Os impactos do câncer de mama na autoimagem da mulher
Os impactos do câncer de mama na autoimagem da mulher
ModaPalavra e-periódico, vol. 13, núm. 30, pp. 183-206, 2020
Universidade do Estado de Santa Catarina
Resumo: Este artigo verifica quais os impactos dos efeitos colaterais do tratamento do câncer de mama em relação à autoimagem da mulher. Utilizou-se a pesquisa qualitativa e descritiva, completada com pesquisa de campo, tendo como amostra três mulheres portadoras de câncer de mama. Após a análise dos dados foi possível verificar que ocorre impactos na autoimagem da mulher, principalmente quando os efeitos colaterais dos tratamentos começam a serem sentidos.
Palavras-chave: Autoimagem, Autoestima, Câncer de mama, Mulher.
Abstract: This article examines the impact of the side effects of breast cancer treatment on women's self-image. Qualitative and descriptive research was used, complemented with field research with three women with breast cancer as a sample. After analyzing the data, it was possible to verify that there are impacts on women's self-image, especially when the side effects of the treatments begin to be felt.
Keywords: Self-image, Self-esteem, Breast cancer, Women.
Resumen: Este artículo verifica los impactos de los efectos secundarios del tratamiento del cáncer de mama en relación con la autoimagen de las mujeres. Se utilizó investigación cualitativa y descriptiva, completada con investigación de campo, con una muestra de tres mujeres con cáncer de mama. Luego de analizar los datos, se pudo verificar que existen impactos en la autoimagen de la mujer, especialmente cuando comienzan a sentirse los efectos secundarios de los tratamientos.
Palabras clave: Autoimagen, Autoestima, Cáncer de mama, Mujer.
1 INTRODUÇÃO
O câncer de mama é considerado o carcinoma com maior incidência entre o sexo feminino, ocasionando grande impacto na mulher, tanto físico quanto psicológico (SANTOS;VIEIRA, 2011). Quando diagnosticadas com a doença, o medo e as incertezas tornam-se parte das angústias diárias das mulheres. As inquietações são uma constantes, com a indefinição quanto ao futuro, prognóstico de tratamento, os desagradáveis efeitos colaterais e até com questões ligadas ao que acontecerá, após o tratamento, ficam martelando no pensamento da paciente.
Sendo uma doença feroz, a previsão de como a neoplasia evoluirá torna-se incerta, e os tratamentos utilizados para combatê-la são agressivos e provocam diversos efeitos colaterais. Essa consequência do tratamento reflete na autoimagem da mulher, levando a um sentimento de baixa estima.
Nesse contexto, a imagem perfeita, ligada sempre a padrões de beleza, onde a mulher ideal é estereotipada como alguém com um corpo totalmente escultural, já está sendo questionada e discutida, principalmente entre o próprio público feminino que não mais aceitam um padrão de beleza idealizado. Diante desse ponto de vista, do padrão perfeito, a mulher afetada pelo câncer de mama sente-se desconfortável em relação a seu corpo e sua autoimagem. Nesse sentido, surgem alguns questionamentos a serem levantados e estudados como: quais os efeitos colaterais do tratamento de câncer de mama? Quais são os impactos na autoimagem da mulher?
A pesquisa bibliográfica confirma, que existem publicações sobre o tema, principalmente na área da saúde, sobre o câncer de mama. Em relação à mesma temática, na área de vestuário e da moda, as publicações ficam restritas a aspectos relacionados à criação de produtos específicos a serem utilizados pelas mulheres que retiraram o seio, não estando relacionada à consultoria de imagem, área que aborda a imagem e autoestima das pessoas.
Diante do exposto, este artigo verifica quais os impactos dos efeitos colaterais do tratamento do câncer de mama em relação à autoimagem das mulheres. Nesse sentido, busca-se trazer para o centro da discussão o reflexo negativo do tratamento da doença na autoimagem da mulher, tendo em vista a indicação da consultoria de imagem, com base na perspectiva de atenuar essa situação.
Em relação aos procedimentos metodológicos, quanto a sua finalidade classifica-se como sendo uma pesquisa básica, pois o estudo não utiliza de aplicação prática e sim da compreensão, verificação e descrição dos efeitos colaterais do câncer de mama na autoestima da mulher. Nesse sentido, com a finalidade de conceber novos pontos de vista sobre o problema, caracteriza-se também como sendo uma pesquisa qualitativa. Ainda, a pesquisa tem foco descritivo visto que em sua análise de dados o objetivo é compreender os dados coletados de maneira interpretativa e não quantificá-los.
