Resumo: Este artigo tem como objetivo apresentar a Metodologia Mi Piacce desenvolvida para analisar os prazeres provocados pelo design de calçados. O método de pesquisa utilizou-se de técnica comparativa entre fontes secundárias e de análises fenomenológicas das entrevistas semi- estruturadas com fontes primárias para levantar os principais critérios a serem analisados. Entrevistaram-se cinco profissionais da saúde e nove usuárias com diferença entre membros inferiores. Após este levantamento, desenvolveu-se a metodologia Mi Piacce e testou-a em quarenta e dois pares de calçados das usuárias entrevistadas; no presente artigo, apresenta-se doze pares de calçados. Concluiu-se que a inconstância desses prazeres provocados pelos mesmos estilos de calçados confirmam a importância da realização de análises holísticas para a detecção dos pontos fortes e fracos de cada projeto e/ou adaptação de calçados.
Palavras-chave:design de calçadosdesign de calçados,prazeresprazeres,deficiências físicasdeficiências físicas.
Abstract: The aim of this paper is presenting Mi Piacce Methodology, which can be applied by shoe wearers to measure the pleasures provided by shoe design for women with lower limb dysmetria. Qualitative methodology was applied with mix techniques, such as comparative analysis of secondary sources, semi-structured interviews with five health professionals, and a phenomenological methodology with nine wearers. After this, it was develop Mi Piacce Methodology, and it was applied in forty-two wearers’ shoes design; eight are presenting in this paper. It can be concluded that the inconsistency in the degree of pleasures provided by the same style of shoes underlines the importance of conducting a holistic analysis to detect the strong and weak points of each shoe design for the wearer.
Keywords: shoe design, pleasures, physical disabilities.
Variata
Mi Piacce–análise dos prazeres provocados pelo design de calçados aos usuários com deficiência
Mi Piacce – how to measure the pleasures provided by shoe design to physical disabilities
Recepção: 01 Agosto 2015
Aprovação: 01 Maio 2016
Segundo Jordan (2000), desde o começo da humanidade, procura-se por prazer seja na sensação de estar em contato com a natureza, na beleza das flores, na sensação da brisa refrescante pelo corpo, ou ainda nos artefatos. O autor propõe uma abordagem holística aos produtos baseados nos fatores humanos por intermédio dos prazeres. Compreende, assim, o ser humano como um todo indivisível que não pode ser explicado pelos distintos componentes físicos e psicológicos, separadamente.
O prazer, construto abstrato, encontra-se na relação entre o usuário, os produtos e o ambiente onde tais produtos são usados. Os artefatos podem ser vistos como artefatos vivos com os quais o ser humano se relaciona, que podem deixar os indivíduos alegres, tristes, seguros, ansiosos, etc. “É necessário não somente ter compreensão sobre como as pessoas usam os produtos, mas também sobre o mais amplo papel que tais produtos têm na vida das pessoas”. (Jordan, 2000, p. 08). Para compreender essa relação, grandes desafios devem ser observados.
O primeiro é tentar entender o usuário holisticamente, ou seja, tanto seus processos físicos e cognitivos, racionais e emocionais, como seus valores, gostos, medos e esperanças. Implica compreender os usuários e suas necessidades – entender os benefícios emocionais, hedônicos e práticos que os produtos podem trazer aos seus usuários. O segundo desafio é unir as propriedades do produto aos prazeres benéficos – atribuir determinada propriedade do produto conforme os tipos de prazer: físico, social, psicológico e ideológico. Por fim, Jordan (2000) propõe desenvolver métodos e critérios de investigação dos prazeres. Esta pesquisa amplia e aplica a Teoria de Jordan em design de calçados femininos.
Os benefícios práticos estão relacionados à usabilidade e funcionalidade do produto entendido como performance positiva que ofereça satisfação ao usuário. Os aspectos objetivos do conforto e do prazer estão correlacionados aos níveis físicos e fisiológicos. Segundo Roncoletta (2015a)1, o uso de um calçado fácil de vestir, com solado antiderrapante e firme ao pé, estimula uma sensação prazerosa e confortável de segurança. Os profissionais da saúde entrevistados2 acrescentam que o calçado deve ser projetado de acordo com sua atividade física -correr, caminhar, realizar atividades aquáticas, escalar, entre outras. Existem, ainda, diferentes tipos de calçados para diferentes pisadas –neutra, supinada (para dentro) e pronada (para fora). Diniz acrescenta que é possível o uso de palmilhas internas para pé alto ou pé chato que proporcionam melhor adequação ao arco planar do usuário. Devem, portanto, ser projetadas para que o corpo humano execute os movimentos pré-estabelecidos.
