PONTO DE EQUILÍBRIO CONTÁBIL NA PECUÁRIA LEITEIRA DE BUBALINOS: UM ESTUDO DE CASO DA VIABILIDADE ECONÔMICOFINANCEIRA EM UMA PROPRIEDADE DO ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL

BALANCE POINT ACCOUNTING IN DAIRY CATTLE OF BUFFALOS: A CASE STUDY OF THE ECONOMIC AND FINANCIAL VIABILITY OF A PROPERTY OF THE STATE OF MATO GROSSO DO SUL

Eloir Trindade Vasques Vieira
Universidade Católica Dom Bosco, Brasil
Luiz Carlos Vinha Itavo
Universidade Federal de Viçosa, Brasil
José Aparecido Moura Aranha
Universidade Dom Bosco, Brasil

PONTO DE EQUILÍBRIO CONTÁBIL NA PECUÁRIA LEITEIRA DE BUBALINOS: UM ESTUDO DE CASO DA VIABILIDADE ECONÔMICOFINANCEIRA EM UMA PROPRIEDADE DO ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL

Revista Científica Hermes, vol. 21, pp. 364-379, 2018

Instituto Paulista de Ensino e Pesquisa

Recepção: 12 Dezembro 2017

Aprovação: 03 Maio 2018

Publicado: 31 Maio 2018

Resumo: Por meio de abordagem qualitativa, com base em pesquisa exploratória e bibliográfica, foi realizada um estudo de campo em uma propriedade rural localizada no município de Bandeirantes, interior do estado de Mato Grosso do Sul – MS que cria búfalas para produção leiteira. As análises realizadas por meio de entrevistas e de dados coletados possibilitaram conferir características da avaliação econômica da propriedade, apresentando as receitas, os custos e as despesas provenientes desse segmento no ano de 2015, o que até então a propriedade não possuía. Identificaram-se os custos de produção, o custo médio do leite e o ponto de equilíbrio de uma propriedade que trabalha especificamente com bubalinos, sendo um total de 98 matrizes das raças Murrah e Mediterrâneo. Os resultados destacaram a produção necessária em litros de leite de búfalas para se chegar ao ponto de equilíbrio. Sendo necessária a produção de 130.682 litros de leite por ano pelo custo histórico e 92.635 litros de leite/ano pelo valor justo. Por mês, 10.890 litros pelo custo histórico e 7.719 litros pelo valor justo. Por animal/vaca de 3,65 litros pelo custo histórico, e 2,59 litros pelo valor justo. Os valores de custos por litro de leite foram de R$ 1,67, considerando mensuração pelo custo histórico e, R$ 1,45 considerando o método de valor justo. Dessa maneira, os resultados por ambos os métodos apresentaram índices de lucratividade atrativos, superiores à rentabilidade e aos ativos financeiros no mercado financeiro, sendo de 15,12% pelo custo histórico e 26,43% pelo valor Justo, considerando que este último apresentou melhor taxa de atratividade. Com a mensuração apresentada o gestor tem real noção do que ocorre na empresa, inclusive sendo fator de auxílio à gestão futura, confirmando a viabilidade da atividade.

Palavras-chave: Custo histórico, valor justo, indicadores.

Abstract: Through a qualitative approach, based on exploratory and bibliographic research field was carried out on a farm located in the municipality of Bandeirantes, the state of Mato Grosso do Sul – MS producing buffalos for milk production. The analyzes carried out through interviews and collected data allowed confer economic evaluation of the characteristics of the property, with the revenues, costs and expenses from this segment in 2015, which until then the property did not have. We identified the production costs, the average cost of milk, and balance point of a property that works specifically with buffalos, with a total of 98 arrays of races Murrah and Mediterranean. The results highlighted the production required in liters of buffalo milk to reach the breakeven point. Requiring the production of 130.682 liters of milk per year at historical cost and 92.635 liters of milk/ year at fair value. Per month, 10.890 liters at historical cost and 7.719 liters at fair value. For animal/cow 3,65 liters at historical cost, and 2,59 liters at fair value. The values of cost per liter of milk were R$ 1.67 considering measured at historical cost and R$ 1.45 considering the fair value method. Thus the results by both methods showed attractive profit rates, higher profitability and financial assets in the financial market, and 15,12% at historical cost and 26,43% at fair value, and this presented the best hurdle rate. With the measurement presented the manager has a real sense of what happens in the company, including being aid factor future management, confirming the viability of the activity.

Keywords: Historical cost, fair value, indicators.