Justifica-se a relevância da pesquisa visto que a aparência é de suma importância para a maioria das pessoas do público feminino, e ainda, o sentir-se bonita auxilia a mulher no enfrentamento das dificuldades da doença. Elevar a autoestima faz toda a diferença para empoderar a mulher no tratamento contra o câncer de mama. No contexto científico, a pesquisa torna-se pertinente por trazer questões que auxiliam a levantar a autoestima da mulher na luta contra o câncer de mama na fase de tratamento da doença, incluindo informações de consultoria de imagem, recurso que visa à satisfação com a aparência.
O estudo coletou dados por meio da pesquisa bibliográfica, apresentando o conceito do câncer de mama e seus tratamentos fazendo uso de autores como Lins e Bernz (1999), Menke (2007), Belizário (2002), Inca (2018; 2016), Dias (2014), Associação Médica Brasileira (2001) Brandão (1999), Silva et al (2009), Ramirez (1984), Peres e Figueirêdo (1984), American Cancer Society (2016), Montoro (1984) e Chaves, Silva Junior e Gomes (1999). Já a conceituação da imagem feminina fez-se uso de Lipovestky (2000; 2009), Freedman (1994), Mosquera e Stobaus (2006), Crane (2006), Fischer-Mirkin (2001) entre outros. Ainda, a pesquisadora foi a campo coletar informações com mulheres que passaram pelo câncer de mama. O artigo está estruturado da seguinte forma: primeiro faz-se uma revisão bibliográfica acerca do câncer de mama e a imagem e a mulher; após apresenta-se qual os procedimentos metodológicos utilizados bem como a apresentação e a discussão dos resultados e; ao final, as considerações finais.
2 O CANCÊR DE MAMA
O câncer de mama atinge muitas mulheres; dados do Instituto Nacional de Câncer apontam que esta neoplasia é a que mais mata mulheres em nível mundial. Quando o câncer é descoberto, o tratamento para a doença deve ser iniciado o mais rápido possível visto que se diagnosticado em estágio inicial as chances de cura são maiores (LINS; BERNS, 1999).
A neoplasia, tumor maligno ou câncer como é comumente chamado, é uma enfermidade genética em que o ambiente e a genética se inter-relacionam para sua origem (MENKE, 2007; BELIZÁRIO, 2002). A denominação câncer é conhecida por se tratar de um grande grupo de tumores, sendo que o denominador comum entre os vários tipos da doença é a proliferação de células que se apoderam de órgãos e tecidos. Estas células dividem-se com rapidez e tornam-se ameaçadoras e muitas vezes, incontroláveis e assim originam os tumores considerados malignos. A divisão dos tipos de cânceres existentes é fragmentada entre carcinomas, sarcomas e metástases. Os carcinomas tem sua origem na pele ou mucosas, já o sarcoma tem seu início em músculos, cartilagem ou ossos. A metástase fica definida como um câncer agressivo, em que a rápida proliferação das células se alastra de uma região para outra (INCA, 2018).
Em mulheres, o câncer de mama é o tipo de câncer com maior índice representando 15% das mortes e 20% dos casos, de acordo com Menke (2007), estima-se para o ano de 2018 cerca de 59.700 novos casos de câncer de mama. Mesmo sendo uma enfermidade de prognóstico favorável, caso diagnosticada cedo, ainda, é uma doença muito temida pelas mulheres em geral, visto o grande número de casos e os efeitos psicológicos que acometem a mulher, em especial, a percepção negativa da autoimagem (DIAS, 2014).
Quando a neoplasia é diagnosticada, deve-se iniciar o tratamento o mais rápido possível e para e para compreender qual o tratamento a ser utilizado, faz-se necessária à classificação dos tumores em grupos de estadiamento. A classificação tem como objetivo agrupar tumores com traços similares capazes de receberem tratamentos similares. A Associação Médica Brasileira (2001) e Brandão (1999) categorizam o câncer de mama de acordo com a classificação TNM, na qual o T indica o tumor, o N os linfonodos e M as metástases.