Em relação aos benefícios emocionais, Jordan (2000) considera como o artefato pode afetar o estado emocional do usuário. Acrescenta que o uso de artefatos pode ser excitante, interessante ou divertido. Historicamente, segundo Semmelhack in Riello e McNelil (2006), os saltos altos e finos, também conhecidos como stilettos, são os substitutos dos corselets da Bellé Époque, símbolos de fetiche e sedução. Representam elegância, desde a década de 1950 e, posteriormente, na década de 1980, foram associados ao poder e a sensualidade. Apesar de já se passar mais de meio século, os pesquisadores do design de calçados (McDowell, 1989; Motta, 2005; Riello e McNell, 2006; Walford, 2007 e Cox, 2008) concordam que os valores simbólicos supracitados ainda estão enraizados na maioria da cultura de moda ocidental.
Roncoletta e Loschiavo (2012) acrescentam que calçados são poderosos artefatos de design e de moda no sentido que amplificam aspectos simbólicos do corpo e enfatizam identidades individuais e coletivas associadas aos diferentes estilos de vida. São artefatos lúdicos que podem se relacionar aos benefícios emocionais assim como aos hedônicos.
Os benefícios hedônicos pertencem aos aspectos sensoriais e estéticos do prazer associados ao artefato. Os calçados podem ser sensuais e confortáveis ao mesmo tempo. Essas eram algumas das diretrizes que fizeram os designers de calçados Perugia, Ferragamo e Vivier desenvolverem várias patentes. Segundo Roncoletta e Preciosa (2009), encontrar um equilíbrio entre o que esses designers acreditavam ser belo, de acordo com os requisitos estéticos de seu tempo, em conjunto com os recursos de materiais e de desenvolvimento tecnológico que também proporcionassem conforto em relação aos artefatos conhecidos eram algumas de suas motivações.
Após a identificação dos benefícios dos produtos, Jordan (2000) apresenta os quatro tipos de prazeres: físico, social, psicológico e ideológico.
Os prazeres físicos, para Jordan (2000), são derivados da relação do artefato com os órgãos sensoriais, como por exemplo, sua textura. Segundo Roncoletta (2014), no design de calçados, os componentes materiais que tocam o corpo e até mesmo o olfato de determinado material são os principais elementos responsáveis por proporcionar esse prazer. Ressalta-se que também são indispensáveis o conforto físico estimulado pela fôrma3, como, por exemplo, um bico arredondado, ou ainda pela modelagem, que permita a marcha sem machucar os pés.
“O conforto sendo definido, operacionalmente, como ausência de desconforto, fica claro que os produtos que podem oferecer prazeres físicos, além do conforto, mergulham no terreno da sensualidade (no sentido de estimulação dos sentidos). A seda é um exemplo de que o material é uma experiência sensual positiva para o usuário.” (Jordan, Op. Cit., p. 24).
Os prazeres sociais são as interações entre várias pessoas proporcionada por um artefato. Aqui encontra-se também a questão do status, complementa Roncoletta (2010). O modo pelo qual as pessoas se relacionam com os artefatos faz parte de sua identidade social, segundo Jordan (2000).
Para Roncoletta (2015b, 2014), muitos artefatos desenvolvidos para pessoas com necessidades especiais possuem uma estética médica ou clínica facilmente reconhecida por meio da sua aparência, ou seja, a estética de tais artefatos comunica as restrições de seus usuários, contribuindo para a exclusão, e não para inclusão social. Uma situação social de desprazer e desconforto para o usuário, como no caso da maioria dos calçados para diabéticos, que, por sua aparência, denunciam a restrição do usuário, resulta em um benefício emocional de valor negativo.
Os prazeres psicológicos estão associados às reações emocionais e cognitivas das pessoas em relação ao artefato. Refere-se ao prazer da mente em realizar tarefas relacionadas à usabilidade e compatibilidade dos produtos considerados amigáveis. O desempenho do produto deve ser satisfatório para que os benefícios sejam positivos. Segundo Roncoletta (2015, 2014b) e Roncoletta e Loschiavo (2012), os calçados devem ser fáceis de calçar, considerando-se indivíduos com restrições motoras, por exemplo. Os benefícios práticos, nesse caso, são associados ao prazer psicológico de realização.
Os prazeres ideológicos estão associados aos valores estéticos e éticos de uma determinada cultura, geração ou indivíduo. Encontram-se aqui os valores ecos- sustentáveis e a responsabilidade social, política e moral. Consumir artefatos ecologicamente corretos demonstra uma preocupação moral com o mundo e pode trazer prazer para o usuário. Esses valores são elásticos e podem ser influenciados pelos modismos e pela indústria cultural, da qual as telenovelas brasileiras fazem parte.
As telenovelas brasileiras são divulgadoras de informação e podem influenciar e ser influenciadas por discussões de modus sociais e, obviamente, modas, seja em seu sentido amplo, como no restrito, esse último relacionado ao modismos do produto. Para Lima, Motter e Malcher (2000), a telenovela brasileira, dependendo do autor, do tema, da história e de como ela se constrói, interfere na realidade e pode discutir questões de ordem social, pessoal ou ética, como, por exemplo, a novela Explode Coração, de Gloria Perez, que, ao incorporar uma campanha de localização de crianças perdidas, mobilizou instituições e empresas que aderiam à causa. Nesse sentido amplo, pode-se observar relações entre a telenovela de Perez e os prazeres ideológicos e sociais que impulsionaram a adesão à causa. Para os autores, essas relações ultrapassam a medição de audiência, sendo um aspecto fundamental a influência do plano da ficção na manifestação concreta.
