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A CASA SONOLENTA: LITERATURA E EXPERIÊNCIAS DE IDOSOS E DE CRIANÇAS COMO PROTAGONISTAS EM PROJETO DE EXTENSÃO

Daiana Camargo
Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), Brasil
Rita de Cassia da Silva Oliveira
Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), Brasil
Paola Andressa Scortegagna
Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), Brasil

A CASA SONOLENTA: LITERATURA E EXPERIÊNCIAS DE IDOSOS E DE CRIANÇAS COMO PROTAGONISTAS EM PROJETO DE EXTENSÃO

Revista Conexão UEPG, vol. 14, núm. 2, pp. 214-223, 2018

Universidade Estadual de Ponta Grossa

Recepção: 09 Outubro 2017

Aprovação: 02 Fevereiro 2018

Resumo: O idoso busca, cada vez mais, espaços nos quais possa atuar, elevar sua autoestima e se realizar enquanto ser inconcluso em constante aprendizagem. A Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) acolheu os idosos em seu programa extensionista Universidade Aberta para a Terceira Idade-UATI, no qual uma das disciplinas ofertadas é a de Contação de Histórias. Na referida disciplina, os idosos estimulam a memória, participam ativamente na construção de materiais e na apresentação de histórias. Neste artigo, tecemos algumas considerações sobre as experiências com a obra A Casa Sonolenta, de Audrey Wood e Don Wood. Apresentando esta história em escolas, por meio de relações intergeracionais, os idosos ressignificam seus saberes, valorizam e fortalecem seus papéis sociais. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica sobre a extensão e relato de experiência da disciplina. Este projeto, a partir das ações desenvolvidas, teve como objetivo integrar histórias de diferentes tempos, de tradição oral e escrita, possibilitando ao idoso o resgate de sua cultura e a apropriação de novos conhecimentos e novas experiências, por meio da Literatura Infantil e do encontro com a criança. Palavras-chae: UATI; Contação de Histórias; Idoso; Terceira Idade; Extensão.

Palavras-chave: UATI, Contação de Histórias, Idoso, Terceira Idade, Extensão.

Abstract: Senior citizens increasingly look for spaces in which they can act, elevate their self-esteem and fulfill themselves as incomplete human beings in search for constant learning. The State University of Ponta Grossa (UEPG, in Portuguese acronym) offers activities for senior citizens as part of its outreach project called Open University for Senior Citizens (UATI, in the Portuguese acronym). Storytelling is one of the many courses offered in the project. In this course, senior citizens stimulate their memories; participate actively in the construction of resources and tell stories. This article presents some reflections about the experiences with The Napping House by Audrey Wood and Don Wood. The story was presented in schools through intergeneration relations, therefore, it was possible for the senior citizens to give new meaning to their knowledge, as well as value and strengthen their social roles. It is a bibliographical research about outreach activities and the experience with the course. The activities carried out in the project aimed at articulating stories from different periods of oral and written tradition, allowing the senior citizens to discuss their culture and develop new knowledge and new experiences through Children’s Literature and meetings with children.

Keywords: UATI, Storytelling, Elderly, Community Outreach Education.

Introdução

O envelhecimento da população se apresenta como um fenômeno mundial e como resultados surgem novas demandas nos diferentes campos, entre os quais sociais, políticos e econômicos. Esta realidade demográfica se constitui como um dos grandes desafios deste século. Ainda persiste na sociedade brasileira um conceito negativo e estereotipado, reforçado por atitudes discriminatórias referentes aos idosos. Negar a existência destes preconceitos é tão cruel quanto os reforçar. Não por raras vezes nos defrontamos com situações de menosprezo, humilhação e desrespeito ao idoso, mas quanto mais esse segmento etário se conscientiza de sua relevância social, no compartilhamento de suas experiências e conhecimentos, mais se empodera de saberes e reivindica seus direitos. Dessa forma, o idoso passa a ser respeitado e alvo de atenção na criação e implementação de políticas públicas (OLIVEIRA, 1998).

Sabemos que o processo de envelhecimento é uma construção social e a representação que assume varia de sociedade para sociedade. Compete a cada indivíduo, em especial às instituições de educação formal, contribuir para amenizar esta realidade pouco amistosa e oferecer espaços educativos que possibilitem uma educação permanente, contribuindo para a atualização, maior inserção e participação social do idoso.

Buscamos, neste texto, refletir sobre a relevância da extensão universitária e relatar a Contação de Histórias como instrumento de aproximação e interação idoso/criança. As atividades de Contação de Histórias foram desenvolvidas no Projeto de Extensão "Um conto, um causo, da carochinha à vovozinha: a gente conta e encanta", que integra o Programa da Universidade Aberta para a Terceira Idade, cujo objetivo foi propiciar aos idosos vivências lúdicas e culturais a partir de oficinas de contação de histórias e que, em seus desdobramentos, permitiram o encontro idoso/criança.

