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Pesquisa com idosos sobre HIV/AIDS e sexualidade: relato de experiência
A Research about HIV/AIDS and sexuality involving elders: an experience report
Investigación con ancianos sobre VIH/SIDA y sexualidad: relato de experiencia
Revista Família, Ciclos de Vida e Saúde no Contexto Social, vol. 5, núm. 2, pp. 255-262, 2017
Universidade Federal do Triângulo Mineiro

Relato de Experiência


Resumo: Este artigo tem como objetivo relatar a experiência de acadêmicos de graduação como colaboradores na fase de coleta de dados, referente à aplicação de um instrumento quantitativo, em uma Unidade de Atenção ao Idoso no Município de Uberaba- MG. O número de sujeitos da pesquisa compreendeu 457 idosos. A coleta de dados da pesquisa teve duração de três meses, de setembro a novembro de 2015, e foi realizada por nove alunos da graduação em enfermagem da UFTM pertencentes a períodos distintos, após capacitação prévia devida. A abordagem do assunto sexualidade, a princípio, poderia ser um dificultador, mas na coleta de dados, ao contrário, muitos dos idosos se mostraram entusiasmados com o tema e incentivavam outros colegas a serem pesquisados. A participação dos acadêmicos na fase de coleta de dados deste estudo trouxe um grande aprendizado para todos envolvidos.

Palavras-chave: Idoso, Coleta de dados, Sexualidade.

Abstract: This article aims at reporting the experience of undergraduates, as collaborators in the data collection phase of the application of a quantitative instrument, in a Unit for the Care of Elders in the Municipality of Uberaba-MG. The research involved a number of 457 elder subjects. Data collection lasted for three months, from September to November, 2015, and was conducted for nine undergraduate nursing students at UFTM. The students were from distinct semesters of the course, and were adequately trained before the collection. The approach of the subject "sexuality", at first, could be a difficulty, but during data collection, just the opposite happened, as many of the elders seemed enthusiastic with the theme and encouraged other colleagues to participate. All people involved learned a lot with the participation of undergraduates in the data collection phase of this study.

Keywords: Aged, Data collection, Sexuality.

Resumen: Este artículo tiene como objetivo relatar la experiencia de académicos de graduación como colaboradores en la fase de colecta de datos, referente a la aplicación de un instrumento cuantitativo, en una Unidad de Atención al Anciano en el Municipio de Uberaba- MG. El número de sujetos de la investigación comprendió 457 ancianos. La colecta de datos de la investigación tuvo duración de tres meses, de septiembre a noviembre de 2015, y fue realizada por nueve alumnos de graduación en enfermería de la UFTM pertenecientes a períodos distintos, después de la capacitación previa debida. El abordaje del asunto sexualidad, al principio, podría ser un obstáculo, pero en la colecta de datos, al contrario, muchos de los ancianos se mostraron entusiasmados con el tema e incentivaron a otros colegas a ser investigados. La participación de los académicos en la fase de colecta de datos de este estudio trajo un gran aprendizaje para todos los envueltos.

Palabras clave: Anciano, Recolección de datos, Sexualidad.

INTRODUÇÃO

O envelhecimento populacional é um fenômeno mundial, e no Brasil, faz parte das mudanças ocorridas nos indicadores de saúde, podendo ser observado pela queda da fecundidade e de mortalidade, aumento da esperança de vida e desenvolvimento tecnológico no tratamento de doenças, especialmente as Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT). Embora o prolongamento da vida seja um demonstrativo de melhores condições de sobrevivência, o envelhecimento deve ser concebido com base em indicadores de qualidade da existência. Não basta viver muito, é importante viver bem1.

A sexualidade é um componente inerente à vida, que se desenvolve em um processo contínuo, tendo início antes mesmo do nascimento e só se encerrando após a morte2. A estruturação da sexualidade é influenciada por fatores biológicos, fisiológicos, emocionais, sociais e culturais que repercutem na vida e na saúde dos seres humanos. A sexualidade também pode ser entendida como a maneira com que cada ser humano se expressa através de olhares, cheiros e carícias, portanto, não se trata apenas do ato sexual. É também uma parte intercomunicante de um indivíduo consigo mesmo e com aqueles com os quais se relaciona ao longo de sua vida, influenciando sua maneira de ser e de se posicionar no mundo que o cerca2. Ter uma vida sexual saudável e satisfatória é muito importante para se manter confiante e com autoestima. Sendo assim, o exercício sexual é uma prática natural que deve persistir por toda a vida.

