Editorial

MAYCON NOREMBERG SCHUBERT
Brasil
POTIRA VIEGAS PREISS
Brasil
CIDONEA MACHADO DEPONTI
Brasil
ROGÉRIO LEANDRO LIMA DA SILVEIRA
Brasil
ERICA KARNOPP
Brasil
CIDONEA MACHADO DEPONTI
Brasil

Editorial

Redes. Revista do Desenvolvimento Regional, vol. 25, núm. 2, pp. 402-410, 2020

Universidade de Santa Cruz do Sul

Recepção: 01 Janeiro 2020

Aprovação: 01 Maio 2020

EDITORIAL

É com grande satisfação que apresentamos o 2º número do volume 25 da Revista REDES, referente ao período de maio-agosto de 2020. A Revista REDES (ISSN 1982-6745), vinculada ao Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional da Universidade de Santa Cruz do Sul – UNISC e ao Centro de Pesquisas em Desenvolvimento Regional – CEPEDER, foi criada em 1996 e, desde então, publicada de forma regular e ininterrupta. A partir de 2007, passou a ter sua editoração em formato eletrônico, estando hospedada no Portal de Periódicos Online da Universidade de Santa Cruz do Sul e vinculada ao SEER – Sistema de Editoração Eletrônica de Revistas do IBICT.

A comida e o comer nunca antes na história da humanidade foram tão debatidas quanto no momento atual, pós virada para o século 21. Pois sob diferentes, complexos e intrincados sistemas sociais, culturais, políticos e ambientais é que se anuncia o desafio de alimentar um contingente de mais de 11 bilhões de pessoas em 2100. Grandes desafios, como a dificuldade em prever o que essas pessoas irão querer e/ou poderão comer, e como terão acesso a essas comidas, são apenas algumas das perguntas que mais inquietam cientistas, governos, mercados e a sociedade civil em geral. Não obstante, as crises ambientais se avolumam, os conflitos políticos se acirram, as desigualdades sociais aumentam, as mudanças culturais são cada vez mais profundas e a saúde da população vem se deteriorando paulatinamente, especialmente com a chamada – controversa – ‘epidemia’ da obesidade.

Assim, produzir, preparar, comer e descartar os alimentos se torna uma atitude cada dia mais central em nossas vidas, e nas sociedades em geral. Não somente nutrir o corpo, mas também expressar opiniões, acumular riquezas, moldar culturas, transformar o meio ambiente, mediar relações sociais, exercer o poder, dentre outros, são manifestações que se desencadeiam a partir dos padrões alimentares que se estabelecem, de forma situacional, relacional e contextual.

Iniciativas, práticas e experiências que se (re)configuram frente a esses padrões alimentares são fenômenos importantes de serem investigados. Tais ações podem surgir tanto da sociedade civil organizada, quanto dos próprios indivíduos, como do Estado ou mesmo dos mercados. O que materializa tais ações são os processos de produção, transformação, distribuição, consumo e descarte. Questões que permeiam tais processos são objeto de preocupação dos formuladores de políticas públicas, consumidores, investidores, políticos, produtores, ativistas, etc. Melhorar a saúde, diminuir os impactos ambientais, buscar equidade e justiça social, contribuir com o crescimento econômico, valorizar e preservar a diversidade cultural, etc., são algumas das questões, mais prementes, que desafiam o dia a dia dos atores envolvidos nesses processos. As respostas não são lineares e únicas, mas sim tensionadas a todo momento. A redução no consumo de carnes, a reconexão entre produção e consumo, a produção agroecológica, a busca por mercados mais justos, o desestímulo ao consumo dos ultraprocessados, as políticas de incentivo à alimentação adequada e saudável, etc., são apenas algumas das possíveis soluções que se tem debatido nesse sentido.

Imerso nesse contexto é que se apresenta o dossiê intitulado ‘O abastecimento alimentar frente aos desafios contemporâneos’. Inspirado nos últimos debates realizados no II Workshop sobre Estratégias Alimentares e de Abastecimento (III WEEA), realizado em outubro de 2019 em Porto Alegre/UFRGS, é que diversos autores, organizadores e painelistas se desafiaram a contribuir com essa discussão. Artigos sobre o ‘estado da arte’ no campo da Sociologia da Alimentação e do Comer, assim como diversos estudos de caso, versando sobre políticas públicas, hábitos alimentares, tendências na alimentação contemporânea e mercados alimentares, trazem à tona reflexões de extrema relevância e muito atuais sobre o abastecimento alimentar frente aos desafios contemporâneos e para o desenvolvimento regional.