Este projeto, a partir das ações desenvolvidas, teve como objetivo integrar histórias de diferentes tempos, de tradição oral e escrita, possibilitando ao idoso o resgate de sua cultura e a apropriação de novos conhecimentos e novas experiências, por meio da Literatura Infantil. Escolhemos para este artigo as vivências e aprendizagens obtidas com a história A Casa Sonolenta, de Audrey Wood e Don Wood.

As atividades realizadas a partir deste projeto de extensão propiciaram aos idosos a aprendizagem de técnicas de contar histórias, de produção de materiais e das práticas de contação em diferentes espaços da comunidade (associações de assistência à saúde, escolas e centros de educação infantil, eventos e espaços da própria Universidade) e estão ancoradas no programa de extensão na Universidade Aberta para a Terceira Idade - UEPG.

Iniciamos o artigo abordando o papel da extensão universitária, bem como a relevância do programa extensionista Universidade Aberta para a Terceira Idade (UATI), na Universidade Estadual de Ponta Grossa e, na segunda seção, discutimos o papel do idoso na contemporaneidade.

A terceira seção, mediante as experiências vividas no contato com as crianças na comunidade durante as seções de contação de histórias, é destinada a reflexões quanto à intergeracionalidade; na quarta seção, há discussão quanto à importância da literatura infantil e da contação de histórias. Apresentamos a disciplina de Contação de Histórias, traçamos considerações sobre as vivências junto à comunidade, em especifico, descrevemos e discutimos a proposta desenvolvida com a obra literária A Casa Sonolenta, nossas vivências, acompanhadas de considerações e reflexões sobre tal experiência. Assim, enquanto proponentes do projeto de extensão e, compartilhando os momentos de contação de histórias, temos o privilégio de conviver com uma geração que se constituiu contando, ouvindo e inventando histórias e que muito pode nos ensinar.

Diante do valor cultural, afetivo e social da contação de histórias para a constituição da pessoa, seja no âmbito das vivências pessoais e histórias tradicionais, seja na importância da literatura e da magia da história criada, é que nos propusemos a oferecer aos idosos uma disciplina específica de contação de histórias, inserida nas atividades da UATI- UEPG.

A extensão universitária e a relação com a comunidade: ações UATI-UEPG

Ao pensarmos a universidade como espaço proponente de ações extensionistas, tratamos diretamente das três dimensões que a constituem: o ensino, a pesquisa e a extensão. A extensão está relacionada à função social da Universidade para a formação de cidadãos atuantes, comprometidos, engajados e capazes de articular saber científico e saber popular (ARAUJO, 2011; SARAIVA, 2007).

Por meio das vivências e estudos desenvolvidos para as práticas de contação de histórias e do contato com a comunidade, remetemo-nos, inicialmente, à importância das ações extensionistas, tanto para os proponentes, quanto para os participantes e a população atendida.

A extensão universitária, como descrita no Plano Nacional de Extensão Universitária (2000/2001) se constitui como importante espaço de democratização do conhecimento, de igualdade e desenvolvimento social com função de produzir saberes (científicos, tecnológicos, artísticos e filosóficos) para que estes sejam acessíveis à população, sem assumir ou substituir o papel do Estado. O referido documento aponta como conceito: "processo educativo, cultural e científico que articula o Ensino e a Pesquisa de forma indissociável e viabiliza relação transformadora entre a Universidade e a Sociedade” (PLANO NACIONAL DE EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA, 2000/2001, p.5)

O Plano Nacional de Extensão Universitária (2000/2001) aponta as Diretrizes para a Extensão Universitária, quais sejam: impacto e transformação, interação dialógica, interdisciplinaridade e indissociabilidade entre ensino -pesquisa-extensão.

Diante dessas diretrizes, Nunes e Silva (2011 p.l23) esclarecem que "a universidade pública enquanto um espaço de criação e recriação de conhecimento deve ser acima de tudo pública e, para tanto, a transformação social deve extrapolar os muros acadêmicos".

Quanto ao extrapolar os muros acadêmicos, a cada ação desenvolvida para a comunidade nos deparamos com novas experiências, novos sentimentos e emoções, novas culturas e aprendizagens. Segundo Paula (2013), a atividade de extensão ultrapassa as salas de aulas e os laboratórios, e, à medida que atende a comunidade, observam-se outras demandas de conhecimento e informação, bem como atende-se à diversidade e heterogeneidade de público, reconhecendo-se, assim, as especificidades da comunidade a que se destina. Esse autor destaca ainda as implicações politico-sociais da extensão, devido à necessidade de uma abertura à inter e à transdisciplinaridade, à alteridade e ao diálogo.

Nesse sentido, as reflexões de Castro (2004) e Nunes e Silva (2011) ressaltam a interação, a troca de conhecimentos universidade/comunidade, tendo em vista que a extensão é responsável pela produção de conhecimentos mediante a expenencia. Outra possibilidade importante nas atividades extensionistas é sua perspectiva de abertura, de criar outros finais ou de possibilitar outros/novos processos, conforme argumenta Paula (2013, p.6).

Para dizer de forma simples, a extensão universitária é o que permanente e sistematicamente convoca a universidade para o aprofundamento de seu papel como instituição comprometida com a transformação social, que aproxima a produção e a transmissão de conhecimento de seus efetivos destinatários, cuidando de corrigir, nesse processo, as interdições e bloqueios, que fazem com que seja assimétrica e desigual a apropriação social do conhecimento, das ciências, das tecnologias.

