Artigos
Recepción: 08 Octubre 2020
Aprobación: 06 Julio 2021
DOI: https://doi.org/10.17058/redes.v26i0.16020
Resumo: Desde os anos 1990, estudiosos reivindicam a necessidade de uma abordagem interdisciplinar na compreensão de fenômenos considerados propriamente econômicos. Os deslocamentos migratórios, por seu turno, apontam como uma interessante experiência para a análise da relação entre cultura e economia. O caráter relacional das transações econômicas é algo cada vez mais reconhecido. Este artigo, por sua vez, pretende aplicar a ideia de redes sociais a fim de se compreender a presença e atuação da população de origem árabe (imigrantes e descendentes) em certas atividades econômicas na fronteira entre Ponta Porã, Brasil, e Pedro Juan Caballero, cidade situada no Paraguai. Para tanto, empreende-se algumas reflexões sobre aspectos que podem ter determinado a vinda e a expansão dos árabes para a fronteira em epígrafe. Através da delimitação de certas trajetórias familiares, construídas a partir de entrevistas, tem-se a intenção de demonstrar a importância das redes sociais na construção dessas últimas. Conclui-se que o movimento imigratório dos árabes e sua inserção socioeconômica são influenciados pelas ações de suas respectivas redes. Ademais, o capital social, expresso pelas relações de confiança, pela cooperação e habilidades comerciais, pauta-se em seus princípios culturais e apresenta-se como um fator social das relações econômicas, sendo um fator significativo no processo de formação social e econômica da região estudada.
Palavras-chave: Redes sociais, Imigração árabe, Fronteira.
Abstract: Since the 1990s, scholars have demanded the need for an interdisciplinary approach in understanding phenomena considered to be properly economic. The migratory displacements, in turn, point out as an interesting experience for the analysis of the relationship between culture and economy. The relational character of economic transactions is increasingly recognized. This article, in turn, intends to apply the idea of social networks in order to understand the presence and performance of the population of Arab origin (immigrants and descendants) in certain economic activities on the border between Ponta Porã, Brazil, and Pedro Juan Caballero, city located in Paraguay. Therefore, some reflections on aspects that may have determined the arrival and expansion of the Arabs to the above-mentioned border are undertaken. Through the delimitation of certain family trajectories, built from interviews, the intention is to demonstrate the importance of social networks in the construction of the latter. In conclusion, we show that the Arab immigration movement and its socioeconomic insertion are influenced by the actions of their respective networks. Furthermore, social capital, expressed by relationships of trust, cooperation, and commercial skills, is based on its cultural principles and presents itself as a social factor in economic relations, being a significant factor in the process of social and economic formation in the region.
Keywords: Social networks, Arabic Immigration, Border.
Resumen: Desde la década de 1990, los académicos han reclamado la necesidad de un enfoque interdisciplinario en la comprensión de los fenómenos considerados propiamente económicos. Los desplazamientos migratorios, a su vez, apuntan como una experiencia interesante para el análisis de la relación entre cultura y economía. El carácter relacional de las transacciones económicas se reconoce cada vez más. Este artículo, a su vez, pretende aplicar la idea de redes sociales para comprender la presencia y desempeño de la población de origen árabe (inmigrantes y descendientes) en determinadas actividades económicas en la frontera entre Ponta Porã, Brasil, y Pedro Juan Caballero. ciudad ubicada en Paraguay. Para tanto, se realizan algunas reflexiones sobre algunos aspectos que pudieron haber determinado la llegada y expansión de los árabes a la citada frontera. A través de la delimitación de determinadas trayectorias familiares, construida a partir de entrevistas, se pretende demostrar la importancia de las redes sociales en la construcción de estas últimas. En conclusión, mostramos que el movimiento migratorio árabe y su inserción socioeconómica están influenciados por las acciones de sus respectivas redes. Además, el capital social, expresado en relaciones de confianza, cooperación y competencia comercial, se fundamenta en sus principios culturales y se presenta como un factor social en las relaciones económicas, siendo un factor significativo en el proceso de formación social y económica de la región.
Palabras clave: Redes sociales, Inmigración árabe, Frontera.
1 Introdução
Ao longo dos últimos anos, a cultura1 tem sido reconhecida como um importante vetor no processo de desenvolvimento. Nesse contexto, surgiram uma série de movimentos que buscam o reconhecimento e a valorização das identidades culturais. A região2 de fronteira de Ponta Porã (MS) e Pedro Juan Caballero (PY) possui uma ampla diversidade cultural e, portanto, aprofundar esse debate é de grande relevância para a região.
A fronteira objeto de estudo é marcada pela expressiva presença da cultura árabe, embora convivam, também, chineses, coreanos, japoneses, indianos e outros imigrantes. A presença árabe é formada majoritariamente por libaneses e sírios e sua área de atuação em termos econômicos é destacada pela concentração no setor de serviços, com ênfase no comércio em geral e no setor de alimentação, como em restaurantes.
É importante salientar que, no caso das cidades de Ponta Porã e Pedro Juan Caballero, a influência árabe é perceptível tanto no comércio local quanto no comércio internacional. Isso é facilmente identificável a partir da grande variedade de nomes árabes nas fachadas de restaurantes (Al Tayeb), como também em lojas comerciais de importados, tais como: Salem Importados. Yazmin Center; Sammer Center. Hassan Celular, Kamal Celular, Kassen Celular e diversas outras. Além disso, em diversas casas noturnas, especialmente em Ponta Porã, são fornecidos aos clientes os chamados arguiles3,ou narguilés, que é um dos principais símbolos da cultura árabe.
Este artigo, por sua vez, pretende aplicar a ideia de redes sociais a fim de se compreender a presença e atuação da população de origem árabe (imigrantes e descendentes) em certas atividades econômicas na fronteira entre Ponta Porã, Brasil, e Pedro Juan Caballero, cidade situada no Paraguai. Para tanto, realizaremos, primeiramente, uma discussão teórica acerca dos conceitos de redes sociais e capital social. Posteriormente, contextualizaremos a economia da região, com destaque para as atividades do comércio, setor em que atua a maioria da população de origem árabe. Por fim, serão expostas algumas trajetórias de famílias de origem árabe cuja presença é marcante na economia e na história da região. Delineadas por meio de entrevistas, tais trajetórias conseguem demonstrar a utilidade do conceito de redes sociais para a compreensão da inserção desse grupo em determinadas atividades econômicas na região.
Antes de avançarmos, destaca-se dois pontos importantes: o primeiro refere-se aos aspectos metodológicos da pesquisa. Inicialmente, realizou-se uma ampla e aprofundada revisão bibliográfica a partir da consulta em livros, dissertações, teses e demais trabalhos científicos publicados sobre o tema. Além da revisão bibliográfica, essa pesquisa é benecifiária do trabalho de campo de Balbuena (2020), que fez uma pesquisa baseada na plicação de entrevistas (semiestruturadas) com os migrantes árabes e seus descendentes que vivem na área de fronteira objeto de investigação4. Ademais, esta pesquisa utiliza-se da História Oral, enquanto metodologia de pesquisa qualitativa, uma vez que o tema em estudo trata-se de uma área exploratória, para a qual são escassas as fontes de informações. Destaca-se que, a partir das entrevistas, é possível caracterizar um tipo de história oral, a história de vida. Por fim, mas não menos importantes, vale destacar que esta pesquisa beneficia-se do método qualitativo da observação participante, uma vez que ao longo do desenvolvimento do trabalho (em alguns caso, muito antes) os pesquisadores conviveram e interagiram por longos períodos com o grupo observado.