1. INTRODUÇÃO

No mundo, mais de seis bilhões de pessoas fazem consumo do leite ou de produtos lácteos. Tais pesquisas apontam alguns aspectos que influenciam o aumento e o consumo do leite, entre eles, o aumento de renda da população, a longevidade, a cultura, bem como as opções de consumo mais próximas ao público consumidor (FAO, 2012).

Ainda acompanhando a pesquisa, a FAO estimou em 2011 a produção mundial de leite em percentuais de 83,4% de bovinos, 13% búfalos, 2,2% caprinos, 1,3% de ovinos e 0,3 % de camelídeos. Enquanto a produção de leite bovino em meados de 1980 a 2000 aumentou 48%, a produção de leite de búfalos cresceu 238% (BERNARDES, 2010). Na Tabela 1 pode-se observar a produção mundial de animais, sendo que o leite de búfala já figura no segundo lugar no ranking em termos de produção.

Tabela 1
Produção mundial das espécies mais produtoras de leite – 2009 a 2012.
Produção mundial
das espécies mais produtoras de leite – 2009 a 2012.
Fonte: Adaptada de FAO (2013).

Estudos da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMPRAPA, 2012) demonstraram que em comparação ao leite de vaca, o leite de búfala apresenta 13% mais proteínas, 58% mais de cálcio, e 47% mais fósforo. Destaca-se também o alto teor de gordura, entre 7% e 8%, ingrediente importante na produção do subproduto, o queijo.

Pesquisas de Gregory et al. (2014) indicaram que os bubalinos em relação aos bovinos apresentam produtividade superior, maior produção por animal, maior número de fêmeas em lactação por ano, inclusive com menor custo, além de preço superior por litro de leite.

Outros fatores também são considerados relevantes para essa produção, por exemplo, a informação de que a exploração do leite de búfala em pequenas propriedades pode elevar o ganho dos pequenos produtores rurais, visto que seu custo de produção é 20% menor em relação à outra espécie de bovino (FONSECA, 1987; ACBMS, 2016).

Em se tratando de mensuração de dados, verifica-se que o custo histórico é o preço pago pela aquisição dos bens; nesse caso, os gestores somente têm de registrar os ativos e passivos pelos valores de aquisição. Consequentemente, são medidos e relatados de modo objetivo, o que minimiza o risco de manipulação dos números por parte dos gestores, (BAKAR; SAID, 2007).

O custo histórico é calculado com base nos preços de transação apresentados no reconhecimento inicial das transações de trocas. Presume-se que ocorrem a preços correntes de mercado (HODDER; HOPKINS; SHIPPER, 2013).

Em se tratando das Normas Brasileiras de Contabilidade, no Brasil os registros são realizados de acordo com o Comitê de Pronunciamento Contábil (CPC 29) e o Internacional Accouting Standards (CPC, 2009, p. 1), que entendem que o “ativo biológico é um animal ou planta vivo e produção agrícola é o produto colhido de ativo biológico da entidade”.

Os custos de produção são os gastos identificados direta ou indiretamente com o produto, podendo nesse caso específico ser exemplificado como: a mão de obra direta, os gastos com silagem, medicamentos para o rebanho, combustível do trator, a depreciação dos animais (em se tratando de método de custo histórico). Já as despesas são os gastos não identificáveis com o produto, tais como despesas bancárias e o pró-labore dos sócios (VICECONTI; NEVES, 2014).

O custo histórico faz reconhecimento das transações realizadas, não considera receitas e despesas futuras, relacionadas a transações não ocorridas (MARION, 2012). Esse método possui a vantagem de ser objetivo, verificável e representar o valor que o ativo foi adquirido, portanto, essas vantagens resultam do fato de que o custo histórico corresponde ao valor da transação. O CPC 29 específico a ativos biológicos e produtos agrícolas estipula que somente quando o valor justo não puder ser confiavelmente utilizado é que poderá ser considerado o custo histórico.

De acordo com a norma contábil, o valor justo é “o preço que seria recebido pela venda de um ativo ou que seria pago pela transferência de um passivo em uma transação não forçada entre participantes do mercado na data de mensuração” (CPC 46, 2015).

É relevante, portanto, reforçar que o grande impedimento para a utilização do valor justo é a sua confiabilidade. Da mesma forma que alguns reclamam que o custo histórico não reconhece o valor do produto ao longo do tempo.

Nesse sentido, a norma contábil recomenda o reconhecimento de um ativo biológico ou produto agrícola somente quando o valor justo ou o custo do ativo puder ser mensurado confiavelmente (CPC 29, 2015).