Tendo em vista a transformação social destacada por esse autor, um importante elemento a destacarmos em nossa vivência enquanto projeto extensionista é a multiplicidade das participações, dos espaços e pessoas mobilizadas, das histórias interlaçadas, dos conhecimentos e experiências que circulam, dada a pluralidade das culturas envolvidas (idosos, professores, acadêmicos/monitores, comunidade). Para Castro (2004, p.5), ''na extensão é um fazer que sempre pressupõe a presença de um outro que não é somente o aluno ou professor, mas um ouvinte".

Nessa reflexão, considerando a função interativa e plural da extensão corroboram os escritos de Nunes e Silva (2011, p. 120) pois, segundo as autoras, a extensão

[...] funciona como uma via de duas mãos em que a universidade leva conhecimentos e/ou assistência à comunidade e recebe dela influxos positivos em forma de retroalimentação, tais como suas reais necessidades, anseios e aspirações. Além disso, a universidade aprende com o saber dessas comunidades.

As experiências com os idosos são valiosas, a reatroalimentação, citada pelos autores, é confirmada no cotidiano extensionista, uma vez que nos deparamos com diversas realidades e necessidades. São histórias e vidas de diferentes contextos, tempos, lugares, que se adaptam à realidade de ser idoso na contemporaneidade, vidas que se enlaçam a tantas outras (professoras, acadêmicos/monitores), gerando aprendizagem e construindo laços de respeito e confiança; histórias que se multiplicam ao somarmos as pessoas atendidas, que ouvem nossas histórias.

O idoso na contemporaneidade: ser ativo e protagonista

A representação social que se tem da velhice e do idoso depende da relação que estabelecemos com essa faixa etária ao longo da nossa vida, valorizando ou depreciando essas pessoas, conforme nossa própria experiência e convivência.

A maior longevidade tem modificado de forma importante as configurações familiares e os laços entre as gerações. Atualmente, os idosos têm assumido diferentes papéis na familía e muitos deles têm sido o suporte financeiro.

Pelo fenômeno da longevidade, percebemos a coexistência de gerações e as relações intergeracionais se intensificam no cotidiano, ressaltando o compartilhamento de saberes e experiências. Essas relações, à medida que são próximas, contribuem para o significado da relação entre avós e netos. A convivência possibilita a participação do idoso na vida da criança e vice-versa, intensificando positivamente as relações afetivas, contribuindo, assim, para a ampliação do afeto para com outras pessoas idosas, que sejam ou não da convivência da criança.

O cuidado dos idosos com os netos, auxiliando seus filhos na sua criação, certamente favorece e reafirma essa aproximação e, juntamente, reflete e intensifica os sentimentos entre as gerações.

Diante destas mudanças de papéis sociais e da coexistência de gerações, sendo o idoso protagonista e ativo, emergiu a relevância de investigações sobre a temática do envelhecimento e da velhice sob diferentes aspectos, despertando o interesse de diferentes estudiosos e pesquisadores nos campos da política, educação, economia, saúde, direito, entre outros. O idoso de hoje reclama por uma mudança de paradigma da velhice, referenciando um idoso mais ativo, participativo e integrado socialmente, um idoso que age, interage e se faz ouvir em seus direitos e necessidades.

As Histórias Infantis e as possibilidades de encontros intergeracionais

Inicialmente como prática oral, e depois passível de registros por meio da escrita, a contação/narração de histórias persiste nas práticas culturais, integrando práticas de oratória de filósofos. No âmbito religioso, ressaltamos as parábolas e os registros bíblicos e demais práticas da população em geral, que contavam experiências, criavam histórias, narravam situações, reais ou folclóricas, exercitando o prazer do contar e o encanto do ouvir.

A literatura infantil é um importante instrumento de aproximação e interação idoso/criança, por meio das práticas de contação de histórias, das leituras compartilhadas, quando o idoso lê e narra para as crianças; da criança que lê e narra para os idosos, bem como pelo reconhecimento da representação dos idosos e das crianças nas obras de literatura infantil, seja em imagem ou texto.

A literatura tem importância fundamental na constituição dos sujeitos, tendo em vista experiências imaginárias, vivências da sensibilidade e da estética, de grande valia na formação do leitor. O contato com o universo literário envolve a fantasia e estimula a imaginação pelo encantamento com livros, personagens e aventuras (BRAZILEIRO et ai., 2013).

Os escritos de Abramovich (1989) destacam que, por meio da literatura infantil, se faz possível suscitar o imaginário, responder à curiosidade, solucionar questões, estimular outras linguagens como o desenhar, o musicar, o teatralizar e o brincar, pois há inúmeras possibilidades em um texto.

Nessa perspectiva, destacamos que a literatura infantil não está desvinculada das preocupações do seu tempo, o que leva a emergir livros de temáticas diferenciadas, relacionadas às necessidades e realidades do contexto atual, como os diferentes formatos de famílias, as relações pais e filhos, a velhice, a relação intergeracional (SILVEIRA, 2003; RAMOS, 2015).

