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FACT-CHECKING: UMA PRÁTICA RECENTE EM PORTUGAL? ANÁLISE DA PERCEÇÃO DA AUDIÊNCIA
Fact-checking: A Recent Practice in Portugal? Audience Perception Analysis
Fact-checking: ¿una práctica reciente en Portugal? Análisis de percepción de la audiencia
Anuario Electrónico de Estudios en Comunicación Social "Disertaciones", vol. 16, núm. 1, e13, 2023
Universidad del Rosario

Artículos


Recepção: 01 Setembro 2022

Aprovação: 14 Novembro 2022

DOI: https://doi.org/10.12804/revistas.urosario.edu.co/disertaciones/a.12426

RESUMO: O fact-checking é uma prática jornalística muito recente em Portugal. Nenhum estudo até agora procurou entender a atitude do público em relação a este novo fenómeno. Metodologia: este estudo exploratório, com base em um questionário online (N = 618), teve como objetivo investigar a atitude e a perceção dos portugueses em relação ao fact-checking, analisando o efeito das práticas de consumo de informação, os aspetos sociodemográficos e a orientação política dos indivíduos. Os nossos resultados mostram que a maioria é favorável ao fact-checking e está familiarizada com a prática. No entanto, os níveis de familiaridade são reduzidos e estão abaixo do esperado, uma vez que 40 % dos entrevistados não conhecem este género jornalístico. Além disso, encontramos um ceticismo significativo, por parte dos participantes, em relação à ética dos fact-checkers. Corroborando com outros estudos, os jovens e os mais instruídos são mais favoráveis e mais familiarizados com o fact-checking. Ao contrário de outros estudos, os nossos resultados não mostram qualquer efeito da orientação política e ideológica sobre os níveis de aceitação e familiaridade. Este estudo levanta vários desafios relevantes, demonstrando que as pessoas podem não estar tão familiarizadas com o fact-checking como seria de esperar e que existe uma grande descon- fiança no rigor e imparcialidade dos fact-checkers, o que pode ser um obstáculo à correção da desinformação.

Palavras-chave: Desinformação, fact-checking, notícias falsas, jornalismo.

ABSTRACT: Fact-checking is a very recent journalistic practice in Portugal. No study so far has sought to understand the public’s attitude toward this new phenomenon. The purpose of this exploratory study, based on an online questionnaire (n=618), is to investigate the attitude and perception of the Portuguese toward fact-checking. It analyzes the effect of information consumption practices, sociodemographic aspects, and the political position of individuals. Our results show that the majority are in favor of fact-checking and are familiar with the practice. However, their familiarity levels are low and below expectations, since 40 % of respondents are not familiar with this journalistic practice. Additionally, we found significant skepticism from participants regarding the ethics of fact-checkers. Confirming other studies, the young and more educated are more in agreement and more familiar with fact-checking. Unlike other studies, our results show no effect from political and ideological views on the levels of acceptance and familiarity. This study raises several relevant challenges, demonstrating that people may not be as familiar with fact-checking as might be expected and that there is a great deal of distrust in the accuracy and impartiality of fact-checkers, which can be an obstacle in correcting misinformation.

Keywords: Disinformation, fact-checking, fake news, journalism.

RESUMEN: El fact-checking es una práctica periodística muy reciente en Portugal. Ningún estudio hasta ahora ha bus- cado comprender la actitud del público hacia este nuevo fenómeno. Este estudio exploratorio, instrumentado mediante cuestionario online (N = 618), tuvo como objetivo investigar la actitud y la percepción de los portugueses en relación con el fact-checking, analizando el efecto de las prácticas de consumo de información, los aspectos sociodemográficos y la orientación política de los individuos. Nuestros resultados muestran que la mayoría está a favor del fact-checking y conoce la práctica. Sin embargo, los niveles de familiaridad son bajos y por debajo de las expectativas, ya que el 40 % de los encuestados no conocen este género periodístico. Además, encontramos un importante escepticismo por parte de los participantes con respecto a la ética de los verificadores. Corro- borando otros estudios, los jóvenes y los más educados son más favorables y están más familiarizados con el fact-checking. A diferencia de otros estudios, nuestros resultados no muestran ningún efecto de la orientación política e ideológica sobre los niveles de aceptación y familiaridad. Este estudio plantea varios desafíos relevan- tes, demostrando que las personas pueden no estar tan familiarizadas con el fact-checking como cabría esperar y que existe una gran desconfianza en la precisión e imparcialidad de los fact-checkers, lo que puede ser un obs- táculo para la corrección de desinformación.

Palabras clave: Desinformación, fact-checking, noticias falsas, periodismo.

Introdução

A constante disseminação de desinformação on-line, especialmente através das redes sociais, continua a causar graves problemas sociais, políticos e económicos nas sociedades ocidentais. Após as eleições presidenciais dos eua em 2016, a mentira, sob o disfarce de vários formatos, tornou-se um instrumento de combate político. A gravidade desse problema levou a que os media e comentadores políticos considerassem que a disseminação de fake news teve influência direta na eleição de Donald Trump, ex-presidente dos Estados Unidos (Dewey, 2016; Parkinson, 2016; Read, 2016; Bovet & Makse, 2019). No atual ecossistema digital, as fake news circulam mais rápido do que as notícias (Vosoughi et al., 2018) e os jornalistas perderam autoridade exclusiva de informar (Trilling et al., 2016; Salgado & Bobba, 2019). De repente, a desinformação on-line tornou-se uma ameaça global para o jornalismo e para a democracia.

