Resumo:
O objetivo do estudo é analisar a percepção dos atuais coordenadores dos Programas de Pós-Graduação (PPG) Stricto Sensu em Ciências Contábeis no Brasil sobre suas linhas de pesquisa. Apresentando como teoria de base a Teoria do Capital Humano, haja vista a relevância do capital humano para construção das linhas de pesquisa, o trabalho enquadra-se como descritivo e qualitativo, sendo a coleta de dados realizada por meio de questionário aos coordenadores dos Programas Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciências Contábeis no Brasil, contando com a participação de nove respondentes. Foi utilizada para técnica de análise de conteúdo a codificação aberta a partir do Software ATLAS.ti 8®. Por meio dos resultados, observa-se que muitas das situações enfrentadas são comuns a vários coordenadores, desde o problema da gestão de pessoal às metas e regras esperadas pelos órgãos reguladores. Quanto às principais dificuldades foi reportado pelos coordenadores que a falta de capital humano e a disponibilidade de recursos dificultam bastante o aprimoramento dos Programas de Pós-Graduação. Além disso, obteve-se como resultado que as linhas de pesquisa são geralmente formadas pelo currículo dos professores e o perfil do egresso. Logo, entende-se que ao estudar tal tema e buscar voz daqueles envolvidos diretamente na gestão dos programas é possível traçar um perfil dos problemas enfrentados ao ponto de facilitar a criação de novos programas, bem como permitir a comunicação entre os coordenadores, permitindo assim a troca de experiências. Palavras-chave: percepção, programas de pós-graduação, teoria do capital humano
Abstract:
The aim of this study is to analyze the perception of the current coordinators of the PostGraduate Programs (PPG) Stricto Sensu in Accounting Sciences in Brazil about their lines of research. Presenting the Human Capital Theory as the base theory, given the relevance of human capital for the construction of lines of research, the work is classified as descriptive and qualitative, with data collection being carried out through a questionnaire to the coordinators of Stricto Sensu PostGraduate Programs in Accounting Sciences in Brazil, with the participation of 9 respondents. Open coding was peformed for the content analysis technique using the Atlas.ti 8® software. Through the results, it can be observed that many of the situations faced are common to several coordinators, from the problem of personnel management to the goals and rules expected by the regulatory authorities. Regarding the main difficulties, the coordinators reported that the lack of human capital and the availability of resources make it very difficult to improve the Graduate Programs. In addition, it was obtained as a result that the lines of research are generally formed by the curriculum of the teachers and the profile of the graduated students. Therefore, it is understood that when studying this theme and seeking a voice from those directly involved in the management of the programs, it is possible to draw a profile of the problems faced to the point of facilitating the creation of new programs, as well as allowing communication between the coordinators, thus allowing the exchange of experiences. Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)
A percepção dos atuais Coordenadores dos Programas de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciências Contábeis no Brasil sobre as linhas de pesquisa
The perception of current Coordinators of Stricto Sensu Postgraduate Programs in Accounting Sciences in Brazil about the research lines
Recepción: 06 Febrero 2020
Aprobación: 13 Diciembre 2020
Publicación: 01 Abril 2021
O objetivo do estudo é analisar a percepção dos atuais coordenadores dos Programas de Pós-Graduação (PPG) Stricto Sensu em Ciências Contábeis no Brasil sobre suas linhas de pesquisa. Apresentando como teoria de base a Teoria do Capital Humano, haja vista a relevância do capital humano para construção das linhas de pesquisa, o trabalho enquadra-se como descritivo e qualitativo, sendo a coleta de dados realizada por meio de questionário aos coordenadores dos Programas Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciências Contábeis no Brasil, contando com a participação de nove respondentes. Foi utilizada para técnica de análise de conteúdo a codificação aberta a partir do Software ATLAS.ti 8®. Por meio dos resultados, observa-se que muitas das situações enfrentadas são comuns a vários coordenadores, desde o problema da gestão de pessoal às metas e regras esperadas pelos órgãos reguladores. Quanto às principais dificuldades foi reportado pelos coordenadores que a falta de capital humano e a disponibilidade de recursos dificultam bastante o aprimoramento dos Programas de Pós-Graduação. Além disso, obteve-se como resultado que as linhas de pesquisa são geralmente formadas pelo currículo dos professores e o perfil do egresso. Logo, entende-se que ao estudar tal tema e buscar voz daqueles envolvidos diretamente na gestão dos programas é possível traçar um perfil dos problemas enfrentados ao ponto de facilitar a criação de novos programas, bem como permitir a comunicação entre os coordenadores, permitindo assim a troca de experiências.