Percebe-se que, para projetar calçados que proporcionem os quatro prazeres, faz- se necessário a investigação dos valores socioculturais de cada usuária em potencial. Esta dimensão será apresentada no tópico, Metodologia Mi Piacce; entretanto, antes de propor essa investigação, é imprescindível apresentar as relações entre conforto/desconforto e design de calçados.
O conforto é um dos temas mais importantes para as sociedades contemporâneas, uma vez que está relacionado ao mercado como valor agregado e com a preocupação com a saúde, caso dos calçados para diabéticos.
Desde a década de 1950, a definição de conforto está presente nos estudos ergonômicos relacionados a assentos. A primeira definição operacional de conforto, proposta por Hertzberg, foi a ausência de desconforto de acordo com Lueder (1983) apud Van der Linden (2004). Com o desenvolvimento da industrialização e, por consequência, do design, a busca do conforto como item de valor agregado aos artefatos tem sido cada vez mais enfatizada nos artigos de design e moda.
Seu conceito é subjetivo. Para Lueder (1983), Slater (1985) e Zhang (1991) não existe uma definição mundialmente aceita de conforto que depende, em grande parte, da percepção da pessoa que está experimentando a situação. Recentemente, alguns pesquisadores sugeriram que o conforto está relacionado com o prazer, o que apresenta fronteiras mal definidas com a usabilidade e a funcionalidade (Slater, 1985; Jordan, 2000). Simultaneamente, outra corrente assume que o conforto e o desconforto estão em duas dimensões: o conforto associado a sentimentos de relaxamento e bem-estar, e o desconforto ligado a fatores biomecânicos e à fadiga (Zhang, 1991; Zhang et. al., 1996; Goonetilleke, 1999).
Pelos contornos desta pesquisa, estuda-se o conforto, segundo Nicolini (1995), relacionado diretamente à indústria do vestuário:
“O conforto pode ser definido como estado de harmonia física e mental com o meio ambiente, baseado na ausência de qualquer sensação de incômodo. Em relação ao vestuário, o conforto é definido por três aspectos: físico, relacionado às sensações provocadas pelo contato do tecido com a pele e ao ajuste da confecção ao corpo e seus movimentos; fisiológico, ligado à interferência do vestuário nos mecanismos do metabolismo do corpo, em especial o termo-regulador, e o psicológico, função relacionada à estética, aparência, situação, meio social e cultural. Por sua vez, estes fatores relacionados aos três aspectos do conforto descritos não são independentes, mas interagem em função de cada situação”. Nicolini (1995) apud Martins (2005, p. 66)
Por essas considerações, projetar um produto confortável o tempo todo parece uma tarefa praticamente impossível, já que se depende de uma harmonia física, psicológica e mental, complementa Roncoletta (2015a).
No Brasil existe uma análise biomecânica dos calçados realizada pelo Instituto Brasileiro de Tecnologia do Couro, Artefatos e Calçados (IBTeC), que é responsável pelo Selo Conforto. Seus critérios incluem a qualidade das costuras e da cola, a resistência dos materiais utilizados, a espessura da palmilha, os pontos de apoio da alma de aço e os pontos de pressão da modelagem. Os testes biomecânicos são realizados simulando a marcha natural do corpo humano durante determinado tempo. São fundamentais para verificar o conforto físico e fisiológico dos calçados.
A usabilidade, neologismo traduzido do inglês usability, é definida como “eficácia, eficiência e satisfação com as quais os usuários específicos atingem metas específicas em ambientes particulares” de acordo com ISO DIS 9241-114 apud Jordan (2000, p. 07). Não depende das características do produto, mas da interação entre usuário, produto e ambiente. O importante é como usar um produto para realizar alguma coisa. O autor defende que a usabilidade tende a ser limitada. Os critérios de avaliação tendem a enxergar os produtos como ferramentas com as quais os usuários realizam tarefas. Martins (2005) acrescenta que a usabilidade representa a interface que possibilita a utilização eficaz dos produtos, tornando-os amigáveis e prazerosos.
Sobre funcionalidade, Silveira (2008, p. 21-39) argumenta que não é uma característica do objeto em si, “mas uma série de relacionamentos complexos entre hábitos e usos, técnicas de fabricação e significados simbólicos”. A autora observa a funcionalidade sob o prisma da linguagem semiótica por intermédio de Bürdek (2005). Para a autora a funcionalidade é indissociável das funções estéticas e simbólicas do design de produtos.
Pode-se entender que a usabilidade e a funcionalidade estão relacionadas diretamente ao uso do artefato e suas funções práticas. Correlacionam-se também com as questões estético-simbólicas do artefato, ou seja, o aspecto simbólico depende do contexto do usuário, de seu repertório de referências, dos seus estilos pessoais, e ainda das sugestões positivas ou negativas da indústria cultural. Os produtos de moda, geralmente, utilizam-se dos fatores emocionais intensamente, estes, por sua vez, são associados à estética. Nesse sentido, parece imprescindível tentar amenizar tanto o desconforto social provocado por um calçado inadequado quanto o desconforto físico.
