Resumo: Hackett (1993) trabalha paradigmas de parcialidade e de objetividade nos media noticiosos como categorias concorrentes, tendo como pressuposto a ascensão e declínio de modelos jornalísticos. Para fugir desta ideia, trabalhamos neste artigo a experiência metodológica de uma pesquisa de doutorado a partir do aparato contido em epistemes, de Foucault (1995; 2002). Na pesquisa, a historicidade do objeto de estudo transpassava inúmeros agentes sociais em quase seis décadas de prêmios em Jornalismo no país (1955-2013), mas a noção de ondas discursivas .epistemes, ao invés de paradigmas) supera o dualismo entre parcialidade e objetividade (1); ascensão e decadência de um modelo jornalístico (2). Tal aplicação pode ser operacional para outras pesquisas na área de Comunicação e do Jornalismo, principalmente no tocante à Teoria da Notícia, em objetos perpassados por diferentes modelos jornalísticos.
Palavras-chave:ComunicaçãoComunicação,Cultura UrbanaCultura Urbana,CidadaniaCidadania,Políticas PúblicasPolíticas Públicas.
Abstract: Hackett (1993) works partiality and objectivity paradigms in news media as competing concepts underneath the presupposes: the rise and decline of journalistic models. To overcome this dualist idea, we work in this article the methodological experience of a doctoral research and its application according to the Foucault epistemes (1995; 2002). The discursive waves as the historicity main frame allowed approach several social agents in six decades of journalism awards in Brazil (1955-2013). Epistemes overcomes the dualism between partiality and objectivity; rise and decay in journalistic models. This can be functional to other Communication and Journalism researchs, especially in News Theory.
Keywords: Communication, Urban Culture, Citizenship, Public Policy.
Artigos Livres
A episteme de Foucault como recurso metodológico frente aos paradigmas de Hackett da Teoria da Notícia: uma experiência no estudo de Prêmios em Jornalismo
The Foucault episteme as methodological recourse option to Hackett paradigms on Theory News: an experience in Journalism Awards research
Recepção: 12/06/2015
Aprovação: 13/07/2016
A primeira pesquisa de doutorado sobre prêmios em Jornalismo no país (CASTILHO, 2010) esbarrou numa surpresa: o Prêmio Esso de Jornalismo, edições de 1964 a 1978, e as implicações na identidade profissional do jornalista brasileiro, durante o Regime Militar. O autor estudou a premiação: desde a instauração do regime (1964-1968), período de controle mais rigoroso da censura (1968-1975) ao início da abertura política (1975-1978), a partir de entrevistas com membros do júri e jornalistas premiados em algumas edições desses três períodos. Em seguida, a pesquisa Prêmios em Jornalismo: Paradigmas em Transição (DIAS, 2013) trabalhou em dois eixos de atuação prêmios a partir de uma pesquisa empírica com um levantamento de 114 prêmios e sua catalogação em 30 classificações sobre quem são os atores e elementos desse cenário premiativo, utilizando as epistemes (Foucault): pós-Objetividade (1) e pós-Sujeito (2)2. Essas duas teses trazem a questão do estudo dos prêmios em Jornalismo, algo ainda incipiente na pesquisa em Comunicação, no Brasil.
O caminho de estudo sobre prêmios também parece ser emergente na ciência, em vista das pesquisas feitas: na Região Sul (1997 e 2006), no CentroOeste (2006, 2008, 2010 e 2013) e no Sudeste (2004, 2007 e 2010). O conhecimento científico sobre prêmios em Jornalismo saltou de apenas uma pesquisa (década de 1990), para oito pesquisas, em 13 anos (até 2013). Um crescimento de 600% na década de 2000 (em relação à década de 1990) e um acréscimo de 25% na década de 2010 (em relação à década de 2000). Este artigo vislumbra exatamente alguns problemas no enfrentamento teórico-metodológico desse universo, não tão comum à Teoria da Notícia e aos programas de pósgraduação, alinhados a linha de pesquisa e concentrados em processos relativos às condicionantes ideológicas, conceituais e históricas de inúmeros modelos jornalísticos.