Palavras-chave: percepção, programas de pós-graduação, teoria do capital humano
The aim of this study is to analyze the perception of the current coordinators of the PostGraduate Programs (PPG) Stricto Sensu in Accounting Sciences in Brazil about their lines of research. Presenting the Human Capital Theory as the base theory, given the relevance of human capital for the construction of lines of research, the work is classified as descriptive and qualitative, with data collection being carried out through a questionnaire to the coordinators of Stricto Sensu PostGraduate Programs in Accounting Sciences in Brazil, with the participation of 9 respondents. Open coding was peformed for the content analysis technique using the Atlas.ti 8® software. Through the results, it can be observed that many of the situations faced are common to several coordinators, from the problem of personnel management to the goals and rules expected by the regulatory authorities. Regarding the main difficulties, the coordinators reported that the lack of human capital and the availability of resources make it very difficult to improve the Graduate Programs. In addition, it was obtained as a result that the lines of research are generally formed by the curriculum of the teachers and the profile of the graduated students. Therefore, it is understood that when studying this theme and seeking a voice from those directly involved in the management of the programs, it is possible to draw a profile of the problems faced to the point of facilitating the creation of new programs, as well as allowing communication between the coordinators, thus allowing the exchange of experiences.
Keywords: perception, postgraduate programs, human capital theory.
Uma sociedade refém da alienação científica e tecnológica se torna inapta de discernir a importância do conhecimento e de encontrar novas soluções para resolução dos problemas, optando pela alternativa mais fácil, que é a diversão, tornando-se assim cada vez mais alienada (Soares, 2018). Uma alternativa a esse processo é a leitura de pesquisas científicas, pois de acordo com Aragão, Martins e Barzotto (2019) os artigos publicados por meio de periódicos científicos têm a capacidade de formar opinião e instigar o leitor.
Em 1998, com o encerramento da Conferência Mundial do Ensino Superior, realizada em Paris, percebeu-se a real importância da pesquisa científica para o desenvolvimento social e econômico de uma Nação (Fava-de-Moraes & Fava, 2000). Refletindo tais ideais, Denzin e Linconl (2006) afirmam que a pesquisa científica tem papel primordial na progressão das ciências sociais, pois por meio dela buscam-se resultados com validade, resultado do rigor do método científico, e utilidade, resultado do alinhamento entre os interesses da academia com aqueles da sociedade.
Nesse contexto, se outrora a falta de capital humano era a principal barreira para o avanço científico, dado que o Brasil apresentava um número insuficiente de pesquisas em comparação aos países desenvolvidos, assim como mostra o estudo de Fava-de-Moraes e Fava (2000), atualmente o desenvolvimento da infraestrutura científica, junto com a Pós-Graduação, põe a ciência brasileira em uma posição agradável ao lado daqueles países (Soares, 2018). Ademais, tal argumento pode ser percebido pelo crescimento dos Programas de Pós-Graduação (PPG) no Brasil nos últimos anos.
Observa-se nas últimas décadas o aumento considerável na quantidade de alunos nos PPG, tanto nos cursos de mestrado quanto de doutorado, assim como mostra o estudo feito pro Cirani, Campanário e Silva (2015) no período de 1999 a 2011. Tal expansão não se limita a uma métrica quantitativa, dado que a maior parte das pesquisas do Brasil surgem desse meio, mas também demonstram um ganho em qualidade (Silva, Oliveira, & Ribeiro Filho, 2005; Perdigão, Niyama, & Santana, 2010; Comunelo, Espejo, Voese, & Lima, 2012; Vendramin, 2014). Diante do exposto, entende-se necessário discorrer o papel da Teoria do Capital Humano e suas possíveis relações com as linhas de pesquisa junto às Universidades em si. Logo, no presente trabalho busca-se entender a partir da Teoria do Capital Humano a motivação para escolha e delimitação das linhas de pesquisa nos PPG em Ciências Contábeis no Brasil.
Pensando nisso, o presente trabalho visa responder o seguinte problema de pesquisa: Qual a percepção dos atuais coordenadores dos cursos de Ciências Contábeis sobre as linhas de pesquisa dos seus programas?
Apoiado nessa ideia, o presente trabalho tem como objetivo analisar a percepção dos atuais coordenadores dos Programas de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciências Contábeis no Brasil sobre as linhas de pesquisa. Sendo a justificativa para tal trabalho o interesse em explorar os PPG com o intuito de poder melhorá-los, logo, como contribuição espera-se que, por meio do presente estudo, os PPG em Ciências Contábeis possam ser apresentados de maneira tal a possibilitar sua criação em instituições que não os possuem, bem como possam ser evidenciados os maiores obstáculos operacionais em nível de gestão dos PPG, para que sejam sanados.
O trabalho está estruturado em cinco seções, sendo a primeira esta, a introdução, tratando de contextualizar a temática e apresentar o objetivo. Na segunda seção é apresentado o referencial teórico, trazendo os aspectos relacionados à pesquisa e à Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciências Contábeis no Brasil, à Teoria do Capital Humano e aos estudos correlatos. Na terceira seção são descritos os procedimentos metodológicos adotados no estudo. Na quarta seção são apresentados os resultados e discutidos com base nas pesquisas anteriores. Na quinta seção são expostas as considerações finais, as limitações da pesquisa e as sugestões para estudos futuros.
2.1. A Pesquisa e Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciências Contábeis no Brasil
De acordo com Durante, Pontes e Barros (2019) a Pós-Graduação, Stricto Sensu, é a etapa final da educação formal de um indivíduo que tem como alicerce principal a pesquisa, sendo por meio dela que será criado o conhecimento para responder às necessidades da sociedade e do mercado. Diante disso, infere-se que o crescimento dessas pesquisas poderá acarretar no desenvolvimento de um país, como mostra a pesquisa de Barata, Caldas e Gascoigne (2018) ao relatar que os governos gradualmente incentivam e apoiam as pesquisas científicas visando ao desenvolvimento das nações.