O segundo ponto a ser destacado é a relação entre a presente pesquisa e o desenvolvimento regional. Dentre outras perspectivas, enfatizamos o papel da cultura. Mais especificamente, entendemos cultura (em suas múltiplas dimensões) enquanto uma variável fundamental para o desenvolvimento econômico e social. Nossa inspiração principal (mas não única) é a obra do economista Celso Furtado. Para o autor, o desenvolvimento comporta um conjunto de transformações nas estruturas sociais e nas formas de comportamento que acompanham a acumulação do sistema de produção. Ou seja, o desenvolvimento deve ser entendido como um processo cultural e histórico que atende a um sistema de dominação social. Nesse sentido, na medida em que aplica-se a ideia de redes sociais para compreender a presença e atuação da população de origem árabe na fronteira em estudo, é possível identificar o processo de construção, de evolução e de alcançe dessas redes, bem como entender como determinados aspectos culturais moldaram, influenciam e, em certos aspectos, ainda determinam elementos do processo de desenvolvimento regional, especialmente a partir de suas infuências sobre a dinâmica de certas atividades econômicas.
2 Redes sociais e capital social no processo migratório: os conceitos e suas relações
Este tópico tem por objetivo revisar sucintamente as concepções teóricas sobre o capital social e a sua relação com a teoria das redes sociais utilizadas em movimentos migratórios. Conforme Cruz e Falcão (2017), o debate inerente aos processos migratórios apresenta-se como uma tendência contemporânea muito discutida nos EUA e na Europa. O processo de imigração está ligado as categorias sociais como famílias, grupos de amigos promovendo a mobilidade dos indivíduos por meio do deslocamento físico e social facilitado pelas redes sociais. Os imigrantes buscam os laços sociais com o intuito de amenizar os riscos que novas experiências podem trazer, também, utilizam esses laços para amenizar a solidão e facilitar seu convívio através de memórias afetivas. (FUSCO, 2001). O movimento migratório, geralmente, é envolvido por relações de interesse entre os imigrantes que chegam e os que já estão estabelecidos no lugar.
Conforme Carleial (2004, p. 2):
Trata-se de redes de determinado tipo de sociabilidade, de reciprocidade, que ressignificam as ações sociais, reterritorializam5 os grupos sociais, rearranjam as parcerias, na passagem ou permanência do imigrante no lugar de destino, integrando-o, adaptando-o ou redefinindo sua situação. (CARLEIAL, 2004, p.2).
Oswaldo Truzzi (2008) investiga a utilização do conceito de redes em processos migratórios. Conforme o autor, a perspectiva de redes sucede a noção de cadeias migratórias. Nesse contexto, o que alimenta o deslocamento de uma emigração em cadeia são as informações difundidas por parentes, conterrâneos e agentes de propagandas, entre outros. Portanto, informações e relações de interesses comuns entre os imigrantes, difundidas por meio de redes, relacionam-se, essencialmente, com vínculos de relações sociais e econômicas, as quais estimulam o indivíduo a migrar.
A figura acima exemplifica os tipos de mobilidades em processos migratórios e suas principais características. Para Truzzi (2008), os imigrantes pioneiros, especificamente os bem-sucedidos, servem como um elo de atração para o estabelecimento de outros imigrantes, os quais facilitam a fixação dos demais de forma permanente, além de determinar as profissões que irão ocupar. Portanto:
O emprego dos termos cadeias e redes, em suas acepções mais restritas ou abrangentes, procura sublinhar a circunstância de que muitos decidiam emigrar após informarem-se previamente das oportunidades e (dificuldades) com imigrantes anteriores, seja por carta, seja quando retornavam. Estes podiam prover tanto informações, no tocante a perspectivas de empregos e alojamento iniciais, como recursos, por meio de remessas monetárias, que pudessem financiar e assim viabilizar a viagem (TRUZZI, 2008, p. 203).
É nesse sentindo que o conceito de capital social se relaciona com o de redes. Conforme Putnam (1993), uma sociedade baseada na reciprocidade é mais eficiente do que uma sociedade que careça dela. A confiança é fundamental na vida social e redes de engajamento facilitam a ampliação de informações referentes à confiabilidade de outras pessoas. O autor ainda ressalta a importância de redes sociais densas, que são comumente apoiadas por bases familiares ou comunidades étnicas no exterior, as quais fomentam a confiança e informações, visando reduzir custos de transações.
O surgimento da teoria do Capital Social é muito remoto. No Brasil, essa concepção foi difundida com o trabalho desenvolvido por Putnam (2006) intitulado Comunidade e democracia nos governos regionais da Itália. Para o autor, o capital social está atrelado aos aspectos essenciais de organização social, como confiança, normas e sistemas, que contribuem para uma sociedade mais eficiente, visto que:
[...] assim como outras formas de capital, o capital social é produtivo, possibilitando a realização de certos objetivos que seriam inalcançáveis se ele não existisse (...). Por exemplo, um grupo cujos membros demonstrem confiabilidade e que depositem ampla confiança uns nos outros é capaz de realizar muito mais do que outro grupo que careça de confiabilidade e confiança [...] (PUTNAM, 2006, p. 178).
O autor pressupõe, ainda, que o capital social tem como elemento básico a confiança. Logo, quanto mais elevado o nível de confiança em uma comunidade, maior a possibilidade de haver cooperação. Por sua vez, a própria cooperação gera confiança, provocando círculos virtuosos que se convertem em elevados níveis de cooperação, confiança, reciprocidade, civismo e bem-estar coletivo (PUTMAN, 2006). Boisier (2000) corrobora enfatizando que, substancialmente, o capital social é compreendido como a propensão que o indivíduo tem de exercer a ajuda interpessoal. Essa ajuda é baseada na confiança de que haverá reciprocidade quando o outro requerer ajuda. A confiança, portanto, gera uma reciprocidade difusa, superando os laços mais evidentes, tais como laços familiares.
Além disso, é preciso considerar que a concepção de capital social está atrelada a fatores conjuntos de ordem cultural, como confiança, cooperação e ações para o bem comum (BOISIER, 2000). Abramovay (2000) ressalta que compreender a influência do capital social sobre as dinâmicas de uma região permite visualizar que os indivíduos não agem independentemente, pois seus objetivos não são determinados de maneira isolada.
Complementando, Higgins (2005) acrescenta que as relações sociais constituem um patrimônio "não visível", mas altamente eficaz, a serviço dos sujeitos sociais, sejam esses individuais ou coletivos, sendo os motores da ação coletiva a confiança e a cooperação.