Abrindo o Dossiê, está o artigo ATIVISMO ALIMENTAR E CONSUMO POLÍTICO - DUAS GERAÇÕES DE ATIVISMO ALIMENTAR NO BRASIL, nele FÁTIMA PORTILHO aborda o ativismo alimentar, propondo caracterizá-lo, no contexto brasileiro, em duas gerações. A primeira estaria relacionada à politização da alimentação e teria como característica principal as ações na esfera institucional e o predomínio de críticas éticas. A segunda se relacionaria à politização da comida e do comer, trazendo novos temas, atores e estratégias políticas, com tendência à convergência entre temas éticos e estéticos. Em seguida, o artigo discute a relação entre ativismo alimentar e consumo político, e aponta algumas limitações das pesquisas sobre o tema, além de apresentar dados de pesquisa que indicam uma especificidade da forma como o consumo político vem sendo incorporado pelos ativismos alimentares da América Latina. Embora presente em seus repertórios de ação, o consumo político não parece ser a principal estratégia dos ativismos alimentares da região. Estes movimentos concentram suas ações no fortalecimento do poder regulatório do Estado e na implementação de políticas públicas, além de esforçarem-se para não secundarizar o aspecto ético. Ao final, o artigo aponta uma linha de pesquisa mais promissora para abordar o consumo político alimentar.

No artigo OS MERCADOS DE HORTIFRÚTI EM SANTA MARIA/RS - UM ESTUDO SOBRE OS TIPOS DE PRODUTORES E OS CANAIS DE COMERCIALIZAÇÃO, JANAÍNA BALK BRANDÃO, SÉRGIO SCHNEIDER, HUMBERTO DAVI ZEN e GUSTAVO PINTO DA SILVA buscam ampliar a compreensão do abastecimento de hortifrútis estudando 91 estabelecimentos produtores em Santa Maria/RS. Os principais critérios adotados na análise são: tipos de produtor, canal de comercialização utilizado e mercados acessados. Constatou-se que 50,5% dos produtores são Pequenos Produtores de Mercadorias, 39,5% Produtores Simples de Mercadorias e 11% Produtores Capitalistas de Mercadorias. Há tendência para mercados amparados em canais de nível zero, com encurtamento da cadeia, destacando-se as feiras, acessadas por 72% dos produtores. Em 49% dos casos, emprega-se apenas um canal de comercialização, em 32%, dois, em 16%, três, e somente 2% utilizam quatro canais. Os Mercados de Proximidade (MP) são mais frequentemente acessados pelos produtores, seguidos por Mercados Locais e Territoriais (MLT), enquanto Mercados Convencionais (MC) possuem um número mais limitado de produtores envolvidos. Sugere-se uma nova categorização de produtor, o Produtor Rentista, bem como aponta-se que uma maior autonomia do produtor dependerá do acesso a mais canais de comercialização e maior controle para apropriação do valor gerado. Embora haja diversidade de canais onde os agricultores de hortifrúti de Santa Maria/RS se inserem, verifica-se maior dependência dos MP e MLT, demonstrando como a cadeia produtiva analisada é restrita ao contexto local.

MARIANELA ZÚÑIGA-ESCOBAR, CÁTIA GRISA, GABRIELA COELHO-DE-SOUZA no artigo ABASTECIMIENTO DE ALIMENTOS PRODUCIDOS POR LA AGRICULTURA FAMILIAR EN LA ALIMENTACIÓN ESCOLAR EN COSTA RICA: POTENCIALIDADES Y LIMITACIONES objetivam analisar as principais potencialidades e limitações do processo de abastecimento de alimentos produzidos por famílias agricultoras na alimentação escolar na Costa Rica no contexto do Programa de Abastecimento Institucional (PAI) no âmbito do Programa de Alimentação e Nutrição do Escolar e do Adolescente (PANEA). Foi realizada uma pesquisa qualitativa com entrevistas semiestruturadas e grupos de discussão com participação de diversos atores envolvidos na iniciativa Escolas Sustentáveis, a partir de dois projetos piloto (2016- 2018) nas localidades de Frailes de Desamparados y Coto Brus. Como resultado se evidenciou que as principais limitações centram-se na falta de mecanismos que proporcionem um tratamento diferenciado no abastecimento de alimentos produzidos por famílias agricultoras locais. Por outro lado, os potenciais se expressam nos valores que transcendem aos aspectos econômicos, que se apresentam em manifestações socioculturais e éticas geradas durante o processo abastecimento de alimentos nos centros educativos, respondendo à construção social de mercados que caracteriza as compras públicas de alimentos.

