Resumo: A questão sobre comportamentos éticos vem ganhando destaque nos estudos administrativos. Diversos autores analisam o comportamento ético dos agentes em contraponto com seus valores morais e o oportunismo vigente. O estudo realizou uma análise de agrupamento caracterizando quatro grupos definidos (não éticos, pouco éticos, éticos e muito éticos) com base nas variáveis socioeconômicas. A pesquisa é descritiva, utilizando a técnica de survey, para coleta de dados, e análise de cluster. A amostra foi composta por 243 respondentes, entre janeiro e dezembro de 2016, na cidade de Campo Grande/MS. Os resultados indicam que as características socioeconômicas, na média, não se diferem significativamente entre os grupos compostos, mostrando que elas não influenciam no comportamento ético.
Palavras-chave: Fatores SocioeconômicosFatores Socioeconômicos,Comportamento ÉticoComportamento Ético,Análise de AgrupamentoAnálise de Agrupamento.
Abstract: The issue of ethical behavior has been gaining prominence in administrative studies. Several authors analyze the ethical behavior of the agents in counterpoint with their moral values and the current opportunism. The study carried out a grouping analysis characterizing four defined groups (unethical, unethical, ethical and very ethical) based on the socioeconomic variables. The research is descriptive, using the survey technique for data collection, and cluster analysis. The sample consisted of 243 respondents, between January and December 2016, in the city of Campo Grande / MS. The results indicate that the socioeconomic characteristics, on average, do not differ significantly between the groups, showing that these do not influence ethical behavior.
Keywords: Socioeconomic Factors, Ethical Behavior, Cluster Analysis.
Artigo
Influência de Fatores Socioeconômicos na Definição do Comportamento Ético: Um Estudo Utilizando a Análise de Agrupamentos
Influence of Socioeconomic Factors in the Definition of Ethical Behavior: A Study Using Cluster Analysis
Recepção: 15 Maio 2018
Aprovação: 12 Agosto 2018
A questão sobre o comportamento ético sempre se mostrou de grande interesse dos pesquisadores e estudiosos no campo do estudo do comportamento humano, uma vez que diversos questionamentos surgem a respeito do que gera ou acarreta uma ação mais ou menos ética por parte das pessoas dentro do desenvolvimento de uma sociedade.
Como diversos estudos apontam, especialmente dentro da área dos estudos administrativos, cada vez mais a questão da confiança mostra-se atrelada ao questionamento sobre o comportamento ético (Hosmer, 1995), assim como também a preocupação sobre condutas da alta administração nas empresas, da qual se espera um posicionamento mais respeitável (Chih, Shen, & Kang, 2008).
Nesse sentido, as obrigações éticas de agentes com objetivos morais podem ter excedido o mínimo legalmente exigido pela legislação, tendo outras influências (Burke & Sanney, 2018). Essas normas que envolvem respeito dentro da organização podem ser desenvolvidas a partir de sessões de treinamento sobre a sociedade, bem como a partir de práticas de reforço entre os trabalhadores (Walsh, Lee, Jensen, McGonagle & Samnani, 2017).
Dentro do contexto empresarial, alguns autores, como Ferrel, Fraedrich e Ferrel (2000), focam na análise de algumas contingências que podem acarretar a variação no comportamento das pessoas dentro da organização, como a gravidade da questão ética que tal indivíduo deve enfrentar, seu desenvolvimento cognitivo e moral e, por fim, a cultura da própria empresa, considerando, sempre, empresas que tenham um ambiente de trabalho voltado às atividades em grupo.
Tendo como enfoque tais atributos e buscando uma análise geral que não se limite ao comportamento dos indivíduos dentro das empresas, o presente estudo possui como objetivo verificar, através da análise de agrupamento, o comportamento ético de pessoas com base em variáveis socioeconômicas. Para isso, o grupo pesquisado foi dividido em quatro grupos, caracterizados como “não éticos”, “pouco éticos”, “éticos” e “muito éticos”. Posteriormente, tais grupos foram associados com as variáveis escolhidas para a identificação de pontos de diferenciação entre eles, visando a uma avaliação final das variáveis.
