Secciones
Referencias
Resumen
Servicios
Descargas
HTML
ePub
PDF
Buscar
Fuente


A LIGA ACADÊMICA DE UROLOGIA DO PARÁ COMO INSTRUMENTO DE CAPACITAÇÃO PROFISSIONAL, EDUCAÇÃO E PROMOÇÃO EM SAÚDE
Revista Conexão UEPG, vol. 13, núm. 1, pp. 176-185, 2017
Universidade Estadual de Ponta Grossa

Artigos


Recepção: 30 Julho 2016

Aprovação: 09 Dezembro 2016

DOI: https://doi.org/10.5212/Rev.Conexao.v.13.i1.0014

Resumo: A promoção à saúde do homem, bem como a educação em saúde da população em geral, ainda são áreas escassamente abordadas pelas universidades, na formação do profissional médico. Na intenção de aproximar o acadêmico destas áreas de extrema importância na formação do profissional de saúde, a Liga Acadêmica de Urologia do Pará (LAUPA) idealizou um projeto capaz de suprir esta necessidade. Os membros da Liga, por meio deste projeto, realizaram diversas atividades, como aulas de capacitação, mutirão de atendimento clínico e promoção da saúde do homem durante o “Novembro Azul” de 2015, cursos de educação sexual para adolescentes e participação em conjunto com a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), no programa televisivo “Bem-Estar Global”. Tais atividades foram de grande contribuição para a inserção dos membros da liga na comunidade, contribuindo em áreas ainda deficitárias de assistência à saúde da população, proporcionando uma experiência real do papel transformador do profissional de saúde na sociedade.

Palavras-chave: urologia, extensão, liga acadêmica.

Abstract: The men’s health promotion as well as health education for the general population are still poorly addressed by universities on undergraduate courses of Medicine. In order to close de gap between medical students and an extremely important area for the formation of health professionals, it was conceived a project by Liga Acadêmica de Urologia do Pará (Academic League of Urology of Pará, Brazilian acronym LAUPA) in order to fulfill this gap. Through the project, the league members conducted several activities such as: traininglectures; clinical care and men’s health promotion through the event Novembro Azul (Blue November), in 2015; sexual education courses to adolescents; participation, along with Associação Brasileira de Urologia (Brazilian Society of Urology – Brazilian acronym BSU), in the television program Bem Estar (Well Being). Such activities contributed to introduce the league members to the community, to provide health care forthe general population and to demonstrate the transformative role of health professionals in society.

Keywords: urology, outreach, academic league.

Introdução

No Brasil, há ainda uma grande diferença numérica no que diz respeito a indicadores de saúde, quando se comparam homens e mulheres. Estudo feito pela Fundação Oswaldo Cruz aponta que a taxa de mortalidade geral no Brasil na faixa etária de 20 a 59 anos de idade é igual a 3,5 óbitos por mil habitantes, porém é 2,3 vezes maior entre os homens do que entre as mulheres, chegando a 4 vezes mais na faixa etária mais jovem. Há também um crescimento significativo na prevalência de aumento de peso, obesidade e diagnóstico médico de diabetes entre homens. Tendo esse panorama em vista, torna-se de fundamental importância entender as diferentes justificativas por trás dos altos índices de morbimortalidade masculina. A resistência do público masculino em aderir a serviços de atenção básica pode ser um elemento-chave para a compreensão desse paradigma (BRASIL, 2015; MOURA et al., 2012).

Tal resistência à procura por atendimento médico encontra-se fortemente relacionada à imagem construída na sociedade do homem adulto como figura de poder, força e invulnerabilidade, o predispondo a situações de risco que podem levar a doenças e morte. Nos espaços públicos de atenção à saúde básica, onde os serviços são destinados principalmente a mulheres, crianças e idosos, a ausência de público masculino é ainda maior, como se o cuidado à saúde fosse unicamente dever feminino. Assim, a menor procura por atendimento está relacionada à figura do homem forte, resistente e imune ao adoecimento, em comparação com as mulheres.