A sexualidade quando relacionada ao envelhecimento, traz mitos e tabus a serem superados, e tudo acaba por desestimular a vida sexual dessas pessoas, já que para a sociedade, manter relações sexuais depois do envelhecimento não é uma prática culturalmente aceita, sendo vista como algo anormal, vergonhoso e imoral. A sexualidade na terceira idade deve ser compreendida como componente da totalidade deste indivíduo, devendo ser considerada como um fator biopsicossociocultural, como em outras faixas etárias. A sexualidade saudável adquire papel fundamental na vida de idosos, e por suas complexidades, homens e mulheres idosos necessitam de apoio e medidas que visualizem a promoção da qualidade de vida no envelhecimento, além da quebra dos diversos tabus que circundam a sexualidade na terceira idade2.

Em decorrência da escassez de campanhas dirigidas aos idosos para a prevenção de ISTs, aliada ao preconceito em relação ao uso de preservativos nessa população e à sua maior atividade sexual, um segmento importante da população é exposto ao risco de contrair infecções pelo HIV (Vírus da Imunodeficiência Humana). Além disso, os profissionais da saúde não estão adequadamente treinados para o pronto diagnóstico de ISTs nessa faixa etária, em que, em geral, as enfermidades crônico-degenerativas têm um papel predominante3.

Desta forma, constata-se, na contramão das estatísticas mundiais que mostram a redução da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS) em outros grupos etários, um aumento significativo da doença em homens e mulheres na terceira idade. De acordo com dados do Ministério da Saúde (MS), a presença de HIV na terceira idade cresceu mais de 80 % nos últimos 12 anos, devido em grande parte ao aumento da vida sexual e à falta de uso de preservativo4.

Considerando os aspectos envolvidos na ocorrência da doença e os índices epidemiológicos atuais, os dados obtidos nesse estudo podem contribuir para se compreender o conhecimento do idoso acerca da HIV/AIDS e trazer subsídios para intervenções educativas pelos profissionais de saúde com vistas à prevenção das DSTs/AIDS e/ou o controle e retardo dos agravos decorrentes destas.

O reconhecimento e confirmação dos principais desconfortos e problemas enfrentados na sexualidade da pessoa idosa podem fornecer suporte para que a sexualidade dessa população seja reconhecida e desmistificada, buscando mecanismos que possam minimizar tais problemas e visem à melhora da qualidade de vida.

O desenvolvimento de pesquisa, como parte da manutenção do tripé do ensino público de graduação no Brasil, tem sido uma prática cada vez mais comum e incentivada. O entendimento de que o ensino não pode se dar de forma dissociada da problematização da realidade tem fomentado a pesquisa em cursos de graduação. Isso também está aliado à compreensão de que o desenvolvimento de uma área do conhecimento e de uma profissão dão-se mediante conhecimentos que tenham potencialidade para a geração de novas abordagens e, assim, atendam às demandas da contemporaneidade, além de proporcionar a participação dos sujeitos que a constituem5.

Com base nisso, se apresenta a experiência de coleta de dados de uma pesquisa que fez parte de um projeto acadêmico para construção de um trabalho de conclusão de curso, de uma aluna pertencente a um grupo de pesquisa.

O objetivo deste artigo é relatar a experiência de acadêmicos de graduação como colaboradores na fase de coleta de dados, referente à aplicação de um instrumento quantitativo em uma Unidade de Atenção ao Idoso no Município de Uberaba-MG. Isto, pois, a proposta é compartilhar a experiência vivida pelos alunos, com vistas a expor facilidades e dificuldades para implementação do projeto na fase de campo (que por sua vez constitui a coleta de dados), bem como fornecer suporte para outros alunos que buscam realizar trabalhos com públicos semelhantes.

MÉTODO

Trata-se de um relato de experiência que apresentará as experiências proporcionadas pela participação de alunos de graduação na fase de coleta de dados de um projeto de pesquisa. O grupo de trabalho foi composto por acadêmicos de graduação voluntários.