Entretanto, conforme o item B17 do documento Bases para Conclusões sobre a IAS 41 – Agriculture (CPC, 2009), a mensuração de ativos biológicos deve ser realizada pelo valor justo. Alguns teóricos se opõem à adoção desse critério, pois, acreditam que há uma confiabilidade superior na mensuração do custo pelo valor histórico. O custo histórico é o resultado de transações em bases usuais de mercado e, portanto, pode fornecer evidência de avaliação de mercado, logo é verificável.

Portanto, para fins de mensuração a valor justo, os ativos biológicos podem ser separados em duas categorias distintas: ativos biológicos com mercado ativo e, consequentemente, preços correntes, e ativos biológicos sem mercado ativo, consequentemente, sem preços correntes (RECH, 2011).

Entretanto, para a consistência e a comparabilidade nas mensurações do valor justo e nas evidenciações, o CPC 46 estabelece uma hierarquia de valor justo, nesse caso, a informação de nível 1 é a que fornece dados confiáveis para mensuração. O preço cotado em mercado ativo oferece a evidência mais confiável do valor justo e deve ser utilizado sem ajuste para mensurar o valor justo sempre que disponível.

Os indicadores são resultados com o intuito de auxiliar o usuário em sua tomada de decisão, buscando possibilidades para a sua gestão. Para Assaf Neto (2011), os indicadores auxiliam na decisão segura das ações. São os resultados obtidos da divisão de duas grandezas, no qual é informado o cálculo do índice, a interpretação dos dados, a conceituação, a verificação do que o índice evidenciou.

Outro fator de auxílio a esses indicadores é a margem de contribuição, que Padoveze (2010) ressaltou que é obtida deduzindo da receita os custos e as despesas variáveis necessárias para produzir e vender o produto. Pode ser entendido também como valor que sobra para pagar os gastos fixos e gerar o resultado da empresa. Da mesma forma, outros termos contábeis, precisam ser apresentados, tais como a depreciação e o valor considerado com uma reserva que a contabilidade utiliza buscando substituir o bem ao final de sua vida útil (MARION, 2012).

2. MATERIAL E MÉTODO

O estudo foi realizado a partir de levantamento bibliográfico sobre o assunto ativo biológico e produto agrícola, bem como o levantamento de dados junto a uma propriedade de 300 hectares de terras na cidade de Bandeirantes no meio norte do Estado de Mato Grosso do Sul, que trabalha na criação de bubalinos. A pesquisa considerou o total de 98 matrizes das raças Murrah e Mediterrâneo. O levantamento de documentos, o controle diário de leite e o software de controle de pagamentos utilizado na empresa rural foram considerados para a elaboração do resultado final da atividade para o período de 2015.

Após coleta, os dados foram organizados com o auxílio de planilhas em excel e foi elaborado um modelo para a realização dos cálculos, demonstrando o desempenho da propriedade e os resultados. Foram apurados o lucro líquido e o fluxo de caixa do período pelo custo histórico e valor justo. Foram calculados os índices de lucratividade (margem líquida) e também o ponto de equilíbrio. Os resultados permitiram definir qual dos métodos apresenta maior atratatividade para a atividade.

Na Tabela 2 consta o inventário do rebanho leiteiro bubalino existente na propriedade e que foi utilizado na pesquisa.

Tabela 2
Inventário dos animais (bubalinos).
Inventário dos animais (bubalinos).
Fonte: Censo apresentado pelo produtor ao Iagro (2015).

As informações obtidas da propriedade foram por meio de documento expedido pela Agência Estadual de Defesa Sanitária Animal e Vegetal (Iagro), em 9 de maio de 2016, que totaliza 489 animais, 335 fêmeas e 154 machos. Para a formatação dos dados foram consideradas 98 matrizes para base de dados.

Com base no conceito de Marion (2012), a vida útil das vacas (gado vacum) em lactação é de, em média, 8 anos. Estudos mais recentes da bovinocultura, tais como da ABCB (2008), apontam uma vida útil de 20 anos, mais que o dobro dos estudos de bovinos. Tratando de tributação, a Instrução Normativa – SRF n. 162 (1988) aponta 5 anos como a vida útil dos bovinos, inclusive, apresenta outras espécies de animais, tais como suína, ovina e caprina, mas não menciona a espécie bubalina. O proprietário considera 15 anos de vida útil.

Do ponto de vista do CPC 01, que mantém correlação com a Norma Internacional de Contabilidade IAS 36, cabe à entidade definir a vida útil dos seus ativos, tendo em vista o valor recuperável dos mesmos (impairment). Para o CPC 01 a vida útil é o período de tempo durante o qual a entidade espera utilizar um ativo ou o número de unidades de produção ou de unidades semelhantes que a entidade espera obter do ativo.