Há premiações em jornalismo para matérias, profissionais e empresas de comunicação. Os prêmios são dispositivos na cultura profissional que prescrevem ethos, valores e procedimentos, baseados em modelos jornalísticos. Nesse universo, duas epistemes são trabalhadas. A primeira com questões sobre adoção (ou não) dos critérios de objetividade, baseado na tensão entre informação das redações e das assessorias: Jornalismo Investigativo (denúncia) e Jornalismo Institucional (promoção). E a segunda, relativo à questão do sujeito, com a tensão do jornalista interventor (ou não) na realidade: Jornalismo Informativo (isenção, imparcialidade, impessoalidade) e Jornalismo Público .advocacy, engajamento e mobilização social). Esses quatro modelos3 possuem pressupostos e premissas que já são pacificadas pela ciência; mas, que, em alguns trabalhos, podem servir de entrave para uma análise a partir de um corpus maior no número de dados (abrangência geoespacial: regional, nacional, internacional), além do tempo e espaço (pesquisa cronológica, histórica). Sabemos que o estruturalismo e o pósestruturalismo oferecem aparelhos teórico-metodológicos que resolvem este tipo de problema, mas encontramos dificuldades em relação a abordagens de prêmios, pois uma mesma premiação pode conter um ou mais categorias que incidem sobre vários os modelos, citados. Em Hackett (1993), por exemplo, concentrado em áreas e alinhado a linhas de pesquisa da Teoria da Notícia, os modelos jornalísticos são puros: de opinião ou objetivos (1); ascendentes ou decadentes (2). O Prêmio Esso, por exemplo, tem várias categorias dentro de seu escopo e premia várias práticas jornalísticas para muito além do purismo dos modelos. Dessa forma, este artigo, é uma tentativa de discutir essa problemática de abordagem e manipulação dos dados característicos da realidade do jornalismo para construção de pesquisas (vários gêneros, modelos concorrentes e/ou opostos que podem ser premiáveis e certificáveis no âmbito de uma mesma premiação). Tomamos como factível, credível e operacional todo o aparato de Hackett (1993) em relação à notícia, pois os gêneros jornalísticos são distintos. Mas, quando se trata de premiações, a coisa não funciona assim: um mesmo prêmio pode ter categorias para Jornalismo Informativo, Jornalismo Opinativo, Jornalismo Investigativo, Jornalismo Público, Novo Jornalismo.
Uma ressalva conceitual nesse contexto: o Jornalismo Público não chega a ser antagônico ao Jornalismo Informativo na questão dos pontos de contato com a Teoria da Notícia, pois também referenda a adoção dos critérios de Objetividade, divergindo apenas quanto à questão do sujeito (isenção x atuação), valores-notícia (ou valores-serviço) e fluxo de agendamento (contra-agendamento e coagendamento). Dessa forma, utilizando os mesmo princípios de estruturação e produção da notícia, incorre também em controle do seu trabalho (BREED, 1993) nas rotinas produtivas (TUCHMAN, 1993), a questão da ação pessoal e seleção de notícias por um filtro (WHITE, 1993), o profissionalismo (SOLOSKI, 1993), sofrimento com a pressão do tempo (SCHLESINGER, 1993), relacionamento entre fontes e os jornalistas (MOLOTCH; LESTER, 1993), além de questões relativas à visão de mundo e à cultura profissional (SCHUDSON; HALL, 1993). O grande contraste entre Jornalismo Informativo e Jornalismo Público é a concepção burguesa mercantil (a partir do cão de guarda das instituições na Democracia Representativa) e a concepção social cidadã (a partir do Jornalismo como instrumento de cidadania na Democracia Participativa).
Manuais de metodologia podem trazer inúmeras técnicas para resolver situações, mas são ferramentas que não conhecem os problemas de pesquisa e as infinitas implicações que podem existir em cada objeto. No nosso caso, em relação à Teoria da Notícia, era muito patente que: os prêmios não se comportam como os gêneros jornalísticos, pois um mesmo prêmio pode premiar dois, três ou quatro modelos diferentes de jornalismo. Não é porque o Prêmio Esso nasceu premiando e validando o modelo Jornalismo Investigativo, em 1955, que, quase 60 anos depois, verse certificações da boa prática jornalística apenas sobre essa categoria. Um mesmo prêmio pode ter um tema central como ação, um tema pontual por edição, diversas categorias, além de inúmeras subcategorias de premiação: o que incorre em vários modelos jornalísticos no âmbito da mesma premiação.
Poderíamos tratar da questão da Objetividade abordando pela Teoria da Notícia e organizando os capítulos a partir dela. Logo, esta seção, poderia se chamar Prêmios e a Teoria do Espelho. Entretanto, como trabalhamos com diversos modelos e, por uma questão didática e de organização do conhecimento, preferimos nomear a seção entendida como episteme a partir dos efeitos pósObjetividade que recaem sobre quatro modelos: Jornalismo Investigativo (denúncia), Jornalismo Institucional (promoção), Jornalismo Informativo (isenção, imparcialidade, impessoalidade) e Jornalismo Público (ação social na realidade).
No âmbito da pesquisa-tese, Prêmios em Jornalismo: Paradigmas em Transição, Foucault não foi uma escolha adequada meramente pela questão das epistemes para suavizar o antagonismo entre modelos de jornalismo (exposto, por exemplo, em Hackett); mas por suavizar a questão das lutas ideológicas como tributárias de dado modelo e trazendo a questão das disputas para a questão do poder, o que foi muito pertinente e operacional ao se trabalhar com um mosaico complexo composto por: 114 prêmios, 43 regulamentos dessas premiações, 43 assessorias de imprensa, 25 empresas terceirizadas gestoras de prêmios, três configurações institucionais (Primeiro Setor, Segundo Setor . Terceiro Setor), dois eixos temáticos (pós-Objetividade e pós-Sujeito), quatro modelos jornalísticos concorrentes (Jornalismo Informativo, Jornalismo Investigativo, Jornalismo Institucional e Jornalismo Público), três modelos jornalísticos adjacentes (Jornalismo Econômico, Jornalismo Corporativo e Mídia das Fontes), dois padrões de perspectivas teóricas (midiacêntrico e sociocêntrico, de Motta) e 30 classificações de dados, atravessados por prêmios em cinco décadas e quase 60 anos de história. Discutir a mudança de práticas e processos nas premiações com tantas variáveis, a partir de quatro modelos, se tornou algo inviável. Apesar de todo o aparato estruturalista e pós-estruturalista, que proporciona estudos que tenham uma vasta projeção no tempo (cronologia e historicidade), levamos quase um ano para construir um arranjo analítico, a partir das epistemes em duas grandes ondas discursivas do jornalismo brasileiro, tendo como critério premiações surgidas a partir de práticas e processos relativos à adoção (ou não) de pressupostos de Objetividade .episteme 1); e premiações surgidas e classificáveis a partir da adoção de uma postura de intervenção do jornalista na realidade, a questão do sujeito, sendo o profissional premiado exatamente por isso (episteme 2). Dessa forma, superamos o conflito entre modelos jornalísticos (pressupostos e premissas) e avançamos para a abordagem dos dados utilizando um aparelho teórico-metodológico da filosofia analítica, algo pouco ortodoxo nos estudos da Teoria da Notícia.
