Resumo: Partindo do pressuposto que definições constituem o ponto de partida essencial de base metodológica para apreender e avaliar fenômemos, este artigo teórico-empírico se propõe a discutir a evolução do conceito de inovação na literatura e associá-la às dinâmicas de empresas de turismo, representadas pelas concepções de seus gestores. Para alcançar o nosso propósito, primeiro elaboramos um quadro conceitual da inovação, a partir de uma revisão da literatura. Depois, definimos o turismo e as atividades empresariais, que o compõem (com base na Conta Satélite do Turismo - CST). Com vista a confrontar essas informações, realizamos 35 entrevistas semiestruturadas (gravadas) com diretores de empresas turísticas na Cidade do Natal - Brasil. O acompanhamento prévio e posterior das empresas ocorreu de 2019 a 2022. O conteúdo das entrevistas foi transcito e processado com o apoio dos softwares Iramuteq e SPSS 25. Nuvens de palavras e tabelas de frequências foram criadas. Constatamos que o conceito de inovação no turismo, não diferente de outros setores, está atrelado à ideia de renovação, melhorias significativas, reconfigurações (físicas, relacionais ou virtuais), interações pessoais e organizacionais, conhecimento adquirido, partilhado ou imitado, percepções e estratégias isoladas ou em conjunto, soluções de problemas, agregação de valor e satisfação de necessidades de consumidores (potenciais ou reais).
Palavras-chave: Conceito, Inovação, Turismo.
Abstract: Assuming that definitions constitute the essential starting point of the methodological basis for apprehending and evaluating phenomena, this theoretical-empirical article aims to discuss the evolution of the concept of innovation in the literature and associate it with the dynamics of tourism companies, represented by the conceptions of their managers. To achieve our purpose, we first develop a conceptual framework for innovation from a literature review. Then, we define tourism and the business activities that comprise it (based on the Tourism Satellite Account - CST). In order to compare this information, we conducted 35 semi-structured interviews (recorded) with directors of tourism companies in Cidade do Natal - Brazil. The prior and subsequent monitoring of the companies took place from 2019 to 2022. The content of the interviews was transcribed and processed with the support of the Iramuteq and SPSS 25 softwares. Word clouds and frequency tables were created. We found that the concept of innovation in tourism, not unlike other sectors, is linked to the idea of renewal, significant improvements, reconfigurations (physical, relational or virtual), personal and organizational interactions, acquired, shared or imitated knowledge, isolated perceptions and strategies or together, problem solving, adding value and satisfying consumer needs (potential or real).
Keywords: Concept, Innovation, Tourism.
Resumen: Suponiendo que las definiciones constituyen el punto de partida esencial de la base metodológica para aprehender y evaluar fenómenos, este artículo teórico-empírico tiene como objetivo discutir la evolución del concepto de innovación en la literatura y asociarlo a la dinámica de las empresas turísticas, representada por las concepciones de sus gestores. Para lograr nuestro propósito, primero desarrollamos un marco conceptual para la innovación a partir de una revisión de la literatura. Luego, definimos el turismo y las actividades empresariales que lo componen (en base a la Cuenta Satélite de Turismo - CST). Para comparar esta información, realizamos 35 entrevistas semiestructuradas (grabadas) con directores de empresas turísticas en Cidade do Natal - Brasil. El seguimiento previo y posterior de las empresas se realizó de 2019 a 2022. El contenido de las entrevistas fue transcrito y procesado con el apoyo del software Iramuteq y SPSS 25. Se crearon nubes de palabras y tablas de frecuencias. Encontramos que el concepto de innovación en turismo, no a diferencia de otros sectores, está vinculado a la idea de renovación, mejoras significativas, reconfiguraciones (físicas, relacionales o virtuales), interacciones personales y organizacionales, conocimientos adquiridos, compartidos o imitados, aislados. percepciones y estrategias o en conjunto, resolución de problemas, agregando valor y satisfaciendo las necesidades del consumidor (potencial o real).
Palabras clave: Concepto, Innovación, Turismo.
Artigos - Gestão do Turismo
Rumo a um conceito de inovação no turismo
Towards a concept of innovation in tourism
Hacia un concepto de innovación en turismo
Recepção: 02 Dezembro 2021
Aprovação: 28 Maio 2022
Consensualmente, a inovação tem sido apontada como uma força crucial de primeira grandeza para o progresso socioeconômico mundial, fonte de valor para clientes e investidores, determinante do desempenho, sucesso empresarial e vantagem competitiva sustentável (Jayawardena, 2019; Yin et al., 2020; Kokotovich et al., 2021; Filippopoulos & Fotopoulos, 2022; Pushpananthan & Elmquist, 2022). Com efeitos tão poderosos, o interesse pela inovação abrange uma grande variedade de setores, tanto na indústria quanto na academia; e, embora tenha começado com uma defasagem significativa, o campo relativamente novo do turismo não é exceção (Gomezelj, 2016; Larrea et al., 2021). Ainda bastante limitada e fragmentada, a pesquisa sobre inovação no turismo tem até então, estado mais preocupada em abordar temas transversais, apontando determinantes ou explicando as relações causais e consequências nos contextos organizacional, cooperativo em rede e socioambiental (Pikkemaat et al., 2019). Embora um significativo número de estudos tome por base o legado de Schumpeter (1934), realçando gestores de empresas como personagens-chave para estimular a inovação (em forma de melhorias e novidades), a natureza crítica conceitual do fenômeno e a componente subjetiva, que lhe é inerente, não têm recebido a atenção e tratamento que merecem (Aires, 2021). Nesse sentido, as poucas investigações teórico-empíricas existentes têm contemplado exclusivamente um ou dois ramos turísticos (principalmente hotéis) em contextos específicos tanto no Brasil como no exterior.
No Brasil, Pazini (2015), por exemplo, analisou a inovação sob a percepção de gestores de agências de viagens em Curitiba, no Paraná; já Rodrigues e Anjos (2016) desenvolveram um trabalho semelhante junto a gestores dos ramos de artesanato e restauração em São Luiz, no Maranhão. Em Portugal, Aires (2017) investigou a inovação, a partir da concepção de gestores de hotéis em Aveiro; ao passo que Nordli (2017), buscou apreender características mais específicas da inovação em serviços, restringindo sua análise aos relatos de gestores de pequenos hotéis e empresas de entretenimento na Noruega. Como ponto em comum desses estudos, importa salientar, a superficialidade ou o modo generalista e estático com que o conceito de inovação, alinhado à literatura clássica foi apresentado para representar o todo complexo que é o setor de turismo, uma mistura interligada de empreendimentos de ramos de atividades diversas (a exemplo da hospedagem, restauração, agências de viagens, transportes, serviços culturais, entretenimento, comério varejista e outros)
Uma vez que os conceitos de inovação e turismo são dinâmicos, evoluíndo em função do tempo e contextos, é pertinente, toda investigação, que se debruce a rever e revisar sua complexidade, ultrapassando limites pré-estabelecidos e de abrangência técnica (Jayawardena, 2019; Larrea et al., 2021) até se alcançar propostas conceituais universais, capazes de contemplar aspectos objetivos e subjetivos da atividade turística em sua totalidade. Camisón e Monfort-Mir (2012) e Manuylenko et al. (2015) sugerem que o aprofundamento de definições, a partir de noções centrais, ângulos de análises e perspectivas específicas, constituem um ponto de partida ou elemento essencial de base metodológica para entender, diagnosticar, gerir e avaliar melhor a inovação em turismo.