Bourdieu (1989), por outro lado, afirma que é com a quantificação do capital social de determinadas pessoas ou grupos dependerá do tamanho da extensão da rede de relações que ele pode mover e do volume do capital (econômico, cultural ou simbólico) relacionado a cada um daqueles a quem está ligado. Ou seja, esses efeitos são visíveis a uma rede durável de relações que determinado grupo social pode gerar, dado que o capital social é complementar ao capital econômico, cultural ou simbólico, gerando um efeito multiplicador. Sendo assim, o capital social, segundo os estudiosos da sociologia, pressupõe que a dinâmica das relações de sociabilidade e de colaboração entre os atores de uma localidade oportunizam o alcance de novas fontes de capital: a confiança mútua, as normas e as redes sociais (FIALHO, 2016). Essas fontes, dentro do contexto do desenvolvimento de uma região, podem ser algo determinante.
Nesse sentido, Truzzi (2008) argumenta, no que tange à informação, que a variável-chave para sua propagação é a contemplação por meio de redes, cujo estágio de abrangência é muito variado. Há redes que se limitam a círculos familiares (menores) e outras de maior amplitude, que perpassam informações a toda uma aldeia e/ou a toda uma microrregião. Portando, o que determina a confiabilidade atribuída às informações são as relações sociais primárias, ou seja, a trajetória do indivíduo influencia o sistema como um todo. A confiança em informações pessoais (através de carta ou pessoalmente) é mais garantida do que as informações não pessoais.
Dessa forma, evidencia-se que as informações concedidas por familiares, amigos e demais conterrâneos devem ser dotadas de confiança para que o indivíduo tome a decisão de emigrar. Existe também um plano familiar no sentido de subsidiar as viagens:
O próprio contato no país de destino do potencial emigrante facilitava parcialmente ou mesmo financiava integralmente sua viagem. Este podia ser um parente (é muito comum, por exemplo, tios chamando sobrinhos, ou irmãos chamando irmãos) (TRUZZI, 2008, p. 203).
Ainda conforme o referido autor, isso não é uma regra, dado que é muito frequente o indivíduo viajar com recurso próprio. A decisão de mandar um ou mais membro da família à emigração tem o propósito de beneficiar a família como um todo.
Coleman (1988) utiliza a ideia de capital social como um recurso capaz de gerar benefícios e recorre a termos econômicos. Sendo assim, o capital social altera a concepção geral de capital na medida em que estende o alcance do ator social. Em outras palavras, a pessoa humana deixa de ser considerada de forma isolada e interage com a sociedade, passando a ser um construtor de laços de coesão, a partir dos quais acaba facilitando ações coordenadas a fim de lidar com dilemas coletivos (WOOLCOCK, 1998). Portanto, o capital social é mais um componente do desenvolvimento a ser analisado com aptidão à construção de oportunidades de desenvolvimento por meio de redes sociais de negociação (RIBEIRO; FERNANDES; RIBEIRO, 2012).
Bourdieu (1989, p. 67) observa que o capital social depende da quantidade de relações na rede que ele pode mover:
O capital social é um conjunto de recursos atuais ou potenciais que estão ligados a posse de uma rede durável de relações mais ou menos institucionalizadas de interconhecimento e de inter-reconhecimento ou, em outros temos a vinculação a um grupo, como conjunto de agentes que não somente são dotados de propriedades comuns [...] mas também são unidas por ligações [...] o volume o capital social que um agente individual possui depende então da rede de relações que ele pode efetivamente mobilizar e do volume do capital ( econômico, cultural, ou simbólico) que é posse exclusiva de cada um daqueles a quem está ligado. (BOIRDIEU, 1989, p.67)
Para Vilela (2011), as abordagens de redes sociais mostram como os imigrantes pioneiros servem de conexão para os que migram posteriormente. Essa conexão é referente às informações e recursos difundidos entre eles, tais como: ajuda financeira, oferta de trabalho, informações de como administrar os negócios, a qual é fundamental para a posição profissional que o imigrante irá ocupar. De acordo com a autora:
As redes de ajuda e de solidariedade criadas pelos imigrantes não são utilizadas apenas nas decisões de migrar e para onde migrar. Elas se mantêm em todo o processo de imigração, incluindo a inserção no mercado de trabalho, a empregabilidade e a posição ocupacional dos membros do grupo (VILELA, 2011, p. 158).
Conforme Portes (1995) apud Vilela (2011), a homogeneidade da escolha ocupacional dos membros depende do tamanho e da pluralidade das redes sociais. Isso explica por que determinadas etnias tendem a se especializar em poucos nichos de atividades econômicas e passam por diversas gerações. Neste sentido, os primeiros imigrantes abriram caminho para seus sucessores por meio do estabelecimento de conexões no qual foi possível obter suporte financeiro, atividade remunerada e solidariedade emocional, e estes são o elo que possibilitam que mais pessoas venham se estabelecer num determinado lugar, influenciando até mesmo na profissão que será exercida (VILELA, 2011).
Uma das perspectivas teórico-metodológicas que buscam explicitar os mecanismos sociais que operacionalizam o mercado de trabalho é a que se centra na noção de redes sociais. Trabalha-se aqui com a noção específica de redes sociais enquanto um conjunto de relações que institui vínculos entre dois ou mais indivíduos, ou seja, são estruturas de relações que constituem uma das dimensões das relações sociais.
De maneira geral, uma rede é um conjunto de atores ligados por uma relação; uma rede caracteriza, assim, o sistema formado pelos vínculos diretos e indiretos (os contatos dos meus contatos) entre os atores. Por analogia, é uma forma de interação social que põe atores em contato [...] (STEINER, 2006, p. 77).
Essa estrutura de relações tem caráter processual: existem diversas trajetórias relacionais viáveis, sendo possível se estabelecer novos vínculos com outros atores no decorrer do tempo. A natureza dos laços sociais tecidos pelos indivíduos, cabe salientar, é “orientada pelos contextos sociais em que essas relações se efetuam” (SANTOS, 1991, p. 109).
O aspecto mais importante, privilegiado segundo essa perspectiva [a perspectiva de redes sociais], são as relações entre os indivíduos, e não os atributos de cada um deles. O ponto fundamental é buscar, a partir de cada indivíduo, a identificação de sua rede de relações. Assim, o conceito de redes concebe a sociedade como um conjunto de relações e introduz uma dimensão da estrutura social entendida como estrutura de relações, o que é bastante diferente de imaginá-la como estruturada segundo categorias agregativas (TRUZZI, 2008, p. 214).
Analisando o desenvolvimento do conceito de capital social – esse entendido como a capacidade dos indivíduos em garantir benefícios advindos da sua localização em redes sociais – Portes (1998) destaca o fato de essa noção sugerir não somente as consequências positivas da sociabilidade, mas também o caráter normativo e excludente das redes sociais. O alcance das garantias e obrigações potenciais implícitos nas relações interpessoais depende, por seu turno, da quantidade, do conteúdo e da intensidade dos laços que ligam o conjunto delimitado de indivíduos (PORTES, 2005).
