Artigos originais

Papéis Ocupacionais e Rede de Apoio Social de Idosas em Institucionalização Permanente e Residentes na Comunidade

Roles Occupational and Social Support Network for Elderly in State off Institutionalization Permanent and Residents in the Community

Papeles Ocupacionales y Red de Apoyo Social en Ancianas en Institucionalización Permanente y Residentes en la Comunidad

Fernanda Laís Ribeiro 1
Centro de Especialidades em Terapia Ocupacional (CETO) , Brasil
Grasielle Silveira Tavares Paulim 2
Universidade de Brasília Ceilândia – FCE, Brasil

Papéis Ocupacionais e Rede de Apoio Social de Idosas em Institucionalização Permanente e Residentes na Comunidade

Revista Família, Ciclos de Vida e Saúde no Contexto Social, vol. 2, núm. 3, pp. 123-131, 2014

Universidade Federal do Triângulo Mineiro

Recepção: 25 Outubro 2013

Aprovação: 12 Maio 2014

Resumo: Este estudo teve como objetivo analisar os papéis exercidos por idosas de uma Instituição de Longa Permanência (ILPI) e idosas residentes na comunidade, verificando a rede de apoio social e a importância na manutenção e criação desses papéis. Utilizou-se metodologia quantitativa descritiva, com a aplicação da Lista de Identificação de Papéis Ocupacionais e do Diagrama da Escolta em seis idosas, sendo três de uma ILPI e três da comunidade. Verificou-se predomínio de apoio formal para a ILPI, em que as idosas recebem mais apoio do que fornecem, diferente do encontrado para as idosas da comunidade, em que o total apresenta apoio informal, em que estas oferecem mais cuidado do que recebem, portanto, desempenham papéis mais complexos. Quanto à distribuição dos papéis ao longo do tempo, em papéis contínuos na ILPI houve predomínio de passatempo/amador e amigo, já na comunidade, de cuidador e religioso. Notou-se a diminuição do papel de membro da família em ambos os grupos. Em desempenho de papéis futuros, foi observada congruência na escolha dos papéis de: amigo, estudante, trabalhador, voluntário, serviço doméstico, familiar, religioso, hobby/amador. A pesquisa sugere ações de promoção da saúde, prevenção de agravos e reabilitação do indivíduo idoso em seus aspectos biopsicossociais no contexto de papéis ocupacionais que possam ser reassumidos ou mantidos.

Palavras-chave: Apoio social, Idoso, Terapia Ocupacional.

Abstract: This study aimed to examine roles played by elderly women in a Long-Stay Institution (LSI) and elderly women residents in the community, checking out the social support network and the importance of maintaining and creating these roles. It was used descriptive quantitative methodology, applying the Identification of Occupational Roles list and the Diagram of Escort, for six elderly women, three living in LSI and three residents in the community. There was a predominance of formal support for the LSI, in which elderly women receive more support than what they provide, different from that found for elderly in community, where the total has informal support, as they provide more care than they receive, so play more complex roles. Related to the distribution of roles over time, in continuous roles in predominated hobby/ amateur and friend, whereas in the community, caregiver and religious. It was noted the diminishing of the role of family members in both groups. Performance in future roles, congruence was observed in the choice of roles: friend, student, employee, volunteer, housework, family, religious, and hobby/amateur. This research suggests actions for health promotion, disease prevention and rehabilitation of elderly people in their biopsychosocial aspects in the context of occupational roles that can be reassumed or maintained.

Keywords: Social support, Aged, Occupational Therapy.

Resumen: Este estudio tuvo como objetivo examinar los papeles desempeñados por las mujeres de edad avanzada en una Institución de Larga Estancia (ILE) y los residentes en la comunidad, compruebe la red y la importancia del apoyo social en el mantenimiento y la creación de papeles. Se utilizó metodología cuantitativa descriptiva, se aplicó a la lista de identificación Papeles Ocupacionales y del Diagrama de Escolta en seises ancianas, tres de la ILE y tres de de la comunidad. Apoyo formal predomino para el ILE, o sea, recibe más apoyo de la comunidad do que ofrece. Por otro lado, todas las ancianas de la comunidad reciben apoyo informal, que proporcionan más cuidado de lo que reciben con papeles más complejos. Cuanto a la distribución de los papeles al longo del tiempo en papeles continuos, respectivamente, en la ILE predominó pasatiempo / amador y amigo y el cuidador y religiosas en la comunidad. Verifico se la disminución del papel de miembro de la familia en los dos grupos. En el desempeño de papeles futuros se observó congruencia entre el papel de: amigo, estudiante, empleado, voluntario, cuidador, servicio doméstico, familiar, religioso, hobby/amador. La investigación sugestiona a la promoción de la salud, prevención de enfermedades y rehabilitación de las personas mayores en sus aspectos biopsicosociales en el contexto de los papeles ocupacionales que pueden ser reasumidos o mantenidos.

