o uso racional de determinadas áreas como na ampliação de potencialidades turísticas como por exemplo, turismo científico. A evolução dos estudos do Turismo apresenta a questão do meio ambiente como uma questão importante a ser estudada. A própria Organização Mundial do Turismo (OMT, 2002) traz a discussão em torno das relações entre turismo e meio ambiente, atualmente apoiando a Agenda 2030 da ONU e indicando 17 Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável [ODS] (OMT, 2017).
O aumento da procura por áreas naturais para o turismo é relatado por diversos trabalhos, que podem gerar efeitos positivos como o conhecimento e a valorização da flora e fauna, da cultura local, ou também negativos como a destruição de algumas espécies da flora e fauna, quando áreas são utilizadas para o turismo de forma incorreta, bem como problemas com relação a cultura local (Swarbrooke, 2000; Molina, 2000; Ruschmann, 2001; Serrano, 2001; Dias, 2003; Gazoni & Mota, 2012; Lanzer et al., 2017; OMT, 2017, entre outros). A pesquisa e o debate sobre estes temas, como impactos (positivos e negativos) socioambientais e culturais devem existir sempre no turismo, para desta forma obtermos um turismo mais sustentável e uma sociedade mais justa, econômica, social, ambiental e culturalmente responsável.
O entendimento anterior da professora era uma visão de turista, gostar de viajar para conhecer outros lugares, e principalmente os ambientes naturais diferenciados, esse interesse continua até hoje, porém enxerga o turismo de outra forma. Observa ainda, a importância dos ambientes naturais existentes no Brasil para o turismo e o turismo para esses ambientes, relata a importância da pesquisa nessa área e reconhece que Turismo como uma ciência capaz de contribuir com a sociedade e trazer não somente ganhos econômicos, mas também auxiliar na conservação do meio ambiente e que pode contribuir nas áreas sociais e culturais.
JRJ, NARE, ECP: Professora, agradecemos muito a sua contribuição. Temos a certeza de que a senhora tem muito a contribuir aos pesquisadores que, como nós, tentam aproximar a questão ambiental do turismo.