Foi aplicada metodologia qualitativa, descritiva e interpretativa (Crotty, 1998) usando várias técnicas:
a. análises comparativas de fontes secundárias (Marconi e Lakatos, 2010);
b. análises das entrevistas semi-estruturadas com cinco profissionais da saúde;
c. análises das entrevistas semi-estruturadas com nove usuárias por intermédio de metodologia fenomenológica (Husserl, 2000; Merleau-Ponty, 2006; Leedy e Ormrod, 2009). Gray (2012) denomina as usuárias selecionadas por “amostragem intencional”- são pessoas especialmente selecionadas para o estudo, neste caso, mulheres na fase adulta que possuem dificuldade em encontrar calçados por mais de uma década. O objetivo do estudo empírico e fenomenológico é observar a percepção das usuárias com relação seus calçados, registrar suas vivências e experiências.
Realizou-se, portanto, primeiramente, o registro em audiovisual. A seguir, as entrevistas foram transcritas e analisadas utilizando-se da técnica de codificação precoce quando foi possível observar as complexas relações entre prazeres e design de calçados. Posteriormente, realizou-se a revisão, organização da codificação dos quatro prazeres relacionando-os com os principais elementos dos calçados. Por último, foram analisados os comentários das usuárias com relação a cada par de calçado. Os critérios de análise foram tabelados com pontuação de 1 a 5 descritos na seção Metodologia Mi Piacce.
Com relação as dimensões éticas da pesquisa, utilizou-se o Termo de Consentimento Informado, a anominização que atribui nomes fictícios as usuárias entrevistadas. Seguiu-se, ainda, o Código de Ética de Pesquisa do Conselho Nacional em Pesquisa (CONEP/BR, 1996), que determina os princípios de autonomia, beneficência, não maleficência e justiça às pesquisas que envolvem seres humanos.
Esta seção possui o intuito de auxiliar na divulgação da informação sobre a adaptação de calçados, tendo em vista a pouca oferta de produtos no mercado nacional, segundo Roncoletta (2015a, 2014b). Para aprimorar o prazer físico associado ao cabedal (parte superior do calçado), pode-se acrescentar tiras ajustáveis no peito do pé e/ou no tornozelo para promover segurança, equilíbrio e conforto físico, e utilizar calcanheiras ou ponteiras para proporcionar melhor encaixe, entre outros recursos encontrados em lojas de reparos de calçados ou ortopédicas.
Devido a falta de produtos no mercado especializado4, a adaptação dos calçados é realizada – por usuárias e artesãos –, principalmente no solado, que inclui os elementos – salto, tacão, solas frontal e traseira. Em alguns casos, palmilhas rígidas – uma mistura de palmilha estrutural com calcanheira, foram encontradas. Optou-se, portanto, em classificar as adaptações de acordo com a técnica utilizada no solado: acréscimo, decréscimo, removível, combinada, troca e escultórica.
Acréscimo é a técnica que acrescenta camadas ao solado seja parcialmente, nas solas frontal e traseira, ou apenas na sola traseira onde localiza-se o salto. É mais utilizada em tênis e chinelos (analisados na próxima seção) que permitem o acréscimo de camadas, normalmente de EVA. Alerta-se que o excesso de camadas, além de ser grosseiro esteticamente, deixa o calçado muito pesado.
Escultórica é a técnica que literalmente esculpe o solado para criar uma ilusão de óptica ou sensação de vazio, objetivando-se a leveza do calçado tanto no aspecto estético quanto no aspecto físico (fig. 1), esse último relacionado ao conforto e prazer físico. Entende-se a técnica escultórica como uma variação mais sofisticada da técnica de acréscimo.
Decréscimo é a técnica que diminui a altura do solado. Pode ser aplicada somente no salto, ou no solado completo (traseiro e frontal), exemplificado pelos estilo anabela que serão apresentados na próxima seção.
Removível é a técnica utilizada em algum elemento do calçado que não esteja fixo à sua estrutura, normalmente uma calcanheira externa, analisada na próxima seção. O interessante desta técnica é que a adaptação pode ser utilizada com diversos pares de calçados.
Troca é a técnica que consiste em trocar os dois saltos do par de calçados, provavelmente pela impossibilidade de encontrar um único salto parecido. Estas técnicas serão analisados na próxima seção e representadas pelo estilo escarpin.
Combinada é a técnica que reúne, no mesmo par de calçados, mais de uma das técnicas mencionadas. Na fig. 2, utilizou-se o acréscimo de uma calcanheira interna na cor do couro do cabedal do pé esquerdo e o decréscimo da altura do salto de madeira do pé direito.
Já na fig. 3, utilizou-se a troca de saltos nos dois pés do calçado e o acréscimo de altura no solado frontal do pé direito.
