Secciones
Referencias
Resumen
Servicios
Descargas
HTML
ePub
PDF
Buscar
Fuente


O perfil do egresso dos cursos de Jornalismo do Reuni no Ceará
The profile of graduates from the Journalism courses of the Reuni in Ceará
Interin, vol. 24, núm. 2, pp. 71-86, 2019
Universidade Tuiuti do Paraná



Recepción: 12 Abril 2018

Aprobación: 06 Septiembre 2018

Resumo: O objetivo deste estudo inicial é compreender a formação e atuação profissional dos egressos do curso de bacharelado em Jornalismo, a partir das políticas públicas sociais aplicadas à educação superior brasileira constantes no Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni). A metodologia utilizada é de cunho quantitativo e qualitativo. Para atingir as metas do estudo, foram considerados dois instrumentos como determinantes: a) questionário online direcionado aos egressos do Curso; e b) mapeamento e identificação dos veículos de comunicação, assessorias de imprensa públicas e privadas. Como estudo de caso, centralizamo-nos na análise do perfil do graduado (2013 a 2017) no curso de Jornalismo da Universidade Federal do Cariri, Ceará, Brasil.

Palavras-chave: Expansão do Ensino Superior, Egressos, Reuni, Ensino do Jornalismo, Formação em Jornalismo.

Abstract: The main objective of this initial study is to understand the training and professional acting of graduates with bachelor’s degrees in Journalism, from the social public politicals applied to Brazilian higher education which appear in the Program to Support Plans of Restructuring and Expansion of Federal Universities (Reuni). The methodology used is quantitative and qualitative. In order to reach the goals of the study, two instruments were considered as determinants: a) online questionnaire directed to the egress of the Course; and b) mapping and identification of communication vehicles, public and private press agencies. As a case study, we center on the analysis of the graduate profile (2013 to 2017) in the Journalism Course of the Federal University of Cariri, Ceará, Brazil.

Keywords: Expansion of Higher Education, Graduates, Reuni, Journalism Teaching, Journalism Training.

1 Introdução

O presente artigo tem como foco a formação e atuação de egressos de cursos abertos pelo Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni) no interior do Brasil. Como estudo de caso, procuramos analisar o perfil do bacharel em Jornalismo da Universidade Federal do Cariri (UFCA), em Juazeiro do Norte, Ceará. Este é um dos 15 cursos, nesta área, criados pelo Reuni. Com isso, buscamos responder ao seguinte problema de pesquisa: “Como se estabelece a formação e atuação de jornalistas egressos de cursos superiores de Jornalismo criados por meio de Políticas Públicas Sociais do Governo Federal de expansão e interiorização das universidades federais?”.

A metodologia utilizada foi de cunho quantitativo e qualitativo. Inicialmente, procuramos o contato via e-mail dos alunos graduados em Jornalismo da UFCA entre os anos de 2013 e 2017. Para tanto, solicitamos à Pró-reitoria de Ensino da Instituição de Ensino Superior o endereço eletrônico dos alunos graduados. Em resposta à nossa solicitação, vimos que tratavam-se de 91 alunos graduados no período solicitado. Com isso, constatamos a necessidade de criar uma metodologia de contato com o egresso, a partir da utilização de uma ferramenta de análise qualitativa. Como instrumento, elegemos o questionário online na plataforma Google Docs, dividindo-o em três categorias: sexo, formação e atuação profissional. Tal estratégia tornou possível não só a garantia do acompanhamento do percurso dos egressos e da apresentação de resultados da formação universitária, mas foi também fundamental no delinear dos perfis, pois a partir dela instauramos as categorias de análise.

Para atingir as metas do estudo, procuramos também mapear e identificar os veículos de comunicação, assessorias de imprensa públicas e privadas e agências de propaganda e marketing existentes na Região do Crajubar (Crato, Juazeiro do Norte e Barbalha, maiores cidades da Região Metropolitana do Cariri cearense). A partir disso, conseguimos obter as áreas de atuação na imprensa local e o mapeamento das empresas que poderiam possuir egressos do curso de Jornalismo da UFCA em seu quadro funcional.