Como primeiro momento, foram selecionados alunos voluntários através de análise de perfil e disponibilidade de horários para participação na atividade. Como segundo momento esses alunos foram capacitados pelos coordenadores no que diz respeito à aplicação dos instrumentos e conduta durante as entrevistas.

A pesquisa foi realizada na Unidade de Atenção ao Idoso (UAI) vinculada à Secretaria de Desenvolvimento Social (SEDS) do município de Uberaba – Minas Gerais. O número de sujeitos da pesquisa compreendeu 457 idosos. Os idosos foram abordados nos grupos de convivência, onde foram explicados os objetivos da pesquisa. Foi aplicado o Mini Exame do Estado Mental (MEEM) e aqueles cujo escore foi satisfatório foram encaminhados para uma sala reservada com o propósito de iniciar a entrevista.

Os dados foram coletados, no período de setembro a novembro de 2015, a partir de um instrumento estruturado denominado QHIV3I, desenvolvido e validado em 20086 no Brasil, questionário esse que aborda o HIV/AIDS na terceira idade. O QHIV3I abrange características gerais como nível socioeconômico, idade, tempo de estudo, presença de parceiro fixo e a religião a que o participante pertence. Para a coleta dos dados sobre sexualidade foram utilizados questionários que avaliam o quociente sexual masculino (QS-M) e feminino (QS-F). Ambos os questionários foram desenvolvidos e validados no Brasil, possuem linguagem acessível, e abrangem os diferentes elementos funcionais e relacionados a desempenho/satisfação sexual de ambos os sexos. Os escores totais do QS-M e QS-F variam de 0 a 100 e, quanto maior o valor, melhor o desempenho/satisfação sexual do indivíduo investigado.

Este artigo privilegiará a experiência vivencial dos alunos que coletaram os dados na UAI/SEDS-Uberaba.

Ressalta-se que esta pesquisa foi realizada de acordo com as exigências da Resolução 466/12, do Conselho Nacional de Saúde, e aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Triângulo Mineiro, através da plataforma Brasil sob o número CAAE 47386515.9.0000.5154.

RESULTADOS

Houve a participação de nove graduandos de Enfermagem, para a coleta de dados com 457 idosos, entre setembro e novembro de 2015.

Em linhas gerais, espera-se certa resistência por parte dos idosos, o que não se confirmou, embora deva ser considerarado que as entrevistas foram realizadas em um espaço para idosos. Tais espaços, em geral, podem ser diferentes daqueles de usuários de outros serviços, sobretudo os de saúde, que em geral recebem pessoas em situação de doença.

Realizou-se com esses alunos dois encontros para capacitação, que abordavam, entre outras coisas, os instrumentos, forma de captação dos idosos, além de como abordar temáticas que na sociedade se mostram debatidas de forma incompleta.

Os alunos voluntários foram separados em grupos com no mínimo dois, respeitando a disponibilidade dos integrantes, e foram realizados plantões durante todo o funcionamento da unidade de saúde, buscando maior adesão de idosos à pesquisa. A população alvo era constituída por 900 idosos cadastrados na Unidade, que realizavam com frequência alguma atividade disponibilizada pela unidade. O número de idosos entrevistados por alunos variou conforme o tempo de permanência e afinidade mostrada pelos idosos ao serem convidados para participar do estudo.

Participaram da pesquisa um total de 457 idosos, dos quais 74% eram do sexo feminino (n=338) e 26% do sexo masculino (n=119). 51% dos entrevistados estavam na faixa dos 60 aos 69 anos de idade, 51,8% afirmaram não possuir parceiro, 51% relataram receber renda mensal de até um salário mínimo, e 63,6% afirmaram a prática da religião católica.

Inicialmente, buscou-se, junto à secretaria da unidade, a lista de frequência de todas as atividades disponibilizadas. Porém, no momento da pesquisa, tornou-se inviável a utilização desta, por se tratar de um local com grande fluxo e com grande variabilidade de idosos durante cada semana nas atividades. Nesse contexto, foi escolhida para a abordagem dos idosos a sala de espera da unidade, que era ampla e constituía o trajeto de idosos para as atividades de maior escolha, como Zumba e Hidroginástica. Um número elevado de idosos usava a sala para aguardar suas próximas atividades.