Independentemente da técnica utilizada, cada par de calçados associado às necessidades físicas e estéticas do usuário solicitará a melhor abordagem técnica. Faz-se imprescindível manter os requisitos técnicos e ergonômicos do calçado, tais como a manutenção da curvatura da alma de aço da palmilha de montagem, que sustenta o arco planar, a elevação do bico em no máximo 1.0 cm de altura e, ainda, a manutenção do prolongamento do eixo de equilíbrio do corpo pelo salto.
Esta seção apresenta a codificação relacionada à Teoria dos Quatro Prazeres de Jordan (2000) e aos principais elementos do design de calçados. Os conceitos-chave são as definições dos códigos, abaixo descritos, compreendidos como conceitos possíveis de se definir e, muitas vezes, mensurar a partir da dimensão material do design de calçado segundo a interpretação do pesquisador. Ressalta-se que a fala das entrevistadas é imprescindível para analisar a sua percepção com relação aos critérios muito subjetivos, tais como os da dimensão sociocultural nos quais questões emocionais, psicológicas e ideológicas se entrelaçam. Os critérios de análise foram tabelados com pontuação de 1 a 5 por desempenho, conforme tabela 01.
Os prazeres físicos encontram-se na dimensão sensorial. Pode-se atribuir os principais aspectos ergonômicos e de usabilidade do design de calçados aos conceitos de equilíbrio, segurança e conforto.
O equilíbrio é a sensação de estabilidade que o design de calçados pode proporcionar durante a marcha. Essa percepção encontra-se na estrutura do solado interno, conforme as diretrizes da tabela 2.
Segurança é a percepção de firmeza na qual o design se encaixa ao corpo e, simultaneamente, de que, ao caminhar, não se escorregará. São analisados os elementos do solado externo e também do cabedal interno, conforme a tabela 3.
Conforto físico é a sensação de comodidade material que o design de calçados pode proporcionar. Nessa dimensão, analisa-se os pré-requisitos do design de calçados, tais como o peso, o movimento da marcha, a percepção tátil do material e, ainda, a transpiração e temperatura dos pés calçados, conforme a tabela 4.
Os prazeres psicológicos encontram-se em duas dimensões, sendo a primeira a satisfação do usuário em realizar tarefas, e a segunda sua relação emocional com os calçados. No caso do design de calçados, atribui-se à primeira os graus de facilidade e/ou dificuldade de manuseio e de manutenção, conforme a tabela 5.
À segunda, uma dimensão emocional, atribui-se como e quanto o design de calçados pode proporcionar a valorização da autoestima e do bem-estar do usuário. Com relação aos calçados, quantifica-se o grau de comodidade (tabela 6), ou seja, se e quanto a adaptação do calçado é aceita pelo próprio indivíduo, e ainda se e quanto a mesma adaptação denuncia a restrição do usuário. Verificou-se por, intermédio das entrevistas, que a maioria das usuárias não desejam estranhezas e preferem camuflar suas restrições. Portanto, quanto mais sutil a adaptação, maior a possibilidade de elevação da autoestima e do bem-estar, consequentemente, do aprimoramento da qualidade de vida e maior eficácia na inclusão sociocultural da usuária por intermédio do design de calçados. Relembra-se que a inclusão sociocultural depende do contexto da usuária, da situação social e do meio no qual o indivíduo está inserido.
A dimensão psicológica emocional possui intrínseca relação com o prazer social e o estigma do meio social em que o usuário vive. Devido às fronteiras embaçadas entre prazer social e psicológico nessa dimensão, optou-se por demonstrar o conceito de comodidade, simultaneamente, na dimensão psicológica emocional e social.
Os prazeres sociais encontram-se na dimensão que pressupõe a interação de mais de um usuário com os artefatos. Com relação aos calçados, acessórios utilizado normalmente apenas por um indivíduo, pode-se atribuir o desejo pessoal (Roncoletta, 2015a, 2014) e conceito de sociabilidade.
A sociabilidade, conforme a tabela 7, analisa a imposição de padrões que possam provocar desconforto social ao usuário, sejam tendências de moda ou modismos de utilizar determinados estilos em ocasiões cerimoniais, de trabalho ou de lazer. Relembra-se que o desconforto provocado pela pressão social na utilização de um salto alto em determinada ocasião pode relacionar-se com o conceito de segurança do prazer físico.
Os prazeres ideológicos encontram-se na dimensão relacionada aos valores éticos, morais e políticos da sociedade e/ou do indivíduo. Procura-se identificar se o usuário possui critérios de seleção de um consumidor consciente, conforme a tabela 8.
Ressalta-se que, infelizmente, existem poucos projetos de calçados para pessoas com deficiência do aparelho locomotor que incorporem as dimensões e os conceitos mencionados sob a perspectiva da Teoria dos Quatro Prazeres de Jordan (2000).