Palabras clave: Apoyo social, Anciano, Terapia Ocupacional.

INTRODUÇÃO

O envelhecimento é um processo que, no plano individual, implica múltiplas trajetórias de vida e, no plano coletivo, se constrói sob diferentes influências de ordem sociocultural, tais como: acesso a oportunidades educacionais, adoção de cuidados em saúde e realização de ações que acompanham o curso da vida e se estendem às fases tardias desta, como a velhice. O aumento da longevidade é um fenômeno mundial, com isso, o Brasil ocupará o sexto lugar quanto ao número de idosos, alcançando, em 2025, aproximadamente 32 milhões de pessoas com 60 anos ou mais de idade, com maior sobrevida para as mulheres1,2.

Há uma feminização no processo de envelhecimento. Dados universais revelam que a vivência das mulheres é superior a dos homens, vantagem parcialmente atribuída às taxas de doenças letais maiores entre os homens idosos do que entre as mulheres idosas, que são atingidas por taxas maiores de morbidade.

O fato de as mulheres serem mais longevas significa mais risco à vantagem, pois implica riscos biológicos e variáveis sociológicas, originando o equilíbrio entre ganhos e perdas, passando a ser visto como problema médico-social. Portanto, o envelhecimento populacional obriga os países a dar maior ênfase à prevenção e ao tratamento de doenças crônicas não transmissíveis, devendo dar maior atenção para as políticas que promovam a saúde, bem como previsto na Política Nacional do Idoso e ainda no Estatuto do Idoso, contribuindo para a manutenção da autonomia e valorizando as redes de apoio social3,4,5,6.

As redes de apoio social, assim como o suporte social, são de extrema importância para a qualidade de vida do indivíduo idoso, portanto faz-se necessária a definição desses termos. A rede de apoio social pode ser definida como um conjunto de relacionamentos de um indivíduo ou de elos entre um conjunto de pessoas, enquanto o suporte social enfoca a qualidade das interações e como estas são avaliadas pelo indivíduo receptor.

As relações de apoio podem acarretar impacto na saúde física e mental do indivíduo idoso em um contexto de diminuição ou perda de papéis, mudança destes na família, no trabalho e na sociedade, aposentadoria e institucionalização permanente. Essas relações sociais sofrem modificações no decorrer de longos anos, o que justifica a importância de trabalhos como este, que prioriza a temática no processo de envelhecimento7.

O apoio social é composto pela estrutura das relações sociais que abrange a organização do vínculo entre pessoas e pode ser apresentada sob diferentes aspectos, tais como: número de relações ou papéis sociais que uma pessoa tem, frequência de contatos com vários membros de uma rede, bem como a função, que compreende aspectos qualitativos e comportamentais das relações sociais8,9.

O apoio social compreende quatro tipos: (1) apoio emocional, que abarca expressões de amor e afeição; (2) apoio instrumental ou material, que se refere aos auxílios concretos, como provimento de necessidades materiais em geral, ajuda para trabalhos práticos (limpeza de casa, preparação de refeição, provimento de transporte) e ajuda financeira; (3) apoio de informação, que envolve informações (aconselhamentos, sugestões, orientações) que podem ser usadas para lidar com problemas e resolvê-los; e (4) interação social positiva, que diz respeito à disponibilidade de pessoas com quem se divertir e relaxar. Ele é dividido ainda em relações formais, que são aquelas conservadas devido à posição e papéis desempenhados na sociedade, como: dentista, advogado, professor, entre outras profissões, ao passo que as relações informais são aquelas de maior importância pessoal e afetiva do que as relações mais especializadas e formais, sendo compostas por todos os indivíduos (família, amigos, vizinhos, colegas de trabalho, comunidade, entre outros) e pela ligação entre indivíduos com quem se tem uma relação familiar próxima ou com envolvimento afetivo10.