O desenvolvimento de uma pesquisa com o tema em questão representa a aplicação de teorias que são disseminadas ao redor do mundo, porém não sempre entendidas e assimiladas pelas organizações. Nesse sentido, pretendeu-se mostrar a relevância da busca pelo comportamento ético, bem como possível relação entre os pensamentos dos trabalhadores dentro do ambiente da empresa e suas características pessoais.
O estudo foi conduzido na cidade de Campo Grande, no estado de Mato Grosso do Sul, entre os meses de janeiro a dezembro do ano de 2016.
Embora as discussões a respeito do comportamento ético venham crescendo gradativamente, algumas questões necessitam de esclarecimento antes de discutirmos a parte principal do trabalho, como a caracterização de ética e moral (muito confundida por diversas pessoas), bem como uma revisão daquilo que vem sendo estudado sobre o comportamento ético e suas implicações.
Seguindo com essa ótica, este estudo visa a auxiliar no desenvolvimento da percepção sobre o comportamento ético, esperando, assim, possibilitar novas análises a respeito dos retornos por ele causados, o que, por muitas vezes, é mistificado dentro dos estudos administrativos, como Urdan (2001) apresentou em seu trabalho sobre a recompensa que os consumidores dão às empresas que possuem um comportamento ético. As conclusões dos estudos de Urdan, ao contrário do que a mistificação das análises pensa, mostrou que o comportamento ético das organizações não parece causar mudanças no comportamento do consumidor.
Dessa forma, o presente referencial teórico busca contextualizar os principais pontos da teoria discutidos neste trabalho.
Quando discussões a respeito da delimitação do certo e do errado surgem, normalmente, questionamentos sobre a ética e a moral são apresentados. Contudo, qual a diferença entre os conceitos de ética e moral e, principalmente, como cada um desses temas é caracterizado dentro dos estudos filosóficos?
Figueiredo & Guilhem (2008) discorrem a respeito de tais definições em seu trabalho “Ética e Moral”, iniciando a discussão com uma análise histórica do significado da palavra ethos, na Grécia Antiga, que, seguindo as tradições filosóficas e a concepção dada por Aristóteles, significa “caráter” ou “modo de ser”. Isso mostra que as primeiras definições apresentadas possuíam um sentido mais amplo do que aquilo que se entende como ética nos dias de hoje. O ético, como apresentado no estudo, é compreendido como as disposições do homem na vida, seu caráter, os tipos de costumes, englobando, também a moral.
Nesse sentido, Maia e Godoio (2013) completam o significado apresentado afirmando que a pessoa ética pode ser definida como aquela que está de acordo com os padrões, por seguir aquilo que é considerado por uma sociedade como correto, justo, buscando sempre fazer o que é tido como melhor para todos, mantendo uma harmonia e bem-estar com a sociedade na qual se encontra inserida.
De maneira mais contextualizada, a ética estuda as relações entre o indivíduo e a situação em si, realizando um contraponto entre aquilo que se destaca como individualizado e o mundo ao redor, explicando os fundamentos da ação humana e os motivos pelos quais se deve fazer algo. Os fenômenos éticos seriam todos aqueles que são desenvolvidos nas relações entre o contexto de uma situação e um dado indivíduo (Cubelles, 2002).
Já, no que tange ao contexto histórico-social, enquadrando a ética como um conhecimento teórico e considerando-a como uma ciência social, Sá (2000) escreve que ela tem como objetivo o estudo dos juízos e sentimento de aprovação e desaprovação sobre a conduta e a vontade do ser humano, de modo a realizar determinações sobre:
critério pelo qual se distinguem a conduta e a vontade aprovada ou mesmo a norma pela qual se opera a vontade em tal conduta, além do seu fim e cumprimento;
as relações de valor, em observância àquela norma e obtenção do fim estipulado sob as várias formas de conduta, como se apresentam na sociedade e na época em que o indivíduo está inserido.