Outra razão apontada para retardar a procura por assistência é o trabalho, pois o homem teria menos tempo disponível do que as mulheres. Em um estudo realizado nos Estados Unidos, observou- se que homens de meia idade com expressão de gênero fortemente “masculinizadas” eram cerca de 50% menos inclinados a procurar por atendimento médico preventivo e mais inclinados a retardar a procura por serviços de emergência. Isso mostra que a relação do público masculino com os cuidados de saúde apresenta um padrão global e tem raízes caracteristicamente socioculturais, sendo necessária a implantação de estratégias de saúde abrangentes e eficazes para a mudança de padrões culturais que possam ser nocivos à saúde do homem (LIPSKY; CANNON; LUT, 2014; SCHOFIELD et al., 2000).

A educação em saúde é definida pelo Ministério da Saúde como:

Processo educativo de construção de conhecimentos em saúde que visa à apropriação temática pela população [...]. Conjunto de práticas do setor que contribui para aumentar a autonomia das pessoas no seu cuidado e no debate com os profissionais e os gestores a fim de alcançar uma atenção de saúde de acordo com suas necessidades (BRASIL, 2012).

Dessa forma, a educação em saúde pode ser uma maneira efetiva de aproximar o público masculino dos serviços de atenção e promoção à saúde, e fazer com que homens, em geral, possam ter mais autonomia e consciência no que diz respeito aos cuidados com sua própria saúde.

Aplicando a realidade epidemiológica da atenção básica à saúde do homem, o simples processo de escuta do público masculino acerca de suas próprias identidades, pelos agentes de promoção à saúde pública, e o estabelecimento de vínculos efetivos entre as duas partes (comunidade e profissionais de saúde) podem contribuir fortemente para a obtenção de maior participação desses sujeitos nas ações de prevenção e promoção de saúde. A extensão universitária, no âmbito de suas atribuições, surge como uma alternativa viávele eficaz para o estabelecimento e fortificação desses vínculos (NASCIMENTO; GOMES, 2008).

No Brasil, buscando nortear as ações de saúde, estimular a autopreservação dos homens e, acima de tudo, reconhecer a saúde como um direito social e básico de todos os homens brasileiros, foi criada, em 2008, pelo Sistema Único de Saúde (SUS), a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem (PNAISH). Focando-se em fortalecer as ações e os serviços em redes de cuidado, a PNAISH objetiva principalmente promover ações de saúde que contribuam significativamente para a compreensão da realidade singular masculina, nos seus diversos contextos socioculturais e político-econômicos, e que– respeitando os diferentes níveis de desenvolvimento e organização dos sistemas locais de saúde e tipos de gestão – possibilitem o aumento da expectativa de vida e a redução dos índices de morbimortalidade por causas preveníveis e evitáveis nessa população.

Sendo assim, a promoção de atividades extensionistas voltadas à conscientização do homem acerca da importância de medidas de prevenção de agravos em sua saúde e que estimulem o autocuidado tem sua importância ainda mais reiterada, por estarem em conformidade com as recomendações preconizadas pelo Ministério da Saúde (MS) e materializadas sob a forma do PNAISH (BRASIL, 2008).

A Extensão Universitária constitui “processo interdisciplinar, educativo, cultural, científico e político que promove a interação transformadora entre Universidade e outros setores da sociedade”. Ela materializa o conhecimento transmitido (ensino) e construído (pesquisa), atuando de modo a reforçá-lo e aproximá-lo de seus destinatários, sensibilizando para os problemas sociais e evitando que a Universidade fique isolada da sociedade (FORPROEX, 2012; PAULA, 2013).

A ligação permanente formada por Universidade e sociedade no âmbito da extensão ocorre de maneira em que ambas são beneficiadas. A sociedade contribui ao trazer seus conhecimentos, anseios, necessidades e aspirações, permitindo que a Universidade planeje e pratique atividades visando trazer melhorias à qualidade de vida dos cidadãos. Em contrapartida, a comunidade é beneficiada através de ações com o poder de modificar sua realidade, com alto poder de promover assistência em saúde eficaz (NUNES; SILVA, 2011).

Nesse sentido, surge um novo conceito de Universidade, fundado sobre o tripé ensino- pesquisa-extensão, previsto desde a legislação de 1931 que, através do Decreto nº 19.851, de 11/4/1931, estabeleceu o alicerce do sistema universitário brasileiro. Isto permite que o estudante e a sociedade participem ativamente da produção do conhecimento, quebrando o eixo pedagógico clássico (discente-docente) (FORPROEX, 2012; MARTINS, 2012).

