Introdução

Nos cursos de Ciências Contábeis, as disciplinas de Administração, Economia, Matemática, entre outras, estão sempre presentes, por se tratar de conhecimentos que o Contador deve ter, para poder desenvolver bem sua profissão. Mas, é necessária uma atitude interdisciplinar: além da oferta de tais disciplinas, o aluno deve saber da importância delas para o seu desenvolvimento, e não as ter apenas em seu currículo como uma “obrigatoriedade”. (PADOVAN; CLEMENTE, 2006)

Um caso especial ocorre com a Contabilidade e a Administração, onde caminham lado a lado, pois a Contabilidade se alimenta de informações, e estas são necessárias tanto para o planejamento como para as tomadas de decisão, sendo úteis no processo decisório, fornecendo conceitos e ferramentas básicas que propiciam ao Administrador desenvolver a capacidade de análise de relatórios com resultados operacionais da empresa. Além disso, o encontro dessas duas disciplinas ainda permite o diálogo com outras disciplinas, tais quais: Responsabilidade Social Empresarial, Direito Tributário, Orçamento, Planejamento, Controle, Administração Geral, Projetos, entre outros.

Sabe-se que toda contextualização aplicada se evidenciará através da interação dos agentes envolvidos no processo de ensino-aprendizagem do curso de Administração, compreendendo professores, coordenadores e os alunos, em um conjunto com as necessidades dos profissionais administradores e das próprias organizações, que a formação do graduando se dará de forma mais eficiente e adequada com a realidade. Sendo relevante que a interdisciplinaridade se faça mais presente no ensino, podendo assim discutir a Contabilidade como uma das peças-chave na formação do administrador, em conjunto com as demais disciplinas do curso, formando um profissional mais preparado para as decisões e as complexidades do mundo organizacional, assim como para o desenvolvimento da sociedade.

De acordo com o artigo 3° da Resolução n° 4, de 13 de julho de 2005, do Conselho Nacional de Educação, o qual institui as Diretrizes Curriculares nacionais do Curso de Graduação em Administração, as IES devem ensejar, como perfil desejado do formando, capacitação e aptidão para compreender as questões científicas, técnicas, sociais e econômicas da produção e de seu gerenciamento, observados níveis graduais do processo de tomada de decisão, bem como para desenvolver gerenciamento qualitativo e adequado, revelando a assimilação de novas informações e apresentando flexibilidade intelectual e adaptabilidade contextualizada no trato de situações diversas, presentes ou emergentes, nos vários segmentos do campo de atuação do administrador.

Desta forma, considerando a importância do conhecimento e das informações de contabilidade para a formação do bacharel em Administração, surge a seguinte questão de pesquisa: Qual a percepção dos discentes do curso de graduação em Administração em relação às disciplinas de Contabilidade?

A presente pesquisa tem como objetivo mensurar analisar a percepção dos discentes do curso de graduação em Administração em relação às disciplinas de Contabilidade ministradas no referido curso. Esta pesquisa justifica-se devido as mudanças ocorridas nos contextos econômicos e sociais que demandam do estudante de Administração a utilização das informações providas pela Contabilidade para otimizar o desempenho de suas atividades, bem como por proporcionar novas evidências para que o ensino da Contabilidade seja aperfeiçoado, visando seu melhor entendimento e alinhamento com as demandas do mercado.

O presente trabalho inicia-se com esta introdução, logo após é desenvolvido um referencial teórico abordando a formação do administrador e o ensino da contabilidade, em seguida os estudos precedentes sobre o ensino de contabilidade. Na sequência é apresentada a metodologia. Após esta, é feita a análise e apresentação dos resultados encontrados. Por fim, as considerações finais sobre o estudo realizado.

Referencial Teórico

A Formação do Administrador e o Ensino da Contabilidade

Oliveira e Sauerbronn (2007) afirmam que, a trajetória de constituição do ensino superior de administração é marcada por certa ambiguidade, pois por um lado visualiza-se que as origens do curso estão associadas à necessidade de modernização do Estado e de desenvolvimento econômico do país. Por outro lado, esta trajetória reflete os obstáculos estruturais ligados ao estabelecimento do ensino superior no país, haja vista que este ensino foi empreendido para atender uma pequena elite econômica e cultural, e por consequência, manteve-se alheio às profundas transformações sociais pelas quais passava o Brasil. Especificamente neste aspecto, encontra-se um paralelo complexo, pela dificuldade de equilibrar e equacionar a origem desse formato de ensino aos atendimentos das demandas sociais.