Entendemos como fundamental ressaltar que o entendimento de criança como produtora de cultura é fundamental no processo de interação com o idoso e mesmo com a literatura, pois é recente a abordagem da criança que tem algo a dizer, que participa e produz conhecimento (SARMENTO, 2002- 2005).

Para Silva (2009), a literatura infantil, além de gerar interação e solidariedade, permite a construção de valores em relação à velhice, dá oportunidade de diálogo criança/idoso tendo em vista um envelhecimento saudável, ativo e de qualidade.

Em estudo sobre o diálogo intergeracional entre idosos e crianças, Carvalho (2007 p. 64) ressalta o papel da literatura como articuladora de conhecimentos e vivências, pois

[...]através do contato com a literatura os sujeitos adquirem novos saberes para se contrapor à exclusão e alienação vigente nas relações sociais do cotidiano. Essa intervenção da história permite a troca de suas vivências em relação ao tema abordado[...].

Dentre estas possibilidades, a relação intergeracional merece destaque, na medida em que, independente da técnica e atividade desenvolvida, intensifica as relações entre idosos e crianças, possibilitando novos olhares para as diferentes histórias contadas.

Para compreendermos as possibilidades da intergeracionalidade, recorremos aos escritos de Goldman (2002, p. 07), que a define por " conceito que se vive, que se aplica à vida cotidiana. É uma forma de aproximação entre as gerações para melhor compreender e buscar, solidariamente soluções aos problemas que envolvem todas as faixas etárias".

Silva (2009), a partir de seus estudos sobre a literatura infantil e a relação intergeracional, aponta que a transmissão dos saberes entre as gerações não é linear, cada uma das gerações envolvidas possui sabedorias específicas, o que propicia novas formas de pensar, de agir e sentir, renova opiniões, cria novas lentes para ver a si e ao mundo.

A criança é produtora de cultura, a qual se origina das interações com pessoas e espaços. Sarmento (2002; 2005a) aponta que as crianças são atores sociais competentes e produtoras de cultura diante do modo como interpretam, simbolizam e comunicam suas percepções de mundo. Esta cultura se estrutura também na interação com os pares e com adultos/idosos.

Assim, o homem é o responsável pela produção da cultura, que se fortalece e se manifesta nas criações materiais e imateriais voltadas para responder às necessidades humanas. Pela experiência e anos de vida, o idoso contribui para a continuidade e renovação cultural. Aqui, em especial, ressaltamos a importância da contação de histórias enquanto atividade cultural. Esta atividade possibilita um resgate da memória, de brincadeiras, cantigas de roda, de histórias e de lendas, que fortalecem a relação intergeracional, despertando nas gerações um elo de aconchego, respeito, carinho, atenção, solidariedade, pautada em valores, respeito às diferenças, valorização dos sujeitos e na superação de preconceitos e estereótipos, possibilitando uma relação horizontal entre os indivíduos.

Na tentativa de recuperar uma infância saudável, as relações e interações, com mais contato com a natureza, com brincadeiras mais simples, com materiais mais acessíveis, mais simples, complementados pela tecnologia, mas não dominados por ela, a atividade de contador de histórias favorece, além da relação intergeracional, o convívio social, o compartilhamento, superando o individualismo e a competitividade exacerbada e desigua, comuns nos dias atuais. "A aproximação entre as gerações é uma ação coletiva que visa, voluntária e expressamente, à fomentação de laços recíprocos entre as idades e gerações na vida social" (MALKI, 2008, p. 4).

Neste sentido, buscamos o conceito de intergeracionalidade para fundamentar as ações executadas, acreditando nos benefícios, tanto ao idoso quanto para a criança, nesta vivência entre gerações.

[...] geração reúne pessoas que, nascidas nwna mesma época viveram os mesmos acontecimentos lústóricos e partilham de uma mesma experiência lústórica. Essa experiência comum dá origem a uma consciência que permanece presente ao longo do curso de suas vidas, influenciando a forma como os individuos percebem e experimentam novos acontecimentos (BORGES; MAGALHÃES, 2011 p.172)

Teiga (2012) destaca que as relações intergeracionais são compreendidas como vínculos que se estabelecem entre pessoas com idades distintas e em diferentes estágios de desenvolvimento, o que possibilita o compartilhamento de experiências.

Nesse sentido, recorremos a Nunes (2009) ao abordar que, ao entendermos as gerações divididas física, emocional e socialmente, são desperdiçadas oportunidades de aprendizagem e de partilha.

Tendo em vista a temática da contação de histórias e o envolvimento da literatura infantil nas atividades intergeracionais desenvolvidas, destacamos:

Através das histórias contadas, da memória viva dos idosos, transmitem-se as vivências, as experiências, os costumes e valores de uma geração. Essas histórias são contadas envoltas de emoções, sentimentos, imaginação e valores que levam, quase sempre, à uma interação entre os contadores e os ouvintes, acarretando uma experiência intergeracional. [...]. (CARVALHO, 2007,p. 61)

Segundo Carvalho (2007), a literatura infantil, quando escrita ou contada por um adulto às crianças, corrobora o repasse de vivências, das tradições, das experiências, dos valores e da manutenção da cultura. Buscamos, assim, favorecer a construção da cultura da criança por meio do contato com histórias de diferentes gerações, bem como da valorização da construção cultural que acompanha a vida do idoso.