O conceito de redes sociais, portanto, aparece como uma ferramenta genuinamente sociológica para se pensar a construção dos mercados de trabalho, uma vez que os recursos relacionais seriam importantes pontos de referências para a inserção ocupacional. Oferta e demanda de mão-de-obra entrariam em contato e se concretizariam no interior das redes sociais (SANTOS, 1991). O mais importante, contudo, não seria nem tanto demarcar uma rede, mas sim demonstrar como as relações estabelecidas dentro dela disponibilizam possíveis vantagens e desvantagens, além de como fluem os recursos sociais e com quais consequências (POWELL, SMITH-DOERR, 1994; MIZRUCHI, 2009).
A relevância das redes socais não consiste somente em influenciar o local de origem e de fixação, mas permeia as relações de trabalho seja com relação a empregabilidade quando o próprio mercado bem como a posição ocupacional dos membros do grupo. Depreende-se de Martes e Dimitri (2010) que quanto mais densa e múltipla for as redes sociais mais ampla será a homogeneidade de escolha profissional por parte dos seus membros, se especializando em poucos nichos de um setor econômico podendo transpor gerações.
3 A fronteira de Ponta Porã (BR) e Pedro Juan Caballero (PY) e o papel do comércio
O Estado de Mato Grosso do Sul (MS) foi criado a partir do desmembramento do Estado de Mato Grosso pela Lei complementar n˚31, de 11 de outubro de 1977 e implantada em 1979, sancionada por Ernesto Geisel. “O estado de Mato Grosso do Sul é composto por 79 municípios dos quais 44 compõe a faixa de fronteira internacional totalizando 1.578 quilômetros de extensão nas linhas de divisa com as repúblicas do Paraguai e Bolívia” (TORRECILHA, 2013, p. 120).
Evidentemente, aspectos da formação histórica e econômica de MS foram determinados muito antes mesmo da sua criação “oficial” em 1979. Ademais, vale lembrar que a diversidade das respectivas bases produtivas dos estados que compõem a região centro-oeste, de maneira geral, e do MS, em particular, remonta às especificidades do processo histórico de internalização das vias de transporte e consequente integração dessas áreas à economia nacional.
Por exemplo, a implantação da ferrovia construída para o Oeste (a Estrada de Ferro Noroeste do Brasil) sob a alegação da guarnição das fronteiras internacionais com a Bolívia e com o Paraguai, nas primeiras décadas do século XX, impulsionou o crescimento do sul de Mato Grosso, o que possibilitou o intercâmbio com as demais cidades do Brasil, facilitando a circulação de pessoas e mercadorias (LE BOURLEGAT, 2000; BERTHOLI, 2006). Somado ao fim da Guerra da Tríplice Aliança no período imediatamente anterior e a subsequente organização da exploração da erva-mate e da pecuária, a expansão das vias de transporte permitiu o fortalecimento econômico da região (MISSIO; RIVAS, 2019).
Ponto importante a ser ressaltado é a importância das migrações de diversas regiões do Brasil, que contribuíram para o fomento econômico e cultural do MS, bem como das imigrações internacionais. Paulistas, mineiros e, posteriormente, os gaúchos adentraram no estado a partir da década de 1830 (BERTHOLI, 2006; QUEIROZ, 2008; BITTAR, 2009; ESSELIN, 2011).
Ao mesmo tempo, o advento dos mascates possibilitou a difusão e distribuição de mercadorias, que estimularam o desenvolvimento do comércio em MS. Isso atraiu imigrantes sírios e libaneses, muito dos quais desprovidos de recursos. Em busca de oportunidades comerciais, boa parte desses imigrantes instalaram-se em Corumbá (ROSA; CASTELÃO, 2014), que era o polo distribuidor de mercadorias para localidades ao sul, leste e centro de MS à época, consolidando seus negócios na região. A imigração de sírios e libaneses continuou ao longo do tempo em MS alcançando outras regiões e cidades do Estado, como Dourados (Souza, 2007) e a região de fronteira, especialmente em Ponta Porã.
Ponta Porã, localizada ao sul de MS, faz fronteira com a cidade de Pedro Juan Caballero, que é capital do Departamento de Amambai, no Paraguai. O território que abrange o limite internacional dessa fronteira é de, aproximadamente, 13 km de extensão. Essa fronteira tem uma série de particularidades históricas e econômicas, como o fato de ter sido um dos palcos da Guerra da Tríplice Aliança, ou ainda, por fazer parte do Território Federal de Ponta Porã, criado em 1943 (SANTOS, 2016).
A partir da segunda metade do século XX, a economia da região especializou-se na reexportação, o que, por sua vez, impulsionou o turismo de compras. O comércio desses produtos importados, que se consolidou nesse período e permanece até os dias atuais, supre a demanda de brasileiros, principalmente de MS, que buscam marcas internacionais renomadas (roupas, calçados, perfumes, brinquedos e eletrônicos em geral, entre outros). A linha internacional atualmente concentra a maior parte das empresas que realizam o comércio reexportador” (Lamberti, 2006, p. 63).
O ponto a ser destacada é que, nesse período (meado de 1970), a dinâmica econômica influenciou mais diretamente a dinâmica demográfica na medida em que a cidade fronteiriça começou a receber imigrantes asiáticos, árabes, entre outros, oriundos ou da Ciudad del Este, onde já estavam estabelecidos, ou diretamente do seu país de origem. Esses imigrantes eram atraídos pelo então mercado turístico já consolidado e em vias de expansão.
Banducci Jr. (2015) relata que na fronteira, além dos brasileiros e paraguaios, residem também imigrantes estrangeiros como coreanos, chineses, japoneses, libaneses, sírios, palestinos, indianos, entre outros. Esses se tornam proprietários de lojas no lado paraguaio da fronteira e, assim, apresentam-se como protagonistas de relações comerciais, bem como de intercâmbios culturais. Ainda, segundo o autor:
[...] as cidades fronteiriças de Pedro Juan Caballero (Paraguai) e Ponta Porã (Brasil), centros conurbados, em área de fronteira seca, têm seu cotidiano marcado por grande fluxo de pessoas e bens. Na linha de divisa entre as cidades gêmeas formou-se, a partir da década de 1980, um extenso mercado popular de importados, alimentado pelo turismo de compras brasileiro, que passou a atrair compradores finais e sacoleiros, mobilizando a economia de ambas as cidades (BANDUCCI JR., 2015, p. 2).
O turismo de compra é uma atividade importante para a economia da região fronteiriça. É constante a presença de brasileiros de diversas regiões do país como compradores finais e de “sacoleiros”, que levam mercadorias para revender das lojas estabelecidas no Paraguai para outras regiões do Brasil. Já o lado brasileiro da fronteira supre as demandas dos compradores, ofertando serviços relacionados a hotéis, restaurantes, lazer e etc. Assim como os brasileiros usufruem dos menores preços dos produtos importados no Paraguai, os paraguaios (especificamente os pedrojuaninos) também realizam compras em Ponta Porã, especialmente de vestuário e de eletrodomésticos. Nesse último caso, eles aproveitam do sistema de crediário, prática pouco usual no Paraguai. Em resumo, o comércio nas regiões de fronteira é uma prática comum “e deriva tanto do fluxo de bens e pessoas, como das possibilidades de usufruir as facilidades decorrentes das diferentes normas e legislações proporcionadas pela existência de dois estados – nacionais” (LAMBERTI, 2006, p.42).