Dessa forma, a caracterização de ética apresenta-se vinculada à forma como o indivíduo age diante das situações que são postas em seu cotidiano, abrangendo uma relação entre as ações das pessoas e aquilo que é considerado correto e benéfico em uma dada situação, com relação à convivência em sociedade.
Embora ética e moral abordem ideias distintas, dentro de um mesmo contexto, ambos os conceitos se encontram fortemente vinculados nas análises e estudos. Leite (2014) destaca a questão da ética, mencionando que ela não se caracteriza apenas como uma teorização do agir, da moral, mas se estende a uma prática que está diretamente vinculada à ação do homem na sociedade. Por conta disso, faz-se necessária uma análise sobre a moral e seus principais conceitos.
A moral vem do latim moris, que significa “costumes”. Seu significado está associado ao conjunto de regras, normas, costumes, crenças e valores de um indivíduo ou da sociedade em que ele se encontra inserido (Maia, & Godoio, 2013). Os autores ainda destacam que essas normas e regras são utilizadas como ponto de direcionamento para a diferenciação daquilo que é certo e errado ou mesmo do que é do bem e do mal, visando a um comportamento melhor em relação a si mesmo e aos demais.
Entretanto, assim como ocorreu com a palavra “ética” no decorrer dos anos, diversos significados foram associados à palavra “moral”, sendo até mesmo usada como um sinônimo de ética.
Figueiredo e Guilhem (2008), contudo, concluem seus estudos caracterizando a moral como aquele conjunto de condutas e regras assumidas de maneira livre e consciente pelas pessoas, a fim de organizarem suas relações interpessoais de modo guiado por valores.
Considerando os conceitos abordados por diversos autores sobre o que se entende como ética e moral, pode-se observar que, enquanto o primeiro termo aborda questões mais individuais de como as pessoas decidem agir ante uma determinada situação; o segundo aborda pontos mais integrados com a sociedade em que o indivíduo vive, com a estipulação de normas e regramentos para nortear o comportamento definido como correto e aceitável.
Assim, como a ética serve de ponto de direcionamento para o comportamento das pessoas e dos grupos, diante de um código de princípios e valores, cabe se questionar por que algumas pessoas agem de maneira antiética. Puhl (2014) discorre a respeito do envolvimento dos seres humanos em comportamentos antiéticos, afirmando que uma das principais razões está enraizada no fato da natureza essencialmente competitiva do ser humano, assim como sua busca incessante pela obtenção da vantagem sobre algo ou alguém.
Contudo, o comportamento humano é caracterizado como algo complexo que exige diversos níveis de análise para que conclusões possam ser tomadas. Skinner (1984) realiza estudos mais profundos, informando que o comportamento dos seres humanos pode ser compreendido, integralmente, apenas a partir da avaliação de três pontos específicos: evolução das espécies, evolução dos indivíduos particulares de uma espécie ao longo do tempo e evolução das culturas.
Tal reflexão feita por Skinner (1984) serve para ilustrar os problemas encontrados no momento em que se buscar estudar o comportamento humano e, ainda mais, caracterizar o comportamento dos indivíduos através de análises quantitativas ou qualitativas. Em decorrência de toda a sua complexidade e da quantidade infinita de fatores que podem influenciar (direta ou indiretamente) o comportamento dos seres humanos, a delimitação dos pontos determinantes ou de características principais que levam alguém a determinada ação pode deixar de considerar alguns aspectos importantes que, em outro contexto, poderiam ser tidos como cruciais. Com isso, vemos que a análise comportamental é algo, muitas vezes, incerto.
O comportamento ético pode ser definido, de maneira mais simples, como um comportamento que seja considerado prudente, centrado em questões, tanto éticas quanto morais, sobre como devemos agir com os outros (Leite, 2014).