A formação do graduado em administração no Brasil é um fenômeno relativamente recente, fruto da adoção e da importação do modelo gerencialista, ou modelo business schools, desenvolvido nos Estados Unidos (MOTTA, 1983; BERTERO, 1994; FISCHER, 2001). A adoção do business schools, com predomínio da concepção utilitarista de resultados, desencadeou um formato mecânico/instrumental do indivíduo, estabelecendo a visão clássica do homo economicus, tal como foi descrito por Aktouf (2004). Ele ainda chama a atenção para a lógica do business economics, que influencia a formação dos gestores com conteúdo estruturados, quase que exclusivamente, em capacidades matemáticas, em detrimento de conteúdos culturais e humanistas.

Ao longo dos anos, o modelo de ensino tecnicista, estritamente voltado para a formação de profissionais, com profundo conhecimento técnico, prevaleceu nos projetos pedagógicos das instituições formadoras, garantindo assim, a ocupação, pelos profissionais recém-formados, dos postos de trabalho então oferecidos.

O administrador ao criar uma organização econômica se tornando um empresário deve dispor de uma capacidade de mensurar e atenuar riscos devido a todos os fatores que ameaçam o bom desenvolvimento de uma atividade, a contabilidade pode ser considerada uma fonte de informação valiosa para uma empresa, pois é alimentada com dados gerados por todos os centros de lucro que a compõem.

Laffin (2004, p. 148) comenta a respeito do processo de ensino-aprendizagem em Contabilidade: “É fundamental que a integração das disciplinas seja realizada nos semestres ou anuidades, conforme dispõe a organização institucional, para garantir a imbricação, ao mesmo tempo em que promove a visão de totalidade do conhecimento, assim como sua pertinência”. O ensino da contabilidade é de suma importância na formação na vida de qualquer profissional em qualquer que seja sua área de atuação pois com o conhecimento da mesma você estará apto para começar da forma certa, ela deve ser pluralizada, onde os conhecimentos de várias áreas devem coexistir no processo de ensino-aprendizagem.

É na contabilidade que os fatos ocorridos na empresa se transformam em lançamentos contábeis, que, por sua vez, geram dados que poderão ser transformados em informações gerenciais capazes de dar suporte às mais diversas decisões tomadas pelos administradores, seja a empresa do ramo industrial, comercial ou prestadora de serviços, as informações contábeis deverão propiciar ao usuário uma melhor compreensão dos fatos ocorridos na empresa em determinado momento. Entretanto, na maioria das vezes, os relatórios gerados pela contabilidade têm apenas o objetivo de atender à legislação vigente do ramo de atividade ao qual a empresa pertence.

Nem sempre, os gestores conseguem visualizar o resultado de suas ações através de tais relatórios, pois a nomenclatura utilizada não pertence ao dia-a-dia do empresário. Cabe então ao profissional da contabilidade estudar formas de evidenciar as informações contidas nos relatórios contábeis a fim de apoiar o processo decisório.

O profissional da área contábil no século XXI deve ter um conhecimento vasto e qualificado. Diante das novas necessidades do mercado, que dispõe de muitas informações em reduzido espaço de tempo, e devido às inovações tecnológicas, é exigido do profissional ética, agilidade diante dos problemas, auxílio na tomada de decisões, além de manter-se atualizado continuamente. Para isso os Conselhos Regionais e o Conselho Federal de Contabilidade atuam realizando cursos, seminários e fóruns, tornando continuo o processo de ensino aprendizagem a classe contábil.

O ensino da contabilidade é de suma importância na formação na vida de qualquer profissional em qualquer que seja sua área de atuação, de certa forma deve ser pluralizada, onde o conhecimento de várias áreas deve coexistir no processo de ensino-aprendizagem.

Estudos Precedentes sobre o Ensino de Contabilidade

Em estudos recentes, Borges (2012) mapeou que a pesquisa acerca da temática “Ensino de Contabilidade”, registra números muito aquém do esperado de publicações para a área, demonstrando assim, que área é carente de estudos.

Segundo Borges e Naves (2014), as pesquisas brasileiras apresentaram diversos objetivos ao abordar o ensino da Contabilidade em cursos de Administração. Destacaram-se pesquisas que buscaram investigar as características das disciplinas da área contábil que se inserem no curso de graduação em Administração. Além disso, registrou-se ocorrência de pesquisas que analisaram interesse de discentes pela área e percepções docentes quanto o ensino.

Para Naves et al. (2012), esse movimento pode estar relacionado, principalmente, à necessidade de atendimento às demandas das empresas por determinados perfis profissionais.