Em resumo, a condição de conurbação internacional e o dinamismo peculiar desses dois municípios tornam essa fronteira um local com singularidades e especificidades particulares.
4 Redes sociais e imigração árabe na fronteira Ponta Porã/Pedro Juan Caballero
Para a investigação da população síria e libanesa na fronteira de Ponta Porã (MS) e Pedro Juan Caballero (PY), foi estabelecido um recorte temporal a partir de 1950. Esse período compreende a chegada dos imigrantes árabes pioneiros na cidade de Ponta Porã. Nesse contexto, foi possível traçar a trajetória desses imigrantes, relacionando sua chegada à abertura das primeiras lojas comerciais.
A cidade de Ponta Porã-MS atraiu a atenção dos imigrantes árabes justamente por sua proximidade com o Paraguai. Esses imigrantes, já estabelecidos no território brasileiro (e, também, em algumas cidades do Paraguai), começaram a se concentrar em Ponta Porã em busca de maiores oportunidades comerciais. Portanto a imigração árabe para Ponta Porã apresentou-se como uma continuidade local de uma migração internacional.
Destaca-se que eles são oriundos da 2˚ leva migratória (período de 1900-1914), que chegou tanto através dos portos brasileiros, quanto da Argentina. O relato de um descendente da terceira geração sobre a formação da comunidade árabe na fronteira ajuda a esclarecer esse ponto:
Um dos primeiros imigrantes foi o meu avô, que seria o codinome Alcunha João Martins e na verdade ele seria se não me engana Jaleil Zain Haidar, ele saiu do Líbano em 1900 e pouquinho e foi parar na Argentina desembarcou no Porto da Argentina, lá ele ficou um tempo, depois de ter passado esse tempo, ele saiu a procura de um primo que ele não tinha encontrado há muito tempo, aí ele saiu de lá e foi parar em Assunção (ENTREVISTADO K, CONCEDIDA EM NOVEMBRO DE 2019).
Ainda, conforme o entrevistado, seu avô mudou-se para Coronel Sapucaia-MS e casou-se com uma gaúcha, com a qual teve vários filhos. Uma das filhas, mãe do entrevistado, fora prometida para se casar com um dos filhos do outro avô, sendo seus avós irmãos e seus pais primos, como de costume árabe. Então, seu pai veio do Líbano para o Brasil, em 1952, quando tinha 22 anos, em busca do seu casamento prometido. Desembarcou no Porto de Santos, onde trabalhou por 5 anos como mascate. Depois do casamento, mudou-se para Ponta Porã-MS, onde foi um importante comerciante e empreendedor. Na cidade, construiu o primeiro prédio, sendo que no térreo ficava a sua loja, a Casa Popular, aberta em 25/08/1969, há 50 anos localizada na Av. Marechal Floriano.
Dessa forma, percebe-se outro aspecto da economia étnica na conformação de redes sociais. Com tradição de casamentos arranjados, os negócios tendem a se concentrar sempre na mesma família. Ou seja, o valor cultural do grupo (a tradição de casamentos arranjados) influencia as atividades econômicas. Outrossim, a história de um conjunto de relações/conexões, ou seja, as redes sociais, é fundamental para explicar a presença de certos grupos em determinadas economias/sociedades.
A partir das entrevistas, também foi possível identificar que, nesse período (antes da inauguração da Casa Popular), já existiam libaneses e sírios presentes na fronteira, ou seja:
Aí ele veio para cá conheceu os outros patrícios conheceu o Aley Ale (Casa Ale), ele conheceu o seu Rafaat também era antigo aqui, conheceu o a família Georges que era seu Issa Jacob, o Iskandar Jacob Georges o Dr. Jorge Jacob e Ezzat Georges que eram representantes da Volkswagen aqui. E tinham outros patrícios também, tinha no Paraguai também, não é o meu pai o mais antigo aqui não, tinha outros, mas com relação de pessoas arrojadas eram essas pessoas na época, tanto é que a família Jacob foi grande propulsora do desenvolvimento de Ponta Porã, fomentavam muitos empregos e tinham variados tipos de negócios (ENTREVISTADO K, CONCEDIDA EM NOVEMBRO DE 2019).
Observa-se, a partir desses relatos, certo empreendedorismo dos árabes diante das oportunidades que iam surgindo nas áreas fronteiriças, uma vez que eram locais em vias de expansão, sobretudo do ponto de vista comercial. A busca por inserir “novidades” na região está diretamente vinculada a princípios culturais e históricos, assim como sua vocação comercial:
O comércio praticamente nasceu na região do Oriente Médio, e os árabes eles sempre foram ligados ao comercio e aqui não vai ser diferente, árabe ou descendente ou filho ou neto é a insistência porque o caminho certo para vencer na verdade, os maiores milionários do mundo são comerciantes e a nossa comunidade árabe ela na verdade é presente praticamente em todos os países do mundo pela garra, pela experiência, pela luta que fazem porque sabem que o comercio é que vence a cima de tudo, o comercio e que dá sustento a uma família, a um país, a um Estado, a uma cidade, onde que o comércio vem, como dizem sempre vem, no sangue dos árabes (ENTREVISTADO O, CONCEDIDA EM NOVEMBRO DE 2019).
Esse discurso naturaliza as habilidades (a propensão ao comércio) que são, na verdade, transmitidas geracionalmente pela educação, ou seja, pelos seus relacionamentos sociais. É preciso notar, também, que as redes sociais influenciam a vinda de imigrantes árabes para a região. As informações difundidas e oportunidade de emprego são fatores determinantes para o processo imigratório.
Um senhor de 82 anos, considerado um dos imigrantes mais antigos da fronteira, relata que a sua vinda ocorreu três anos após a chegada do seu irmão. A sua primeira ocupação profissional foi como mascate, na qual permaneceu durante anos. Em um determinado período, trabalhou também com seu irmão na loja; depois, comprou um caminhão para fazer frete e, quando finalmente juntou recursos, abriu sua loja comercial, a Casa Cliper. Segundo relata, foi um dos maiores empresários da época e um destacado comerciante da fronteira. Foi, por muitos anos, o presidente do Lions Clube e da Associação Comercial. Segundo seu testemunho, ficou responsável por trazer os parentes:
Sou imigrante, vim para o Brasil em 1955, mas antes disso veio meu tio, em 1850 foi para a Argentina, de Argentina ele mudou para Assunção, casou com uma mulher paraguaia em Assunção e foi mascatear a cavalo de Assunção a fora, chegou onde? Em Coronel Sapucaia, antigamente chamava Antônio João, antigamente no Mato grosso aí depois de Amambai hoje chama Capitan Bado né bom no final meu tio chegou até lá. Viemos os dois para o Brasil 1950 ou 1951 uma coisa assim, chegando no Brasil mandou carta para Argentina pedindo que falar com o tio dele, responderam para ele [...] seu tio trocou de nome, hoje chama nome Joao Martins mora numa cidade chamada Antônio João no Mato Grosso hoje Mato Grosso do Sul aqui né. Mandou carta para ele e ele respondeu chamou vem aqui, vem aqui... e no final veio meu irmão de mascatear em Barretos veio para esse Paranhos e chegou a Coronel Sapucaia Antônio Joao (antigamente) e conheceu ele , quando conheceu ele tinha 4 ou 5 filhas e achou bonita e casou com uma delas chama Adélia né eles tinham a Casa popular aqui aquele de três andar e casou com uma deles e começou a trabalhar , ai mandou carta para mim para vir para o Brasil , eu estava na Síria no Líbano na fronteira né como aqui em Paraguai o que que eu fiz falei vou , vou lá ver ai mostrei pro meu irmão e falou não você não vai não, vou mandar seu irmão e eu falei eu vou, de tanto insisti eu vim (ENTREVISTADO G, CONCEDIDA EM OUTUBRO DE 2019).
