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CIRCO EM CONTEXTOS – DIÁLOGOS ENTRE A CULTURA E A EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA

Mayara Trevizan
Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO), Brasil
Paula Izabella Chagas
Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO), Brasil
Gláucia Andreza Kronbauer
Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO), Brasil

CIRCO EM CONTEXTOS – DIÁLOGOS ENTRE A CULTURA E A EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA

Revista Conexão UEPG, vol. 14, núm. 1, pp. 130-139, 2018

Universidade Estadual de Ponta Grossa

Recepção: 20 Junho 2017

Aprovação: 30 Agosto 2017

Resumo: Este artigo tem por objetivos traçar a história e discutir as experiências do projeto de extensão “Circo em Contextos”, do Departamento de Educação Física da Universidade Estadual do Centro-Oeste / UNICENTRO, campus Irati, Paraná, desde as suas primeiras atividades, em 2010, até a data de hoje. O presente trabalho foi realizado por meio de pesquisa documental e entrevistas com integrantes e ex-integrantes do projeto. Conta ainda com traços de autobiografia, uma vez que suas autoras são também participantes desse projeto extensionista. O referido projeto alcançou proporções maiores do que sua proposta, pois se tornou um dos poucos espaços para a experimentação de técnicas circenses e de conhecimento do Circo como uma importante manifestação cultural da história da humanidade.

Palavras-chave: Circo, extensão universitária, formação docente, cultura.

Abstract: This paper aims to trace the history and discuss the experiences of the project Circus in Contexts (Circo em Contextos) from the Department of Physical Education at the Irati Campus, Paraná - State University of the Midwest, (UNICENTRO, in the Portuguese acronym) since its first activities in 2010. The study was carried out through a documentary research in addition to interviews with current and former members of the project. It has also autobiographical features, since its authors are also members of the project. It is believed that the project has overcome its initial proposal, as it has become one of the few spaces for the experimentation of circus techniques and knowledge about the circus as an important cultural manifestation of the history of humanity.

Keywords: Circus, university outreach projects, teacher education, culture.

Do picadeiro à universidade – a democratização dos conhecimentos circenses

A história do Circo tem suas origens, há mais de 3.000 anos, na China, onde foram encontradas pinturas rupestres retratando acrobatas, equilibristas e contorcionistas. Segundo Mauclair, citado por Duprat (2007), a acrobacia foi a primeira manifestação artística corporal do homem, além de uma forma de treinamento para os guerreiros de quem se exigia agilidade, flexibilidade e força. Com o tempo, essas qualidades se somaram à graça, à beleza e à harmonia.

Comumente, a história do Circo é correlacionada com os jogos na Roma Antiga, porém é necessário termos cautela, pois em vários outros países e épocas foram encontradas pinturas milenares que dão indícios de várias atividades que são encontradas hoje nos circos, como malabarismo, dança, música e equilibrismo, sendo as apresentações realizadas tanto ao ar livre quanto em locais fechados.

Por isso é importante diferenciarmos as artes circenses, como esse conjunto de práticas corporais que aparecem em diversos tempos, espaços e com distintos significados na história da humanidade, do Circo como espaço em que todas as artes circenses são finalmente congregadas em um espetáculo único. Esse último é o que conhecemos por Circo Moderno, que teve sua origem na Inglaterra, no século XVIII, quando um cavaleiro britânico, Philip Astley, inaugurou uma escola para atividades equestres. Em algum tempo, a escola se transformou no anfiteatro Astley, que passaria a apresentar espetáculos integrando a arte equestre com as artes dos saltimbancos e funâmbulos das feiras, praças e festas populares. (SILVA; ABREU, 2009).

Astley é considerado o inventor da pista circular e criador de um novo espetáculo. [...] A uma equipe de cavaleiros acrobatas, ao som de um tambor que marcava o ritmo dos cavalos, associou dançarinos de corda (funâmbulos), saltadores, acrobatas, malabaristas, Hércules adestradores de animais. Esta associação de artistas ambulantes das feiras e praças públicas aos grupos equestres de origem militar é considerada a base do “circo moderno”. (SILVA, 2003 , p. 19)

Outro novo espetáculo surgiu nos Estados Unidos e em outras partes do mundo onde não havia espaços adequados. Com o estilo dos espetáculos de Astley, mas ao ar livre, posteriormente, sob uma lona, surgiu o “Circo americano” ou o “Circo de lona”. (CIRCONEWS, 2014). Da mesma forma, os grupos de ambulantes adotaram a arquitetura nômade de tendas ou barracas.

No Brasil, o Circo se desenvolveu, principalmente, a partir de artistas ambulantes, chamados também “mambembes”. De acordo com Silva (2003), a organização do trabalho e da produção artística desse Circo brasileiro pode ser definida por alguns aspectos: o nomadismo; a contemporaneidade, por meio do diálogo tenso e constante com as múltiplas linguagens artísticas de seu tempo; e, o que nos interessa nessa discussão, a forma familiar e coletiva de constituição do profissional artista, implicando num processo de formação/socialização/aprendizagem, bases de estruturação e identidade.

[...] ser tradicional, para o circense, não significava e não significa apenas representação do passado em relação ao presente. Ser tradicional significa pertencer a uma forma particular de fazer circo, significa ter passado pelo ritual de aprendizagem total do circo, não apenas de seu número, mas de todos os aspectos que envolvem a sua manutenção. Ser tradicional é, portanto, ter recebido e ter transmitido, através das gerações, os valores, conhecimentos e práticas, resgatando o saber circense de seus antepassados. Não apenas lembranças, mas uma memória das relações sociais e de trabalho, sendo a família o mastro central que sustenta toda esta estrutura. (SILVA, 2003 , p. 65-66).