Nesta classificação, o T refere-se à neoplasia primária, conceituando como T1 tumores até 2cm de diâmetro, T2 as neoplasias com 2 a 5 cm e T3 ou T4 os tumores com dimensões maiores de 5cm, com ou sem comprometimento regional linfático da axila. N0 indica ausência da propagação do tumor à axila, N1 designa a suspeita clínica de comprometimento axilar leve e N2 quando a axila exiba nódulos linfáticos fixados entre si. N3 traduz um comprometimento supra ou infraclavicular. O símbolo M refere-se ao aspecto sistêmico da moléstia. M0 ausência de metástases à distância e M1 evidência de disseminação tumoral (MONTORO, 1984, p. 95).
Por meio dessa classificação que a equipe multidisciplinar vai indicar qual a terapia mais eficaz para o tratamento de determinado tumor. Após a classificação pelo sistema TNM, categoriza-se o câncer em estádios: I, II, III e IV (INCA, 2018). Em resumo, Montoro (1984, p. 95) classifica em estádio I o “tumor limitado a mama”, o estádio II como o “tumor de crescimento loco-regional à axila”, já o estádio III são “tumores localmente avançados” e por fim o estádio IV os ‘tumores já disseminados”. A partir disso, o tumor irá ser classificado e o tratamento adequado poderá ser definido em comum acordo entre a paciente e a equipe oncológica.
Os tratamentos mais utilizados para o combate do câncer de mama incluem: a) terapias locais, considerando a radioterapia e cirurgia como locai; b) terapias sistêmicas, lugar em que é incluída a quimioterapia e a hormonoterapia (SILVA et al., 2009; LINS; BERNZ, 1999; INCA, 2018). A terapia apropriada vai demandar da conciliação de mais de uma modalidade de tratamento.
O tratamento denotado como radioterapia, considerado um tratamento local, faz uso de radiações para causar a exterminação das células cancerígenas, impedindo assim a proliferação das mesmas (INCA, 2018). Desde quando utilizado pelas primeiras vezes, Peres e Figueiredo (1984) bem como Chaves, Silva Junior e Gomes (1999) evidenciam que a radioterapia se mostrou um método eficaz no combate ao câncer, que pode ser utilizado tanto no pré-operatório, como no pós-operatório ou ainda, como sendo um tratamento primário.
A cirurgia, outro tratamento considerado local, é dividida em dois grupos: conservadoras e não conservadoras. As cirurgias conservadoras, denominadas como “tumorectomia” e “setorectomia ou ressecção segmentar” de acordo com a Associação Médica Brasileira (2001, p. 6), ambas fazem a retirada do tumor neoplásico sem “margens” e com “margens” respectivamente.
As cirurgias não conservadoras se tornam mais invasivas ao corpo feminino. Nessa denominação citam-se tais tipos: “mastectomia subcutânea, mastectomia simples ou total, mastectomia radical modificada e mastectomia radical” em conformidade com a Associação Médica Brasileira (2001, p. 6).
A mastectomia radical equivale-se a remoção inteira da mama, da musculatura do peito e dos linfonódulos axilares. A radical modificada faz também a retirada do sistema linfático axilar, porém pode ou não preservar algum músculo peitoral. A subcutânea remove a glândula mamária, todavia resguarda a pele e a auréola. A total remove a mama por completa (ASSOCIAÇÃO MÉDICA BRASILEIRA, 2001; LINS; BERNZ, 1999).
O tratamento denominado quimioterapia, sendo esta uma terapia sistêmica, que de acordo com o Inca (2018), faz uso de medicação para combater e destruir as células que formam os tumores. Essa terapia é um compilado de fármacos que quando juntos, se misturam na corrente sanguínea e espalhados por todas as partes do corpo, fazendo com que as células cancerígenas não se espalhem para outros lugares bem como sejam destruídas. A quimioterapia anteriormente era usada quando outros tipos de tratamento falhavam, porém ao longo dos anos foi percebido que se utilizasse a quimioterapia aliada a tratamentos locais reduzira as chances de reincidência do câncer de mama (RAMIREZ, 1984; LINS; BERNZ, 1999).
A hormonoterapia, outro tratamento considerado sistêmico, é utilizada em cânceres que respondem ao tratamento de hormônios, o câncer de mama é um deles. Assim, a American Cancer Society (2017) indica este tipo de tratamento em pacientes que testem positivo para hormônios receptores. A terapia deve ainda ser associada a outro tipo de tratamento, uma vez que sozinha, não é potente o suficiente para o tratamento do câncer.