As Ligas Acadêmicas Médicas (LAM) são organizações criadas a partir desse novo conceito mais abrangente de universidade e podem ser definidas como grupos de alunos que se organizam para aprofundamento didático em determinados temas e nas quais os estudantes participam de atividades como: aulas teóricas sobre determinado assunto, organização de cursos e simpósios, desenvolvimento de projetos de pesquisa e ações junto à comunidade (HAMAMOTO FILHO et al., 2010)

A utilização da estrutura organizacional de uma liga acadêmica também pode ser de bastante valia, no que tange à promoção de saúde pública. A articulação entre profissionais de saúde e acadêmicos, característica da configuração de uma liga acadêmica, torna possível o planejamento e a execução de ações de ampla abrangência, que sejam benéficas tanto aos idealizadores de tais atividades, quanto ao público-alvo atingido. Ademais, considerando-se que a tríade ensino, pesquisa e extensão deve, necessariamente, estar no interior de qualquer liga acadêmica, torna-se possível a mesclagem entre os benefícios advindos das ações extensionistas, a produção de saber científico (oriundo das experiências previamente estabelecidas com a população) e o ensino, através da relação discente- acadêmico-comunidade. Portanto, a liga acadêmica constitui ambiente favorável para o desenvolvimento da Extensão Universitária, seguindo a diretriz da indissociabilidade Ensino – Pesquisa – Extensão, reafirmando-a como processo acadêmico e aumentando sua efetividade (FORPROEX, 2012).

A Liga Acadêmica de Urologia do Pará (LAUPA) foi fundada em 2012 por acadêmicos de medicina e, desde então, busca atuar efetivamente nos três segmentos já mencionados: ensino, pesquisa e extensão. Reconhecendo a grande carência na atenção básica à saúde masculina, a LAUPA tem como principal objetivo no campo extensionista a realização de ações comunitárias que venham a favorecer a aproximação entre profissionais de saúde, acadêmicos e comunidade, através de medidas como palestras e distribuição de panfletos em locais públicos, mutirões de saúde e sessões de orientação, visando a um impacto positivo para ambos os atores sociais envolvidos.

Desta forma, através da atividade extensionista, a Liga Acadêmica de Urologia do Pará (LAUPA) se propõe a servir de instrumento de promoção à saúde do homem, adotando medidas de atenção primária à saúde, prevenção de riscos e doenças, e estimulando a atenção à saúde de forma integral junto ao público masculino.

O relato e a discussão das atividades realizadas no contexto do projeto de extensão visam sensibilizar para o problema da saúde do homem, expor as estratégias utilizadas pela LAUPA para promover atenção integral à saúde masculina, inspirar novas iniciativas e estimular a prática extensionista, buscando ampliar a área de influência da Liga para além das comunidades, discentes e docentes compreendidos no âmbito das ações.

Metodologia

A LAUPA iniciou suas atividades no ano de 2012, entretanto, as atividades aqui relatadas ocorreram durante a gestão do ano de 2015.

Projeto de Extensão

A liga está vinculada ao Projeto de extensão “Conscientização acadêmico-comunitária acerca da sexualidade masculina e promoção integral da saúde do homem através da Liga Acadêmica de Urologia do Pará”, da Universidade Federal do Pará, orientado e coordenado pelo Professor Doutor Charles Alberto Villacorta de Barros.

Aulas teóricas da LAUPA

As aulas teóricas organizadas pela LAUPA foram abertas à comunidade acadêmica de Belém, sendo realizadas por vezes no prédio do ICS da UFPA e outras no auditório do Hospital Saúde da Mulher (HSM) de Belém. A ministração das aulas ficou a cargo dos médicos urologistas e de fisioterapeutas, que por sua vez eram convidados com antecedência de um mês para que a abordagem do tema solicitado fosse isenta de intercorrências.

Na grande maioria das vezes, as aulas contavam com a utilização de recursos audiovisuais, como datashow e caixas amplificadoras. Ao final de cada apresentação, era aberto um espaço para a retirada de dúvidas e, por vezes, discussão de casos clínicos.