Perante este cenário - no qual a verdade e a evidência científica estão em declínio e sob a constante ameaça da disseminação massiva de desinformação - o fact-checking adquiriu maior preponderância, tornando-se uma prática integral de organizações jornalísticas já estabelecidas (Humprecht, 2020). Comumente utilizada nos eua desde os anos 2000 (Amazeen, 2013; Graves & Cherubini, 2016), esta prática jornalística tem aumentado significa- tivamente não só no país de origem, mas também no resto do mundo. O fact-checking é identificado como uma prática que revela factos (Shin & Thorson, 2017; Graves, 2018) e que recorre a “métodos científicos” para averiguar a veracidade das declarações de interesse público (Amazeen, 2019), acabando por ser um movimento estruturante para a reforma do jornalismo. Em 2019, havia 74 organizações a mais do que em 2016 (Graves & Cherubini, 2016), totalizando 188 espalhadas por 60 países em todo o mundo (Stencel, 2019). Atualmente, Duke Reporter’s Lab1 identificou 341 projetos ativos de fact-checking em todo o mundo.

No entanto, a literatura não é consensual em relação à eficácia do fact-checking em corrigir ou reduzir crenças falsas. Se, por um lado, há quem defenda o seu importante papel no combate à desinformação devido ao seu efeito positivo nas crenças (Cobb et al., 2013; Fridkin, et al., 2015; Walter et al., 2020); por outro lado, outros estudos encontram várias limitações em relação ao seu objetivo, nomeadamente em relação à correção de crenças falsas pré-existentes (Hannak et al., 2014; Flynn et al., 2017; Pennycook & Rand, 2018; Tsfati et al., 2020). Além disso, o público parece não estar muito familiarizado com esta prática (Nyhan & Reifler, 2015), e a sua aceitação pode estar dependente de vieses político-ideológicos (Thorson, 2016; Shin & Thorson, 2017; Robertson et al., 2020), bem como a sua interpretação de diferentes estilos cognitivos no processamento da informação (De keersmaecker & Roets, 2017). Os críticos também se interrogam se a publicação das correções dos fact-checkers nas redes sociais não fazem com que o “tiro saia pela culatra”, no sentido em que as correções podem ter o efeito oposto (Nyhan et al., 2013). Talvez tudo isso possa de alguma forma justificar o facto de os websites de fact-checking não serem visitados muitas vezes (Guess et al., 2018) e que apenas uma percentagem reduzida de utilizadores ou leitores é que partilha artigos de fact-checking (Amazeen et al., 2019).

Com o aumento da relevância do fact-checking na esfera pública, as investigações sobre o tema também aumentaram. Contudo, a maioria dos estudos sobre fact-checking está concentrada nos Estados Unidos e procura essencialmente entender como a mensagem dos fact-checkers é aceite e/ou se suas correções são eficazes (ver Jarman, 2016; Young et al., 2018; Carnahan & Bergan, 2021).

Perante esta situação, acreditamos, que tão ou mais importante do que avaliar a eficácia ou efeito do fact-checking, é compreender as atitudes e a perceção do público em relação a este género jornalístico, sobretudo em países como Portugal, onde o fact-checking é muito recente (Canavilhas & Ferrari, 2018; Cazetta, 2018).

Deste modo, pretendemos que este estudo represente uma primeira abordagem à avaliação dos conhecimentos e atitudes dos portugueses face a um novo formato jornalístico. O nosso principal objetivo passa por avaliar o nível de familiaridade dos adultos portugueses com o fact-checking e entender o quanto a audiência é favorável em relação à sua prática, analisando a influência que exercem os: (1) fatores sociodemográficos; os (2) hábitos e interesses de consumo de notícias; e a (3) orientação político-ideológica da audiência.

O atual contexto sociopolítico português motivou o desenvolvimento deste estudo. Em primeiro lugar, parale- lamente ao crescimento recente do populismo político (Magalhães, 2019; Caeiro, 2020; Serrano, 2020), verifica-se um aumento de movimentos polarizados e radicais que desafiam as evidências científicas (Firmino & Maia, 2020; Barreto, 2021) e a ética do jornalismo, atacando e ameaçando jornalistas pelo seu trabalho (Mapping Media Freedom [mmf], 2021). Em segundo lugar, apesar de os portugueses estarem entre os que mais confiam nas notícias e entre os que mais se preocupam com a circulação de conteúdos falsos na internet (Digital News Report [dnr], 2021), importa salientar que as páginas de desinformação nas redes sociais em Portugal continuam a aumentar o número de seguidores e os principais websites de notícias fraudulentas mantêm uma intensa atividade (Cardoso et al., 2019; Baptista & Gradim, 2020). Em alguns casos, no Facebook, as páginas de desinformação alcançam, por publicação, maior engajamento do que as páginas dos meios de comunicação tradicionais (Baptista & Gradim, 2020). Diante deste complexo cenário, o nosso estudo pode ser um contributo muito importante para o debate contemporâneo sobre desinformação em geral.

Fact-checking: atitudes e perceção

O fact-checking assumiu-se, desde as suas origens, como um movimento jornalístico e como uma “instituição democrática” (Graves & Cherubini, 2016), seja pelo esforço como promove a verdade e a objetividade, seja pelos princípios de imparcialidade que segue para avaliar declarações de interesse público e político. Existem várias agências europeias e norte-americanas de fact-checking que cumprem rigorosamente com os princípios éticos acordados pela International Fact-Checking Network (ifcn). Como um fenómeno novo, o fact-checking distingue-se do jornalismo tradicional pela forma como procura chamar a atenção do público para declarações falsas ou verdadeiras. A verificação de factos não se limita a ser um processo interno jornalístico, anterior à publicação de uma notícia (Graves & Glaisyer, 2012; Amazeen, 2013).

Em 2015, período anterior ao fenómeno contemporâneo das fake news, o American Press Institute também deixou claro que “os fact-checkers investigam factos verificáveis e o seu trabalho é livre de partidarismos, advocacia e retórica” (Elizabeth, 2014). Com base nessa diretriz editorial, o crescimento da prática de fact-checking deve-se à crescente preocupação, por parte dos profissionais da media, com a aceitação e/ou normalização de declarações falsas ou imprecisas no discurso político (Graves & Konieczra, 2015); uma era denominada como “pós-verdade” (Harsin, 2018; McIntyre, 2018).