Ao se tratar do Brasil, mais especificamente na área de Ciências Contábeis, o primeiro PPG Stricto Sensu foi estabelecido na década de 1970 pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP) e com o passar dos anos o número de Instituições de Ensino Superior (IES) com tais programas só aumentou, resultando em 29 IES com PPG na área contábil (Capes, 2019).
A pesquisa de Silva e Costa Neto (2019) retratou a conjuntura dos PPG expondo que atualmente há 43 programas recomendados pela Capes nas 29 instituições, sendo que são 23 públicas e seis privadas, e que 20 delas se concentram na região Sul-Sudeste, havendo assim uma predominância dessas regiões que mesmo 22 anos depois do estudo realizado por Schmidt (1997) ainda prevalecem em relação às regiões Nordeste, Centro-Oeste e Norte.
Sendo assim, é notório que a Pós-Graduação na área de contabilidade está em constante crescimento, porém um dos maiores problemas dos PPG aqui discutidos é a segregação regional. Como exemplo disso tem-se a região Norte, em que não é ofertado nenhum curso recomendado pela Capes para Pós-Graduação. Não obstante tal diferença entre o desenvolvimento das regiões, destaca-se que a pesquisa, bem como o conhecimento científico não são limitados por fronteiras geográficas ou políticas, sendo, inclusive, através de redes de colaboração científica, que refletem a contribuição de pesquisadores de diversas regiões em um trabalho, como posto por Sidone, Haddad e Mena-Chalco (2016), que muitos trabalhos são realizados, sendo tal colaboração vista de maneira positiva.
Ademais, o objetivo exposto por Santana (2004) da produção científica é prover esclarecimentos sobre o motivo dos fenômenos que decorrem da evolução da sociedade, tendo em vista que o desenvolvimento do conhecimento científico ocorrerá a partir do conjunto de pesquisas realizadas em determinada localidade. Tal posicionamento pode ser observado na pesquisa contábil, pois como posto por Nascimento e Beuren (2011) os PPG em Ciências Contábeis colaboram para o progresso da contabilidade em si, pois as pesquisas científicas executadas na área incentivam a construção e a disseminação do conhecimento.
Por sua vez, segundo o Parecer CESu/CFE 977 (Brasil, 1965) o objetivo imediato das Pós-Graduações é possibilitar o aperfeiçoamento do saber, para que ajude a atingir um elevado padrão de competência científica, no caso do stricto sensu, que não é possível alcançar durante a graduação. Além disso, a Pós-Graduação visa oferecer, através das Universidades, o ambiente e os recursos propícios que auxiliem a investigação científica (Brasil, 1965).
Com relação às linhas de pesquisa dos PPG em Ciências Contábeis percebe-se, assim como mostrado no estudo de Silva e Costa Neto (2019), que há uma variedade de nomenclaturas, mas elas convergem para quatro aspectos, sendo eles: Educação e Pesquisa na Contabilidade; Informação contábil para o setor público; Informação contábil para o usuário externo; e Informação contábil para o usuário interno.
2.2. Teoria do Capital Humano
A Teoria do Capital Humano apresentada por Mincer (1958) em seu artigo Investment in Human Capital and Personal Income Distribution trouxe uma abordagem econométrica para o assunto de distribuição de renda pessoal, utilizando o capital humano como uma nova maneira de abordar a distribuição de habilidades individuais.
Contudo, o uso do termo “capital humano” foi posto por Schultz (1960), em seu trabalho Capital Formation by Education, em que foi apresentado o conceito de capital humano como o resultado de investimento em educação em um indivíduo. Sendo somente aprofundado enquanto teoria propriamente dita após quase um ano, também por Schultz (1961), ao apresentar que o capital humano é o maior dos fatores que influenciam na produção de um país, sendo tal fator até então não observado.
Diante de tais trabalhos, pode-se observar uma vinculação que o tema traz com a dimensão social, o que remete ao dito por Goldin (2014), que põe a habilidade das nações de fomentar o capital humano depende da existência da capacidade de suas instituições, sendo tal posicionamento resultado do argumento por Smith (1776), ao afirmar que os talentos adquiridos pelos indivíduos através do ensino e da educação como um todo fazem parte da fortuna deles, bem como da sociedade em que estão imersos.
Por sua vez, Costa e Brandão (2018) trazem a reflexão do capital humano como a junção de investimentos em conhecimentos, competências e atributos de uma pessoa que beneficiam a realização do trabalho, para que possa gerar maior valor econômico. Sendo assim, como posto por Schultz (1961) esse capital será adquirido pelo indivíduo por meio da educação e experiência. Nesse sentido, a educação se torna um fator primordial para os cidadãos, que a partir dela irão se autopromover e autovalorizar para o mercado de trabalho.