Palestras sobre Educação Sexual

Durante o mês de outubro de 2015, a LAUPA, contando com o suporte da diretoria da Escola Municipal Tiradentes I, realizou um ciclo de palestras para o público adolescente da Instituição.

A escola cedeu um horário de aula de 40 minutos para cada uma das turmas abordadas (7º, 8º e 9º ano), além de dar suporte no momento da organização dos alunos, explicando a importância da atividade e dispondo de um professor em cada turma, auxiliando na manutenção da ordem. A distribuição de material didático com o resumo dos temas abordados e o datashow utilizado nas aulas ficaram a cargo dos membros da LAUPA.

A elaboração das aulas expositivas ficou a cargo dos acadêmicos de medicina membros da Liga de Urologia, e em sua configuração apresentavam alguns pontos dos direitos do adolescente segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), bem como as propostas de educação em saúde sugeridas pelo Ministério da Saúde. A abordagem foi realizada em linguagem coloquial, abrindo espaço para o diálogo e esclarecimento do público em questão.

Os temas priorizados foram as principais alterações corporais e psicológicas na adolescência, a fisiologia simplificada do ciclo menstrual, gravidez na adolescência, o uso correto dos métodos anticoncepcionais e a importância do planejamento familiar.

Bem Estar Global

Durante o mês de abril de 2015, o programa Bem Estar da Rede Globo de televisões, em parceria com as diversas sociedades médicas – dentre elas a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) – elaborou uma série de atividades voltadas à promoção de saúde da comunidade carente de algumas capitais brasileiras. Nesse contexto, a Liga Paraense de Urologia foi convidada pela SBU para participar da organização do estande disponibilizado para a urologia e no auxílio aos atendimentos prestados pelos médicos urologistas durante a Ação.

A elaboração de banners, organização dos pacientes e criação da dinâmica de atendimento foram realizadas pelos alunos vinculados à LAUPA e que participaram da capacitação, que aconteceu durante a semana anterior ao evento. A atividade foi amplamente divulgada pela mídia local, levando a mobilização de um grande contingente de indivíduos, ocasionando um alto impacto social. A ação ocorreu no dia 25 de abril de 2015, na praça Batista Campos, em Belém do Pará, tendo uma duração média de 10 horas.

Os atendimentos basearam-se em uma anamnese voltada para o sistema urinário,o que permitiu a triagem dos pacientes e o direcionamento daqueles que necessitavam da atenção médica e esclarecimento daqueles interessados na prevenção das ocorrências urológicas.

A Ação do “Novembro Azul” realizada na Unidade Básica de Saúde (UBS) da Marambaia

No período de 16 a 19 do mês de novembro de 2015, a LAUPA, em parceria com a LAFIPEM (Liga Acadêmica de Fisioterapia Pélvica e Mamária), realizou uma ação de atendimento, com o objetivo de rastrear a população alvo para o câncer de próstata. Para a execução da ação, foi concedido, pela Secretaria Municipal de Saúde de Belém (SESMA), um espaço físico na Unidade Municipal de Saúde, localizada no bairro da Marambaia, em Belém do Pará.

A divulgação da atividade foi de grande relevância para o sucesso desta atividade, sendo realizada por meio de banners expostos na recepção da unidade, nas redes sociais e através de anúncios do prefeito de Belém, em um programa de rádio.

A ação era aberta para toda a população considerada alvo: sexo masculino; com idade superior ou igual 50 anos e inferior a 75 anos; ou entre 45 e 49 e inferior a 75 anos, com fatores de risco para o câncer de próstata; atendidos pelo Sistema Único de Saúde.

Primeiramente, no início da manhã, os acadêmicos membros da LAUPA, com a inestimável colaboração dos acadêmicos membros da LAFIPEM, realizavam o acolhimento dos pacientes e a triagem básica destes, que consistia na coleta de um breve histórico médico e na aplicação de questionários amplamente validados para a avaliação de sintomas urinários e disfunção erétil, após o consentimento dos pacientes entrevistados. Os questionários aplicados foram o International Prostate Symptom Score (IPSS) e o International Index of Erectile Function (IIEF).