MARCIO GAZOLLA e PAHOLA CRISTINY VIECELLI em REFEIÇÕES E COMPORTAMENTOS À MESA: UM ESTUDO A PARTIR DE CONSUMIDORAS URBANAS discutem as dinâmicas e os comportamentos alimentares acerca do consumo das principais refeições realizadas no ambiente doméstico de consumidoras urbanas do Município de Pato Branco/PR. Para isso, a metodologia quanti/qualitativa foi construída a partir de uma pesquisa de campo realizada com 43 consumidoras pré-selecionadas de acordo com seu perfil socioeconômico e local de moradia. O instrumento de pesquisa foi um questionário, baseado em questões de múltipla escolha, aplicado individualmente no domicílio de cada participante. Utilizou-se ainda de diário de observação de campo, registrando impressões da pesquisadora a partir de falas e depoimentos das interlocutoras. Os resultados indicam que as refeições realizadas ao redor da mesa representam, simbolicamente, uma prática importante como espaço da família, das conversas, da troca de informações e de diálogos que servem também como forma de sociabilidade do grupo domiciliar. Além disso, lançar luz sobre a estrutura das refeições contemporâneas, possibilitou compreender que as transformações do comer decorrentes da modernidade alimentar – evidenciada por um movimento de maior homogeneização e individualização da alimentação – não se limitam unicamente a reprodução das condições alimentares de contextos hegemônicos e dos interesses agroindustriais.

REDES SOCIAIS E PRESERVAÇÃO DOS MODOS DE PRODUÇÃO DE QUEIJOS ARTESANAIS DA ILHA DO MARAJÓ, PA, BENEDITO ELY VALENTE DA CRUZ, ELCIO COSTA DO NASCIMENTO, FABIANA THOMÉ DA CRUZ E MIQUEIAS FREITAS CALVI, objetivam refletir sobre relações sociais desenvolvidas ao longo do sistema de produção dos queijos (tipos manteiga e creme) do Marajó/PA, Brasil. Utilizando abordagem qualitativa, por meio de entrevista semiestruturada e história oral temática, buscou-se analisar e compreender as relações sociais desenvolvidas em torno da produção e consumo dos diferentes tipos de queijos do Marajó, os impactos na produção e na comercialização, suas características consideradas essenciais na manutenção e preservação de sua qualidade, visão dos produtores quanto às mudanças no processo produtivo, suas dificuldades, formas de resistência e permanência ao longo do tempo. Observou-se elevada importância social, econômica e cultural da produção dos queijos nas comunidades visitadas; relevância das relações sociais na definição da qualidade, na continuidade e manutenção da produção local; alta capacidade adaptativa dos produtores frente às elevadas exigências para atender à legislação, e a necessidade de políticas públicas que incentivem, preservem e fomentem a produção artesanal dos queijos do Marajó.

MAYCON NOREMBERG SCHUBERT E DAVID EDUARDO ÁVALOS em SISTEMAS ALIMENTARIOS GLOBALES Y LEY DE ETIQUETADO DE ALIMENTOS EN CHILE analisam o papel do governo chileno frente ao modelo de produção corporativa de alimentos, avaliando a política pública de rotulagem desenvolvida pelo Ministério da Saúde nos últimos anos através da Lei nº 20.606. Apresentam-se alguns resultados de leis de rotulagem de alimentos sobre as mudanças nos padrões de consumo, assim como seus primeiros resultados no Chile. No contexto atual, o Estado perde importância como regulador da produção e consumo de alimentos no mundo, o que faz com que o regime corporativo tenha mais liberdade para entrar na dieta familiar. O trabalho baseia-se na abordagem dos regimes alimentares para discutir o papel do Estado na regulação do consumo alimentar. São analisados estudos nacionais e internacionais que medem o impacto da implementação de políticas governamentais de rotulagem de alimentos na redução ou contenção dos níveis de excesso de peso ou obesidade. Verifica-se que, embora os mecanismos de rotulagem conduzam a uma redução global do consumo de produtos ultra processados e ajudem as indústrias a incorporar mais nutrientes nos seus alimentos, o seu consumo não é erradicado porque a população com menos renda não tem melhores alternativas para substituí-los. Ademais, políticas complementares são necessárias, como incentivos aos mercados alternativos, e com subsídios e impostos sobre os alimentos ultraprocessados.