Para Alvarães e Leite (2009) acrescentam fatores como exigências do mercado e os seus consumidores, que cobram do profissional a responsabilidade social, consciência ambiental e a conduta ética nos negócios.

O ensino da contabilidade para profissionais não contadores também vem sendo bem discutido perante o século XXI, pois é um instrumento que auxilia no processo decisório, existem casos em que os administradores engavetam os relatórios contábeis, colocando em risco sua própria entidade por simplesmente não saberem o que fazer com eles, ignorando a sua utilidade e não tomando a decisão certa. Sobre a relevância do conhecimento contábil na gestão empresarial, Rauup (2009, p.73) entende que os cursos de bacharelado em Administração devem estruturar as disciplinas de Contabilidade de maneira que possam “inserir no processo ensino-aprendizagem os conhecimentos e discussões contábeis necessárias ao desempenho profissional do administrador”.

O mercado de trabalho atual exige um nível mais elevado na busca de profissionais, exige-se pessoas com o conhecimento diversificado e atualizado às mudanças do ambiente, estudos indicam que o conhecimento de contabilidade prepara o discente do curso de administração para o mercado de trabalho e, consequentemente, para a ocupação de cargos nas organizações, principalmente na área de finanças.

Infelizmente, estudos feitos sobre o tema acerca da temática “Ensino de Contabilidade” registraram números resultados abaixo do esperado de publicações para a área. Um levantamento bibliométrico e sociométrico feito por Borges e Naves (2014) demonstrou que a área é carente de estudos, mas existe o início de formação de algumas redes de colaboração entre pesquisados, o que contribui para o desenvolvimento da temática. Assim julgou-se interessante apresentar o que tem sido produzido na academia em termos de Ensino de Contabilidade para profissionais fora dessa área, como é o caso da presente pesquisa, graduandos em Administração.

Em um contexto nacional, pesquisas sobre o assunto também foram encontradas em dissertações, artigos em periódicos e eventos, no Quadro 1, a seguir, apresentam-se os objetivos e os principais resultados de cada pesquisa.

Conforme consta no Quadro 1 para (CECCONELLO, 2002; TCHEOU, 2002;), nos primeiros trabalhos pode-se observar a partir das dissertações de conclusão de Mestrado que nenhum dos autores decidiram dar continuidade na pesquisa, ou pelo menos, publicar demais resultados em eventos ou periódicos sobre o mesmo tema, demonstrando o baixo interesse dos pesquisadores por essa subárea da pesquisa em Contabilidade.

Para Harada (2005), foram obtidos em seus resultados que os métodos de ensino são os tradicionais chamados (tecnistas) tornado a dificuldade de entendimento sobre a temática causando falta de motivação, resistência e falta de percepção de importância. Destacaram-se também pesquisas que buscaram investigar as características das disciplinas da área contábil que se inserem no curso de graduação em Administração. Além disso, registrou-se ocorrência de pesquisas que analisaram interesse de discentes pela área de Contabilidade (COSTA et al., 2011) e Finanças (AZEVEDO et al., 2011).

Já para Raupp et al. (2009), Bianchi et al. (2010), Costa et al. (2011) e Azevedo et al (2011) destacaram a importância dos conhecimentos contábeis no campo da Administração, entretanto, a bibliografia disponível para o curso ainda está muito aquém do demandado, complementando que a bibliografia produzida até então não atende a real necessidade dos não contadores, que é a interpretação dos relatórios contábeis.

Naves et al. (2012), fez refletir conjuntamente sobre as possibilidades e os limites de uma experiência de ensino-aprendizagem a partir da criação de uma disciplina de pós-graduação stricto sensu intitulada “Reflexões Críticas em Administração”, resultando na construção das relações sociais, incluindo os alunos e professores no processo de ensino –aprendizado, trazendo uma nova experiência.

Em seu estudo Borges et al. (2012) apontaram uma melhoria na qualidade científica dos trabalhos em ensino e pesquisa em contabilidade, identificando possíveis correlações entre os indicadores e a produtividade dos pesquisadores, onde observou-se uma forte concentração da produção científica em apenas alguns autores ao longo do período analisado, evidenciado na comparação entre os resultados observados e os previstos pela Lei Lotka.

Ademais, destaca-se que a maioria dos autores publicou apenas um ou dois artigos sobre o tema no período, demonstrando que não parecem estar relacionados a linhas de pesquisas consolidadas sobre o tema, o que seria muito importante para o desenvolvimento da pesquisa na área. Em relação às instituições que mais desenvolveram a temática em questão, observou-se que essas são instituições públicas de ensino superior, sendo a Universidade de São Paulo (USP) a que mais se destacou em nível de publicação.

