Artigos Originais

O discurso das mães de bebês em tratamento para icterícia neonatal

The speech of mothers of babies in newborn jaundice treatment

El discurso de madres de bebés en tratamiento de ictericia neonata

Priscilla Zalesk 1
Não Informado, Brasil
Cledir Miguel Raissa 2
Hospital Pequeno Príncipe, Brasil
Adriana Moro 3
Universidade de Contestado, Campus Mafra, Brasil
Idonézia Collodel Benetti 4
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Brasil
Luciana Maria Mazon 5
Instituto Federal de Santa Catarina., Brasil

O discurso das mães de bebês em tratamento para icterícia neonatal

Revista Família, Ciclos de Vida e Saúde no Contexto Social, vol. 1, pp. 338-346, 2018

Universidade Federal do Triângulo Mineiro

Resumo: Esta investigação tem como objetivo verificar o conhecimento popular e o conhecimento científico das mães de bebês com icterícia em tratamento com fototerapia. Tratou-se de uma pesquisa de campo, com observação direta e abordagem qualitativa, baseada no Discurso do Sujeito Coletivo (DSC), realizada em meados de 2011. A pesquisa foi realizada em uma maternidade estadual na cidade de Mafra em Santa Catarina, com mães de bebês em fototerapia para o tratamento da icterícia. Evidenciaram-se 7 ideias centrais e 11 DSCs. Os resultados revelaram que as mães entrevistadas não reconheceram a icterícia neonatal como um agravo, assim como a fototerapia como medida de tratamento. Evidenciou-se que as mães trazem consigo crenças e conhecimentos populares sobre a icterícia, os quais precisam ser respeitados e valorizados para o fortalecimento do vínculo e do cuidado.

Palavras-chave: Icterícia, Relações mãe-filho, Cultura.

Abstract: This investigation aims to check the popular knowledge and scientific knowledge of mothers of babies with jaundice treated with phototherapy. This was a field research, with direct observation and qualitative approach, based on the Discourse of the Collective Subject (DCS), held in mid-2011. The survey was conducted in a state maternity ward in Mafra, Santa Catarina, Brazil, with mothers of babies in phototherapy treatment of jaundice. 7 central ideas and 11 CSD were shown. Results revealed that mothers interviewed did not recognize neonatal jaundice as an illness or phototherapy as a treatment. It was evident that the mothers bring with themselves popular beliefs and knowledge about jaundice, which need to be respected and valued to strengthen bond and care.

Keywords: Jaundice, Mother-child relations, Culture.

Resumen: Esta investigación tiene como objetivo verificar el conocimiento popular y el conocimiento científico de las madres de bebés con ictericia en tratamiento con fototerapia. Se trató de una investigación de campo, con observación directa y abordaje cualitativo, basada en el Discurso del Sujeto Colectivo (DSC), realizada a mediados del 2011. La investigación fue realizada en una maternidad estatal en la ciudad de Mafra en Santa Catarina, Brasil, con madres de bebés en fototerapia para el tratamiento de la ictericia. Se evidenciaron 7 ideas centrales y 11 DSCs. Los resultados revelaron que las madres entrevistadas no reconocieron la ictericia neonatal como algo grave, así como la fototerapia como medida de tratamiento. Se evidenció que las madres traen consigo creencias y conocimientos populares sobre la ictericia, los cuales precisan ser respetados y valorizados para el fortalecimiento del vínculo y del cuidado.

Palabras clave: Ictericia, Relaciones madre-hijo, Cultura.

INTRODUÇÃO

A hiperbilirrubinemia, icterícia ou amarelão como é popularmente conhecida, é um achado comum na maioria dos recém-nascidos (RN) prematuros e a termo, geralmente associada ao baixo peso, amamentação tardia ou ineficiente, entre outras possíveis causas. Caracteriza-se por alta concentração de bilirrubina (acima de acima de 2 mg/dl) no plasma que resulta em cor amarelada da pele, escleróticas e mucosas, pelo depósito desta substância nestes locais1,2. O acúmulo de bilirrubina no cérebro leva ao aparecimento de dano cerebral irreversível, o kernicterus. A amamentação é um dos fatores mais significativos envolvidos no kernicterus em lactentes1.