Em seu artigo, ALTERNATIVO VERSUS CONVENCIONAL: UMA ANÁLISE DA INSERÇÃO DE AGRICULTORES FAMILIARES PERIURBANOS EM CIRCUITOS DE COMERCIALIZAÇÃO NO MUNICÍPIO DE SÃO LUÍS/MA, MARCELO SAMPAIO CARNEIRO E CAMILA LAGO BRAGA, analisam a utilização de diferentes circuitos de comercialização por agricultores familiares que vivem e trabalham em regiões classificadas como periurbanas tomando como referência o caso dos agricultores periurbanos da comunidade rural Cinturão Verde no município de São Luís (MA). Para isso, a pesquisa analisa a promessa de diferença presente nas Redes Agroalimentares Alternativas (RAA) ou Sistemas Alimentares Alternativos (SAA), buscando identificar os fatores que levam esses agricultores familiares a utilizarem cadeias curtas ou longas de comercialização para acessarem diferentes tipos de mercados. Portanto, destacam-se algumas dimensões sociais das cadeias curtas que aparecem de formas distintas nos mercados acessados, a saber: a proximidade entre produtores e consumidores; a redução ou eliminação do intermediário; preços justos; e qualidade dos alimentos. Sendo assim, foi possível analisar que os agricultores periurbanos do Cinturão Verde têm buscado um equilíbrio entre autonomia e dependência no tocante ao processo de comercialização, o que implica no acesso tanto a mercados mais alternativos, quanto a mercados convencionais.

Concluindo o Dossiê, O PROGRAMA NACIONAL DE ALIMENTAÇÃO ESCOLAR EM SANTANA DO LIVRAMENTO/RS: DESAFIOS PARA A ADEQUAÇÃO À LEI DOS 30%, ALESSANDRA TROIAN E RAQUEL BREINTENBACH discutem as dinâmicas e os comportamentos alimentares acerca do consumo das principais refeições realizadas no ambiente doméstico de consumidoras urbanas do Município de Pato Branco/PR. Para isso, a metodologia quanti/qualitativa foi construída a partir de uma pesquisa de campo realizada com 43 consumidoras pré-selecionadas de acordo com seu perfil socioeconômico e local de moradia. O instrumento de pesquisa foi um questionário, baseado em questões de múltipla escolha, aplicado individualmente no domicílio de cada participante. Utilizou-se ainda de diário de observação de campo, registrando impressões da pesquisadora a partir de falas e depoimentos das interlocutoras. Os resultados indicam que as refeições realizadas ao redor da mesa representam, simbolicamente, uma prática importante como espaço da família, das conversas, da troca de informações e de diálogos que servem também como forma de sociabilidade do grupo domiciliar. Além disso, lançar luz sobre a estrutura das refeições contemporâneas, possibilitou compreender que as transformações do comer decorrentes da modernidade alimentar – evidenciada por um movimento de maior homogeneização e individualização da alimentação – não se limitam unicamente a reprodução das condições alimentares de contextos hegemônicos e dos interesses agroindustriais.

Além dos artigos do Dossiê O abastecimento alimentar frente aos desafios contemporâneos este volume aborda temas relevantes e convergentes com o campo do desenvolvimento regional, contribuindo para o debate interdisciplinar e para o aprofundamento teórico e analítico nesse campo de investigação científica.

DESENVOLVIMENTO ORGANIZACIONAL MULTIDIMENSIONAL: UMA PERSPECTIVA CRÍTICA PARA OS ESTUDOS ORGANIZACIONAIS, de FERNANDO BATISTA BANDEIRA DA FONTOURA E FERNANDO TENÓRIO. Neste artigo buscam identificar se a perspectiva do Desenvolvimento Organizacional Multidimensional (DOM) é adequada teoricamente para explicar processos de desenvolvimento das organizações em um contexto de desenvolvimento regional. Compreende-se o DOM como uma possibilidade de revisão das formas e métodos organizacionais de desenvolvimento. A abordagem teórica faz uma revisão crítica sobre a “teoria” do Desenvolvimento Organizacional (DO), considerando os aspectos sistêmicos, estruturais e empresariais (multidimensionais) para além da cultura de consumo e da ênfase no lucro, relacionadas com a territorialidade e a sustentabilidade.