Portanto, a Teoria do Capital Humano enfatiza como a educação aumenta a produtividade e a eficiência do trabalho, desenvolvendo o nível cognitivo da capacidade humana economicamente produtiva (Olaniyan & Okemakinde, 2008). Em outras palavras, o conceito desta teoria fundamenta-se da seguinte maneira: quanto maior a aquisição de conhecimentos e habilidades, maior será o valor do capital humano das pessoas, aumentando assim sua empregabilidade, produtividade e rendimento (Becker, 1962; Martins & Monte, 2009). Desse modo, a Teoria do Capital Humano indica que a educação é um investimento que está atrelado a um retorno, ou seja, espera-se que sejam gerados benefícios futuros (Miranda, Santos, Casa Nova, & Cornachione Júnior, 2013).
2.3. Estudos Correlatos
Por se tratar de uma pesquisa exploratória não foram encontrados artigos que abordam a percepção dos coordenadores de curso sobre as linhas de pesquisa dos seus programas na área de Ciências Contábeis, bem como nas áreas afins. Sendo assim, de maneira geral, as pesquisas que abordam o tema de criação das linhas de pesquisa partem para análise do Currículo Lattes dos pesquisadores, sejam eles discentes ou docentes de cada instituição.
Os estudos sobre os PPG no Brasil tendem a verificar o panorama da Pós-Graduação em Ciências Contábeis por períodos, como foi o caso do estudo feito por Soares, Richartz e Murcia (2013) que verificaram a situação no triênio de 2007 a 2009, a pesquisa de Costa e Lustosa (2012) que analisaram os anos de 2000 a 2009, bem como o artigo desenvolvido por Silva et al. (2005) que analisaram dois períodos distintos sendo de 1989 a 2001 e de 2001 a 2004. Todavia, o trabalho elaborado por Silva e Costa Neto (2019) verificou a conjuntura atual, isto é, a situação da Pós-Graduação em Ciências Contábeis no Brasil no ano de 2019, por meio das linhas de pesquisa, conceito Capes, quantidade de cursos e vagas, bem como a natureza da instituição, obtendo como um dos principais achados que as regiões Sul e Sudeste ainda são mais desenvolvidas com relação aos seus PPG, tanto em quantidade quanto em qualidade.
A pesquisa realizada Schmidt (1997) pode ser considerada seminal, pois foi um dos primeiros estudos a retratar sobre a Pós-Graduação em Ciências Contábeis no Brasil, obtendo com um dos principais achados o diagnóstico da maior adversidade enfrentada pela Pós-Graduação brasileira em Contabilidade, como sendo devida ao aspecto regional, tendo em vista que apenas a região Sudeste formava mestres e doutores em contabilidade. Logo, com os dados dessa pesquisa, conclui-se que até o final da década de 1990 o Sudeste concentra o maior número de professores com Pós-Graduação Stricto Sensu, sendo esse resultado corroborado pela pesquisa de Fava-de-Moraes e Fava (2000), que retrataram a falta de capital humano como principal dificuldade para o desenvolvimento dos PPG no Brasil.
Contudo, tal conjuntura é continuamente moldada com o passar do tempo, como mostram os estudos de Silva et al. (2005) e Miranda, Lemes, Lima e Bruno Júnior (2014), em que apontam a relevância de se verificar as modificações no cenário da produção científica, tendo em vista que é uma área em evolução contínua.
Neste contexto, torna-se notório o progresso científico no Brasil, uma vez que, de acordo Soares (2018), atualmente a sociedade brasileira se encontra ao lado dos países desenvolvidos quanto à pesquisa científica, resultado este proveniente do grande desenvolvimento nas últimas duas décadas na infraestrutura científica, principalmente na Pós-Graduação. Este ponto foi evidenciado também na pesquisa de Ramalho e Madeira (2005) uma vez que elas afirmam que a Pós-Graduação no país tanto na área de educação quanto nas demais áreas é uma experiência consolidada que atingiu, e ainda atinge, bons resultados tanto na preparação de recursos humanos de alto nível quanto na produção científica de qualidade. Desse modo, ao discorrer sobre a evolução da ciência brasileira, chega-se a um novo desafio das Universidades, pois elas devem atuar como condutoras do desenvolvimento social e econômico da sociedade através da tríade: ensino, pesquisa e extensão (Audy, 2017).
No que tange a pesquisa, o estudo de Klöppel, Lunkes e Schmitz (2013) expõe como resultado que a linha de pesquisa de contabilidade mais investigada é a contabilidade gerencial, sendo seguida da contabilidade financeira. Resultado com o qual corroboram os achados de Soares et al. (2013), mas que se opõe na ordem de áreas temáticas mais estudadas no artigo de Costa e Lustosa (2012), o qual apresenta que a contabilidade financeira assume a ponta e, em segundo lugar, é gerencial.
Por fim, as pesquisas de Ramalho e Madeira (2005) e Morosini (2009) abordaram sobre a formação e os desafios da Pós-Graduação no Brasil, que variam desde a qualificação do corpo docente, desenvolvimento institucional e até a própria falta de investimentos. Outro ponto que volta à tona nestas pesquisas é que desde a pesquisa de Schmidt (1997) o problema da Pós-Graduação brasileira ainda continua sendo a regionalidade, dado que ainda há um desequilíbrio latente, uma vez que o eixo Sul-Sudeste continua em predominância nas pesquisas científicas. Desse modo, para Ramalho e Madeira (2005) um dos desafios para as regiões Norte e Nordeste é a fixação de pessoal de nível superior qualificado e que produza com qualidade, atingindo assim o padrão de excelência acadêmica.