A definição de papel é um conceito sociológico que se refere a “um conjunto de atividades ou comportamentos que são efetuados por uma pessoa em uma situação particular, como prescrito pela situação”11. Os papéis que as pessoas escolhem e desempenham durante a vida organizam e influenciam todas as suas atividades diárias, determinando, em larga medida, aonde os indivíduos vão, como o tempo e o dinheiro são gastos, em quais atividades se envolvem e os tipos de relacionamentos que são desenvolvidos, sendo considerados ainda o centro da definição do “eu” social. Enquanto as pessoas adotam papéis e internalizam o comportamento esperado destes, surge a autoidentificação particular de cada indivíduo, já que os papéis são aspecto essencial à vida12.

No âmbito do indivíduo idoso, frente às perdas dos papéis, a Terapia Ocupacional possui importância para ajudá-lo a desenvolver tarefas significativas que façam parte de sua história de vida, do seu contexto, da sua experiência subjetiva, além disso, o auxilia nas tarefas de maior complexidade.

O terapeuta ocupacional em gerontologia visa manter, restaurar e melhorar a capacidade funcional do idoso, propiciando que ele permaneça ativo e independente o maior tempo possível, auxiliando-o na construção de projetos de vida na velhice.

Refletindo sobre a Terapia Ocupacional no cuidado ao indivíduo idoso frente aos papéis ocupados por eles na sociedade e suas redes de apoio social, verifica-se que a manutenção e construção de papéis ajudam a organizar o comportamento produtivo mediante o fornecimento de uma identidade pessoal, transmitindo expectativas sociais para o desempenho, organizando o uso do tempo e colocando o indivíduo na estrutura social, fortalecendo sua rede de suporte13,14.

O objetivo deste estudo foi verificar a existência de rede de apoio social e analisar os papéis exercidos por idosas de uma Instituição de Longa Permanência e idosas residentes na comunidade e a importância na manutenção e criação desses papéis.

MÉTODO

Trata-se de estudo quantitativo descritivo, baseado na busca pela compreensão da complexidade dos papéis ocupacionais e da rede de apoio social de idosas no bairro Abadia, município de Uberaba, durante o período de julho de 2009 a maio de 2010. A projeção por faixa etária e sexo do referido município é caracterizada por uma quantidade de 12.600 homens e 16.882 mulheres idosas com mais de 60 anos14.

A amostra do estudo contou com seis idosas do sexo feminino, sendo três de uma instituição de longa permanência para idosos (ILPI) e três residentes na comunidade. Os critérios de inclusão previam idade entre 60 e 75 anos, renda entre um e dois salários mínimos, residir com familiares para as idosas da comunidade, até dez anos de institucionalização para idosas da ILPI, não apresentar problemas psiquiátricos e/ou demências que prejudicassem a capacidade de comunicação, atingir escore mínimo de 22 pontos no Mini Exame do Estado Mental15 e, pertencer à mesma área adscrita, sendo assistida pela mesma equipe de Saúde da Família (ESF).

O estudo teve parecer favorável com número 1403/2009, do Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade Federal do Triângulo Mineiro e, o consentimento da ILPI e ainda o aceite dos sujeitos em participar da pesquisa por meio de assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, após orientação.

Aplicou-se a lista de identificação de papéis ocupacionais e o diagrama da escolta. Utilizou-se a versão brasileira da lista de identificação de papéis ocupacionais, um instrumento de origem americana criado pelo Frances Oakley11, terapeuta ocupacional, e validado para o português em 2005 pela terapeuta ocupacional Junia Jorge Rejeille Cordeiro. Este é um inventário escrito que exige aproximadamente 15 minutos para ser aplicado, dividindo-se em duas partes. A parte I avalia, com base em um tempo ininterrupto, os principais papéis ocupacionais que compõem a vida diária das entrevistadas. A parte II identifica o grau de importância que a respondente confere a cada papel. Há um total de dez papéis ocupacionais, sendo de estudante, trabalhador, voluntário, cuidador, serviço doméstico, amigo, membro de família, religioso, passatempo/amador e participante em organizações. Há também a categoria “outros” para os respondentes adicionarem papéis não listados.