A metodologia Mi Piacce foi validada internamente, isto é, os resultados da pesquisa foram oriundos da reflexão de apenas um pesquisador, apoiados no próprio processo de pesquisa e no conjunto de teorias relacionas à codificação, no caso, a Teoria dos Quatro Prazeres de Jordan (2000). Utilizou-se a metodologia nas análises de doze pares de calçados, aqui apresentados. Para gerar maior confiabilidade à metodologia aplicada, escolheu-se dois pares de calçados com estilos semelhantes, comentados direta ou indiretamente pelas usuárias entrevistadas. Dessa maneira, verificou-se a constância ou inconstância dos resultados nas diferentes esferas dos prazeres.
Técnica de adaptação de Acréscimo realizada de maneira contínua no solado frontal e traseiro; no entanto, o frontal possui a elevação de 1.5 cm, enquanto que o traseiro possui 3.5 cm. Não foram realizadas adaptações no cabedal.
Resultado: Calçado com excelente desempenho (fig. 4 – tênis 1).
Excelente prazer físico devido à sensação de segurança, equilíbrio e conforto físico. Ótimo prazer psicológico devido a um ótimo desempenho na realização de tarefas e a um excelente prazer psicológico emocional. Excelente prazer social. Foi impossível de analisar o prazer ideológico.
Técnica de adaptação de Acréscimo realizada de maneira contínua no solado frontal e traseiro. Foram acrescentadas camadas de EVA até totalizarem a diferença de altura de 4.0 cm entre o calçado do pé esquerdo e do direito. Não foram realizadas adaptações no cabedal.
Resultado: Calçado com bom desempenho (fig. 5 – tênis 2).
Prazer físico ruim resultante da somatória dos péssimos ponto de flexão e peso do calçado adaptado, mas com boa sensação de segurança, de encaixe e do uso de material antiderrapante na sola. Ótimo prazer psicológico devido a um ótimo desempenho da realização de tarefas e a um excelente prazer psicológico emocional. Excelente prazer social. Foi impossível analisar o prazer ideológico.
Técnica de adaptação de Acréscimo realizada de maneira contínua no solado frontal e traseiro; no entanto, o frontal possui a elevação de 1.5 cm, enquanto que, o traseiro possui 3.5 cm. Não foram realizadas adaptações no cabedal.
Resultado: Calçado com ótimo desempenho (fig. 6 – chinelos 1).
Prazer físico péssimo devido a mínima sensação de segurança, visto que, o calçado não permite boa fixação do peito do pé pelo cabedal - há apenas duas tiras frontais. Quanto ao caminhar, a altura da adaptação pode fazer com que a usuária torça o tornozelo; a rigidez do solado e a falta do ponto de flexão longitudinal ainda impedem o movimento do corpo que podem provocar desprazer físico.
Excelente prazer psicológico, visto que, na dimensão da realização de tarefas - há excelente facilidade de limpeza e manuseio; e há uma excelente percepção emocional da usuária com relação a este calçado e seu contexto de vida, ao comentar: “amo chinelos de dedo... saí de lá tão feliz, mas tão feliz...”
Excelente prazer social proveniente da excelente sociabilidade, visto que, não há pressão social para se utilizar este estilo de calçado.
Foi impossível analisar o prazer ideológico.
Técnica de adaptação de Acréscimo realizada de maneira contínua no solado frontal e traseiro. Foram acrescentadas camadas de EVA até totalizarem a diferença de altura de 4.0 cm entre os calçados do pé esquerdo e do direito. Não foram realizadas adaptações no cabedal.
Resultado: Calçado com péssimo desempenho (fig. 7 – chinelos 2).
Péssimo prazer físico devido a mínima sensação de segurança, visto que, o calçado não permite boa fixação do peito do pé pelo cabedal - há apenas duas tiras frontais. Quanto ao caminhar, a altura da adaptação pode fazer com que a usuária torça o tornozelo; a rigidez do solado e a falta do ponto de flexão longitudinal impedem o movimento natural do corpo. O acúmulo de camadas de EVA deixou o calçado pesado, podendo provocar cansaço e desprazer físico. Essas características resultam em um péssimo desempenho de prazer físico.
Péssimo prazer social, visto que, a usuária relata seu uso apenas em seu lar. Subentende-se que essa adaptação pode envergonhar a usuária por demonstrar péssima sociabilidade e desprazer social.
Prazer psicológico ruim resultante do excelente desempenho na dimensão do prazer psicológico da realização de tarefas - há excelente facilidade de limpeza e manuseio -mas péssimo desempenho atribuído à característica estética denunciadora de sua restrição física, um aspecto que pode fragilizar a autoestima da usuária.
Foi impossível analisar o prazer ideológico.
Técnica de adaptação Removível realizada no solado traseiro. Utilizou-se o desenvolvimento de uma calcanheira externa (palmilha de calcanhar) removível na altura de 4.0 cm no pé esquerdo. Para auxiliar na fixação, a base da calcanheira e a palmilha do calçado possuem velcro. Não foram realizadas adaptações no cabedal.
Resultado: Calçado com excelente desempenho (fig. 8 – sandálias rasteiras).