A fototerapia é a forma de tratamento mais utilizada para diminuir os níveis de bilirrubina, em decorrência de sua natureza não invasiva, alta disponibilidade, baixo custo e baixa ocorrência de efeitos colaterais. A luz favorece a excreção de bilirrubina através da fotoisomerização, que altera a estrutura da bilirrubina para uma forma solúvel de excreção mais fácil3.

A icterícia, na maioria dos casos, é caracterizada como fisiológica, iniciando-se após as primeiras 24 horas de vida do RN e durando, em média, uma semana. Mas, também pode se relacionar a uma síndrome ou doença, surgindo an­tes das primeiras 24 horas de vida. Diante disto, é importante que o seu tratamento seja realizado imediatamente após sua descoberta1, pois se não tratada, pode ocasionar lesão grave, acometendo prioritariamente o sistema nervoso1. As complicações incluem encefalopatia bilirrubínica ou kernicterus, no qual a bilirrubina atravessa a barreira hematoencefálica imatura, precipitando-se nos núcleos da base e em outras áreas cerebrais4. Enquanto a bilirrubina é neuro-citotóxica, é também um potente antioxidante, contribuindo para melhora de algumas condições.

Verifica-se, na prática, que o conhecimento das mães com bebês que apresentam icterícia, principalmente em relação ao tratamento é gerador de perturbação e nervosismo na mãe e/ou família, ao ver seu filho exposto a um tratamento que lhes é desconhecido. A mãe pode ser tomada por uma gama de sentimentos ao ver seu filho diante do tratamento direcionado à redução da icterícia5.

Para os profissionais de saúde, iniciar a fototerapia em um neonato é um procedimento terapêutico bastante comum, pois faz parte das rotinas as quais já estão familiarizados6, fazendo parecer simples e incipiente. Para a mãe, entretanto, que não conhece o tratamento, ou nem sequer sabe o porquê da sua utilização, o significado deste procedimento pode parecer assustador ou, no mínimo, estranho, de acordo com a sua percepção em relação ao tratamento, seus riscos e benefícios.

Diante destas informações, torna-se relevante para a enfermagem identificar mitos das mães em relação à icterícia neonatal, para que se possa cuidar de maneira humanizada, transmitindo as informações de forma segura. Portanto, é fundamental que se estabeleça comunicação adequada entre a equipe de saúde e a mãe7,8.

Esta investigação tem como objetivo verificar o conhecimento popular e o conhecimento científico das mães de bebês com icterícia em tratamento com fototerapia.

MÉTODO

Ancorada no método exploratório-descritivo, esta é uma pesquisa de campo, com observação direta e abordagem qualitativa, baseada no Discurso do Sujeito Coletivo (DSC)9. A pesquisa foi realizada em uma maternidade do município de Mafra, Estado de Santa Catarina, sendo esta uma instituição pública administrada pelo governo do Estado, através da Secretaria de Estado da Saúde, voltada para o atendimento obstétrico e neonatal.

Com o passar dos anos, desde sua inauguração em 15 de março de 1972, esta instituição foi se tornando referência para a região do planalto Norte Catarinense na assistência à gestante e ao recém-nascido de alto risco. A referida instituição foi a primeira do sul do Brasil a conquistar o título de “Hospital Amigo da Criança”, mantendo-o até hoje em função do comprometimento com o trabalho realizado em seu banco de leite, incentivando, apoiando e promovendo o aleitamento materno10.

A coleta de dados foi realizada na unidade de alojamento conjunto. O universo da pesquisa foi composto por mães com recém-nascidos internados no alojamento conjunto da maternidade em estudo. A escolha dos sujeitos da pesquisa aconteceu de acordo com a ocorrência dos casos de icterícia no período de coleta, que teve início no dia 05 de julho de 2011 e término em 17 de agosto de 2011.