O diagrama da escolta16,17,18 é dividido em parte estrutural e funcional, possuindo: nome das pessoas inseridas na rede, idade, sexo, círculo no qual a pessoa mencionada foi posicionada, tipo de relação com o participante (cônjuge, filho, neto, irmão, outros familiares, ou amigo), tempo decorrido desde que a relação teve início, frequência de contato e distância entre as residências do respondente e da pessoa colocada em sua rede. A frequência de contato é avaliada de acordo com a seguinte escala: 1-irregularmente; 2-anualmente; 3-mensalmente; 4-semanalmente; e 5-diariamente ou vivem juntos. Essa escala deve ser apresentada verbalmente ao participante para que ele, então, indique qual a melhor opção.

A distância entre residências (proximidade) é avaliada em horas de deslocamento de carro entre elas. Assim, parte-se de uma hora (60 minutos), podendo ser o tempo de deslocamento inferior (exemplo: 30 minutos). As características funcionais da rede de apoio são avaliadas com base em seis tipos de relação de suporte providos e recebidos pela pessoa em foco, ou seja, o respondente. Essas relações são: (1) confidenciar coisas que são importantes; (2) ser tranquilizado e estimulado em momentos de incerteza; (3) ser respeitado; (4) ser cuidado em situação de doença; (5) conversar quando está triste, nervoso ou deprimido; e (6) conversar sobre a própria saúde. Para as questões funcionais, solicita-se ao participante que olhe para o seu diagrama e indique nele aquelas pessoas de quem ele recebe cada um dos tipos de suporte e para quem ele dá cada um deles19. O diagrama é formado por três círculos concêntricos e hierárquicos, com o indivíduo foco no meio, em que cada círculo representa distintos graus de proximidade afetiva e de apoio social (dar e receber).

RESULTADOS

Neste artigo serão descritos os resultados que demonstraram impactos relevantes em relação à rede de apoio social e aos papéis ocupacionais na vida das idosas participantes do estudo. Os dados foram analisados por meio de estatística descritiva e análise de frequência. Buscou-se, assim, caracterizar descritivamente os aspectos estruturais e funcionais das redes de apoio das idosas.

No que se refere ao tamanho da rede, todos os respondentes da ILPI nomearam um total de 31 integrantes da rede frente a 44 da comunidade.

Quanto ao gênero dos integrantes da rede de apoio social, tanto para a ILPI como para a comunidade, confirmou-se um aumento do número de mulheres, sendo 68% e 84%, respectivamente.

Em relação ao contato com a comunidade, os integrantes de rede foram, em sua maioria, amigos (77%) e familiares (23%), tais como filhos, netos e irmãos. Já o contato com os integrantes foi de diária à semanal.

Para respondentes da ILPI, de modo geral, os integrantes da rede foram, em sua maioria, cuidadores (58%), tais como coordenadora, enfermeira e técnicos de enfermagem, além disso, familiares (29%) e amigos (13%). Esses resultados são, de certo modo, contrários ao esperado, ou seja, que os integrantes de rede do primeiro círculo (familiares) estivessem a menos tempo de deslocamento (ou seja, mais próximos) dos respondentes, mostrando que os integrantes mais próximos fisicamente são os cuidadores da ILPI, no qual se mantém contato diário. Já o restante dos contatos foi classificado como anual.

No que se refere ao aspecto de dar e receber apoio notou-se que, na ILPI, os integrantes da rede de quem mais recebem apoio são os cuidadores, situados no segundo círculo do diagrama, ou seja, o intermediário, que seriam aqueles não tão próximos afetivamente dos respondentes. Quanto aos integrantes de rede da comunidade, tanto os que fornecem apoio aos respondentes quanto os que deles recebem apoio estão, em sua maioria, situados no primeiro círculo do diagrama, ou seja, o mais interno e próximo ao respondente. Em sua maioria, os respondentes fornecem apoio aos familiares, tais como os filhos, netos, e irmãos, e recebem apoio não só de membros da família, mas também de amigos.

