QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO E ATIVIDADE FÍSICA: ESTUDO EM UMA INSTITUIÇÃO FEDERAL DE ENSINO

QUALITY OF LIFE AT WORK AND PHYSICAL ACTIVITY: STUDY AT A FEDERAL INSTITUTION OF EDUCATION

CALIDAD DE VIDA EN EL TRABAJO Y ACTIVIDAD FÍSICA: ESTUDIO EN UNA INSTITUCIÓN FEDERAL DE EDUCACIÓN

JEFFERSON LOPES LA FALCE
Universidade FUMEC / MG, Brasil
SILVANA NAHAS RIBEIRO
Universidade FUMEC e IFMG, Brasil
LUDMILA DE VASCONCELOS MACHADO GUIMARÃES
CEFET/MG, Brasil
CRISTIANA FERNANDES DE MUYLDER
Universidade FUMEC / MG, Brasil

QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO E ATIVIDADE FÍSICA: ESTUDO EM UMA INSTITUIÇÃO FEDERAL DE ENSINO

Revista Alcance, vol. 27, núm. 1, pp. 114-128, 2020

Universidade do Vale do Itajaí

Recepção: 26/09/2018

Aprovação: 07/10/2019

Resumo: Este artigo teve como objetivo analisar a relação entre qualidade de vida no trabalho (QVT) e atividade física, considerando que a atividade física tem sido apontada como um dos fatores desencadeadores da QVT. Utilizou-se uma pesquisa descritivo-quantitativa realizada em uma instituição de ensino público federal. A amostra deste estudo foi constituída por 336 servidores públicos federais. Os dados foram coletados por meio de um questionário aplicado via e-mail entre os meses de abril e maio de 2016. Foi possível identificar que não existem diferenças estatísticas significativas quando se comparam os níveis de atividade física e de qualidade de vida no trabalho dos servidores pesquisados, o que pode indicar que programas organizacionais que envolvem atividades físicas podem não ter o impacto esperado na qualidade de vida do trabalhador. O presente estudo apresenta contribuições práticas, visto que fornece dados sobre a QVT dos servidores da instituição estudada. Dessa forma, a instituição poderá realizar ações e programas de QVT considerando tais diferenças. Pesquisas qualitativas e quantitativas com metodologia probabilística são indicadas como sugestões de futuros trabalhos.

Palavras-chave: Qualidade de vida no trabalho, Atividade física, Gestão pública.

Abstract: This article analyzes the relationship between quality of working life (QWL) and physical activity, considering that physical activity has been identified as one of the triggering factors of QWL. A descriptive-quantitative survey was conducted at a federal public education institution. The sample of this study consisted of 336 federal civil servants. Data were collected through a questionnaire applied via e-mail between May and April 2016. The results showed that there are no statistically significant differences when comparing levels of physical activity and QWL for the civil servants researched. This indicates that organizational programs involving physical activities may not have the expected impact on QWL. This study provides practical contributions, as it provides data on the QWL of civil servants at the studied institution. The institution can carry out actions and QWL programs based on these differences. As a suggestion for future studies, qualitative and quantitative research can be carried out, using a probabilistic methodology.

Keywords: Quality of life at work, Physical activity, public administration.

Resumen: Este artículo tuvo como objetivo analizar la relación entre calidad de vida en el trabajo (QVT) y actividad física, considerando que la actividad física ha sido señalada como uno de los factores desencadenantes de la QVT. Se utilizó una investigación descriptiva-cuantitativa realizada en una institución de enseñanza pública federal. La muestra de este estudio está constituida por 336 servidores públicos federales. Los datos fueron recolectados a través de un cuestionario aplicado vía e-mail entre los meses de mayo y abril de 2016. El resultado mostró que fue posible concluir que no existen diferencias estadísticas significativas cuando se comparan los niveles de actividad física y de la calidad de vida en el mismo, el trabajo de los servidores encuestados, lo que puede indicar que los programas organizacionales que involucran actividades físicas pueden no tener el impacto esperado en la calidad de vida del trabajador. El presente estudio presenta contribuciones prácticas, ya que proporciona datos sobre la QVT de los servidores de la institución estudiada y los separa por sexo, edad, escolaridad y tipo de actividad. De esta forma, la institución podrá realizar acciones y programas de QVT considerando tales diferencias. Las investigaciones cualitativas y cuantitativas con metodología de probabilidad se indican como sugerencias de futuros trabajos.

Palabras clave: Calidad de vida en el trabajo, Actividad física, Gestión pública.

INTRODUÇÃO

O homem passa grande parte de sua vida trabalhando nas organizações, de maneira que um trabalho inadequado, cansativo e desgastante reduz, de algum modo, a percepção da qualidade de vida. O surgimento e o aumento do estresse e de doenças relacionadas ao trabalho têm também chamado a atenção e faz com que as empresas e os indivíduos atentem nas questões de qualidade de vida no trabalho (QVT) (Cañete, 2004).