Embora no cenário norte-americano a prática do fact-checking não seja tão recente, importa destacar que diversos estudos, voltados para esse contexto, apresentam indicadores pouco animadores em relação ao grau de familiaridade das pessoas com o género jornalístico, embora, por outro lado, a maioria demostre ser recetiva e favorável à sua prática (Nyhan & Reifler, 2015; Robertson et al., 2020). O mesmo acontece em alguns países europeus (Lyons et al., 2020).

A literatura identificou uma associação positiva entre o descontentamento com as políticas governamentais, bem como a desconfiança nos media, e uma atitude negativa ou cética em relação ao fact-checking (Lyons et al., 2020; Schulz et al., 2020; Stier et al., 2020). Outros estudos que se concentraram no que motiva o consumo e a partilha de desinformação também encontraram uma associação positiva entre a crença e a disseminação de conteúdos desinformativos e as atitudes antigovernamentais, antissistema e populistas (Faragó et al., 2019; Reuter et al., 2019; Baptista & Gradim, 2020; Zimmermann & Kohring, 2020). Os portugueses destacam-se internacionalmente pela confiança que têm nas notícias (dnr, 2018, 2020, 2021). Com a pandemia, a confiança nas notícias foi reforçada em 2021, o que é visível não só pelo aumento da confiança nos media, mas também pela importância que os portugueses atribuíram ao trabalho dos jornalistas (dnr, 2021). Assim sendo, formulamos a nossa primeira hipótese:

  • Hipótese 1 [H1] = A maioria dos participantes é a favor do fact-checking.

Quanto à familiaridade com o fact-checking, parece haver uma tendência diferente para os portugueses em comparação com indivíduos de outros países. Segundo o Instituto Poynter, o fact-checker português, Polígrafo2 (criado em 2018), conseguiu atingir o seu “ponto de equilíbrio” em menos de um ano (Tardáguila, 2019). Em entrevista ao Poynter em 2019, o diretor editorial do Polígrafo diz que devido à popularidade do fact-checker, os políticos portugueses chamaram a redação para reconhecer que cometeram um erro em determinada declaração que havia sido verificada (Tardáguila, 2019). Poynter acrescentou que o Polígrafo é “amplamente conhecido pelos políticos” e “alcançou mais de 1,1 milhão de pessoas na televisão numa semana” (Tardáguila, 2019).

  • Hipótese 2 [H2] = O fact-checking é familiar para a maioria dos participantes.

Vários estudos também mostraram que a atitude e o conhecimento em relação ao fact-checking podem depender de vieses políticos e partidários (Nyhan & Reifler, 2015; Thorson, 2016; Shin & Thorson, 2017; Robertson et al., 2020). A tendência inerente dos seres humanos para aceitar mais facilmente argumentos ou declarações que confirmem as suas crenças, valores ou atitudes pode não só torná-los mais vulneráveis a informações falsas (Ditto et al., 2019; Baptista et al., 2021a, 2021b; Pennycook & Rand, 2021), como também pode determinar a forma como procuram informações (Trielli & Diakopoulos, 2020) ou consomem notícias (Fischer et al., 2005; Peterson & Kagalwala, 2021). O viés partidário ou ideológico pode ser o principal inimigo dos utilizadores/leitores. Osmundsen et al. (2021) constataram que a partilha de fake news pode estar relacionada à escolha seletiva de conteúdo útil para denegrir a imagem de adversários políticos. Outros estudos também observaram que os partidários estão mais predispostos a aceitar uma media compatível, considerando a “media externa” mais enganosa ou tendenciosa (Peterson & Kagalwa, 2021; Stroud et al., 2014).

Em relação ao fact-checking, os utilizadores ou leitores também são mais propensos a selecionar conteúdo útil que seja compatível com sua orientação político-partidária (Hameleers & Van der Meer, 2019). Em termos de assimetrias ideológicas, vários estudos apontam conservadores e pessoas mais à direita do espectro político como sendo mais vulneráveis à desinformação em geral (Mancosu et al., 2017; Grinberg et al., 2019; Baptista et al., 2021a, 2021b; Tonković et al., 2021). Conservadores e pessoas da direita radical também são mais propensos a resistir à correção de crenças falsas (Rollwage et al., 2018; Sinclair et al., 2020; Pennycook & Rand, 2021) e estão, de igual modo, mais associados a atitudes céticas, negativas e desfavoráveis em relação à prática do fact-checking (Nyhan & Reifler, 2015; Lyons et al., 2020; Robertson et al., 2020).

  • Hipótese 3a) [H3a)] = Pessoas de direita (vs. pessoas de esquerda) tendem a ser menos favoráveis ao fact-checking.

  • Hipótese 3b) [H3b)] = Conservadores (vs. liberais) tendem a ser menos favoráveis ao fact-checking.

Além da orientação ideológica e partidária, a academia também identificou outros preditores que confirmam uma atitude menos favorável ao fact-checking, relacionados a características sociodemográficas, interesses e práticas de consumo de informação das pessoas. Consultando a literatura, podemos facilmente identificar que os preditores de crença na desinformação correspondem em grande parte aos mesmos preditores que indicam atitudes desfavoráveis e são menos familiarizados com o fact-checking. Quanto à desinformação, observou-se maior vulnerabilidade por parte das pessoas com menor nível de escolaridade e idosos (Guess et al., 2019; Pop & Ene, 2019; Baptista et al., 2021a, 2021b). Além disso, as pessoas que menos confiam nos meios de comunicação e que procuram meios alternativos para obter informações podem ser mais suscetíveis ao consumo de desinformação, uma vez que podem aumentar seu nível de exposição ao conteúdo de desinformação. Em relação ao fact-checking, a literatura reconhece que pessoas mais velhas e com menor nível de educação tendem a estar menos familiarizadas com este género jornalístico, como também tendem a ser menos favoráveis à sua prática (e.g., Robertson et al., 2020). Além disso, os jovens portugueses (vs. idosos) têm maior nível de literacia digital (Paisana et al., 2020). Perante estes dados, definimos as seguintes hipóteses:

  • Hipótese 4 [H4] = Os mais jovens estão mais familiarizados com o fact-checking e tendem a ser mais favo- ráveis à sua prática.