Com base nessas considerações, o objetivo principal deste artigo é mostrar a evolução (crítica e em síntese) do conceito de inovação, a partir da literatura clássica e associá-la às dinâmicas de empresas de turismo, representadas pelas concepções de gestores/diretores. Como o próprio título sugere, nos propomos a reunir, enquadrar, agrupar, sintetizar e (re)definir conceitos, perspectivas-chave de inovação e turismo (com foco na oferta) que, predominantemente moldados por um viés economicista, estrategicamente apoiam o caráter inédito da investigação voltada para abranger os ramos empresariais turísticos, em sua totalidade. Optamos por concretizar o estudo empírico na Cidade do Natal, um dos principais destinos do Brasil.
Ademais, uma das motivações principais, que justifica a relevância da pesquisa é a escassez de estudos relacionados à temática da inovação empresarial turística, sobretudo, em contextos com vocação para o turismo e potencial de desenvolvimento como Natal (RN-Brasil), à tendência de aumento dos fluxos de turistas e visitantes. Também ressaltamos a contribuição teórico-crítica desse estudo para enriquecer e consolidar o corpo de pesquisa sobre inovação em turismo no contexto brasileiro. Nossa preocupação é apronfundar o conhecimento da realidade, abrindo caminhos e possibilidades para a realização de diagnósticos, para o confronto entre teoria e prática, confirmando (ou não) constatações amplamente divulgadas e ainda para a (re)definição de estratégias de fomento e políticas intervencionistas, visando a melhoria da gestão e avaliação da inovação empresarial no turismo.
O artigo segue uma estrutura lógica. Num primeiro momento, apresentamos a noção central da inovação empresarial, a partir de Schumpeter (seção 2), mostrando como conceitos emergentes, clássicos ou universais vem evoluíndo, ao longo de décadas. Na subseção 2.1, conceitos e perspectivas-chave de inovação são, então sitentizados num quadro. Na seção 3, discutimos acerca da relação entre inovação e turismo, atentando-se para definir o turismo e as atividades que compõem o setor (conforme a Conta Satélite do Turismo - CST), na subseção 3.1. A metodologia é apresentada na seção 4. Já a Análise de dados e discussão dos resultados, na seção 5. As conclusões são apresentadas na seção 6, na qual sintetizamos os contributos, as limitações do artigo e os direcionamentos para pesquisas futuras.
A inovação é um imperativo para empresas de todo e qualquer setor da economia e tem sido descrita em muitas teorias como um fenômeno complexo (Schumpeter, 1934;1961; 1997; Drucker, 2012). O economista austríaco, Joseph Alois Schumpeter (1883-1950), comumente conhecido como o profeta da inovação (Brandão & Costa 2014), foi um dos mais proeminentes autores a inspirar definições da inovação numa perspectiva economicista, relativamente mais restrita à perspectiva empreendedora e empresarial/industrial, com foco de análise do progresso econômico dos países. O conceito de desenvolvimento tecnológico já havia sido priorizado por economistas clássicos do século XIX e acabou por influenciar o autor e seus escritos.
Ao se debruçar sobre os estudos da inovação, Schumpeter analisa a economia capitalista, concentrando suas análises no produtor – e posteriormente, no empresário empreendedor, uma figura que se distingue na sociedade por ser portador de uma energia e capacidade de realizar coisas novas, que não estariam presentes de forma difundida entre a população. “Os empresários são um tipo [de pessoa] especial e o seu comportamento um problema especial, a força motriz de um grande número de fenômenos significativos” (Schumpeter, 1997, pp. 88-89). Eles não apenas administram um negócio ou detém o capital, como também, constantemente produzem mudanças tecnológicas radicais, tornando o sistema dinâmico, competitivo e gerador de oportunidades, ao mesmo tempo que estabelecem e direcionam padrões de consumo.
Para Schumpeter (1934), a inovação, enquanto mecanismo econômico básico que ocorre dentro do sistema capitalista seria:
A inserção de um novo bem – isto é, um bem com o qual, os consumidores ainda não estivessem familiarizados – ou ainda de uma nova qualidade de um determinado bem.
A introdução de um novo método de produção, ainda não testado no ramo próprio da indústria de transformação e que não obrigatoriamente fosse baseado numa desco- berta cientificamente nova. Também poderia constituir uma maneira totalmente nova de comercializar uma mercadoria.
A abertura de um novo mercado, no qual o ramo particular da indústria de transformação do país em questão não tivesse ainda entrado, quer esse mercado tenha existido antes ou não.
Conquista de uma nova fonte de matérias-primas ou de bens semimanufaturados, inde- pendentemente da sua suposta pré-existência ou criação por necessidade.
Estabelecimento de uma nova forma de organização industrial (Schumpeter, 1934). A essência da inovação tem sido a partir de então, descrita como uma invenção ou ideia potencialmente aberta para a exploração comercial, que posteriormente é desenvolvida, transformada em utilidade, explorada comercialmente e aceita (condição fundamental para ser difundida) em um sistema social (Schumpeter, 1961; Drucker, 2012). Ao nível de uma empresa/indústria, uma inovação para além de suprir necessidades, viabiliza ganhos em termos financeiros (retorno de investimentos) para o inovador (Schumpeter, 1961; 1997). A inovação é enfim, uma invenção mercantilizada, que alcançando sucesso a partir de condições econômicas, sociais e complementares adequadas, gera, nas palavras de Schumpeter (1943, p. 112), citado por Vian (2007, p. 4), ‘um processo de mutação industrial (...) o qual incessantemente revoluciona a estrutura econômica desde o seu interior, destruindo inces- santemente a antiga, criando continuamente uma nova”. “Esse processo de destruição criadora é o fato essencial a respeito do capitalismo” (Schumpeter, 1961, p. 110).
Importa dizer que durante muito tempo, ciência e tecnologia foram vistas como universos desconectados, operando segundo lógicas independentes e particulares. A partir do final do século XIX, a sintonia entre racionalidade científica e o avanço industrial se torna mais evidente. Um paradigma de política científica e tecnológica havia sido estabelecido, sendo até o final da década de 1950, adotado também pela maioria dos países industrializados, e ao mesmo tempo difundiu uma concepção da dinâmica da inovação, amplamente conhecida como ‘modelo linear da inovação’ (Bush, 1945).
As políticas científica e tecnológica das décadas de 1950 e 1960, contemplavam as chamadas abordagens Science push (impulso pela ciência) ou Tecnology-push (empurrado pela tecnologia), pelas quais, o progresso técnico era induzido pelo lado da oferta, principalmente através da dinâmica de inovações determinadas pelo avanço do conhecimento científico e pelas atividades de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) industriais (Conde & Araújo-Jorge, 2003; Vieira, 2010). Na década de 1970, essas abordagens passaram a ser questionadas e a partir da década de 1980, já se concebia a inovação (seja na forma de novidades e/ou de melhorias significativas) como um processo social contínuo, de múltiplas fontes e envolvendo, pois, diversas atividades (dentre as quais se poderia incluir, coordenação, pesquisa de necessidades dos consumidores e gestão da inovação). Emergem, assim, os chamados modelos não-lineares ou interativos, que combinam interações no interior das organizações e interações entre as empresas individuais e o contexto em que elas operam (o chain-linked model). Mais ênfase é dada à importância das redes. As teorias que serviram como base à ascensão desses modelos também contribuíram para formular as concepções atuais dos chamados Sistemas Nacionais de Inovação (SNI). A inovação passa a se apresentar como um sistema complexo, dinâmico e moldado pelo conhecimento (Freeman, 1982; Rosenberg, 1982; Nelson & Winter, 1982; Kline & Rosenberg, 1986; Dosi, 1988; Lundvall, 1988; 2010).