Ou seja, o Circo tradicional manteve os conhecimentos relativos às técnicas circenses e aos modos de fazer Circo sob os cuidados daqueles que viviam no Circo. Esses conhecimentos eram repassados no convívio intergeracional e no dia-a-dia dos circenses. Mas esse processo começou a se modificar a partir da criação da primeira escola de Circo que temos notícias: a escola de Moscou, fundada em 1927, acompanhou o movimento de estatização do Circo na União Soviética para atender à necessidade de conscientização do proletariado revolucionário. (TITOV, 1975).

A partir da segunda metade do século XX, as escolas de Circo se espalharam pela Europa e América. A Escola Nacional de Circo Annie Fratellini foi a primeira a ser inaugurada na Europa Ocidental, em 1974, seguida pelo CNAC (Centre National des Arts du Cirque – Centro Nacional das Artes Circenses), em 1984, ambos na França.

A partir dos anos 1970, ampliando-se as possibilidades de acesso aos conhecimentos das técnicas circenses, pessoas que não pertenciam tradicionalmente ao Circo formaram diversos grupos de espetáculos como, por exemplo: Cirque Nu, Circo Zingaro, Cirque Baroque; o Circus Oz, entre outros. Em 1984, surgia em Quebec o famoso Cirque du Soleil, companhia milionária que hoje ilustra aspectos de um novo Circo que não tem mais seus aspectos fundamentais no nomadismo e na organização familiar, mas mantem a contemporaneidade da linguagem circense.

No Brasil, a primeira Escola de Circo iniciou suas atividades em 1978, na cidade de Salvador. (SILVA; ABREU, 2009). Em 1982, foi criada a Escola Nacional do Circo, mantida integralmente pelo Governo Federal, via FUNARTE (Fundação Nacional das Artes). Hoje há muitas escolas espalhadas pelo território brasileiro, algumas específicas de formação profissional, outras associadas a projetos sociais que atendem populações em situação de vulnerabilidade ou ainda outras que oferecem as atividades circenses para condicionamento físico. (KRONBAUER, 2016).

Data deste período também as primeiras produções acadêmicas que pautam o tema. Ermínia Silva cita dois importantes trabalhos da década de 1970, publicados em revistas da época, que analisam o Circo, a cultura popular e a cultura de massa, um de José Barriguelli, de 1974, e outro de Pedro Della Paschoa, de 1978. (SILVA E. , 1996). Ao procurar nos programas de Pós-Graduação, encontramos a primeira dissertação de mestrado sobre o Circo produzida no ano de 1978 por Maria Augusta Fonseca (FONSECA, 1978), na área de Letras. Esses dados apontam para uma aproximação entre Circo e universidade ainda incipiente. Quando consideramos, especificamente, estudos que abordam a inserção do Circo na Educação Básica, em projetos sociais, em instituições de atendimento à saúde, ou mesmo em academias de ginástica, as aproximações são ainda mais recentes. (KRONBAUER; NASCIMENTO, 2013).

No entanto, não podemos ignorar que as escolas de Circo e a abertura dos conhecimentos sobre as diversas técnicas circenses têm possibilitado a democratização daquilo que as dinastias circenses construíram ao longo de sua história. Conforme destacam Bortoleto e Machado (2003), atualmente, observam-se propostas que pretendem atender a diferentes objetivos, dentre os quais se destacam os de lazer, recreativos, sociais, artísticos e, principalmente, educacionais.

O trabalho que aqui iniciamos discutirá as experiências do projeto de extensão “Circo em Contextos”, do Departamento de Educação Física da Universidade Estadual do Centro-Oeste/UNICENTRO, campus Irati, Paraná. Esse projeto iniciou suas ações no ano de 2010, como um projeto piloto, e mantém-se ativo até hoje, consolidando um importante espaço de experimentação de práticas corporais diversificadas, fundamentadas numa perspectiva artística.

Nesse período, passaram por sua história acadêmicos dos cursos do Setor de Ciências da Saúde da UNICENTRO, alunos do Ensino Médio do Instituto Federal do Paraná/IFPR, campus Irati, professores da UNICENTRO e do IFPR, além de centenas de pessoas atendidas pelo projeto nas oficinas em instituições de ensino e de saúde do Município de Irati e proximidades.

Este trabalho foi realizado por meio de pesquisa documental com análise dos projetos inscritos na Pró- Reitoria de Extensão da Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO), e dos relatórios finais de cada ano em que o projeto aconteceu, os relatórios de bolsistas, os trabalhos acadêmicos produzidos e o site do projeto. Além disso, foram realizadas entrevistas com integrantes e ex-integrantes do Circo em Contextos, no sentido de verificar os motivos que os levaram a procurar o projeto, qual a sua importância, bem como as contribuições para a sua formação. Para fins de diferenciação, os relatos das entrevistas estão destacados em itálico e os nomes dos entrevistados foram modificados, utilizando os nomes de personagens do livro “O Circo”, de Gary Jennings. (JENNINGS, 1987). Esta pesquisa também aponta traços da autobiografia, uma vez que suas autoras assumem papel privilegiado no processo de investigação, pois integram a equipe do Circo em Contextos, sendo elas duas acadêmicas do curso de Educação Física e bolsistas do projeto, e a idealizadora e coordenadora do projeto.