Conforme a Associação Árabe, a fronteira de Ponta Porã e Pedro Juan Caballero detêm a segunda maior colônia de sírios e libaneses do estado de Mato Grosso do Sul, na qual estão estabelecidas cerca de 200 famílias. Essa associação foi fundada em 22 de agosto de 1988, tendo por finalidade divulgar os costumes, tradição e cultura árabe e congregar as pessoas da comunidade árabe e seus descendentes, não excluindo as pessoas de outras nacionalidades, cultivando a mais ampla fraternidade entre os sócios. São sócios fundadores: Antônio Carlos Siufi Hindo, Duraid Yassimm, Gazi Feis Aidar, Charif Sayed Hassan, Iskandar Georges, Ahamad Mohamad Hazime e Aley Ale e ainda Rafaat Fares Toumani, Jamil Kamel Saad, Mohamad Zogaib e Alberto Afif, membros do conselho deliberativo.
Conforme o depoimento dado por um dos poucos árabes que atualmente ainda têm comércio do lado brasileiro da fronteira, os imigrantes árabes contribuíram para o crescimento da cidade de Ponta Porã:
Contribuímos com construção que foi feita pelos árabes, o comercio, o emprego que foi dado e o desenvolvimento da cidade que cresceu com os árabes, antigamente a Av. Marechal Floriano era praticamente a maioria dos comerciantes eram todos árabes, hoje é um pouco diferente porque as empresas grandes tomaram conta do mercado, os árabes antigos aqui, uma grande parte faleceu e os filhos estudaram e adquiriram outra coisa na área da medicina, na área da advocacia, na área de economia e na área agropecuária também (ENTREVISTADO O, CONCEDIDA EM NOVEMBRO DE 2019).6
Portanto, percebe-se, nessa comunidade, uma busca continuada por ascensão econômica e social. A maioria dos imigrantes investe nos estudos de seus filhos e as profissões liberais são as mais comuns entre os descendentes. Alguns tornaram-se, também, agricultores.
Ao contrário do que ocorreu no lado brasileiro da fronteira, no lado paraguaio, a maioria dos imigrantes árabes que vieram para Pedro Juan Caballero-PY já estavam estabelecidos na fronteira de Foz do Iguaçu-PR e Ciudad del Este-PY. Conforme Rabossi (2004), os imigrantes libaneses foram atraídos para a referida fronteira na década de 1950, visualizando as oportunidades que a construção da ponte da amizade proporcionaria. Eles vieram também por causa dos conflitos no Oriente Médio. Dessa forma, os libaneses foram um dos pioneiros na construção do comércio de Ciudade del Este:
No final dos anos 50 e considerando as possibilidades que a construção da ponte abriria, alguns comerciantes que haviam levado a produção industrial brasileira ao oeste do Paraná se localizaram em Foz do Iguaçu com a intenção de aproveitar um mercado virgem de produtos brasileiros: o Paraguai. Em sua maioria, eram imigrantes libaneses [...] a peculiaridade desta fronteira, no entanto, foi que as características da cidade vizinha permitiram que alguns deles também se instalasse do outro lado do limite, vendendo produtos importados para o comprador brasileiro. Junto a facilidade de estabelece-se e a presença de conhecidos, esse duplo atrativo comercial foi o que transformou essa fronteira no polo de atração de imigrantes do Líbano e de outros países de Oriente Médio depois que os conflitos naquela área se intensificaram. Assim tanto o desenvolvimento de comercio de Ciudade del Este quanto uma das características mais significativas do mesmo -a presença árabe- estão ligados a Foz do Iguaçu (RABOSSI, 2004, p.46, grifo nosso).
A partir dos anos de 1970, com o mercado turístico já consolidado e em vias de expansão, a cidade de Pedro Juan Caballero passou a receber imigrantes de países asiáticos, árabes e até mesmo do interior do Paraguai. Muitos desses vieram da Ciudade del Este. Com o passar dos anos, a migração passou a ser direta, ou seja, dos seus países de origem para a fronteira, gerando assim um novo fluxo migratório. Corroborando com esse aspecto:
A maioria dos árabes que estão aqui agora nesse momento eles se concentram em Pedro Juan Caballero, a facilidade de eles abrirem um comércio é mais fácil do que aqui no Brasil do lado de Ponta Porã e a facilidade de adquirir a mercadoria também e a facilidade de comercializar ela é menos burocrática do que o lado do Brasil (ENTREVISTADO O, CONCEDIDA EM NOVEMBRO DE 2019).
Em resumo, os primeiros árabes que vieram para a fronteira estabeleciam-se no lado brasileiro, em Ponta Porã-MS, mascateavam por anos até juntar capital para abrir suas lojas. Já em relação aos seus filhos, houve um incentivo dos imigrantes para que estudassem7, ocupando lugar de prestígio na sociedade fronteiriça. Existem, na sociedade fronteiriça, diversas fachadas de escritório de Advocacia, consultório médicos, odontológicos emque constam nomes/sobrenomes árabes, bem como nomes de ruas e bairros8.
O crescimento de Ponta Porã atraiu a instalação de empresas de rede nacional no setor de vestuário, calçados, de móveis, entre outros, integrando a cidade a uma nova dinâmica comercial. Somado a isso, a consolidação do mercado turístico em Pedro Juan Caballero, na década de 1980, fez com que os imigrantes árabes tivessem como novo destino a cidade de Pedro Juan Caballero.
5 Trajetória imigratória dos árabes para a fronteira e a teoria de redes sociais no processo imigratório
Em Pedro Juan Cabellero, Paraguai, os imigrantes árabes fazem parte das famílias pioneiras que fundaram as primeiras lojas na cidade. Eles chegaram a partir da década de 1970, vindos das suas terras de origem (Líbano e Síria) ou de outras regiões da América como, por exemplo, de Ciudad del Este, no Paraguai. Entretanto, mais especificamente na década de 1980, houve um fluxo maior de imigrantes libaneses, majoritariamente muçulmanos. A maioria são homens jovens e solteiros; alguns casam-se com brasileiras ou paraguaias, mas a grande maioria busca casamento dentro da própria comunidade.