O interesse pelo aumento da competitividade internacional e necessidade de sinergias, envolvendo pesquisa tecnológica e política industrial, já no início da década de 1990, incitaram a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) a editar o Manual de Oslo, conjunto de diretrizes (postas de modo internacionalmente comparável) para coleta e interpretação de dados sobre inovação tecnológica. Esse esforço foi um contributo fundamental para a uniformização e aplicação conceitual da inovação (Brandão & Costa, 2014), privilegiando foco de análise para organizações privadas. O Manual de Oslo vem se consolidado como a referência principal, a partir da qual, se desenvolvem novos contributos teóricos acerca da inovação aplicado aos mais distintos setores econômicos. A inovação tem sido compreendida como: ‘A implementação de um produto (ou serviço) novo ou significativamente melhorado, ou processo, um novo método de marketing ou um novo método organizacional, práticas empresariais, organização do local de trabalho ou relações externas"(OECD, 2005, p. 46).
Não contrariando essa definição-chave, Jayawardena (2019), Yin et al (2020), Kokotovich et al (2021) e mais recentemente, Filippopoulos e Fotopoulos (2022) e Pushpananthan e Elmquist (2022), dão maior ênfase às perspectivas sistêmica estrutural e interativa da inovação, ao concebê-la resumidamente como um conjunto de acordos de colaboração, através dos quais pessoas e organizações criam valor e combinam as suas ofertas em soluções coerentes e orientadas, antes de tudo, para o cliente. Como uma abordagem integrada para o desenvolvimento, o chamado ´ecossistema de inovação´, contempla os sistemas intra e interorganizacionais políticos, econômicos, ambientais e tecnológicos, pelos quais um ambiente propício ao crescimento é catalisado, sustentado e apoiado (Jayawardena, 2019; Yin et al., 2020; Kokotovich et al., 2021; Filippopoulos & Fotopoulos, 2022; Pushpananthan & Elmquist, 2022). Inerente a esses sistemas, a noção de sustentabilidade abrange três condições fundamentais: ser ambientalmente correta (focada na redução de danos ao meio para não comprometer gerações futuras) economicamente viável e socialmente justa.
Ecossistemas de inovação (entre países, regiões e/ou localidades) diferem entre si. (Pushpananthan & Elmquist, 2022. Nesse sentido, Filippopoulos e Fotopoulos (2022) ainda acrescentam que em regiões mais atrasadas (a exemplo do Brasil), a definição de inovação relevante pode excluir o patenteamento, se concentrando em aspectos "mais suaves" do que os investimentos tecnológicos; já nas regiões mais atrasadas, é impulsionada principalmente pela Pesquisa e Desenvolvimento pública apoiada pela tolerância e inclusão ou pela formação de redes de colaboração (Filippopoulos & Fotopoulos, 2022).
A partir de Schumpeter, conceitos de inovação empresarial têm evoluído ao longo do tempo, possibilitando o alcance de novas abordagens e tornando então (i)limitadas, as possibilidades de ampliação de seu arcabouço teórico. Sendo assim, optamos por categorizar esses conceitos, para efeitos desta tese, em quatro diferentes orientações ou perspectivas, nomeadamente, individuais, estruturais, interativas e/ou sistêmicas, seguindo a lógica de Johannessen et al. (2001): (1) a perspectiva individual, que enfatiza fatores relacionados a características ou condutas dos empreendedores (Schumpeter, 1961; Drucker, 2012; Patterson, 2004); (2) a perspectiva estrutural, que se concentra predominantemente em aspectos organizacionais (Slappendel, 1996); e finalmente, as perspectivas interativa e sistêmica, em que, a conexão entre ação e estrutura é analisada (Hung, 2004; Lundvall, 2010), enfatizando também influências locais, regionais, nacionais e internacionais das atividades de inovação empresarial. Esses conceitos e perspectivas são elucidados no Quadro 1.
A partir da leitura do Quadro 1, é possível perceber que a perspectiva individual, emerge mais frequentemente. Ela está alicerçada no conceito de inovação baseado na percepção e conduta de gestores de empresas. Tal perpectiva desempenha uma influência-chave no processo de inovação empresarial, que acaba por induzir inovações em formas que alcançam as perspectivas estrutural, interativa e/ou sistêmica (Tierney, 2008; Patterson, 2004). Percebemos ainda que, essencialmente o conceito de inovação minimamente está atrelado à ideia de renovação, melhorias significativas, reconfigurações (físicas, relacionais ou virtuais), interações entre pessoas, organizações e/ou localidades (conhecimento adquirido, aprendido, partilhado e/ou imitado), percepções e estratégias isoladas ou em conjunto, soluções de problemas, agregação de valor e satisfação de necessidades humanas.
Tanto o fenômeno da inovação como o turismo não são temas novos, eles permeiam conjunta ou sincronicamente a própria história da humanidade, tendo o desenvolvimento de suas práticas precedido em muito o surgimento e evolução de seu corpo teórico ou campo de conhecimento acadêmico. A raiz conceitual do turismo se remeteu inicialmente à ideia de deslocamento, representada por um giro circular do ir e retornar ao ponto de partida. Tal olhar é limitado e necessita de redefinição. Constitui um paradoxo, assumir o fenômeno turístico como sendo um conjunto de atividades produtivas concebidas para atender fundamentalmente necessidades de pessoas, que viajam a um destino principal diferente ao de seu entorno habitual, com duração inferior a um ano, com qualquer finalidade principal (lazer, negócios ou outro motivo pessoal) que não seja ser empregado por uma entidade residente no país ou lugar visitado (definição da Organização Mundial de Turismo - OMT, 2018).
O turismo assim como a inovação se desenvolve dentro da lógica do sistema capitalista, que incessantemente induz as pessoas ao consumo. É essa mesma lógica que dá origem e estimula a sua necessária sustentabilidade econômica. As atividades do vasto e diversificado conjunto de organizações, que compõem a oferta turística, são direcionadas para suprir necessidades de consumidores, cujo perfil, motivação ou finalidade da viagem/deslocamento nem sempre se enquadra nas classificações técnicas e básicas de organismos oficiais. O turismo tem sido coerentemente referenciado como “a maior indústria do setor de serviços comerciais do mundo" (Breda, 2010, p. 3), constituindo uma mistura de empresas de serviços, indústria e comércio ou varejo. Basicamente os empreendimentos estão divididos em dois eixos: de um lado, atividades criadas em função do turismo, são tipicamente lotadas para turistas, embora também possam ser usufruídas por residentes; do outro, atividades fundamentais para o fomento turístico, buscam atender necessidades de consumidores, que não necessariamente estão em contexto de viagens turísticas.
A definição de padrões para avaliação e análises econômicas é requisito para todo e qualquer setor e a OMT deu um contributo fundamental, ao propor a CST, uma ferramenta conceptual que se baseia na análise pormenorizada de todos os aspectos da procura e consumo de bens e serviços relacionados à atividade turística num país ou região, tendo em conta princípios, definições e classificações universais. Fundamentalmente, está centrada nas chamadas despesas turísticas de consumidores (que podem ser turistas e não turistas); bem como na observação da interface operacional com o fornecimento desses bens e serviços na economia e a explicação de como tal oferta de bens e serviços interage com outras atividades. A CST define especificamente a estrutura econômica do turismo. Por conseguinte, atividades e produtos característicos desse setor podem ser resumidas no quadro 2.