2 Revisão da literatura

Em 2017, completaram-se dez anos da política pública social de expansão do ensino superior e da sua implantação no Brasil. Porém, conforme Paulo Gomes Lima (2013), o processo iniciou-se no período que antecedeu o término da segunda gestão do governo Fernando Henrique Cardoso (FHC), de 1999 a 2003. O Plano Plurianual, aprovado pelo Congresso Nacional da época, refletia, em quase sua totalidade, os pontos derivados das discussões da reestruturação produtiva mundial. Destacam-se seus eixos mobilizadores, que deveriam orientar os programas estratégicos em cada ministério e para cada setor do governo: 1) consolidar a estabilidade econômica com crescimento sustentado; 2) promover o desenvolvimento sustentável voltado para a geração de empregos e oportunidades de renda; 3) combater a pobreza e promover a cidadania e a inclusão social; 4) consolidar a democracia e a defesa dos direitos humanos; 5) reduzir as desigualdades inter-regionais; 6) promover os direitos de minorias vítimas de preconceito e discriminação. Acreditamos serem estes os eixos balizadores da criação do Programa Reuni, entre outros que visavam à democratização do acesso à educação superior como política pública social no interior do Brasil. Esses eixos não foram implantados no governo FHC, e sim no governo posterior, de Luís Inácio Lula da Silva (2003 – 2010). No governo Lula, tais pontuações não passariam à margem, mesmo porque, desde o final da década de 1990, muitas discussões convocadas por organismos multilaterais delineavam a missão e função da educação superior para o século XXI, seguidas de outras manifestações que, à luz dessa primeira, apontavam modificações estruturais e de funcionamento tanto para o caso dos países latino-americanos, conforme rezavam os acordos internacionais, como para o caso da comunidade europeia, via Processo de Bolonha de 1999 (LIMA, 2013)[1].

3 O conceito de políticas públicas sociais versus a educação

No campo da Ciência Política, existem duas definições clássicas que são úteis para compreender o que são políticas públicas sociais. A primeira é de Bruno Jobert e Pierre Muller (1987, apud. ARRETCHE, 2003), que definem: “Política pública é o Estado em ação”. Embora o Estado apareça como um agente central dentro dessa concepção, tal abordagem não deve remeter à falsa conclusão de que toda política pública deve ser estatal, mas sim ao fato de que uma política só é pública a partir do momento em que o Estado participa como um agente importante (CASTRO, 2008). O Estado é fundamental na mobilização e articulação dos diferentes interesses envolvidos nas políticas públicas – setor privado, sociedade civil, etc. É determinante, seja na formulação, seja na definição do marco regulatório da sua implementação – não importando se ela terá lugar dentro ou fora do Estado.

A segunda definição está mais ligada ao conceito de política social e foi formulada por T.H. Marshall (1996). Os referenciais do autor estão no campo da democracia liberal e da socialdemocracia, a partir de uma abordagem não marxista. Ainda que antiga, sua definição permanece atual. De acordo com Marshall, política social é todo bem produzido para promover as coletividades em diferentes campos. Nesse sentido, educação, saúde, habitação, transporte, saneamento básico, trabalho, emprego, entre outros bens que dizem respeito à promoção do bem-estar e do desenvolvimento humano, são considerados políticas sociais. Essa definição deu origem a um grande campo de estudos, especialmente em relação ao estado de bem-estar social (Welfare State).

