Apresentação

A Escola Superior de Desenho Industrial (ESDI) é a unidade da Universidade do Estado do Rio de Janeiro dedicada ao ensino do Desenho Industrial, um campo de conhecimento interdisciplinar, caracterizado pela concepção e desenho de projetos de artefatos, de comunicação visual gráfica e de sistemas integrados de informação, tecnologia e ambientes. O curso de graduação em Desenho Industrial na ESDI, atualmente, se desenvolve em cinco anos, oferecendo simultaneamente as habilitações em Projeto de Produto e Programação Visual. O ingresso é feito, anualmente, por meio de concurso vestibular, promovido pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro, UERJ. A ESDI está instalada em um conjunto de prédios na Lapa, no centro do Rio de Janeiro, possuindo salas de aula, oficinas de madeira, metal, modelagem e gráfica, laboratórios de fotografia e informática, além de uma biblioteca especializada.

O programa “ESDI: Janelas Abertas” é uma das atividades de extensão desenvolvidas na escola e tem como objetivo apresentar a profissão do Desenhista Industrial ou Designer, a estudantes de cursos de nível médio, geralmente cursando o terceiro ano, e confrontados com o desafio de optar por uma carreira. As atividades desse projeto de extensão também interessam à comunidade em geral, pois tratam de temas ligados à ESDI, à educação projetual e ao Design. Gui Bonsiepe (1989) considera que o design, como prática do projeto, além de uma especialidade profissional, é um atributo ontológico da humanidade e, por essa razão, deveria ser a base para uma nova educação, talvez uma nova universidade.

Se a filosofia foi o pilar da universidade clássica e as ciências foram a base da era moderna, o projeto tal como praticado em cursos de design pode ser a fundação da universidade do futuro. O pensamento projetual será o fator integrador de uma educação desintegrada e dispersa. (BONSIEPE, 1989, p. 125).

O projeto de extensão Janelas Abertas

O projeto “ESDI: Janelas Abertas” foi criado no início do ano de 2001, pelo professor Roberto Eppinghaus, com o objetivo de divulgar o Desenho Industrial e a formação profissional propiciada pela ESDI. A proposta, desde o início, era ajudar os jovens interessados em ingressar na profissão a escolherem, com menor incerteza, uma carreira. Nas muitas edições realizadas, o Janelas Abertas trouxe atividades que contribuíram para a divulgação da ESDI em espaços de diálogo com a comunidade interessada em design, integrando grupos de diferentes níveis acadêmicos. Para viabilizar esses encontros, foram organizadas, nos anos de existência do programa, atividades dirigidas a instituições de Ensino Médio do Rio de Janeiro, com palestras e visitas monitoradas. As listas de escolas e contatos eram mantidas por estudantes bolsistas que se revezavam na tarefa de organizar os eventos.

Mudanças no quadro docente e discente da escola levaram a uma desmobilização das equipes que conduziam o projeto, culminando na não realização de atividades no ano de 2014, o que colocou em risco o recadastramento do projeto perante o Departamento de Extensão da UERJ. Uma renovação era necessária, uma revitalização da imagem do projeto perante a escola e perante o público externo. A nova equipe de coordenação se formou com esse intuito, reunindo uma professora, uma bolsista da graduação e três voluntárias, sendo duas estudantes da graduação e uma da pós-graduação.

Ao assumir o projeto, o grupo organizou o planejamento para o ano de 2015 de modo a realizar uma edição memorável para o evento, no primeiro semestre, em maio, período anterior às inscrições em vestibulares e, portanto, atraente para aqueles que desejam informações sobre cursos e carreiras universitárias. Dedicou-se tempo e atenção à organização da base de dados e conferência de informações, divulgação e contatos personalizados, e ao planejamento cuidadoso da visitação às dependências da ESDI. A Tabela 1 apresenta o cronograma cumprido para a realização das atividades de 2015.

Na primeira etapa do planejamento, a equipe ocupou-se em definir o público, planejar o roteiro de visitação, criar uma identidade visual para o projeto, fazer a divulgação externa e a chamada interna para trabalhos de estudantes de graduação e pós-graduação da ESDI, além de buscar parcerias e apoio.

A identidade visual do projeto foi concebida de modo que símbolo, logotipo e tipografia estivessem em consonância com o que é utilizado na identidade visual da ESDI, e que o padrão cromático proporcionasse uma comunicação efetiva com o público. Várias alternativas visuais para o símbolo foram geradas. Após as etapas de seleção e refinamento, a solução foi definida em referência à figura de uma janela e assim remetendo às fachadas da ESDI (Figura 1) e ao nome do projeto. O desdobramento gráfico em composições modulares poderia contribuir para uma linguagem visual de fácil reconhecimento (Figura 2).