Para Borges e Naves (2014), foram mensuradas as atitudes de estudantes da graduação em Administração em relação às disciplinas da área contábil onde tiveram os principais resultados o destaque da importância dos conhecimentos de Contabilidade para a formação básica do Administrador; o processo de ensino deve priorizar a análise e interpretação dos relatórios contábeis, pois estes são de grande utilidade para o processo de tomada de decisão dos gestores, demostrou também que na percepção discente, muitos professores apontaram que os alunos possuem gostos predeterminados por algumas áreas, como Marketing, Recursos Humanos, entre outras, e isso muitas vezes representa motivo pela resistência dos alunos nas disciplinas de Contabilidade.

Este estudo assume importância na medida em que investiga pesquisas relativas à área de ensino de Contabilidade e permite um acompanhamento das publicações, pesquisadores e temáticas estudadas, bem como a identificação de possibilidades de novas pesquisas. Assim, buscou-se com esta pesquisa contribuir para o estudo da educação superior de contabilidade no Brasil.

Metodologia

Tipologia da Pesquisa

Esta pesquisa caracteriza-se como descritiva quanto aos fins, e de campo, quanto aos meios (VERGARA, 2009). Segundo Hair Jr. et al. (2009), a pesquisa descritiva descreve alguma situação por meio da mensuração de um evento ou atividade. Ainda, para estes autores, isso pode ser conseguido com o uso de estatísticas descritivas obtidas de análises de dados capturados por uma estrutura especificamente criada para medir as características descritas na questão de pesquisa. Esta pesquisa também é caracterizada como quantitativa, de modo que as investigações têm natureza empírica, cuja finalidade é analisar as características de grupos de indivíduos mensuradas por meio de variáveis quantificadas nos dados coletados (MARCONI; LAKATOS, 2006).

O estudo tem delimitação de corte transversal, pois os dados são coletados uma única vez, o que representa o instantâneo do momento da coleta (COOPER; SCHINDLER, 2003). Vergara (2009, p. 43) define a pesquisa de campo como “uma investigação empírica realizada no local onde ocorre ou ocorreu o fenômeno ou que dispõe de elementos para explicá-lo”.

Diante do exposto, a pesquisa é do tipo: descritiva, quantitativa, de campo e transversal. Tem como finalidade descrever as características percebidas entre os discentes, analisados via dados científicos, coletados instantaneamente por meio de variáveis específicas presentes em questionário estruturado, e utilizadas para mensurar os aspectos delineados no objetivo deste estudo.

Universo e Amostra da Pesquisa

O universo desta pesquisa foi composto por estudantes de três IES (Instituições de Ensino Superior) duas públicas e uma privada, onde foram observadas dentro destas instituições as seguintes disciplinas em comum: Contabilidade Básica I e II e Contabilidade de Custos, localizadas na Cidade de Campina Grande-PB. Já a amostra foi estabelecida por conveniência. Segundo Gil (1999), uma amostra por conveniência é aquela em que o pesquisador seleciona os elementos a que tem acesso, admitindo que estes possam de alguma forma, representar o universo.

Instrumento de Coleta de Dados

Os dados foram coletados pelo método survey, utilizando-se uma escala métrica tipo Likert com cinco pontos para mensurar a percepção dos graduandos do curso de administração em relação às disciplinas de contabilidade. O objetivo da coleta de dados foi proporcionar informações que permitissem uma análise consistente. A intensidade do nível de concordância é determinada mediante a variação de 1 para discordo totalmente e 5 para concordo totalmente (COOPER; SCHINDLER, 2003).

O instrumento de coleta de dados usado consiste de um questionário estruturado, auto administrado e composto de 36 itens que se referem ao modelo de mensuração da Atitude discente em relação ao Ensino de Contabilidade construído por Borges e Naves (2014).

Feito isso, o questionário foi aplicado a 111 graduandos em Administração que em 2016, estavam cursando entre o 5° (quinto) e 8° (oitavo) período, nas três instituições de ensino pesquisadas. Os questionários de autopreenchimento foram aplicados aos estudantes dentro da sala de aula, com a permissão do professor e prévia autorização da direção/coordenação da instituição de ensino.

Segundo Vergara (2009), os tratamentos dos dados fazem a correlação entre os objetivos da pesquisa e a forma como serão atingidos. Assim, os dados foram tratados, inicialmente, por uma análise estatística descritiva, seguida por teste de consistência de escala, análise fatorial e análise de variância multivariada. O Software SPSS 22 foi o recurso utilizado no tratamento e análise dos dados.