ANA CLÁUDIA AZEVEDO, CRISTINA ESPINHEIRA COSTA PEREIRA E KEYSA MANUELA CUNHA MASCENA, em ANÁLISE DE COMPETITIVIDADE EM CLUSTERS DE NEGÓCIO: UMA CONSOLIDAÇÃO DE PARÂMETROS, observam que para compreender a competitividade dos clusters requer uma análise para além da concentração geográfica, contemplando outros fatores determinantes desta competitividade. No entanto, não existe consenso em relação a estes fatores e, consequentemente, não há uma consolidação das métricas para operacionalizá-los, constituindo um entrave para realização de estudos aplicados a esses objetos. Diante disso, o objetivo deste estudo foi identificar, comparar e consolidar modelos empregados na análise da competitividade de clusters a partir de estudos nacionais. Para tanto, realizou-se uma revisão sistemática em artigos da base SPELL publicados entre 2000 e 2016. Identificou-se a utilização de dezessete modelos, contemplando vinte fatores de competitividade e, para cada fator, consolidou-se uma métrica e seu referencial de avaliação. Os fatores de competitividade mais relevantes foram a cooperação, e, abrangência de negócios viáveis e relevantes. A contribuição desta pesquisa é predominantemente metodológica fundamentada no fornecimento de parâmetros consolidados para análise da competitividade de clusters de negócios.

Na sequência, LA CIUDAD Y LA REGIÓN: IMÁGENES Y REALIDADES REVISITADAS de OSVALDO PREISS E ROMINA VALERIA SCHROEDER buscam construir de um referencial teórico que possibilite abordar a relação entre cidade e região, é pertinente analisar se a teoria e a metodologia, que se posicionam como ortodoxia vigente, se mostraram adequadas para o estudo do desenvolvimento das regiões, ou se trajetórias urbanas e regionais devem ser abordadas, incorporando elementos ausentes que nos permitam visualizar sua dinâmica. Para nosso conhecimento, pretender entender a cidade descontextualizada de sua inserção em regiões e territórios específicos representa uma abstração incompleta, que não apenas fragmenta a análise do urbano, mas também os processos de reprodução do espaço como um todo. Propõe-se rever a relação entre cidade e região nos fundamentos das teorias predominantes na literatura, que constituem a corrente principal do pensamento urbano e regional desde a década de 1980, e em visões alternativas, que destacam a heterogeneidade do trajetórias dos territórios, especialmente referentes às contribuições de autores latino-americanos.

EmA CONFIANÇA COMO BASE PARA O DESENVOLVIMENTO NO RIO GRANDE DO SUL: UM ESTUDO NA REGIÃO METROPOLITANA DE PORTO ALEGRE, EVERTON RODRIGO SANTOS, HEMERSON LUIZ PASE, SONIA MARIA RANINCHESKI E ISIS OLIVEIRA BASTOS MATOS, os autores objetivam investigar a relação existente entre essas variáveis a partir do estudo de três cidades do estado do Rio Grande do Sul; São Leopoldo, Novo Hamburgo e Estância Velha, a fim de responder ao seguinte problema de investigação: É possível que o Capital Social tenha uma influência positiva no desenvolvimento local de três cidades gaúchas? O referencial teórico utilizado contempla autores clássicos como Robert Putnam e Amartya Sen, entre outros no intuito de obter maior aporte teórico para trabalhar as questões de capital social e cultura política relacionadas ao desenvolvimento. A metodologia aplicada no presente trabalho tem como base a análise dos resultados de pesquisas tipo surveys domiciliares, aplicadas nos municípios, com amostras probabilísticas, totalizando 1819 questionários, com erro amostral de 4% e confiança de 95%, bem como pesquisa documental aos sites das referidas prefeituras, IBGE, TCE e FEE. Os resultados obtidos corroboram a ideia inicial, sugerindo que o capital social tem um impacto positiva sobre o desenvolvimento local.

