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Estudo de Caso: Uma Avaliação do Uso do Método nas Dissertações da FGV no Triênio 2012-2014
Aline de Souza Freire; Bruno Silva Souza; Elena Bandeira da Silva;
Aline de Souza Freire; Bruno Silva Souza; Elena Bandeira da Silva; Irene Raguenet Troccoli
Estudo de Caso: Uma Avaliação do Uso do Método nas Dissertações da FGV no Triênio 2012-2014
Case Study: An Evaluation of the Use of the Method in the Dissertations of the FGV in the Triennium 2012-2014
Revista Administração em Diálogo, vol. 19, núm. 3, pp. 115-136, 2017
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
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Resumo: Frequentemente tido como de fácil execução pelo fato de lidar com uma ou com poucas unidades, o estudo de caso é um dos meios de pesquisa utilizados por cientistas sociais da área de Administração de Empresas. À luz desse fato, o objetivo deste artigo de abordagem quantitativa-qualitativa foi, com base em um modelo de investigação, verificar se foram contemplados, de forma explícita, os aspectos relacionados ao planejamento, à coleta e à análise dos dados em uma amostra de dissertações do Mestrado Executivo em Gestão Empresarial da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas (Ebape) da Fundação Getúlio Vargas (FGV), defendidas no triênio 2012-14 e que se autoqualificaram como estudos de caso. A conclusão é de que alguns desses aspectos foram plenamente obedecidos, outros foram apenas tangenciados, e outros foram simplesmente esquecidos. Reflexões a respeito são colocadas e futuros estudos são sugeridos.

Palavras-chave:Estudo de CasoEstudo de Caso, Método Científico Método Científico, Administração Administração.

Abstract: Often considered to be easy to implement because it deals with one or a few units, the case study is one of the means of research used by social scientists in the area of Business Administration. In light of this fact, the objective of this quantitative-qualitative approach was, based on a research model, to verify whether the aspects related to planning, collection and analysis of data or of evidence were explicitly included manner in a sample of dissertations of Business Administration of the Mestrado Executivo em Gestão Empresarial da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas (Ebape) of Fundação Getúlio Vargas (FGV) defended in 2012-14 triennium. The conclusion is that some of these aspects were fully accomplished, others were half accomplished, and still others were simply forgotten.

Keywords: Case Study, Scientific Method, Administration.

Carátula del artículo

Estudo de Caso: Uma Avaliação do Uso do Método nas Dissertações da FGV no Triênio 2012-2014

Case Study: An Evaluation of the Use of the Method in the Dissertations of the FGV in the Triennium 2012-2014

Aline de Souza Freire
Universidade Estácio de Sá – UNESA, Brasil
Bruno Silva Souza
Universidade Veiga de Almeida – UVA/RJ, Brasil
Elena Bandeira da Silva
Universidade Estácio de Sá – UNESA, Brasil
Irene Raguenet Troccoli
Universidade Estácio de Sá – UNESA, Brasil
Revista Administração em Diálogo, vol. 19, núm. 3, pp. 115-136, 2017
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
Introdução

A universidade, a pesquisa e o acesso ao conhecimento e à produção de novas informações evoluem a grandes passos. Voltados anteriormente à formação profissional para ingresso no mercado de trabalho, os cursos superiores, hoje, respondem a múltiplas demandas do governo e da sociedade de nosso tempo, e os cursos de pós-graduação exploram praticamente todas as áreas do conhecimento (CERVO; BERVIAN; DA SILVA, 2007, p. XI).

É nesse cenário que se encontra a elaboração de dissertações e de teses nos cursos de pós-graduação stricto sensu, enquanto condição obrigatória para a formação de mestres e de doutores no Brasil. Isso porque esses trabalhos de conclusão de curso, como são chamados, baseiam-se em pesquisas e usam o método científico, objetivando a construção de novas hipóteses e suposições. Visam ao aprofundamento e à crítica de teorias acerca de fenômenos naturais, sociais e humanos, a fim de se chegar à sua verdade; conferem significativa contribuição para a comunidade acadêmica; e se tornam referência para entendimento e base de pesquisa, além de apontarem a possibilidade de novos estudos para os pesquisadores.

Esse compromisso e essa responsabilidade por parte dessas investigações científicas, por sua vez, tornam legítima uma avaliação quanto à confiabilidade dos resultados conseguidos com os métodos que utilizam. Afinal, o objetivo fundamental da ciência é chegar à veracidade dos fatos por meio da utilização do método científico, "(...) conjunto de procedimentos intelectuais e técnicos adotados para se atingir o conhecimento." (GIL, 2014, p. 8).

Um dos meios de pesquisa utilizados com esse propósito por parte dos cientistas sociais da área de Administração de Empresas é o estudo de caso. Normalmente associado à abordagem qualitativa, é:

Entendido como uma metodologia ou como a escolha de um objeto de estudo definido pelo interesse em casos individuais [e] visa à investigação de um caso específico, bem delimitado, contextualizado em tempo e lugar para que se possa realizar uma busca circunstanciada de informações (VENTURA, 2007, p. 384).

Contudo, existe um equívoco no meio acadêmico de Administração de Empresas (e talvez também em outros meios), consubstanciado no entendimento de que um estudo de caso é um tipo de pesquisa fácil, pelo fato de lidar com uma ou com poucas unidades. Alves-Mazzotti (2006) é da opinião de que tal deformação foi iniciada pela orientação de Bogdan e Biklen (1994) de que investigadores iniciantes deveriam começar sua aprendizagem com essa estratégia, dada sua “facilidade” intrínseca.