Pressupostos teóricos

Com o intuito de apresentar as bases teóricas que fundamentam essa ação extensionista, partimos da perspectiva de que o corpo e o movimento são a materialidade da nossa existência, meio de interrelação com o ambiente e com os outros seres. É por meio do corpo que o ser humano transforma a natureza para produzir sua existência e, ao mesmo tempo, nesse processo o corpo em si é transformado. Se, no princípio, o corpo se constituiu como dimensão unicamente biológica o aspecto natural do homem, compreendemos que a partir do trabalho esse corpo se reelabora socialmente, como meio (instrumento) de transformação da natureza e, ao mesmo tempo, como resultado do trabalho, em sua própria transformação. Na Ideologia Alemã, Marx e Engels abordam o materialismo de Feuerbach e apontam para a limitada compreensão do autor quando se refere ao homem como objeto do mundo sensível. Para eles, a relação do ser humano com o mundo sensível não é unidirecional, mas dialética; ele é objeto, mas também agente do mundo sensível. (MARX; ENGEL, 2007). Surge então uma nova realidade que deixa de ser natural, passando a ser social. Ou seja, se o corpo é meio de trabalho, mas também um fim em si mesmo, ele deixa de ser um organismo biológico e se torna uma realidade social – humana.

O segundo aspecto a se considerar é o Circo como uma forma de arte, uma construção histórica e cultural com fins de atendimento às necessidades estéticas de cada sociedade. Como afirma Fischer (1983), o ser humano busca constantemente a plenitude que transcende o ser individual e, para isso, ele precisa se apoderar de tudo aquilo de que a humanidade é capaz, ou seja, todas as experiências que ele potencialmente pode realizar como indivíduo. Nesse caso, a “arte é o meio indispensável para essa união do indivíduo com o todo; reflete a infinita capacidade humana para a associação, para a circulação de experiências e idéias”. (FISCHER, 1983 , p. 13).

Contudo, segundo o autor, a arte como uma construção que toma forma na objetividade, na existência material, não está isenta das contradições inerentes à sociedade na qual surge. Como aponta Lukács, “nem a ciência, nem os seus diversos ramos, nem a arte, possuem uma história autônoma, imanente, que resulte exclusivamente de sua dialética interior”. (LUKÁCS, 2012, p. 12).

Numa sociedade dividida em classes, portanto, a arte pode assumir funções distintas: se, por um lado, ela pode embriagar sua plateia de magia e experiências irreais para disfarçar as desigualdades sociais existentes e desmobilizar, por outro lado, ela pode revelar a realidade social “no seu mecanismo de aprisionamento posta sob uma luz que devasse a “alienação” do tema e dos personagens. A obra de arte deve apoderar-se da plateia não através da identificação passiva, mas através de um apelo à razão que requeira ação e decisão”. (FISCHER, 1983 , p. 15). Nesse caso, ela se torna uma importante mediadora para a tomada de consciência, aspecto indissociável da transformação.

A terceira definição imprescindível para essa proposta extensionista está relacionada à função da educação, em suas mais diversas formas. Acreditamos no conceito de educação como processo que consiste em “produzir em cada indivíduo singular, a humanidade que é produzida histórica e coletivamente pelo conjunto dos homens”. (SAVIANI, 1995, p. 11). Uma proposta de educação crítica e transformadora trata da possibilidade de acesso aos conhecimentos, habilidades, comportamentos, valores, etc. que permitam ao ser humano se constituir como ser social e produzir suas condições materiais de existência (Ibidem).

Nesse cenário, a Educação Física surge como a área de estudos e atuação que tem como objeto as manifestações da cultura corporal em suas diversas dimensões: histórica, cultural, econômica, biológica, social, artística, entre outras. No entanto, parece que ainda mantemos parte dos fundamentos da educação institucionalizada do corpo, quando, no século XIX, os aspectos artísticos foram abolidos em favor da eficiência técnica e da funcionalidade para o trabalho fabril. O corpo – enquanto meio e produto de humanização pelo trabalho – se tornou apenas força motriz para o sistema produtivo. (SOARES, 2002).

Muitas rotinas escolares apresentam um conjunto de normas extremamente limitantes de ação corporal: em sala de aula os alunos sentam, de preferência com uma “postura correta”, em cadeiras padronizadas, apoiam os braços e escrevem sobre mesas padronizadas, olhando para frente em silêncio. (STRAZZACAPPA, 2001). Fora da escola, a educação do corpo assume o discurso midiático para atender aos interesses do mercado que, há cada dia, cria novas necessidades corporais e novos padrões a serem reproduzidos e, com eles, um conjunto de produtos e serviços para suprir tais necessidades e alcançar os referidos padrões. (SILVA; 2001). Ou seja, ao invés de potência, o que se percebe são formas de coerção do corpo.

A partir das bases teóricas apresentadas, acreditamos que: sendo o corpo a materialização da nossa existência, nosso meio de humanização; sendo o Circo uma construção humana para o atendimento às nossas necessidades estéticas e importante agente de disseminação cultural; sendo a educação o processo de socialização de conhecimentos construídos culturalmente pela humanidade ao longo de sua história, que ensina o ser humano a ser humano; as práticas corporais circenses têm importante papel na formação de seres humanos que reconheçam em si a potência para a formação e a transformação de suas formas de existência.

Circo em Contextos – como tudo começou...