O programa Reuni, iniciado em 24 de abril de 2007, é uma das políticas públicas sociais do Governo Federal do Brasil com ações integrantes do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE). O PDE foi instituído pelo Decreto n° 6.094, de 24 de abril de 2007[2], “Todos pela Educação”, e tem no Reuni um reconhecimento ao papel estratégico das universidades federais para o desenvolvimento econômico e social. De acordo com o PDE, a necessidade de expansão da educação superior no País era premente, visto que, em média, apenas 24,31% dos jovens brasileiros com idade entre 18 e 24 anos têm acesso ao ensino superior. Esse processo compreende dois momentos: a etapa da expansão, denominada de Fase I, e a Fase II, a etapa da implantação do Reuni, quando foram criadas quatorze novas universidades e mais de cem novos campi, os quais possibilitaram a ampliação de vagas e a criação de novos cursos de graduação e pós-graduação.

O Reuni elencou como principais metas: elevação gradual da taxa de conclusão média dos cursos de graduação presenciais para 90%; elevação gradual da relação aluno/professor para dezoito alunos para um professor; e aumento mínimo de 20% nas matrículas de graduação. Estabeleceu-se um prazo de cinco anos – a partir de 2007, ano de início do Programa – para o cumprimento das metas. Com isso, o número de municípios atendidos pelas universidades passou de 114 em 2003 para 237 até o final de 2011.

4 A história e o processo de criação da Universidade Federal do Cariri

A adesão da Universidade Federal do Ceará (UFC) ao Reuni deu-se na segunda chamada do MEC, em 17 de dezembro de 2007, para implantação do programa no segundo semestre de 2008. Nesse cenário, a UFC encontrava-se como uma das mais de cinquenta universidades públicas que aderiram ao Programa, visando a captação de recursos para sua expansão e melhoramento de suas atividades como entidade de ensino superior. Já a Universidade Federal do Cariri foi criada pela Lei 12.826, de 5 de junho de 2013[3], mas está em funcionamento desde 22 de novembro de 2005, pois fora criada, desde então, como campus avançado da UFC.

O campus do Cariri surgiu por meio do Programa de Expansão do Sistema Federal de Educação Superior. Com natureza jurídica de autarquia, a UFCA é vinculada ao Ministério da Educação e é sediada em Juazeiro do Norte, na Região Metropolitana do Cariri, Sul do Ceará, a 530 km da capital Fortaleza. A universidade é composta por cinco campi. No campus de Juazeiro do Norte, funcionam nove cursos de graduação (Administração, Biblioteconomia, Engenharia Civil, Engenharia de Materiais, Design de Produtos, Filosofia, Administração Pública, Música e Jornalismo) e os programas de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional Sustentável, Pós-Graduação em Biblioteconomia e Mestrado Profissional em Matemática.

A UFCA completou quatro anos de existência em junho de 2017. Passou, nesse período, de 65 servidores técnico-administrativos para atuais 279 e de 193 servidores docentes para atuais 299, um aumento de quase 100% no quadro funcional, crescimento realizado através de grandes concursos para técnicos e docentes ocorridos entre os anos de 2012 e 2016. De acordo com a comunicação institucional da Universidade, essa expansão fez com que o orçamento anual de salários e benefícios passasse de pouco mais de R$ 20 milhões para uma previsão de quase R$ 50 milhões em 2017, recursos que impulsionam diretamente a economia local da Região Metropolitana do Cariri e as suas principais cidades: Juazeiro do Norte, Crato e Barbalha.

5 Os cursos de Jornalismo do Reuni

Ao verificarmos os dados constantes de cursos de Jornalismo em universidades federais de ensino no site do sistema e-MEC[4], com informações sobre as datas de criação de cada um, observamos que, com a expansão do ensino superior e o processo de interiorização, quinze novos cursos de Jornalismo foram criados em universidade federais brasileiras pelo Reuni, totalizando 38 cursos nessa área em instituições federais de ensino superior. As Regiões Norte e Sudeste foram contempladas com o maior número de novos cursos. A seguir, listamos por regiões do Brasil, os novos cursos de Jornalismo vinculados a universidades federais.

  1. 1. 1- Região Norte: quatro novos cursos (Universidade Federal do Amazonas – Campus Parintins; Universidade Federal do Amapá – Campus Macapá; Universidade Federal de Rondônia – Campus Vilhena; Universidade Federal do Sul e Sudoeste do Pará – Campus Rondon do Pará).

