Revisão
Aplicabilidade do cicloergômetro no controle da síndrome do imobilismo durante a terminalidade
Applicability of the cycloergometer in the control of immobility syndrome during the termination process
Aplicabilidad del cicloergómetro en el control del síndrome del inmovilismo durante la terminalidad
Aplicabilidade do cicloergômetro no controle da síndrome do imobilismo durante a terminalidade
Revista Família, Ciclos de Vida e Saúde no Contexto Social, vol. 2, pp. 649-653, 2018
Universidade Federal do Triângulo Mineiro
Resumo: O objetivo do presente estudo foi verificar as publicações acerca da utilização do cicloergômetro nos pacientes em cuidados paliativos. Trata-se e uma revisão realizada nas bases de dados: SciELO; PEDro e PubMed. Foram utilizados os descritores: Cuidados Paliativos; Fisioterapia; Exercício e Fadiga. Aplicou-se o sistema booleano utilizando a técnica de cruzamento dos descritores. Como estratégia de seleção realizou-se a leitura dos títulos e resumos, considerando os seguintes critérios: período de publicação do ano de 2013 a 2017; artigos nos idiomas português e inglês; abordagem do exercício físico em CP. Assim, do resultado inicial de 16 artigos, foram selecionados oito artigos que abordavam os critérios citados. O exercício físico aeróbio associado ao anaeróbio apresentou-se nas publicações gerando benefícios sobre a fadiga e síndrome do imobilismo. No entanto, não se encontrou estudos que investigaram a utilização do cicloergômetro em pacientes sob cuidados paliativos.
Palavras-chave: Cuidados paliativos, Fisioterapia, Exercício, Fadiga.
Abstract: The aim of the present study was to verify the publications about the use of the cycloergometer in patients in palliative care. It is a review performed in the databases: SciELO, PEDro, and PubMed. The following descriptors were used: Palliative Care; Physical Therapy; Exercise and Fatigue. The boolean system was applied, using the technique of crossing of descriptors. Regarding the strategy of selection, the titles and abstracts were considered, following the criteria: publication period from 2013 to 2017; articles in Portuguese and English; the theme of physical exercise on the PC process. Thus, from an initial result of 16 articles, eight were selected, which attended to the criteria. The aerobic physical exercise associated with the anaerobic, found in literature, generates benefits on fatigue and in the syndrome of immobility. However, studies that investigated the use of cycloergometer in patients under palliative care were not found.
Keywords: Palliative care, Physical therapy specialty, Exercise, Fatigue.
Resumen: El objetivo del presente estudio fue verificar las publicaciones acerca de la utilización del cicloergómetro en los pacientes en cuidados paliativos. Se trata de una revisión realizada en las bases de datos: SciELO; PEDro y PubMed. Fueron utilizados los descriptores: Cuidados Paliativos; Fisioterapia; Ejercicio y Fatiga. Se aplicó el sistema booleano utilizando la técnica de cruzamiento de los descriptores. Como estrategia de selección se realizó la lectura de los títulos y resúmenes, considerando los siguientes criterios: período de publicación del año de 2013 a 2016; artículos en los idiomas portugués e inglés; abordaje del ejercicio físico en CP. Así, del resultado inicial de 16 artículos, fueron seleccionados ocho que abordaban los criterios citados. El ejercicio físico aeróbico asociado al anaeróbico, se presentó en las publicaciones generando beneficios sobre la fatiga y síndrome del inmovilismo, sin embargo, no se encontraron estudios que investigaran la utilización del cicloergómetro en pacientes bajo cuidados paliativos.
Palabras clave: Cuidados Paliativos, Fisioterapia, Ejercicio, Fatiga.
INTRODUÇÃO
Com o crescente avanço tecnológico e a implementação de novos protocolos de quimioterapia, radioterapia e cirurgia, houve melhora no prognóstico dos pacientes com câncer e aumento de sobrevida. Por sua vez, tanto o tratamento como a própria doença geram várias complicações, o que implica em um quadro de depleção fisiológica, que pode levar à necessidade de hospitalização na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) devido à piora dos aspectos clínicos.
A permanência na UTI de pacientes sob cuidados paliativos por período prolongado provoca graves repercussões funcionais, podendo levar o paciente à síndrome do imobilismo e favorecer o desencadeamento da fadiga1,2.
A fadiga é um sintoma comum em pacientes sob Cuidados Paliativos (CP), porém, com etiologia complexa, por envolver aspectos físicos, psicológicos e sociais. A fadiga é descrita como associada à ansiedade, depressão, dor, dispneia, insônia, perda de apetite, náuseas e tonturas, sendo um sintoma importante na medida em que afeta a funcionalidade e reduz a qualidade de vida3.
A intervenção ao paciente em CP deve ser multifacetada, e incluir, dentro da equipe multidisciplinar, a fisioterapia. Tem se consolidado, cada vez mais, que a fisioterapia desempenha um papel importante na recuperação de pacientes em CP. Por meio do exercício físico o fisioterapeuta consegue promover estratégias preventivas de intervenção aos sintomas da fadiga, com a melhora do estado de funcionalidade, promovendo impacto direto na qualidade do cuidado ao paciente em termino de vida2.
Em geral os programas de exercício ao paciente em CP envolvem protocolos de cinesioterapia, com mobilização e alongamento passivo, mobilização ativo-assistida, exercícios ativos, transferências de decúbito, deambulação e atualmente a inserção do cicloergômetro5.