O questionário aplicado foi dividido em 36 itens e avalia as dez (10) dimensões que são: (1) implicações do ensino de contabilidade na prática, (2) autoconfiança, (3) interesse pessoal, (4) dificuldade percebida, (5) utilidade da monitoria, (6) domínio de habilidades em nível prático, (7) importância percebida, (8) prática interdisciplinar, (9) domínio de habilidades em nível teórico e (10) forma de aprendizagem.

Análise dos Resultados

Conforme Tabela 1, a seguir, dos 111 respondentes retidos na amostra final, é observado uma paridade entre os sexos, com uma leve inclinação para o sexo masculino 62 (55.86%). Dos respondestes 67 (60.36%) tinham entre 20 e 25 anos de idade; 88 (79.28%) eram solteiros; 64 (57.66%) eram discentes de Instituições de Ensino Superior Particular; e, 36 (32.43%) tem como ocupação secundária serem funcionários iniciativa privada.

Com o emprego da técnica de análise fatorial, objetivou-se verificar a possibilidade de condensar a informação contida nas variáveis originais da escala de mensuração da Atitude discente em relação ao Ensino de Contabilidade de Borges e Naves (2014) em um conjunto menor de fatores (HAIR JR. et al., 2009).

A análise fatorial exploratória foi realizada usando-se o método de extração dos componentes principais e o método ortogonal Varimax na rotação dos fatores. A matriz de correlação entre as variáveis foi visualmente observada e verificou-se que há, em geral, moderadas e altas correlações entre as variáveis, não havendo indícios de não correlação e nem de altíssimas correlações o que poderia levar à exclusão de alguma (s) variável (is) (FIELD, 2009).

O determinante da matriz de correlações foi calculado e resultou em 0,00000000357 que é menor que 0,00001 e isto leva a crer que alguma (s) variável (eis) pode (m), mas não necessariamente, vir a ser (em) excluída (s) da análise (a rigor o determinante só deve servir para análise fatorial e não de componentes principais) (FIELD, 2009).

A adequação da amostra foi medida por meio do teste de Kaiser-Meyer-Olkin (KMO), sendo indicados valores acima de 0,50 como o mínimo aceitável nesse teste. Associado a isso, o teste de esfericidade de Bartlett indica a presença de correlações significantes entre os itens da escala, não devendo o teste de significância ultrapassar 0,05 (CORRAR et al., 2011). A medida de KMO pode ser interpretada como sendo uma correlação e por assim ser pode seguir o seguinte critério de classificação.

No presente trabalho, verificou-se um KMO igual a 0,741, sendo classificado como médio o seu índice, aceitável para prosseguir com a análise de fatores (ver Tabela 2), indicando assim que pode-se prosseguir com a análise de fatores.

Já o teste de esfericidade de Bartlett, conforme se observa na Tabela 3, a seguir, foi bastante significativo (Sig. = 0,000) o que confirma mais uma vez a existência de correlação entre as variáveis. O teste estatístico da matriz de correlação anti-imagem avalia a adequação de cada variável ao modelo de análise fatorial.

Conforme Tabela 4, a variância total dos fatores atingiu 67,21%. Para Malhotra (2012), recomenda que este valor seja acima de 60%. Assim, considerando-se que a variância total explicada na análise fatorial efetuada, o valor encontrado nesta pesquisa foi aceito.

Para as dimensões, foi adotado o ponto de corte para se analisar a contribuição de cada variável para a explicação de cada fator, a ser obtido pela análise, foi de cargas fatoriais maiores que 0,364 que elevado ao quadrado corresponde a explicação aproximada de 13,25% da variância da variável. Para um tamanho de amostra 100, uma carga maior do que 0,45 pode ser considerada significativa (FIELD, p. 569).

O primeiro fator explica 22,684% da variância de dados e, portanto, é o fator mais importante na explicação dos dados originais desta pesquisa. Os demais fatores têm, relativamente, menor importância em sumarizar as variáveis originais. Por exemplo, o último fator de dimensão, explica 2,823% da variabilidade dos dados. Juntos estes fatores explicam 67,212% das variações das medidas originais.

Dimensão 1: Implicações do Ensino da Contabilidade na Prática.

Para análise inicial, a referida dimensão será nomeada de “Implicações do Ensino de Contabilidade na prática”, pois, as variáveis que a compõe, estão todas relacionadas à forma como os conhecimentos adquiridos pelo estudo da contabilidade podem ser uteis para o administrador.

Os resultados apontaram alto grau de concordância, com maior média (M= 4,378), observa-se que o Administrador que possui habilidades da área contábil terá maior facilidade em identificar a manipulação de informações e fraudes.