O tema QVT tem suscitado várias pesquisas acadêmicas em diversas áreas do conhecimento em razão do impacto na produtividade e na redução do absenteísmo (Narehan et al., 2014; Parsa et al., 2014; Farid et al., 2015; Monzani et al., 2016; Zubair et al., 2017). As pesquisas sobre qualidade de vida profissional perpassam vários setores da economia e possuem relação com inteligência emocional em docentes (Farahbakhsh, 2012), qualidade de vida e qualidade de vida no trabalho de empresas diversas (Narehan et al., 2014; Razak, Ma´amor, & Hassan, 2016), relação entre avanço na carreira e na qualidade de vida (Parsa et al., 2014), qualidade de vida no trabalho e comprometimento organizacional em docentes (Farid et al., 2015), presenteísmo e QVT (Monzani et al., 2016), vida pessoal e QVT em cirurgiões (Zubair et al., 2017), indicando a relevância deste campo do conhecimento.

Aliado ao tema citado, a importância dada à atividade física e à sua relação com a qualidade de vida no trabalho tem sido crescente na literatura e na prática organizacional (Ferreira, 2012; Jackson et al., 2014 ; Schwarz & Lindorfs, 2015 ; Barber et al., 2015; Gonçalves et al., 2017), já que tal atividade tem sido integrada na rotina de muitas empresas, como forma de combater o estresse e aumentar a produtividade. No entanto, as pesquisas nessa área precisam avançar, particularmente em relação ao impacto do exercício físico praticado fora da empresa, fora do horário de expediente e na melhoria da qualidade de vida no trabalho (Tamayo, 2001, Scott Leicht, Sealey, & Devine, 2013; Bardus et al., 2014; Jackson et al., 2014; Barber et al., 2015; Leininger, Kent, & DeBeliso, 2015; Farid et al., 2015; Zubair et al., 2017).

A preocupação com a qualidade de vida no trabalho (QVT) vem sendo objeto de atenção nos últimos anos nas empresas privadas e nas organizações públicas. Embora a maioria dos estudos publicados sobre o tema mostre que importantes avanços foram feitos nessa área, há ainda grandes desafios para se instaurar a QVT como preocupação, organização e como valor estratégico na cultura das organizações públicas (Ferreira, 2012; Narehan et al., 2014; Razak, Ma´amor, & Hassan, 2016). Dessa forma, o objetivo desta pesquisa é analisar a relação entre qualidade de vida no trabalho (QVT) e na atividade física no âmbito de uma instituição federal de ensino.

Como justificativa deste estudo, ressaltam-se duas perspectivas, uma de ordem acadêmica e outra de ordem pragmática. No que se refere à primeira, destaca-se que os estudos de Scott Leicht, Sealey e Devine (2013), Bardus et al. (2014), Jackson et al. (2014), Barber et al. (2015), Leininger, Kent e DeBeliso (2015), Farid et al. (2015) e Zubair et al. (2017) sugeriram a pesquisa da relação da qualidade de vida com outros construtos do comportamento organizacional, incluindo a atividade física. Assim, espera-se que a presente pesquisa possa contribuir para o preenchimento da lacuna indicada pelos autores citados. Quanto à segunda perspectiva, em razão de o estímulo da prática de atividade física se fazer presente em organizações brasileiras como forma de melhoria de índices de qualidade de vida no trabalho (Matsudo, Andrade, & Araújo 2007; Gonçalves et al., 2017), esta pesquisa também busca contribuir para o diagnóstico organizacional e subsídio a melhores práticas de gestão.

Este artigo assim se estrutura: esta introdução, seguida de dois capítulos de referencial teórico que abordam a qualidade de vida no trabalho e sua relação com atividade física; um capítulo com o arcabouço metodológico; outro com os resultados e as análises e, por fim, as considerações finais do trabalho.

QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO

A qualidade de vida no trabalho é baseada na humanização e na responsabilidade social da empresa (Walton, 1973). A ideia desse autor para a QVT envolve o atendimento às necessidades do indivíduo, as novas formas de organização do trabalho e a autonomia das equipes para a melhoria do ambiente de trabalho. Ele defende que a QVT está ligada ao equilíbrio entre trabalho e outras esferas da vida, trata do papel social da organização e da importância de se conciliar produtividade com QVT.

Alguns estudos relacionaram a QVT com outras variáveis da administração, sendo que foram identificadas relações significativas com: inteligência emocional em docentes (Farahbakhsh, 2012); qualidade de vida e qualidade de vida no trabalho (Narehan et al., 2014; Razak, Ma´amor, & Hassan, 2016); progressão na carreira (Parsa et al., 2014); comprometimento organizacional em docentes (Farid et al., 2015); presenteísmo (Monzani et al., 2016) e vida pessoal em médicos (Zubair et al., 2017).

Hackman e Oldhams (1980) e Salmani (2003) afirmam que a qualidade de vida no trabalho é a reação dos trabalhadores em relação ao trabalho, ao contexto e à saúde mental. Na visão desses autores, a importância do construto está na medida em que contribui diretamente com o progresso da organização e melhora índices de satisfação no ambiente de trabalho.

Nazir et al. (2011) afirmam que a qualidade de vida profissional tem como elementos balizadores a cooperação, o progresso ocupacional, a resolução de conflitos, a organização estrutural, a saúde do trabalhador, a segurança, os salários e a identidade organizacional. Os autores ainda acreditam que a QVT inclui fatores como: respeito às condições de trabalho, remuneração e oportunidades de desenvolvimento profissional, papel do trabalho e da família e equilíbrio, segurança e interações sociais no local de trabalho. A combinação de estratégias de gestão de pessoas constitui o fator determinante dessas variáveis.