    2- Região Nordeste: três novos cursos (Universidade Federal do Maranhão – Campus Imperatriz; Universidade Federal do Cariri – Campus Juazeiro do Norte; Universidade Federal do Recôncavo Baiano – Campus Barreiras).

    3- Região Sudeste: quatro novos cursos (Universidade Federal de Viçosa – Campus Viçosa; Universidade Federal de Ouro Preto – Campus Mariana; Universidade Federal de São João del-Rei – Campus São João del-Rei; Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro – Campus Seropédica).

    4- Região Centro Oeste: um novo curso (Universidade Federal do Mato Grosso – Campus Araguaia).

    5- Região Sul: três novos cursos (Universidade Federal de Santa Maria – Campus Frederico Westphalen; Universidade Federal do Pampa – Campus São Borja; e Universidade Federal de Pelotas – Campus Pelotas).

Podemos verificar que a maioria dos novos cursos de Jornalismo das universidades federais foi implantada próximo a cidades-polo[5], que abrigam, em seu entorno, inúmeros outros municípios do interior distantes das grandes capitais, e que se destacam desses núcleos urbanos menores, exercendo grande influência sobre os mesmos.

Tais cidades, geralmente, possuem mais de 500 mil habitantes. São consideradas pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) como cidades grandes, mas também podem fazer parte desse conceito sítios urbanos com menos de 500 mil habitantes (IPEA, 2002). O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) considera essas cidades como capitais regionais, devido ao forte comércio e à prestação de serviços (IBGE, 1972). Dessa forma, entende-se que havia um contexto anterior à criação que possibilitaria desenvolvimento regional e formação educacional a partir da instalação de universidades federais com novos cursos no interior do País. Além disso, esses novos cursos e universidades colaborariam, por hipótese, com o desenvolvimento econômico local na geração de empregos e investimentos.

O processo de urbanização das cidades médias é guiado pelo setor industrial, mas com participação relevante das atividades relacionadas ao setor de serviços, como no caso das cidades sede dos novos cursos de Jornalismo das instituições indicadas. O município de Juazeiro do Norte, onde se localiza a UFCA, possuía 79% do PIB, em 2012, voltado ao setor de serviços, seguido de indústria (17%) e agropecuária (4%). Em relação à urbanização, a taxa de urbanização é de 70%, segundo relatório do IBGE[6].

6 Corpus da pesquisa

O curso de Jornalismo da UFCA começou as atividades acadêmicas em fevereiro de 2010. O funcionamento é nos períodos vespertino (disciplinas opcionais) e noturno (disciplinas obrigatórias). Atualmente, são quatro turmas em funcionamento, com cinquenta vagas ofertadas por turma, quinze professores efetivos (tempo integral; oito doutores e sete mestres, sendo que quatro estão em fase de doutoramento), três grupos de pesquisa credenciados junto ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), seis servidores de laboratório especializado – Telejornalismo (2), Radiojornalismo (1), Fotojornalismo (1), Multimídia (1) e Jornalismo Impresso (1) – e um servidor técnico administrativo de nível superior, que atende à Coordenação de Curso, além de projetos de pesquisa, extensão e cultura. O Curso possui cinco turmas formadas. As três primeiras (2013, 2014 e 2015) ainda enquanto campus avançado da Universidade Federal do Ceará (UFC) no Cariri e as duas últimas (2016 e 2017), como Universidade Federal do Cariri (UFCA).