O projeto de extensão “O Circo em Contextos” se realizou entre os anos de 2010 e 2013, retomando suas atividades no ano de 2016, vinculado ao Departamento de Educação Física da Universidade Estadual do Centro-Oeste, Campus Irati, Paraná.

Inicialmente, no ano de 2010, o projeto foi intitulado “Manifestações Artísticas do Movimento – O Circo”, com a duração de apenas cinco meses. Seus objetivos se concentravam em oferecer espaços de experimentação das práticas corporais circenses para comunidade universitária e crianças em idade escolar do Município de Irati, bem como se tornar uma oportunidade de integração entre teoria e prática para alunos do curso de Licenciatura em Educação Física.

As atividades realizadas em 2010 foram desenvolvidas em diferentes segmentos, inicialmente com o grupo de estudos, espaço para apresentação de artigos relacionados ao tema, com discussão e reflexão sobre os mesmos, seminários sobre atividades pedagógicas alternativas e a programação das oficinas. Posteriormente, foram ofertadas oficinas de técnicas de acrobacias de solo, acrobacia aérea em tecido, expressão corporal e malabares e dança. Essas oficinas eram abertas aos funcionários, professores e alunos das escolas do Município de Irati-PR.

Destacamos que, em parceria com o projeto “Intervenção com práticas corporais no programa Saúde da Família”, foram realizadas oficinas circenses com as crianças participantes do Programa Saúde da Família. Foram as primeiras oficinas nas quais acadêmicos colaboradores do projeto “Manifestações Artísticas do Movimento – O Circo” assumiram a responsabilidade docente com crianças em idade escolar, o que demandou amplo planejamento e o estudo da pedagogia das práticas corporais circenses.

Nesse mesmo ano, a coordenadora do projeto ministrava as disciplinas de Atividades Complementares (segundo e terceiro períodos) e Extensão em Esporte e Lazer (terceiro período) no curso de Educação Física. Ao aliar as atividades de ensino e extensão, integrou as práticas corporais circenses como conteúdo da primeira disciplina, e propôs um projeto piloto com palhaços no hospital, na segunda disciplina.

Segundo o relatório anual do projeto “Manifestações Artísticas do Movimento – O Circo” (2010), quando iniciaram as aulas, os alunos se mostraram bastante receptivos, praticando os exercícios propostos. Em apenas duas semanas, as diversificação das experiências corporais dos acadêmicos foi perceptível, cada um direcionado às técnicas com as quais mais se identificava, além de auxiliarem uns aos outros. Em pouco tempo, os acadêmicos se tornaram protagonistas nas aulas e conseguiram criar/experimentar movimentos próprios que ainda não haviam sido trabalhados pela professora. As experiências da disciplina culminaram com uma apresentação criada e executada coletivamente pela turma, na abertura dos Jogos da Comunidade Acadêmica (JACUs).

Em relação às atividades no hospital, inicialmente, a professora propôs um trabalho de discussão sobre o tema na disciplina de Extensão em Esporte e Lazer, terceiro ano do curso de Educação Física da UNICENTRO. Os acadêmicos sugeriram que as discussões de sala de aula se transformassem em experiências formativas no campo. A direção do Hospital Santa Casa de Irati foi contatada para verificar a viabilidade da proposta. A partir do consentimento da direção do hospital, a equipe da Segurança do Trabalho organizou uma reunião com os acadêmicos para fornecer algumas orientações e auxiliar no planejamento das atividades.

Os acadêmicos se distribuíram em grupos para atender todos os setores do hospital: clínica médica, clínica cirúrgica, pediatria, psiquiatria, hemodiálise e as mães da UTI neonatal. Foram elaborados alongamentos, atividades manuais e jogos adaptados à condição dos pacientes, além de esquetes e contação de “causos”. Em todas as atividades havia o acompanhamento da professora responsável e da assistente social do hospital.

Por fim, houve o “encontro de trocas”, no qual os grupos compartilharam as experiências nos diferentes setores do hospital e puderam também avaliar as atividades propostas e as possibilidades de atuação em um ambiente que não costumam frequentar.

Circo em Contextos – novas propostas...

A partir das experiências e demandas observadas do ano de 2010, o projeto foi reformulado em 2011 , assumindo o nome de “O Circo em Contextos”. A mudança no nome representou também a ampliação do foco de atuação do projeto para diversos contextos, tanto da educação quanto da saúde. Além das atividades propostas no ano anterior, também oferecemos oficinas de atividades circenses aos idosos da Universidade Aberta da Terceira Idade (UATI) e em instituições de saúde do Município de Irati. O projeto esteve presente em diversos eventos como a Feira de Profissões da UNICENTRO, o Dia do Circo, junto à disciplina de Recreação do curso de Educação Física e também à semana cultural da escola Nossa Senhora de Fátima, do distrito de Guamirim. (O CIRCO EM CONTEXTOS, 2011).

As oficinas para crianças em idade escolar eram organizadas com o objetivo de oferecer a possibilidade de experimentação das práticas corporais circenses, bem como a oportunidade de prática pedagógica para os alunos do curso de Licenciatura em Educação Física. Aconteceram não apenas em escolas, mas também com grupos do Programa Saúde da Família, do Centro de Atenção Psicossocial, e na Feira das Profissões, onde os visitantes puderam vivenciar algumas técnicas circenses. (O CIRCO EM CONTEXTOS, 2011, 2012, 2013).