É possível que, na verdade, seja um pouco mais do que isso: no imaginário do pesquisador, uma circunscrição sinalizaria uma segurança confortável, um abrigo capaz de mitigar as naturais intempéries da pesquisa científica. Em outras palavras, o estudo de caso facilitaria o esforço e diminuiria os riscos da investigação (CRESPO, 2014)

Ocorre que o estudo de caso é estratégia de pesquisa complexa. Talvez por isso mesmo não seja raro observar que os pesquisadores que dizem elaborar esse tipo de pesquisa na verdade não o fazem, desdenhando o seguimento dos procedimentos recomendados - por exemplo, por Yin (2005) - como necessários à sua consecução.

Assim, de forma simplista, entendem que cumpriram as exigências apenas pelo fato de obedecerem a normas científicas genéricas e, principalmente, de concentrarem sua investigação em uma unidade qualquer, seja ela uma organização, um grupo de pessoas, um setor, um país (CRESPO, 2014; ALVES-MAZZOTTI, 2006).

É com base nessa premissa que se estrutura esse trabalho, voltado à avaliação do atendimento, ou não, de aspectos do método científico estudo de caso na elaboração de dissertações de mestrado apresentadas como tal. Assim, busca-se responder à questão: até que ponto os protocolos estabelecidos para a construção de pesquisas de estudo de caso estão sendo seguidos pelos mestrandos de uma das maiores escolas de Administração de Empresas do Brasil?

Entende-se que a relevância dessa curiosidade reside no fato de, nas ciências, o método ser tradicionalmente empregado para a investigação e a demonstração da verdade, o que implica que as bases para tal devem ser rigorosamente seguidas (CERVO; BERVIAN; DA SILVA, 2007)

Para tanto, o artigo está estruturado em cinco seções: essa introdução, referencial teórico, aspectos do método, resultados da pesquisa e considerações finais.

Referencial Teórico

O estudo de caso consiste na investigação de fatos isolados ou de pequenos grupos. Seu propósito básico é o de entender fatos e fenômenos sociais contemporâneos em seu ambiente natural no mundo real, requerendo cuidados muito específicos em sua confecção:

Fazer um estudo de caso de forma apropriada significa ter em vista cinco preocupações tradicionais sobre estudos de caso - conduzir a pesquisa de forma rigorosa, evitar confusões com casos de ensino, saber como chegar a conclusões generalizadas quando desejado, gerir cuidadosamente o nível de esforço e compreender a vantagem comparativa da pesquisa de estudo de caso. O desafio geral torna a pesquisa de estudo de caso difícil, apesar de ela ser classicamente considerada uma forma de pesquisa leve (YIN, 2005, p. 2).

Originado na medicina e na psicoterapia, áreas onde é necessário considerar aspectos individuais de cada pessoa e a história individual de cada ser, o estudo de caso serve para análises onde a percepção do outro e do mundo interfere na interpretação dos eventos pelo sujeito. É, portanto, única para cada um (VENTURA, 2007).

A opção por esse meio de pesquisa pode advir da necessidade de uma descrição ampla e profunda de um fenômeno pouco definido, onde as teorias existentes sobre ele e sobre o contexto são insuficientes para explicá-los (BENBASAT; GOLDSTEIN; MEAD, 1987; HALINEN; TORNOOS, 2005; McNEALY, 1997; YIN, 2005; BONOMA, 1985).

Com a questão de pesquisa normalmente utilizando as formas “como”, “por que” e “o que” (DUBÉ; PARÉ, 2003; YIN, 2005), a forma do estudo de caso pode ser tanto quantitativa quanto qualitativa no que diz respeito à abordagem. Pode ser único ou múltiplo, dependendo do propósito da pesquisa e da definição da unidade avaliada, essa última podendo se referir a um indivíduo, a um grupo social, a uma organização, a uma comunidade, a uma nação ou a toda uma cultura (GIL, 2010).

Atualmente, fenômenos complexos também são pesquisados mediante adoção do estudo de caso, principalmente por sociólogos, antropólogos e juristas: "Numa ponta identificam-se os estudos agregados, quando a intenção é examinar o próprio universo, e na outra, os estudos de caso, quando se estuda uma unidade ou parte desse todo” (VENTURA, 2007, p. 383). Assim, trata-se de uma escolha técnica, em nome do cientificismo.

Pelas suas características, o estudo de caso possibilita a geração tanto de insights quanto de ideias para trabalhos futuros, permitindo penetrar em profundidade na realidade social. Isso viabiliza interpretações sobre as razões de ocorrência de determinado fenômeno, permitindo apontar um modelo a ser seguido, uma referência para atuação futura (TULL; HAWKINS, 1976; MICHEL, 2009).

Por outro lado, como qualquer outro meio de pesquisa, o estudo de caso também apresenta dificuldades, tais como a inexistência de parâmetros específicos sobre seu preparo. Não raro, isso leva a que investigadores menos cuidadosos sejam induzidos a entender que certos achados sobre evidências podem ser tomados como verdadeiros, quando, na verdade, são equivocados (MICHEL, 2009; YIN, 2005). Por isso mesmo, o pesquisador deve "mostrar perseverança, criatividade e raciocínio crítico para interpretar e concluir sobre as evidências extraídas de sua pesquisa" (MARTINS; THEÓPHILO, 2009, p. 62-63).