  • Hipótese 5 [H5] = Os mais instruídos estão mais familiarizados com o fact-checking e tendem a ser mais favoráveis à sua prática.

Neste estudo também se procurou compreender como o interesse e/ou envolvimento político dos partici- pantes pode estar relacionado com a familiaridade e o nível de aceitação da prática de fact-checking. Sobre esta questão, se considerarmos que um maior envolvimento político e partidário pode motivar a exposição seletiva de notícias (Barnidge et al., 2020), o que pode aumentar a probabilidade de formação de bolhas de filtro tenden- ciosas (Baumann et al., 2020; Zimmer et al., 2019; Zimmermann et al., 2020) e até mesmo levar à exposição de sites que tendem a ser pouco informativos (Mourão & Robertson, 2019), tudo parece indicar que o interesse pela política pode ser um indicador negativo. No entanto, por outro lado, o interesse ou envolvimento político pode estar associado a um maior conhecimento sobre questões políticas, o que parece tornar as pessoas mais capazes de identificar conteúdos políticos desinformativos (Vegetti & Mancosu, 2020). Baptista et al. (2021c) testaram essa hipótese em relação à crença e disseminação de fake news e constataram que o interesse por notícias políticas e o conhecimento político podem ser elementos cruciais para combater a proliferação de desinformação. Segundo esta linha de pensamento, um maior conhecimento sobre assuntos políticos pode motivar a procura de mais informações quando expostos a informações duvidosas. Em relação ao fact-checking, o envolvimento ou interesse em política parece estar associado a uma maior familiaridade com os websites dos fact-checkers (Robertson et al., 2020). Além disso, também podem estar positivamente relacionados a uma maior capacidade digital (Amazeen & Bucy, 2019). Portanto, a nossa última hipótese é a seguinte:

  • Hipótese 6 [H6] = Interesse e envolvimento político estão positivamente associados a um maior nível de familiaridade e aceitação do fact-checking.

Metodologia

O principal objetivo desta investigação prende-se em averiguar qual a perceção que os portugueses têm em relação à prática jornalística de fact-checking, procurando compreender a influência que exercem os fatores sociodemográficos, os valores e atitudes políticas que caracterizam os cidadãos. Neste estudo exploratório, par- ticiparam, de forma voluntária e anónima, 618 indivíduos portugueses ou residentes em Portugal. A amostra é composta por participantes com idade entre 18 e 88 anos (M = 48,2; DP = 11,5), sendo 430 (69,6%) mulheres e 188 (30,4%) homens. A Tabela 1 apresenta uma descrição mais detalhada dos dados sociodemográficos da amostra.

Tabela 1
Descrição dos dados demográficos da amostra

Tratamento estatístico

Num primeiro momento, realizamos um conjunto de análises de estatística descritiva, calculando a média (m), desvio padrão (DP), frequência relativa (%) e absoluta do conjunto de indicadores obtidos de variáveis. Posteriormente, com o objetivo de averiguar a existência de diferenças estatisticamente significativas entre as variáveis, percebendo efeitos e relações, procedeu-se à realização de análises de variância multivariada (manova), seguidas de análises de variância univariada (anova) e de testes de comparações múltiplas de modo a observar diferenças entre os grupos, classes ou categorias que compõem as variáveis. Mais ainda, o cálculo do coeficiente de corre- lação de Pearson permitiu identificar possíveis associações entre as variáveis. Importa salientar que todas as aná- lises estatísticas foram elaboradas recorrendo ao programa spss 27.0 (ibm spss 27.0, Chicago, il). Em todas as análises estatísticas foram considerados valores de significância de p < 0,05.

Procedimentos e instrumentos

Para a recolha de dados, foi utilizado um questionário on-line de conveniência e autorresposta, tendo sido utilizado uma amostra não probabilística e por conveniência. O questionário foi divulgado no Facebook e esteve disponível on-line para preenchimento entre os dias 1 e 13 de janeiro de 2022. O questionário foi dividido em cinco secções: (1) questões sociodemográficas; (2) práticas de consumo de notícias e artigos de fact-checking; (3) atitudes em relação ao fact-checking; (4) interesse pela política e; (5) orientação política nas dimensões esquerda- direita e liberalismo-conservadorismo (Tabela 2). Na fase inicial do questionário, garantimos total anonimato e confidencialidade no tratamento dos dados dos participantes. Na descrição introdutória do questionário, não foi fornecida nenhuma informação que denunciasse a definição de fact-checking.

Tabela 2
Categorização do questionário

Relativamente ao questionário, a criação de variáveis como índices de familiaridade e de aceitação, bem como de questões relacionadas com as atitudes em relação ao fact-checking, teve em consideração os trabalhos de Amazeen et al. (2019) , Robertson et al. (2020) e Lyons et al. (2020) . Quanto à familiaridade, os participantes foram solicitados a expressar o quanto estavam familiarizados com a prática de fact-checking numa escala de 5 pontos (1-nunca ouvi falar; 5-muito familiar). Utilizamos uma escala semelhante para medir o nível de interesse em ler artigos de fact- checking (1- Nada interessado; 5- Extremamente interessado) ou em relação ao quanto os participantes são favo- ráveis ou desfavoráveis à prática de fact-checking (1-Nada favorável; 5-Muito favorável) ou para verificar o quanto confiam em notícias (1-Nada; 5-Muito). Com exceção da pergunta sobre a frequência com que acedem a websites de fact-checking (1-Nunca ou quase nunca; 5- Todos os dias), utilizamos a mesma escala nas questões relacionadas com a frequência com que consomem artigos de fact-checking, partilham notícias e artigos de fact-checking e com que frequência verificam informações e/ou notícias (1-Nunca ou quase nunca; 5- Constantemente).