Segundo informações coletadas no livro de registro diário da instituição, no ano de 2010, no período de junho a dezembro foram registrados 34 bebês internados no alojamento conjunto em tratamento de fototerapia. Baseando-se nestes dados, a amostra da pesquisa foi composta de sete participantes (20% da média do semestre anterior).

Foram incluídas na pesquisa mulheres, mães de crianças que estavam em tratamento para icterícia, utilizando fototerapia no alojamento conjunto; que tinham idade igual ou superior a 18 anos, no período estabelecido para a coleta e que concordaram livre e espontaneamente em participar desta pesquisa assinando o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa, pelo Parecer consubstanciado número 221/2011.

A coleta de dados foi realizada a partir de um roteiro de entrevista semiestruturado. As entrevistas foram gravadas e transcritas na íntegra em diário de campo. Os dados foram analisados por meio do DSC, que consistiu em analisar depoimentos provenientes de questão abertas, agrupando os estratos dos depoimentos de sentido semelhante em discursos – sínteses redigidas na primeira pessoa do singular, como se uma coletividade estivesse falando11.

Os passos seguidos na produção do DSC são chamados de operadores, sendo eles: Expressões Chave; Ideias Centrais; Ancoragens; e o Discurso do Sujeito Coletivo em si12. Todas as mães receberam informações sobre a pesquisa, sendo-lhes assegurado o anonimato, utilizando-se, para isso, identificação com a letra M seguida dos números de 1 a 7, representando as sete mães investigadas.

RESULTADOS

Análise do perfil das participantes

As mães se encontravam na faixa etária entre 18 e 38 anos, sendo a maioria com idade superior a 25 anos. Os recém-nascidos dessas puérperas estavam entre quatro e 13 dias de vida e permaneceram no máximo dois dias em fototerapia. Todas as participantes entrevistadas tinham companheiros e, no mínimo ensino fundamental completo, sendo que duas possuíam ensino superior completo, três delas, o ensino médio completo e duas mães, ensino médio incompleto.

Apenas três delas tinham vínculo empregatício e as demais se auto referiram como donas de casa. Cinco mulheres reportaram que sua renda familiar se encontrava acima de dois salários mínimo e duas relataram renda entre um a dois salários mínimos. Em relação à quantidade de filhos, três delas afirmaram que aquele era o primeiro filho e quatro delas tinham de dois a três filhos. Tais dados estão na Tabela 1.

Perfil de mães
de RNs com icterícia, Maternidade de Mafra/SC, 2011.
Tabela 1.
Perfil de mães de RNs com icterícia, Maternidade de Mafra/SC, 2011.

Todos os RN das mães entrevistadas tinham mais de 48 horas de vida. Para responder aos objetivos específicos desta pesquisa, também foram coletados dados referentes ao conhecimento prévio das participantes em relação à icterícia; se elas já tinham algum conhecimento ou experiência sobre esta condição. Essas informações estão demonstradas na Tabela 2.

Conhecimento
prévio e experiência em relação à icterícia e ao profissional de saúde que
noticiou o diagnóstico, Maternidade de Mafra/SC, 2011.
Tabela 2.
Conhecimento prévio e experiência em relação à icterícia e ao profissional de saúde que noticiou o diagnóstico, Maternidade de Mafra/SC, 2011.

Observou-se que cinco das mães já tinham ouvido falar sobre icterícia ou amarelão e duas nunca tinham ouvido falar. Todas relatam que nunca vivenciaram ou tiveram alguma experiência antes com o amarelão, até mesmo as que já tinham ouvido falar. Para cinco dos casos, quem informou o diagnóstico da icterícia foi o médico pediatra e em dois dos casos foi o enfermeiro da unidade.

Discursos do Sujeito Coletivo

Os dados coletados foram analisados sob a égide da abordagem do DSC e apresentaram ideias centrais emergidas dos discursos das participantes. Em alguns momentos os discursos foram grifados para a melhor compreensão.