Essa recomendação sinaliza a importância do perfil adequado do pesquisador para a execução desse tipo de investigação científica, que exige uma mente questionadora mesmo durante a coleta de dados, especialmente pelo uso frequente de entrevistas e da análise bibliográfico-documental. Também é preciso que o autor seja flexível para mudar o planejamento e rever o projeto original, caso isso seja necessário, o que reforça a necessidade de um bom conhecimento da teoria sobre o tema da investigação (YIN, 2005).

Método

Essa pesquisa é de abordagem mista quantitativa-qualitativa, e levantamento bibliográfico quanto aos meios, com seus resultados tendo sido tratados por meio da estatística descritiva (GIL, 2014). Quanto à finalidade, trata-se de pesquisa descritiva: expõe as características de determinada população ou fenômeno, estabelece correlações entre variáveis e define sua natureza (VERGARA, 2013).

A investigação sobre até que ponto os protocolos estabelecidos para a construção de pesquisas de estudo de caso são seguidos no caso de dissertações de mestrado em Administração de Empresas, foi efetuada junto a amostra de trabalhos finais do Mestrado Executivo em Gestão Empresarial da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas (Ebape) da Fundação Getúlio Vargas (FGV) defendidas no triênio 2012-14.

A escolha dessa escola derivou de sua qualificação no mercado de cursos de pós-graduação stricto sensu garantida pela nota máxima alcançada no triênio 2011-13 enquanto curso de nível profissional junto à Comissão de Aperfeiçoamento de Pessoal do Nível Superior (CAPES). Já a opção pelas dissertações como objeto dessa análise se deveu à sua importância no mercado acadêmico, conforme já indicado em Cervo, Bervian e Da Silva (2007).

Utilizou-se como modelo de investigação o artigo de Oliveira, Maçada e Goldoni (2006), partindo da premissa de que sua publicação em periódico de primeira linha o qualifica enquanto guia. Remetendo a Dubé e Paré (2003), esse modelo de investigação informa os critérios – divididos em quatro níveis, com seus respectivos componentes – que devem ser obedecidos para que um estudo de caso verdadeiramente se qualifique como tal:

1) Tipo de pesquisa: descritivo, exploratório ou explanatório;

2) Planejamento do estudo de caso: existência de protocolo; confiabilidade; questão de pesquisa; tipo de questão de pesquisa; apresentação da teoria; especificação de construtos; número de casos; natureza de caso único; replicação literal; replicação teórica; validade externa; unidade de análise; unidade incorporada de análise; caso piloto; número de casos piloto; critérios para seleção do piloto; local de condução da pesquisa; período no tempo; coleta em diferentes momentos; adequado acesso às informações; tempo gasto no local; período de coleta; uso de equipe; número de autores; papel dos investigadores; desenho de pesquisa;

3) Coleta de dados ou levantamento de evidências do estudo de caso: descrição dos procedimentos; tipo de dados ou de evidências (qualitativo, quantitativo, ambos e nenhum); múltiplas fontes de evidências ou de dados; entrevista; documentos; observação; outra técnica de coleta; triangulação; tipo de triangulação; base de dados; validade do construto; e

4) Análise dos dados ou das evidências do estudo de caso: descrição dos procedimentos; anotações de campo; esquema de codificação; flexibilidade; encadeamento lógico de evidências; comparação dos casos; proposição teórica; explanação concorrente; descrição do caso; adequação ao padrão; construção de explanação; análise de séries temporais; modelos lógicos; síntese de casos cruzados; validade interna; citações; revisão do projeto; comparação com literatura; validade do construto.

O levantamento do material a ser analisado se deu por meio do acesso ao site da FGV, onde foram buscadas as referidas dissertações para o triênio escolhido. Em seguida, foi utilizado o recurso de seleções específicas “localizar” do Windows para identificar e separar aquelas que trazem a palavra "caso" em seu título ou "estudo de caso" no resumo.

Inicialmente foram localizadas 36 dissertações, das quais uma não pode ser analisada por não estar disponível para acesso público. Isso limitou a amostra final a 35 dissertações, que foram baixadas do site e divididas entre três pesquisadores. Em seguida, esses pesquisadores buscaram, em suas respectivas subamostras, referências explícitas àqueles elementos listados por Oliveira, Maçada e Goldoni (2006) como necessários à qualificação de um estudo de caso. Ou seja, nada foi deduzido, por mais que pudesse parecer evidente.

Essa busca foi feita utilizando a técnica de análise de conteúdo, por meio da leitura plena do resumo, da introdução, da seção de métodos e das conclusões das dissertações. Em paralelo, foi executada leitura perpendicular nos demais capítulos, e, em seguida, foi usada a ferramenta de busca de palavras disponível nos documentos de extensão “.pdf”. O tempo médio investido nessa pesquisa em cada dissertação foi de 60 minutos.

Após, para certificar a convergência dos entendimentos entre a equipe de pesquisadores, cada um deles selecionou aleatoriamente três dissertações da própria subamostra e compartilhou interpretações com os demais pesquisadores, Isso possibilitou que os motivos de eventuais divergências fossem analisados criticamente com vistas ao consenso.