A abordagem dos idosos foi realizada de maneira simples. Inicialmente, eles eram convidados a participarem da pesquisa. Nesse momento, se explicava a respeito do projeto e a importância de contribuir para o desenvolvimento de pesquisas. Observou-se que a maioria dos idosos entendia a proposta e seus objetivos e queria responder às perguntas; alguns idosos, ao verem a movimentação dos acadêmicos que vestiam jaleco, se ofereciam para participar do trabalho.

A abordagem dos indivíduos estudados ocorreu de forma amistosa, e os idosos que frequentam a Unidade se apresentaram muito receptivos – inclusive aqueles que não tinham interesse em participar. Abordar o assunto, a princípio, poderia dificultar a realização das entrevistas, mas as práticas da coleta demonstraram ao contrário: muitos dos idosos se mostraram entusiasmados com o tema e incentivaram outros colegas a participarem.

Foi possível observar grande procura pela aferição de pressão. O grupo cogitou adotar a medida a fim de aumentar o número de aderentes, porém, decidiu-se que não seria viável, pois poderia levar a um viés de seleção na pesquisa. Buscando maior adesão, os alunos passaram a buscar os idosos em outros ambientes da instituição.

Porém com o passar dos dias, a presença dos alunos não era mais algo tão novo, e as dificuldades de adesão começaram a se manifestar. O número de participantes interessados caiu gradativamente.

DISCUSSÃO

É de suma importância compreender o envelhecimento ativo e saudável para que se possa criar estratégias eficazes e promover a saúde dos idosos, já que o envelhecimento é parte natural do ciclo de vida e merece atenção específica. Dentro dessas estratégias, encontra-se a formação de centros de convivência que possibilitam ações de saúde, como: atividade física, recreação, oportunidades para alfabetização, entre outros, que promovam a convivência saudável e possibilitem envelhecimento ativo7,8.

Com base na importância dos centros de convivência para idosos, escolheu-se a Unidade de Atenção ao Idoso da cidade de Uberaba-MG, para realizar uma pesquisa quantitativa, que buscou analisar o conhecimento de idosos acerca do HIV/AIDS, e o quociente sexual dessa população.

A Unidade de Atenção ao Idoso é um espaço regido pela Prefeitura do Município, e é Vinculada à Secretaria de Desenvolvimento Social, que atende indivíduos maiores de 55 anos. Fundada em 1986 para agregar e atender a todo e qualquer idoso interessado que derive de bairros da cidade, ela fornece um espaço de interação entre a população idosa. Trata-se de uma instituição que fornece subsídio para que os idosos busquem qualidade de vida, promovendo exercício físico por meio de atividades como: hidroginástica, ginástica de salão, Zumba, musculação, alongamento, informática, e outras atividades recreativas como jogos, ensaios musicais, baile às sextas-feiras, bem como aulas de costura e bordado.

A capacitação dos entrevistadores ocorreu em período que antecedeu a pesquisa, e é importante por possibilitar aos envolvidos o preparo para todo o processo. Ela fornece conhecimento do contexto e estrutura da pesquisa, de peculiaridades relacionadas ao campo e aos sujeitos. De uma forma geral, a capacitação adequadamente planejada e conduzida oferece aos participantes a condição de coparticipes em todo o processo, e com isso, é uma garantia melhor do sucesso da pesquisa e do aprendizado dos envolvidos9.

Para coleta de dados foram utilizados três instrumentos, sendo eles: Mini exame do estado mental, que realiza o rastreamento de forma rápida e objetiva das funções cognitivas, instrumento comumente utilizado com este público alvo; o instrumento QHIV3I, desenvolvido e validado no Brasil em 2008 por Lazzaratto6, que aborda questões relacionadas a doenças, formas de transmissão, tratamento e manifestação; e o instrumento QS-versão feminina e masculina, que avalia o quociente sexual, desenvolvido e validado no Brasil.