No artigo, ANÁLISE DO PROCESSO DE INCORPORAÇÃO DE COOPERATIVAS, ROBERTO BIRCH GONÇALVES E ALINE BUSETTI BENATO, salientam a modernização da cooperação assume diferentes formas de negócios, o que torna necessário que as cooperativas busquem alternativas e estratégias de gestão para a sociedade cooperativa como um todo, uma das quais é a incorporação. Nesse sentido, o objetivo deste artigo é analisar o processo de incorporação de cinco cooperativas que formaram uma nova cooperativa, analisada pelo ponto de vista do associado. Para isso, foi realizada uma pesquisa descritiva com abordagem quantitativa (survey) que permitiu verificar e apresentar um diagnóstico da percepção dos associados sobre a cooperativa resultante da incorporação, através de 248 questionários válidos. O questionário foi construído em quatro dimensões: gestão cooperativa, gestão de associados, infraestrutura e treinamento técnico agrícola. Os resultados mostram as percepções gerais dos associados e apontam a importância do atendimento, gestão, infraestrutura e assistência técnica, como os principais responsáveis pela satisfação, confiança e comprometimento dos associados.

O autor HUMBERTO ROCHA no artigo HIDRELÉTRICAS NA BACIA DO URUGUAI E A PROMOÇÃO DO DESENVOLVIMENTO REGIONAL elenca elementos a serem considerados na análise da promoção do desenvolvimento a partir de Projetos de Grande Escala distinguindo conceitos como crescimento econômico, desenvolvimento humano e condições de vida, assinalando o paradoxo endógeno e exógeno do desenvolvimento e assinalando o conceito de inovação territorial com base em elementos políticos como a densidade institucional, democracia, capital social e empoderamento nas comunidades. A discussão está localizada empiricamente na bacia hidrográfica do Uruguai, Sul do Brasil, onde desde a década de 1960 decidiu-se pela exploração sistemática da hidreletricidade. Da conjunção entre esses conceitos de natureza teórica e as realidades empíricas pesquisadas nas principais hidrelétricas da região, constituímos nossa tese central de que, ignorada essa conjunção, o desenvolvimento relativo a esses projetos de grande escala pode representar um eufemismo que suplanta territórios e desintegra localidades em nome de lucros desterritorializados que deixam sequelas territoriais.

Em INDICAÇÕES GEOGRÁFICAS, CAPITAL SOCIAL E DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL, os autores FLÁVIO SACCO DOS ANJOS, FERNANDA NOVO DA SILVA E NÁDIA VELLEDA CALDAS abordam a questão da construção dos sinais distintivos de mercado, mormente das indicações geográficas de produtos agroalimentares como um instrumento para o desenvolvimento dos territórios e/ou das regiões essencialmente rurais. A abordagem leva em conta duas experiências relativas ao estado do Rio Grande do Sul a partir de uma análise comparativa que expõe seus respectivos avanços e debilidades. A pesquisa baseou-se em entrevistas realizadas entre os anos 2008 e 2012 com diversos atores sociais ligados a ambas as iniciativas. O estudo mostra que isoladamente tais dispositivos não são suficientes para a ampliação dos horizontes em regiões marcadas por uma racionalidade individualista e pouco aberta à cooperação.

No artigo DA MODERNIZAÇÃO À DESTERRITORIALIZAÇÃO: DINÂMICAS E DILEMAS DO TRABALHO AGRÍCOLA NO CERRADO DO PIAUÍ, BRASIL, ANTONIO JOAQUIM DA SILVA, MARIA DO SOCORRO LIRA MONTEIRO E ERIOSVALDO LIMA BARBOSA, visam analisar a desterritorialização provocada pelo agronegócio granífero na agricultura familiar de Uruçuí-PI. Este estudo descritivo/explicativo se embasou nos métodos dialético e etnogeográfico, os quais foram subsidiados por pesquisas bibliográfica, documental e levantamento, como também por formulários semiestruturados aplicados entre 254 agricultores familiares de Uruçuí. Concluiu-se que o processo de desterritorialização em Uruçuí, ocasionado pela difusão do agronegócio granífero, confirmou-se, mormente, na subordinação da mão de obra familiar ao trabalho temporário nas grandes propriedades agrícolas, pois a mesma era desvalorizada, apresentando baixo nível de especialização e reduzida remuneração salarial; na diminuição das relações de ajuda mútua entre as comunidades rurais; em mudanças nos modos de vida; e na eminente dependência dos agricultores familiares à aplicação idílica de insumos químicos nas lavouras.