Tabela 3
Depreciação de matrizes.
Depreciação de matrizes.
Fonte: Dados da pesquisa.

Verifica-se na Tabela 3 que foi considerada a depreciação de 5 anos, índice aceito pela Receita Federal, portanto, utilizado no custo histórico.

Tabela 4
Depreciação de estruturas e máquinas (em reais R$).
Depreciação de estruturas
e máquinas (em reais R$).
Fonte: Dados da pesquisa.

Na Tabela 4 foram reportados os itens depreciados. Para a estrutura física foi considerado o percentual de 4% e, para as máquinas, 10%. Na Tabela 5 foram apresentadas as despesas na produção de leite realizadas no ano de 2015.

Tabela 5
Despesas operacionais: produção de leite/ano 2015 (em reais R$) valor justo e custo histórico.
Despesas
operacionais: produção de leite/ano 2015 (em reais R$) valor justo e custo
histórico.
Fonte: Dados da pesquisa.

Trata-se de valores reportados, cujos itens pela sua natureza não são incluídos no custo, pois não fazem parte do processo de produção. Dessa forma reitera-se que um dos grandes desafios de qualquer atividade rural é o constante registro de todos os custos e despesas.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

A partir dos dados coletados, iniciou-se o processo de análise dos resultados com apresentação de inventário das matrizes, a depreciação dos animais, os custos e as despesas da produção de leite chegando à demonstração do resultado do exercício de 2015.

Para a formação do custo do leite tanto pelo método do custo histórico como valor justo, foram considerados os valores mês a mês referentes aos custos de produção, conforme demonstrado na Tabela 6.

Tabela 6
Custo histórico e valor justo produto agrícola leite (em reais R$).
Custo histórico e
valor justo produto agrícola leite (em reais R$).
Fonte: Dados da pesquisa.

Com relação à depreciação, reitera-se que há diferenças quando aplicado o método de custo histórico que a considera, e o valor justo que não faz tal mensuração por entender que o ativo biológico, nesse caso, búfalas, não sofre depreciação. O que pode ocorrer ao longo do tempo é um acréscimo ou decréscimo de valor em virtude do valor de mercado do animal, mas não são depreciações, pois, quando há aumento no preço do gado, aumenta-se o valor do mesmo, ou se cai o valor de mercado de venda, reduz-se o valor do animal.

Assim considerando a soma do custo médio do leite, verificou-se através da Tabela 7 o custo médio por litro de leite pelo custo histórico de R$ 1,67, e pelo valor justo foi de R$ 1,45. Os resultados encontrados podem direcionar para a gestão na redução dos custos atuais, por exemplo, na alimentação (silagem, ração).

Tabela 7
Custo médio do litro de leite da propriedade para o ano 2015.
Custo médio do
litro de leite da propriedade para o ano 2015.
Fonte: Dados da pesquisa.

No ano de 2015 as 98 matrizes produziram 276.300 litros de leite, apresentando uma média de 7,70 de litros por vaca. A pesquisa de Vilela e Santini (2010), realizada sobre a cadeia produtiva de búfalas do estado de São Paulo (2009), que congrega 40 regiões do estado, reportou média leite/dia por vaca, variando entre 5 e 7 litros/dia. Segundo a ABCB (2008), a média de variação é de 6 a 10 litros.

Para a pesquisa foi considerada também a média trabalhada no estado de Mato Grosso do Sul, de R$ 1,96 conforme Tabela 8.

Tabela 8
Preço de venda utilizado pela propriedade no ano de 2015.
Preço de venda
utilizado pela propriedade no ano de 2015.
Fonte: Dados da pesquisa.

Observa-se na Tabela 8 que os preços praticados variam no período de coleta entre R$ 1,80 a R$ 2,15. Pesquisas da Embrapa (2015) realizadas nas cidades de Alambari (SP), Sarapuí (SP) e Pilar do Sul (SP) revelaram que os preços praticados pelos laticínios estavam na faixa de R$ 1,60 a R$ 1,80. Portanto, a propriedade tem obtido preços superiores à média de referência.

Com base nos valores apresentados nas Tabelas 1 a 8 chegou-se aos cálculos da receita e do resultado da atividade para o período, da lucratividade e do lucro líquido, conforme Tabela 9.

Tabela 9
Resultados da atividade para o ano de 2015.
Resultados da
atividade para o ano de 2015.
Fonte: Dados da pesquisa.