Para Souza et al. (2014) mesmo que os tratamentos tenham grande chance de se tornarem bem sucedidos, a mulher permanece a sofrer com o medo de perder a vida, mas principalmente o medo de retirar a mama, que é vista como um símbolo sexual e feminino para a mulher. Santos e Vieira (2011) apontam que o câncer traz muitas consequências para a vida da mulher, não apenas os efeitos colaterais físicos do tratamento, mas também efeitos de ordem psicológica, afetando sentimentos. Nesse viés, cabe considerar o pensamento de Dias (2014, p. 65), onde o mesmo em concomitância com o pensamento das autoras referenciadas, citam que os tratamentos, tanto sistêmicos como locais, causam um grande impacto na paciente “abalando sua autoestima e conduzindo ao estado de desamparo”. Nessa perspectiva, cabe compreender qual a relação da mulher com a imagem, questão levantada no próximo tópico.
3 A IMAGEM E A MULHER
Imagem, beleza e mulher, uma relação conturbada de amor e ódio. No aspecto social contemporâneo o fazer-se e sentir-se bela tem grande importância para a mulher, é quase que um dever feminino ser bela na cultura de hoje (NOVAES; VILHENA, 2003).
Ocorre que o ideal de beleza não tem o mesmo vigor para os dois sexos, os mesmos efeitos sobre a relação com o corpo, a mesma função na identificação individual, a mesma valorização social e íntima. A exaltação da beleza feminina reinstitui no próprio coração do narcisismo móvel e ‘transexual’ uma divisão importante dos sexos, uma divisão não apenas estética, mas cultural e psicológica (LIPOVESTKY, 2009, p. 160).
Os contestados padrões de beleza feminina, considerados ideais, mudam constantemente. A mídia com suas imagens conceituadas como ideais do corpo feminino, com mulheres magras, conselhos e produtos para chegar ao padrão midiático tem grande influência na estética feminina (LIPOVESTKY, 2000; FREEDMAN, 1994, PEIXOTO; SILVA; ABREU, 2018).
Nesse sentido, é passível de entendimento que a imagem feminina é difundida pela mídia de uma maneira que não mostra a real beleza feminina. Crane (2006, p. 400), cita que essa exposição da mídia cria expectativas “não realistas que a maioria delas é incapaz de satisfazer”. Ainda, Freedman (1994) expõe o pensamento de que ao não atingir o padrão reproduzido pela mídia, a mulher sente-se frustrada.
Mas afinal, o que é a imagem ideal? Não seria olhar-se no espelho e sentir-se bem consigo mesma? Francini (2002, p. 20) pondera que a beleza está ligada a palavras como “confiança, aceitação, força, inteligência”. Nessa visão, a definição de beleza feita pela autora, traz adjetivos positivos sobre a mulher. Ainda segundo Freedman (1994, p. 35), “embora seja complicado definir a beleza, parecemos reconhecê-la quando a vemos” logo, torna-se coerente a definição de beleza como um conjunto de qualidades que representam uma mulher.
A mulher vive numa competição entre o “ser [versus] parecer” para Joffily e Andrade (2013, p. 11), mesmo que com a definição da beleza como um conjunto de qualidades, é ainda inevitável deixar a aparência de lado. A competição perante a beleza entre as mulheres traz um nível tremendo de comparações entre o público feminino (LIPOVESTKY, 2009).
A forma como a indivíduo constrói a imagem de seu corpo é algo complexo e envolve percepções, sentimentos e pensamentos sobre ele, como forma, peso, atratividade e engloba dimensões cognitivas (atitudes) e afetivas. Um exemplo da dimensão cognitiva é a comparação que se faz da autoimagem com as imagens ideais para verificar a satisfação com o corpo (PEIXOTO; SILVA; ABREU 2018, p. 870).
A comparação da autoimagem com as imagens midiáticas trazem anseios maléficos a mulher, Fischer-Mirkin (2001) acredita que estes anseios podem demorar um longo tempo para serem anulados e a mesma aceitar sua imagem. Isto posto, conceitua-se a autoimagem no ponto de vista de Mosquera e Stobaus (2006, p. 84) como a observação que uma pessoa faz de si.