Contação de histórias: o tempo, as histórias, as práticas

A contação de histórias integra as mais diferentes culturas, dos mais longínquos tempos até a atualidade, com valor incontestável ao longo da história. É importante lembrarmos que, na ausência da escrita, foi oralmente que ensinamentos seguiram repassados, geração a geração.

Ramos (2011) e Bussato (2003, 2006) contribuem para as reflexões quanto à contação de histórias no decorrer do tempo, enfatizando a narração e suas raizes nas vivências dos povos ancestrais, tanto na oralidade quanto nos registros de histórias por meio de desenhos e pinturas em cavernas. O homem evolui, as relações se aprimoraram, e as histórias seguem presentes, constituindo a memória coletiva das comunidades, a cultura de um povo, que são transmitidas em contos, lendas, cantigas e brincadeiras. Para Ramos (2011, p.29), "a memória auditiva e a visual eram, então, essenciais para a aquisição e o armazenamento dos conhecimentos transmitidos".

Posteriormente à escrita, a contação-narração de histórias persiste nas práticas culturais, integrando práticas de oratória de filósofos. De acordo com Ramos (2011), a contação de histórias pode ser compreendida como prática oral de um patrimônio cultural, capaz de proporcionar prazer e lazer. Visa-se, assim, possibilitar experiências completas e significativas, o conhecimento de si e do outro, pois, segundo a autora, os instrumentos do narrador são sua voz e seu corpo, para transmitir as emoções do enredo do texto.

Para Benjamin (1994), é no encontro da história e da cultura que as relações se estabelecem, e assim formam a tradição, deixando marcas, rastros, registros, criando um acervo cultural. Portanto, de acordo com Ourique (2009), somos marcados pela época de nossa existência, pelo contexto, e as histórias de vida narradas por nossos familiares são de grande importância para nossa constituição como pessoas.

Sobre o narrador e a arte de contar histórias, encontramos em Benjamin (1994) reflexões pertinentes quanto ao saber ouvir, pois, segundo o autor, esta arte se perde na sociedade à medida que as pessoas perdem o dom de ouvir, ressaltando que a variedade e intensidade das imagens nos fazem esquecer da escuta.

Para Ramos (2011), o resgate da arte de contar histórias incentiva a escuta, de grande importância ao convívio social e para uma boa leitura, além de propiciar a quem as escuta o (re)encontro com o novo. Assim, potencializa-se o imaginário e a criatividade, numa mescla de realidade e magia, pois o ouvinte passa e ler a fala/performance do contador, e, mentalmente, cria suas imagens.

Sobre o narrador e o ouvinte, Benjamin (1994) ressalta a importância de camponeses e navegantes para a preservação da arte da contação. Os camponeses, que em suas terras permaneciam, conheciam minimamente as histórias daquele local, tradições e costumes, enquanto os navegadores traziam o novo. Noticias de espaços desconhecidos, de novas experiências, dando origem ao que o autor denominou de "comunidade de ouvintes". Assim, ao redor de uma fogueira, um momento mágico e performático acontecia, novos conhecimentos transmitidos pelos viajantes aguçavam a curiosidade, traziam conhecimento e possibilitavam reflexão.

Compreendemos, assim, o valor das relações entre as pessoas, da constituição do que somos por meio das histórias e experiências, ouvidas e vividas. Dessa forma, contar e ouvir histórias é uma atividade que atua diretamente sobre a emoção, sensibilizando para elementos da própria história ou aflorando memórias e sensações já vivenciadas, tanto pelo ouvinte quanto pelo contador. Também a escolha da história está relacionada à afetividade, pois depende do envolvimento contador-texto, ou seja, "Se a história não nos desperta a sensibilidade, a emoção, não iremos contá-la com sucesso" (COELHO, 2006, p. 14).

Ao tratar do contador de histórias, Ramos (2011) nos diz que é aquele que produz o discurso narrativo, é ele que inventa e instiga o ouvinte. Em sua etimologia, o vocábulo contador remete a narrador, o que administra a palavra. De posse da palavra, é preciso conduzir com detalhes a narrativa, encantando, seduzindo, fazendo com que ouvinte viaje pela história, despertando curiosidade, exprimindo sensações, relacionando com suas vivências pessoais.

Sobre a emoção da contação de histórias e a imersão nas sensações e sentimentos, podemos afirmar que

O contador de histórias também é atingido pela felicidade do compartilhar, comprovando assim, que contar incita mudanças na nossa maneira de olhar o mundo. O encontro do real com o imaginário fortalece o ouvinte para enfrentar as condições de sua existência, levando-o a reconhecer a sua própria vida através das experiências vivenciadas com as histórias. Assim, a inter-relação entre realidade e fantasia, a cumplicidade de contadores e ouvintes faz surgir espaços de encantamento. O recordar e viver de novo uma história desloca o individual para o coletivo (SCHERMACK. s.d, p.7).