Na sequência, FLÁVIO BRAGA DE ALMEIDA GABRIEL, DANIEL AMORIM SOUZA CENTURIÃO, CAROLINE ANDRESSA WELTER E GRAZIELLI OLIMPIA VIVIANI PEDROSO DA SILVA, em ESTRUTURAS DE GOVERNANÇA E ATRIBUTOS DAS TRANSAÇÕES NO COMPLEXO AGROINDUSTRIAL DE FLORESTAS RIBAS DO RIO PARDO/MS objetivam responder o seguinte questionamento: como os agentes econômicos do complexo agroindustrial de florestas plantadas deste município se relacionam? Para isso, foram adotados os objetivos de identificar quais as estruturas de governança adotadas por este complexo agroindustrial, com base nos atributos das transações, e elencar suas influências no desenvolvimento local. Como referencial teórico, foram utilizados os preceitos da Nova Economia Institucional, em especial a Economia dos Custos de Transação, bem como, as teorias sobre complexo industrial e sua relação com o desenvolvimento local. Como metodologia, realizou-se uma pesquisa qualitativa, com informações primárias e secundárias, através da aplicação de questionários mistos semiestruturados, visitas in loco e conversas com especialistas do segmento. Como resultado, evidencia-se uma heterogeneidade quanto às estruturas de governança presentes no complexo, devido principalmente a grande disparidade existente nos atributos das transações (frequência, incerteza e especificidade dos ativos). Os agentes que transacionam utilizando estruturas de governança mais complexas mantém uma relação de dependência fraca com o restante dos agentes, provocando um efeito punitivo para todo o complexo, pois torna o desenvolvimento local dependente dos elos mais fortes, que mantém uma baixa vinculação com o local.

No seguinte artigo, ENOTURISMO NO BRASIL: UM ESTUDO COMPARATIVO DOS PERFÍS DOS ENOTURISTAS DO VALE DOS VINHEDOS E DO VALE DE SÃO FRANCISCO, JOSÉ CADIMA RIBEIRO demonstra que o enoturismo tem apresentado importância crescente, mostrando-se como alternativa de desenvolvimento para as regiões vitivinícolas. Entretanto, a literatura aponta a existência de uma lacuna de informação sobre as caraterísticas e comportamentos dos visitantes. Em razão disso, o presente artigo tem como objetivo principal determinar o perfil dos visitantes da regiões vitivinícolas brasileiras do Vale dos Vinhedos e do Vale de São Francisco. Recorreu-se a dados qualitativos e quantitativos sobre os enoturistas. Os inquéritos foram aplicados aos turistas que visitaram essas regiões vinícolas e os dados foram submetidos a técnicas estatísticas multivariadas com o objetivo de segmentar os visitantes. Os resultados apontam que as visitas podem ter diferentes motivações. Percebeu-se, também, que os turistas encontrados no Vale dos Vinhedos e no Vale de São Francisco têm perfis distintos. Em matéria de estratificação, obtiveram-se quatro segmentos: apaixonados; interessados; visitantes ocasionais; e indiferentes. Os resultados da investigação sugerem que conhecer melhor o perfil do enoturista possibilita a implementação de novas estratégias de marketing e ajuda a formatar a oferta.

CONDIÇÕES DE ACESSO À LINHA DO PRONAF AGROECOLOGIA NO TERRITÓRIO DA CANTUQUIRIGUAÇU/PR, JANETE STOFFEL, ANELISE GRACIELE RAMBO EPATRÍCIA LUIZA EBERHARDT buscam analisar limites e potencialidades no acesso dos agricultores familiares à linha do Pronaf Agroecologia no Território da Cidadania da Cantuquiriguaçu/PR. Foi utilizado instrumental descritivo exploratório, via um estudo de casos coletando dados junto a agricultores familiares e com agentes de instituições financeiras, buscando confrontar e comparar as respostas sobre a inexistência de acesso ao subprograma na região. Os resultados indicam que os agricultores familiares entrevistados, têm interesse em acessar os recursos, mas por desconhecimento, dificuldades quanto às exigências, receio quanto ao endividamento e taxas de juros, isto não acontece. No caso das instituições financeiras o que se observou é de que a linha não é atraente em termos financeiros para ser disponibilizada. Consequentemente não há um conhecimento apurado sobre como funciona e constata-se a necessidade de que a assistência técnica seja mais efetiva no sentido de instruir, orientar e auxiliar os agricultores familiares a apresentar projetos viáveis junto às instituições financeiras. Superar estes limites pode ser um meio de usufruir das potencialidades da produção agroecológica, tão importante e necessária para a sustentabilidade social, ambiental e econômica.