A partir da divulgação do projeto, por meio do rádio e de uma carta encaminhada a todas as escolas, a direção e equipe pedagógica faziam contato com a coordenação do projeto. A coordenadora então verificava a disponibilidade de horários dos acadêmicos participantes do projeto para realizarem as oficinas e agendava com a escola. Após esse contato, elaborávamos uma programação de atividades e a lista de materiais necessários. Os acadêmicos eram divididos em grupos nos quais planejavam as atividades propostas como: expressão corporal, acrobacia aérea em tecido, acrobacias de solo individual, malabares, diabolô, bandeira, devil stick, atividades de criatividade e experimentação de movimentos distintos daqueles movimentos feitos no dia a dia. As atividades eram planejadas a partir do material produzido por Marco Antonio Bortoleto e seu grupo de estudos sobre a pedagogia das práticas corporais circenses (BORTOLETO, 2008; BORTOLETO, 2010; BORTOLETO, PINHEIRO E PRODÓCIMO, 2011) e de informações que encontrávamos em sites da internet. Aprendemos a buscar referências e construir nossas próprias estratégias de ensino.

Cada oficina realizada era um aprendizado diferente. O fato de trabalhar com crianças carentes, por exemplo, fazia-nos refletir sobre muitos aspectos que não nos atentávamos no nosso cotidiano. Em uma das visitas às escolas, entre uma oficina e outra, as crianças nos convidaram para jogar futebol no recreio. Esse fato nos fez perceber o quanto pequenos gestos geram sorrisos sinceros.

No ano de 2011 , também começamos a realizar visitas semanais aos internos do Hospital Santa Casa. Para fundamentar esse trabalho, assistimos o filme dos “Doutores da Alegria” (Doutores da Alegria, 2005) e discutimos sobre o livro “Boas Misturas”, de Morgana Masetti. (MASETTI, 2003). Os acadêmicos eram divididos em grupos e atuavam como palhaços, por meio de pequenas encenações, histórias, dinâmicas, demonstração de algumas técnicas do Circo, todas permeadas por conversas e risos. Em 2013 -2014, somaram-se à equipe alunos do curso Técnico em Informática Integrado ao Ensino Médio do Instituto Federal do Paraná, Campus Irati, por meio de parceria com o projeto de extensão “Circo sem Lona”, daquela instituição.

Eram atendidos os seguintes setores:

  1. • Clínica médica: pacientes adultos em tratamento para alguma doença. Nesse setor, encontrávamos, com frequência, idosos deixados por semanas no hospital sem receber visitas. A nossa presença era um dos poucos momentos em que tinham alguém para conversar, contar suas histórias e ouvir outras tantas.

    • Clínica cirúrgica: pacientes adultos em recuperação pós-cirúrgica, geralmente por fraturas ósseas. Alguns se encontravam muito debilitados, outros com fraturas imobilizadas, mas em fase avançada de recuperação.

    • UTI Neonatal: local onde as atividades eram realizadas com as mães dos bebês que estavam há dias internados. Em algumas ocasiões, as enfermeiras permitiam que entrássemos para ver os bebês, momento sempre esperado por nós com entusiasmo.

    • Pediatria: crianças internadas que tinham que ficar hospitalizadas alguns dias até sua recuperação. Nessas ocasiões, por vezes era possível tirar as crianças do leito ou fazer algumas brincadeiras com elas na cama. O fato de ver palhaços chegando a seus quartos, trazendo bexigas, fazendo palhaçadas, brincando, já deixava o clima do hospital totalmente diferente.

    • Hemodiálise: pacientes adultos em hemodiálise, que vinham ao hospital duas ou três vezes por semana. Nesse caso, eram realizadas atividades como dobraduras, manipulação de objetos, alongamentos e alguns jogos adaptados ao espaço.

    • Psiquiatria: pacientes com distúrbios neurológicos e pacientes em tratamento para alcoolismo e uso de drogas ilícitas. Realizávamos jogos, brincadeiras, rodas de música, enfim, atividades que envolvessem a participação dos pacientes.

Nossa atuação no hospital não envolvia apenas os pacientes, mas também seus acompanhantes e a equipe profissional do hospital. Todas as visitas feitas pelo grupo eram realizadas a caráter, para sermos diferentes das outras pessoas que frequentavam e trabalhavam no hospital, ou seja, a construção de um mundo diferente começava pela roupa e pela maquiagem. Em muitas ocasiões, elaborávamos visitas temáticas como festa junina, visita do pijama, entre outros. Era divertido quando os pacientes, acompanhantes, enfermeiros e médicos passavam pelos corredores e nos enxergavam com roupas enfeitadas que nós mesmos decorávamos, ou de pijama, vestidos de palhaços, perucas coloridas, chapéus malucos e caras pintadas, com brinquedos pendurados, andando de cadeiras de rodas fazendo de conta que era o nosso carro. Segundo Masetti (2003), o paciente tem sua existência limitada à rotina hospitalar, quando é tratado como incapaz e reduzido a um objeto sendo manipulado. Por isso, além de fazer rir, nosso trabalho era também fazer com que o paciente fosse capaz de construir outra existência para além das paredes do seu quarto.

Foram muitas as experiências. Às vezes era difícil presenciar tantas situações de sofrimento, as pessoas debilitadas, tristes, mas certamente isso contribuiu para que fôssemos capazes de enfrentar a diversidade da existência humana. Nós, com o nariz vermelho, rosto pintado, conseguíamos superar as limitações daquele lugar e levar sorrisos sinceros e possibilidades de vida para as pessoas.