Após passarem pela triagem, os pacientes eram encaminhados para o médico urologista escalado no dia, que os examinava, com a realização do exame digital da próstata e solicitação de dosagem do Antígeno Prostático Específico (PSA), que foi realizado na própria unidade de saúde. O paciente com forte suspeita clínica e os que trouxeram exames prévios com resultados alterados foram esclarecidos e orientados a dar seguimento ao acompanhamento com um médico especialista, além da solicitação da biópsia da próstata nesses casos. Os pacientes com sintomas urinários severos receberam prescrições no momento da consulta. Quando prontos os resultados dos exames, uma consulta de retorno era marcada para a entregae para dar aos pacientes o devido encaminhamento.

Resultados e Discussão

Desde 1911, a universidade brasileira vem passando por uma transformação da sua função histórica como produtora e construtora de conhecimentos. Tradicionalmente, vê- se a academia como um local de ensino e difusão do saber, onde o futuro profissional tem papel passivo na sua formação. Tal visão vem sendo desconstruída, no intuito de proporcionar ao graduando uma vivência precoce da realidade, e permitir que este seja um sujeito ativo na sua evolução profissional, como foi tentado pelo projeto de extensão da LAUPA. Objetiva-se formar profissionais que atendam às necessidades sociais do meio em que estão inseridos, com capacidades de trabalhar em equipe, comunicar-se, ter proatividade diante de diversas situações, entre outras (BISCARDE; PEREIRA-SANTOS; SILVA, 2014).

No âmbito da saúde, a extensão evita que a formação aconteça exclusivamente dentro de hospitais universitários, fato que possibilita o conhecimento quanto à organização e gestão da rede de assistência, evita a especialização precoce e o aprendizado desconectado da realidade sanitária em que serão inseridos futuramente, além de contribuir para o fortalecimento do Sistema Único de Saúde (SUS) (BISCARDE; PEREIRA-SANTOS; SILVA, 2014).

As aulas teóricas tiveram como principal público os membros efetivos da LAUPA, funcionando como um espaço de aprendizado e capacitação dos membros da liga para a posterior realização de atividades e ações que visassem promover a saúde do homem e colaborar na educação em saúde. Dentre as ações desenvolvidas pelas ligas em geral estão aulas teóricas, discussão de casos clínicos, seminários, minicursos, atividades práticas como acompanhamento de ambulatórios e atividades voltadas para a promoção à saúde que, normalmente, são negligenciadas pelas instituições de ensino. Tais atividades contribuem com a consolidação, integração e ampliação dos conhecimentos teórico-práticos, além de fomentarem o ensino e a pesquisa (BASTOS, 2012; SANTANA, 2012).

As palestras voltadas à Educação Sexual objetivaram a criação de um canal para orientação e esclarecimento de dúvidas dos estudantes da escola Tiradentes I. Os alunos participaram ativamente das discussões e o ambiente ficou propício para a difusão das informações. A educação em saúde, em sua abrangência, deve ser assimilada como uma importante vertente à prevenção, e na prática busca a melhoria das condições de vida e de saúde das populações. Essa abordagem, no entanto, deve ser realizada de modo que o conhecimento seja construído de forma conjunta entre profissionais de saúde e comunidade, em um ambiente em que prevaleça o diálogo e a troca de experiências, e não a tentativa de transmissão unilateral de práticas ou comportamentos considerados corretos. Dessa maneira, espera-se que os indivíduos alcançados durante estes encontros participem de um aprendizado consciente, advindo da reflexão crítica acerca de sua realidade e focado na melhoria dos determinantes de saúde em seu meio (ALVES; AERTS, 2011; FERREIRA et al., 2014; GOMES; MERHY, 2011).

A diretoria da escola mostrou-se satisfeita com a iniciativa da LAUPA e as outras turmas foram disponibilizadas para a continuidade dos ciclos de palestras.

A ação Bem Estar Global teve a intenção de chamar a atenção da população para os principais sintomas relacionados às doenças mais prevalentes na população brasileira, bem como para a importância da busca do atendimento médico precocemente. O estande de urologia contou com a exposição de imagens anatômicas do aparelho geniturinário masculino e feminino, atentando para as principais diferenças na anatomia e patologias associadas a cada gênero. O número de indivíduos atendidos no estande da SBU foi de aproximadamente 200, de acordo com as assinaturas que constaram na lista de controle criada para estimar a participação do público.