Quanto aos benefícios da contação de histórias, nos amparamos em escritos de Farias (2011, p.20),

O ato de narrar requer um domínio do tempo narrativo, que corresponde a uma enunciação verbal do passado. Todos os contadores mantem, por meio de suas histórias, um elo entre passado e presente, real e sobrenatural, possível e impossível, razão e imaginação. Implica um trabalho de organização da memória individual, feito a partir da acumulação e organização de dados de uma experiência não necessariamente vivida, visto que a memória é uma reorganização de ideias, impressões, subjetividades, afetos e conhecimentos adquiridos no vivido, na leitura, no imaginado.

Consideramos que a história de vida dos idosos, bem como o estilo de vida de cada um de nossos alunos, mais abastados ou mais carentes, com maior ou menor trajetória escolar, bem como acesso a bens de culturais, vem permeados pela riqueza de um tempo em que as histórias integravam a vida em sociedade em maior intensidade, sejam as histórias passadas de geração a geração, as trocas de experiências de vida ou as histórias da literatura. São vidas que se construíram em um outro tempo, do tempo de ouvir, falar, visitar, compartilhar histórias face a face.

Neste sentido, trazemos elementos dos escritos de Farias (2011), segundo o qual, aquele que tem conhecimento de muitas histórias, "é porque ouviu, leu ou contou. Assim, dispõe de mais conhecimentos para enfrentar situações novas durante o seu percurso de vida, "[...] as histórias rejeitam verdades unívocas e permitem soluções múltiplas" (FARIAS, 2011, p.21).

Assim, primamos por ações que promovem o ensino e a aprendizagem, um ambiente acolhedor e instigante que propicie o bem-estar e a troca de experiências intergeracionais, valorizando as diferenças, capacidades e possibilidades de cada aluno­ contador e dos ouvintes.

A Casa Sonolenta: literatura, reflexões e vivências

As atividades desenvolvidas no projeto de extensão "Um conto, um causo, da carochinha à vovozinha: a gente conta e encanta" baseiam-se na diversidade das possibilidades de contação de histórias, deste a história oral, o folclore, a literatura infantil e a músicas relacionadas a histórias.

O referido projeto teve como objetivo geral propiciar aos idosos vivências lúdicas e culturais a partir de oficinas de contação de histórias. Deste objetivo, decorrem os seguintes objetivos específicos: resgatar a história oral; desenvolver atividades com diversas técnicas de contação de histórias; propiciar a construção de material para contação de histórias, resgatar a autoestima e valorizar a cultura do idoso, vivenciar a contação de histórias em diferentes instituições. Tais objetivos vêm sendo atingidos ao longo dos anos de atividades, incentivando a continuidade das ações desenvolvidas.

Como metodologia, o projeto de extensão apresenta diversas possibilidades/formas de organização e atuação. As ações do projeto compõem uma das disciplinas do Programa da Universidade Aberta para a Terceira Idade (UATI!UEPG) em encontros semanais, com duração de 2 horas e 30 minutos cada. Fazemos uso de aula expositiva, leitura, trabalho em grupo, contação de histórias, ensaios e produção de diferentes materiais para a contação de histórias. Como procedimentos, destacamos a leitura e interpretação de diferentes textos literários (contos, fábulas, crônicas), manuseio e avaliação de material produzido para crianças (literatura infantil); rodas de conversa; oficina de contação de histórias; seminário (contação; apresentação do material produzido, inserção em instituições para vivência da contação de histórias para diferentes públicos e faixas etárias (centros de educação infantil, escolas, abrigos, unidades de saúde, entre outras).

Optamos, neste texto, por tecer reflexões acerca da utilização do livro infantil A Casa Sonolenta (WOOD; WOOD, 2009). Tal atividade teve início no ano de 2014, na primeira turma do projeto de extensão e permanece entre as histórias e contações preferidas da turma, já passados mais de três anos de atividades. O referido livro é de autoria de Audrey Wood e as ilustrações de Don Wood, integrando a coleção Abracadabra, da editora Ática-Scipione, e está na sua 16ª edição.

Figura 1- Capa do livro A Casa Sonolenta
Figura 1- Capa do livro A Casa Sonolenta
Fonte: Google

A escolha da obra justifica-se pelo caráter lúdico do texto, cuja estrutura baseia-se em texto acumulativo (repetição de um acontecimento e acumulação de novos elementos). Dentre as personagens está uma avó, que permite a discussão sobre a imagem de idoso, tanto no âmbito social como a representação de si. Outro fator relevante é a característica de fácil memorização da história para contação, possibilitando que o contador se desvincule do livro ou que realize a contação apenas amparado nas imagens. Toda a história se desenvolve no quarto da casa e tem como personagens a avó, um menino, um cachorro, um gato, um rato e uma pulga. A história inicia contando que a avó está na cama e, lentamente, o autor acrescenta personagem a personagem sobre a avó, que está na cama, na casa sonolenta, "onde todos viviam dormindo". A narrativa é lenta e acumulativa, repete página a página os personagens, que seguem dormindo, até chegar a pulga, que pica o cachorro, acordando a todos. A ilustração é suave, delicada, rica em detalhes e ganha cores vivas ao amanhecer o dia, segundo a narrativa.