Logo, os dois eixos de organização do estudo dos prêmios em seis décadas (DIAS, 2013) foi feito a partir das tensões emergentes dos modelos jornalísticos, concentrados na episteme Pós-Objetividade (tensão: redações x assessorias) e na Pós-Sujeito (tensão: isenção x atuação). Esse arranjo conseguiu superar os antagonismo e pressupostos concorrentes entre vários modelos jornalísticos que uma mesma premiação pudesse ter. Discutiremos esses arranjos mais à frente, enumerando práticas e elementos desses dois blocos de práticas e processos. Sabendo que o referencial de Objetividade não se encerra no tempo e no espaço, vigendo até hoje e sendo uma referência não só para redações (Jornalismo Informativo, Jornalismo Investigativo), mas também para assessorias (Jornalismo Informativo, Jornalismo Institucional); ao passo que outros referenciais que superam a Objetividade emergiram: como os do sujeito e os da intervenção do jornalista na realidade (ação social), o que é o caso do Jornalismo Público (que não se confunde com o sujeito do Jornalismo Opinativo, por exemplo). Esse foi o problema no tratamento teórico-metodológico que tornou difícil a criação das categorias de análise e a classificação feita pela análise de conteúdo, no âmbito de pesquisa. E é sobre esse enfretamento e opção metodológica que tratamos, aqui.
Contextualizando, esses são os 114 prêmios do levantamento da pesquisatese: no rodapé4. Alguns chegam a ter quase 60 anos de existência. Outros, são anuais; há ainda os que são bianuais. Alguns possuem apenas uma categoria de premiação e referem-se somente a um dado modelo de jornalismo (sentido puro, ao qual Hackett poderia ser aplicado); outros, chegam a ter mais de 10 categorias e premiam diversos tipos de profissionais, referendando em um mesmo prêmio vários modelos (o que traz um caos metodológico por misturar pressupostos e premissas de modelos diferentes, referentes à Teoria da Notícia). Os modelos jornalísticos pensados como editorias, gêneros jornalísticos e paradigmas são bem conhecidos da Teoria da Notícia e são distintos. Mas em prêmios, eles todos podem pertencer a uma mesma premiação, diferenciando-se apenas em categorias diferentes.
Dito isso, sobre a questão dos paradigmas, com noções em Hacket (1993) e Kuhn (1996), esclarecemos que: o termo grego paradigma, que significa modelo, episteme (entendido no sentido de cosmovisão, da forma pela qual o mundo é percebido e representado) é utilizado por Thomas Kuhn em vários sentidos. Paradigma é uma concepção de ciência historicamente orientada (KUHN, 1996, p. 15). É uma construção epistemológica. Já episteme é um recorte com base em um conhecimento e um discurso que pode ser fora da historicidade científica (FOUCAULT, 1995; 2002). É um constructo da filosofia analítica que visa libertar o sujeito da linguística e da historicidade.
No nosso caso, convém explicitar três tipos de paradigmas: o sociológico, o metafísico e o epistemológico. No sentido sociológico, paradigma é a estrutura absoluta de pressupostos que alicerça uma comunidade científica, isto é, o conjunto de valores, crenças, técnicas, normas partilhados pela comunidade científica. No sentido epistemológico, paradigma é esquema de pensamento para a explicação e compreensão da realidade. Já no sentido metafísico, paradigma é uma determinação mais ampla e mais difusa que a teoria, ou seja, não é uma teoria e pode funcionar sem ela sendo, nesse caso, mais extenso que a teoria (ESTRADA, 2004, p. 6). A transição de um paradigma em crise para um novo, do qual pode surgir uma nova tradição de ciência normal, está longe de ser um processo cumulativo obtido através de uma articulação do velho paradigma. É antes uma reconstrução da área de estudos a partir de novos princípios, construção que altera algumas generalizações teóricas e mais elementares do paradigma, bem como muito de seus métodos e aplicações (KUHN, 1996, p. 116).