A partir do Quadro 2, podemos afirmar que o conjunto de organizações com fins lucrativos, que representa particularmente a oferta turística é então classificada pela UNWTO et al. (2008) em função de produtos característicos (aqueles cuja existência ou consumo, seriam postos em causa ou reduziria significativamente, na ausência do setor turístico); produtos conexos (aqueles consumidos em quantidade significativa pelos visitantes, embora a sua existência não seja comprometida na ausência do turismo) e produtos específicos (conjunto dos produtos característicos e conexos).
Face a todas essas considerações, sintetizamos num conceito central que o turismo, enquanto setor econômico, é um fenômeno indissociável da inovação e da ideia de singularidade territorial, correspondendo a uma combinação interligada de empreendimentos, lugares, relações, esforços, estratégias e apropriação de recursos por parte de empreendedores, que sensíveis e em função dos variados contextos espaço-temporais e necessidades da procura (à priori, mas não unicamente turistas/viajantes), devem se reinventar para se adequar, suportar e estimular um promissor mercado movido à venda do consumo (d)e experiências (não obrigatoriamente atrelado ao deslocamento dos consumidores).
Este é um estudo de caso do tipo exploratório descritivo, baseado essencialmente no paradigma do interpretativismo, cujas técnicas costumam ser de natureza qualitativa, focadas na própria linguagem e compreensão dos participantes envolvidos. Segundo Sekaran (2003), uma investigação como essa visa: (1) descrever as características de certos grupos; (2) refletir sistematicamente sobre aspectos de uma determinada situação num dado contexto; (3) oferecer ideias para novas investigações e pesquisa e (4) ajudar na tomada de certas decisões. A justificativa de escolha do contexto (Natal-RN, Brasil) para a investigação empírica é, aqui, oportuna. Sendo inquestionável, o potencial turístico do Brasil com sua dimensão continental e diversificado patrimônio histórico-cultural e natural, conforme observam Lohmann e Panosso Netto (2012), é preciso considerar que muitos destinos ou localidades turísticas brasileiras estão em diferentes estágios de desenvolvimento e uns são mais notórios e desenvolvidos do que outros (Lohmann & Panosso Netto, 2012). Face a essas desigualdades regionais, entre estados e cidades do Brasil, existe uma tendência de se explorar e desenvolver ainda mais, a vocação turística dos destinos maiores (em termos de extensão territorial) e mais consolidados no cenário nacional e mundial, ao passo que têm se tornado cada vez mais escassas, as oportunidades de dar aqueles que são menores, mais notoriedade e prioridade de investigação para o alcance de devidas estratégias de desenvolvimento. Intervir para mudar tal tendência é imprescindível, sobretudo quando se sabe que muitos desses destinos menores e com a atividade turística relativamente menos explorada e desenvolvida (a exemplo da Cidade do Natal), reúnem requisitos, que lhes possibilitam competir internacionalmente e melhorar sua posição estratégica de mercado. No cenário atual, o aumento da demanda pelo consumo de áreas verdes, as próprias condições naturais de Natal, favorecidas pela sua renomada infraestrutura hoteleira e redes de empreendimentos apontaram a chamada ´Cidade do Sol`, como o destino nacional mais demandado para janeiro de 2021, de acordo com a pesquisa de Sondagem Empresarial do Ministério do Turismo (UNWTO, 2020).
Julgamos necessário desvelar o conhecimento relacionado a dinâmicas de concepção e conduta de inovação junto a gestores do trade turístico natalense. Critérios e passos foram previamente definidos. À medida que íamos desenvolvendo nossas leituras e escrita, realizávamos comunicação síncrona, assíncrona e observações in loco, bem como testes exploratórios (pilotos) com os gestores de empresas turísticas de sete variados segmentos locais (hotel, restaurante, locadora de veículo, agência de turismo, parque de entretenimento, empreendimento histórico cultural e loja de artesanato). Esses primeiros encontros presenciais nos empreendimentos investigados foram previamente agendados, em função da disponibilidade dos entrevistados. Tais estratégias foram imprescindíveis para ajustar e definir as questões para o roteiro de entrevista, objetivo e proposições da pesquisa (conforme ilustra o quadro 3).
De modo geral, as questões contemplaram dados pessoais dos diretores e das empresas, conceito e importância da inovação empresarial. A escolha das questões abertas justifica-se pelo fato de existir um campo de conhecimento polissêmico sobre a inovação empresarial, que reflete na sua importância e na sua implementação por parte dos diretores das empresas e ainda por haver poucas evidências empíricas acerca da sua aplicação no turismo. Para o cumprimento do objetivo proposto, nos apoiamos nas abordagens qualitativa (principalmente) e quantitativa. Primeiro, estabelecemos que os empreendimentos a serem investigados deveriam possuir registro no Cadastro de prestadores de serviços de turismo - Cadastur) do Ministério do Turismo - Mtur. Para ter uma definição mais precisa da população e população alvo por subsetor, nossa análise tomou como base a Classificação Nacional de Atividades Econômicas - CNAE. Nossas buscas permitiram identificar, com base em um banco de dados do Ministério do turismo (Mtur, 2019), um total de 336 empresas turísticas com o selo Cadastur. Vale destacar duas situações antagônicas para as empresas Cadastradas junto ao Ministério do Turismo: aquelas para as quais, o selo era optativo e aquelas para as quais, o selo era obrigatório. A tarefa de realizar a mesma quantidade de entrevistas nas diferentes categorias de empreendimentos face aos altos índices de inadimplência no Brasil foi também identificada como um dos maiores desafios da pesquisa.
Outro critério de classificação para definir a população-alvo foi o de considerar apenas os empreendimentos inseridos em sites de avaliação e comentários on line (a exemplo da Booking e Trip Advisor), apresentando classificação ´muito boa ou excelente`. Conforme mostra o quadro 4, o número de entrevistas realizadas válidas se limitou a trinta e cinco, sendo cinco para cada uma das sete categorias empresariais do estudo, que abrange empresas turísticas de diferentes portes e ramos de atividade. Cada entrevistado só pôde representar um empreendimento, ainda que este integrasse um grupo empresarial.
Inicialmente, a chamada técnica ´Bola de Neve`, segundo a qual, um entrevistado indica e convida outro de sua confiança e, assim por diante até atingir um ponto de saturação (Costa, 2018), foi aplicada com vista a facilitar a abordagem com os empresários-alvo e o consentimento deles à realização da entrevista. Face aos altos índices de criminalidade no contexto brasileiro, a desconfiança e aversão do empresariado para participar desta pesquisa, foi uma barreira prevista e parcialmente superada com a mencionada técnica. O primeiro dos entrevistados foi um diretor de hotel quatro estrelas, indicado por um empresário de restaurante, com quem foi realizado o teste piloto. Desde a realização dessa primeira entrevista, foram esclarecidas para os empresários, todas as questões referentes ao estudo, bem como especificadas as características que os membros da amostra deverão ter. Feita a indicação ao término da entrevista, cada entrevistado então por sua vontade, realizou a primeira comunicação-convite com outra pessoa pertencente à mesma população-alvo. Vale destacar que cada indicação, passou por verificação dos entrevistadores para a devida confirmação do cumprimento de critérios de seleção das empresas, previamente definidos. Feito isso, procedemos à efetivação dos passos seguintes, nomeadamente: 1) Inserção, estado e controle do atendimento em banco de dados; 3) Comunicação por email ou por chamada telefônica (contendo a apresentação dos entrevistadores, objetivos, relevância da pesquisa, sensibilização, esclarecimentos e convite à participação no estudo); 4) Visita presencial ao empreendimento; 5) Agendamento e/ou realização da entrevista (presencial ou por vídeo-chamada)1.