O ponto de partida para as atividades foi a contação realizada pela professora da disciplina, amparada no livro, explorando imagens, sequência e entonação de voz. Ao mobilizarmos uma conversação sobre o livro, logo emergiram como destaque por parte dos idosos o ritmo da história e as imagens.

O ritmo, elemento ressaltado já no primeiro contato com a história, é dado pela repetição dos elementos como destacado e é próprio das histórias com acumulação, pois favorece a compreensão, a memorização e também a autonomia na leitura. A característica central é a repetição de um acontecimento e acumulação de novos elementos (BRAZILEIRO et al., 2013).

Faria (2008), ao tratar das histórias acumulativas, ressalta o formato da narrativa apresentada no livro A Casa Sonolenta, que apresenta esquema com inicio, desenvolvimento e desenlace, com repetição de todos os elementos, sempre na mesma ordem (uma avó roncando, um menino sonhando, um cachorro cochilando, um gato ressonando, um mto dormitando...).

Quanto às imagens, entendemos que a ilustração é um valioso complemento do texto, e especificamente nesta história se destaca, pois as imagens se repetem página a página, também acumulando novos elementos que seguem o ritmo da narrativa. Para Faria (2008), um importante recurso utilizado é a possibilidade de reconhecimento do animal que ainda não entrou na história, mas está no cenário/ilustração. As belas e sensíveis ilustrações de Don Wood enfatizam o caráter suave e acumulativo do texto de Aldrey Wood, como podemos observar nas imagens a seguir:

Figura 2: Acumulação – característica das ilustrações
do livro A Sonolenta
Figura 2: Acumulação – característica das ilustrações do livro A Sonolenta
Fonte: Google

As imagens que compõem o livro A Casa Sonolenta são ritmadas e associadas ao texto. De acordo com Ramos e Nunes (2013, p.254), "palavra e ilustração precisam acolher o leitor e permitir-lhe encontrar no texto uma brecha para dele fazer parte, interagir, interferir, exercendo o papel de leitor, aqui entendido como produtor de sentido".

Por meio do interesse verificado nas imagens no livro, produzimos como recurso de contação de histórias um varal de contação, no qual as imagens apresentadas foram produzidas pelos idosos, a partir de recorte e colagem livre (sem molde), obedecendo à sequência dos acontecimentos apresentados no livro.

Tal atividade é uma adaptação do recurso denominado varal didático e permite a participação de vários idosos durante a contação. São necessários o contador e três auxiliares, para que segurem o varal e disponham as imagens, enquanto a história é contada. Quando o grupo participa da contação, há maior segurança aos contadores.

Figura 3 – Contação de Histórias com varal
Figura 3 – Contação de Histórias com varal
Fonte: Acervo das pesquisadoras

Dentre as orientações da atividade, destacamos o tamanho das imagens para uso no varal, tendo em vista que, no momento da contação de histórias, este fica próximo dos participantes. A construção do material didático foi coletiva, contando com empenho, dedicação e grande atenção aos detalhes.

Sobre os materiais e seu processo de construção, afirmamos que:

Os meios e modos de produção de um material didático influem diretamente na transmissão do conteúdo e na compreensão deste pelos alunos. É necessário, então, que no momento da construção haja uma reflexão acerca do potencial comunicativo do material, visando à construção de uma mensagem clara e efetiva (CLARO, 2008, p.15).

Verificamos, assim, que a organização do varal como recurso/material para a história contribuiu para destacar a característica sequencial e acumulativa da narrativa, tendo em vista que as imagens acrescentadas uma a uma geram expectativa, retomam os elementos da história e acrescentam novos personagens, tornando-se um instrumento de grande potencial comunicativo.

Desde o inicio das atividades com a história A Casa Sonolenta, esta tomou-se a preferida do grupo e, mesmo com o decorrer dos anos e a mudança de componentes na turma, a preferência segue. Sempre que nos organizamos para uma nova seção de contação de histórias, vem a pergunta: e a casa sonolenta? Quanto aos novos integrantes da turma e a prática com a história, o próprio grupo acolhe, ensina, e o encanto se espalha.

Quanto à contação de histórias amparada na literatura, Brazileiro et al. (2013) nos instigam a pensar que, por meio desta atividade,

[...] podemos ter acesso a uma infinita variedade de experiências e a chaves para compreender nossa própria vida, sentimentos, tanto no âmbito da fantasia quanto da realidade. A arte literária nos conecta, assim, com a nossa própria humanidade. Por isso, o efeito é único em cada um de nós, já que implica a apropriação individual, singular, da realidade que cada texto recria (BRAZILEIRO et al., 2013, p.6).

Neste contexto, a contação da história A Casa Sonolenta já foi desenvolvida para públicos de idades diferenciadas, tanto em eventos na universidade, contando para adultos/idosos, como nas intervenções realizadas nas escolas, para crianças de educação infantil e ensino fundamental. Independentemente da idade do público, a história ritmada desperta emoções e sensações, envolve e leva à participação.