Através da promoção da saúde,objetivam-se alterações comportamentais que possam beneficiar as camadas mais amplas da sociedade. Os programas de promoção em saúde podem ser utilizados como instrumento para diminuir a abstenção masculina ao serviço de saúde e para promover mudanças no estilo de vida destes indivíduos (LEITE et al.,2010).

Dentre as formas de abordagem para a promoção da saúde, o diálogo possibilita a troca de saberes entre os participantes do Projeto e a comunidade, valorizando a singularidade e o conhecimento de cada sujeito, bem como a implementação das diretrizes do SUS e o preparo dos futuros profissionais da saúde para que assistam a população de maneira mais preparada. Têm-se o trabalho em grupo, que permite a quebra da relação vertical comum entre o profissional da saúde e o sujeito da ação, e facilita a expressão das necessidades, expectativas, angústias e circunstâncias de vida, com impacto na saúde individual e de grupos. Ao se tratar de educação para a prevenção do câncer de próstata, é preciso mais divulgação, por meio de palestras, distribuição de panfletos, cartazes educativos, de modo a fazer uma campanha de sensibilização do público masculino e estimular a busca ao rastreamento (ANJOS et al., 2016; SOUZA et al., 2005; SOUZA et al., 2014).

Durante os cinco dias da Ação do “Novembro Azul”, realizada na UBS da Marambaia,foram atendidos e examinados um total de 120 pacientes, com idade entre 45 e 75 anos. Os acadêmicos de medicina tiveram a oportunidade de acompanhar o atendimento dos pacientes junto ao urologista, bem como tiveram o contato com o exame físico prostático, contribuindo indubitavelmente para o aprendizado teórico prático e em suas formações acadêmicas.

Foi solicitado um total de 101 exames de PSA e 104 pacientes atendidos no dia preencheram os questionários do IIEF e IPSS. A partir dos 50 anos, todo homem deve fazer uma avaliação clínica da próstata anual com um urologista, que consiste no toque retal.Além disso, a Sociedade Brasileira de Urologia recomenda que os homens dessa mesma faixa etária realizem também a dosagem do antígeno específico (PSA), através do exame de sangue. Apesar de o câncer de próstata ser a quarta causa de morte no Brasil, o seu rastreamento é norteado por preconceito, falta de conhecimento ou mesmo informações incorretas (ANJOS et al., 2016).

Os resultados do exame médico e dos questionários foram utilizados para a elaboração de dois resumos apresentados no XVIII Congresso Médico-Amazônico, com os títulos “Prevalência de sintomas urinários e hiperplasia prostática benigna em pacientes em idade de rastreio para câncer de próstata” e “Prevalência de disfunção erétil nos usuários da unidade básica de saúde da Marambaia durante a semana de atenção a saúde do homem”.

Conclusão

Desde sua criação, a LAUPA vem se tornando um espaço cada vez mais importante na formação acadêmica dos alunos interessados nos temas urológicos, quebrando as amarras da educação tradicional teórico-prática das universidades, e propiciando que os alunos tenham contato direto com outras áreas de fundamental importância para a formação de profissionais completos, como a promoção de saúde e educação em saúde.

As atividades desenvolvidas pela liga também têm sido de grande valia na sociedade, ao contribuírem para uma melhor promoção e educação em saúde, áreas reconhecidamente deficitárias na saúde paraense (e brasileira, como um todo), principalmente entre o público masculino.

Desta forma, a liga espera continuar suas atividades, a fim de contribuir para a aproximação do acadêmico de medicina da comunidade em que ele está inserido, possibilitando uma ajuda mútua entre ambos e favorecendo uma formação profissional mais completa, que muitas vezes não é fornecida pela universidade. Ademais, espera-se que as ligas acadêmicas em geral, assim como a LAUPA, se consolidem ainda mais nas universidades, e sirvam de referência para os alunos que buscam ampliar sua visão de mundo, bem como a gama de aplicabilidades que sua profissão pode oferecer para a sociedade.

Referências

ALVES, G.G.; AERTS, D. As práticas educativas em saúde e a Estratégia Saúde da Família. Ciênc. Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 16, n. 1, p. 319-325, jan. 2011.