Qualidade de vida pode ser descrita como a satisfação do empregado diante de sete necessidades, a saber: econômicas e familiares, sociais, de estima, de atualização, de conhecimento e estéticas (Parsa et al., 2014; Narehan et al., 2014.; Farid et al., 2015). Razak, Ma´amor e Hassan (2016) destacaram a importância do ambiente de trabalho saudável e harmônico como forma de alavancar a qualidade de vida no trabalho.

Os estudos recentes destacam a importância do tema em relação a construtos do comportamento organizacional com influência em indicadores de produtividade, absenteísmo, presenteísmo, entre outros. Farahbakhsh (2012) pesquisou a QVT em relação à inteligência emocional, constatando que, quanto mais alto o grau de inteligência emocional, melhores os índices de QVT dos diretores. Na pesquisa de Selahattin e Sadullah (2012), empregados turcos foram analisados para determinar a relação de QVT com engajamento no trabalho, sendo essa relação confirmada na referida pesquisa.

Narehan et al. (2014) investigaram a relação de qualidade de vida e qualidade de vida no trabalho, sendo tal fator contribuinte para a qualidade de vida e também diretamente determinante da produtividade de funcionários. Já Parsa et al. (2014), também investigando o tema universidade, constataram a relação entre a qualidade de vida e a progressão na carreira. Os estudos encontrados indicam que o avanço na carreira tem relação positiva significativa com a melhoria de qualidade de vida no trabalho.

Farid et al. (2015) investigaram a relação entre qualidade de vida no trabalho e comprometimento organizacional. Foi possível perceber que funcionários com baixo índice de qualidade de vida no trabalho tinham baixo comprometimento, impactando no desempenho da organização. Esse resultado possibilita entender a importância de as organizações melhorarem políticas de gestão de pessoas e condições de trabalho.

Os estudos sobre o construto QVT também envolveram áreas da saúde como forma de identificar fatores determinantes e também consequências do baixo índice de qualidade de vida na organização. Nesse sentido, Monzani et al. (2016) analisaram, por meio de ensaio clínico, trabalhadores que apresentavam enfermidades que não compõem justificativa para dispensa de saúde (dor de cabeça, gripes, entre outras) e a relação destas com a qualidade de vida e o impacto no presenteísmo. Os resultados mostraram a relação de pequenas enfermidades com alto grau de presenteísmo como consequência de baixo índice de QVT. Intensificação dos cuidados com trabalhadores foi recomendada na pesquisa.

Ainda na área de saúde, Zubair et al. (2017) estudaram o tema em cirurgiões, tentando compreender a sua relação com a vida pessoal. A análise da carreira estressante, segundo esses autores, revelou uma preocupação quanto a essa atividade, pois o impacto da redução de qualidade de vida mostrou influência na qualidade de vida no trabalho.

Esses estudos indicaram a relevância da pesquisa em relação ao tema QVT e a verificação empírica com outras variáveis. Tamayo (2001), Scott Leicht, Sealey e Devine (2013),Bardus et al. (2014), Jackson et al. (2014), Barber et al. (2015), Leininger, Kent e DeBeliso (2015), Farid et al. (2015) e Zubair et al. (2017) destacaram a importância de novas investigações sobre a relação de outras variáveis sobre o tema, incluindo a relação da atividade física, tópico do próximo capítulo deste artigo.

QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO E ATIVIDADE FÍSICA

Limongi-França (2004) afirma existir uma correlação entre melhoria da qualidade de vida das pessoas e de estilo da vida existente dentro e fora da organização. Essa melhoria influenciará a excelência e a produtividade dos indivíduos em seu trabalho. Fatores como vínculo e estrutura da vida pessoal, família, atividades de lazer e esporte, hábitos e expectativas de vida, cuidados com a saúde, alimentação, combate à vida sedentária, grupos de afinidades e apoio, que se encontram presentes no tempo livre das pessoas, passam a ser desencadeadores de QVT. O entendimento sobre qualidade de vida no trabalho é de que ela envolva não só os aspectos físicos e ambientais, mas também o bem-estar do trabalhador dentro e fora do local de trabalho (Rossi, 2002).

Em geral, uma boa QVT só irá existir se o indivíduo atentar no seu comportamento em relação a sua saúde e a sua qualidade de vida, procurando eliminar ou reduzir os hábitos negativos que podem comprometer seu bem-estar. As empresas, por sua parte, precisam ter uma visão geral e mais humanizada em relação ao trabalhador, entendendo finalmente que o indivíduo fora da empresa e o funcionário dentro dela são a mesma pessoa (Timossi et al., 2008).

Na pesquisa de Tamayo (2001) também foi observado um efeito principal da variável “atividade física regular”, sendo o nível de estresse superior para aqueles que não praticavam exercícios físicos regularmente. A hipótese explicativa mais evidente da relação entre atividade física e estresse ocupacional parece ser de ordem fisiológica. O exercício físico regular desenvolve o condicionamento cardiovascular que, por sua vez, provoca uma redução na corrente sanguínea da taxa de diversas substâncias associadas ao estresse. Outra explicação do impacto da atividade física, para esse autor, pode ser a dimensão psicossocial inerente a várias modalidades de atividade física. A interação social, a companhia e a comunicação interpessoal podem agir como poderosas estratégias para lidar com o estresse e com algumas das suas reações fisiológicas. Além disso, o alto nível de desejabilidade social do exercício físico pode constituir também um fator positivo na luta contra o estresse ocupacional, no sentido da satisfação do indivíduo por realizar uma meta socialmente desejável, sugerida, recomendada e apresentada pela mídia como sendo de grande importância para a saúde.