Ao ter uma percepção positiva perante a sua autoimagem, é possível que a pessoa também tenha uma autoestima positiva, do contrário, tende a ser mais negativa (FREEDMAN, 1994). Diferente da autoimagem, a autoestima caracteriza-se como sendo a confiança que a pessoa tem em si mesma, independente de ser positiva ou negativa, é o modo que o ser humano demonstra o modo como se contenta consigo mesmo (MOSQUERA; STOBAUS, 2006). Dado fatos e definições, pode-se inferir que além da aparência, a beleza está na subjetividade do ser humano e que muito da construção da autoimagem liga-se a estes fatos. Uma vez que a percepção de si está ruim, a falta de confiança da pessoa fará com que sua autoestima opere de maneira negativa e isso tende a refletir no aspecto social da vida da mesma.
Passar por alguma situação delicada, como enfermidades, pode ser um gancho para resultar em autoimagem e autoestima baixa. Para Mosquera e Stobaus (2006) quando alguém vê como positiva sua autoestima e sua autoimagem, tende a enfrentar melhor os percalços da vida. Após a bibliografia apresentada sobre autoestima e autoimagem, no próximo tópico é abordada a perspectiva de que maneira o tratamento do câncer de mama atinge a autoestima e autoimagem da mulher.
4 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS E DISCUSSÕES
A coleta de dados da pesquisa de campo foi realizada realizado em Florianópolis, Santa Catarina em novembro de 2018, por meio de entrevista, realizada com três mulheres, que passaram pelo câncer de mama e fizeram o tratamento recomendado para a doença, independente de qual método de tratamento foi proposto. Em um primeiro momento, dialogou-se com cinco mulheres para a entrevista, porém duas preferiram não participar da pesquisa, assim fixou-se em três o número de entrevistadas. O instrumento utilizado para a coleta de dados foi um questionário semiestruturado, que continha 10 perguntas sobre quais foram os tratamentos propostos, quais os impactos sentidos na imagem durante e após o tratamento, quais as mudanças sentidas no corpo bem como a relação das mesmas com a imagem pessoal e a autoestima.
A amostra foi composta por mulheres abordadas individualmente, tendo sido de livre escolha a participação ou não na pesquisa. No entanto, foi esclarecido que a participação não era obrigatória e que dados pessoais não seriam incluídos na pesquisa. Sendo assim, três mulheres se prontificaram a serem entrevistas e responderem ao roteiro de do questionário. Após o aceite, as entrevistas ocorreram.
Os dados foram coletados, transcritos e tabulados para a pesquisadora prosseguir com a análise das informações. As respostas obtidas da experiência vivenciada por dessas três mulheres foram de grande valia para atingir o objetivo proposto. A análise dos dados foi indutiva, partindo-se do particular para o geral, trabalhados a partir da abordagem descritiva dos dados qualitativos.
As três mulheres foram identificadas como entrevistadas: A, B e C. As entrevistas foram transcritas exatamente nas palavras que as entrevistadas utilizadas, sendo assim a justificativa de falas coloquiais citadas.
O primeiro questionamento solicitava: há quanto tempo à doença havia sido descoberta e quanto tempo após o tratamento foi iniciado. Segunda a três respondentes, à neoplasia foi descoberta há mais de dez anos e o tratamento foi iniciado rapidamente. Dentro de um mês as cirurgias de todas foram realizadas.
A segunda pergunta indagou sobre o sentimento apresentando na ocasião em que o diagnóstico foi recebido, Quadro 1. As entrevistadas mencionaram o medo como palavra para definir.

Sendo o medo um sentimento que deriva do anseio do que está por acontecer, é considerável visto que é difícil projetar como se dará o prognóstico da doença. No entanto, ao classificar o tumor em algum nível de estadiamento, o tratamento será proposto, o medo é fundamentado e pode se transformar em outros sentimentos. A terceira pergunta foi sobre o tratamento proposto, quadro 2.

O quarto questionamento teve como foco relação o tratamento cirúrgico e a retirada ou não da mama, quadro 3.

O tratamento completo se dará com a junção de algum tratamento cirúrgico e de alguma terapia complementar (radioterapia, quimioterapia ou hormonoterapia). Nesse artigo, duas das entrevistadas tiveram como tratamento proposto a retirada total da mama com esvaziamento axilar e quimioterapia, e uma radioterapia e retirada parcial da mama. Nenhuma das entrevistadas passou pela hormonoterapia.
