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UMA HOMENAGEM SEMIÓTICA E DANÇANTE A DÉCIO PIGNATARI
Interin, vol. 21, núm. 2, pp. 178-180, 2016
Universidade Tuiuti do Paraná

Homenagem ao professor Décio Pignatari



Recebi a notícia do falecimento de Décio Pignatari no momento em que fazia a prova escrita para ingresso no Programa de Doutorado em Comunicação e Linguagens da Universidade Tuiuti do Paraná. O mesmo programa onde tive o privilégio e o prazer de ser mais do que meramente sua aluna, nas inesquecíveis aulas de Teoria da Comunicação, mas acima de tudo, de ter sido ‘escolhida’ por ele para ser sua orientanda no período entre 2004-2006... “Minha bailarina”... Era assim que este admirável ‘monstro temido pelos alunos do Programa’ referia-se a mim. Em nossos encontros quinzenais a orientação a respeito da dissertação de Mestrado era apenas um de nossos focos: conversa sobre arte, isso sim, era o essencial.

Décio assistia a meus espetáculos de dança criados para a Téssera Companhia de Dança da Universidade Federal do Paraná – grupo pelo qual nutria um carinho especial – com o olhar do espectador, mas também como crítico apurado. Fazia-me observações importantes, contava seus ‘causos’, suas viagens, suas experiências com celebridades do mundo das artes, do cinema e sobretudo da dança e ríamos muito ao comparar crenças e filosofias, aliás, quase sempre opostas...

Um belo dia ele me desafiou: colocar a sua poesia concreta na concretude ou abstração do corpo em movimento dançante... Fiquei devendo esta obra coreográfica enquanto ele era vivo...

limoNADA NADA CONCRETA

PIGNATARI, o Limão Poeta

EU, a Bili Bailarina

Em 2014, criei para a Téssera Companhia de Dança da UFPR, onde atuo há trinta e cinco anos, uma singela, bem humorada e nada concreta obra coreográfica em homenagem ao meu querido Décio Pignatari: limoNADA NADA CONCRETA[2].

Se por suas mãos fui conduzida ao ‘reino’ da Semiótica e ao soberano Charles Sanders Peirce, pareceu-me adequado, portanto, ‘semioticar’ a poesia concreta em(na) dança.

ÍCONE CINÉTICO. Conceito desenvolvido por ele e um presente para mim.

Tarefa difícil! Tornar concreto o pensamento dançante que (per)forma a forma... Como unir alguns poemas concretos de Pignatari que me instigavam e fazer uma homenagem dançante ao poeta? Qual seria o fio da meada, o elo de ligação, a tradução intersemiótica entre a palavra e o gesto?

A resposta me veio por meio de uma pergunta... Caminho (in)verso, claro... Como orientador ele nunca me dava uma resposta final! Sempre abria mais questões...

Bili com limão verde na mão – obra inovadora e experimental de Pignatari publicada em 2009 – foi a minha (ins)piração. É um atravessamento de poesia concreta com prosa poética e tem na personagem da adolescente/Bili um questionamento a que estamos sujeitos todos os dias e em todas as idades: por tudo aquilo que eu sei e que não sei, por que minha vida não está legal?

Oba! Eu tinha encontrado uma questão pra trabalhar: uma questão para dançar...

A partir desta pergunta, Bili (Belisa, belicosa) parte em uma jornada a fim de encontrar possíveis respostas. Pelo caminho vai se deparando com diversos personagens/seres bizarros e (in)verossímeis, que agregam à sua busca, outras perguntas e novas descobertas.

Nesta busca dançante e surreal também inseri alguns poemas soltos de Pignatari – Beba Coca Cola e Veu de Mayá – que ‘conversavam’ com a personagem. A Bili, roteirizada pela Téssera Companhia de Dança, parte nesta jornada dançante ao lado de seu companheiro, o ‘limão poeta’.

Destaco que a DANÇA, signagem extremamente valorizada pelo Décio, em momento algum se propôs a recontar ou dramatizar em movimento coreográfico a estória/aventura de Bili e nem elucidar a sua questão... A pergunta inicial era só um mote para a sua aventura em procurar as possíveis respostas ou encontrar mais perguntas pelo caminho...

Assim, a bailarina e o poeta – sim, Bili era meu ‘avatar’ em cena e o limão era o ‘avatar’ de Pignatari – puderam percorrer o caminho gerado pela pergunta inicial e produzir artisticamente uma limoNADA NADA CONCRETA!

Gosto de pensar que naquele momento e naquele espetáculo eu pude dançar com Pignatari ou dançar para ele!

E hoje?

Hoje, eu ainda tenho saudades daquela ‘boina’...

Notas

2 ignatari Limonada Concreta - ver IMAGEM 01 disponível no sumário deste número da Revista Interin.


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