Como último passo, as informações consolidadas foram transcritas em planilha Excel, onde tabelas foram elaboradas com as informações numéricas e respectivos cálculos de estatística descritiva. Para a apresentação dos resultados, usou-se a divisão proposta por Oliveira, Maçada e Goldoni (2006).

Resultados do Levantamento Resultados Quanto aos Tipos de Pesquisa

Essa informação esteve ausente em 20% da amostra, enquanto que, dentre as dissertações que a explicitaram, a preferência ocorreu junto às pesquisas exploratório-descritivas, seguidas das pesquisas apenas exploratórias. Por seu turno as menos executadas foram as pesquisas exploratório-explanatórias (ver Tabela 1).

Tabela 1
Dissertações da Ebape/FGV qualificadas como estudos de caso em 2012-14 - Distribuição anual e total do período – Quantidades parciais e totais, e respectivas classificações quanto às finalidades de pesquisa - 2012-14

Elaborado pelos autores.

Resultados Quanto ao Planejamento do Estudo de Caso

Os resultados quanto ao levantamento dos aspectos que Oliveira, Maçada e Goldoni (2006) colocam como relevantes quando se planeja um estudo de caso encontram-se na Tabela 2[5], conjuntamente aos quantitativos referentes às verificações explícitas.

Como se trata de diversos itens e como os respectivos percentuais de observação são variados, os resultados dessa fase estão colocados da seguinte forma: inicialmente são ressaltados os casos com percentuais considerados mais expressivos, subjetivamente entendidos como os iguais ou maiores que 40%. Em seguida, estão descritos os demais, com uma ressalva: os percentuais relativos às replicações literal e teórica, sendo específicos aos casos múltiplos, apresentam participações muito reduzidas em relação ao total da amostra, o que explica por que estão comentados conjuntamente à participação dos casos múltiplos.

Tabela 2
Dissertações da Ebape/FGV qualificadas como estudos de caso em 2012-14 – Presença dos elementos do planejamento nos estudos de caso

Elaboração própria, com base em Oliveira, Maçada e Goldoni (2006).Nota As linhas escritas com letras mais claras trazem informações de um subconjunto pertencente ao elemento escrito com letra mais escura que se encontra imediatamente acima.

Itens com Percentuais Iguais ou Maiores que 40%

- Questão de pesquisa: todas as dissertações da amostra trouxeram uma questão-problema. A forma preferida de colocar essa pergunta foi iniciada com a palavra “como”: sozinha ou acompanhada de uma segunda questão iniciada com “por que”, foi responsável por 45,7% das escolhas da amostra. A menos utilizada ocorreu na forma “quais”;

- Apresentação da teoria: todas as dissertações analisadas trouxeram referencial teórico;

- Desenho da pesquisa: essa fase, “(...) sequência lógica que conecta dados empíricos à questão inicial de pesquisa e às suas conclusões” (YIN, 1997, p. 236) foi detectada em 45,7% da amostra;

- Opção por tipo de caso: todas as dissertações especificaram o tipo de caso estudado, e a maioria optou pelo estudo de caso único, com 94,3% da amostra. Contudo, referindo-se àquilo que fundamentou a opção pela estratégia de um único elemento para o estudo de caso (ser crítico, típico, revelador), a natureza do caso único foi apresentada por apenas uma dessas dissertações, representando 3% dessa subamostra;

- Validade externa: dizendo respeito à extensão em que as conclusões obtidas através do estudo de caso podem ser generalizadas, foi explicitada em 51,4% da amostra;

- Unidade de análise: tratando-se da “parte mais elementar do fenômeno a ser estudado” (FRANKFORT-NACHMIAS; NACHMIAS, 1996, p. 53), a definição da unidade de análise auxilia na delimitação da teoria quando se trata de estudo exploratório, ou confirma a adequação com a teoria que está sendo testada quando se trata de estudo explicativo. Na amostra avaliada, 51,4% das dissertações identificaram suas respectivas unidades de análise;

- Local de condução da pesquisa: grande parte da amostra (77,1%) indicou esse local, identificação relevante para a compreensão das condições em que as informações foram obtidas;

- Período no tempo: também relevante para a compreensão das condições em que as informações foram obtidas, a temporalidade da investigação foi detectada em 65,7% da amostra;

- Adequado acesso: remetendo ao grau de facilidade encontrado pelo pesquisador na busca pelas informações necessárias à estruturação do caso, esse elemento pôde ser verificado em 65,7% da amostra;

- Tempo gasto no local: a duração dessa fase na pesquisa de campo foi indicada em 40% da amostra;

- Período de coleta: a identificação do período quando foi executado o levantamento das informações dos estudos de caso, se durante ou posteriormente aos eventos, aconteceu em 51,4% da amostra;

- Existência de protocolo: esse elemento é necessário para assegurar a confiabilidade de estudos de caso, além de ser importante quando se deseja garantir unicidade nos procedimentos de pesquisa realizada por mais de um investigador, ou em estudos de caso múltiplo (YIN, 2005). A execução de protocolo foi explicitada em 40% da amostra;

- Confiabilidade: tratando-se da capacidade de replicação do estudo por outro pesquisador, nos estudos de caso está diretamente ligada à existência e ao cumprimento de um protocolo de pesquisa. O cuidado para garantir esse indicador foi mencionado em 40% da amostra.