Nesse aspecto, pôde-se perceber na literatura internacional, numa pesquisa bibliométrica realizada na base Emerald, com as palavras-chave “qualidade de vida no trabalho” e dentro dos resultados “atividade física”, incluindo seus termos em inglês, nos últimos três anos (2013 a 2015), que a maioria das organizações pesquisadas, tanto públicas quanto privadas, utilizavam a atividade física como parte de seus programas de saúde do trabalhador, visando à melhoria da qualidade de vida. Grande parte dos artigos pesquisados evidenciou o construto “atividade física”, como se vê na Figura 1.

Investigações sobre atividade física e trabalho
Figura 1
Investigações sobre atividade física e trabalho
Fonte: Elaborada pelos autores.

Jackson et al. (2014), Schwarz e Lindorfs (2015), Barber et al. (2015) pesquisaram a atividade física e a relação desta com outros construtos ou fatores. Esses estudos permitem ter uma visão integrada da atividade física e impactos nas organizações, principalmente no que se refere à produtividade, ao desempenho, à capacidade e à disposição para o trabalho. Os resultados positivos foram percebidos por Schwarz e Lindorfs (2015), em pesquisa com mulheres cuidadoras de idosos, sendo que a atividade física aumentou a capacidade física para o trabalho, embora mais pesquisas sejam necessárias sobre os resultados relacionados com a produtividade. Barber et al. (2015) destacaram que os resultados de um programa de gerenciamento de peso no local de trabalho, durante 12 semanas, foram uma opção que, além de conseguir a perda de peso e melhorar os resultados de saúde dos funcionários, levou a melhorias no bem-estar geral, na qualidade de vida e no desempenho no trabalho.

Ao se investigar os artigos produzidos, na base Science Direct, utilizando as mesmas palavras-chave anteriormente citadas, nos últimos 20 anos, com o intuito de analisar as publicações sobre o tema, encontraram-se seis artigos. Entretanto nenhum destes realizava análise da relação entre os construtos, embora sugerissem explorar tal estudo. Edmunds et al. (2013), Scoth Leicht et al. (2103), Bardus et al. (2014) e Brown et al. (2014) investigaram as barreiras para a prática de atividade física. A maioria dos motivos inclui a falta de tempo e de energia, a falta de motivação, de cultura, dentre outros. Em jovens adultos, uma barreira identificada foi que a maioria não vê a atividade física como um benefício imediato à saúde (Edmunds et al., 2013).

Passey et al. (2014) e Gorczynski e Patel (2014) conduziram estudos que focalizaram motoristas de caminhão de longa distância. O primeiro estudo explora a visão da atividade física pelo caminhoneiro e o segundo avaliou sites de atividade física, direcionados a essa categoria. A conclusão desses artigos é de que, para essa categoria profissional, ainda existem grandes lacunas de conhecimento sobre os benefícios da atividade física.

A seguir, será traçado o caminho metodológico deste trabalho.

METODOLOGIA

Sob o aspecto metodológico, esta pesquisa foi de caráter quantitativo-descritivo, já que mensurou a relação entre o nível de atividade física com qualidade de vida no trabalho. Para Zanella (2006), esse método caracteriza-se como aquele que se preocupa com a representação numérica, com a medição objetiva e a quantificação de resultados.

A população da pesquisa foi composta de docentes e técnico-administrativos, servidores públicos de uma instituição de ensino, localizada na região central de Minas Gerais. A instituição se dedica à oferta de cursos de graduação e ensino técnico profissionalizante, contando com 1473 servidores públicos, dos quais 728 são docentes e 745 técnico-administrativos. A organização em questão possui um programa voltado para a qualidade de vida, em que incentiva e monitora a prática de atividade física de seus servidores. Os questionários foram enviados para o e-mail institucional de toda a população da instituição.

Como instrumento de coleta de dados, foi utilizado um questionário com três seções, a primeira contendo dados sociodemográficos, a segunda para avaliar a qualidade de vida no trabalho e a terceira para avaliar o nível de atividade física. O questionário informava ao respondente a natureza da pesquisa, a sua importância e a necessidade de obter respostas. O questionário aplicado sobre QVT continha 33 perguntas cujas respostas seguem uma escala do tipo Likert com sete pontos (1 - discordo totalmente, 2 - discordo bastante, 3 - discordo um pouco, 4 - não concordo nem discordo, 5 - concordo um pouco, 6 - concordo bastante, 7 - concordo totalmente).