O Paradigma em Hackett tem subentendida a ideia de concorrência, declínio e ascensão (HACKETT, 1993, p. 101-132) seguindo a lógica: isso versus aquilo. O Paradigma em Kuhn obedece a lógica epistemológica de: isso é isso. Ponto final (KUHN, 1996). A Episteme5, em Foucault, é bem flexível por ser oriunda da filosofia analítica e não ser linguística propriamente dita, exercendo uma lógica de: isso é isso, vírgula. E pode ser uma ferramenta adequada para estudos com dados perpassados em vasta envergadura no tempo e no espaço (abrangência geoespacial, pesquisa longitudinal, cronológica, histórica). Também se torna operacional pela possibilidade de abordagem múltipla de dados (ainda mais quando se esbarra em ideologia e em pressupostos da Teoria da Notícia, de cunho estruturalista e etnoconstrucionista: Agenda Setting, Newsmaking, Gatekeeper. Além de categorias e conceitos, tais como: Noticiabilidade, Valores Notícia e Objetividade).
Diante disso, é questionável se os padrões ou modelos aceitos, como chama Kuhn, poderiam se aproximar do conceito de episteme em Foucault, já que se pronuncia através dos discursos que se legitimam como verdadeiros nos espaços e tempos de cada momento histórico. Segundo Foucault, existe em cada época histórica uma única episteme se pronunciando, através de um conjunto de relações, “que imporia a cada um as mesmas normas e os mesmos postulados, um estágio geral da razão, certa estrutura de pensamento a que não saberiam escapar os homens de uma época – grande legislação escrita por mão anônima” (FOUCAULT, 2002, p. 217).
O interessante dos prêmios é que eles não são elaborados necessariamente por um tipo profissional (1) ou algum setor da sociedade (2): assessores (sentido estratégico de Comunicação Integrada: com lógica organizacional), assessores (sentido noticioso: Jornalismo Institucional, com jornalistas nas organizações) (1); ou mesmo de Primeiro Setor, Segundo Setor e Terceiro Setor (2) (FERNANDES, 1994). Existem diversos grupos que editam premiações numa rede de ação muito maior que a dos prêmios consagrados do jornalismo brasileiro. Em um universo de 114 prêmios é impossível fazer a varredura e classificação precisa de cada um, até mesmo porque uma mesma premiação pode pertencer a um ou mais modelos de jornalismo (vide o tema do prêmio: como ação; o tema anual da edição: como dossiê temático; e os subtemas das categorias). Nesse sentido, a pesquisa se afastou da questão da ideologia e disputa entre modelos prescritivos de dado tipo de jornalismo e se apoiou na concepção de poder e de micropoderes, onde o discurso por si só já é um tipo de poder (FOUCAULT, 1995; 2002). E estes poderes se cruzam e se relacionam.
A pesquisa trabalhou num sentido de filosofia analítica (epistemes: ondas discursivas e emaranhados de conhecimentos e práxis), em detrimento de uma abordagem epistemológica muito fechada (paradigmas rígidos e fechados dentro da ciência) (FOUCAULT, 1995, p. 386), acreditando que as ciências humanas não dão conta de desvendar o que o homem é por natureza, mas, sim, desvendam a positividade (configuração epistemológica) do ser humano de forma interdisciplinar, em relação a dado universo ou áreas do conhecimento, tais como Sociologia, Economia, Psicologia e Filologia6. Trazemos este relato como uma reflexão para os estudos em Jornalismo.
A episteme de Pós-Objetividade foi utilizada em Dias (2013) para resolver o grande número de prêmios e itens analisáveis na pesquisa que pudesse se enquadrar em várias classificações: Quais setores premiam mais? Realizadores (1), Quais setores premiam mais? Parceiros (2), Formas de adesão (3), Cronologia dos prêmios: em anos de atuação (4) Cronologia dos prêmios: em número de edições (5) Abrangência Territorial (6), Tipos de galardão, Recompensa em dinheiro: Honorários em quantidade (7), Tipos de galardão, Recompensa em dinheiro: Honorários em porcentagem (8), Tipos de galardão, Recompensa simbólica: Tipos de honrarias (9), Tipos de galardão, Recompensa simbólica: Honrarias em porcentagem (10), Menção Honrosa (11), Periodicidade (12), Taxa de Inscrição (13), Registro Legal (14), Registro em Cartório ou Diário Oficial (15), Terceirizado (16), Júri (17), Quanto à soberania do júri (18), Quanto à composição do júri (19) Controle: Auditoria (20), Controle: Instância Recursal (21), Quanto a jornalistas: Profissionais e Estudantes (22), Quanto a jornalistas: Sindicatos e Associações (23), Avaliação Temática: Temas Humanísticos (23) Avaliação Temática: Metas do Milênio (24), Tipo de Mídia: Em quantidade (25), Tipo de Mídia: Em porcentagem (26), Modalidade Jornalística (27), Direito Autoral e Patrimonial (28), Apropriação de Material para fins didáticos (29) e Responsabilidade Legal (30).
O problema todo estava em: como fazer um arranjo homogêneo para se estudar os prêmios sendo que eles podem pertencer a um ou mais modelos de jornalismo ao mesmo tempo? Exemplo: o Prêmio Esso nasceu em 1955 premiando a melhor reportagem, valorizando o modelo Jornalismo Investigativo e a reportagem. Em 60 anos, o jornalismo brasileiro mudou. O próprio Prêmio Esso tem categorias, já desde os anos 90, que não premiam apenas a boa prática deste modelo (tributário dos pressupostos de objetividade), mas também os jornalistas com coberturas com impacto social (de modelos tributários da intervenção na realidade, como o Jornalismo Público) ou da promoção de um direito humano de dado grupo social.