Em relação à cirurgia de reconstrução da mama, não houve perguntas para o assunto, porém as entrevistadas acharam pertinente falar sobre. Quanto à isto, a entrevistada C não fez cirurgia de reconstrução e sim diminuiu a mama que não foi afetada pela doença, uma vez que esta não tirou a mama toda, só teve uma redução no tamanho da mesma. Já as entrevistadas A e B fizeram a reconstrução da mama que foi retirada.
Após os tratamentos serem explanados pelas entrevistadas, a próxima pergunta baseou-se em quais foram os efeitos colaterais do tratamento. Duas entrevistadas citaram o enjoo, porém apenas nos primeiros dias após as sessões de quimioterapia, já a entrevistada C que fez radioterapia mencionou que não sentiu nenhum efeito colateral em relação ao tratamento. Outro ponto de questionamento foi quais as mudanças sentidas após o diagnóstico e o início do tratamento. A análise que se dá através das respostas é de que a vida é uma só e é necessário aproveita-la da melhor maneira possível, Quadro 4.

Sobre a autoestima, as entrevistadas acreditam, que está tenha sido abalada pela doença. A queda do cabelo e a perda do seio foram as principais causas para afetar a autoestima, quadro 5.

As entrevistadas em que o tratamento proposto foi a quimioterapia, demonstraram mais impacto do tratamento na autoimagem e na autoestima, uma vez que a quimioterapia traz efeitos colaterais como a queda de cabelo. Ainda, as duas entrevistadas que retiraram a mama por completa, foram as mesmas que realizaram a quimioterapia, ou seja, o combo dos dois tratamentos acarretou ainda mais na dificuldade em ver-se no espelho e na aceitação do corpo. Entretanto, uma das entrevistadas, em que o tratamento foi a radioterapia, alegou que não sentiu impactos negativos e ainda, a mama não foi retirada por completa, o que não causa o sentimento total de mutilação, Quadro 6.

Ao considerar as respostas, é possível perceber que a quimioterapia traz mais dificuldades do que a radioterapia na autoimagem da mulher. As principais dificuldades enfrentadas foram estão no Quadro 7.

Ao fim da entrevista, observa-se a diferença em relação aos tratamentos e seus impactos. Foi perceptível através das respostas, que as entrevistadas A e B tiveram um abalo maior e mais dificuldades para enfrentar, posto que o tratamento de ambas foi mais mutilador em relação ao da entrevistada C. Apesar desta última ter passado também pela cirurgia, a mesma foi de maior conservação uma vez que a mama não foi retirada por completa. Além de que, a radioterapia não causa a queda de pelos, e as queimaduras por ela causadas, não são vistas por todos. Sendo assim, torna-se necessário pontuar novamente a diferença entre os tratamentos e os impactos sentidos também, de maneira diferente.
5 CONCLUSÕES
Depois da realização da pesquisa bibliográfica e da pesquisa de campo feita por meio de entrevistas, foi possível aprofundar o assunto para a verificação do objetivo proposto. Mostrou-se por meio da pesquisa bibliográfica que os tratamentos utilizados para o combate ao câncer de mama são evasivos, e assim pode-se confirmar mediante as entrevistas efetuadas que a quimioterapia traz a queda de cabelo, de cílios e isso costuma ser difícil para a mulher quando os efeitos aparecem. Ainda, a retirada total da mama também é um efeito que afeta bastante o público feminino.
Nesse sentido, a beleza e a autoimagem foram exploradas. Pode-se perceber que a autoimagem é construída pela observação da aparência física que a pessoa tem sob ela mesma e à vista disso a autoestima fica percebida como a percepção de confiança que a pessoa tem sob si mesma. Os conceitos de autoimagem e autoestima juntos, formam um conjunto primordial sobre a imagem que a mulher tem de si, independente se positiva ou negativa, sendo que isso pode influenciar no aspecto social da vida de qualquer pessoa.
Assim, na pesquisa de campo constatou-se que a autoimagem e autoestima da mulher que passou pelo tratamento do câncer de mama fica abalada, principalmente, quando os tratamentos foram iniciados. Os diferentes tratamentos que podem ser propostos trazem diferentes efeitos à mulher, sendo que na pesquisa as duas mulheres que passaram pela quimioterapia e retirada total da mama sentiram mais efeitos em relação à autoimagem.
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