Com relação aos objetivos, na presente pesquisa adotou-se um procedimento descritivo e exploratório, tanto de caráter qualitativo quanto abordagem do problema. Sobre os instrumentos utilizados na pesquisa, foi empregado um questionário aberto via on-line (Raupp & Beuren, 2006; Flick, 2013).
A coleta de dados se deu mediante o uso de um questionário disponibilizado em três vias no período de 15/07/2019 a 15/08/2019, que foram os e-mails dos próprios PPG, seguido dos e-mails institucionais de cada um dos professores (coordenadores) e, por fim, através de telefonemas para as secretarias informando sobre o trabalho, o que resultou em uma amostra de nove respondentes, dentre o universo de 29 coordenadores dos PPG em Ciências Contábeis do Brasil listados na Plataforma Sucupira.
Sendo assim, as Instituições de Ensino Superior (IES) as quais os coordenadores dos PPG responderam à pesquisa foram as seguintes: Universidade de Brasília (UnB), Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Universidade Federal da Bahia (UFBA), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e a Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste).
O instrumento da pesquisa foi realizado em três blocos (formação e criação das linhas de pesquisa; representatividade das linhas; e dificuldades do PPG). As variáveis de constructo resultaram da própria pesquisa, em virtude do tema a ser abordado ser exploratório.
Os dados obtidos pelas respostas do questionário por e-mail já estavam transcritos, portanto, apenas foram passados para um único arquivo no Software Microsoft Word 2016, depois pré-analisados, e a após a verificação do material foi feita a análise do texto por meio da técnica da análise de conteúdo embasada em Bardin (2016).

Ressalta-se ainda a existência da triangulação dos dados da pesquisa a partir das seguintes evidências: ponto de vista dos professores por meio do questionário on-line, a observação participante dos pesquisadores e a análise documental das linhas de cada um dos PPG em Ciências Contábeis disponíveis nos próprios sítios da IES
4.1. Percepção dos Coordenadores sobre as Linhas de Pesquisa
No primeiro momento realizou-se uma análise da nuvem de palavras do conteúdo escrito, que permite a identificação de quais vocábulos puderam ser observados com maior frequência nas respostas. Dos questionários, foram filtrados alguns pronomes, artigos, preposições e numerais, sendo detectado que as palavras com maior constância no texto dos coordenadores foram: linha; linhas; pesquisa; professores; contabilidade; docentes; e gerencial.
demais, com a análise nos sítios dos programas, percebe-se que boa parte
Ademais, com a análise nos sítios dos programas, percebe-se que boa parte dos cursos de Pós-Graduação em Ciências Contábeis apresentam uma linha de pesquisa específica para contabilidade gerencial.
É evidente o destaque dos termos “contabilidade”, “professores” e “docentes”, pois muitas das linhas de pesquisas nas Ciências Contábeis são formadas a partir dos estudos realizados por eles. Por fim, as palavras “linha”, “linhas” e “pesquisa” também aparecem em destaque pelo fato de o tema abordado ser referente a esse ponto, logo, a utilização nas questões e no tema já induz a tal repetição.
Sobre a formação das linhas de pesquisa da Pós-Graduação em Contabilidade após análise dos sítios dos PPG, identificou-se que cada programa apresenta as suas temáticas de acordo com as suas pretensões. Desse modo, neste ponto da pesquisa buscou-se identificar como se deu e o que motivou a criação dessas linhas por meio das respostas dos próprios coordenadores dos cursos.
Na opinião do Respondente 2, as linhas de pesquisa foram criadas em função da especialidade dos professores que participaram da criação do PPG, justificando que
Fragmento 1. Respondente 2
(...) nesse grupo tínhamos um número significativo que tratava de finanças e outro de controle de gestão, originando assim, a área de concentração e as linhas de pesquisa.
Nessa mesma linha de pensamento, o Respondente 4 aponta de maneira sucinta afirmando que
Fragmento 2. Respondente 4
A formação foi de acordo com o perfil dos professores.
Em contrapartida, o Respondente 5 esclarece que pelo fato de o programa que ele faz parte ser o mais antigo do Brasil as linhas foram
Fragmento 3. Respondente 5
(...) construídas no decorrer da história, conforme o curso foi evoluindo. No ano de 2018 fizemos alterações significativas, mas no ano de 2019 iremos rever todas e deveremos ter uma nova proposta em 2020.
Logo, observa-se com o Fragmento 3 do Respondente 5 uma comprovação daquilo que afirma Fischer (2006), quando trata que as linhas de pesquisa se constituem conforme os problemas que fundamentem esforços coordenados e sistemáticos de investigação, seja pela sua relevância teórica ou pelo impacto social. Portanto, com esses trechos nota-se que as linhas de pesquisa surgem de acordo com a necessidade de entender determinado assunto, o que muitas vezes está ligado ao que instiga os docentes de determinado curso. Todavia, apesar de alguns dos professores defenderem que as linhas de pesquisa foram direcionadas pela afinidade dos profissionais docentes, percebe-se que nem sempre isto ocorre, dado que de acordo com o Respondente 3:
Fragmento 4. Respondente 3
A ideia inicial era de abrir três linhas de pesquisa: Contabilidade Gerencial, Contabilidade Financeira e Contabilidade Pública. Entretanto, os critérios técnicos da Capes limitaram a apenas uma linha possível que, desta forma, foi criada de forma mais abrangente: Impactos da Contabilidade nas Organizações e na Sociedade.