Todo esse processo de abordagem continuou em cada uma das sete categorias de empresas, até que a métrica estabelecida antecipadamente, ou seja, quantidade máxima de cinco entrevistados, fosse atingida ou quando não surgissem mais novas indicações por parte dos entrevistados. Para Costa (2018), a adoção combinada dessas estratégias metodológicas de coleta de dados se mostra pertinente e eficaz para capturar integrantes da população-alvo que tenha maior influência e visibilidade social (Costa, 2018). Com um tempo médio de 20 minutos, as entrevistas foram realizadas em diferentes intervalos de tempo: de 15 de janeiro a 15 de março de 2019 e de 30 de março de 2020 a 20 de abril de 2021, sendo que para confirmar a coerência entre a inovação concebida e implementada, em função do tempo, empresas continuaram a ser acompanhadas até janeiro de 2022, sobretudo através de redes sociais e sites próprios.
Transcrevemos as entrevistas e fizemos análise do conteúdo. Assim, foram consideradas as orientações de Bardin (2009): 1) pré-análise, 2) exploração do material e 3) tratamento dos resultados, inferência e interpretação. Na primeira fase, organizou-se o material a ser analisado com o objetivo de torná-lo operacional e sistematizado. A segunda fase consistiu na exploração do material com a definição de categorias (codificação) e a identificação das unidades de registo e de contexto nos documentos. Por fim, ocorreu a condensação e o destaque das informações para análise, culminando nas interpretações inferenciais, o momento da intuição, da análise reflexiva e crítica (Bardin, 2009).
Categorias foram criadas para traduzir o significado (conceito e importância) da inovação. Todo o processo de análise de dados foi conduzido com o apoio do SPSS (Pacote Estatístico para as Ciências Sociais) e IRAMUTEQ (ferramenta de análises multi-dimensionais de textos e questionários). Primeiramente, nos valemos do IRAMUTEQ e a partir dele, tabelas e nuvens de palavras foram elaboradas. Depois, pudemos descrever frequências (absolutas e relativas) e estas, puderam alimentar uma base de dados no SPSS. Testes simples e análises geraram importantes insights passíveis de cruzamento com os resultados qualitativos. Estatísticas descritivas se manifestaram em dados como média, moda e desvio padrão. Já o teste de independência do qui-quadrado foi pertinentemente usado para verificar a (in)existência de uma relação significativa entre duas variáveis nominais. Os testes T, avaliaram se médias de grupos eram estatisticamente diferentes entre si. Não se puderam extrair conclusões com significado estatístico, nem realizar outros testes matemáticos, uma vez que a amostra utilizada no estudo não foi representativa da população (Pestana & Gageiro, 2014). Apesar disso, não observamos evidências de diferenças significativas entre as variáveis consideradas. Finalmente, confrontamos os resultados com a literatura.
O crescimento da atividade turística na cidade do Natal se apoiou tanto na apropriação ficcional do seu passado (e presente) quanto na apropriação historicamente social e mutável do meio ambiente, que acaba por se tornar referência para dinamizar a sua capacidade competitiva, enquanto destino ou conjunto de lugares de consumo no mundo globalizado. Essa capacidade competitiva envolve o apelo a estratégias contínuas para a ressignificação e agregação de valor a um conjunto de processos e recursos, por meio dos quais, o local, bem representado pelas estruturas empresariais, se torna destino capaz de competir globalmente com outros.
A Figura 1 apresenta o mapa com a divisão administrativa e limites de Natal.
Como elementos de destaque do rico e diversificado patrimônio natural natalense, os recursos ambientais, clima e relevo articulam e fornecem significados para estimular o crescimento do turismo (sobretudo, do tipo sol e mar). O clima da cidade banhada pelo estuário dos rios Potengi/Jundiaí e Pitimbu se define basicamente como tropical úmido.
Mais da metade das empresas de turismo brasileiras são lideradas por mulheres, seja na condição de sócias, diretoras gerais ou empresárias individuais (UNWTO, 2018). Ratificando essas informações, conseguimos alcançar empresas maioritariamente dirigidas por mulheres. Elas somaram 24 entrevistadas, que equivale a cerca de 69% da amostra; já os homens, 11 entrevistados, representam pouco mais de 31%. A presença masculina foi pouco mais expressiva apenas em empresas dos ramos de Restauração e Transportes.
Quanto à faixa etária, a frequência e percentuais obtidos foram: de 18 a 30 anos, só obtivemos 1 caso; de 31 a 40 anos, 6 casos; de 41 a 50 anos, 13 casos, de 51 a 60 anos, 8 casos e finalmente, com idade acima de 60 anos foram 7. A maioria dos gestores (13) possui idade entre 41 e 50 anos. 43 anos foi a idade mais comummente relatada. De um modo geral, observamos um baixo percentual de variância da faixa etária em função dos ramos. Particularmente, apenas em restaurantes, transportadoras de passageiros, locadoras de veículos, comércio e agência de turismo, a faixa etária dos gestores se mostrou relativamente pouco mais diversificada, variando desde 18 anos até mais de 60 anos.
A maioria dos entrevistados (13 ou 37%), declarou ter mais de 20 e até 30 anos de experiência. Um percentual também significativo se refere a nove gestores cujos anos de experiência são superiores a 30 e igual ou inferior a 40 anos. Finalmente, entrevistamos 6 gestores com pelo menos 40 anos de experiência, sendo que destes, dois declararam ter acima de 50 anos de experiência. O tempo de experiência de gestores, em função dos ramos, demonstrou variância similar e proporcional às suas idades, o que implica dizer que os 14 ou 40% deles, considerados mais velhos, com idade superior a 55 anos, possuem um tempo de experiência igualmente maior (Parry & Tyson, 2011). Também observamos gestores relativamente mais jovens com tempo de experiência elevado. O menor tempo de experiência relatado, 4 anos, coincidiu com a menor idade do gestor de uma das locadoras de veículos; ao passo que o maior, 52 anos, coincidiu com a maior idade, tendo sido esta, mencionada por uma das gestoras das agências de turismo. O tempo de 25 anos foi mais comumente mencionado, sendo que este também coincide com o tempo médio de experiência dos gestores.
Quanto ao nível de instrução, apenas 3 dos gestores declararam ter concluído o ensino médio, tendo frequentado, concomitantemente pelo menos um curso de nível técnico na área de Turismo (a exemplo de Guia de viagens turísticas, de Serviços, de Artesanato ou de Hotelaria). Em contraste, 32 gestores declararam possuir formação de nível superior completa, sendo que deste total, 11 revelaram ter cursado pelo menos um curso de Pós-graduação (a incluir especialização, mestrado ou doutorado). Complementarmente, constatamos que 16 gestores possuem a formação de nível superior na área de Administração de Empresas. Numa proporção menor, turismólogos somaram 9 entrevistados. Outras diferentes profissões foram mencionadas por 10 dos gestores. A maioria dos gestores, com formação superior (incluindo a pós-graduação) em Administração está concentrada nos ramos de hotelaria, restauração, transportes e aluguel de veículos. Já em agências de turismo e promoção de eventos, em lojas que comercializam artesanato e nas atividades de lazer e animação turística, a predominância de turismólogas foi significativa.
Muitas das características e aspectos das empresas se revelam como a própria materialização de formas de ser, pensar e agir dos seus gestores ou representantes, tal como sugerem os estudos de Aires (2017); Brunner-Sperdin & Peters (2005). A idade da empresa, bem como a sua natureza jurídica e número de colaboradores são algumas das informações de muita relevância para justificar o desempenho inovador ou entraves que comprometem as suas capacidades dinâmicas (Camisón & Monfort-Mir, 2012; Omerzel & Jurdana, 2016). O período de criação das empresas é mostrado no Gráfico 1.