A Tabela 3 dispõe as ideias centrais e os discursos sobre o conhecimento e o desconhecimento da icterícia neonatal. Verificou-se quando emerge o tema 1 (Des) Conhecimento sobre a icterícia neonatal que para o entendimento popular, está presente a ideia de que todos os bebês terão amarelão. Percebe-se nos discursos que as mães desconhecem o tratamento fototerápico.

(Des) Conhecimento
sobre a icterícia neonatal. Mães de RNs
com icterícia, Maternidade de Mafra/SC, 2011.
Tabela 3.
(Des) Conhecimento sobre a icterícia neonatal. Mães de RNs com icterícia, Maternidade de Mafra/SC, 2011.

A Figura 4 traz a temática sobre acreditar ou não nos tratamentos populares para a icterícia e registra o surgimento de três ideias centrais. A primeira, evidenciada pelo DSC 1, refere-se ao saber dos tratamentos caseiros, porém a mãe, mesmo sobre pressão da família, optou em não realizar o tratamento alternativo; ela relata que isso não seria efetivo.

No DSC 2 da ideia central 2, a mãe refere que utilizou o tratamento, no caso o chá, e funcionou, fato que tende a afirmar as questões culturais dessa família. Já no relato do DSC da ideia central 3, a mãe diz que acredita em tratamentos caseiros que lhe foram passados, utilizou, mas não houve efetividade.

Crença no tratamento
popular para a icterícia neonatal. Mães
de RNs com icterícia, Maternidade de Mafra/SC, 2011.
Tabela 4.
Crença no tratamento popular para a icterícia neonatal. Mães de RNs com icterícia, Maternidade de Mafra/SC, 2011.

Observou-se na Ideia Central 1 da Figura 5, no DSC 1, que a mãe, mesmo achando que o tratamento seria simples, não tinha o conhecimento de quão grave ficaria o estado de saúde do seu RN, quanto mais demorasse em retornar com seu filho até a maternidade. Também, desconhecia a importância que a fototerapia teria para essa criança.

Na Ideia Central 2, nos DSC 1 e 2, as mães dizem que ficaram muito preocupadas, nervosas e abaladas, não só pelo fato de seus bebês estarem sendo expostos a um tratamento novo para elas, mas também pelo fato de elas nunca terem visto ou ouvido falar deste método e nem o que seria o amarelão que seu filho estava apresentando.

Medos e inseguranças
acerca do diagnóstico e tratamento da icterícia neonatal. Mães de RNs com icterícia, Maternidade de Mafra/SC,
2011.
Tabela 5:
Medos e inseguranças acerca do diagnóstico e tratamento da icterícia neonatal. Mães de RNs com icterícia, Maternidade de Mafra/SC, 2011.

DISCUSSÃO

A icterícia manifesta no período de 48 a 72 horas após o nascimento é considerada fisiológica, atingindo um nível sérico de bilirrubina de 4 a 12 mg/dl em torno do 3° ao 5° dias após o nascimento. Comumente, este fenômeno desaparece em torno do final do 7° dia, mas em níveis elevados é preocupante13.

Os profissionais de saúde assumem papel fundamental de auxiliar as famílias, identificando intervenções de apoio específicas que possam ser dirigidas a reduzir o estresse parental, facilitando sua adaptação e melhorando o seu relacionamento com a criança14. A experiência de ter um filho recém-nascido hospitalizado, com icterícia, gera preocupação e estresse aos pais/familiares, o que torna necessário o olhar holístico e o cuidado humanizado de toda a equipe de saúde.

A análise sobre o (Des) Conhecimento da icterícia neonatal permitiu identificar o desconhecimento das mães sobre as situações que podem levar a sua ocorrência. A icterícia acontece em algumas situações fisiológicas, iniciando-se após as primeiras 24 horas de vida do RN e durando, em média, uma semana. Mas, pode se relacionar a uma síndrome ou doença, surgindo antes das primeiras 24 horas de vida15.