Em relação ao interesse ou envolvimento político manifestado, os participantes foram confrontados com as seguintes afirmações: a) Tenho interesse em notícias sobre política; b) Acompanho a política de perto e; c) Gosto de falar sobre política com os outros. Para cada uma das afirmações, os participantes manifestaram a sua opinião mediante a uma escala de cinco pontos (1-Discordo totalmente; 5-Concordo totalmente).

Quanto à orientação político-ideológica, os participantes autocolocaram-se - de acordo com suas crenças, valores e atitudes políticas - em duas escalas ideológicas, perante as dicotomias esquerda-direita (1-muito de esquerda; 7-muito de direita) e liberalismo-conservadorismo (1-Muito liberal; 7-Muito conservador). Para agrupar as orientações políticas dos participantes de acordo com as escalas apresentadas, consideramos os campos polí- ticos de 1 a 3 como sendo de esquerda, do centro a posição 4 e de 5 a 7 como pertencentes ao campo político da direita. Da mesma forma, em relação à dimensão política liberalismo-conservadorismo, consideramos as posições 1 a 3 como liberais, o ponto 4 como posição intermediária e aqueles que se posicionaram nos pontos 5 a 7 foram identificados como conservadores.

Optamos por utilizar ambas as dimensões políticas porque defendemos que uma não anula a outra. Conside- ramos ambos os espectros políticos para reduzir o erro que a autocolocação numa escala política pode acarretar. Além disso, dado que o estudo incide sobre a população portuguesa, a utilização das duas dimensões políticas faz com que não haja uma colocação política exclusiva numa dimensão espacial horizontal (Baptista & Loureiro, 2018). Por outras palavras, o facto de ser de esquerda, por exemplo, não impossibilita de ser conservador, assim como não justifica que ser de direita impossibilite ser liberal. A escala liberalismo-conservadorismo, como a esquerda-direita, reflete uma autocolocação de acordo com valores sociais, económicos e culturais (Freire, 2006, 2009; Baptista & Loureiro, 2018).

Resultados

Análise descritiva

Os nossos resultados demonstram que os portugueses têm, em geral, uma atitude muito favorável (M = 3,99; DP = 0,98) à prática de fact-checking. No entanto, em relação à confiança em notícias e na ética dos fact-checkers, observa-se um maior ceticismo (Tabela 3).

Tabela 3
Atitude dos participantes expressa em relação ao fact-checking

Nota: Todas as percentagens são baseadas no número total de respostas válidas para cada pergunta. Os valores omissos não foram considerados.

É importante notar que dos que estão familiarizados com o fact-checking, os nossos resultados apontam que apenas 50% (N = 180) dos participantes não concorda que os fact-checkers tendem a favorecer qualquer um dos lados durante o seu trabalho. Portanto, cerca de metade dos participantes manifestaram ser céticos quanto à imparcialidade dos fact-checkers no tratamento dos assuntos. De acordo com a Tabela 3, 40% (N = 248) dos parti- cipantes, do total da amostra, não estão familiarizados com fact-checking, sendo que 14,2% (N = 87) admitem total desconhecimento.

Dando continuidade à análise descritiva dos resultados, observamos que as pessoas que conhecem o género jornalístico consomem regularmente notícias de fact-checking (M = 3,31; DP = 0,83), assim como verificam com frequência as notícias que leem (M = 3,25; DP = 0,93), como mostra a Tabela 4. Esse resultado era esperado, uma vez que a verificação das informações pode estar intimamente relacionada ao consumo de artigos de fact-checking.

Tabela 4
Medidas descritivas em relação aos hábitos de consumo de informação

Nota: A escala utilizada na tabela [1-5] corresponde, com exceção da alínea b), à seguinte denominação: 1- Nunca ou quase nunca; 2- Raramente; 3- Às vezes; 4- Muitas vezes; 5- Constantemente. No caso do item b), a escala de cinco pontos corresponde a: 1- Nunca ou quase nunca; 2- Uma vez por semana; 3- Duas a três vezes por semana; 4- Quatro a cinco vezes por semana; 5- Todos os dias.

Os nossos resultados também indicam uma reduzida tendência para partilhar conteúdo de notícias e para aceder a artigos de fact-checking on-line. Cerca de 68% (N = 237) admitem que “nunca ou quase nunca” ou apenas “uma vez por semana” acedem a sites de fact-checking. Por outro lado, 77% (N = 283) indicam que verificam regularmente as notícias. Assim sendo, os nossos resultados parecem indicar que, por um lado, os participan- tes consomem fact-checking através de outros meios não-digitais e, por outro lado, a verificação de notícias pode corresponder a outros critérios ou métodos que não impliquem necessariamente a consulta de artigos de fact-checking.

Quanto ao interesse pela política, de um modo geral, a amostra interessa-se por notícias políticas, bem como aprecia acompanhar e debater eventos associados a questões políticas (Tabela 5).

Tabela 5
Medidas descritivas em relação ao interesse ou envolvimento político

Nota: Todos os itens correspondem à seguinte escala Likert: 1- Discordo totalmente; 2- discordo; 3- Não concordo nem discordo; 4- Concordo; 5- Concordo plenamente.

Em termos ideológicos, tendo em conta a distribuição média por campo político-ideológico (Figura 1), observa-se uma tendência do posicionamento para a esquerda (M = 3,57, DP = 1,2) no que diz respeito à autocolocação na escala política esquerda-direita e, uma tendência mais liberal (M = 3,23, DP = 1,2) evidente na orientação política com a dimensão liberalismo-conservadorismo.