As 4 empresas mais antigas de nossa amostra correspondem à parte do patrimônio histórico, gastronômico e cultural da cidade, nomeadamente, 1 restaurante, cujo ano de abertura foi 1976 e lojas de artesanato, que compõem juntamente com outros tipos de negócios, o Centro de Turismo, cujo ano de abertura foi 1977. Pouco tempo depois de inaugurado o principal marco de consolidação do Turismo em Natal, a Via Costeira/Parque das Dunas, com seus hotéis luxuosos (de 5 e 4 estrelas) houve um aumento significativo de abertura de empreendimentos turísticos.
Essa expansão teve início durante a década de 1980 e se mostrou contínua nas décadas seguintes (de 1990 a 1999 e de 2000 a 2009). Um aumento ainda mais significativo de abertura de empreendimentos turísticos foi registado na década de 2010 a 2019, decorrente de novas políticas de incentivo, que atraíram mais investimentos privados estrangeiros (sobretudo, no ramo da hotelaria). Somente nessa última década, pudemos confirmar o registo de abertura 28,6% da amostra, o equivalente a 10 empreendimentos de todos os ramos (exceto no de Comércio Varejista). Foram 2 hotéis, de 4 estrelas, 2 restaurantes, 1 locadora de veículos, 1 agência de turismo, 3 empresas do ramo de lazer e recreação. Nesse sentido, destacamos que só no ano de 2010, houve o registo de metade dos empreendimentos da década. Importa associar o referido aumento ao processo de urbanização, pelo qual, passou a cidade ao ser escolhida como sede da Copa do Mundo de 2014.
Quanto à natureza jurídica, constatamos que a maioria dos empreendimentos são compostos por Sociedades Limitadas (LTDA), representando 23 casos em todos os ramos (exceto a de Serviços Culturais). Em menor frequência, aparecem Empresário Individual (EI), com 6 casos; Empresa Individual de Responsabilidade Limitada (EIRELI), com 2 casos. Particularmente no ramo de Serviços Culturais, entrevistamos representantes de Organizações sem fins lucrativos (com 1 caso) e outros, incluindo organizações na forma de associações ou fundações municipais e estaduais (com mais 6 casos, dos quais 3 deles são do ramo de Comércio Varejista e Eventos). Como outra importante característica, a dimensão das empresas em função do número de colaboradores, é mostrada no Gráfico 2.
Pelo que mostra o Gráfico 2, podemos dizer que a maioria dos empreendimentos investigados são pequenas empresas, sendo que dessa parcela, 11 empresas menores, com até 9 colaboradores; ao passo que outras com um número de colaboradores superior a 9 e inferior ou igual a 49, somaram 10. Observamos uma predominância de mulheres não somente em cargos de gestão, mas como colaboradoras nos demais cargos e funções em todas as categorias empresariais mostradas.
Empresas com marca registrada no Instituto Nacional de Propriedade Industrial - INPI são maioria em todos os ramos, somam 25, sendo que em hotéis, restaurantes, empresas prestadoras de serviços culturais e agências de turismo os percentuais se mostraram relativamente um pouco maiores: 80% dos casos. Já nos ramos de Transportes, Aluguel de Veículos, Comércio, Eventos e Varejo, Recreação e Lazer. Pelo menos 1 das agências de turismo e das locadoras de veículos, funcionam sob o regime de franquias. Também confirmamos registo de patentes numa locadora de veículos, num museu e num parque aquático; em 2 hotéis, 2 centros de eventos com comercialização de produtos artesanais, três agências de turismo e finamente, em 4 restaurantes.
Para além disso, 14 ou 40% do total, patentearam inovação, garantindo assim o direito autoral sobre ela. Isso corrobora constatações de Camisón e Monfort-Mir (2012), Omerzel e Jurdana (2016): nas empresas de turismo, patentes ocorrem, mas não costumam ser dos indicadores mais predominantes. Inovações são difíceis de ocultar proteger ou patentear e elas costumam ser copiadas mais facilmente (Camisón & Monfort-Mir, 2012; Omerzel & Jurdana, 2016). Destacamos como exemplos de inovações patenteadas: sistemas tecnológicos de gestão, segurança e controle da poluição ambiental, máquinas e equipamentos automatizados para agilizar processos e garantir padrão de qualidade e TICs para a segurança no trabalho e gestão de pessoas e recursos. Exemplos esses, que se mostram alinhados com o previsto por Succurro e Boffa (2018).
Todos os entrevistados evidenciaram ter uma postura democrática e aberta a sugestões de seus stakeholders, reconhecendo mais precisamente, como uma das estratégias mais eficazes e importantes, a seleção e retenção de colaboradores qualificados e motivados no exercício de suas funções. Unanimemente, gestores afirmaram que desenvolviam ações para colher sugestões de melhorias desses colaboradores, atuando comumente em equipes. Assim, são adotados procedimentos formais (documentados) para captar as sugestões dadas pelos colaboradores (em 24 casos). Destacamos a unânime ocorrência dessa situação nas agências de passeios e locadoras de Veículos; bem como em 80% dos hotéis e dos restaurantes e em 60% das empresas prestadoras de serviços culturais, das agências de turismo e das que pertecem ao ramo de Recreação e Lazer. Já em empresas que comercialiazam artesanato, sobretudo as de menor dimensão (pequenas), observamos uma maior tendência à informalidade quanto ao mesmo processo: do ramo de Comércio, Eventos e Varejo Turístico, apenas 2 casos.
Também por unanimidade, os gestores entrevistados declararam que seus colaboradores recebem treinamento, aquisição ou atualização de conhecimentos que permite uma melhoria significativa de desempenho das funções exercidas ou a exercer. Pessoas compreendem e, individualmente ou coletivamente, podem influenciar contextos sociais, que vão além das condições de trabalho em que atuam. Em 20 casos, os colaboradores recebem capacitação, com base num plano formalizado e compartilham as informações regularmente. Importa dizer que desse total, 14 empresas (de todos os ramos) são de média dimensão; enquanto, 6 são pequenas. A tabela 1 para além de mostrar categoricamente a disposição das empresas em grupos ou redes corporativas, nos fornece a quantidade das empresas alcançadas, envolvendo os distintos ramos.
A maioria dos gestores de empresas (em todos os ramos), um total de 27 casos, equivalente a pouco mais de 77% da nossa amostra, estão envolvidos em grupos de empresas, cujas atividades principais pertencem à cadeia de turismo. Especialmente destacamos que todos os sócio-diretores de restaurantes declararam estar envolvidos em grupos de empresas, decorrentes do interesse de diversificação e ampliação da oferta de serviços e produtos turísticos complementares. Em menor proporção (80%) o mesmo também foi declarado por diretores de hotéis, de empresas do comércio varejista e eventos turísticos e de agências de turismo. Locadoras de veículos, agências de passeios e turismo receptivo, bem como empresas do ramo de Recreação e Lazer e de Serviços Culturais, cada qual, representando 60% da amostra, integram grupos também. Do total de 23 empresas integrantes de grupos, registamos alguns poucos casos (menos de 20%), que funcionavam sob o regime de franquias. Em consonância com Booyens e Rogerson (2016) e Camisón e Monfort-Mir (2012), percebemos que a dinamicidade do setor turístico também se manifesta na capacidade de alcance de novos e diferentes mercados de consumidores. Essa é uma das inúmeras oportunidades de inovação. Independente da dimensão, empresas de turismo estão propensas a investir e lançar suas marcas atraindo novos perfis de clientes no mercado local, regional, nacional e/ou internacional.