7 Metodologia e análise dos resultados

Apresentamos, primeiramente, os objetos empíricos de nossa pesquisa para, em seguida, tornar mais clara nossa concepção acerca do perfil do egresso. O instrumento de coleta foi criado pela equipe de investigadores desta pesquisa. No desenvolvimento do questionário, elaboraram-se perguntas fechadas, condicionantes ao nível de resposta do inquirido e, ao final, uma pergunta aberta. Consideraram-se consistências lógicas entre as perguntas, que garantiram a qualidade na análise da coleta de dados. Foram estudados, anteriormente, alguns modelos de questionários desenvolvidos pela Associação dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino (ANDIFES), pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Anísio Teixeira (INEP) e por pesquisadores do Núcleo de Estudos sobre Transformações no Mundo do Trabalho da Universidade Federal de Santa Catarina (TMT/UFSC).

A plataforma esteve disponível de 1º de setembro a 30 de novembro de 2017. Ao final desse período, registraram-se 56 egressos/respondentes – o convite foi encaminhado ao e-mail de 91 inquiridos. Realizou-se, nesse experimento empírico, um estudo transversal, em que foram coletados dados em um período específico de tempo com o objetivo de se responder à seguinte questão: “Qual o perfil do egresso do curso de Jornalismo do Reuni no Ceará?”. Dessa forma, a pesquisa teve por objetivo conhecer o egresso e identificar a sua atuação profissional na imprensa local que evidenciariam por hipótese, a repercussão das políticas públicas sociais de inclusão no ensino superior pelo Governo Federal brasileiro.

O questionário, em sua primeira parte, dedicou-se aos dados pessoais: sexo masculino, feminino ou outro. Dos 56 respondentes, 71,4%, eram do sexo feminino e 28,6% do sexo masculino. Olhando-se a segmentação por sexo, verificou-se que a probabilidade de se encontrar um jornalista atuante com formação universitária do sexo feminino é maior do que do sexo masculino. Essa informação também foi evidenciada na leitura de outras pesquisas publicadas.

O estudo “Perfil do jornalista brasileiro: Características demográficas, políticas e do trabalho jornalístico em 2012” (MICK; LIMA, 2013), realizado pelo TMT/UFSC, apresentou resultados quantitativos de enquete com 2.731 profissionais realizada entre setembro e novembro de 2012 pelo Programa de Pós-Graduação em Sociologia Política (PPGSP), em convênio com a Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ). A investigação indicou que a categoria tornou-se majoritariamente feminina (64%) e jovem (59% têm até 30 anos). A pesquisa aferiu a distribuição dos profissionais por tipo de atividade: os que atuam principalmente na mídia são 55%, os que atuam em assessoria de imprensa ou outras atividades jornalísticas fora da mídia são 40%, e os que atuam como professores são 5%.

Um relatório do perfil socioeconômico e cultural dos estudantes de graduação das universidades federais brasileiras[7] revelou que as mulheres são predominantes em todas as regiões. Nacionalmente, 53,5% dos estudantes das universidades federais são mulheres. A região Norte destaca-se, com 58,2% de mulheres entre os matriculados – a região Sudeste tem 54%, Nordeste e Centro-Oeste 53% e Sul 50%. Portanto, o número de egressos de Jornalismo da UFCA do sexo feminino está acima da média nacional.

Em sua segunda parte, o experimento dedicou-se à formação, solicitando que os respondentes informassem o ano de sua colação de grau, a fim de verificarmos o período de finalização do Curso. Vê-se no gráfico a seguir o resultado.



Gráfico 1: Ano de formação do egresso de Jornalismo da UFCA
Fonte: Elaborado pelo autor.

Identificamos que existem dois períodos de colação de grau (fevereiro e julho), e que a UFCA possui, no curso de Jornalismo, apenas um ingresso anual (janeiro) por meio do Sistema de Seleção Unificada (Sisu)[8]. O estudante pode ser de uma turma anterior ao ano de ingresso e colar grau em turma posterior. A maioria dos respondentes (28,9%) era pertencente à primeira turma formada pelo Curso, seguidos pela segunda (23,8%), quarta (23,8%), quinta (14,3%) e terceira turma (9,5%). Em relação à terceira parte, tratamos da atuação profissional do egresso, com a elaboração de duas algumas perguntas (sendo que a segunda estava condicionada à resposta da primeira): “Trabalha atualmente? Local ou cidade de trabalho?”.