Excelente prazer físico promovida pela ótimas sensações de equilíbrio, conforto físico e segurança; à última, destaca-se a ótima fixação no tornozelo. A altura da adaptação permite o caminhar natural e a localização do ponto de flexão longitudinal é excelente. Apesar do acréscimo da palmilha, o calçado continua leve.
Excelente prazer social dado a excelente interação e a palmilha oculta a restrição da usuária. Observa-se na fala da usuária uma leve pressão social ao adquirir este estilo de calçado, simultânea ao desejo pessoal. Ressalta-se que não foi um ato impositivo, e sim uma escolha da usuária que esperou até encontrar um design que pudesse ser adaptado à sua restrição física.
Ótimo prazer psicológico devido a somatória do ótimo manuseio e manutenção com a excelente aceitação da adaptação pode promover valorização de autoestima e melhoria de bem-estar.
Excelente prazer ideológico promovida pela adaptação removível que utiliza pouco material, resultando em um consumo consciente e proporcionando, simultaneamente, prazeres sociais e ideológicos.
Técnica de adaptação Combinada realizada no solado traseiro. Utilizou-se duas técnicas, sendo a primeira o decréscimo de 1.0 cm do salto do pé direito, e a segunda o acréscimo de uma calcanheira (palmilha de calcanhar) de 3.0 cm no pé esquerdo. Não foram realizadas adaptações no cabedal.
Calçado com excelente desempenho (fig. 9 – sandálias de tiras 1).
Excelente prazer físico, visto que, as sensações de equilíbrio, conforto físico e segurança são excelentes; à última, destaca-se a ótima fixação no tornozelo. A altura da adaptação permite o movimento natural do corpo e a localização do ponto de flexão longitudinal é excelente. Apesar do acréscimo da palmilha, o calçado continua leve.
Excelente prazer social e excelente prazer psicológico. Foi possível observar na fala da usuária uma excelente aceitação da adaptação que pode promover valorização de autoestima e melhoria de bem-estar, na dimensão emocional. Existe ainda excelente manuseio e manutenção.
Ótimo prazer ideológico, apesar do prazer ideológico ser de difícil identificação pela pouquíssima oferta de calçados que considere essa dimensão, foi possível observar durante a entrevista que a usuária procura produtos de melhor qualidade e maior durabilidade e, por consequência, minimize o descarte, caso deste calçado.
Técnica de adaptação de Decréscimo realizada no solado frontal e traseiro. Cortou-se 3.5 cm do solado do calçado original. Não foram realizadas adaptações no cabedal.
Resultado: Calçado com ótimo desempenho (fig. 10 – anabela 1).
Bom prazer físico resultante da somatória das sensações de equilíbrio, de conforto físico e de segurança. Ressalta-se que o modelo de salto, com péssimo ponto de flexão longitudinal, pode provocar sensação de insegurança. Todas essas características promovem um aceitável prazer físico.
Excelente prazer psicológico resultante da somatória do excelente prazer psicológico emocional que pode promover valorização de autoestima e melhoria de bem-estar. Há uma excelente aceitação da adaptação com ótimos manuseio e manutenção.
Ótimo prazer social, quanto à sociabilidade, o desempenho do calçado é bom, visto que, promove boa interação e não denuncia a restrição da usuária; pela perspectiva da usuária, a anabela é um estilo de calçado para usar casualmente, com jeans. Percebe-se que é uma escolha dausuária e não uma imposição social.
Foi impossível analisar o prazer ideológico.
Técnica de adaptação de Decréscimo realizada no solado frontal e traseiro. Cortou-se 3.5 cm do solado do calçado original. A usuária utiliza uma calcanheira interna com 0.5 cm de altura para completar a sua diferença entre membros inferiores. Não foram realizadas adaptações no cabedal.
Resultado: Calçado com bom desempenho (fig. 11 – anabela 2).
Bom prazer físico resultante da somatória das sensações de equilíbrio, de conforto físico e de segurança. Ressalta-se que o modelo de salto, com péssimo ponto de flexão longitudinal, pode provocar sensação de insegurança. Todas essas características promovem um aceitável prazer físico.
Bom prazer psicológico, há uma razoável aceitação da adaptação que pode promover valorização de autoestima e melhoria de bem-estar, e ainda bom manuseio e manutenção ruim.
Bom prazer social, visto que, promove boa interação e não denuncia a restrição do usuário. No entanto, um fator negativo da estética do calçado relacionado aos prazeres sociais e psicológicos é detectado na fala da usuária, ao dizer: “A anabela não fica esteticamente bonita”.
Foi impossível analisar o prazer ideológico.
Técnica de adaptação de Troca realizada no solado traseiro. Trocou-se o salto dos dois pés, dado que, não encontrou-se no mercado de reparos saltos com aparênciaigual. A altura de salto no pé esquerdo é de 10.0 cm, enquanto que, no pé direito é de 6.0 cm. Não foram realizadas adaptações no cabedal.
Resultado: Calçado com péssimo desempenho (fig. 12 – escarpin 1).
Péssimo prazer físico resultante das ruins sensações de equilíbrio, conforto físico e segurança.