Estudos foram realizados para estabelecer as relações símbolo-logotipo, padrão cromático e padrão tipográfico. Optou-se pela utilização da fonte tipográfica Helvética, uma fonte clássica, sem serifa, que confere atributos de estabilidade e credibilidade necessários ao projeto.

Divulgação externa

Ao definir o público para o primeiro evento dessa nova fase do projeto de extensão ESDI: Janelas Abertas, o grupo pautou-se pela proposta original, isto é, a divulgação do Design e da ESDI junto aos jovens candidatos ao vestibular, estudantes secundaristas em geral. Diante da ausência de uma educação projetual durante o Ensino Fundamental e Médio, na maior parte das escolas brasileiras, torna-se necessário oportunizar o contato com o Design, no momento de definição de futuras carreiras profissionais, a fim de que esses estudantes possam ter informações práticas. No mesmo nível de importância está a disseminação do pensamento projetual para pessoas de diferentes campos de atuação social e profissional, para que possam ter maiores referências de posicionamento crítico frente aos acontecimentos da cultura material, desde projetos urbanísticos de grande porte até a produção uso e descarte adequado de produtos industriais, por exemplo.

Realizou-se um levantamento de contatos de escolas das redes pública e privada de Educação Básica, que gerou um quadro de treze instituições públicas ou comunitárias e 96 instituições privadas. Todas foram contatadas, tendo-se obtido retorno de 17 instituições. É interessante registrar que, entre estas, cinco instituições eram de Ensino Superior e não constavam na lista inicial. Para a divulgação entre escolas estaduais, responsáveis pelo maior contingente de educação pública do Ensino Médio, foi enviado um convite por e-mail para a Secretaria de Estado de Educação do Rio de Janeiro, SEEDUC, com o pedido de encaminhamento às escolas.

Criou-se uma página na rede social Facebook com o propósito de fornecer informações sobre o “Janelas Abertas” e os materiais que seriam expostos. O uso desse canal de comunicação dinâmico, contemporâneo e de fácil acesso aos interessados, como defendem Baalbaki et al. (2015. p.354), foi muito eficaz. Inicialmente, anunciou-se a página entre os estudantes, professores e funcionários da ESDI e vários dados referentes ao evento e a outros projetos que vinham sendo desenvolvidos pela comunidade “esdiana” (gentílico que designa os alunos, ex-alunos, professores e funcionários da ESDI), contando com a colaboração de todos para a divulgação em suas próprias redes sociais. A Figura 3 mostra a postagem de um produto visual realizado por estudantes.

Em abril de 2015, foi criado um evento no Facebook como forma de divulgação, também noticiado no boletim informativo eletrônico da ESDI, o “Sinal”. Foi feito um convite amplo para a participação nas atividades do “Janelas Abertas”. Até o primeiro dia de realização do evento, a página do Facebook já atingira um público de 388 curtidas, 427 convidados e 371 confirmações de presença. A atualização frequente foi um fator importante para manter a circulação de informações sobre o projeto e para o alcance de um número expressivo de pessoas (Figura 4).

O grupo decidiu utilizar chamadas com hashtags (palavras-chave que se deseja indexar em aplicativos como Twitter ou Facebook), incluindo pequenos complementos relativos ao conteúdo informacional disponível no corpo de texto da postagem. Foi escolhida a linguagem de cunho informal e voltada para estudantes de Ensino Médio.

Fez-se a chamada formal para participação no evento digitalmente, convidando pessoas e instituições de Educação Básica com histórico de participações anteriores e novas, cujos contatos a equipe reuniu mediante uma busca em bases de dados disponíveis na internet. Entrou-se em contato com os responsáveis legais e pedagógicos, por e-mail, endereçando-lhes o convite de participação (Figura 5) e pedindo-lhes que trouxessem estudantes possivelmente interessados e/ou divulgassem a chamada para inscrições por meio de fixação de um cartaz do evento em vias de acesso de suas respectivas unidades escolares.

O cartaz que continha informações sobre o objetivo do evento, seu público-alvo, requisitos para inscrição, local e horário foi produzido em preto e branco pela equipe do “Janelas Abertas”, em formato A4 (210 x 297 mm), e anexado às mensagens-convite de modo a ser facilmente impresso, potencializando o alcance da divulgação (Figura 6).