Gráfico 2: Cidade de trabalho dos egressos da UFCA
Fonte: Elaborado pelo autor.

De acordo com as respostas, visualizamos que a cidade de Juazeiro do Norte encontra-se em primeiro lugar na contratação e geração de novos empregos (78,8%), seguida de Crato (5,3%), João Pessoa (5,3%), Recife (5,3%) e Belo Horizonte (5,3%).

A seguir, apresentamos um diagrama referente aos veículos de comunicação, agências de comunicação e órgãos públicos de Juazeiro do Norte, cidade com o maior número de empregabilidade dos egressos da região do Cariri cearense.



Fig. 1 – Veículos e órgãos de comunicação de Juazeiro do Norte
Fonte: Elaborado pelo autor.

Pode-se observar que quase 80% dos egressos trabalham em Juazeiro do Norte, o mais próspero município da Região Metropolitana do Cariri, cidade em que se localizam a maioria das estações de televisão, revistas, assessorias de comunicação, rádios e portais de internet da região. Além disso, conforme nos mostrou a pesquisa, o surgimento de estações de TV, site, revistas e assessorias de imprensa está intrinsecamente relacionado com o período de fundação do curso de Jornalismo da Universidade Federal do Cariri, em 2010. Antes de 2010, os estudantes da região do Cariri cearense interessados em cursar Jornalismo precisavam deslocar-se às cidades de Campina Grande (PB), João Pessoa (PB), Recife (PE) e Fortaleza (CE). Todas essas cidades localizam-se entre 400 a 600 km de distância de Juazeiro do Norte. Na sequência, desenvolvemos uma tabela e um quadro comparativos: a tabela apresenta o número de egressos trabalhando atualmente nesses veículos; o quadro é referente às datas de criação dos veículos midiáticos de Juazeiro do Norte.


Quadro 1 – Mapeamento de veículos de comunicação e jornalismo em Juazeiro do Norte

Fonte: Elaborado pelo autor.


Tabela 1 – Número de egressos empregados em veículos de comunicação e jornalismo de Juazeiro do Norte

Fonte: Elaborado pelo autor.

Diante do apresentado, concluiu-se que, dos dezessete espaços de trabalho em Comunicação Social de Juazeiro do Norte (agências de comunicação privadas, veículos de comunicação e órgãos públicos), dez (Revista Charm, Cariri Revista, O Povo Cariri, Viver Bem Cariri, TV Verdes Mares Cariri, TV Verde Vale Cariri, Núcleo de Comunicação da Prefeitura Municial de Juazeiro do Norte, Assessoria de imprensa do Cariri Garden Shopping, Assessoria de Imprensa do Orfanato Jesus, Maria e José e Héxon Digitais) surgiram após o ano de 2009, ou seja, após a conclusão de curso dos primeiros estudantes de Jornalismo da UFCA.

Verificando por categoria, temos a seguinte situação de empregabilidade dos 36 egressos atuando na área imprensa local: Telejornalismo (17), Assessoria de Imprensa (12); Webjornalismo (5); e Jornalismo Impresso (2). Os profissionais da área de Telejornalismo e Assessoria de Imprensa foram os mais contratados. Além disso, mais da metade dos espaços de Comunicação existentes na região de abrangência da UFCA iniciaram suas atividades junto com a chegada da educação superior em Comunicação e Jornalismo ao Cariri. O segundo quadro mostra que 36 jornalistas[9] formados pelo antigo Campus Cariri da UFC e pela UFCA, atualmente, encontram-se empregados na área de formação em Juazeiro do Norte, excetuando-se os profissionais formados pela Universidade e que atuam nas cidades de Crato e Barbalha, municípios limítrofes a Juazeiro do Norte.