Bom prazer psicológico devido a somatória da ruim percepção de realização de tarefas, quando há facilidade de manuseio e dificuldade de manutenção, com a excelente conscientização corporal da usuária. Em entrevista, ela diz reconhecer seus limites sensoriais e os relacionar com as dimensões emocionais e até mesmo com a interação social.
Péssimo prazer social; ressalta-se que existe uma pressão social com relação à altura e ao modelo de salto utilizado em ocasiões especiais que pode provocar desprazer social.
Foi impossível analisar o prazer ideológico.
Técnica de adaptação de Troca realizada no solado traseiro. Trocou-se os saltos dos dois calçados dado a ausência de saltos semelhantes no mercado de reparos de calçados.
Resultado: Calçado com ótimo desempenho (fig. 13 – escarpin 2).
Bom prazer físico devido as boas sensações de equilíbrio, de conforto físico e de segurança.
Excelente prazeres psicológicos e sociais. Na dimensão da realização de tarefas, há excelente facilidade de manuseio e manutenção. Os prazeres psicológico emocional e social também são excelentes, visto que, o estilo escarpin está associado ao clássico estilo de vida da usuária.
Foi impossível de analisar o prazer ideológico.
Técnica de adaptação Combinada, realizada no solado traseiro e frontal.
Realizou-se o decréscimo de salto e o acréscimo de solado frontal.
Calçado com ótimo desempenho (fig. 14 – sandálias de tiras 1).
Ótimo prazer físico resultado da somatória das sensações de equilíbrio, de conforto físico e de segurança.
Bom prazer psicológico e excelente prazer social. Na dimensão da realização de tarefas, a somatória da ótima facilidade de manuseio e da péssima manutenção - o material é de difícil limpeza - resulta em um razoável desempenho. Os prazeres psicológico emocional e social são excelentes, visto que, as sandálias não denunciam a restrição da usuária e não há pressão social para usá-las; é uma questão de opção e gosto pessoal.
O prazer ideológico foi impossível de analisar.
Técnica de adaptação Combinada, realizada no solado traseiro e frontal.
Realizou-se o decréscimo de salto e o acréscimo de solado frontal.
Resultado: Calçado com bom desempenho (fig. 15 – sandálias de tiras 2).
Bom prazer físico devido a somatória das sensações de equilíbrio e de segurança ruins, mas a boa percepção de conforto físico, resultando em um aceitável prazer físico.
Bom prazer psicológico e excelente prazer social. Na dimensão da realização de tarefas, a somatória da ótima facilidade de manuseio e da péssima manutenção - o material é de difícil limpeza - resulta em um razoável desempenho. Os prazeres psicológico emocional e social são excelentes, visto que, as sandálias não denunciam a restrição da usuária e não há pressão social para usá-las; é uma questão de opção e gosto pessoal.
O prazer ideológico foi impossível de analisar.
O método e os critérios de análises dos prazeres no design de calçados foi realizado com o objetivo de aprofundar o conhecimento sobre como cada elemento do design pode se relacionar aos prazeres, um desafio metodológico proposto por Jordan (2000) em sua obra Designing Pleasure Products.
Ao se realizar as análises dos prazeres no design de calçados adaptados, observou-se as intrínsecas relações entre um prazer e outro, como, por exemplo, a altura ou a instabilidade de um salto muito alto que, certamente, provoca desconforto físico, pode por outro lado, provocar conforto social, dependendo do seu contexto de uso e ainda da própria vivência da usuária.
Percebeu-se essas correlações conceituais e verificou-se a importância de analisar o design de calçados holisticamente ao dissecar cada elemento do design de calçados relacionando-o a um tipo de prazer.
Concluiu-se que, dependendo da adaptação realizada, o design pode possuir um péssimo ou excelente desempenho nas diferentes esferas do prazer. Ao comparar os doisestilos de tênis utilizando a metodologia Mi Piacce, verificou-se que aquele da seção 4.1.1 possui excelente desempenho, enquanto que o da seção 4.1.2 possui bom desempenho dos quatro prazeres, mas, principalmente, um desempenho ruim do prazer físico, esfera que, normalmente, não é observada pelos usuários nesses estilos de calçados, segundo o entrevistado Diniz; ao comparar as duas adaptações de chinelos, verificou-se também diferentes desempenhos – aquele da seção 4.1.3 possui ótimo desempenho, enquanto que o da seção 4.1.4 possui péssimo desempenho e assim sucessivamente.
A inconstância desses prazeres provocados pelos mesmos estilos de calçados confirmam a importância da realização de análises holísticas para a detecção dos pontos fortes e fracos de cada projeto e/ou adaptação de calçados. Ao relacionar as esferas dos prazeres com o contexto de vida das usuárias, compreendeu-se que suas vivências interferem na percepção dos prazeres e na inclusão sociocultural. Concluiu-se que a compreensão das relações supracitadas permite o desenvolvimento de design de calçados prazerosos que podem promover efetiva inclusão sociocultural e, por consequência, melhoria de qualidade de vida, tanto na dimensão da saúde física quanto na do bem-estar das usuárias.