A participação condicionada à inscrição foi importante para a organização das acomodações dos espaços, a confecção de certificados e o cálculo da compra do lanche, evitando desperdícios. A possibilidade de fazer a inscrição individualmente, sem vínculo obrigatório com a escola, foi um fator facilitador para os estudantes interessados no evento, pois assim não dependeriam de um quorum necessário em muitas escolas para o deslocamento de grupos em atividades externas, bem como da presença de um responsável pedagógico.

Todos aqueles que, de alguma forma, atuaram no evento - visitantes, expositores, colaboradores voluntários e organizadores - receberam certificados de participação. Esse item foi um atrativo relevante para quem buscava um documento comprobatório de atividades curriculares, bem como para reforçar a imagem institucional do projeto. A programação visual dos certificados foi desenvolvida pela equipe do “Janelas Abertas”.

Seleção para exposição

Tomou-se por base, na seleção interna de trabalhos a serem apresentados nas prévias da página, a submissão por e-mail, respeitando-se o que foi estabelecido na chamada e divulgado por meio de cartazes e comunicação interna. A exigência era a de que os produtos criados para tal fim tivessem sido desenvolvidos em disciplinas da ESDI. Os interessados em expor enviaram suas propostas de apresentação com imagens dos materiais, nome do autor, ano de desenvolvimento do projeto, professor e disciplina. No período de cinco semanas, dos doze trabalhos submetidos, dez foram aceitos. Os autores aprovados pela organização receberam o leiaute e modelo para diagramação dos pôsteres em formato A2 (420 x 594 mm), com malha, cabeçalho e o símbolo do “Janelas Abertas”, no qual deveriam elaborar suas apresentações, tendo um prazo de duas semanas para entregar (Figuras 7 e 8).

Roteiro de visitação

O roteiro de visitação à escola foi planejado com base nas experiências de atuais estudantes da ESDI que participaram de edições anteriores do evento, levando em conta estimativas de tempo médio das atividades e fluxo de pessoas pelas dependências da escola. De acordo com relatos sobre o que lhes interessou mais naquelas oportunidades, a equipe organizadora decidiu pela exposição de trabalhos, manutenção da visita guiada pelas dependências da escola e substituição da palestra de abertura pela exposição de vídeos mais dinâmicos e com visões diversificadas, a fim de apresentar de maneira objetiva e abrangente os projetos desenvolvidos na instituição. Foi acrescentada ao roteiro do evento uma minipalestra na Incubadora de empresas de Design da ESDI, ministrada durante o lanche ao final da visitação.

O lanche foi um item frequente nas observações de pontos positivos dos eventos anteriores, por permitir uma aproximação mais informal entre os estudantes da ESDI e os visitantes. A atenção da equipe em relação a restrições alimentares para os lanches nesta edição foi um ponto positivo observado pelos participantes do evento. O lanche com biscoitos de polvilho doces e salgados, pipoca e refresco de guaraná natural atendeu satisfatoriamente aos celíacos, diabéticos e veganos. Além de serem opções baratas, com grande identificação junto ao público carioca jovem, de fácil armazenamento e distribuição e com baixa produção de lixo.

Os trabalhos de impressão dos pôsteres, montagem da exposição, limpeza das salas, organização do lanche, registro fotográfico e em vídeo, recepção dos visitantes e condução da visita guiada tiveram a colaboração de 19 voluntários, convocados em chamada interna há duas semanas do evento. Todos receberam crachás de identificação e informativos de suas funções, com indicações de falas nas diferentes etapas da visita (Tabela 2).

Os vídeos exibidos durante o evento foram produzidos e selecionados durante dois meses, tendo sido gravados com diversas pessoas da ESDI, como por exemplo, o vice-diretor, apresentando a Escola e a carreira profissional de design. Professores de cada departamento responderam sobre a relevância de suas disciplinas, nesse campo de conhecimento, e estudantes que participaram de edições anteriores do “Janelas Abertas” revelaram como suas experiências no evento influenciaram suas escolhas e vivência posterior na escola.

Colaborações

Os materiais de papelaria foram financiados por verba de projeto da FAPERJ, as impressões foram cortesia do LabInfo, laboratório de informática de uso geral da ESDI, e o lanche recebeu contribuição da Incubadora de Empresas de Design. Para edições futuras, a equipe estuda a possibilidade de patrocínio de empresas de design e de campanhas de financiamento coletivo, a exemplo do Pavão 2012, evento cultural realizado por iniciativa direta de estudantes da ESDI.