O questionário proposto pelo modelo de Walton (1973) utiliza-se das oito dimensões de QVT propostas pelo autor:

· Compensação Justa e Adequada, refere-se à remuneração adequada pelo trabalho realizado, assim como o respeito à equidade;

· Condições de Trabalho, condições reais oferecidas ao empregado para a consecução das suas tarefas;

· Oportunidade Imediata para Usar e Desenvolver Capacidades Humanas, aproveitamento do talento humano ou capital intelectual;

· Oportunidades de Crescimento e Segurança, políticas da instituição no que concerne ao desenvolvimento, ao crescimento e à segurança de seus empregados;

· Integração Social na Organização de Trabalho, cultivo do bom relacionamento;

· Constitucionalismo no Trabalho, grau em que os direitos do empregado são cumpridos na instituição;

· Espaço que o Trabalho Ocupa na Vida, Relevância Social, equilíbrio entre a vida pessoal e o trabalho, percepção do empregado em relação à imagem da empresa;

· Importância do Trabalho.

O questionário de atividade física foi baseado no Questionário Internacional de Atividade Física (IPAQ) – versão curta (Pardini et al., 2001). Trata-se de um instrumento autoadministrável, usado em várias pesquisas, conforme descrito na Figura 1, já apresentada, composta por seis itens, que procura verificar o número de vezes em que o sujeito praticou pelo menos 10 minutos contínuos de caminhada, atividade física moderada e vigorosa, na última semana, no trabalho laboral, em casa, no jardim, nos deslocamentos, no tempo livre, na recreação e nos exercícios ou esportes. As variáveis avaliadas no questionário apresentam-se de acordo com a quantidade de atividade física realizada. Os indivíduos podem ser classificados de acordo com a escala a seguir:

· Sedentário: não realizou nenhuma atividade física por pelo menos 10 minutos contínuos durante a semana.

· Insuficientemente ativo: realizou atividade física por pelo menos 10 minutos contínuos por semana, porém insuficiente para ser classificado como ativo.

· Ativo: cumpriu pelo menos uma das seguintes recomendações de atividade:

a - atividade vigorosa: ≥ 3 vezes por semana e ≥ 20 minutos por sessão;

b - atividade moderada ou caminhada: ≥ 5 vezes por semana e ≥ 30 minutos por sessão;

c - qualquer atividade: ≥ 5 vezes por semana e ≥ 150 minutos por semana.

· Muito ativo: cumpriu pelo menos uma das seguintes recomendações de atividade:

a - atividade vigorosa: ≥ 5 vezes por semana e ≥ 30 minutos por sessão; ou

b - atividade vigorosa: ≥ 3 vezes por semana e ≥ 20 minutos por sessão, mais atividade moderada e/ou caminhada: ≥ 5 vezes por semana e ≥ 30 minutos por sessão.

Em relação ao tratamento, à organização e à sistematização dos dados coletados, foram realizados por meio de planilhas eletrônicas e do software estatístico gratuito R (versão 3.2.2).

Para descrever as variáveis de caracterização do respondente, foram utilizadas frequências absolutas e relativas. Já para apresentar e comparar os itens de cada construto, foram utilizados média e desvio padrão, além do intervalo percentil bootstrap de 95% de confiança. A escala likert de concordância foi fixada para variar de -1 (Muito insatisfeito) a 1 (Muito satisfeito). Dessa forma, valores médios negativos indicam que os indivíduos tendem a estar insatisfeitos, enquanto valores positivos indicam que os indivíduos tendem a estar satisfeitos. O método bootstrap é utilizado na realização de inferências quando não se conhece a distribuição de probabilidade da variável de interesse (Efron & Tibshirani, 1994).

Na segunda etapa da análise dos resultados, os dados foram agrupados por meio da Análise Fatorial, buscando, assim, a redução da dimensão dos dados para, posteriormente, correlacioná-los (Lattin et al., 2011). Quando se utiliza a análise fatorial, é importante verificar se ela é adequada aos dados da pesquisa. Para tanto, foi utilizada a medida de adequação da amostra de Kaiser-Meyer-Olkin (KMO), que indica a proporção da variância dos dados e que pode ser considerada comum a todas as variáveis. É uma medida que varia de 0,0 a 1,0, sendo que, quanto mais próximo de 1,0 (unidade), mais apropriada será a amostra à aplicação da análise fatorial. É adequado aplicar a Análise Fatorial ao conjunto de variáveis quando o KMO for maior que 0,50 (Lattin et al., 2011).

Para analisar a qualidade e a validade dos construtos, foram verificadas a dimensionalidade, a confiabilidade e a validade convergente. Para verificar a validade convergente, foi utilizado o critério da Variância Média Extraída (AVE), que indica que o percentual médio de variância compartilhada entre o construto latente e seus itens seja superior a 50% (Henseler, Ringle, & Sinkovics, 2009) ou 40% no caso de pesquisas exploratórias (Nunnaly & Bernstein, 1994). Para mensurar a confiabilidade, foram utilizados o Alfa de Cronbach (AC) e a Confiabilidade Composta (CC). Para esses autores, os indicadores AC e CC devem ser maiores que 0,70 para uma indicação de confiabilidade do construto, sendo que, em pesquisas exploratórias, valores acima de 0,60 também são aceitos.