Ferrel, Fraedrich e Ferrel. (2000), através de um estudo sobre o comportamento ético nas empresas, voltado para a obtenção de microcrédito, destacam dois pontos que resultam no comportamento ético (ou na falta dele): a influência de terceiros sobre as ações das pessoas e a oportunidade (descrita como as condições que limitam ou permitem um comportamento antiético). Aqui surge a possibilidade da comparação entre os estudos sobre o comportamento ético e as análises desenvolvidas no campo da Economia das Organizações e os pressupostos da Nova Economia Institucional, no que tange ao comportamento oportunista dos agentes, resultando na necessidade de medidas de proteção por parte dos envolvidos (Williamson, 2002).
Neste ponto, observa-se um elemento destacado por Moura et al. (2008) na conclusão de sua pesquisa sobre as características que levam ao comportamento ético (considerando o estudo de caso dos agentes de microcrédito). Esses autores apresentam, através dos resultados da pesquisa que características socioculturais e a formação intelectual dos agentes podem levá-lo a agir de maneira não ética. Tal afirmação, entretanto, será questionada no presente trabalho, diante dos resultados apresentados posteriormente.
O estudo em questão foi realizado através da aplicação de questionários estruturados para pessoas residentes da cidade de Campo Grande, capital do estado de Mato Grosso do Sul.
O questionário desenvolvido para a pesquisa foi composto por vinte perguntas. Os oito primeiros questionamentos estão relacionados às características pessoais de cada respondente, englobando perguntas sobre idade, sexo, estado civil, escolaridade, renda, setor de atuação, o entendimento dela sobre o que é ética e o que possivelmente ela identifica como um ponto de influência sobre sua atuação ética.
As demais questões respondidas pela amostra (9 a 20) foram trabalhadas através da proposição de cenários hipotéticos em que o respondente deveria selecionar qual alternativa de comportamento iria optar, caso tal situação pertinente a uma atuação ética ocorresse com ele. Dessa forma, as questões finais foram utilizadas para a composição dos grupos de análise.
A coleta dos dados foi feita a partir de distribuição dos questionários através de formulário eletrônico do Google Docs. Após o término do período estabelecido para que houvesse respondentes suficientes, os dados brutos para análise foram exportados através de planilha.
No que tange aos objetivos da pesquisa proposta, ela se caracteriza como descritiva, uma vez que se destaca por possuir como finalidade a descrição de fatos, situações, comportamentos e opiniões, visando a mapear a distribuição de um dado fenômeno no contexto pesquisado (Gil, 2010; Lakatos, 2009).
Considerando a forma como os dados foram coletados, a pesquisa caracteriza-se como uma pesquisa survey ou por enquete, definida por Gil (2010) como aquela em que há a interação direta das pessoas cujo comportamento, características ou opinião se deseja conhecer. Nesta pesquisa, há a solicitação de informações a um dado grupo significativo de pessoas sobre um problema estudado, para, posteriormente, haver uma análise quantitativa para a obtenção de conclusões correspondentes aos dados solicitados.
Embora a pesquisa survey não seja descrita por Gil (2010) e Yin (2010) como a melhor ferramenta para a análise de problemas referentes às relações e estruturas sociais complexas, ela se mostra útil para estudos de opinião e atitudes, sendo ainda destacada para os casos de análises sobre preferência eleitoral e comportamento do consumidor. Por conta de suas limitações, tais análises de levantamento são colocadas como mais adequadas para estudos descritivos, ao invés de exploratórios (Yin, 2010).
Para a pesquisa, estipulou-se a aplicação de 400 questionários, considerando, basicamente, a população como infinita, em um nível de confiabilidade de 95% e erro padrão de 5%, como demonstrado na fórmula a seguir (Hair, 2009):
Pensando no trabalho que seria feito com os dados e na necessidade de limpeza de algumas informações encontradas, optou-se por arredondar a aplicação dos questionários para 400 pessoas, visando à máxima obtenção de dados possível.
Onde n caracteriza o tamanho da amostra, Z_(α⁄2) é o valor padronizado na curva normal para um intervalo de 95% de confiança, e “e” é o erro com que se pretende trabalhar (Anderson, Sweeney, & Williams, 2011).