O cicloergômetro é utilizado para realizar exercícios passivos, ativos e resistidos, trazendo benefícios e podendo auxiliar no processo de recuperação funcional. Alguns estudos investigaram a aplicabilidade do cicloergômetro nos pacientes de pós-operatório de cirurgia cardíaca, sob ventilação mecânica e com complicações respiratórias, e demonstraram benefícios na recuperação da função respiratória, cardiovascular e força muscular periférica6-8. Assim, o objetivo do presente estudo foi verificar as publicações acerca da utilização do cicloergômetro nos pacientes em cuidados paliativos.
MÉTODO
rata-se de uma revisão sistemática realizada nas bases de dados: Scientific Electronic Library Online – SciELO; Physiotherapy Evidence Database – PEDro e, US National Library of Medicine - PubMed.
Foram utilizados os descritores em ciências da saúde: Cuidados Paliativos; Fisioterapia; Exercício e Fadiga, disponíveis para consulta na biblioteca virtual em saúde: http://decs.bvs.br/. Como estratégia de busca dos artigos, aplicou-se o sistema booleano utilizando a técnica de cruzamento dos descritores, estes localizados tanto no título quanto no corpo do texto. Esta busca foi realizada no mês de outubro de 2017. Foram encontrados 16 artigos.
Para seleção dos artigos realizou-se a leitura dos títulos e resumos, considerando os seguintes critérios: período de publicação no ano de 2013 a 2017; artigos nos idiomas português e inglês; abordagem do exercício físico em CP.
RESULTADOS
As etapas de busca e os critérios estabelecidos são representados na figura 1. Dos 16 artigos levantados, apenas 8 responderam aos critérios de inclusão. Destes, 75% dos estudos apresentaram a repercussão do exercício aeróbio e de resistência sobre a fadiga, 12,5% apresentaram o efeito do exercício físico seja de predomínio aeróbio quanto de resistência sobre o imobilismo em pacientes de CP terminal, e 12,5 % utilizaram o cicloergômetro para promover a realização do exercício de predomínio aeróbio, mas em pacientes críticos que não estavam sob CP.

DISCUSSÃO
O exercício físico de predomínio aeróbio tem efeito favorável na fadiga apresentada por pacientes com doenças que levam à terminalidade, com significativa melhora da qualidade de vida2,3,10, além de contribuir na profilaxia das complicações provindas do imobilismo. No entanto, quando se associa o exercício aeróbio com exercício de resistência, os efeitos sobre a capacidade musculoesquelética são melhores.
Um estudo destacou o exercício supervisionado como uma intervenção segura e efetiva na melhora da fadiga e outras complicações relacionadas ao câncer, assim como melhora a sobrevivência, sendo estes exercícios de preferência aeróbicos e de resistência9.
Outro aspecto importante, no que diz respeito à abordagem de pacientes com câncer avançado, é que o exercício físico com predomínio aeróbio ou de resistência não agrava os sintomas de dor e fadiga, sintomas estes ligados à diminuição da qualidade de vida9.
Outra investigação demonstrou o potencial de um conjunto planejado de exercícios na diminuição das complicações associadas à imobilidade (fraqueza muscular, função cardiopulmonar diminuída, índice de quedas), além de reduzirem a fadiga relacionada ao estado de terminalidade10.
O cicloergômetro é um equipamento que vem ganhando cada vez mais espaço na intervenção em pacientes nas UTI e ambulatórios, especialmente por ser um facilitador para realização de exercício aeróbio. Um dos estudos4 apresentou a capacidade desse equipamento em provocar repercussões cardiorrespiratórias, aumento da capacidade funcional, melhora da autopercepção funcional e da força de quadríceps, além do elevado grau de aceitação e a preferência dos mesmos de movimentar as pernas livremente por meio do cicloergômetro.
Os benefícios do exercício no controle da fadiga e de complicações provindas do imobilismo estão documentados numa das pesquisas levantadas10, seja este de predomínio aeróbio ou de resistência.
Noutro estudo2 demonstrou-se que além da repercussão funcional promovida pelo exercício, os pacientes com câncer avançado também apresentam melhora no bem-estar geral e redução dos sintomas refratários, especialmente dor, sonolência, perda de apetite e depressão. Similar a este, outro trabalho11 mostrou que os benefícios do exercício também promovem gerenciamento de sintomas comuns durante este período e encorajam os pacientes a viverem e aproveitarem a vida até o fim, com melhor qualidade, mas destaca-se a importância da competência da equipe multidisciplinar envolvida.
A presente revisão tem como limitação a impossibilidade de apresentar as repercussões do cicloergômetro em pacientes sob CP devido à ausência de estudos que abordem a repercussão hemodinâmica, efeitos sobre a fadiga relacionada à terminalidade e parâmetros para prescrição como a intensidade e tempo de intervenção, fundamentais para direcionar os profissionais envolvidos na prescrição do cicloergômetro para pacientes sob CP. Assim destaca-se a necessidade de investigações sobre estas questões, pois o cicloergômetro é um facilitador e coadjuvante nos programas de cinesioterapia e precisa de um suporte científico para guiar a sua prescrição para pacientes em CP.
CONCLUSÃO
O exercício aeróbio apresenta benefícios nos cuidados de pacientes sob condições de terminalidade, promovendo controle da fadiga e das complicações provindas do imobilismo, e a associação de exercícios de resistência na intervenção provoca benefícios adicionais à funcionalidade do paciente.
O exercício também é capaz de melhorar sintomas comuns dos pacientes em terminalidade, como: dor, depressão, insônia, baixa adesão ao tratamento. Assim se eleva a adesão aos cuidados e à vontade do paciente de vivenciar a finitude.
Em apenas um estudo reportou-se a repercussão do cicloergômetro em pacientes na UTI, não sendo encontrados estudos sobre a sua utilização em CP.
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Autor notes