Além das causas gerais (guerras e busca por melhores oportunidades econômicas), outro fator que impulsionou outras levas de imigrantes libaneses para a fronteira foi a conexão com os imigrantes pioneiros. Em outras palavras, havia toda uma rede de ajuda aos recém-chegados, que incluía informações difundidas por familiares, parentes, conterrâneos ou amigos, bem como propostas de trabalho, hospedagem, entre outras. Isso fica evidente no seguinte depoimento:
Na verdade, viemos de lá, fugindo de lá, da guerra, e como aqui tem parente, tem gente, tem libanês deve ser bom, por isso, tinha conhecidos já na fronteira, só comuniquei com eles eu vou me espera, aí eles esperam nós para conhecer o lugar, recebem nos nas casas deles nos primeiros dois dias, cinco dias uma semana, aí nos começa a se juntar, aluga uma casinha, apartamento, igual os estudantes fazem aqui. A gente chega com pouco de “dinerinho” já para começar, trabalhamos pegando mercadoria de Ciudad del Este e vem aqui e vende para as outras lojas, aí cada mês você cresce né, porque não paga aluguel nem funcionário, aí depois chega juntando “dinerinho” aí já abre loja, aí começa a ficar na loja (ENTREVISTADO A CONCEDIDA EM JUNHO DE 2019).
Ou ainda:
Eu vim direto do Líbano em 1998 no caso e meu tio já morava aqui e ele pediu para o meu pai se ele quisesse mandar um filho para cá para trabalhar e ajudar a família nos gastos, aqui é fronteira, tanto no Paraguai como Brasil têm facilidade maior para trabalhar para poder ganhar dinheiro e melhorar a vida, diferente do Líbano que tem mais dificuldade para poder fazer essas coisas, e aí a escolha foi eu, meu pai perguntou você quer ir? E eu falei vou né, tenho mais irmãos que moram lá e decidi vir aí vim direto para a fronteira Brasil- Paraguai Ciudade del Este né, de lá eu vim direto para cá e aqui fiquei, sempre fiquei aqui, trabalhei aqui e meu tio já conhecia um pouco o comercio (ENTREVISTADO H, CONCEDIDA EM NOVEMBRO DE 2019).
Portanto, o principal motivo relatado pelos imigrantes árabes para a manutenção do fluxo migratório para a fronteira continua sendo as oportunidades de trabalho. O comércio de Ciudad del Este está ligado ao de Guaíra e Pedro Juan Caballero, evidenciando uma conexão entre as áreas fronteiriças. Quando esse setor fica acirrado pela concorrência na Ciudad del Este, os comerciantes vão para outras cidades de fronteira, objetivando novos mercados. Pode-se dizer que esse foi o caso no início da formação de Pedro Juan Caballero e Guaíra. Atualmente, essas cidades se desenvolvem acompanhando Ciudade del Este.
Sendo assim, entende-se que o caráter multifacetado e integrador, proporcionado pelo cenário fronteiriço, oferece múltiplas possibilidades para diferentes grupos sociais. Isso é justamente o que a próxima seção busca evidenciar, abordando desde as razões que motivaram a expansão da imigração árabe até as diferentes formas de reprodução desses atores podem ter contribuído para o progresso de Ponta Porã e Pedro Juan Caballero.
Pode-se afirmar que as redes sociais são mecanismos essenciais que servem para facilitar o processo imigratório, produzem confiança através de suas relações entre imigrantes pioneiros e os recém-chegados. Todos os entrevistados afirmam sobre a facilidade de virem e receberem ajuda para moradia e trabalho.
A respeito do espaço ocupacional dos imigrantes árabes, tanto os primeiros fluxos quanto os mais recentes concentram-se na atividade comercial, no atacado ou no varejo, abrangendo desde pequenas lojas comerciais a empresários importadores, restaurantes árabes, shoppings e lojas menores nas bancas. Uma parte considerável desses empreendimentos são lojas familiares.
A teoria das redes sociais, juntamente com as oportunidades que a comércio da fronteira oferece, ajuda a entender a rápida ascensão econômica desses migrantes. E, mais, deve-se considerar, também, que no Líbano, muitos migrantes já tinham distintas profissões ou trabalhavam com prestações de serviços (como serralheiro e barbeiro, por exemplo) e em restaurantes e portos. Havia, ainda, militares e (comerciantes no setor do vestuário e tecidos e no comércio em geral). Evidentemente, era um tipo de comércio muito diferente do comércio de importados no Paraguai:
No meu país de origem era comerciante, comércio de tudo, mercado, comércio de roupa, saia vendendo de cidade para cidade, plantava, ah vendia fruta, tudo que você imagina, criava boi vendia leite, tudo mesmo, serviço de um chacareiro (ENTREVISTADO P, CONCEDIDA EM NOVEMBRO DE 2019).
Os depoimentos retratam, ainda, a vida sofrida que tinham antes de imigrarem para a fronteira:
Meu pai era ferreiro soldador de porta, tinha a vida muito dura. Levava o portão de ferro nas costas no sétimo andar coitado, era sofrido (ENTREVISTADO B, CONCEDIDA EM OUTUBRO DE 2019).
Na fronteira, a atividade de mascateação era a porta de entrada para os novos migrantes. Os pioneiros, já estabelecidos na fronteira, forneciam mercadorias a prazo para que os recém-chegados pudessem iniciar seus trabalhos. Era comum também buscar mercadorias em Ciudad del Este e abastecer as lojas dos patrícios de Pedro Juan Caballero. Os únicos que não trabalharam como mascates foram os libaneses com familiares que já tinham lojas instaladas na região, pois esse era o local de trabalho até esses migrantes conseguissem capital para abrir uma segunda unidade. Isso reforça os laços solidários da colônia:
Pega mercadoria vai andando nas lojas oferecendo e vendendo, todos nós éramos assim, a maioria, só quem tem tipo irmão assim e tem loja, aí vem ficar com o irmão na loja o resto tudo anda assim, e vai aprendendo o idioma também na rua, no comércio e vai escutando palavra daqui perguntando para os amigos o que significa e vai gravando (ENTREVISTADO E, CONCEDIDA EM OUTUBRO DE 2019).
A inserção ocupacional dos árabes para a fronteira sucedeu-se, majoritariamente, no ramo do comércio. Todos os entrevistados afirmam que receberam ajuda financeira para iniciar o trabalho. Além de informações difundidas de como funciona o comércio, eles já vinham para fronteira predestinados a trabalharem no setor de eletrônicos, seja, inicialmente, como mascates ou ajudando nas lojas. Em outras palavras, eles recebiam assistência de como administrarem seus negócios e outras informações que facilitavam o início dos trabalhos.
Especificamente:
Meu tio já estava aqui, já me ajudava porque já tinha seus créditos. Aí conquistei assim, consegui o crédito [...] as vezes alguém conhecia minha família também fui conseguindo crédito por aí e comecei a trabalhar, trabalhando aqui e pagando as contas e foi assim que cresceu o crédito e consegui fazer um capital, comecei a trabalhar com o próprio capital que eu tenho mesmo, mas também isso leva tempo. A gente também tem uma coisa boa, nos árabes tipo assim, se quando chega alguém novo aqui o povo tenta ajudar tenta fazer um crédito pequeno para ver né, como teste para a pessoa para ver se ele vai ser uma boa pessoa ou não porque muitos que vem também que não são assim não é [...] Como eu fui ajudado por uns patrícios meus, eu também devo fornecer para quem vem agora né porque quando eu vim muitos me ajudaram então agora se vem alguém eu tento ajudar de uma forma ou outra (ENTREVISTADO H, CONCEDIDA EM OUTUBRO DE 2019).