8 Considerações Finais

Este breve resgate histórico e estudo de caso da atuação do egresso do único curso de Jornalismo do Reuni no interior do Ceará nos apontou alguns reflexos na imprensa local. O primeiro seria a criação de novas empresas de Comunicação e Jornalismo e o segundo apontaria para o fortalecimento do jornalismo com a contratação de profissionais oriundos do primeiro curso de Jornalismo no interior do Ceará. Na região do Cariri vivem hoje quase dois milhões de habitantes de acordo com dados do último relatório do IBGE (2018)[10] e, até o ano de 2009, não havia um curso de Jornalismo. A formação superior da imprensa local era realizada em universidades distantes, de 400 a 600 km. Com isso, dificultava-se a formação superior adequada aos interessados em jornalismo como profissão.

Como resultado, verificamos que a área de Telejornalismo foi a primeira colocada em contratações de egressos da UFCA, em Juazeiro do Norte. A TV Verdes Mares Cariri (afiliada a Rede Globo), a exemplo, começou o ano de 2017 com o segundo telejornal local: CE TV 2ª Edição, e, a sua expansão na programação necessitou de jornalistas para atuar na redação. Dos cinco novos contratados, quatro eram egressos do Curso. As emissoras de televisão TV Verdes Vales Cariri (televisão local) e Web TV Basílica Nossa Senhora das Dores (afiliada a Rede Vida) investiram também na programação do jornalismo local e contrataram 11 egressos da UFCA de 2013 a 2017. Já a Prefeitura Municipal de Juazeiro do Norte, que até o ano de 2016 contava com apenas um jornalista, criou, no ano de 2017, um núcleo de Comunicação com oito jornalistas e um publicitário, sendo seis profissionais egressos da UFCA. Por gênero, as contratações nos revelam que dos 36 jornalistas/egressos, nove são mulheres e 27 são homens. O resultado revela que no jornalismo local de Juazeiro do Norte, os homens ocupam grande parte dos postos de trabalho.

As contratações em geral refletem o proeminente aquecimento da economia local e repercussões na profissionalização da imprensa advindo da expansão do ensino do jornalismo no interior do Ceará. Acredita-se que a importância de trabalhos dessa natureza, que repensam o ensino e a atuação dos jornalistas, podem colaborar em outros estudos. Nesse sentido, o trabalho não se finalizou, mas, sim, criou um norte em direção a novas pesquisas e metodologias que procurem delinear o perfil de formação e desempenho profissional do egresso de cursos superiores no Brasil dentro do processo de expansão e interiorização das universidades federais.

Dossiê agenda de pesquisas em políticas públicas.

ARRETCHE, Marta. Dossiê agenda de pesquisas em políticas públicas. Rev. bras. Ci. Soc., São Paulo, v. 18, n. 51, p. 7-10, fev. 2003. Disponível em: . Acesso em: 29 jan. 2018.

CASTRO, Maria Helena Guimarães. Políticas Públicas: conceitos e conexões com a realidade brasileira. In: CANELA, Guilherme (org.). Políticas públicas sociais e os desafios para o Jornalismo. São Paulo: Cortez, 2008.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE. Divisão do Brasil em regiões funcionais urbanas. Rio de Janeiro: IBGE, 1972. Disponível em: . Acesso em: 23 out. 2018.

INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA – IPEA. Configuração atual e tendências da rede urbana do Brasil. Brasília: IPEA, 2002. Disponível em: . Acesso em: 23 out. 2018.

LIMA, Paulo Gomes. Políticas de educação superior no Brasil na primeira década do século XXI: alguns cenários e leituras. Revista da Avaliação da Educação Superior, Sorocaba, SP, v. 18, n. 1, p. 85-105, 2013. Disponível em: . Acesso em: 29 jan. 2018.

MARSHALL, T. H. Citizenship and Social Class. In: MARSHALL, T. H. e BOTTOMORE, Tom. Citizenship and Social Class. Chicago: Pluto Classic (reimpr.), 1996, p. 3-51.