Tal fato pode estar sendo debatido devido às inúmeras fraudes que vem acontecendo nas últimas décadas, e vem sendo debatidas em sala de aula, de diversos tipos de modalidades, como por exemplo, alteração de documentos originais, uso de meios falsos para fazer registros, notas frias, registro de estoque alterado, destruição de documentos intencionais, uso de meios falsos para registros etc.

Tal fato é confirmado também na variável que possui menor média (M=3,802), “Administrador recorre a conceitos e técnicas da contabilidade na prática”, revelando a importância do ensino aprendizagem para o administrador e sua aplicabilidade na prática.

Dimensão 2: Autoconfiança.

Essa variável foi estabelecida como Autoconfiança, por que foram reunidas variáveis relacionadas a segurança dos discente, frente aos conhecimentos em contabilidade, seja dentro ou fora da sala de aula.

A dimensão dois reuniu cinco variáveis apresentando uma consistência interna boa, demonstrando que os discentes tiveram coerência ao responder os questionários.

A variável “Compreendo bem os conceitos básicos de contabilidade (Ativo, passivo, PL) obteve maior média (M= 3,910) no fator de Confiança, indicando que os alunos possuem conhecimento básico teórico da contabilidade. Assim como na questão do discente “Compreendo os resultados da análise de demonstrações contábeis”. Isso quer dizer que os discentes estão mais interessados pelas disciplinas de contabilidades, devidas as fraudes evidenciadas na dimensão acima, como também sua importância na vida profissional.

Dimensão 3: – Interesse pessoal

A dimensão três foi chamada de “Interesse pessoal”, pois as variáveis indicam interesse dos estudantes universitários pelas disciplinas de Contabilidade. A variável que apresentou maior média com (M=3,730) foi “As disciplinas de contabilidade são, para mim, muito interessantes”.

Assim como a alta representatividade na variável que diz “Eu realmente gosto de cursar as disciplinas de contabilidade”, fazendo com que se relacionem, onde além de achar a contabilidade interessante, também realmente gostam de cursá-las. Já em relação a menor média com (M=2,387), revela que mesmo que as disciplinas fossem optativas os discentes prefeririam cursá-las. Tal resultado pode estar ligado a importância e relevância da contabilidade na vida acadêmica do administrador.

Assim como a alta representatividade na variável que diz “Eu realmente gosto de cursar as disciplinas de contabilidade”, fazendo com que se relacionem, onde além de achar a contabilidade interessante, também realmente gostam de cursá-las. Já em relação a menor média com (M=2,387), revela que mesmo que as disciplinas fossem optativas os discentes prefeririam cursá-las. Tal resultado pode estar ligado a importância e relevância da contabilidade na vida acadêmica do administrador.

Dimensão 4: Dificuldade percebida

A dimensão quatro foi chamada de “Dificuldade percebida”, pois apresentaram em comum atitudes relacionadas a complexidade e a dificuldade nas disciplinas da área contábil.

Onde obteve maior média com (M= 3,523) foi na variação “O conteúdo das disciplinas desta área é muito complexo, mas útil”, indicando a concordância parcial entre os discentes, ou seja, resultando que os discentes acham as disciplinas complexas, mas sabem da importância e da utilidade para sua profissão, pois para RAUPP et al. (2009) diz que as disciplinas de contabilidade são essenciais para a vida do administrador pois é na ciência contábil que será contada toda história da empresa, através dos registros dos atos e fatos contábeis.

Sobre a variável que obteve menor média (M=2,883) “As disciplinas desta área são mais difíceis que as demais disciplinas’’. Os discentes revelaram discordância não achando que a disciplina de contabilidade fosse mais difíceis que as demais do curso. (MALHOTRA, 2006), afirma que quando a metodologia ensinada é feita de forma correta, tudo se tona mais fácil seja do conteúdo básico até o mais complexo, tudo dependerá do método.

Dimensão 5: Utilidade da Monitoria

A dimensão cinco foi chamada de “Utilidade da monitoria”, por que as afirmativas mensuram a percepção dos discentes sob a ótica do quão útil é o ensino complementar. Nessa dimensão, foi percebida que na variável “O “estilo de linguagem” entre monitor e aluno facilita o entendimento do conteúdo” com maior média (M=2,775) apesar de ter sido a maior obteve um resultado de discordância sobre a assertiva, resultando que o estilo de linguagem entre o monitor e o aluno não facilitam os conteúdos, explicando que a monitoria não foi fundamental no seu processo de aprendizagem, assim como, também, não recorreram a monitoria para terem aulas complementares sobre as disciplinas de contabilidade, apesar de Santos (1998) refletir que as monitorias são de suma importância para o obtenção de maiores conhecimentos sobre a temática, tão como no processo de ensino aprendizado.

