Com satisfação apresentamos esta edição da revista Interin, n. 24, v. 2, dedicada a artigos de temática livre. Buscamos prestigiar os pesquisadores que nos enviaram artigos valorizando processos comunicacionais, conceitos e obras relevantes na história e na contemporaneidade. Apesar de privilegiarmos na presente edição textos submetidos em fluxo contínuo, abrimos este número da revista com um artigo de autora convidada, a Prof. Dra. Marialva Carlos Barbosa, com o título Comunicação e História: confluências. Trata-se da ampliação das reflexões realizadas por ocasião da aula inaugural de 2019 no Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Linguagens da Universidade Tuiuti do Paraná (PPGCom/UTP).
Na sequência, como mencionado na apresentação da edição passada (Interin, n. 24, v. 1.), trazemos três artigos submetidos, e aprovados por pareceristas, ao dossiê Comunicação, consumos e cidades, mas que por decisão editorial serão apresentados nesta edição na seção artigos livres. O primeiro deles, de autoria de Sílvia Borges Corrêa e Veranise Jacubowski Correia Dubeux, tem o título Consumo e sociabilidade na Lavradio, a rua dos antiquários. As autoras, por meio de pesquisa etnográfica, procuram descrever práticas de comercialização, consumo e sociabilidade observadas em uma rua do centro da cidade do Rio de Janeiro, conhecida pela presença de antiquários. Consideram que estar naquele logradouro é credencial de reconhecimento e qualidade aos empreendimentos desse setor do comércio.
Jarlene Rodrigues Reis, Euler David de Siqueira e Thaynan Brito Mendes assinam o texto Consumo, lazer e espaço urbano: a reinvenção da Rua 16 de Março, em Petrópolis. Também balizados por preceitos etnográficos, os autores procuram compreender as articulações de práticas de consumo, lazer e dinâmicas de circulação no espaço urbano, na referida localidade. Observam que os gestores dos comércios da rua tomam iniciativas voltadas à valorização do espaço urbano, conforme tendências mundiais de gestão de cidades criativas e cidades-espetáculo.
O próximo artigo é de autoria das pesquisadoras Alessandra de Figueredo Porto e Aline da Silva Novaes. Neste texto, as autoras analisam o Angu do Gomes, um prato feito com guisado de farinha de milho e pequenos pedaços de variadas carnes, que foi eleito por um jornal do Rio de Janeiro como uma das sete maravilhas da culinária fluminense. Defende-se que a iguaria serve de interação de diferentes culturas e a comunicação e o consumo colaboram para o encontro intercultural.
Na sequência desta edição, Paulo Eduardo Silva Lins Cajazeira debruça-se sobre a formação e atuação profissional dos egressos do curso de bacharelado em Jornalismo da Universidade Federal do Cariri, no estado do Ceará, Brasil. Com o foco nas políticas públicas sociais aplicadas à educação superior brasileira, constantes no Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni). Este estudo de caso, intitulado O perfil do egresso dos cursos de Jornalismo do Reuni no Ceará, centra-se na análise qualitativa e quantitativa do perfil dos graduados (2013 a 2017).
No artigo seguinte, denominado Jornalismo de revista: a autorreferencialidade no discurso de Veja sobre a prisão de Lula, Rejane de Oliveira Pozobon trata da cobertura jornalística da prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. São abordados os efeitos de sentido dos textos da referida revista, que apresenta a si mesma como alguém que “investigou” e “revelou” esquemas de corrupção. Além da teorização sobre a autorreferencialidade, discute-se o jornalismo de revista, como uma instituição que, entre outras funções, cumpre a de revelação pública dos fatos.
Outro caso de cunho político é abordado no artigo Reflexões foucaultianas sobre o racismo enquanto estratégia de governo de si e dos outros no episódio da “tia do café”, da autoria de Marluce Pereira da Silva e Cid Augusto Escossia Rosado. Para análise e interpretação do episódio ocorrido em 2016, são utilizados os estudos sobre racismo, governamentalidade e parresía de Foucault e a teoria social de Fanon.
No artigo seguinte, O alarmismo no discurso da TV e no cotidiano do público, o autor Jefferson Bertolini efetua uma análise de conteúdo do programa Bem Estar, da Rede Globo (o primeiro do gênero no Brasil). São abordados clientes de supermercado e alunos de academia de ginástica, como exemplos de pessoas que cuidam da saúde por meio da alimentação e da atividade física. Conclui-se que a TV brasileira usa o alarmismo para alertar a população sobre riscos à saúde, colaborando assim com o dispositivo biopolítico da segurança.
A seguir, Camila Escudero, no artigo intitulado A representação das minorias sociais em narrativas cinematográficas: uma análise a partir da perspectiva de Appadurai, investiga como se dão as representações das minorias sociais em filmes que envolvem a temática de grupos minoritários produzidos nos Estados Unidos e na Inglaterra, que colocam povos indígenas, mulheres, negros, LGBTs e imigrantes no centro da narrativa. A Análise de Conteúdo permite concluir que conceitos etnocêntricos reducionistas e universalismos estreitos na indústria cultural contribuem para uma visão enraizada nas ideias de estado-nação e soberania nacional.
Entrando na temática do entretenimento, no artigo intitulado Identidade, nostalgia e memória afetiva no consumo de videogames retrô, de autoria de Felipe Correa de Mello e Vicente Martin Mastrocola, é apresentado o resultado parcial de pesquisa em andamento voltada para a compreensão das relações entre memória, identidade e consumo de games, no mercado brasileiro. Toma-se por base o fenômeno contemporâneo de “cultura da memória”, conforme trabalhado pelo historiador Andreas Huyssen.
Ao final da edição, temos um artigo em inglês The potential opportunities and limitations of Public Engagement in Science and Technology que examina as tendências recentes em relação ao engajamento público em Ciência e Tecnologia (C & T), as limitações de tais abordagens e seu potencial para fortalecer a democracia e a cidadania. Seus autores, Aline Bastos, Márcio Simeone Henriques e Clare Wilkinson, desenvolvem uma abordagem que favorece uma visão dialógica e relacional da comunicação, baseada no engajamento público, a desempenhar um papel na forma como a própria ciência é capaz de controlar seu poder simbólico.
Mais uma vez, o periódico do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Linguagens da Universidade Tuiuti do Paraná apresenta artigos sobre temas contemporâneos e espera continuar contribuindo para as reflexões concernentes aos interesses dos pesquisadores da área. Agradecemos aos colaboradores e desejamos boa leitura a todos.