As oficinas da UATI eram realizadas com o grupo de idosos a cada quinze dias. Eram elaboradas atividades capazes de reconstruir as relações dos idosos com seu corpo por meio da experimentação e da criatividade, buscando fazê-los relembrarem o seus momentos de infância. (KRONBAUER, SCORSIN E TREVIZAN, 2013). O desafio foi proposto ao grupo que estava trabalhando com atividades circenses, na tentativa de trabalhar com a memória, socialização do grupo, manipulações de objetos, criatividade, comunicação, expressão corporal, entre outras.

A UATI oferecia um conjunto de oficinas para que os idosos escolhessem. Para nossa surpresa, nossa oficina estava sempre cheia. As idosas relatavam que gostavam de ir naquela oficina pela alegria, disposição, carinho e pelo acolhimento nos corredores e na porta da sala. Uma análise mais aprofundada desse trabalho pode ser encontrada no texto “Significados do Circo e das Atividades Circenses para os Idosos da UATI”, publicado por nós em 2013. A oportunidade de conhecer e trabalhar com outras pessoas proporcionou uma prática acadêmica enriquecedora no sentido de sermos capazes de adaptar e criar estratégias para atender a diversidade.

O projeto também ofereceu, e ainda oferece, oficinas para a comunidade universitária. Estas aconteciam duas vezes por semana, nas dependências da UNICENTRO, e contavam com a participação de acadêmicos de diversos cursos, funcionários terceirizados do setor de limpeza e cozinha, alunos da rede pública de ensino e também professores da universidade. As atividades propostas eram semelhantes àquelas das oficinas realizadas nas escolas. Atualmente, participam das oficinas acadêmicos do curso de Educação Física e uma professora do curso de Turismo. Cada participante assume também, em determinados momentos, a responsabilidade de planejar e ministrar alguma oficina.

Para integrar as atividades do projeto, foi organizado um grupo de estudos com produção acadêmica, com propósito de discutir e proporcionar momentos de reflexões sobre o Circo, suas diversas modalidades e a história de suas relações com as práticas corporais. Atendendo a um dos objetivos das atividades extensionistas, o estímulo ao estudo e à pesquisa científica, a partir da relação universidade comunidade, traz como resultado a produção de conhecimentos que podem ser convertidos em benefícios para toda a sociedade.

Atualmente, os trabalhos realizados por membros do projeto de extensão dialogam com o Grupo de Estudos e Pesquisa “Educação, Cultura e Contemporaneidade”, da UNICENTRO, bem como com o Grupo “História, Sociedade e Educação nos Campos Gerais”, da UEPG. Desde sua criação, no ano de 2010, são frutos das discussões e dos desafios propostos pelo projeto de extensão as seguintes produções: 17 resumos, resumos expandidos ou textos completos apresentados e publicados em anais de eventos; nove trabalhos de conclusão de curso, no curso de Licenciatura em Educação Física da UNICENTRO; quatro artigos publicados em periódicos e dois artigos aprovados para a publicação; um capítulo de livro com corpo editorial; uma tese de doutorado na área da Educação.

A partir das entrevistas realizadas, buscamos encontrar aspectos que remetam às motivações que levam os integrantes a procurarem o projeto Circo em Contextos, e também suas contribuições para a formação dos professores de Educação Física, mas também para a formação humana, uma vez que nem todos os integrantes foram/são acadêmicos do curso de Educação Física. As perguntas apontam para as técnicas aprendidas, para as situações que enfrentaram na prática docente com as atividades circenses (que serão discutidas no próximo item do texto), e ainda para as experiências vivenciadas no que diz respeito ao convívio social, à formação humana, ao respeito pelo outro, aos desafios, etc.

Entendo que a extensão é uma forma de interação entre universitários e comunidade de uma forma benéfica para ambos. Os projetos de extensão propiciam ao aluno a oportunidade de colocar em prática conhecimentos obtidos em sala de aula e em suas pesquisas. (Daphne)

Entre as motivações para a participação no projeto, os entrevistados apontam questões como a busca de novos conhecimentos, a superação de desafios, mas principalmente o interesse despertado por formas diversificadas de se movimentar. Destacamos que a abordagem de conteúdos circenses, em disciplinas do curso de Graduação em Educação Física, foi importante no sentido de despertar o interesse dos acadêmicos para o projeto.

A atividade circense é uma vivência muito boa porque faz parte da cultura de alguns lugares e de algumas pessoas, mas que nem todo mundo vivencia. (Spyros).

Eu realmente sempre gostei muito de circo e a curiosidade de aprender um pouco, principalmente o tecido, que é o que acho mais bonito. (Agnete).

A gente tinha a disciplina de atividades circense que nos foi ofertada no segundo ano como disciplina optativa e que me chamou muita atenção. (Zachary).

A gente tem uma disciplina no curso de atividades circenses e eu gostei muito dos conteúdos. (Autum).

Entre as técnicas aprendidas no projeto, os entrevistados citaram: malabares (bolinhas, diabolô, swing de fita, bandeira (flag) e outros objetos diversos); acrobacias individuais (equilíbrios, rolamentos, reversões, perna de pau); acrobacias coletivas (pirâmides e portagens); trabalho com materiais alternativos; expressão corporal e improviso (palhaço); acrobacias aéreas (trapézio, tecido e lira). Cabe mencionar que quando nos referimos às técnicas aprendidas, não significa que os integrantes do projeto adquirem a precisão de movimentos para a execução perfeita dessas técnicas, mas que são oportunizados momentos para a sua experimentação, para o reconhecimento das potencialidades corporais de cada um.