A análise dos seis tipos de apoio contemplados no Diagrama da Escolta para as amostras da ILPI e da comunidade revela que em todos os apoios, exceto o apoio “ser tranquilizado e estimulado em momentos de incerteza”, que obteve ausência de suporte e fornecimento, o número de respondentes que recebe apoio é basicamente superior ao dos que dão o apoio; já para comunidade, todos os apoios, exceto “ser cuidado em situação de doença”, o número de respondentes que dão apoio é superior ao dos que recebem. No apoio “ser tranquilizado e estimulado em momentos de incerteza”, os respondentes da ILPI unanimemente não recebem e não fornecem esse tipo de apoio. Já no apoio “cuidar em situação de doença”, os respondentes recebem esse tipo de apoio 100%, mas não o fornecem; já para a comunidade, esse apoio foi o mais fornecido, 100%.

As redes de apoio social ao idoso da ILPI são predominantemente formadas pelo tipo formal, constituída por cuidadores, enfermeiros, técnicos de enfermagem. Para as respondentes da comunidade, predominam as relações informais, marcadas pela “espontaneidade e reciprocidade”, auxiliando o idoso a manter os vínculos e proporcionando bem-estar. Considera-se como rede informal a família, a comunidade, os amigos e os vizinhos.

Quanto à distribuição dos papéis ocupacionais contínuos, referentes àqueles permanentes ao longo da vida, no passado, presente e futuro para as idosas da comunidade, estes foram formados predominantemente pelos papéis de cuidador e religioso; já para as da ILPI, foram de amigo e passatempo/amador, ambos os contextos em 100%. Portanto, verifica-se que alguns papéis podem ter influência direta no envelhecimento bem-sucedido. Outro papel importante para as idosas da comunidade foi o de cuidador, que se manteve continuamente com 100%, estando mais relacionado com a posição de avós, quando se encarregam dos netos, e ainda em alguns casos como de provedora de renda no lar. Já para a ILPI, houve um aumento de 33% para 67% desse papel, porém estando mais relacionado a pequenas ajudas com atividades, como fornecer um copo de água entre os residentes da instituição.

Quanto à distribuição dos papéis intensificados, que são aqueles já existentes, mas que apresentaram ao longo do tempo variação superiores, visto que, para as idosas da ILPI e da comunidade evidencia-se uma intensificação do papel de voluntário, respectivamente de 33% para 67%, e de 33% para 100%. Já de amigo, apenas para a comunidade, de 67% para 100%; e de cuidador apenas para a ILPI, de 33% para 67%.

Em relação ao papel de passatempo/amador para a ILPI, este se manteve continuamente com 100%; já para a comunidade, observou-se uma intensificação de 33% para 100%, porém, essas idosas apresentam atividades mais solitárias, tais como ver TV, ler, e ouvir rádio. Verificou-se que, para ambas as amostras, não houve o aumento de papéis referentes àqueles que surgem ao longo do tempo.

Um papel em que se observou diminuição e que apresentou declínio ao longo do tempo, para os dois grupos, foi o de membro de família, em que, na ILPI foi de 67% para 33%; e na comunidade, de 100% para 67%. Quanto ao desempenho de papéis futuros, nos grupos de idosas pesquisadas, notou-se uma congruência na escolha de todos os papéis futuros, como de estudante, trabalhador, voluntário, cuidador, serviço doméstico, amigo, membro de família, religioso, passatempo/amador, seguido de ausência para ambas do papel de participante em organizações, e ainda de uma diminuição do papel de membro de família.

DISCUSSÃO

No que se refere ao tamanho da rede, notou-se que as idosas da comunidade apresentam uma rede de suporte maior, o que pode estar diretamente relacionado aos fatores que a institucionalização pode acarretar nos idosos da ILPI, como o isolamento social, implicando a diminuição dos papéis exercidos por eles e de sua rede de apoio social.

Já as idosas que vivem na comunidade incluem a variável de socialização “fazer amigos”, as atividades exercidas nos grupos comunitário e o envolvimento em tarefas sociais e religiosas como facilitadores na interação com novas amizades, permitindo-lhes novas possibilidades de socialização e trocas de experiências num território que pode simbolizar o público ou o privado, a rua ou a casa, ou, ainda, o salão de festas de antigamente. Portanto, nesse caso, a saúde do idoso frente ao seu envolvimento em atividades e o exercício de seus papéis colaboram para mantê-lo saudável, permitindo-lhe ampliar ou manter sua rede de apoio social20.

Em relação ao gênero, encontrou-se o feminino como predominante, tanto na rede das idosas da comunidade como na ILPI. Sabe-se que, em razão do fato de as mulheres terem mais competências interpessoais (o que permite a elas manterem relações mais calorosas e íntimas), as relações sociais entre elas têm maior qualidade do que as relações entre os homens21.