O campo jornalístico tem a técnica como um dos elementos determinantes de seus limites e até de seu discurso. Modalidades de escrita, como o Jornalismo Opinativo e Jornalismo Informativo, advém desses contornos. O pressuposto da Objetividade, que visa assegurar a impessoalidade, a imparcialidade e a isenção. A adoção (ou não) dos critérios objetivos implica na configuração e profissionalismo da atividade jornalística (SOLOSKI, 1993).
O intuito de desenvolver esta episteme sobre os efeitos pós-Objetividade7 está no fato de que os prêmios, no Brasil, começaram a ser editados a partir do Prêmio Esso de Jornalismo, em 1955, marcado pela promoção de critérios objetivos. E instauraram preceitos de linguagem e forma jornalística, tais como: estilo direto, imparcialidade, factualidade, isenção, neutralidade, distanciamento, copy-desk, manuais de redação, além das técnicas de lead e pirâmide invertida. Foram trazidos principalmente pelos jornalistas Pompeu de Souza, Danton Jobim e Luiz Paulistano.
Em várias passagens, nos referimos à Objetividade como: pressuposto, referencial ou conjunto de critérios a serem adotados (ou não). Bem, não se trata de um conceito, mas de uma pragmática. Por meio dessa ideia/técnica e, com base nela, está baseada toda a estrutura do que conhecemos como profissionalismo ou processo de profissionalização da atividade jornalística (SOLOSKI, 1993). Tratase de uma ideologia que tenta esconder um jogo de poder (1) e a própria ideologia que existe na relação entre jornalistas e ambiente organizacional (2), além de uma pragmática na qual é baseada o status de verdade (ou cientificidade) do discurso jornalístico (3): “a ideologia dominante no campo jornalístico”, Traquina (2001, p. 65). Ainda segundo o autor português: a ideologia jornalística defende uma relação epistemológica com a realidade que impede quaisquer transgressões de uma fronteira indubitável entre realidade e ficção, havendo sanções graves impostas pela comunidade profissional a qualquer membro que viola essa fronteira (TRAQUINA, 2001, p. 66).
Saindo dessa controvérsia e retomando a questão do Prêmio Esso, podemos sinalizar que ele premia com base em valores-notícia e critérios de noticiabilidade em uma escala muito maior sobre a qual emergiu (Jornalismo Investigativo). O que quer dizer isso? Acreditamos que a premiação seja um dispositivo de prescrição de preceitos, técnicas e valores no meio jornalístico. Isso já foi abordado. Mas, agora, reforçamos que: o Prêmio Esso, por mais que postule os preceitos do Jornalismo Informativo e não queira tocar na questão da ideologia (com a total anulação do sujeito), acaba esbarrando nela. Ora, se existe um premiador que investe dinheiro em estratégias para agendamento de notícias e ainda para relacionamento com jornalistas, isso demonstra o viés social no processo de produção da notícia. É dessa forma que entendemos que o próprio Prêmio Esso, em sua gênese, nos anos 1950, não via o jornalista como um “office boy” (MEDINA, 1982, p. 156) ou “pombo-correio da notícia” (PENA, 2006. p. 41): na entrega de um pacote lacrado e isolado, sortido de informações, para o leitor consumir. Entretanto, sabemos que era importante defender esse discurso de autoridade para legitimação da profissão, naquele tempo histórico.
É sobre esse ponto de contato que estamos trabalhando o Prêmio Esso com a Teoria da Notícia. Por mais que a premiação valide o Jornalismo Informativo com toda a sua concepção de isenção, imparcialidade, distanciamento, independência e cientificidade do método de construção/validação da verdade jornalística, outros fatores existiam no contexto de sua gênese (anos 1950) e inclusive foram adotados com o passar do tempo, tendo a premiação quase 60 anos e tendo atravessado quase cinco décadas de profundas mudanças econômicas, políticas e midiáticas no contexto brasileiro.
Quando abordarmos na outra episteme, do pós-Sujeito8, no tocante ao Jornalismo Público, a questão social que emerge do neoliberalismo (anos 1990) ficará mais clara. Mas enfatizamos que o social já tem ação aqui, na década de 1950. Tanto que, a Teoria do Espelho é insuficiente para explicar os contextos sobre os quais o Prêmio Esso atuaria. É importante que esse tipo de ressalva seja feito, o que também é preocupação de teóricos:
O ethos dominante, os valores e as normas identificadas com um papel de árbitro, os procedimentos identificados com o profissionalismo, fazem com que dificilmente os membros da tribo jornalística aceitem qualquer ataque à teoria do espelho. A legitimidade e a credibilidade dos jornalistas estão assentes na crença social que as notícias refletem a realidade, que os jornalistas são imparciais devido ao respeito às normas profissionais, e pelo trabalho de recolher a informação e relatar os fatos, sendo simples mediadores que reproduzem o acontecimento na notícia.” (TRAQUINA, 2003, 67-68).