Por mais que não sejam movimentos perfeitos ainda, eu consigo repassar para os meus alunos, então eu posso dizer que tudo que nos é passado no Circo eu aprendi, a técnica de cada um. (Gavrilla).

As experiências no projeto Circo em Contextos também proporcionaram momentos de convivência com pessoas em diferentes situações. Aprendemos a olhar para o outro a partir do seu potencial e não necessariamente de suas limitações. Para atuar com o Circo, seja em nossas oficinas na Universidade, nas escolas ou no hospital, é necessário desenvolver a capacidade de ser afetado pelas pessoas que encontramos, adaptando nossa atuação às situações singulares, aspecto importante também em nossa formação como seres humanos solidários ao outro.

Todos os projetos têm grande importância para você que vai ser professor, porque você vai ter a experiência de algo novo para sua vida, para levar até a escola, para o hospital, ou seja, para todas as idades. (Sunday).

Os projetos de extensão ajudam a gente a se tornar um profissional mais completo, com vivência diferenciadas e diversificadas. (Meli).

Ao congregarmos as experiências e o trabalho coletivo realizado, tanto nas oficinas na Universidade quanto nos demais contextos em que o projeto atuou, conseguimos também organizar alguns pequenos números para apresentação em eventos, como a abertura do Salão de Extensão da UNICENTRO, em 2012 e 2016, a abertura do IV Colóquio Educação Física e Ciências Sociais em Diálogo, e atividades propostas por disciplinas do curso de Educação Física, como os festivais de dança e o espetáculo circense oferecido às crianças de escolas da rede pública da região. Esses pequenos números, longe de representar a performatividade de grandes espetáculos circenses, trouxeram para a cena a expressividade, o aprendizado e as potencialidades de cada um dos integrantes do projeto, juntamente com a criatividade que se desenvolveu no processo de experimentação das práticas corporais circenses.

Circo em Contextos e a formação docente

Atualmente a Educação Física é tratada como componente curricular obrigatório da Educação Básica – LDBEN (BRASIL, 1996), tendo como conteúdos estruturantes a Ginástica, o Esporte, a Dança, as Lutas, os Jogos e Brincadeiras.

De acordo com as Diretrizes Curriculares da Educação Básica (DCEB) do Estado do Paraná (2008), o conteúdo de ginástica tem como desdobramento alguns conteúdos básicos, dentre eles, ginástica circense (6º, 7º e 8º anos), ginástica geral/ginástica e cultura de rua – Circo, malabares e acrobacias – (9º ano). Na tabela de conteúdos específicos abordados a partir dos conteúdos básicos, dentre os quais o professor deverá “selecionar e/ou adicionar outros conteúdos, de acordo com sua realidade regional”, são citados malabares, tecido, trapézio, acrobacias e trampolim. (PARANÁ, 2008, p. 89).

Percebemos, portanto, que conteúdos relacionados ao Circo fazem parte das diretrizes que orientam o trabalho pedagógico da Educação Física na Educação Básica. No entanto, o que observamos nas aulas dessa disciplina é a prevalência de atividades com o conteúdo de esporte. Essa realidade é reflexo, em grande medida, da tradição da área que por muito tempo esteve vinculada quase que exclusivamente ao ensino dos esportes, especificamente o Handebol, o Futebol, o Voleibol e o Basquetebol e, em alguns casos, o Atletismo. (BETTI, 1993).

Essa tradição permeia também os cursos de formação de professores de Educação Física. Em se tratando da nossa realidade – o curso de Licenciatura em Educação Física da Universidade Estadual do Centro-Oeste – verificamos que a grade curricular, que formou sua última turma no ano de 2015, dedicava 374 horas ao conteúdo Esporte, 136 horas aos Jogos e Brincadeiras e apenas 102 horas para a Ginástica, 68 horas para Lutas e 68 horas para Manifestações Rítmicas e Expressivas. (UNICENTRO, 2010). Atualmente, após reformulação curricular implementada em 2013, o curso destina 136 horas para Manifestações Rítmicas e Expressivas, 102 horas para Ginástica, 136 horas aos Jogos e Brincadeiras e ainda incluiu entre o rol de disciplinas optativas “Atividades Circenses na Escola”, com carga horária de 68 horas. (UNICENTRO, 2013). Devido ao interesse dos acadêmicos, essa disciplina é ofertada para todas as turmas. A partir dessas modificações, podemos inferir que o trabalho do Circo em Contextos e de seus apoiadores contribuiu para ampliar as discussões destinadas às manifestações corporais artísticas no curso de Licenciatura em Educação Física da UNICENTRO.

Em trabalho realizado por Sedor (2013) com professores da rede Estadual de Educação Básica, os mesmos apontaram como fatores limitantes a resistência dos alunos, a falta de materiais, mas, principalmente, a falta de conhecimento teórico e pedagógico sobre as atividades circenses. No entanto, as disciplinas que compõem a grade curricular dos cursos de formação inicial não são os únicos espaços de construção de conhecimentos na Universidade, caracterizada pela indissociabilidade entre o ensino, a pesquisa e a extensão. Os projetos de extensão universitária da UNICENTRO articulam-se de forma que os acadêmicos possam passar por diferentes experiências no processo educativo, cultural e científico. Procuram estimular as atividades multidisciplinares e multiprofissionais, integrando setores da Universidade e da sociedade. Nesse sentido, contribuem para melhorar o desenvolvimento dos acadêmicos, qualificando-os como professores que possam atuar na elaboração de processos de produção, inovação e desenvolvimento científicos, tecnológicos e ações voltadas ao desenvolvimento econômico, cultural, social e ambiental. (UNICENTRO, 2012).