Figura 1
Distribuição da média por campo político-ideológico

Após recodificar a amostra (conforme indicado anteriormente na metodologia), de um total de 533 respostas, 258 autoposicionaram-se no campo político da esquerda, 166 no centro e 109 na direita. Quanto à dimensão liberalismo- conservadorismo, de um total de 548 respostas, 378 autocolocaram-se no campo delineado como liberais, 59 na posição central e 111 como conservadoras.

Fatores sociodemográficos e familiaridade em relação ao fact-checking

Para entender a relação entre os fatores sociodemográficos - (1) sexo, (2) idade e (3) escolaridade - e a familiari- dade com o fact-checking, realizamos uma análise de variância univariada. Analisando o nível de familiaridade em relação à diferença de género, a anova revelou um efeito estatisticamente significativo (F(1,611) = 37,371, p < 0,001), demonstrando que os homens eram mais familiares do que as mulheres (Tabela 6).

Tabela 6
Médias (M), desvios padrão (DP) e efeitos univariados do grau de familiaridade por fatores demográficos

Quanto (2) à idade dos participantes, procedeu-se primeiro a uma recodificação das variáveis para consolidar os nossos resultados. Agrupamos a idade da amostra num conjunto de quatro categorias, conforme apresentado na Tabela 6. Através da anova, verificamos um efeito estatisticamente significativo do fator idade sobre o nível de familiaridade com o fact-checking (F(3,609) = 5,124, p = .002). Com o teste de comparações múltiplas observamos diferenças significativas entre os grupos etários mais jovens e os mais velhos, nomeadamente entre pessoas com menos de 30 anos e pessoas com mais de 40 anos. Os resultados mostram que os jovens tendem a estar mais fami- liarizados com o fact-checking. Além disso, observamos que quanto mais velhos forem os participantes, menor é o grau de familiaridade com o fact-checking.

Em relação ao efeito do (3) nível de escolaridade sobre o nível de familiaridade com este género jornalístico, os nossos dados demonstram um efeito significativo (F(3,609) = 6,526, p < 0,001). Posteriormente, a realização de testes de comparações múltiplas revelou diferenças estatisticamente significativas entre os indivíduos com menor e maior escolaridade. Identificamos diferenças significativas entre os participantes com formação académica até o 12º ano e os participantes com mestrado e doutoramento. Os participantes com licenciatura também apresen- taram diferenças significativas em relação aos indivíduos com mestrado ou doutoramentoo. Em todos os casos, as pessoas com graus académicos mais baixos estão associadas (vs. graus mais altos) a um nível mais reduzido de familiaridade com o fact-checking (Tabela 6).

Associação entre as variáveis em estudo

Através do cálculo do coeficiente de correlação linear de Pearson, procuramos identificar possíveis correlações entre hábitos e práticas de consumo de notícias on-line e as atitudes em relação aos media, não apenas no que diz respeito ao conhecimento/familiaridade sobre fact-checking, mas também pela forma como as variáveis se correlacionam entre si (Tabela 7).

Tabela 7
Associação entre variáveis (r de Pearson)

Nota:* p < 0,05, ** p < 0,01

De acordo com a Tabela 7, a familiaridade com o fact-checking está positiva e significativamente correlacionada com o interesse político geral. Por outras palavras, os resultados indicam que quanto maior é o interesse demonstrado pelas questões políticas, maior é o nível de familiaridade dos indivíduos com o género jornalístico em análise. Além disso, verifica-se também que o nível de familiaridade tende a aumentar de acordo com o aumento da con- fiança em notícias (r = 0,118, p < 0,01) e, naturalmente, com o interesse em ler fact-checking (r = .246, p < .01). O grau de familiaridade com o fact-checking tende também a ser maior consoante o aumento da frequência com que se consome esse tipo de artigo (r = .329, p < .01) e com que se acede a websites de fact-checking (r = .254, p < .01).

Por outro lado, verificamos que a confiança em notícias não está correlacionada com o interesse político manifestado, mas está negativa e significativamente correlacionada com o ceticismo em relação à ética dos fact- checkers (r = - 0,288, p < 0,01) e a frequência com que as notícias são verificadas (r = -.144, p = .01). Portanto, os nossos dados indicam que aqueles que mais desconfiam das notícias são mais propensos a desconfiar do trabalho dos fact- checkers, bem como a verificar com menos regularidade as notícias ou informações a que estão expostos. Embora o interesse em ler artigos de fact-checking não esteja correlacionado com o interesse político, descobrimos, no entanto, que o interesse político está positiva e significativamente correlacionado com o acesso a websites de fact-checking e a partilha de notícias (mas não com a partilha de artigos de fact-checking).

Quanto à aceitação do fact-checking, observamos que esta tende a aumentar consoante o aumento da confiança em notícias, bem como do aumento da familiaridade com o fact-checking e do consumo geral de fact-checking e notícias. Por fim, é importante ressaltar que a atitude em relação à prática do fact-checking não sofre nenhum efeito significativo com a orientação político-ideológica ou o interesse político do indivíduo.

Orientação política versus notícias e fact-checking

Para analisar a relação que se estabelece entre a orientação política (considerando ambas as dimensões políticas) e (1) familiaridade com fact-checking, (2) confiança em notícias, (3) aceitação de fact-checking e o (4) ceticismo em relação ao trabalho de fact-checkers, foi realizada uma análise de variância multivariada. Constatamos que não houve diferenças significativas em relação a todo o compósito de variáveis, seja em relação à orientação política esquerda-direita, seja em relação à dimensão ideológica liberalismo-conservadorismo (Tabela 8).