Itens com Percentuais Menores que 40%

Essa verificação foi dividida em dois grupos: um com frequência entre 40% e 20%, e outro com menções abaixo de 20% (ver Tabela 2). Essa subdivisão partiu do princípio subjetivo de que menos de 20% significariam frequência muito baixa, devendo esses casos ser destacados.

Itens com Percentuais Abaixo de 40% e até 20%

- Especificação dos construtos: tratando-se de elemento que pode auxiliar no momento da análise dos resultados obtidos com a pesquisa, houve esse tipo de especificação em 25,7% da amostra;

- Coleta em diferentes momentos: explicitado em 31,4% da amostra, o corte longitudinal visa a pesquisar a dinâmica de um problema, investigando-o várias vezes, ou continuamente, durante determinado período de tempo. Quanto maior a duração da investigação, maiores as chances de que padrões e (des) continuidades sejam identificados. Isso garante maior profundidade ao entendimento do caso (DUBÉ; PARÉ, 2003) conforme se torna possível identificar o recorte referencial sob o qual os fenômenos estão sendo investigados (PETTIGREW, 1989);

- Equipe: apenas 20% das dissertações da amostra trouxeram explicitamente informações sobre os auxiliares aos autores das dissertações nas diversas fases da pesquisa.

Itens com Percentuais Abaixo de 20%

- Caso múltiplo: como 94,3% dos artigos configuraram-se como caso único, os restantes 5,7%, equivalendo a duas dissertações, obviamente constituíram-se em casos múltiplos. Essa opção se relaciona à replicação literal - recurso que conduz a resultados semelhantes por motivos previsíveis - ou teórica, recurso que leva a resultados contrastantes por características conhecidas do caso (DUBÉ; PARÉ, 2003; YIN, 1997, 2005). Isso explica por que cada um dos tipos de replicação foi detectado em apenas uma dissertação da amostra;

- Unidade de análise incorporada: remete à possibilidade de estudos de casos, tanto múltiplos como únicos, poderem ser ou incorporados ou holísticos. Nos holísticos – que se podem compor de um único caso ou de múltiplos casos – a unidade de análise é considerada em determinado contexto; já nos incorporados, há subunidades de análise para cada caso. Oliveira, Maçada e Goldoni (2006, p. 5) ilustram: “Por exemplo, em um estudo de caso holístico, o caso que equivale à unidade de análise é um Programa de Pós-Graduação, enquanto no estudo de caso incorporado, o caso é o Programa de Pós-Graduação, mas as unidades incorporadas de análise são as áreas de concentração deste programa”. Na amostra avaliada, 14,3% do total explicitaram as suas respectivas subunidades de análise;

- Estudo de caso-piloto: esse tipo de recurso serve a diversos propósitos, tais como a identificação da unidade de análise e o refinamento dos instrumentos de coleta de dados, além de propiciar maior familiaridade do pesquisador com o fenômeno que está investigando (BENBASAT; GOLDSTEIN; MEAD, 1987). Na amostra pesquisada, apenas uma dissertação – equivalendo a 2,9% do total – explicitou que realizara essa etapa;

- Critério para escolha do caso-piloto: os critérios para escolha do caso piloto não necessitam ser os mesmos utilizados para selecionar os demais casos, podendo ser, por exemplo, pela acessibilidade dos informantes, localização geográfica conveniente, e riqueza dos documentos (YIN, 2005). A única dissertação que utilizou caso-piloto apresentou o critério para a sua escolha, equivalendo a 100% dessa subamostra;

- Papel dos investigadores: tem a ver com as atividades designadas para os investigadores do estudo de caso, sendo que, quando esses são diversos, diferentes estratégias de pesquisa podem ser simultaneamente utilizadas, enriquecendo os resultados. Na amostra pesquisada, 5,7% das dissertações explicitaram esses papéis.

Resultados Quanto à Coleta de Dados ou ao Levantamento de Evidências

Os aspectos que Oliveira, Maçada e Goldoni (2006) colocam como relevantes quando se analisam dados ou evidências em um estudo de caso encontram-se na Tabela 4, conjuntamente aos quantitativos referentes às verificações explícitas.

Tabela 3
Dissertações da Ebape/FGV qualificadas como estudos de caso em 2012-14 - Presença dos elementos da coleta de dados nos estudos de caso

Elaborado pelos autores, com base em Oliveira, Maçada e Goldoni (2006)

As formas como foram efetuadas as coletas de dados foram relatadas na totalidade das dissertações. Ao mesmo tempo, por mais que fosse dedutível por meio de leitura, 14,3% dessas pesquisas não explicitaram qual abordagem utilizaram; já naquelas que o fizeram, a franca preferência se deu à abordagem qualitativa, com 74,3% das observações.

Múltiplas fontes de evidência foram utilizadas por 62,9% dos pesquisadores da amostra. Já no que tange às técnicas para a obtenção de informações primárias, a entrevista foi a favorita, com 85,7% das observações. A análise bibliográfico-documental foi detectada em 91,4% da amostra, a observação ocupou 48,6% e outras técnicas limitaram-se a 5,7% das observações. A realização da triangulação, “que torna o caso robusto” (OLIVEIRA; MAÇADA; GOLDONI, 2006, p. 13), foi explicitada em 51,4% dos artigos, muito embora apenas oito dessas 18 pesquisas tenham especificado o tipo de triangulação adotado.