Dimensão 6: Domínio de habilidade em nível prático.

A dimensão seis foi denominada “Domínio de Habilidades em nível prático” por que apresentou duas (02) variáveis, colocando em ênfase a capacidade dos discentes de usar os conhecimentos contábeis na prática, de acordo com o ensino aprendizagem feitos nas salas de aulas.

As médias das duas questões indicam concordância, expressando que a maioria dos discentes consegue utilizar o conhecimento sobre a informação contábil, assim como, é capaz de aplica-las nas decisões da gestão empresarial na prática. Essa representatividade pode ser dar de acordo com as demais dimensões acima citadas indicando forte interesse nas disciplinas tão quanto sua utilidade.

Segundo Bianchi (2010), o Administrador que consegue analisar e interpretar as informações contábeis, estará mais apto a desenvolver um melhor trabalho, tão quanto conhecer e aplicar o conhecimento econômico.

Dimensão 7: Importância Percebida

A dimensão de número sete apresentou duas variáveis e recebeu o título de Importância percebida, devido a relevância que as disciplinas possuem sobre a percepção dos discentes de administração, como também a análise com as demais disciplinas do curso.

Em relação as médias, pode-se observar que prevaleceu a discordância total e parcial, entre as variáveis, “Disciplinas de Contabilidade não fazem diferença para uma boa formação”, e “As disciplinas de contabilidade, não tem nenhuma relação com outras disciplinas do curso de Administração” foram variáveis de caráter de negação.

Só que, conforme mostra a média resultou para os discentes, que as disciplinas de contabilidade fazem a diferença para uma boa formação, assim como também possuem relação com as demais disciplinas do curso de administração, ou seja, os alunos percebem a presença da interdisciplinaridade no processo de ensino aprendizagem.

Dimensão 8: Prática Interdisciplinar.

A dimensão oito foi denominada de prática Interdisciplinar por que três das variáveis presentes convergem para o mesmo sentido, da interdisciplinaridade. A variável com maior média, que se aproximou de “concordância parcial” com média (M=3,736) foi “Os conhecimentos de Contabilidade possibilitam ao administrador manipular melhor os dados da empresa, deixando visível apenas o que ele quer”, tal fato pode ser dar por diversos fatores.

Segundo Anthony (1974), a Contabilidade deverá preocupar-se em gerar informações úteis à administração, atendendo às necessidades dos gestores. Mas muitas vezes o empresário ver o contador como apenas instrumento cumpridor de todas as exigências impostas pela Legislação, deixando então que o administrador faça o que bem quiser com as demonstrações expostas, manipulando-as com seu grau de interesse.

As demais variáveis apresentadas indicam que entre elas que há uma forte correlação, deixando evidente a pratica interdisciplinar entre as demais disciplinas do curso, pois a interdisciplinaridade é a base para a construção do conhecimento global, irrestrito e capaz de se ampliar e de se renovar, por isso pressupõe romper com as fronteiras das disciplinas.

Dimensão 9: Domínio de Habilidades em Nível Teórico.

Na dimensão nove, foi denominado de Domínio de Habilidades em nível teórico, pois as variáveis apontavam a percepção quanto ao domínio teórico dos discentes em relação a área de contabilidade, tais como normas tributárias e estruturas das demonstrações contábeis.

As médias nas duas questões indicam concordância parcial, ou seja, maior parte dos discentes entendem as características e as estruturas das demonstrações contábeis, assim como compreendem a aplicação das normas tributárias nas atividades organizacionais.

Pois para Marion (1997) a disciplina Teoria da Contabilidade em cursos de graduação, ressaltou a importância da disciplina no desenvolvimento do raciocínio contábil e não apenas prático-mecânico do aluno. Destacando também, como ponto principal, manter o interesse do aluno pela disciplina, e uma das maneiras fazer isto é demonstrar que a contabilidade se constitui num instrumento de tomada de decisões, independente de quem seja o usuário da informação.

Dimensão 10: Forma de Aprendizagem

Na dimensão dez foi chamada de “Forma de aprendizagem” por que faz respeito a forma de aprender as disciplinas de contabilidade durante o curso. A variável que mais indicou concordância entre os discentes foi “Aprendo as disciplinas de contabilidade estudando fora de sala de aula” com média (M=3,327) isso quer dizer que a maioria dos discentes demonstra aprender mais sobre a contabilidade fora da sala de aula, seja com livros, vídeo aulas em suas residências ou até mesmo nas monitorias, pois a mesma, segundo resultado está preparado para auxiliar no aprendizado das disciplinas de contabilidade. Tal fato pode se dar devido às metodologias adotadas na sala de aula que não estão ajudando na forma de aprendizagem, assim como demonstra o grau de concordância.