Na última etapa da pesquisa, para comparar os indicadores criados pela análise fatorial (fixados para variar de 0 a 1) entre os níveis de atividade física, foi utilizado o teste de Kruskal-Wallis. Para comparar os indicadores entre o sexo e o tipo de atividade, foi utilizado o teste de Mann-Whitney, enquanto que, para compará-los com a idade e a escolaridade, foi utilizada a Correlação de Spearman (Hollander & Wolfe, 1999). É importante ressaltar que, para as duas amostras, utiliza-se o teste Mann-Whitney e, para mais de duas amostras, utiliza-se o teste Kruskall-Wallys (Pestana & Gageiro, 2005). A hipótese nula desses testes é de igualdade entre os grupos, portanto, com valores para significância estatística abaixo de 5%, rejeita-se a hipótese nula, inferindo-se que há diferença entre os grupos.

Foram utilizadas siglas para as oito dimensões e suas respectivas perguntas, assim, para a dimensão Compensação Justa e Adequada: SAL1, SAL2, SAL3; para a dimensão Condições de Trabalho: CDT1, CDT2, CDT3, CDT4, CDT5, CDT6; para a dimensão Capacidades no Trabalho: CAT1, CAT2, CAT3, CAT4, CAT5; para a dimensão Oportunidades no Trabalho: OPT1, OPT2 OPT3; para a dimensão Integração Social no Trabalho: IST1, IST2, IST3, IST4; para a dimensão Constitucionalismo no Trabalho: CTT1, CTT2, CTT3, CTT4; para a dimensão Espaço que o Trabalho Ocupa na Vida: EST1, EST2, EST3; e, por fim, para a dimensão Relevância Social e Importância do Trabalho: RST1, RST2, RST3, RST4.

ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

A pesquisa foi realizada com um total de 336 respondentes de ambos os sexos, 47,8 % do sexo feminino e 52,2 % do sexo masculino. A maior concentração de respondentes está na faixa etária entre 31 e 35 anos (27%). A partir dessa informação, pode-se afirmar, considerando essa faixa de idade, que a maior parte dos servidores respondentes tem a instituição como uma de suas primeiras experiências profissionais, portanto se torna imprescindível a relevância da responsabilidade que a instituição tem em relação a essa mão de obra recém-formada.

Quanto à escolaridade, a amostra apresenta maior concentração dos respondentes com especialização e mestrado (67,9% da amostra). Esse dado tem sido constantemente observado em organizações de ensino (La Falce et al., 2017). Já no tocante à atividade desenvolvida na organização, os participantes docentes e os técnicos estão quase na mesma proporção na amostra.

Em relação à atividade física dos respondentes, do total de pesquisados, pode-se destacar que 11,9% dos respondentes eram sedentários, 58,8% eram insuficientemente ativos, 23,1% eram ativos e 6,2% eram muito ativos. Os resultados encontrados na presente pesquisa mostraram que, apesar de a grande maioria dos servidores serem jovens e declararem fazer atividade física, muitos deles não o fazem em volume adequado para se beneficiarem da atividade física como fator associado à proteção para a saúde. Bardus et al. (2014) e Brown et al. (2014) destacam a importância da prática de atividade como forma de prevenir absenteísmo. Nesse sentido os dados descritivos sobre a prática desportiva mostram-se preocupantes na organização e devem ser observados por gestores em razão de possibilidade de impacto na produtividade futura.

Resultados semelhantes foram encontrados em pesquisa com funcionários de uma universidade do Estado da Bahia, a qual registrou que 49,4% de funcionários são insuficientemente ativos (Rocha et al., 2011). Na pesquisa de Nespeca e Cyrillo (2011), analisando a prática de atividade física, a minoria dos funcionários públicos de uma universidade foi classificada como praticante, e os resultados mostraram uma proporção elevada de indivíduos sedentários (55,4%).

Foi realizada a análise fatorial dos dados da escala de qualidade de vida no trabalho. Pode-se observar que apenas o item CDT3 do construto Condições de Trabalho apresentou uma carga fatorial abaixo de 0,50. De acordo com Hair et al.(2009), itens com cargas fatoriais menores que 0,50 devem ser eliminados dos construtos, pois, ao não contribuir de forma relevante para formação da variável latente, prejudica o alcance das suposições básicas para validade e qualidade dos indicadores criados para representar o conceito de interesse. Porém se optou por não excluí-lo, uma vez que todas as suposições básicas para validade e qualidade dos indicadores (dimensionalidade, confiabilidade e validade) foram atendidas, conforme será apresentado a seguir (Tabela 1).

Tabela 1
Análise Fatorial Exploratória para Criação dos Indicadores.
Análise Fatorial Exploratória para Criação dos Indicadores.
Fonte: Dados da pesquisa. ¹ Carga Fatorial; ² Comunalidade.

Dessa forma, pode-se perceber que os índices foram bastante satisfatórios e indicam que as perguntas representam os indicadores criados.

Na Tabela 2, podem-se verificar as medidas de validade e qualidade dos construtos, sendo que todos os construtos apresentaram validação convergente (AVE > 0,40) e apresentaram Alfa de Cronbach (AC) ou Confiabilidade Composta (CC) acima de 0,70. Ou seja, todos apresentaram os níveis exigidos de confiabilidade. O KMO apresentou-se favorável à amostra, significando que a escala é adequada para ser submetida à análise fatorial, pois apresentou valor (> 70%), o que representa um grau razoável de ajuste ao uso do método. Os indicadores avaliados indicaram uma alta confiabilidade. Esses dados são importantes ao mostrarem convergência e aceitação do modelo por parte dos respondentes.