Portanto, percebe-se que além do perfil dos professores e da demanda existem outros fatores, tais como normas impostas pela Capes que acabam por limitar o número de linhas, o que leva a maneiras alternativas de se delimitar uma linha de pesquisa, de tal maneira a permitir um equilíbrio entre a demanda e a afinidade dos professores, ponto este que pode ser visto através do Fragmento 5 do Respondente 3, ao afirmar este que
Fragmento 5. Respondente 3
(...) a criação foi motivada e limitada pelas regras da Capes, como número mínimo de professores e publicações por linha. Como na implantação do curso existiam apenas dez professores, isso só permitia a criação de uma linha de pesquisa. Por conta dessa limitação foi criada uma linha bem abrangente.
Desse modo, traz-se a discussão que de acordo com alguns coordenadores não são analisados somente o que os docentes gostam de pesquisar, mas também é analisado o perfil do egresso e como o mercado pode influenciar nesse papel, tendo em vista que de acordo com Durante et al. (2019) as pesquisas realizadas na Pós-Graduação devem trazer respostas para a sociedade e o mercado como um todo.
Quanto à terceira pergunta, sobre o coordenador ter participado ou não da criação das linhas de pesquisa do programa, sua existência se torna necessária para atuar como uma maneira comprobatória das respostas da pergunta sobre como se deu tal criação. Ademais, busca-se entender se a mudança de coordenação, no caso de o gestor não ter feito parte da criação, tem alguma relação com o estado do programa, especialmente se os atuais coordenadores sentem a necessidade de atualização ou não das linhas de pesquisa. Dentre os nove atuais coordenadores que responderam à pesquisa, apenas três participaram da criação das linhas do programa, mas, mesmo assim, os demais que não participaram buscaram as informações que não sabiam por outros meios, até mesmo perguntando aos coordenadores da época da criação dos programas, como relatado por eles.
4.2. Percepção dos Coordenadores sobre a Representatividade das Linhas de Pesquisa
Dando continuidade aos aspectos abordados nesse tópico, foi questionado aos coordenadores se as atuais linhas de pesquisa representam o programa, obtendo-se respostas distintas.
No ponto de vista do Respondente 2, as linhas de pesquisa são capazes de representar o programa dado que
Fragmento 6. Respondente 2
(...) em sua formação nós nos baseamos no capital humano que tínhamos, desde então, fomos fortalecendo as linhas com a contratação de novos professores.
O discurso do Respondente 2 no Fragmento 6 pode ser visto como um exemplo do que já foi falado sobre a Teoria do Capital Humano, todavia, gera um questionamento posterior de como estão medindo tal capital. Em seu trabalho sobre o Ensino da Economia, Paul e Rubin (1984) explicitam um possível problema da mensuração do Capital Humano nos professores, dado que, para um profissional cuja atuação será em sala de aula, como professor, pouco importa suas publicações ou méritos enquanto pesquisador, uma vez que não será esse o papel que será contratado para desempenhar, entretanto, há um argumento a ser feito para a realidade brasileira, especialmente em Instituições de Ensino Públicas, nas quais não há segregação entre as duas funções, professor e pesquisador, porém o questionamento sobre a mensuração ainda persiste, dada a capacidade de possível melhora que possa existir.
Por outro lado, o Respondente 3 enfatizou que as linhas atuais não são suficientes para a demanda, sendo necessária mais uma linha de pesquisa, para que haja uma maior representatividade das linhas de pesquisa na área
Fragmento 7. Respondente 3
(...) pública, mas ainda estamos discutindo sua implementação.
Adicionalmente, o Respondente 6 indaga o mesmo, ao afirmar que as linhas não são capazes de representar o programa, pois de acordo com ele estão
Fragmento 8. Respondente 6
(...) alterando a proposta do curso justamente para atender ao novo cenário e às condições do mercado.
O Fragmento 8 trata sobre o mercado brasileiro da área de ciências contábeis e sua relação com a Pós-Graduação. Apesar de apontado pelo coordenador como um direcionador da proposta de seu programa, não fica claro como tal direcionador atua, ou seja, como eles entendem as demandas do mercado, e o que fazem para atendê-la.
Um exemplo claro de como essa relação se dá pode ser vista no padrão Norte-Americano, especificamente nos Estados Unidos da América e no Canadá, onde o papel do Mestrado e do Doutorado é completamente diferente, já que no Brasil tanto o Mestrado quanto o Doutorado exercem a função de formar docentes, apesar da ênfase deste ser maior na pesquisa. Por sua vez, o mercado Norte-Americano apresenta uma realidade diferente, como posto por Shough, Stetson, Walton e Tankersley (2018), em que grande parte dos mestrandos nos Estados Unidos optam por tal Pós-Graduação para se capacitarem melhor, bem como ficarem aptos à obtenção da certificação principal da área contábil, a CPA (Certified Public Accountant).