CLAUDIA MARIA PRUDÊNCIO DE MERA, THOMAS ROSA MENEGAZZI E JORGE STUMPFS DIAZ, no artigo CONFORMIDADE HIGIÊNICO E SANITÁRIA EM AGROINDÚSTRIAS FAMILIARES LÁCTEAS EM MUNICÍPIOS DO RIO GRANDE DO SULO realizaram uma análise da conformidade higiênico-sanitária de agroindústrias familiares, produtoras de derivados lácteos, no Rio Grande do Sul. Nas unidades agroindustriais familiares, o controle da qualidade da produção acontece rotineiramente pelos proprietários, dessa forma, uma avaliação da conformidade de todo seu ciclo produtivo auxilia na redução de prejuízos, relacionados à saúde ou econômicos, agregando para o consumidor e para as agroindústrias um valor inestimável ao produto oriundo de todo esforço produtivo. Nesse contexto, foi aplicado um check list, dividido em 5 grupos, em 10 unidades agroindustriais, com o objetivo de quantificar as conformidades. Pela análise, a média de conformidade por grupo de estudo foi 47,18%, e 55,03% a média geral dos grupos. Ainda, na análise individual das agroindústrias, seguindo o critério de classificação do estabelecimento conforme seus itens atendidos, grupo 1 (76%-100%), grupo 2, (51-75%), grupo 3 (0-50%), nenhuma propriedade classificou-se no grupo 1, sete agroindústrias colocaram-se no grupo 2 e três no grupo 3. Diante desses resultados, melhorias organizacionais no interior das agroindústrias, instauração de programa de saúde dos trabalhadores, melhorias nas instalações, como as telas nas portas e adequação da climatização dos ambientes, programa de controle de matéria-prima, de qualidade do produto final e embalagens e, ainda, implementação de um programa documental de todas as atividades desenvolvidas, proporcionam a melhoria sanitária dos produtos, gerando maior segurança alimentar e credibilidade aos produtores.

E, para finalizar o artigo, EMANOEL MÁRCIO NUNES, VIVIAN MENEZES DA SILVA E VINICIUS CLAUDINO DE SÁ em ASSISTÊNCIA TÉCNICA E EXTENSÃO RURAL (ATER): FORMAÇÃO E CONHECIMENTOS PARA A AGRICULTURA FAMILIAR DO RIO GRANDE DO NORTE analisam a formação do quadro de técnicos de Assistência Técnica e Extensão Rural e os conhecimentos necessários para engendrar processos de desenvolvimento rural, considerando que a ATER é uma política que promove a inovação na agricultura familiar através de ações específicas que modificam a realidade dos atores envolvidos. A metodologia consistiu da utilização de dados primários e secundários, sendo os primeiros da aplicação de um questionário estruturado a 135 extensionistas do Instituto de Assistência Técnica e Extensão Rural (EMATER), do Rio Grande do Norte, entre os meses de março a junho de 2018; e os segundos por meio da análise de informações, especialmente as obtidas das regionais da EMATER/RN e da Secretaria Especial de Agricultura Familiar e do Desenvolvimento Agrário (SEAD), através da Coordenação-Geral de Gestão Estratégica, Monitoramento e Avaliação (CGMA/NEAD). Como resultados, verificou-se a necessidade de um caráter menos difusionista e mais extensionista para a formação em nível técnico, tecnólogo e nível superior. E quanto aos conhecimentos prevaleceram temas relacionados com a diversificação e inovação da agricultura familiar, com vistas a inclusão e a construção de mercados.

Agradecemos a todos/as as/os autores que dedicaram seus esforços para enviar suas contribuições, assim como aos pareceristas que participaram da avaliação dos artigos que compõem esse número.

Desejamos, a todas e todos, uma boa leitura.

HMTL gerado a partir de XML JATS4R por