Tabela 2
Confiabilidade, validade convergente e dimensionalidade dos construtos.
Confiabilidade, validade convergente e dimensionalidade dos construtos.
Fonte: Dados da pesquisa.

Como resultado da análise fatorial, foram criados oito indicadores, como demonstra a Tabela 3. Nela são descritos os indicadores, com suas respectivas médias, desvio padrão e intervalo de confiança (IC). Os indicadores foram fixados para variar de 0 a 1, sendo que o indicador Qualidade de Vida no Trabalho foi criado a partir da média dos indicadores.

Tabela 3
Descrição das Médias dos Indicadores Criados.
Descrição das Médias dos Indicadores Criados.
Fonte: Dados da pesquisa.

Para verificar se existia relação entre a qualidade de vida no trabalho e o nível de atividade física, foi utilizado o Teste de Kruskal-Wallis. Dessa forma, a Tabela 4 apresenta a comparação das dimensões de QVT e os níveis de atividade física dos pesquisados.

Tabela 4
Comparação das dimensões de QVT e os níveis de atividade física.
Comparação das dimensões de QVT e os níveis de atividade física.
Fonte: Dados da pesquisa.

A partir da análise da Tabela 4, pode-se perceber que houve diferença significativa (Valor-p=0,000) somente da dimensão “Espaço que o Trabalho Ocupa na Vida” entre os níveis de atividade física, sendo que os indivíduos sedentários apresentaram menor satisfação com a dimensão “Espaço que o Trabalho ocupa na Vida”. Um dos problemas ocasionados pelas pressões do trabalho contemporâneo é a falta de tempo, que, normalmente, está ligada à jornada excessiva de trabalho, ao tempo para as obrigações familiares, à dificuldade na administração do tempo e à ausência de tempo para atividade física (Edmunds et al., 2013). Um impacto preocupante, haja vista que os estudos indicam que o equilíbrio entre vida e trabalho deve ser mantido (Scoth Leicht et al., 2103; Brown et al., 2014) para evitar o adoecimento do trabalhador, o que, no presente estudo, mostra-se pendente apenas para o lado do trabalho. Nos estudos de Walton (1973), a qualidade de vida no trabalho depende da conciliação do tempo de trabalho com o tempo de lazer e família.

Também se observa que não houve diferença significativa (Valor-p>0,05) nos demais indicadores. Dessa forma, os resultados estatísticos apontaram pela não influência do nível de atividade física na qualidade de vida no trabalho dos servidores pesquisados, contrariando as perspectivas encontradas nos estudos de Jackson et al. (2014), Schwarz e Lindorfs (2015), que, de certa forma, apontavam para o impacto da atividade física na qualidade de vida no trabalho. Embora a presente pesquisa não possa invalidar as perspectivas de estudos anteriores sobre a relevância da atividade física na qualidade de vida do trabalho, os dados aqui presentes mostram a necessidade de novos estudos que possam validar ou não a relação com a QVT. Edmunds et al. (2013) e Brown et al. (2014) indicaram a existência de barreiras, como motivação, cultura, tempo e falta de energia, entre outras destacadas nos estudos, que podem explicar o motivo da ausência de relação em outras dimensões de qualidade de vida no trabalho. Nesse sentido, a investigação de antecedentes da relação da atividade física e QVT se faz necessária com vistas a elucidar os resultados aqui encontrados.

Os resultados encontrados também demonstram que as ações de QVT na organização investigada não devem ser planejadas de forma isolada, visando, por exemplo, à implantação de um programa que inclua somente a atividade física como forma de melhoria da QVT, mas também ações complementares. É necessário planejar essas ações alinhadas com as características das organizações, com o tipo de gestão desempenhada e com as atividades de cada servidor. Ressalta-se que esses resultados podem indicar que programas organizacionais que envolvem atividades físicas podem não ter o impacto esperado na qualidade de vida do trabalhador, quando implementados de forma isolada. Parsa et al. (2014), Narehan et al. (2014) e Farid et al. (2015) indicaram que a qualidade de vida no trabalho advém de um conjunto de necessidades percebidas na organização, o que, no presente estudo, parece ser uma possível resposta da ausência de relação direta da atividade física com a qualidade de vida no trabalho.

Esse resultado vem corroborar os estudos de Rodrigues (2014) e Ferreira (2012), os quais indicaram que, cada vez mais, as organizações estão investindo em QVT. Também mostraram várias ações com o foco imediato no bem-estar e na saúde como reflexo deste investimento (como sessões de Tai Chi Chuan, massagens, exercícios de relaxamento e aulas de danças). Tais ações são benéficas ao bem-estar dos funcionários, mas não atendem aos verdadeiros anseios de melhorar a qualidade de vida no trabalho (Tamayo, 2001; Scott Leicht, Sealey, & Devine, 2013; Bardus et al., 2014; Barber et al., 2015; Farid et al., 2015; Zubair et al., 2017). Esses resultados levam a uma reflexão sobre a adoção da atividade física de forma isolada nos programas de qualidade de vida no trabalho das organizações.