O instrumento Mini-exame do estado mental foi utilizado para seleção, e foram considerados apenas aqueles que possuíam cognição mínima para responder aos demais instrumentos. Houve raras eliminações, devido ao fato de que a unidade contém uma grande quantidade de idosos ativos e não dependentes. Ainda foi possível observar diversos relatos de que o Mini-mental deixou a pesquisa cansativa. Também foi possível perceber que os idosos se sentiam desconfortáveis com as perguntas muito simples do instrumento, como “onde estamos” e “qual é o dia da semana”. Alguns idosos fizeram os seguintes questionamentos: “Está achando que eu sou gagá?”, “Isso é para saber se tenho Alzheimer? ”, “Você acha que eu não me lembro de nada? ”, já outros se divertiam com as questões e buscavam saber do resultado.

Ao serem questionados sobre HIV/AIDS, os idosos mostraram possuir conhecimentos sobre as formas de transmissão e diagnóstico do vírus (90,2% acertaram a questão que indagava sobre o diagnóstico laboratorial do vírus causador do HIV/AIDS), no entanto, 88,2% deles afirmaram nunca ter usado camisinha durante as relações sexuais, o que pode possuir ligação com as crenças e práticas religiosas, interferindo diretamente na utilização dos métodos anticonceptivos e que previnem doenças sexualmente transmissíveis, como é o caso da camisinha10.

Uma das questões que podem permear a falta de conhecimento relacionado às manifestações da doença são as escassas políticas direcionadas a essa faixa etária, sendo que, mesmo atualmente, há uma predileção pela população jovem, gestantes, usuários de drogas e outros grupos que são colocados como vulneráveis à infecção, apesar de já se discutir que os idosos, devido a diversas características que compõe o processo de envelhecimento, também se caracterizam como vulneráveis à infecção pelo HIV11.

A forma mais eficaz de se proteger contra o HIV/AIDS é usando o preservativo, mas grande parte dos idosos participantes afirmou não o utilizarem, em ambos os sexos, afirmando ter conhecimento da importância do uso. O que vai de acordo com outras pesquisas já realizadas11-15.

Muitos aspectos estão relacionados ao não uso de preservativo, e além dos citados acima, podemos mencionar a maior dificuldade de aceitação, principalmente pelo homem, uma vez que acreditam que o preservativo pode diminuir o prazer e a sensibilidade, além de não acharem que as mulheres devem cobrar o uso, pois isso poderia significar que as mesmas não confiam no parceiro16.

O indivíduo envelhecido necessita que o profissional de saúde esteja preparado para lidar com diversas barreiras, sendo que muitas vezes a realização de uma ação de educação em saúde pode ficar prejudicada. A limitação de campanhas em relação à sexualidade e a doenças associadas voltadas restritamente para a população de risco, em décadas passadas, é apenas uma das dificuldades na interação e educação sexual de idosos12,17.

Na atualidade, ainda se depara com outros obstáculos, considerando que as campanhas, além de ainda focadas no público jovem, demonstram a existência e manutenção de conceitos pré-estabelecidos em relação ao envelhecimento.

Quanto ao campo da sexualidade, pode-se perceber que a maioria dos homens se sentiam motivados a permanecer sexualmente ativos, pois a taxa de inatividade sexual dos idosos foi de 7,6%, enquanto que as mulheres se mostravam desestimuladas, demonstrando taxa de 57,7%, de inatividade sexual ou prática considerada ruim, principalmente pelo desconhecimento das alterações fisiológicas do envelhecimento e suas alternativas, bem como pela ausência de um parceiro, que é apontado por muitas como a única forma da manutenção da sexualidade10.

Trabalhar a sexualidade de idosos é estar preparado para lidar com tabus, medos, crenças e limitações, e para, muitas vezes, encontrar indivíduos que não encaram o idoso como uma pessoa sexualmente ativa, e assim acreditam que os idosos não pensam e não devem pensar em sexo, e que são incapazes de despertar desejo sexual14,16. Graças a essas crenças, a abordagem ao idoso fica prejudicada, fazendo com que as ações de prevenção a doenças sejam ineficazes, levando a um diagnóstico tardio e tratamento inadequado, e colaborando para o agravamento dos sintomas da doença, chegando muitas vezes à morte do paciente16.