Considerações Finais

A pesquisa teve como objetivo mensurar a percepção e atitudes dos discentes do curso de graduação em administração, em relação em relação às disciplinas de contabilidade, a pesquisa consistiu numa avaliação quantitativa por meio de estatística multivariada e descritiva, com 36 variáveis aplicando testes de Kaiser–Meyer-Olkin (KMO), Esfericidade de Barlett e comunidades que indicam grau satisfatório de ajuste e confiabilidade dos dados, onde foi submetido a uma análise fatorial. Apresentando variância total explicada de aproximadamente 67% considerada aceita. Onde obteve 10 dimensões que foram designados: (1) Implicações do ensino de Contabilidade na Prática; (2) Autoconfiança; (3) Interesse Pessoal na prática; (4) Dificuldade Percebida; (5) Utilidade da monitoria (6) Domínio de habilidades em nível prático; (7) Importância percebida; (8) Prática Interdisciplinar; (9) Domínio de habilidades em nível teórico; (10) Forma de aprendizagem. A seguir serão apresentadas as principais considerações sobre a temática.

A segunda dimensão retida na análise fatorial é aquela que melhor explica o modelo da pesquisa, por possuir elevadas cargas fatoriais e consistência interna dos dados (Alfa Cronbach = 0,785), reunindo as variáveis que indicaram “Autoconfiança”, demonstraram que os discentes se sentem moderadamente autoconfiantes em relação aos conceitos básicos de contabilidade, assim como analisar e compreender as demonstrações contábeis. Na dimensão implicações do ensino da contabilidade foi onde obteve maior média (M=4,378), na variável onde os discentes concordaram que administradores que possui habilidades da área contábil terá maior facilidade em identificar a manipulação de informações e fraudes.

Houve forte interesse dos discentes em estudar as disciplinas de contabilidade, mesmo que elas fossem optativas, assim como gostam de cursar as disciplinas, se sentem capazes de aplicar os fundamentos contábeis nas decisões empresariais. A dificuldade percebida entre os discentes foi que, os mesmos acharam o conteúdo das disciplinas de contabilidade complexas, mas que são muito úteis na formação dos administradores. Sobre a utilidade da monitoria foi constatado um baixo índice de interesse dos discentes, demonstrando não recorrer com frequência à monitoria, evidenciando também que por mais que a mesma esteja preparada para auxiliar nas disciplinas de contabilidade, não foi fundamental no seu processo de ensino aprendizagem.

Os discentes concluem que as disciplinas de contabilidade fazem toda diferença em sua formação, assim como possuem forte relação com as outras disciplinas do curso de administração, evidenciando a interdisciplinaridade entre as mesmas, fazendo com que os conhecimentos em contabilidade possibilitam ao administrador manipular melhor os dados da empresa, entendendo suas características e tendo domínio tanto em nível prático quanto teórico.

Assim, tem-se que o presente estudo apresenta contribuições em nível acadêmico e prático curricular, especialmente para repensar na configuração da área do ensino de contabilidade, nos cursos de administração. Além destes os resultados alcançados com o presente trabalho podem servir como referencial para os professores e coordenadores de contabilidade que lecionam no curso de administração.

Dentre as limitações encontradas na pesquisa, não foi possível aplicar os questionários nas 5 IES de administração que compõem o município de Campina Grande-PB, apenas em 3, devido duas delas não terem autorizado a aplicação dos questionários aos discentes, tendo como causa, o alto processo burocrático de aplicação nas instituições. Outra limitação está ligada a amostra da avaliação quantitativa da pesquisa, com um número pequeno de elementos em relação ao universo e com abordagem por acessibilidade, mesmo sabendo que os preceitos de HAIR Jr et al. (2009) foram atendidos com 111 respondentes. No entanto é conveniente não generalizar os resultados para toda população em estudo, mas sim para os elementos que compuseram a amostra.

Como sugestão para futuras investigações recomenda-se que a pesquisa seja ampliada, podendo ser aplicada no âmbito nacional com objetivos semelhantes, além disso, é interessante que outras ferramentas da estatística multivariada sejam utilizadas, assim como, se sugere que seja feita uma avaliação qualitativa a partir de análises mais profundas, tais como a ementa das disciplinas de contabilidade no curso de administração.

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