Cumprindo com os princípios e diretrizes das ações extensionistas e reconhecendo a necessidade de ampliar a formação docente, o Circo em Contextos passou a oferecer oficinas pedagógicas para o trato com o Circo como conteúdo escolar. Junto ao Programa de Desenvolvimento Educacional do Estado do Paraná, programa de formação continuada para professores da Rede Estadual de Educação Básica, foram oferecidas duas oficinas nos anos de 2010 e 2011 . Além disso, uma das professoras PDE realizou seu Projeto de Intervenção abordando esse conteúdo, o que resultou em um Caderno Pedagógico e um artigo no qual relata suas experiências. (SIMON, 2013; SIMON E KRONBAUER, 2013 ).

Destacamos ainda nossa participação nos eventos de estudos dos cursos de Pedagogia da Universidade Federal do Paraná, em 2011, e da Universidade Estadual de Ponta Grossa, em 2015. Nesses eventos, ofertamos oficinas de formação para o trato com as práticas corporais circenses nas aulas da Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental, enfatizando a ludicidade e a experimentação de movimentos.

Esse aprender a ensinar as atividades circenses se consolida quando, desde 2010, percebemos a crescente incorporação desses conteúdos nas aulas de Estágio Supervisionado e também nas intervenções realizadas por acadêmicos bolsistas do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID-Capes), conforme consta nos relatos dos entrevistados:

[...] eu pretendo utilizar quando me formar e também já estou utilizando nos estágios supervisionados e no PIBID que estou atuando. (Sunday).

Vou abordar as atividades circenses tanto no ensino médio quanto agora no ensino fundamental, [...] no ensino fundamental a gente já tem preparado 4 h/a só de atividade circenses. (Jules).

Estamos começando o estágio agora, mas no plano de ensino pros anos finais do Ensino Fundamental, eu pretendo trabalhar a ginástica circense, provavelmente vamos trabalhar mais o tecido e as pirâmides. (Agnete).

No Fundamental II a gente trabalhou a ginástica circense, a ginástica normal e o tecido. E no Ensino Médio agora, a gente tá trabalhando pirâmides e segunda altura. (Zachary).

De acordo com os entrevistados, o projeto Circo em Contextos tem contribuído sobremaneira para que assumam a docência e abordem os conteúdos circenses com mais segurança. Ademais, a disciplina de Atividades Circenses na Escola tem sido espaço de construção de conhecimentos para o trato pedagógico dessas práticas corporais no contexto escolar.

[...] eu acho que o projeto de extensão te proporciona vivenciar na prática o que é ser professor, por exemplo, nas oficinas: eu não estava lá enquanto acadêmica, mas sim como professora, ensinando alguma coisa para os alunos. (Meggy).

O projeto de extensão vai preparar ainda mais o acadêmico para a docência e eu acho que a gente cresce muito com esses projetos. (Autum).

A participação no projeto nos deixa mais aptos para nossa atuação com os alunos, [...] a gente também ministra algumas aulas, nos dando essa responsabilidade que vai ajudar no nosso papel como professor. (Gravilla).

Os projeto de extensão são essenciais para que o universitário possa pôr em prática tudo aquilo que ele aprendeu, dá experiência ao universitário e expõe situações que vão surgir na carreira profissional dele para que ele saiba como resolver depois. (Jules).

Esses são apenas alguns resultados que apontam para a relevância das ações extensionistas na transformação da realidade local e na formação ampliada e continuada daqueles que participam dessas ações.

Considerações Finais

O objetivo deste trabalho foi traçar a história e os desafios do projeto Circo em Contextos, do Departamento de Educação Física da UNICENTRO, campus Irati, Paraná. A partir dos relatos e evidências aqui apresentados, acreditamos que esse projeto alcançou proporções maiores do que sua proposta, pois se tornou um dos poucos espaços para a experimentação de técnicas circenses e de conhecimento do Circo como uma importante manifestação cultural da história da humanidade.

As experiências e os conhecimentos construídos no projeto de extensão têm possibilitado a superação de diversos desafios no que diz respeito à elaboração de estratégias pedagógicas fundamentadas e disseminação de atividades circenses como conteúdo da Educação Física na escola. Ainda, proporcionam a ampliação dos espaços de discussão sobre as manifestações corporais artísticas no currículo do curso. Entretanto, para além da formação docente, o Circo em Contextos tem contribuído para a formação humana e o reconhecimento das potencialidades corporais de todos aqueles que participam de suas atividades.

O texto que apresentamos não é apenas resultado de um conjunto de relatos, dados coletados em documentos ou entrevistas a fim de provar a eficiência de uma intervenção. Esse trabalho trouxe traços da nossa própria história e da história de um projeto de extensão de Circo, idealizado por um desejo individual, mas que se efetivou em virtude do esforço coletivo e conquistou resultados efetivos em defesa do Circo como conteúdo escolar, assim como na sua disseminação como manifestação cultural e possibilidade de experimentação de práticas corporais diferenciadas.

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