A construção de base de dados, elemento de destaque para a confiabilidade do estudo de caso (YIN, 2005), foi explicitada em 37,1% das dissertações. Por fim, a validade do construto, por meio do relacionamento de múltiplas fontes de evidência, foi informada de forma clara em 34,3% das dissertações.

Resultados Quanto à Análise de Dados ou das Evidências

Os aspectos que Oliveira, Maçada e Goldoni (2006) colocam como relevantes nessa etapa da elaboração de um estudo de caso encontram-se na Tabela 4, conjuntamente aos quantitativos referentes às verificações explícitas.

Tabela 4
Dissertações da Ebape/FGV qualificadas como estudos de caso em 2012-14 - Presença dos elementos da análise de dados nos estudos de caso

laborado pelos autores, com base em Oliveira, Maçada e Goldoni (2006).

À semelhança de o que foi feito no caso da Tabela 2, como aqui também se trata de diversos itens e como os respectivos percentuais de observação são variados, os resultados estão colocados da seguinte forma: inicialmente são ressaltados os casos com percentuais considerados mais expressivos, subjetivamente entendidos como os iguais ou maiores que 40%; em seguida, são descritos os demais.

Itens com Percentuais Iguais ou Maiores que 40%

- Descrição dos procedimentos de análise: referida aos procedimentos da análise dos dados, essa análise permite que os resultados sejam mais bem entendidos, além de indicar que o processo foi sistemático e rigoroso. Foi explicitada em 94,3% da amostra;

- Anotações de campo: fundamentais para a construção da base de dados ou de evidências a partir do levantamento primário, devem ser tão completas quanto possível, incluindo comunicações tanto verbais como não verbais, além da descrição do contexto das conversações (DUBÉ; PARÉ, 2003). Elas foram explicitadas em 54,3% das dissertações da amostra;

- Esquema de codificação: trata-se da forma como a codificação é definida, providência que possibilita a identificação da lógica adotada nessa definição e que garante a replicação do estudo. Atingiu 45,7% da amostra;

- Encadeamento de evidências: esse elemento tem como princípio “(...) permitir ao revisor ou observador externo seguir as derivações de qualquer evidência desde a questão inicial da pesquisa até as últimas conclusões do estudo de caso” (DUBÉ; PARÉ, 2003, p.618). Foi explicitado em 54,3% da amostra;

- Descrição do caso: 62,9% das dissertações analisadas cumpriram explicitamente essa etapa, que implica desenvolver uma estrutura descritiva para organizar o estudo do caso;

- Adequação ao padrão: Na amostra, 57,1% das dissertações compararam seus resultados com um padrão baseado em teorias prévias;

- Construção de explanação: significando a explicação sobre o caso a partir da análise dos dados ou das evidências obtidos, por meio de “(...) um conjunto presumido de elos causais em relação a ele” (YIN, 2005, p. 149), foi explicitada em 60,0% da amostra;

- Síntese de casos cruzados: esforço que busca aumentar a validade dos resultados do estudo de caso, essa síntese é realizada por meio da comparação de dados de casos individuais, segundo uma mesma estrutura. Foi realizada em 40% das dissertações da amostra;

- Citações: 60,0% das dissertações recorreram explicitamente a citações da literatura com vistas a auxiliar na corroboração dos resultados;

- Comparação com a literatura: 62,9% das dissertações analisadas executaram essa etapa, que serve especialmente à construção de teoria ao possibilitar a comparação de conceitos novos ou de hipóteses com a literatura existente.

Itens com Percentuais Inferiores a 40%

- Flexibilidade: serve para melhor aproveitamento de oportunidades que possam surgir ao longo da pesquisa do caso, tais como a incorporação de novas perguntas ao roteiro de entrevista. Foi explicitada em 20% da amostra;

- Comparação dos casos: comum em estudos multicasos, foi explicitada em 11,4% das dissertações analisadas;

- Proposição teórica: entendida como a proposição de uma nova teoria a partir dos achados do estudo de caso, ocorreu de forma explícita em 37,1% das dissertações;

- Explanação concorrente: significando comparação dos resultados com proposições teóricas concorrentes, indica que, se uma explanação for válida, as outras não podem ser. Não foi identificada na amostra;

- Análise de séries temporais: tem a ver com a estratégia utilizada na abordagem quantitativa que utiliza conjunto de observações sobre uma variável, ordenado no tempo, e registrado em períodos regulares. Sua explicitação ocorreu em 20% da amostra analisada;

- Modelos lógicos: remete à estratégia utilizada na abordagem quantitativa voltada à comparação de eventos empiricamente observados com eventos teoricamente previstos. Sua explicitação ocorreu em 25,7% da amostra analisada;

- Validade interna: refere-se ao rigor ou à precisão dos resultados obtidos, ou seja, a quanto as conclusões obtidas representam e ou explicam a realidade estudada (PUNCH, 1998), e existiu de forma explícita em 8,6% da amostra;

- Revisão do projeto: ocorre quando sujeitos analisados ou participantes da pesquisa são convidados a darem sua opinião sobre as interpretações e as conclusões do estudo de caso, o que ajuda a corroborar os fatos e as evidências trazidas pela pesquisa (DEVERS, 1999; PATTON, 1999). Foi executada de forma explícita em apenas uma das dissertações;

- Validade do construto: relacionada ao encadeamento lógico de evidências e informante-chave, refere-se ao estabelecimento de “medidas operacionais corretas para os conceitos que estão sob estudo” (YIN, 2005, p. 55), e foi detectada de forma explícita em 37,1% da amostra.