A Teoria do Espelho é determinista, tributária do positivismo, e referenda a Objetividade jornalística. Tem como pressuposto o fato de que o jornalista realmente não participa do processo de produção da notícia, o que historicamente até se justifica numa tentativa de autoafirmação do status de verdade da narrativa e da informação jornalística, do profissionalismo e dos mecanismos de apuração. Entretanto, Barros Filho (2003, p. 23) considera a adoção dos critérios de Objetividade como uma estratégia de legitimação de um tipo de produto dentro de um campo jornalístico em formação: de um lado, o jornalismo do passado (sensacionalista, marrom, panfletário); de outro, o jornalismo moderno (isento, imparcial, impessoal, objetivo).
As técnicas jornalísticas que configuraram a cientificidade, profissionalismo e a credibilidade do texto jornalístico, desde a instauração do modelo de Jornalismo Informativo, até hoje, são as mesmas (lead, copy desk, pirâmide invertida) e ainda circundam o cotidiano dos profissionais. Contudo, sabe-se que essa concepção não é definitiva e que, sim, o jornalista se relaciona com o social.
Até mesmo, no início do Prêmio Esso, nos anos 1950, já havia um esforço nos regulamentos para reconhecer atributos subjetivos (paradoxalmente, nãoobjetivos):
É interessante notar que a reportagem mantém um estatuto diferenciado dentro do concurso jornalístico. Enquanto os julgadores conferem o Prêmio Esso de Jornalismo ao trabalho de melhor qualidade dentre todos os inscritos, o Esso de Reportagem transformase em uma categoria que representa, de certa forma, a essência da atividade jornalística. A leitura do (...) do regulamento do concurso demonstra como os valores construídos em torno da ideia do repórter como aquele que descobre as novidades e denuncia as mazelas escondidas da sociedade são reconhecidos pelo campo e contribuem para a formação de uma certa identidade profissional. Descreve o documento que o Prêmio Esso de Reportagem „será conferido, preferencialmente, ao trabalho em que ficar evidenciado o esforço acima do comum por parte do repórter ou de equipe de jornalistas para obtenção das informações utilizadas na matéria‟. O regulamento atual acrescenta que o objetivo é reconhecer a „coragem, determinação, perseverança, senso de oportunidade e isenção‟, dentre outras virtudes pessoais e profissionais do repórter. (CASTILHO, 2009, p. 7).
Tais critérios não se afastam muito dos pressupostos que orientavam a atuação da imprensa ainda na virada do século XIX para o século XX, sobretudo no Rio de Janeiro. Atributos como “coragem”, “capacidade”, e “competência” do repórter remontam a postura combativa assumida por muitos diários a partir da Proclamação da República. Essa autoimagem construída sobre a profissão constitui uma marca de autoridade fundamental do campo jornalístico (Idem). As estratégias de distinção e de certificação de mérito do Prêmio Esso estão ligadas a esses valores, tendo em vista a análise e o reconhecimento por pares dentro do grupo de jornalistas tidos como "profissionais", como forma de legitimação da própria atividade. Castilho (2010, 2009, p. 4) lista inúmeros jornalistas famosos que fizeram parte de juris.
O Prêmio Esso instaura a ação de certificar dado mérito no campo jornalístico que esteja em acordo com os valores de um dado modelo jornalístico. Esse tipo de distinção faz emergir no grupo profissional um extrato de trabalhadores que possuem um status reconhecido pela elite da profissão (os pares, profissionais no topo da carreira, prestígio e notório saber).
A episteme de Pós-Sujeito foi criada no âmbito da pesquisa de Dias (2013), exatamente pelo fato de que não é mais somente a denúncia que dita o que é o bom jornalismo. No âmbito da pesquisa, ao lidar com um corpus de 114 prêmios, fugir dos modelos e das instâncias ideológicas se tornou possível pelo arranjo nas ondas discursivas, epistemes, de Foucault, centrando o foco da análise não nas finalidades dos modelos, mas de certificação do que seja bom e distinto como trabalho (prática exemplar), profissional (melhor postura) e empresa (gestão, responsabilidade social) em Jornalismo.
O arranjo fundamental para construção desse bloco de conhecimento, episteme de pós-Sujeito9, foi o fato de o Jornalismo Público evocar uma participação mais ativa do jornalista na democracia. Trata-se de um modelo estrangeiro (Civic Journalism), que foi recentemente recepcionado no arcabouço teórico da Comunicação com a substituição da denominação de "cívico" por "público". E foi adaptado à realidade brasileira com algumas diferenças da sua concepção original, principalmente pelo fato de que, nos Estados Unidos da América, nasceu como movimento (ação social em torno do noticiário e eleições); e, no Brasil, ter se consolidou como uma práxis e um gênero jornalístico (ferramenta, editoria, seção e tipo de cobertura).