Um aspecto particular tem origem no âmbito familiar, em que as mulheres são apontadas como as principais cuidadoras dos demais membros da família ao longo de suas vidas, o que pode estar associado à manutenção desse papel social ou à possibilidade de receber o cuidado dos familiares como retribuição22.

Quanto ao contato, foi menor nas entrevistadas da ILPI, o que é possível que o fato da institucionalização seja o maior indicador para o asilamento entre idosos, gerando a falta de suporte familiar23.

Com base nesses resultados, verifica-se que, para os respondentes da ILPI tenham uma correlação com a teoria da separação, no âmbito da diminuição da interação social como um processo inevitável caracterizado pela reciprocidade. As idosas começam a se retirar de muitas atividades e papéis sociais, ao mesmo tempo em que a sociedade à qual pertencem começa a abandoná-las.

Por conseguinte, o processo de institucionalização também vem a acarretar mudanças na interação social, além de acelerar o processo natural de envelhecimento e gerar maiores prejuízos psicossociais23.

Na comunidade, é cabível refletir sobre a importância da reciprocidade, pois o indivíduo influencia mutuamente aqueles com quem se relaciona e, também, a si próprio24. A reciprocidade instiga as relações e mobiliza as pessoas a se envolverem e a perseverarem em padrões de interação progressivamente mais complexos e, quanto mais presente no convívio, maior é a complexidade, ou seja, ela desempenha um papel fundamental na manutenção e no aprofundamento das relações humanas, bem como é vista nas relações da rede de apoio social das idosas da comunidade, que apresenta um maior número de integrantes e mantém ou executa mais papéis22.

Em relação a fornecer e dar apoio notou-se que, as idosas da ILPI recebem mais do que fornecem, ao contrário das idosas da comunidade. Em sua maioria, as idosas que residem em ILPI, por serem frágeis, não conseguem fornecer esse suporte, porém executam relações afetuosas e de amizade com as pessoas com quem convivem25.

Durante o envelhecimento, foi observado que a distribuição dos papéis contínuos, referentes àqueles permanentes ao longo da vida, no passado, presente e futuro, para as idosas da comunidade, foram formados predominantemente pelos papéis de cuidador e religioso; já para as da ILPI, pelos de amigo e passatempo/amador. Motivar os idosos a se envolverem em papéis de ajuda aos outros pode ter um efeito positivo na diminuição do sofrimento psíquico, porque os faz se sentirem úteis e envolvidos na família, na comunidade e com as pessoas com as quais convivem.

Outro fator importante é o de que a assistência dada a idosos não deve ser excessiva, pois, de outro modo, pode causar-lhes sofrimento.

Nessas situações, é importante dar aos idosos a oportunidade de agir reciprocamente, de modo que não se sintam demasiado dependentes ou como sobrecarga para os outros. Portanto, é fundamental minimizar as interações negativas e reforçar a antecipação do apoio disponível, porque essas variáveis têm efeitos relevantes no bem-estar de idosos. Outro papel importante para as idosas da comunidade é o religioso, considerado um espaço de coesão e criação de laços sociais ainda muito forte e expressivo na sociedade brasileira26.

O papel de amigo relatado por respondentes da ILPI é um indicador relevante das práticas de sociabilidade vigentes, principalmente entre idosos no meio urbano. Estudar as amizades entre idosos é também colocar em perspectiva o aspecto das afinidades e das escolhas que podem ser feitas nessa fase da vida, e não somente na juventude, no entanto, verifica-se que foi um papel contínuo para tais respondentes. Suas escolhas extrapolam o âmbito familiar e das relações consanguíneas e incluem, no cotidiano, pessoas escolhidas por outros motivos que não o da ideologia dos laços de sangue.

A intimidade e a reciprocidade implicadas nas relações de amizade favorecem a construção de uma identidade comum e o estabelecimento de laços de ajuda e de conforto emocional27.

Nas pesquisadas da comunidade o papel de cuidador manteve-se mais relacionado com a posição de avós, em que a responsabilização pelos netos é feita sem cobranças. As avós julgam os pais pela educação dos filhos, de modo a assumirem o cuidado diário de crianças28.