Logo, entende-se que na realidade brasileira se torna mais difícil a adequação ao mercado, uma vez que não há relação clara entre a Pós-Graduação, seus estudantes e demandas específicas do mercado. Tal tópico, inclusive, instiga mais estudos na área, a fim de entender a questão e poder traçar um paralelo entre a academia e o mercado, visto que na elaboração das dissertações e teses é perguntado das contribuições da pesquisa para a academia, mercado e sociedade.
Contrapondo as duas respostas anteriores, o Respondente 5, por sua vez afirma que para a realidade atual as linhas de pesquisa são capazes de representar o programa, ou seja, são suficientes de acordo com os temas pesquisados pelos professores e a demanda dos alunos e do mercado, mas que segundo ele estão
Fragmento 9. Respondente 5
(...) propondo um curso mais dinâmico, atualizado, focado e necessita de revisão.
Sendo assim, verifica-se que em alguns PPG é necessário haver uma revisão de seus processos e fundamentos, a fim de garantir que as demandas e expectativas do programa sejam atendidas, permitindo um melhor aproveitamento do corpo docente, bem como dos recursos financeiros das IES.
4.3. Percepção dos Coordenadores sobre as Dificuldades dos PPG
Quanto à percepção dos coordenadores sobre as dificuldades encontradas ao assumirem essa função nos Programas de Pós-Graduação em Ciências Contábeis foram desenvolvidas duas perguntas que estão situadas na Figura 1. A primeira trata-se da percepção dos coordenadores sobre quais são as principais dificuldades na implementação de um PPG. Dentre uma diversidade de limitações foram listadas com maior frequência falta de recursos financeiros, dificuldade em manter a motivação dos discentes e docentes, qualificação e capacitação do corpo docente de forma alinhada às linhas de pesquisa.
Vale salientar que para alguns coordenadores essa limitação não é somente financeira, mas também humana, visto que de acordo com o Respondente 2
Fragmento 10. Respondente 2
Capital humano é a primeira restrição, a segunda é a disponibilidade de recursos e disposição das instituições investirem na formação e manutenção dos PPGs.
Este resultado vai de acordo com os achados de Cirani et al. (2015) ao afirmarem que a maior dificuldade do sistema de ensino dos PPG no Brasil é a produção de recursos humanos que tenham capacitação elevada.
Por sua vez, o Respondente 9 aborda que além da falta de recursos financeiros outros fatores são cruciais para dificultar a implementação de um PPG, tais como:
Fragmento 11. Respondente 9
(...) falta apoio e incentivo de bolsas de estudo aos discentes. Falta abertura, colaboração e trocas de experiências de outros PPGs com nível de maturidade superior, ou seja, falta de nucleação pelos pares.
Dando continuidade a esse pensamento, o Respondente 7 traz dentre as dificuldades enfrentadas a questão de se criar condições para que docentes e discentes consigam publicar em estratos qualificados e que para isso é necessária a obtenção de recursos. Ele reporta também que é difícil captar candidatos com perfil acadêmico e tato para pesquisa, bem como manter os discentes e docentes motivados.
Como já posto na pesquisa de Balbachevsky (2005) os pós-graduandos brasileiros têm uma clara dependência com o auxílio financeiro, que não só direciona parte de sua motivação, como também permitem, ou impedem, a escolha pelo caminho acadêmico para muitos. Logo, com o atual contingenciamento de recursos, provenientes da atual política brasileira, a busca pelo ambiente acadêmico pode ser, de certa forma, reduzida.
Além disso, uma observação preocupante foi colocada pelo Respondente 8, ao indagar que
Fragmento 12. Respondente 8
Não sei como um novo PPG poderá ser implantado com nota 3 e sobreviver. Sem recursos PROAP, tenderá a não passar pela primeira avaliação quadrienal! Sinto que o futuro da Pós-Graduação no Brasil é incerto.
No tocante aos recursos PROAP que foram citados pelo Respondente 8, observa-se que têm uma função primordial na Pós-Graduação, uma vez que se destinam a proporcionar condições melhores para formação dos recursos humanos, produção e o aprofundamento do conhecimento nos PPG Stricto Sensu em IES públicas (Capes, 2010). Sendo assim, como relatado pelo respondente, a falta desses recursos podem acarretar problemas para os programas.
Dessa forma, questionam-se os métodos de avaliação da Capes: será que os critérios utilizados realmente são eficientes e justos? No entender do Respondente 1, as principais dificuldades são:
Fragmento 13. Respondente 1
A mudança contínua de regras e o fato de sermos avaliados por uma métrica estabelecida após o fechamento do quadriênio.
No tocante ao tratado pelo Respondente 1, percebe-se que ainda há críticas sobre os critérios de avaliação da Capes que foram retratados pelos estudos de Spagnolo e Calhau (2002) e Sguissardi (2006) ao relatarem que existem pontos a serem melhorados, como a falta de indicadores de natureza mais qualitativa, a falta de coeficientes de ponderação em relação, por exemplo, a quantidade de alunos, falta de instâncias de autoavaliação, o critério de produtividade, dentre outros. Portanto, percebe-se que na tentativa de a Capes encontrar um método de avaliação ideal, os coordenadores dos PPG podem ter dificuldades para se adequarem a essas alterações.