Os conceitos de modelo jornalístico (padrão hegemônico), modalidade jornalística (alternativa a um padrão), tipologia jornalística (classificação de um grupo) são denominações pelas quais o Jornalismo Público é conhecido, na literatura. No âmbito da pesquisa-tese, havia todo um problema de tratar a amostra, como homogênea em alguns aspectos para a construção das categorias de análise, além das 30 classificações resultantes da análise de conteúdo (citadas anteriormente). Também faria o desafio de pacificar em cada prêmio se ele era pertencente a um dado modelo jornalístico (ênfase num padrão operante)10, a um dado gênero jornalístico (ênfase no texto e sua formatação) ou a um dado submodelo (acessório de um modelo hegemônico: no qual, quase todos usariam como referência o Jornalismo Informativo). Essas eram apenas algumas das complicações que o corpus números (114 itens) atravessado por quase seis décadas (1955-2013) traziam no processo metodológico da pesquisa. Sendo assim, a opção por trabalhar com epistemes foi a de não alimentar uma rixa (ou oposição conceitual entre os modelos), para além da aplicação das categorias de análise, da pesquisa empírica. Nominar as duas epistemes a partir de seus efeitos (e não pelas concepções dos modelos meramente) foi uma forma de esvaziar a comparação entre esses quatro modelos11 e fixar o olhar em marcos históricos relativos ao Jornalismo: a questão do profissionalismo via Objetividade e via atuação do sujeito. Uma saída metodológica não muito usual na Teoria da Notícia, mas que ora relatamos no sentido de proporcionar essa experiência como uma forma possível, ainda mais no estudo de prêmios, que possam versar sobre mais de um tipo ou item.
Como este artigo deriva de uma pesquisa histórica (DIAS, 2013), essa decisão foi favorecida pela adoção das epistemes, que são cortes epistemológicos na história, a partir da sinalização de pontos como marcos, que deem início a dado tipo de onda discursiva. Por isso, tratamos o Prêmio Esso como um marco, a partir dos prêmios, da instauração de um contexto de Objetividade. Entretanto, ressalta-se que o Prêmio Esso, ao longo de quase 60 anos, possui categorias que premiam jornalistas com ação pessoal e não somente os que se comportam como meros observadores da realidade (office boys da notícia). Por isso, organizar as seções a partir da Teoria da Notícia se tornou algo inviável, pois nem o Prêmio Esso é mais tão “espelho”, da Teoria do Espelho (no sentido do Jornalismo Informativo, na Teoria da Notícia), como em outrora, na sua gênese.
A opção por trabalhar com epistemes foi a de não alimentar uma rixa ou oposição entre os modelos jornalísticos, para além da aplicação das categorias de análise, da pesquisa empírica: análise de conteúdo dos editais e regulamentos dos 114 prêmios. Por ser uma análise complexa, seria anti-operacional perder a riqueza de um dos primeiros estudos em nível de doutorado sobre prêmios se pautando apenas pela questão ideológica da adoção (ou não) dos pressupostos de Objetividade (HACKETT, 1993), da Teoria da Notícia. A noção de paradigma da qual o artigo trata é a de ruptura e mudança de processos e saberes em dada área. Mas como há a questão de Hackett na Teoria da Notícia com dois paradigmas concorrentes, preferimos tratar esses eixos temáticos como epistemes, eliminando, assim, qualquer tipo de comparação entre as práticas, sejam elas denúncia, promoção, isenção, imparcialidade, impessoalidade, advocacy, engajamento, mobilização social e intervenção (ou não) do jornalista na realidade.
Pesquisadores brasileiros, em Comunicação, como Cassol (1997), Magno (2006) e Castilho (2010) são produção científica12 recente sobre o Prêmio Esso de Jornalismo e recuperam este histórico relativo aos prêmios e aos efeitos pósObjetividade. E Dias (2013) tratou dos prêmios como dispositivos de certificação em 29 categorias e não somente como ações promotoras de um dado modelo de Jornalismo13. A diferença está no fato de que Cassol e Castilho trataram um único prêmio. E Dias: 114 premiações. É nesse sentido que estamos abordando a proposta do uso de ondas discursivas, em Foucault, como uma solução para amostras muito heterogêneas, nos estudos de Jornalismo e da Teoria da Notícia, no Brasil. Os estudos, no âmbito da Sociedade Brasileira de Pesquisa em Jornalismo (SBPJor) e programas de pós-graduação concentrados e alinhados em linha de pesquisa que produzem conhecimento em Teoria da Notícia costumam versar sobre objetos que pertencem exclusivamente a um único prêmio; e não, a múltiplos. Daí, o que acreditamos ser a contribuição metodológica do artigo: os manuais de metodologia e a ciência brasileira, até agora, no estudo de premiações, não tinha se deparado com o obstáculo dos pressupostos e premissas de diversos modelos jornalísticos perpassados por variáveis de tão vastas ao mesmo tempo: geoespacial (premiações regionais, nacionais), histórica (premiações com quase seis décadas de existência, aliadas a outras mais recentes); e suscetíveis a tantos modelos jornalísticos, no caso, quatro: Jornalismo Investigativo (denúncia) e Jornalismo Institucional (promoção); relativos à questão do sujeito, com a tensão do jornalista interventor (ou não) na realidade: Jornalismo Informativo (isenção, imparcialidade, impessoalidade) e Jornalismo Público .advocacy, engajamento e mobilização social). Outra: entendendo os jornalistas nas assessorias não como informação promocional, mas como notícia; e como repórteres que fazem notícia nas organizações (Jornalismo Institucional), o que traz o estudo para a Teoria da Notícia e não uma pesquisa de Comunicação Organizacional (KUNSCH, 2009) e/ou Comunicação Empresarial (BUENO, 2003): na perspectiva de Comunicação Integrada (KUNSCH, 2009). Sendo, nesses termos, mais um estudo que interessa à Sociedade Brasileira de Pesquisa em Jornalismo (SBPJor) do que à Associação Brasileira de Pesquisadores de Comunicação Organizacional e Relações Públicas (Abrapcorp). Fora que não é uma opção ortodoxa nos programas de pósgraduação adeptos da área de concentração e das linhas de pesquisa com base em processos relativos à Teoria da Notícia. Tampouco, de Comunicação Organizacional.