Porém, quando os RNs permanecem no hospital por pouco tempo, a observação da icterícia fisiológica é dificultada, já que a mesma aparece após as primeiras 24 horas de vida, não permitindo intervenções e necessitando, muitas vezes, de readmissão do RN para o tratamento fototerápico, o que pode gerar mais gastos e, além disso, prejudicar o aleitamento materno. Devido a este e outros fatores associados, o Departamento de Neonatologia da Sociedade Brasileira de Pediatria recomenda que a alta hospitalar de RNs a termo, saudáveis e sem intercorrências, seja após 48 horas de vida e, ainda, que haja um retorno ambulatorial de 48 a 72 horas após a alta16.

Neste contexto, a mãe, exerce o papel do personagem principal no cuidado. É ela quem percebe e procura os cuidados para os problemas de saúde. Para enfrentar as situações de doença, ela tende a buscar apoio não só dos serviços de saúde ou da medicina oficial, mas também a chamada medicina popular. Empoderar as mães permite que participem mais plenamente nas decisões de cuidados e enfrentem obstáculos que possam a vir encontram neste processo17.

No caso dos discursos emergidos no tema 1, pode-se enfatizar que, de alguma maneira, a sociedade, no que diz respeito aos cuidados de saúde, informa a população; todavia, estas informações são superficiais e nem sempre efetivas.

Percebe-se nos discursos que as mães desconhecem o tratamento fototerápico. Acredita-se que o desconhecimento da terapêutica apresenta-se como gerador de estados de perturbação e nervosismo para a mãe, ao presenciar seu filho submetido a um tratamento que lhe é desconhecido.

A fototerapia causa à mãe forte impressão, e todas se dizem preocupadas. O ato do cuidar humanístico revela-se como de apoio emocional. A enfermagem, embasada na sua competência técnica, sem perder a ternura, deve munir-se de docilidade e buscar transmitir à mãe as informações que necessita saber para se tranquilizar13.

A discussão que emerge no discurso que envolve a temática sobre acreditar ou não nos tratamentos populares para o icterícia é de que a cultura é fundamental para incorporar as experiências anteriores, influenciar ações e pensamentos do presente e passar as tradições para os futuros membros do grupo, como se constatou nesta pesquisa. São as pessoas mais velhas da família que influenciam culturalmente e, devido à pouca experiência das mães, muitas crenças populares fazem parte do cuidado prestado às crianças18, o que não ficou evidenciado no primeiro discurso.

Alguns cuidados, que são considerados pelas equipes como alternativos, realmente são recomendáveis, como o banho de sol. Este procedimento é importante para o RN, pois além de ajudar no desenvolvimento ósseo, auxilia na redução da icterícia19. O mesmo deve ser realizado com a criança vestindo o mínimo de roupas possível, durante cinco minutos, tempo que deve ser aumentado gradativamente até cerca de 15 minutos por dia. Deve ocorrer antes das 10 da manhã e após as 16 horas. É importante ressaltar que o banho de sol pode ajudar na redução da icterícia, mas não atua como tratamento. Caso a mãe perceba uma coloração muito amarelada da pele, deve levar o RN para avaliação18.

O uso da medicina alternativa e complementar está crescendo entre adultos e crianças. Muitas pessoas as utilizam de forma concomitante ou alternada à medicina convencional. Quanto ao uso caseiro de plantas medicinais, se destacar a influência no tratamento de problemas de saúde das crianças.

Apesar de não serem recomendadas, algumas práticas ainda continuam a fazer parte do dia a dia de mães no cuidado de suas crianças, porque estão baseadas na vivência, experimentação e avaliação do sucesso de seu uso diante de problemas de saúde18. Sabe-se que a medicina popular possui vários tratamentos para a icterícia, e que os mesmos são amplamente utilizados pelas mães dos RN e pelas suas respectivas famílias.

É essencial que os profissionais de saúde conheçam as crendices e práticas populares, relacionadas ao processo saúde-doença da população, e se familiarizem com as mesmas, aprendendo a lidar com os valores, crenças e hábitos dos mesmos18.