Considerações Finais

Tipicamente, as dissertações do Mestrado Executivo em Gestão Empresarial da Ebape da FGV defendidas no triênio 2012-14 e que se qualificaram como estudos de caso são casos únicos qualitativos; trazem referencial teórico, informam claramente o local onde foram elaborados e o período no tempo em que isso ocorreu; utilizam preferencialmente entrevistas e análise bibliográfico-documental para o levantamento de evidências, assim como informam de forma sistemática e rigorosa os procedimentos de análise seguidos.

Por outro lado, esses mesmos trabalhos de conclusão de curso foram menos atentos à explicitação quanto ao cumprimento de diversos procedimentos que Oliveira, Maçada e Goldoni (2006) indicam como necessários à qualificação de um estudo de caso – desatenções que foram observadas, em maior ou menor grau, nos três momentos que esses autores indicaram em sua análise: no planejamento do estudo de caso, e nas fases de coleta e de análise dos dados ou das evidências.

Assim, quando do planejamento, a validade externa do caso e da sua unidade de análise foi pouco explorada, assim como o período da coleta dos dados ou das evidências em campo. Já na fase de levantamento dos dados, também não houve maiores esforços em explicitar as múltiplas fontes de evidência que, tradicionalmente, um estudo de caso requer, muito menos a triangulação, recurso também considerado intrínseco a essa estratégia de pesquisa.

Finalmente, na fase de análise dos dados ou das evidências, diversas especificações estiveram ausentes em grande parte das dissertações analisadas: anotações de campo e encadeamento das evidências não foram encontradas em 45,7% da amostra, 37,1% da amostra não descreveram o caso nem executaram comparações com a literatura, 42,9% não compararam os resultados com um padrão baseado em teorias prévias, e 40% não construíram explanação nem recorreram a citações.

Contudo, esse quadro se revela mais preocupante quando o foco é dirigido às sinalizações de desconhecimento epistemológico sobre o estudo de caso. Esses sinais estariam presentes em procedimentos que, também naqueles três momentos, foram realizados de forma incorreta ou desprezados por uma porção considerável dos autores. Quatro ocorrências desse tipo se destacaram:

1) Menos de metade das dissertações apresentaram seu problema de pesquisa iniciada por “como” ou “o que”. Yin (2005) alerta para a importância da identificação da estratégia de pesquisa por meio da forma como sua questão é colocada. Ou seja, quando o autor de uma pesquisa que se propõe estudo de caso a inicia com “quais” ou “por que” – conforme observado em parte da amostra aqui analisada – pode-se dizer que ele está sentenciando seu trabalho a uma séria incongruência metodológica, capaz de levar leitores experientes a duvidar de sua qualidade.

2) Menos de um terço das dissertações colocaram de forma explícita a especificação dos construtos. Sem essa providência, um estudo de caso não pode almejar contribuir à teoria (EISENHARDT, 1989), o que leva à dedução de que os demais dois terços da amostra de fato não tinham essa intenção. Por seu turno, isso indicaria o baixo fôlego científico das dissertações de mestrado de uma escola considerada de elevado nível acadêmico.

3) Apenas um quinto das 35 dissertações informaram sobre a equipe que auxiliou os respectivos autores a conduzirem seus estudos, e somente duas delas especificaram as atividades designadas para esses coadjuvantes do estudo de caso. Essas omissões são relevantes principalmente no que tange à análise dos dados ou das evidências levantados pelo caso. Isso porque não raro essas informações provêm de uma multiplicidade de fontes e se apresentam sob diversas formas, representando um desafio até mesmo para o mais experiente pesquisador (MILES; HUBERMAN 1994). Assim, caso não se lance mão do auxílio de uma equipe, a estruturação, para análise, de um grande e rico volume de dados pode se tornar tarefa difícil, podendo implicar que a pesquisa traga conclusões e contribuições falhas ou, no mínimo, limitadas (BENBASAT; GOLDSTEIN; MEAD, 1987; PATTON 1999).

4) A triangulação não foi explicitamente citada por praticamente metade da amostra, e 55% daquelas dissertações que disseram tê-la executado não se preocuparam em definir qual tipo de triangulação foi de fato empreendida. “Qualquer descoberta ou conclusão em um estudo de caso tem maiores chances de ser mais convincente ou exata se baseada em diferentes fontes de informação” (DUBÉ; PARÉ, 2003, p. 615). Ou seja, aparentemente por desconhecer a importância de deixar bem claro de que forma esse recurso foi utilizado, uma parte considerável das dissertações executadas no triênio 2012-14 na escola analisada terminou por oferecer, à sociedade, pesquisas acadêmicas carentes de maior robustez metodológica. Isso reforça que “A maior parte dos cursos de pós-graduação prepara os estudantes para a utilização de um ou outro método, mas não para o emprego combinado de multimétodos” (AZEVEDO et al., 2013, p.2).