O tamanho da amostra foi reduzido a 243 respondentes após limpeza dos dados, desconsiderando entrevistados que não haviam respondido alguma das questões ou aqueles que informaram valores fora dos padrões do intervalo de confiança, tidos como outliers.
A amostra estudada foi, em sua maioria, pessoas entre 18 e 25 anos (46,4%), do sexo feminino (60,3%), solteiros (61,2%), com ensino superior incompleto (73,4%), com renda média de 1 a 2 salários mínimos (41,8%), atuantes do comércio (37,6%), que entendem por ética um conjunto de princípios e valores (58,2%) e que têm sua atuação ética influenciada pela família (50,6%).
A técnica multivariada de análise de agrupamento permite uma análise de interdependência entre as variáveis estudadas, fazendo com que elas sejam agregadas a partir de características comuns que possuam (Hair, 2009). Portanto, é possível fazer a classificação estatística entre objetos de pesquisa.
Para o desenvolvimento da presente pesquisa, foi utilizado o método de clusters hierárquicos com aplicação para o exame de soluções alternativas que poderiam ter surgido ao longo da aplicação do método. Hair (2009) afirma que o método hierárquico pode ser utilizado para grande parte dos tipos de variáveis e dá resultado a partir de descrição simples do que foi encontrado.
Com base nas questões, o entrevistado iria escolher, dada uma situação o tipo de comportamento. Através da análise de agrupamento (análise de cluster), quatro grupos distintos foram criados dentro da amostra, sendo eles: “não éticos”, “pouco éticos”, “éticos” e “muito éticos”. Esses grupos foram estruturados com base na quantidade de respostas de cada um, tendendo para uma ou outra definição.
Posteriormente, cada grupo foi analisado com base nas primeiras questões do questionário, que envolviam perguntas sobre idade, estado civil e escolaridade, de maneira a determinar se tais variáveis estavam associadas, de alguma forma, ao comportamento ético e não ético.
Para a análise primária dos dados, foi utilizado o software Excel 2007, por meio do qual se fez uma primeira mensuração da composição da amostra e tabulação das respostas obtidas. Posteriormente, para o desenvolvimento da análise de agrupamento, utilizou-se o software Minitab 2011, que possibilitou a criação dos grupos estudados, bem como os estudos sobre a influência das variáveis socioeconômicas, a uma confiança de 95%, no comportamento dos entrevistados.
Inicialmente, utilizou-se o dendograma como forma de avaliar a quantidade de grupos que seriam estipulados no estudo, a fim de agrupar as principais características em cada um deles. Através do Ward’s Method, obteve-se o seguinte resultado (Figura 1).

Considerando as divisões observadas no dendograma, optou-se pela criação de 4 grupos distintos para o início da análise, considerando o segundo ponto de similaridade no qual a distinção entre os conjuntos é mais distinta.
Posteriormente, considerando as variáveis de 9 a 20 (questões sobre qual comportamento o entrevistado escolheria diante de uma situação de questionamento ético), a análise de agrupamento apresentou o seguinte resultado (Tabela 1).

A Tabela 1 mostra como os grupos comportaram-se em relação às respostas sobre o comportamento ético, de forma que o primeiro cluster apresentou respostas que tendiam ao comportamento não ético, o segundo grupo apresentou um comportamento pouco ético, o terceiro escolheu respostas mais éticas em sua maioria, e o último grupo apresentou um comportamento ético superior aos dois primeiros, porém inferior ao terceiro.
Dessa forma, cada um dos clusters foi nomeado de acordo com o conjunto de respostas apresentadas no questionário:
Cluster 1: não éticos;
Cluster 2: pouco éticos;
Cluster 3: muito éticos;
Cluster 4: éticos.
Para a composição da Tabela 1, observaram-se as análises realizadas no Minitab, no qual os dados trabalhados geravam resultados como os mostrados a seguir.