Um estudo com enfermeiros indicou que esses profissionais percebem a sexualidade nessa faixa etária como tabu e com preconceitos. Esses profissionais reconhecem que as ações voltadas aos idosos dentro dessa temática são poucas ou ausentes e que isso é uma falha. É essencial reforçar a eles que passem a enxergar o envelhecimento além das doenças, que busquem uma reestruturação da assistência, para que se promova de forma efetiva a saúde e o envelhecimento ativo, não esquecendo que a sexualidade é um fator inerente à vida e que também compõe o conceito de envelhecimento ativo17.

Assim é importante um maior amadurecimento dos profissionais da saúde, principalmente enfermeiros, diante desta temática, pois estudos apontam lacunas no conhecimento dos idosos em relação à infecção pelo HIV14,16. Esta reflexão possibilita readequações das ações em saúde para se tornarem proativas e eficientes, podendo desta forma elevar a qualidade de vida desta população.

O conhecimento do local e a relação com o perfil de usuários permite inferir o impacto dele sobre a saúde de uma forma ampliada. A percepção dos envolvidos no estudo sobre a instituição foi muito positiva, já que esta conta com espaço amplo, arejado e adaptado às necessidades dos idosos, além de contar com uma equipe prestativa, composta por equipe administrativa, serviços de enfermagem, assistência social, psicologia, educadores físicos, entre outros e que se mostrou um agente facilitador na proposição das atividades de coleta do estudo.

CONCLUSÃO

A participação dos acadêmicos na fase de coleta de dados deste estudo trouxe um grande aprendizado para todos os envolvidos, uma vez que puderam vivenciar desde o primeiro momento as dificuldades de um projeto de pesquisa e as dúvidas dos idosos referentes à sexualidade e ao HIV/AIDS, o que contribui para que pensem em intervenções educativas quanto à prevenção e/ou controle e retardo de agravos decorrentes destas, podendo minimizar tais problemas e trazer melhoria da qualidade de vida.

Muitos idosos ficam sem acesso a informações pela falta de oportunidades em conversar sobre o assunto, que ainda é algo banalizado. Com a experiência e vivência dos alunos com essa população, se tornou necessário escrever outro projeto para trabalhar a sexualidade e as doenças sexualmente transmissíveis em um grupo de educação em saúde, a fim de propiciar um ambiente de troca de saberes, levando à população alvo, conhecimentos necessários para o aumento da qualidade de vida e a diminuição de agravos à saúde.

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Autor notes

1 Enfermeira. Mestranda em Atenção à Saúde pela UFTM, Uberaba/MG/Brasil. ORCID 0000-0001-9986-6020 E-mail: bruninhastephanie@hotmail.com
2 Acadêmica do curso de enfermagem da UFTM, Uberaba/MG/Brasil. ORCID 0000-0001-7748-4777 E-mail: nayarafreitas.a_2010@hotmail.com
3 Acadêmica do curso de educação física da UFTM, Uberaba/MG/Brasil. ORCID 0000-0003-4562-3554. E-mail: carolina.delich@gmail.com
4 Acadêmica do curso de enfermagem da UFTM, Uberaba/MG/Brasil. ORCID 0000-0002-5900-7712 E-mail: vitoria.mrts@hotmail.com
5 Enfermeira. Especialista em Saúde da Família pela UNINTER. Mestranda em Atenção à Saúde pela UFTM, Uberaba/MG/Brasil. ORCID 0000-0002-5173-5328 E-mail: giovanna.gnardelli@gmail.com
6 Enfermeira. Mestre em Atenção à Saúde. Professora Substituta do Curso de Graduação em Enfermagem da UFTM, Uberaba/MG/Brasil. ORCID 0000-0002-8210-2873 E-mail: elianadaudenci.enfermagem@gmail.com
7 Enfermeiro. Especialista em Saúde Pública. Especialista em Enfermagem Médico Cirúrgica. Especializando em Psicanálise pelo NPP e Faculdade Einstein da Bahia. Mestre em Administração em Serviços de Saúde. Doutor em Ciências Sociais. Pós Doutor em Serviço Social. Professor Adjunto IV nos Programas de Pós Graduação em: Atenção à Saúde e Psicologia da UFTM, Uberaba/MG/Brasil. ORCID 0000-0002-8698-5650 E-mail: alvaroenf@hotmail.com


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