A lucratividade encontrada foi de 15,12% para o método de custo histórico e 26,43% para o método de valor justo, percentuais estes encontrados pelo lucro em relação à receita.

Com base nos dados obtidos, procedeu-se à análise do Ponto de Equillíbrio Contábil com a finalidade de se conhecer qual a quantidade em litros necessária para cobrir todos os custos e despesas (variáveis e fixos), cujo resultado está representado na Tabela 10.

Tabela 10
Ponto de Equilíbrio Contábil em litros de leite de búfalas para uma propriedade de 98 matrizes das raças Murrah e Mediterrâneo.
Ponto de Equilíbrio Contábil em litros de leite de búfalas para uma propriedade
de 98 matrizes das raças Murrah e Mediterrâneo.
Fonte: Dados da pesquisa.

Portanto, a produção em litros de leite, ano, mês, dia e vaca, dividindo as despesas operacionais de R$ 73.182,00 pela margem de contribuição unitária de R$ 0,56 no custo histórico chegou-se a produção em litros de leite de búfalas necessária para equilibrar as contas. Este item é de grande relevância no acompanhamento mensal. Se superar a produção ano de 92.635 litros de leite de búfala pelo método de valor justo haverá lucro. Já no custo histórico será maior, o qual haverá necessidade de produção de 130.682 litros/ano. Portanto, mesmo em períodos de menor produção supera o ponto de equilíbrio contábil, em que são considerados os custos fixos relacionados ao funcionamento da empresa, iniciando a partir deste ponto de produção a obter lucros.

Dessa maneira, verifica-se que a utilização do cálculo pelo método de valor justo auxilia a gestão para fins gerenciais e contribui na tomada de decisão, sendo que o custo histórico é considerado por muitos empreendedores para fins fiscais.

4. CONCLUSÕES

Esta pesquisa demonstrou dados mundiais sobre a produção leiteira de bubalinos, inclusive que a somatória de cabras, ovelhas e camelas não chega na totalidade da produção de leite de búfalas.

Estudos teóricos indicaram que os bubalinos possuem produtividade superior, maior produção por animal, maior número de fêmeas em lactação por ano, inclusive com custo menor, além de preço superior por litro de leite em comparação com o leite bovino. Esse motivo pode resultar em mudanças por parte dos criadores, diversificação da produção de animais, buscando além da criação de bovinos a criação de bubalinos.

Quanto aos resultados do estudo de caso, específico em uma propriedade que trabalha com bubalinos para a produção de leite, verificou-se que o proprietário fazia somente mensuração com base nos pagamentos, em fluxo de caixa, e que a contabilidade, os dados contábeis eram mensurados apenas com a utilização dos dados fiscais, recolhimentos tributários, e não como auxílio à tomada de decisão. Não foram localizados indicadores, nem dados sobre valores de lucros mensais, índices de lucratividade e ponto de equilíbrio em leite.

Autores apresentam o custo histórico como mais vantajoso por ser objetivo, verificável e representar o valor que o ativo foi adquirido. Da mesma forma que alguns reclamam que o custo histórico não reconhece o valor do produto ao longo do tempo.

No tocante à produção em litros de leite por dia, a pesquisa encontrou uma média superior à média de pesquisas realizadas na área por produtores do estado de São Paulo. O que pode inclusive vir a ser fator de que os criadores do Estado de Mato Grosso do Sul possam ter maior competitividade frente ao cenário Nacional. Os resultados destacaram a produção necessária em litros de leite de búfalas para se chegar ao ponto de equilíbrio, sendo necessários 130.682 litros de leite por ano pelo custo histórico e 92.635 litros de leite por ano em se utilizando o método de valor justo. Sendo que, por mês, foram 10.890 litros pelo custo histórico e 7.719 litros pelo valor justo. Por búfala, o ponto de equilíbrio é de 3,65 litros pelo custo histórico e 2,59 litros pelo valor justo, sendo que os valores de custos por litro de leite foram R$ 1,67, considerando o custo histórico, e R$ 1,45, considerando o valor justo.

Com relação a resultados, foram apresentados os índices de lucratividade da propriedade, sendo de 15,12% para o método de custo histórico e 26,43% para o método de valor justo.

Desse modo, os resultados por ambos os métodos valor justo e custo histórico apresentaram índices de lucratividade atrativos, superiores à rentabilidade e ativos financeiros no mercado financeiro. Há possibilidade de mensuração a valor justo, sendo este o que apresentou melhor taxa de atratividade. Com os dados apresentados o gestor tem a real noção do que ocorre na empresa, inclusive sendo fator de auxílio a gestão futura, confirmando a viabilidade da atividade.

Referências

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