A Figura 2 apresenta os resultados gerados pelo software de análises quantitativas, indicando como cada um dos quatro grupos estipulados se diferencia ante um intervalo de confiança de 95%, estipulado anteriormente no cálculo de tamanho da amostra. Como pode ser visto no lado direito da Figura 2, as médias das respostas dos grupos 2, 3 e 4 praticamente não se diferenciaram quanto ao questionamento 9 apresentado (o questionário pode ser visto no Apêndice A). Contudo, o primeiro grupo apresentou respostas inferiores sobre o comportamento ético adotado.
Após a definição dos grupos-alvo da pesquisa, iniciou-se uma análise sobre a caracterização de cada um deles em relação às demais variáveis obtidas nos questionários (variáveis socioeconômicas e referentes à percepção e influência do comportamento ético).
Como apresentado nas figuras 3 e 4, os resultados gerados pelo Minitab com a nova caracterização dos grupos apontaram diferenças não significativas (em um nível de confiança de 95%) entre as médias das respostas das variáveis socioeconômicas e os distintos grupos formados, de maneira que nenhuma das informações referentes a idade, estado civil, escolaridade, renda, setor de atuação, entendimento do que é ética ou mesmo o que poderia influenciar o comportamento ético pode ser associada ao fato de um indivíduo escolher agir de forma ética ou não.


Apesar de os resultados apontarem para uma não correlação entre comportamento ético e variáveis individuais, como questões de estado civil, renda e escolaridade, um ponto interessante é destacado no estudo, com relação àquilo que nos é apresentado por Moura et al. (2008) em seu estudo sobre o comportamento ético durante uma análise da disponibilidade de microcrédito. Os autores afirmam nas conclusões de seu trabalho que características sociais e o nível de instrução dos indivíduos podem levá-los a agir de forma não ética, contudo, como apresentado na Figuras 5, não há diferença significativa entre as médias, a 95% de confiança, indicando que não se pode afirmar que tais aspectos auxiliam na definição daquilo que acarreta tal tipo de comportamento.

Embora os resultados das análises de dados não apontem para uma caracterização dos fatores que acarretam o comportamento ético, uma informação importante foi abstraída do estudo. Quando perguntados sobre o que influencia mais diretamente o comportamento ético das pessoas, a maioria dos entrevistados respondeu que a família é a principal responsável pela influência nas ações. Algo que pode ser explorado mais profundamente em estudos futuros (Tabela 2).

As respostas foram apresentadas com base na oitava questão do questionário. As demais respostas que se caracterizaram como a segunda e terceira maior influência direta no comportamento ético das pessoas foram, respectivamente: rotinas pessoais e a religião.
O presente estudo buscou realizar uma análise sobre as características individuais que influenciam no comportamento ético das pessoas, buscando entender o que acarreta a escolha por determinadas atitudes, através de uma análise de agrupamento realizada com os dados coletados através de questionários estruturados em uma amostra de, inicialmente, 400 pessoas e, posteriormente, reduzida a 243 respondentes. Os questionários foram aplicados na cidade de Campo Grande no estado de Mato Grosso do Sul entre os meses de janeiro e dezembro de 2016.
Comparada com resultados apresentados em outros estudos, como, por exemplo, Moura et al. (2008), a pesquisa em questão apresentou divergências em relação às outras conclusões apresentadas, apontando que não existe uma correlação (ou mesmo caracterização) entre variáveis socioeconômicas, como idade, sexo, estado civil, escolaridade, renda e setor de atuação, com o fato de os indivíduos agirem de maneira ética ou antiética. Assim, os fatores que delimitam a geração de um comportamento do tipo ainda se mostram incertos.
Dentre os levantamentos apresentados, uma informação relevante que pode ser utilizada para estudos futuros foi aquilo que, na opinião dos respondentes, influencia mais diretamente a escolha por um comportamento ético, no caso, as famílias (mais de 50% dos entrevistados). Isso pode servir de ponto de partida para novos estudos, com uma visão mais direcionada sobre a análise da influência familiar diretamente nas ações do indivíduo, através de uma análise de correlação linear de Pearson.
O presente questionário foi desenvolvido para uso estritamente acadêmico. Todas as respostas aqui apresentadas não serão personalizadas, e o sigilo será mantido. Obrigada pela colaboração!