Por sua vez, a segunda pergunta neste tópico foi referente às dificuldades ao exercer o cargo de coordenador de um Programa de Pós-Graduação no Brasil na área de Ciências Contábeis. Sendo assim, observa-se uma transversalidade dos problemas de gestão de pessoas em duas principais interseções, uma delas é a motivação dos docentes que atuam nos PPG. De acordo com Colares et al. (2019), o papel de prestígio na atuação em um PPG se apresenta como fator motivacional, dentro de vários outros fatores extrínsecos, ou seja, o docente é motivado por algo externo à sua vontade. Nota-se, entretanto, que tal motivação pode levar ao aspecto tratado pelos respondentes na Figura 5, ao admitirem que a tratativa com a equipe é difícil, sendo um dos possíveis motivos para a falta de interesse em atuar para o bem comum, dado que as motivações individuais são maiores que a preocupação com o interesse comum.
Já o outro viés é a motivação dos discentes, que como posto por Durso, Cunha, Neves e Teixeira (2016), trata-se de algo, dentre outros fatores, vinculado consideravelmente à situação econômica do aluno, o que leva a benefícios, como bolsas, a representarem um considerável fator motivacional. Ademais, pôde-se observar que não foram encontradas pesquisas qualitativas que buscam, com profundidade, entender as motivações dos alunos, o que inclusive dificulta a realização de um processo admissional que tenha como função separar aqueles com interesse e vocação daqueles que somente buscam por conveniência.
Em virtude disso, tais problemas podem ser vistos nas falas dos respondentes, na Figura 5, implicando que a realidade é compartilhada por vários gestores, em várias instituições. Dessa forma, o que os coordenadores relatam se assemelha ao tratado por Rego et al. (2015), ao afirmarem que um dos principais desafios dos gestores de recursos humanos é buscar a organização das pessoas que compõem determinado ambiente.
O presente estudo objetivou analisar a percepção dos atuais coordenadores dos Programas de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciências Contábeis no Brasil sobre as linhas de pesquisa. Para tanto, foi realizada uma pesquisa descritiva e qualitativa, tendo como instrumento de coleta de dados o questionário, resultando em uma amostra de nove coordenadores.
Mediante a pesquisa aqui apresentada, pôde-se obter uma visão geral sobre a situação dos PPG em Ciências Contábeis do ponto de vista dos gestores de tais programas. O presente trabalho se destaca dos demais em sua área ao elaborar tal pesquisa com base nos posicionamentos dos envolvidos, dando voz àqueles que podem agir de maneira a promoverem mudanças na situação atual, inclusive podendo utilizar tais precedentes na formação de redes de cooperação, a fim de buscarem mitigar as situações problemáticas descritas por eles.
Quanto aos achados, observa-se uma clara semelhança na percepção dos coordenadores quanto aos problemas enfrentados por eles, desde gestão de pessoas, que envolve a Teoria do Capital Humano, ao se tratar de gerenciar as relações do programa e o que é esperado de se agregar aos discentes, até o impacto das cobranças impostas pelas instituições governamentais, como o MEC ou, especificamente, a Capes. Ademais, os achados aqui apresentados podem servir, inclusive, como uma apresentação das situações que podem ser encontradas com certa facilidade na gestão de um PPG em Ciências Contábeis, permitindo maior noção àqueles que possam desejar criar novos programas.
Portanto, os achados desta pesquisa evidenciam a importância do papel do professor para formação das linhas de pesquisa dos PPG em Ciências Contábeis no Brasil, tendo em vista que elas são formadas, de maneira geral, com base nas temáticas que eles pesquisam corroborando o estudo feito por Andere e Araújo (2008), o qual mostrou a relevância dos docentes nos cursos de Pós-Graduação.
Todavia, apesar dos resultados, vale ressaltar que os pesquisadores tiveram considerável dificuldade em ter acesso aos respondentes, o que inclusive levou à cerca de somente 31% de respostas. Desse modo, a mesma limitação de acesso aos coordenadores tornou incapaz a realização das entrevistas, conforme previamente planejado, o que se apresentou como uma possível limitação no trabalho, que pode inclusive ser resolvida em um trabalho no futuro.
Por fim, dada a relevância da temática, espera-se que os resultados encontrados nesta pesquisa possam instigar o interesse em estudos futuros, para verificar a motivação dos discentes e docentes em relação à escolha de ingressarem no ambiente acadêmico. Além disso, pode-se realizar uma pesquisa a fim de entender e poder traçar um paralelo entre a academia e o mercado, ou seja, verificar se existe essa relação ou não.
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Ressalta-se ainda a existência da triangulação dos dados da pesquisa a partir das seguintes evidências: ponto de vista dos professores por meio do questionário on-line, a observação participante dos pesquisadores e a análise documental das linhas de cada um dos PPG em Ciências Contábeis disponíveis nos próprios sítios da IES