ANJOS, Q.S. et al. Práticas de prevenção do câncer de próstata em uma Unidade Básica de Saúde no Município de Rolim de Moura – RO. Rev. Enfermagem e Saúde Coletiva, v. 1, n.1, p. 2-18, 2016.

BASTOS, M.L.S. et al. O papel das ligas acadêmicas na formação profissional. J. Bras. Pneumol., v. 38, n. 6, p. 803-805, 2012.

BISCARDE, D.G.S.; PEREIRA-SANTOS, M.; SILVA, L.B. Formação em saúde, extensão universitária e Sistema Único de Saúde (SUS): conexões necessárias entre conhecimento e intervenção centradas na realidade e repercussões no processo formativo. Interface - Comunicação, Saúde, Educação, v. 18, n. 48, p. 177-186, 2014.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem (princípios e diretrizes). Brasília, DF, 2008.

BRASIL. Ministério da Saúde. Glossário temático: gestão do trabalho e da educação na Saúde. Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde. Brasília, DF, 2012.

BRASIL. Ministério da Saúde. Vigitel Brasil 2014: vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico. Brasília, DF, 2015.

FERREIRA, V.F. et al. Educação em saúde e cidadania: revisão integrativa. Trab. Educ. Saúde, Rio de Janeiro, v. 12, n. 2, p. 363-378, 2014.

FORPROEX. Política Nacional de Extensão Universitária. Manaus: FORPROEX, 2012. Disponível em: http://www.renex.org.br/documentos/2012-07-13-Politica-Nacional-de- Extensao.pdf. Acesso em: 13 mar. 2016.

GOMES, L.B.; MERHY, E.E. Compreendendo a educação popular em saúde: um estudo na literatura brasileira. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 27, n. 1, p. 7-18, jan. 2011.

HAMAMOTO FILHO, P.T. et al. Normatização da abertura de ligas acadêmicas: a experiência da Faculdade de Medicina de Botucatu. Rev. Bras. Educ. Med., Rio de Janeiro, v. 34, n. 1, p. 160-167, mar. 2010.

LEITE, D.F. et al. A influência de um programa de educação na saúde do homem. O Mundo da Saúde, v. 34, n. 1, p. 50-56, 2010.

LIPSKY, M.S.; CANNON, M.; LUT, M.N. Gender and health disparities: The case of male gender. Disease-a- Month., v. 60, p. 138–144, 2014.

MARTINS, L.M. Ensino-pesquisa-extensão como fundamento metodológico da construção do conhecimento na universidade. São Paulo: Unesp, 2012.

MOURA, E.C. et al. Perfil da situação de saúde do homem no Brasil. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2012. (Relatório técnico).

NASCIMENTO, E.F.; GOMES, R. Marcas identitárias masculinas e a saúde de homens jovens. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 24, n. 7, p. 1556-1564, jul. 2008.

NUNES, A.L.P. F.; SILVA, M.B.C. A extensão universitária no ensino superior e a sociedade. Mal-Estar e Sociedade, v. 4, n. 7, p. 119-133, 2011.

PAULA, J.A. A extensão universitária: história, conceito e propostas. Interfaces - Revista de Extensão da UFMG, v. 1, n. 1, p. 5-23, 2013.

SANTANA, A.C.D.A. Ligas acadêmicas estudantis. O médico e a realidade.Medicina (Ribeirao Preto. Online), v. 45, n. 1, p. 96-98, 2012.

SCHOFIELD, T. et al. Understanding Men’s Health and Illness: A Gender Relations Approach to Policy, Research, and Practice.J Am Col Health, v. 48, n. 6, p. 247-256, Mai. 2000.

SCHRAIBER, L.B. et al. Necessidades de saúde e masculinidades: atenção primária no cuidado aos homens. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 26, n. 5, p. 961-970, Mai, 2010.

SOUZA, A. C. et al. A educação em saúde com grupos na comunidade: uma estratégia facilitadora da promoção de saúde. Rev. Gaúcha Enferm., v. 26, n. 2, p.147, 2005.

SOUZA, A.R. et al. Extensão universitária de enfermagem na atenção à saúde do homem: experiências em um cenário baiano. Revista Eletrônica Gestão & Saúde, v. 5, p. 2709-22, 2014.



Buscar:
Ir a la Página
IR
Visualizador XML-JATS4R. Desarrollado por