As experiências de contação da história são diferenciadas, isto é, em alguns momentos o idoso contador usa o livro para leitura e os demais auxiliam com o varal; em outros, a história é contada sem o suporte do livro, devido à memorização. As formas de contar são livres e se adaptam às necessidades do contador de cada seção de histórias, conforme demonstram as Figuras 4 e 5, a seguir:

Figura 4 - Contação de história utilizando livro
Figura 4 - Contação de história utilizando livro
Fonte: Acervo das pesquisadoras

5 - Contação de história por memorização e imagens
5 - Contação de história por memorização e imagens
Fonte: Acervo das pesquisadoras

A história mobiliza adultos e crianças que, rapidamente, se colocam participando "onde todos viviam dormindo". A característica acumulativa da narrativa é um elemento que chama a atenção das crianças. Vários foram os relatos de professoras de Centros de Educação Infantil e escolas sobre a repetição da história, após terem vivenciado a contação realizada pelas idosas, confirmando as abordagens dos autores quanto ao entendimento e facilidade de memorização que este tipo de narrativa propicia. "Profe, quando as vovós voltam?", "E veio o gato... nãoooo, primeiro o cachorro" (registros das pesquisadoras).

A simplicidade do texto envolve e encanta as crianças, propiciando diálogos valiosos após os momentos de contação de histórias. As crianças se manifestam oralmente, relatando: ''minha avó ronca"; "minha mãe não deixa o cachorro ir na cama"; "eu tenho três cachorros"; ''meu cachorro tem pulgas"; "eu pulei na cama e quebrei".

As falas das crianças impulsionam as conversas com as idosas, que falam sobre suas vidas, ressaltando que são avós, quantos e como são os netos, o que fazem, de quais histórias gostam, quem ronca ou não, constituindo-se num valioso espaço de intergeracionalidade, que nos remete à abordagem de Silva (2009), ao tratar dos valores relacionados à velhice, ou seja, a possibilidade de diálogo e relações humanizantes, a construção de novos saberes e de novas formas de ver o mundo.

Destacamos a importância do ouvir o que ambas as gerações têm a dizer, gerações que se integram para aprender, para estabelecer vínculos, para construir cultura. Assim, unimos vez e voz de dois dos grupos sociais que historicamente foram negligenciados enquanto atores sociais: as crianças e os idosos.

Trim, trim, trim, a história está (quase) no fim! Algumas considerações

Escrever sobre as experiências na contação de histórias e as atividades desenvolvidas com o livro infantil A Casa Sonolenta nos remete a diferentes e importantes elementos que as compõem: a importância da extensão universitária, o valor da extensão universitária; a importância do reconhecimento do idoso e da criança como protagonistas; a aprendizagem e riqueza de ser professora de idosos; a experiência de contar histórias a diferentes públicos, dentre tantas outras. Desta forma, a atividade integradora da academia com a comunidade permite diferentes aprendizagens, cumprindo o papel social de disseminação do conhecimento produzido e aproximação da comunidade ao espaço universitário, em trocas significativas de saberes e produção de novos conhecimentos.

Os momentos vivenciados, tanto nos encontros e aulas com as idosas quantos nas intervenções para contação de histórias, nos permitem considerar que a extensão universitária tem um valor grandioso para a sociedade, gerando benefícios para os envolvidos. Aos idosos, ativos, participantes, experienciando situações que lhes dão qualidade de vida e reconhecimento de seu papel social; a nós, professores e coordenadores do trabalho, pela constante aprendizagem, pelos desafios que constantemente nos mobilizam a pesquisa e o imensurável aprendizado da humanização, do olhar e respeitar o outro, em sua história, suas realidades e potencialidades; à comunidade, à medida que atendemos a um público externo; aos idosos, que, por sua vez, se dedicam ao atendimento de outro público, como crianças, adultos e idosos participantes de nossas histórias, constituindo uma relação intergeracional.

Consideramos como positivo e enriquecedor o trabalho desenvolvido com a contação da história A Casa Sonolenta, tendo em vista que nos possibilitou ultrapassar o texto, envolver emoções e experiências, propiciando diferentes sensações e aprendizagens. A obra possui uma estrutura repetitiva, que favorece a compreensão e a memorização de passagens importantes da história. Depois da primeira leitura, todos irão lembrar que na "casa sonolenta toooooodos viviam dormindo..." Além disso, o texto não é muito longo e o livro apresenta uma ilustração que se vincula à narrativa para ajudar o leitor na construção do sentido do texto (BRAZILEIRO et al., 2013, p.13).

Aos nossos idosos contadores de histórias é visível o benefício, o aprimoramento da exposição oral, o envolvimento e a superação a cada exposição pública, a troca de papéis e funções exercidas nas intervenções realizadas, na compreensão das limitações e superação destas, com respeito a si mesmo e pelo outro, cada um com seu jeito de contar, valorizando sua participação a cada contação de histórias. Trim, trim, fim!

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