Em 2006, foi aprovada a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no Sistema Único de Saúde (SUS), que propõe incorporar e implementar a medicina tradicional chinesa, acupuntura, homeopatia, plantas medicinais e fitoterapia e, termalismo social/crenoterapia. Tais fatos mostram que não se pode ignorar estes tratamentos no serviço de saúde, pois, eles são conhecidos e utilizados pela população.

A insegurança acompanha a mãe desde a gestação, refletindo-se no medo em relação à saúde do bebê, o que gera agitação, e faz emergir um senso de responsabilidade e preocupação pelo bem estar da criança18. A apresentação de complicações patológicas que indiquem a hospitalização é uma situação difícil, em especial para a mãe que, em alguns casos, considera-se culpada em não poder curar seu filho com cuidados domiciliares18.

Na Ideia Central 2, nos DSC 1 e 2, as mães dizem que ficaram muito preocupadas, nervosas e abaladas, não só pelo fato de seus bebês estarem sendo expostos a um tratamento novo para elas, mas também pelo fato de elas nunca terem visto ou ouvido falar deste método e nem o que seria o amarelão que seu filho estava apresentando.

As barreiras culturais eeconômicas, bem como as terapiasineficazes, atrasam muitas vezes a buscade cuidados. Deve-se apoiar o ensino detodas as habilidades dos para semonitorar a icterícia, os sinais deneurotoxicidade precoce, a importância daamamentação, bem como, a prevenção depráticas ineficazes. Empoderar as mãespermite que elas participem maisplenamente nas decisões de cuidados eenfrentem obstáculos ao cuidado.

CONCLUSÃO

Diante do aparecimento da icterícia e a possibilidade de tratamento, verificou-se na prática que as mães trazem muitos conhecimentos populares em relação a essa condição clínica, o que as tornam nervosas diante dos procedimentos aos quais seus filhos precisam ficar expostos.

Portanto, é importante o papel da enfermagem e da equipe de saúde junto a essas mães dando-lhes todas as explicações necessárias sobre o que está acontecendo com seu bebê, como as manifestações e diagnóstico e tratamento da icterícia.

Assim, é fundamental estabelecer a comunicação da equipe de saúde com a mãe, buscando esclarecer devidamente a respeito da terapêutica a qual seu filho será submetido.

Vale salientar que, por se tratar de uma pesquisa qualitativa, este estudo tem como limitações a variabilidade da amostra. No entanto, esse fato não prejudicou os resultados pretendidos, conforme foi apontado nos objetivos e delineado no método.

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Autor notes

1 Enfermeira. ORCID: 0000-0002-0820-381X E-mail: zaleskipriscilla@hotmail.com
2 Enfermeiro. Especializando na modalidade Residência em Enfermagem no Hospital Pequeno Príncipe, Curitiba, PR, Brasil.ORCID: 0000-0003-1772-8826 E-mail: cledirmraissacmr@hotmail.com
3 Enfermeira. Especialista em Enfermagem em Cuidados Intensivos Neonatais. Especialista em Acupuntura. Mestre emDesenvolvimento Regional e Políticas Públicas. Doutora em Políticas Públicas. Professora do Departamento de Enfermagem daUniversidade de Contestado, Campus Mafra, SC, Brasil. ORCID: 0000-0002-5807-725X E-mail: adri.moro@gmail.com
4 Psicóloga. Bacharel em Letras. Especialista em Psicopedagogia. Mestre em Psicologia. Mestre em Letras (Inglês e Literatura).Doutoranda em Saúde Coletiva pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Florianópolis, SC, Brasil.ORCID: 0000-0002-8413-0632 E-mail: idonezia@hotmail.com
5 Enfermeira. Especialista em Neurociências. Especialista em Gestão Pública em Saúde. Mestre em Desenvolvimento Regional.Doutoranda em Saúde Coletiva pela UFSC. Professora do Instituto Federal de Santa Catarina. ORCID: 0000-0002-6380-2233E-mail: lucimazon@hotmail.com
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