Quanto à distribuição dos papéis intensificados, foi visto que, para as idosas da ILPI e da comunidade, evidencia-se uma intensificação do papel de voluntário, já o de amigo apenas para a comunidade, e cuidador apenas para ILPI. Cabe refletir sobre esses dados por intermédio da Teoria da Atividade, segundo a qual as pessoas mantêm seus níveis de atividade e vão substituindo as atividades perdidas por outras novas e apropriadas às suas necessidades, envelhecem satisfatoriamente e resguardam seus vínculos e relações sociais29.

Para a permanência de um processo de envelhecimento saudável, é necessária a retomada de um fio condutor do ciclo da vida com base na criação de projetos e metas que tragam satisfações e perspectivas de futuro.

O idoso faz parte de um elenco em que o seu papel não é somente receber, mas também prover substancial ajuda para os outros. O engajamento em papel de voluntário informal gera interações significativas entre as idosas, aprimorando a saúde mental (senso de ajustamento, bem-estar subjetivo, aquisição de novas habilidades e socialização), física e a melhora na qualidade de vida destas pela troca de talentos, competências, benefícios e solidariedade humana.

Em relação às atividades de passatempo, notou-se que as idosas da ILPI apresentaram atividades mais solitárias, sendo que esse tipo de atividade está associado mais com o aumento da mortalidade do que com sua diminuição10. A mera atividade de diversão, diferente do trabalho ou da rotina da vida cotidiana, não é o que tem efeito na redução do risco de morrer, o efeito benéfico parece ser a atividade que envolve algum contato com outras pessoas, bem como as realizadas pelas idosas da comunidade.

Não houve papéis aumentados ao longo da vida, principalmente após o final da fase adulta, o que retrata a falta de projetos de vida na velhice. Esse dado é relevante, pois é necessário que os idosos se apossem com satisfação de sua vida em seus diferentes campos de atuação, buscando construir novos espaços de busca da realização de seus desejos.

Um papel em que se observou diminuição, que apresentou declínio ao longo do tempo, para ambos os grupos, foi o de membro de família. Isto pode estar relacionado à incapacidade da família de assumir um dos papéis que lhe foi destinado. Por meio da divulgação da ONU do Plano Internacional de Ação sobre o Envelhecimento, na década de 1980, foi atribuído ao Estado, à comunidade e à família a responsabilidade de problemas relacionados ao envelhecimento, sendo que a dificuldade permeia, sobretudo, as condições econômicas, sociais e políticas. O que ocorre nas sociedades contemporâneas é que a família passou a compartilhar essas funções com as organizações formais.

Nesse âmbito sustenta-se que existe necessidade de complementaridade nas sociedades industriais entre as organizações formais e informais na hora de alcançar determinadas metas. À medida que as redes formais são mais amplas e abarcadoras, a família se vê menos envolvida no cuidado e atenção materiais, passando a atuar como intermediária entre o idoso e a administração das instituições.

O fato desse papel de membro de família ter apresentado diminuição também pode estar relacionado, para as idosas da ILPI, com o afastamento afetivo, pois se sabe que, mesmo estando dentro de uma instituição, para a vida do idoso, o ambiente familiar é crucial, pois o contato com a família permite que os idosos se mantenham próximos ao seu meio natural de vida (a própria família)30. Além disso, o contato familiar preserva o seu autoconhecimento, valores e critérios. Já para as idosas da comunidade, essa diminuição pode estar relacionada à ausência de membros da família, por meio das perdas (óbitos) e do afastamento social, o que pode propiciar isolamento e solidão10.

Quanto ao desempenho de papéis futuros, para ambos os grupos de idosas, notou-se uma congruência na escolha de todos esses papéis, seguida de ausência para ambas do papel de participante em organizações, e ainda de uma diminuição do papel de membro de família. Os dois grupos pesquisados desejam como papel futuro o de estudante, bem como conferem a este um grau de muita importância.

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Autor notes

1 Terapeuta Ocupacional. Pós-Graduanda em Método de Terapia Ocupacional Dinâmica pelo Centro de Especialidades em Terapia Ocupacional (CETO), São Paulo
2 Terapeuta Ocupacional. Doutora em Enfermagem em Saúde Pública. Docente no Curso de Terapia Ocupacional na Faculdade da Universidade de Brasília Ceilândia – FCE
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