1. Idade
( ) Menos de 18 anos
( ) Entre 18 e 25 anos
( ) Entre 26 e 33 anos
( ) Entre 34 e 41 anos
( ) Entre 42 e 49 anos
( ) 50 anos ou mais
2. Sexo
( ) Masculino
( ) Feminino
3. Estado Civil
( ) Solteira(o)
( ) Casada(o)
( ) Separada(o)
( ) Viúva(o)
( ) Divorciada(o)
4. Qual é sua Escolaridade
( ) Não estudei
( ) Da 1º à 4ª série do ensino fundamental
( ) Da 5° à 8º série do ensino fundamental
( ) Ensino médio completo
( ) Ensino superior incompleto
( ) Ensino superior completo
( ) Pós-Graduação - Especialização
( ) Pós-Graduação - Mestrado e Doutorado
5. Renda
( ) Até um salário mínimo
( ) De 1 a 2 salários mínimos
( ) De 2 a 5 salários mínimos
( ) De 5 a 10 salários mínimos
( ) De 10 a 15 salários mínimos
( ) De 15 a 20 salários mínimos
( ) Acima de 20 salários mínimos
( ) Nenhuma renda
6. Setor de Atuação
( ) Comércio
( ) Indústria
( ) Prestação de Serviços
( ) Órgãos Públicos
( ) Construção civil
( ) Saúde
( ) Educação
7. O que você entende por Ética?
( ) Educação Moral
( ) Conjunto de Princípios e Valores
( ) Consciência perante a sociedade
( ) Diretrizes que orienta o indivíduo perante sua postura e conduta
( ) O que é legal
( ) Base da construção pessoal
8. O que influencia diretamente na sua atuação ética?
( ) Influência da Família
( ) Religião
( ) Nível de Escolaridade
( ) Círculo de Amigos
( ) Rotinas Pessoais
9. Seu chefe entra em férias e pede que todos lancem eventuais horas extras em uma planilha, para fazer o controle quando retornar. Você:
A. ( ) Só lança algumas horas a mais em sua planilha se percebe que toda a equipe está fazendo isso.
B. ( ) Lança exatamente os minutos que fica a mais e ainda envia um e-mail ao gestor na hora da sua saída, para se respaldar.
C. ( ) Enrola durante o expediente normal para ficar no escritório até tarde e ganhar várias horas no fim do mês.
D. ( ) Acrescenta só uns minutinhos a mais na planilha, pois uma renda entra no fim do mês é sempre bem-vinda.
10. Você é convidado para viajar a trabalho, com todas as despesas pagas pela empresa. Como controla os gastos?
A. ( ) Come em um restaurante um pouco mais barato para ficar com o troco da verba recebida para a refeição.
B. ( ) Guarda as notas fiscais de cada centavo gasto. Acha importante justificar todas as despesas depois.
C. ( ) Aproveita a oportunidade para usufruir de alguns luxos. Afinal, já é explorado demais pela empresa.
D. ( ) Observa qual é o esquema dos colegas. Se eles gastam um pouco a mais, não vai fazer papel de bobo sozinho.
11. Você flagra um colega burlando um sistema da empresa para obter algum tipo de vantagem. Qual é sua reação?
A. ( ) Só entrega o colega se perceber que a denúncia poderá beneficiá-lo na empresa.
B. ( ) Tenta fazer o colega voltar atrás no erro que cometeu. Se não conseguir, leva o caso ao seu gestor.
C. ( ) Usa isso a seu favor. Procura obter algum benefício do colega em troca da discrição.
D. ( ) Se aquilo não for prejudicar o seu trabalho, fica em silêncio.
12. Você ganha um smartphone corporativo para usar no dia a dia. Como o utiliza?
A. ( ) Se a empresa não fiscalizar a conta, vai utilizar para assuntos particulares de vez em quando.
B. ( ) Só faz ligações e acessa aplicativos e sites de cunho profissional.
C. ( ) Usa e abusa das ligações pessoais, faz downloads de músicas, vídeos, apps e joguinhos. Afinal, o acesso é ilimitado.