Resultados

O projeto foi apresentado na 26ª. UERJ Sem Muros, evento acadêmico em que a comunidade da UERJ expõe os resultados de trabalhos de extensão e de iniciação científica realizados durante o ano, com grande visibilidade. Naquela oportunidade, foram apresentadas as estatísticas referentes à primeira edição do “Janelas Abertas” de 2015 (Figura 9), chegando a 74 inscritos com antecedência e 33 presencialmente, tendo 37 visitas no primeiro dia e 44 no segundo, havendo 26 ausências no total. Constatou-se o alcance de 485 entusiastas na página do Facebook e registrou-se o engajamento de um total de 114 instituições de ensino, entre públicas e privadas, de Educação Básica e Superior.

Considerações finais

A experiência de planejamento e realização do “ESDI: Janelas Abertas”, em 2015, oportunizou novos objetivos, abordagens e expectativas para as próximas edições. Entre estas, podem ser citadas: a previsão de uma visita mais extensa, com base no interesse dos visitantes; exibições de vídeo mais dinâmicas, possivelmente em conjunto com a exposição de trabalhos, e o planejamento das datas do evento para antes das inscrições nos exames de qualificação da UERJ, facilitando para os estudantes a opção de tentativa de ingresso na ESDI. Pensa-se, também, em estabelecer comunicação direta com um maior número de instituições escolares públicas estaduais, entregando presencialmente os convites e materiais de divulgação, uma vez que essas escolas não possuem contatos virtuais diretos disponíveis em bases de dados acessíveis. Acredita-se que oferecer um dia com dois turnos de atividades possa possibilitar a visita de mais estudantes. A organização do próximo evento incluirá o convite a outras universidades para participação com oficinas e palestras de designers formados pela ESDI sobre o desenvolvimento de suas carreiras, bem como uma mesa redonda com a colaboração de diversos representantes do design em diferentes esferas profissionais e acadêmicas. Consciente de que a realização dessas metas depende de recursos referentes ao pessoal, a equipe envida esforços no sentido de convocar mais voluntários e solicitar um aumento no número de bolsas junto ao órgão de fomento.

Atualmente, além de preservar os objetivos originais, o Janelas Abertas também se propõe a proporcionar um espaço de registro e divulgação do conhecimento produzido pelos alunos da ESDI num memorial da produção acadêmica. As atividades promovidas pelo Janelas Abertas contribuem com o curso de graduação da ESDI ao criarem espaços de diálogo entre estudantes de períodos diferentes, nos quais se trocam experiências e se discutem questões de projeto. A exposição de trabalhos para um público externo também foi mencionada como um fator motivacional para aprimorar ou mesmo finalizar trabalhos realizados em disciplinas curriculares.

À equipe organizadora das atividades, o projeto de extensão possibilita a experiência de praticar as atividades de planejamento, organização, tomada de decisões, gerenciamento de recursos financeiros e relações interpessoais. Esses aprendizados são parte da formação profissional do desenhista industrial, a quem compete o domínio teórico e prático do processo projetual. Assim, o projeto de extensão “ESDI: Janelas Abertas” contribui para a preparação dos jovens para a entrada no mercado de trabalho. Em seus depoimentos, os bolsistas e voluntários que participaram da organização dos eventos mencionaram perceber seu próprio amadurecimento. Eles precisaram lidar com o público e comunicar-se com ele (tanto em ambiente virtual quanto real), tomar medidas para aumentar o alcance da sua comunicação, negociar com parceiros, planejar diversos aspectos referentes ao projeto que poderão ter consequências de menor ou maior impacto. Em suma, aprenderam a lidar com problemas projetuais também fora da sala de aula.

Referências

BAALBAKI, Angela Corrêa Ferreira; TEIXEIRA, Vanessa Gomes; BARBOSA, Priscila Costa Lemos; MARINHO, Mariana Schwantes. O projeto de extensão e suas formas de comunicação com a comunidade externa. In: Revista Conexão UEPG. Ponta Grossa, volume 11 número 3 - set./dez. 2015.

BONSIEPE, Gui. No futuro, a reformulação. In: Revista Design & Interiores. São Paulo, n. 12, 1989.

SILVA, D.C.; BOTURA JR, G.; PASCHOARELLI, L.C. Inovação e pesquisa em Design nas universidades brasileiras. In: Revista Design & Tecnologia UFRGS. Porto Alegre, número 6. 2013.