Empreendedores e empreendimentos sensíveis às necessidades da demanda vêm desde os primórdios se reiventando (Schumpeter, 1934; 1961; 1997) e desse modo, entendemos que os encontros e interações entre fornecedores e consumidores são cruciais para a (co)criação de valores acrescentados por meio de novas experiências geradas (Gentile et, al, 2007; Mossberg, 2007). Com base nas considerações, estabelecemos a primeira proposição.
Proposição 1: Independente de qual seja o subsector turístico a que a empresa pertença, gestores consideram a inovação como algo positivo e fundamental para a sobrevivência e competitividade empresarial.
Uma linha muito tênue envolve a concepção e a importância da inovação nas empresas de turismo. Na perspectiva dos gestores entrevistados, muitos dos conceitos de inovação relatados, por si só, evidenciaram o seu fundamento e razão de existir. O inverso também foi observado. De todo modo, julgamos cabível definir expressões-sintetizadas para traduzir a essência do significado de inovação com base na interpretação e análise de coincidência ou aproximação das frequências com que os termos apareceram nos relatos. Com efeito, observamos que a principal marca característica da inovação se reflete na capacidade de manter mudanças significativas constantemente comercializáveis (OECD, 2005; Schumpeter, 1934). Também importa destacar que o significado se traduz ora como resultado, ora como o próprio desempenho das empresas, tornando-se condição sem a qual elas não prosperam ou sobrevivem no mercado (Camisón & Monfort-Mir, 2012).
Em consonância com os conceitos da inovação da literatura, o significado da inovação na perspectiva dos gestores está atrelado à ideia de renovação, melhorias significativas, reconfigurações necessárias (físicas, relacionais ou virtuais), interações, conhecimento (adquirido, aprendido, partilhado e/ou imitado), sensibilidade e capacidade de satisfazer, solucionar problemas e agregar valores. Especificamente, podemos descrever a inovação nas empresas de turismo como a arte de pesquisar, descobrir, desenvolver, explorar, melhorar continuamente, renovar, reinventar, reconfigurar, atualizar, reconhecer potenciais e transformar problemas e necessidades identificadas em oportunidades sustentáveis de mercado (em consonância com Pazini, 2015, Rodrigues e Anjos, 2016 e Aires, 2017; 2021). A Tabela 2 mostra uma síntese de definições-chave.
De acordo com a Tabela 2, pudemos perceber que a variância de percentuais entre as sete categorias de empresas foi muito pequena. Complementarmente, a Figura 2 ilustra as definições-chave em nuvem de palavras, mencionadas pelos entrevistados.
Todas as expressões-síntese estão interrelacionadas e fazem alusão principalmente à necessidade de diagnosticar e compreender a realidade, assimilar e utilizar o conhecimento (adquirido a partir de internet, fontes internas ou externas) e os recursos disponíveis (materiais, tecnológicos, humanos, etc.) eficazmente (Brunner-Sperdin & Peters, 2005; Thomas & Wood, 2014). Certamente, estudos de mercado favorecem o acompanhamento de tendências, que se refere principalmente à habilidade de saber captar e conhecer gostos e preferências de clientes. Esta, por sua vez, também está associada ao monitoramento do desempenho de colaboradores, fornecedores, concorrentes e mesmo de parceiros.
A figura 3 mostra especificamente as definições-chave relatas pelos entrevistados para descrever a importância da inovação para as empresas.
Pelo que mostra a figura 3, podemos confirmar os difusos limites, que envolvem conceito e importância da inovação. A frequência média percentual de algumas definições-chave idênticas, comuns (aquelas que emergiram dos relatos de entrevistados na tentativa de conceituar e descrever a importância da inovação), também sofreu pequenas variações. Por exemplo, os termos "qualidade" e "diferencial" foram mencionados em todas as categorias de empresas por gestores para descrever o conceito, cada qual com frequência relativa equivalente a cerca de 69%. Já para descrever o fundamento da inovação para as empresas, esses valores são mais representativos, cada qual alcançou frequência relativa média equivalente a cerca de 86% dos casos. As principais expressões-síntese acerca da importância da inovação contribuem para reforçar a noção positiva e fundamental que o significado da inovação denota aos gestores, em todos os subsectores turísticos. Os termos mais comumente usados para descrever sinteticamente a importância do fenômeno foram: 1) "Atrai clientes" - 100% dos casos; 2) Proporciona "Sucesso" - 97,14% dos casos; 3) "Reduz custos" - 94,28% dos casos; 4) "Promove sustentabilidade" - equivalente a 91,42% dos casos; 5) "Agrega valores"; 6) "Melhora a imagem da empresa"; 7) "Gera conhecimento" - cada qual representando 88,57% dos casos; 8) "Qualidade", 9) "Lucratividade" e 10) "Fundamental", "Diferencial" e "Aumenta o faturamento - cada qual, representando 5,71% dos casos. A variância desses percentuais entre as 7 categorias de empresas também se mostrou muito pequena. Em todos os casos referidos, foram obtidos como valor mínimo, o percentual de 60%, demonstrando de toda forma, a representatividade maioritária pelas categorias de empresas. Particularmente, a constatação de que a inovação é algo fundamental para manter a empresa ativa no mercado competitivo também é evidenciada com percentuais que revelam representatividade maioritária em todos os casos, sendo o maior 100% e o menor 80%. A análise de todos esses dados nos permite validar a primeira proposição, reafirmando a inovação como algo positivo e fundamental para a sobrevivência e competitividade das empresas de turismo, independente de qual seja o subsector a que pertençam. Ademais, o significado da inovação, como um termo abstrato, apreendido sob distintas formas e conteúdos, acaba por tornar sua essência mais específica e detalhada, servindo como suporte à segunda proposição.
Proposição 2: Independente de qual seja a dimensão da empresa de turismo, o significado da inovação é concebido pelos gestores como algo positivo e fundamental para a sobrevivência e competitividade empresarial.
Gestores demonstraram dominío e consciência da significação própria da inovação, bem como de seu valor positivo e fundamental para a competitividade e sobrevivência empresarial, condizente com a literatura (Aires, 2017; Brunner-Sperdin & Peters, 2005; Booyens e Rogerson, 2016; Camisón e Monfort-Mir, 2012; OECD, 2005). A dimensão não se realça como um critério determinante para definir a consciência e riqueza de detalhes acerca dos diferentes significados que a inovação pode assumir no turismo. Em partes, esse resultado refuta o que fora sugerido por Pikkemaat e Weiermair (2007), Vadell e Orfila-Sintes (2008) e Succurro e Boffa (2018): geralmente, médias e grandes empresas estão submetidas a dinâmicas mais complexas de inovação e isso pode conferir aos seus gestores, maior propriedade para discutir acerca delas. A Tabela 4 nos mostra a representatividade (em frequência percentual) com que significados são mencionados pelos gestores, em função da dimensão das empresas de turismo.
Com efeito, a proporção das respostas de médias empresas sofreu menor variação, em função do seu menor percentual representativo. Contudo, face a isso, não houve qualquer significado ou detalhe acrescentado sobre as dinâmicas de inovação que não tenha sido também revelado por gestores de pequenas empresas. Inferências como essa sustentam que significados independem da dimensão empresarial. Além disso, verificamos que outras variáveis relacionadas ao perfil das empresas se mostraram independentes da definição dos significados. O mesmo se pode dizer com relação ao perfil dos gestores.