D. ( ) Não faz ligações pessoais; mas acessa o e-mail e as redes sociais constantemente.
13. Você tem acesso a uma quantidade enorme de brindes que sua empresa irá oferecer no final de ano, para parceiros e fornecedores. O que faz?
A. ( ) Primeiro sonda se os outros colegas já pegaram e, em caso positivo, não vê problema em levar um para casa.
B. ( ) Nem encosta nos brindes. Afinal, eles não são seus.
C. ( ) Pega o que pode para distribuir entre amigos e familiares.
D. ( ) Pega um sem culpa, para usar na própria empresa.
14. Você está disputando um cargo de confiança com um colega do setor e descobre que ele cometeu um erro grave. Como age?
A. ( ) Só conta se considerar que sua atitude será valorizada pelos gestores.
B. ( ) Se o erro já foi corrigido, guarda a informação com você. Não prejudica ninguém em benefício próprio.
C. ( ) Não pensa duas vezes e conta ao seu gestor. Era a oportunidade que esperava.
D. ( ) Deixa passar, mas alerta o colega que não o perdoará em uma segunda oportunidade.
15. A empresa na qual você trabalha tem uma impressora sempre à disposição. Qual é sua atitude?
A. ( ) Imprime o que precisa. Esse custo para a empresa é irrisório perto do valor do seu trabalho.
B. ( ) Imprime apenas documentos que tenham relação direta com o trabalho.
C. ( ) Também usa a impressora para imprimir trabalho de faculdade ou curso. Afinal, seu desenvolvimento profissional depende dos estudos.
D. ( ) Só usa a impressora da empresa para serviços particulares ao perceber que os colegas não estão por perto.
16. Em um novo emprego, o chefe lhe pede informações confidenciais da empresa onde trabalhou anteriormente. Como responde?
A. ( ) Dá as informações sem culpa. Só deve lealdade à sua nova empresa.
B. ( ) Não quebra o sigilo, ainda que corra o risco de se prejudicar no novo trabalho.
C. ( ) Revela segredos que tem desde que tenha garantia de que será recompensado de alguma maneira.
D. ( ) Só revela as informações que não sejam estratégicas. Assim, fica bem com o antigo chefe e com o novo.
17. Sua empresa constatou que um lote de produtos está com defeito, podendo causar riscos ao consumidor, mas pede sigilo. O que você faz?
A. ( ) Revela o segredo só para parentes e amigos, para que eles não se prejudiquem.
B. ( ) Insiste que a empresa faça um recall. Caso contrário, é capaz de pedir demissão.
C. ( ) Guarda o segredo como informação estratégica. No futuro, poderá usá-la em proveito próprio.
D. ( ) Obedece às orientações da empresa sem questionar.
18. Você fica sabendo que um colega será demitido. Como lida com a situação?
A. ( ) Aborda o amigo e tenta especular se ele tem intenção de sair. Pensa em prepará-lo para a notícia.
B. ( ) Guarda a informação para você e espera que venha um comunicado oficial da empresa.
C. ( ) Conta logo o que sabe para o colega. Mas pede que ele se finja de surpreso, claro.
D. ( ) Comenta com os colegas que vão ocorrer demissões, sem entrar em detalhes.
19. Você costuma levar acidentalmente materiais de uso no trabalho para casa?
A. ( ) Sim, sem perceber, mas não devolvo.
B. ( ) Sim, mas, quando me dou, conta devolvo.
C. ( ) Sim e não devolvo! A empresa não vai quebrar por causa de uma caneta ou coisa similar.
D. ( ) Sim, sempre faço isso sem culpa!
20. Você ficou responsável por guardar guloseimas de uma festa que acontecerá no seu trabalho. São muitos os doces, e você sabe que sobrará, o que você faz?
A. ( ) Pego uns, já que não fará falta.
B. ( ) Não mexo, pois é para a festa.
C. ( ) Como muitos, já que não farão falta, ninguém perceberá.
D. ( ) Como alguns apenas.