Esse fenômeno faz remeter a Mariz et al. (2005) quando esses chamam a atenção à vulgarização na utilização do termo estudo de caso, com os autores frequentemente na verdade realizando estudos qualitativos básicos (MERRIAM, 1988). Com isso, as pesquisas de Administração passam a apresentar lacuna na coerência de sua base filosófica, a qual resulta na confusão entre aqueles que seriam os “problemas essenciais” e as “questões secundárias” (TRIVIÑOS, 1987, apud MARIZ et al, 2005, p. 13), escondendo fraqueza intelectual por trás de um ecletismo obscuro. Isso, em última instância, explicaria o fato de “tantas dissertações de mestrado ou teses de doutorado permanecerem intocadas nas prateleiras de nossas bibliotecas” (MARIZ et al., 2005, p. 13).

Como conclusão final, pode-se afirmar que o desprezo, em maior ou menor grau, à menção explícita de tantos pontos por esses estudos de caso poderá sempre ser revidado, por parte de seus autores, com o argumento de que “os elementos estavam lá, só não apareciam de forma explícita”.

Nesse caso, deve-se contrapor que qualquer trabalho científico deve ser objetivo. Nele, nada deve ser deixado ao sabor das interpretações - quando mais não fosse, para possibilitar sua replicação por outros pesquisadores. Apoiado na monossemia, o gênero científico deve primar pela clareza e pela objetividade, de forma a evitar a duplicidade de interpretações (MICHEL, 2009).

Portanto, fechar os olhos à recomendação de clareza quanto ao método sugere um preocupante desconhecimento sobre a pesquisa científica em si, e, no caso das dissertações aqui analisadas, sinaliza desinformação epistemológica por parte dos autores, especificamente sobre o estudo de caso.

A contribuição desse artigo à área de Administração de Empresas reside na sugestão de que o ensino de métodos de pesquisa nos ambientes acadêmicos seja reforçado. Um maior rigor nas aulas de metodologia da pesquisa ajudaria não só os trabalhos finais de curso, assim como os artigos científicos daí derivados, a conterem menos erros metodológicos. Em paralelo, também contribuiria para que as bancas examinadoras de trabalhos finais e os pesquisadores que se propõem a ser avaliadores de artigos científicos passassem a prestar mais atenção na seção do método, ao invés de se concentrarem naquilo que, normalmente, é considerado o mais importante de uma pesquisa primária: a seção dos resultados.

A pesquisa apresenta limitações, sendo a maior delas o fato de se restringir a amostra de conveniência, relativamente reduzida e concentrada em apenas uma escola de pós-graduação. Por isso, futuras pesquisas podem replicá-la, analisando trabalhos de conclusão de mestrado em outras escolas brasileiras, tanto do mesmo padrão como de qualificações tanto superiores como inferiores. O mesmo pode ser feito em relação a teses de doutoramento e a escolas estrangeiras.

Também poderia ser seguida a sugestão de Oliveira, Maçada e Goldoni (2006) quanto a discutir a qualidade com que os elementos enfocados foram abordados nos artigos, para que os leitores possam entender como foram considerados ou desenvolvidos na pesquisa.

Material suplementar
Referências
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AZEVEDO, C.; OLIVEIRA, L.; GONZALEZ, R.; ABDALLA, M. A Estratégia de Triangulação: Objetivos, Possibilidades, Limitações e Proximidades com o Pragmatismo. IV Encontro de Ensino e Pesquisa em Administração e Contabilidade (EnEPQ). Anais... Brasília (DF), setembro, 2013.
BENBASAT, I.; GOLDSTEIN, D.; MEAD, M. The Case Research Strategy in Studies of Information Systems. MIS Quarterly, vol. 11, n. 3, p. 369-385, 1987.
BOGDAN, R.; BIKLEN, S. Investigação qualitativa em educação. Porto: Porto Editora, 1994.
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DUBÉ, L.; PARÉ, G. Rigor in information systems positivist case research: current practices, trends, and recommendations. MIS Quarterly, v.27, n.4, p.597-635, dec. 2003.
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Notas
Notas
[5] a tabela original foi excluída a estatística referente ao número de autores do estudo de caso, tendo em vista que a amostra foi composta por dissertações de mestrado, o que implica que todas as pesquisas analisadas tinham apenas o mestrando como autor.
Tabela 1
Dissertações da Ebape/FGV qualificadas como estudos de caso em 2012-14 - Distribuição anual e total do período – Quantidades parciais e totais, e respectivas classificações quanto às finalidades de pesquisa - 2012-14

Elaborado pelos autores.
Tabela 2
Dissertações da Ebape/FGV qualificadas como estudos de caso em 2012-14 – Presença dos elementos do planejamento nos estudos de caso

Elaboração própria, com base em Oliveira, Maçada e Goldoni (2006).Nota As linhas escritas com letras mais claras trazem informações de um subconjunto pertencente ao elemento escrito com letra mais escura que se encontra imediatamente acima.
Tabela 3
Dissertações da Ebape/FGV qualificadas como estudos de caso em 2012-14 - Presença dos elementos da coleta de dados nos estudos de caso

Elaborado pelos autores, com base em Oliveira, Maçada e Goldoni (2006)
Tabela 4
Dissertações da Ebape/FGV qualificadas como estudos de caso em 2012-14 - Presença dos elementos da análise de dados nos estudos de caso

laborado pelos autores, com base em Oliveira, Maçada e Goldoni (2006).
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