Ferreira (2012),Rodrigues (2014), Barber et al. (2015) e Zubair et al. (2017) criticam a difusão de programas de bem-estar baseados apenas em atividades ligadas à saúde/bem-estar, como massagens, exercícios de relaxamento, aulas de dança, acompanhamento nutricional e antitabagismo. Para esses autores, tanto funcionários de empresas privadas quanto servidores públicos se sentem frustrados com esses tipos de ações de bem-estar – alcunhadas de “ofurô corporativo” (por buscarem o relaxamento imediato da tensão dos indivíduos em seu ambiente de trabalho, mas sem tratar os problemas estruturais da organização nem os de gestão de pessoas) – , quando, na verdade, os funcionários anseiam por reconhecimento pelo trabalho, crescimento profissional, bom relacionamento, clima de trabalho agradável sem pressão e sem metas inatingíveis. Ainda segundo os autores citados, as organizações estão investindo nos indivíduos, quando deveriam voltar o olhar para o ambiente de trabalho. A presente pesquisa corrobora, com dados empíricos, as críticas dos referidos autores, pois, considerando os respondentes, o benefício de tal programa não mostrou impacto na qualidade de vida dos trabalhadores na organização pesquisada.

Por fim, é relevante enfatizar a necessidade de conhecer as percepções e as expectativas dos servidores de acordo com sua visão quanto à QVT, por meio de pesquisas que legitimam o conhecimento, com o objetivo de definir uma visão integral do ser humano, bem como divulgar os diagnósticos antes da elaboração de programas e políticas de QVT.

A seguir serão traçadas as considerações finais deste trabalho.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este artigo buscou analisar a relação entre qualidade de vida no trabalho e atividade física no âmbito de uma instituição federal de ensino. Para o alcance desse objetivo, foi utilizada uma pesquisa descritiva com abordagem quantitativa. Aplicou-se um questionário contendo três partes, a saber: dados demográficos; escala de qualidade de vida no trabalho, construída por Walton (1973); e escala internacional de atividade física, validada por Pardini et al. (2001). Em relação ao nível de atividade física dos respondentes, os resultados apontaram para uma maioria classificada como insuficientemente ativa (58,8%), ou seja, são realizados exercícios considerados incapazes de garantir os benefícios esperados para a saúde, o que pode ser considerado preocupante e objeto de atenção por parte de gestores. Percebe-se a importância do combate ao sedentarismo, que é um problema de saúde pública. Dessa forma, a prática de atividades físicas pode e deve ser incentivada a partir do trabalho, pois os reflexos de uma vida sedentária podem levar a prejuízos e impactos no trabalho.

Pode-se concluir que, apesar de a literatura científica ter revelado forte associação entre prática de atividade física e melhoria nos quadros de doenças crônico-degenerativas, tais como obesidade, cardiopatias, hipertensão, diabetes, e uma associação positiva entre atividade física e saúde psicossocial nos trabalhadores, em especial para a qualidade de vida e bem-estar emocional (Franchi & Montenegro, 2005), os resultados desta pesquisa não apontaram diferenças estatísticas significativas quando comparados à qualidade de vida no trabalho e os níveis de atividade física de servidores públicos de uma instituição de ensino. Esses dados indicam que outras variáveis podem intermediar a relação dos dois construtos, e a investigação de antecedentes dessa relação deve ser objeto de estudos futuros.

Os resultados encontrados nesta pesquisa indicam ainda que bons hábitos de saúde, empregados sozinhos, não preveem benefícios organizacionais de curto prazo. É importante salientar que esses resultados não negam os benefícios à saúde em longo prazo para quem leva um estilo de vida saudável. Como a literatura indica que a qualidade de vida tem associação com a qualidade de vida fora do trabalho, a atividade física praticada de forma adequada pode ter resultados satisfatórios para os indivíduos. Nota-se que as organizações estão investindo nos indivíduos, quando deveriam voltar o olhar para o ambiente de trabalho e as condições necessárias ao equilíbrio entre vida e trabalho.

Apesar de muitos dos resultados encontrados apresentarem similaridade com outros estudos sobre QVT dos servidores públicos, eles não podem ser generalizados além do contexto da instituição investigada, sendo, para tanto, necessários novos estudos. Nesse mesmo sentido, para melhor compreender o contexto de trabalho dos servidores públicos, seria importante examinar os resultados por meio de uma abordagem qualitativa na pesquisa. A partir dessa inserção, tornar-se-ia possível compor uma “fotografia” mais completa e acabada da percepção global de QVT dos servidores, abordagens por meio de metodologias mais abrangentes, a fim de possibilitar uma compreensão sistêmica das variáveis de QVT. Essa compreensão também perpassa pela avaliação dos instrumentos de qualidade de vida no trabalho existentes na literatura e dos padrões de atividade física, considerados como apropriados, que precisam de novas investigações sobre a adequação destes diante das novas realidades do trabalho.

Para trabalhos futuros, sugere-se ainda o estudo dos antecedentes de qualidade de vida em relação a práticas de atividade física, bem como a investigação do impacto da atividade física nos níveis de absenteísmo e no presenteísmo dos servidores públicos, a fim de contribuir ainda mais com essa discussão. Ainda no sentido da compreensão dos fenômenos investigados neste trabalho, é importante sugerir um estudo que permita compreender as individualidades em relação a cada construto trabalhado, em que a “voz” de cada trabalhador será escutada e refletida.

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