Este artigo é bem pontual e não tem pretensão de reinventar a roda. Mas, tem, sim, a intenção de registrar e circular essa experiência, que para nós, orientando e orientador, foi um trabalho de quebra-cabeça: ao tentar não mudar tanto a pesquisa e ter um arranjo teórico-metodológico que pudesse dar base ao estudo. Nesse cenário, o Jornalismo Institucional também foi importante para sinalizar a categoria de notícia, relativa aos prêmios. Não podíamos trabalhar com Comunicação Organizacional (KUNSCH, 2009) ou Comunicação Empresarial (BUENO, 2003) (pois fugiríamos dos pressupostos e premissas da Teoria da Notícia, na qual nos concentrados como Programa de Pós-graduação e nos alinhamos como produtores de conhecimento agrupados em uma Linha de Pesquisa14), por mais que as premiações sejam feitas em organizações e concedam chancelas de status e reconhecimento a tarefas, profissionais e empresas. Além do que, falar nessas duas categorias ligadas às organizações e à Comunicação Integrada (KUNSCH, 2009) seria focar muito em público (produção de conhecimento voltada para a Abrapcorp); e não em notícia (produção de conhecimento voltada para a SBPJor), que é a implicação maior da Teoria da Notícia, com a qual trabalha a linha de pesquisa na qual foi produzida a pesquisa15. Em vista disso, mais um reforço de como temos o intuito de compartilhar essa experiência com pesquisadores que estudem os prêmios, seja pela perspectiva dos públicos ou da notícia. Sabendo também que manuais de metodologia trazem receitas de como aplicar um método (no nosso caso: análise de conteúdo), mas não trazem a aplicação dessas técnicas e ferramentas aplicadas a uma infinidade de variáveis que cada problematização de pesquisa e enfrentamento de objetos e fenômenos comunicacionais podem ter. É nesse sentido, pelo enfrentamento e, pelo resultado, que compartilhamos a experiência, pois Foucault (1995, 2002) foi muito operacional frente à Hackett (1993).
Uma ressalva conceitual: o arranjo em epistemes, ao invés de modelos, não esvaziou a questão da ideologia totalmente, pois análise do discurso tem pressupostos de filosofia materialista. Entretanto, pressupostos e premissas relativos aos modelos jornalísticos, em suas disputas, foram suavizados, proporcionado a manipulação dos dados para a construção das categorias de análise. Dos 114 prêmios do levantamento, foram gerados quatro filtros que tornaram a amostra homogênea: premiações que tivessem regulamentos e editais (1)16; fossem premiações jornalísticas (2)17; na mídia brasileira (3)18; para matérias, profissionais e empresas que atuassem com textos em língua portuguesa (4)19.
Por força do formato artigo e, também por ser uma contribuição bem pontual para circular em revista, não foi possível falar mais sobre os resultados da pesquisa, categorias de análise e outros itens que já circulam em outros periódicos científicos da área de Comunicação (2014e, 2014d, 2014c, 2014b, 2014a, 2013b, 2013a, 2012e, 2012d, 2012c, 2012b, 2012a, 2011b, 2011a), descritos nas referências. Ficamos, aqui, mais nas tensões teórico-metodológicas, objetivo central desta exposição.
Contudo, fica registrada essa problemática teórico-metodológica de um estudo recente sobre prêmios, na área de Comunicação, a partir da Teoria da Notícia. É uma contribuição simples, mas que pode ajudar muitos outros pesquisadores que tenham interesse nesse universo das premiações (ou outros objetos). E também pode ser um norte para orientandos e orientadores que estejam com uma amostra muito grande de dados e estejam tendo muitos problemas com modelos jornalísticos e seus pressupostos, o que pode gerar uma relativa dor de cabeça ao se criar categorias de análise diante do enfrentamento do objeto e das variáveis inerentes à problematização do objeto da pesquisa, sua concentração e alinhamento à tradição de um programa de pós-graduação (Teoria da Notícia) ou mesmo de uma sociedade de pesquisa (Abrapcorp, SBPJor), conforme tratado.
Os resultados da pesquisa foram chancelados por peritos da Abrapcorp e da SBPJor. Depois do resultado em meandros noticiosos (Jornalismo Institucional, da Teoria da Notícia), começou uma nova fase com a criação de um grupo de pesquisa (DGP/CNPq): Prêmios, Indicadores e Estratégias em Comunicação (2014). E de um projeto de pesquisa (com financiamento do CNPq: edital Universal): Prêmios e responsabilidade social na Comunicação: Prêmios em Cidadania e Responsabilidade Social: a certificação do trabalho, dos profissionais e das empresas, a partir de uma perspectiva da Comunicação Organizacional, com a investida sobre 100 prêmios, mas com a lógica de públicos (Comunicação Organizacional, Comunicação Empresarial e Comunicação Integrada).
Episteme teórico-metodológica construída a partir de efeitos de Pós-Sujeito (tensão: isenção x atuação): modelos e Jornalismo Informativo e Jornalismo Público.