Tabela 8
Familiaridade e atitudes em relação ao fact-checking de acordo com a orientação política

Quanto ao efeito da orientação político-ideológica (considerando ambas as dimensões) sobre as práticas de consumo de notícias e artigos de fact-checking, os nossos resultados apresentam diferenças significativas apenas em relação ao efeito da escala política esquerda-direita sobre o interesse expresso em leitura de artigos de fact-checking (F(2,305) = 5,022, p < 0,007), revelando diferenças entre as pessoas do centro político e pessoas de outros campos políticos (esquerda e direita); sendo as pessoas do centro que demonstram maior interesse em ler artigos de fact-checking (Tabela 9). Em relação à dimensão política liberalismo-conservadorismo, os nossos resultados apenas identificam diferenças significativas no que diz respeito à frequência com que os participantes verificam as notícias ou informações (F(2,306) = 3,915, p < 0,021), sendo que o teste de comparações múltiplas evidenciou diferenças significativas entre liberais e conservadores, com os liberais apresentando maior propensão para verificar as notí- cias (Tabela 10).

Tabela 9
Práticas de consumo de acordo com a orientação política

Tabela 10
Práticas de consumo on-line de acordo com a orientação política

Efeito dos fatores demográficos e das atitudes em relação ao fact-checking

Considerando a (1) confiança em notícias, a (2) aceitação do fact-checking e (3) o ceticismo em relação ao trabalho dos fact-checkers, após realizar uma análise de variância multivariada (manova), a anova permitiu-nos observar que o fator idade (F(3,325) = 2,420, p = 0,05) e educação (F(3,325) = 2,895, p = 0,035) têm um efeito significativo na aceitação da prática da fact-checking. Deste modo, o género não tem efeito significativo no compósito de variáveis, e os fatores idade e escolaridade apenas têm influência significativa na favorabilidade da fact-checking, não estando significativamente relacionados com a confiança em notícias ou o ceticismo associado aos fact-checkers. Os testes de comparações múltiplas permitiram verificar que, no que diz respeito à influência da idade, a diferença existe entre as pessoas com idades compreendidas entre os 31 e os 40 anos e os mais velhos com mais de 61 anos, sendo os mais jovens significativamente mais favoráveis à prática da fact-checking.

Em relação à escolaridade, os testes de comparações múltiplas revelaram que as pessoas com menor escola- ridade (até o 12º ano) são significativamente mais desfavoráveis à prática de fact-checking em comparação com todos os demais graus académicos (Tabela 11).

Tabela 11
Médias (M), desvios padrão (DP) e efeitos univariados do compósito de variáveis por fatores demográficos

Efeito de fatores demográficos e práticas de consumo de notícias e artigos de fact-checking

No que diz respeito à influência que os fatores demográficos podem exercer na forma como as notícias on-line e os artigos de fact-checking são consumidos, consideramos para a nossa análise o (1) interesse em ler artigos de fact-checking, (2) a frequência com que os participantes leem artigos de fact-checking, (3) acedem a sites de fact-checking (4) partilham notícias e (5) artigos de fact-checking e (6) verificam as notícias que leem. Conside- rando todo esse conjunto de variáveis e tentando entender sua relação com a idade, sexo ou escolaridade dos participantes, as análises de variância multivariada e univariada nos mostraram que apenas o género pode exercer influência significativa na frequência com que se verificam as notícias ou informações (F (1,312) = 3,831, p = 0,05). Comparando os valores médios entre os géneros, observamos que os homens têm uma leve propensão para verificar com mais frequência o conteúdo das notícias que lêem.

Discussão e conclusão

Os nossos resultados mostraram que a maioria dos participantes tem uma atitude bastante favorável à prática de fact-checking e está familiarizada com a atividade desse géênero jornalístico, confirmando as nossas duas pri- meiras hipóteses [H1-H2]. No entanto, observamos que há um elevado ceticismo sobre a forma como os jornalistas verificam os factos. Por um lado, as pessoas reconhecem a importância da verificação de factos, mas, por outro lado, têm dúvidas sobre a imparcialidade e o rigor de como os fact-checkers trabalham. Neste sentido, os nossos resultados parecem estar de acordo com outros estudos (Nyhan & Reifler, 2015; Lyons et al., 2020; Robertson et al., 2020).

No entanto, não podemos ignorar que os níveis de familiaridade estão abaixo do esperado. 40% dos participantes não estão familiarizados com o género jornalístico, apesar da elevada popularidade atribuída ao fact-checking em Portugal, devido ao aumento de fact-checkers a trabalhar no país e à notoriedade que as agências noticiosas lhes atribuem (Tardáguila, 2019; Cardoso et al., 2020). A baixa familiaridade pode ser compreendida se considerarmos que 68% dos participantes admitiram que “nunca ou quase nunca” ou apenas “uma vez por semana” acedema websites de fact-checking. Talvez estes dados estejam relacionados com a importância que a televisão atribui ao fact-checking em Portugal, uma vez que os dois fact-checkers, reconhecidos pelo ifcn, têm parcerias com os dois principais canais de televisão em sinal aberto (Cardoso et al., 2020). Além disso, importa sublinhar que a televisão continua a ser a principal fonte de notícias para os portugueses (dnr, 2021) e estas parcerias com fact-checkers tornam as agências noticiosas “espaços de validação e certificação clara das notícias junto da opinião pública” (Cardoso et al., 2020, p. 25). No entanto, a atenção que a televisão está a dedicar ao fact-checking deve contribuir para uma maior familiaridade do género por parte da audiência. Ainda assim, os nossos resultados são semelhantes aos encontrados na literatura. Mesmo no cenário norte-americano, Nyhan e Reifler (2015) apontaram que metade do público não conhecia o fact-checking, embora houvesse um alto índice de aceitação da prática. Também na Europa, Lyons et al. (2020) verificaram a mesma tendência, notando, além disso, que havia maior ceticismo em relação ao trabalho dos fact-checkers.

Os nossos resultados também confirmaram que os homens geralmente estão mais familiarizados com o género jornalístico. Isso parece ser explicado pelo facto de procurarem verificar com maior frequência o conteúdo das informações que leem do que as mulheres. Em linha com a literatura (Nyhan & Reifler, 2015; Lyons et al., 2020; Robertson et al., 2020) e confirmando as nossas hipóteses [H4-H5], os jovens tendem a estar mais familiarizados e são mais favoráveis ao fact-checking, assim como as pessoas com ensino superior em comparação com as pessoas com menor escolaridade. Outros estudos, que avaliaram a vulnerabilidade dos portugueses à desinformação, constataram que as pessoas mais velhas e menos instruídas são mais propensas para acreditar em notícias falsas (Baptista et al., 2021a, 2021b).