MICK, Jacques; LIMA, Samuel. Perfil do jornalista brasileiro: Características demográficas, políticas e do trabalho jornalístico em 2012. Florianópolis: Insular, 2013.

NEVES, Clarissa Eckert Baeta. Reforma e desafios da educação superior: O Processo de Bolonha dez anos depois. Sociologia&Antropologia, Rio de Janeiro, v. 1, n. 1, p. 181-207, jan/jun. 2011. Disponível em: . Acesso em: 30 nov. 2017.

STAMM, Cristiano et al. A população urbana e a difusão das cidades de porte médio no Brasil. INTERAÇÕES, Campo Grande, v. 14, n. 2, p. 251-265, jul./dez. 2013 Disponível em: . Acesso em: 15 jan. 2018.

Notas

[2] BRASIL. Poder Executivo. Decreto n. 6.095, de 24 de abril de 2007. Portal planalto.gov.br. Disponível em: . Acesso em: 08 fev. 2018.
[3] A ex-presidente Dilma Rousseff sancionou, no dia 5 de junho de 2013, a lei que criou mais quatro universidades federais no país: a Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (UNIFESSPA), a Universidade Federal do Oeste da Bahia (UFOB), a Universidade Federal do Sul da Bahia (UFESBA) e a Universidade Federal do Cariri (UFCA), no Ceará. Segundo o MEC, no ano de 2002, havia campi de universidades federais em 114 municípios, número que passou em 2013 para 275. As novas instituições de ensino superior no Norte e Nordeste do País teriam papel relevante na redução das desigualdades regionais.
[4] O e-MEC é um sistema eletrônico de acompanhamento dos processos que regulam a educação superior no Brasil. Disponível em: . Acesso de 12 fev. 2017.
[5] Os estudos clássicos de John Friedman (1972, apud. STAMM, 2013) apontavam a hierarquia funcional das cidades, como segue: a) cidades primazes (primate city), que exercem funções de alta complexidade, com especialização em serviços de saúde e educação, equipamentos de precisão, financeiros, comunicações e governamentais; além disso, são áreas que possuem os maiores mercados potenciais; b) cidades regionais (regional city), polarizadas por centros de reconhecida importância na rede urbana regional (têm influência das cidades primazes) e apresentam uma abrangência de polarização mais restrita; c) cidades sub-regionais (provincial city), que são os centros comerciais inferiores, esporadicamente com alguns centros industriais; e, d) cidades locais (local service city), exclusivamente agrícolas, com menor volume populacional e densidade, mas integradas por uma dinâmica socioeconômica comum. Podem surgir, nesse mesmo contexto hierárquico, cidades satélites direcionadas para economias mais simples ou atividades como manufatura, educação, entretenimento, administração, entre outras.
[6] Disponível em: . Acesso em: 10 fev. 2018.
[7] Perfil Socioeconômico e Cultural dos Estudantes de Graduação das Universidades Federais Brasileiras. Fórum Nacional de Pró-Reitores de Assuntos Comunitários e Estudantis (FONAPRACE). Brasília – 2011. Disponível em: . Acesso em: 10 fev. 2018.
[8] O Sistema de Seleção Unificada (SISU) é o sistema informatizado gerenciado pelo Ministério da Educação pelo qual instituições públicas de educação superior oferecem vagas a candidatos participantes do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM).
[9] De acordo com informações da Pró-reitoria de Ensino da UFCA, foram registrados 27 concludentes em 2013, 22 em 2014, vinte em 2015, dezesseis em 2016 e 24 em 2017. Os números mostram que quase metade dos cinquenta ingressantes anuais se formam no tempo regular de integralização do Curso, de oito semestres letivos.
[10] Relatório Anual “O Brasil em Síntese” é o sistema agregador de informações do IBGE sobre os municípios e estados do Brasil. Disponível em: . Acesso em 12 de fevereiro de 2018.


Buscar:
Ir a la Página
IR
Visor de artículos científicos generados a partir de XML-JATS4R por