O significado da inovação mais comum aludiu à necessidade de se estabelecer conexões (virtuais ou presenciais) contínuas a envolver pessoas e organizações (Vadell & Orfila-Sintes, 2008). A inovação foi descrita como um processo complexo de capacidades dinâmicas (Camisón e Monfort-Mir, 2012), que permite às empresas, mesmo em tempos de crise global, a oportunidade constante de superação, controle, adaptação e reação a mudanças e necessidades (Brunner-Sperdin & Peters, 2005). Empresas devem estar sempre conectadas para atrair consumidores e fidelizá-los, constantemente (re)pensando e (re)definindo estratégias para satisfazer suas necessidades reais e potenciais. Nesses termos, sublinhamos a importância da formação de redes, grupos de empresas e o fortalecimento de alianças estratégicas (Booyens e Rogerson, 2016, Pikkemaat e Weiermair, 2007) para a complementaridade dos produtos e serviços ofertados, redução de riscos, bem como para o aumento da competitividade e lucratividade.
Valendo-se da multidisciplinaridade e a partir de uma abordagem global e clássica para uma mais específica e complexa, este trabalho inédito cumpriu o propósito de mostrar a evolução conceitual de inovação (por meio de reflexão crítica, dialogada e sintetizada) sob diferentes perspectivas, associando-a às concepções de gestores de empresas de turismo diversas com vista a se alcançar um maior e mais completo entendimento da inovação no todo empresarial, que representa o setor. Com efeito, o turismo possui limites difusos e corresponde a uma combinação interligada de empreendimentos comtemplando diferentes ramos de atividades, lugares, relações, esforços, estratégias e apropriação de recursos por parte de empreendedores, que sensíveis e em função dos variados contextos espaço-temporais e necessidades da procura, tem se reinventado para se adequar e estimular um promissor mercado movido à venda do consumo de experiências, à co-criação e compartilhamento de valores. Dinâmicas da inovação no turismo são permeadas por inúmeros aspectos objetivos e subjetivos e por conseguinte, inesgotáveis possibilidades de diálogos e expansão de abrangência conceitual e prática existem.
A inovação no turismo, ora como resultado, ora como o próprio desempenho das empresas também se traduz na ação de pesquisar, descobrir, desenvolver, melhorar, tornar aceitas ou comercializáveis, as coisas e os modos de fazê-las. Alinhados tanto à literatura clássica como a literatura específica do turismo, que se restringe a ramos isoladamente, os significados da inovação intrasetorial, aqui apresentados apareceram atrelados à ideia de renovação, melhorias significativas, reconfigurações, interações, conhecimento (adquirido, aprendido, partilhado e/ou imitado), estratégias sustentáveis, soluções de problemas, co-criação de valor e satisfação de necessidades de consumidores e outros stakeholders. A componente humana ou de subjetividade (para conceber e fazer acontecer a inovação) não pode ser negligenciada das pesquisas, mesmo aquelas focadas em apreender aspectos objetivos da inovação. Especialmente no turismo, subjetividades são inerentes às dinâmicas de evolução conceitual e de práticas inovadoras. Em sintese, podemos considerar que a essência da inovação setorial é o aprendizado construído social e interativamente; sujeito a regras abertas, ao engajamento, à criatividade, ao sentir ou se fazer sentir e por conseguinte, à compreensão. Tudo isso supõe uma cota de risco e incerteza.
Diálogos com gestores permitiram trocas mutuamente benéficas de aprendizado. Pudemos sensibilizar e conscientizá-los, refletir e estimular neles, o contínuo repensar de significados e a implementação da inovação em turismo. A gestão adequada da inovação empresarial no setor pode contribuir para avaliações intersetoriais mais eficazes, considerando desde a perspectiva individual à interativa, estrutural e/ou sistêmica. A descrição do perfil dos gestores e características das empresas associada à apreensão dos significados da inovação foi importante para a compreensão de que há similaridades e diferenças entre estudos desenvolvidos em contextos diversos. Confirmamos que independente das características de perfil dos gestores e das empresas e/ou subsector, gestores consideram a inovação como algo positivo e fundamental para a sobrevivência e competitividade empresarial.
Formas e conteúdos apresentados nesta pesquisa são replicáveis, passíveis de ajustes e adequações para incentivar o ineditismo de outras. Ou seja, organizações turísticas em outros contextos podem aprender e vislumbrar novos conceitos e alcances, a partir dos resultados discutidos neste estudo realizado em Natal. A análise de significados da inovação, rigorosamente confrontada com definições-chave na literatura internacional pôde sintetizar numa proposta conceitual, aspectos objetivos e subjetivos da inovação no turismo, além de enriquecer o corpo de estudos sobre o tema no contexto brasileiro. O realce do contexto Natal aqui, se apresenta como oportunidade de dar-lhe maior visibilidade (perante sociedade e academia) para facilitar intervenções, capazes de solucionar problemas e/ou desenvolver estratégias a fim de melhorar sua vantagem competitiva nos cenários regional, nacional e internacional. Recomendamos estudos teórico-empíricos complementares, que prezem pelo uso de comunicação síncrona e acompanhamento (incluindo também canais virtuais) das empresas. Além disso, também evidenciamos como vários dados quantitativos (ou seja, frequência de palavras, valores de p) podem ser explorados e usados para sustentar a interpretação qualitativa nas Ciências Sociais.
O público-alvo e número restrito de entrevistas realizadas constituem algumas de nossas principais limitações. Assim, a estratégia de também incluir outras partes interessadas nas empresas (colaboradores do back e front office, clientes, organizações governamentais, etc.) seria pertinente. Para além de entrevistas, poderíamos ter elaborado e aplicado inquéritos e enviá-los eletronicamente. Teríamos também a oportunidade de comparar a eficácia, qualidade de respostas e tempo hábil da taxa de retorno entre os dois procedimentos. Vale salientar ainda que a técnica de focus group parece pertinente e compatível ao alcance de objetivos semelhantes aos nossos. Poderia ter sido implementada no contexto investigado e ter alcançado em menor intervalo de tempo, resultados mais relevantes e generalizáveis.
Um número significativo de empresas, pôde ser acompanhado, através de redes sociais. Páginas de facebook passaram a ser acompanhadas antes e depois das entrevistas para confirmar ou atualizar informações, servindo como evidências para enriquecer nossas ob- servações. Isso não ocorreu em todos os casos. Contudo, essa busca espontânea ainda que metódica, se mostrou mais intuitiva do que sistematizada. Nisso reside mais uma limitação. Recomendamos que pesquisas futuras priorizem a sistematização e rigor na adoção de estratégias e procedimentos metodológicos de coleta e análise de resultados. Ademais, a pesquisa foi realizada no Brasil, um país com dimensões continentais. No entanto, nosso foco espacial ficou restrito a Natal. O desenvolvimento de estudos em outras localidades dentro ou fora do país seria necessário para facilitar comparações e enriquecer o corpo de estudo sobre o tema. Levando-se em conta que em função do contexto histórico-temporal, significados e práticas da inovação são dinâmicos, a relação intrínseca entre tempo, conceito, implementação de inovação e comportamento empreendedor no turismo podem também ser melhor investigados em pesquisas futuras. Novas contribuições podem complementar nossos resultados, a partir destas questões: Que (novos) significados de inovação poderão ainda emergir no período Pós-Pandemia? Que tipologias ou indicadores de inovação no turismo poderíamos apreender a partir da apreensão desses significados? Finalmente, recomendamos a proposta de modelos conceituais para a potencializar a adequada gestão, avaliação e medição da inovação no turismo.
Este trabalho foi financiado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível - CAPES, Ministério da Educação, Brasil (Processo BEX 00967-15-7) e pelo Instituto Ânima (edital 12/2022).
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