Além disso, os nossos dados mostram que o nível de familiaridade tende a aumentar com o aumento da confiança em notícias. E a confiança em notícias tende a diminuir com o crescente ceticismo em relação aos verificadores de factos. Assim, podemos especular que as pessoas que não confiam em notícias, que podem estar mais expostas à desinformação, são também os leitores ou utilizadores menos confrontados com correções ou artigos de fact-checking. Portanto, a desconfiança na media parece ser um obstáculo ao fact-checking, o que nos leva a questionar a sua eficácia com esse público específico.

Os nossos resultados rejeitam a existência de preconceito político e ideológico quanto ao grau de familia- ridade e às atitudes em relação ao fact-checking. Não encontramos nenhum efeito significativo da orientação política e ideológica dos participantes sobre o nível de familiaridade ou de aceitação do fact-checking. Nem no que diz respeito aos hábitos e práticas de consumo de informação, nem em relação à confiança depositada nas notícias ou ao ceticismo associado ao trabalho dos fact-checkers. Estes dados não confirmam as nossas hipóteses [H3a)-H3b)]. Curiosamente, em Portugal, a orientação partidária, numa dimensão política esquerda-direita, parece, no entanto, ser um preditor da crença e disseminação de fake news políticas, associado tendencialmente a uma orientação partidária de direita (Baptista et al., 2021a, 2021b). Outros estudos também apontaram os conservadores e as pessoas de direita como mais negativas em relação aos media em geral, principalmente em relação ao fact-checking (Lyons et al., 2020; Stier et al., 2020; Schulz et al., 2020).

O nosso estudo também constata que o interesse e/ou envolvimento político está positivamente correlacionado com a familiaridade com o fact-checking, mas não encontramos correlação com o nível de aceitação da prática do género jornalístico. Estes dados confirmam apenas parcialmente a nossa última hipótese [H6]. Curiosamente, por outro lado, um maior interesse pela política pressupõe que os participantes sejam menos céticos em relação à prática de fact-checking. Estes resultados são importantes porque consolidam, de alguma forma, a importância do conhecimento político para combater a desinformação. Se, por um lado, diversos estudos confirmaram que o conhecimento/interesse ou envolvimento político não está positivamente correlacionado com a crença em notícias falsas (Faragó et al., 2019; Baptista et al., 2021c), por outro lado, o conhecimento/interesse ou envolvi- mento político motiva uma maior familiaridade com o fact-checking e, portanto, um acesso mais frequente a sites de fact-checking e uma maior confiança nos fact-checkers, como demonstram os nossos resultados. Estes dados podem ser entendidos na medida em que o fact-checking pode contribuir para um maior conhecimento e participação política (Fridkin et al., 2015) e o facto do interesse ou conhecimento político ser proveniente essencialmente do consumo de notícias através de plataformas on-line tradicionais e não exatamente pelo uso de redes sociais (Liu et al., 2013; Shehata & Strömbäck, 2021). No entanto, não podemos ignorar a hipótese de que as pessoas podem aceder a artigos de fact-checking por conveniência política ou ideológica (Shin & Thorson, 2017).

Em conclusão, é importante notar que o nosso estudo destaca vários desafios relevantes para a atividade de fact-checking e para o jornalismo em geral. Em primeiro lugar, o nível de familiaridade com a verificação de factos e a frequência com que esse tipo de artigo é consumido não é muito animador. Demonstramos que, aparentemente, o fact-checking ainda não tem a relevância que deveria ter em Portugal, apesar da maioria estar familiarizada com o movimento.

Em segundo lugar, constatamos que as pessoas com menor escolaridade e mais velhas são as que menos con- hecem este género jornalístico e são as mais céticas quanto à sua prática. Outros estudos em Portugal (Baptista et al., 2021a, 2021b) já tinham chamado a atenção para esta audiência específica, identificando-a como a mais vulnerável ao consumo de desinformação. Portanto, acreditamos que um dos grandes desafios passa por promover a alfabetização digital e a consciencialização entre os mais velhos e menos instruídos, enquanto os fact-checkers devem repensar novos designs e novas estratégias para atrair o interesse desse público.

Terceiro, a nossa pesquisa sugere que a orientação política não molda as perceções ou atitudes dos participantes em relação ao fact-checking. No entanto, neste estudo, questionamos apenas os participantes em relação ao fact-cheking em geral. Assim, acreditamos ser de extrema importância compreender, em estudos futuros, em que medida a orientação política e partidária pode afetar a perceção e a avaliação de artigos de fact-checking políticos.

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Notas

1 Para mais informações aceda à seguinte ligação: https://reporterslab.org/fact-checking/ (consultado a 23 de agosto de 2022).
2 O “Polígrafo” é o único e primeiro fact-checker português dedicado exclusivamente ao fact-checking. Foi criado em 2018 e foi apontado como uma história de sucesso. No entanto, foi em 2015 que o jornal on-line Observador criou, pela primeira vez em Portugal, a primeira secção dedicada ao fact-checking. Ambos os verificadores de factos fazem parte da rede icfn. Além destes dois fact-checkers, outros jornais também dedicam um espaço para o fact-checking.
Para citar este artigo: Baptista, J. P., Gradim, A., Loureiro, M., & Ribeiro, F. (2023). Fact-checking: uma prática recente em Portugal? Análise da perceção da audiência. Anuario Electrónico de Estudios en Comunicación Social “Disertaciones”, 16(1), 1-28. https://doi.org/10.12804/revistas.urosario.edu.co/disertaciones/a.12426


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