Desse modo, evidencia-se a cooperação existente entre os árabes, bem como o sentimento de retribuir a ajuda que tiveram de seus patrícios. Ou seja, a própria cooperação gera confiança, provocando círculos virtuosos de relações interpessoais, baseados no pressuposto de que haverá reciprocidade quando o outro requerer ajuda. Em resumo, há uma rede difundida por três fatores que colaboram para essa ascensão econômica: i) informações; ii) conhecimento e iii) confiança.
Diante disso, a prática da mobilização de empréstimos financeiros entre os grupos étnicos está relacionada aos aspectos culturais:
A maior parte dos recursos financeiros empregados na abertura de firmas entre grupos étnicos não resulta de empréstimos de fora, mas de economias mobilizadas pelo próprio dono, sua família, amigos e conterrâneos. Por sua vez, como tanto a capacidade de poupar como a de mobilizar redes são variáveis em última análise culturalmente determinadas entre diferentes grupos, alguns fornecem empresários com maior abundância que outros. De modo semelhante, é possível se perseguir o mesmo tipo de determinante, de fundo cultural, nas explicações que privilegiam desigualdades na disponibilidade não de capitais financeiros, mas de capital humano entre grupos (TRUZZI; SACOMANO NETO, 2007, p. 42).
Portanto, a ajuda inicial provinha de créditos que, geralmente, se materializava na forma de mercadorias ou de dinheiro (usado para comprar mercadorias). Somados a isso, uma particularidade a respeito da atividade da mascateação relaciona-se com o tipo de mercadoria vendida. Ressalta-se a opção por eletrônicos em geral para atender à demanda das lojas comerciais dos árabes que estão concentrados nesse setor. Esse tipo de ocupação profissional acabou possibilitando que muitos prosperassem, proporcionando, ainda, uma participação árabe crescente no comércio com a abertura de diversas lojas (todas no setor de eletrônicos, alguns restaurantes ou lojas que vendem arguiles). Nesse aspecto, admite-se a capacidade e expertise dos árabes em fazer negócios, comprar e vender (importar e exportar). Isso, evidentemente, tem efeitos sobre o desenvolvimento do comércio fronteiriço.
Os principais produtos comercializados pelos árabes são provenientes de Ciudad del Este. Alguns são importados da China, dos Estados Unidos, do Japão e de outras regiões do Brasil. Os produtos são de alto padrão tecnológico. Na fronteira é perceptível a concentração de determinados grupos étnicos em certos eixos/segmentos econômicos, ou seja, o comércio está etnicamente estratificado. Os árabes estão concentrados, majoritariamente, no setor de eletrônicos, lojas de arguiles e alguns restaurantes; os chineses predominam no setor de brinquedos (todos importados da China) e os coreanos estão concentrados no setor de vestuário (importados da Coreia). O relato a seguir mostra as diferenças entre os setores e produtos dos distintos grupos de imigrantes estabelecidos na fronteira:
Então nesse caso, o coreano ou chinês só pega coisas da China, coisa de lá, igual o coreano só pega roupa deles da Coréia né, e eles acham preço bom e os chineses pega da China só os brinquedos coisas pequenas, enquanto os árabes procuram coisas mais avançadas, coisas americanas, japonesas, brasileiras, coisas caras não é, por exemplo no chinês não acha coisa que passa quinze ou vinte reais, esses árabes pegam câmeras que custam três mil reais, quatro mil reais, os Dvds os monitores que custa milhares né, assim são coisas mais caras não é, eletrônicas avançadas, e você vê tem da China bons dos Estados Unidos, do Brasil também são coisas originais mesmo (ENTREVISTADO A CONCEDIDA EM JULHO DE 2019).
Admite-se, então, que os grupos de imigrantes chineses, coreanos e árabes concentram-se em segmentos econômicos específicos na sociedade receptora, monopolizando assim o ramo de brinquedos, vestuário e eletrônicos. O que está por trás dessa estratificação é a relação entre atividade econômica e os valores culturais. Em outras palavras, os valores culturais influenciam o que é consumido e, concomitantemente, o que é produzido. Portanto, o consumo de determinados produtos de um grupo étnico está associado também ao seu hábito cultural.
6 Considerações finais
Como foi possível observar, desde o início de seus processos imigratórios no Brasil e no Paraguai, mais especialmente em suas cidades fronteiriças, os árabes estiveram atuantes principalmente nas atividades de comércio. No decorrer dos anos, eles potencializaram suas atividades comerciais ao valorizarem o trabalho sob uma perspectiva de investimentos futuros. Ademais, constituíram e ampliaram uma rede comunitária, que serve de apoio e ajuda mútua.
Observa-se, também, a presença de uma habilidade transmitida entre gerações via redes sociais entre os imigrantes árabes. A valorização da prosperidade individual e familiar está diretamente vinculado a princípios culturais e históricos. Como foi possível observar, a medida que prosperavam no setor comercial, muitos imigrantes dedicaram-se ao comércio atacadista, ofertando mercadorias para os patrícios9 que iam chegando, gerando assim um círculo de relações.
Em outras palavras, a facilidade dos árabes em potencializar suas atividades comerciais está essencialmente relacionada com a sua própria cultura. Além disso, a valorização familiar e do trabalho cria um “tipo” de círculo virtuoso, pois o imigrante já estabelecido na fronteira acabava trazendo amigos e familiares. Nesse processo, o árabe “fronteiriço” repassava todos os aspectos e informações necessárias para a inserção desses atores no comércio local, o que acabava criando relações sociais dotadas de confiança.
Portanto, compreende-se que os povos árabes, em vista de todos os aspectos históricos e culturais, possuem um elevado nível de capital social, que é difundido pelas redes sociais pois a confiança, que é um dos elementos principais na construção de relações de cooperação e de organização social, ficou bem evidenciada. Todos esses aspectos tornam significativas as influências que a cultura árabe tem desempenhado na construção tanto do cotidiano citadino, como no crescimento em termos econômico da fronteira de Ponta Porã (BR) e Pedro Juan Caballero (PY).
A ajuda entre os imigrantes, relacionadas às oportunidades de trabalho, fluem através das suas redes sócias étnicas. Ocorrem, por exemplo, através de créditos ou mercadorias, pois a intenção é que cada imigrante que chegue à fronteira tenha seu próprio comércio. Identificamos três fatores, característicos do capital social, que colaboram para trajetória econômica individual: i) informações; ii) conhecimento e iii) confiança. Ou seja, essas redes de créditos contribuem para a fixação dos árabes na região de fronteira. Esses três fatores formam o capital social dos imigrantes árabes e depende da quantidade de relações na rede que ele consegue mover.
REFERÊNCIAS
ABRAMOVAY, R. O capital social dos territórios: repensando o desenvolvimento rural. Economia Aplicada, São Paulo, v. 4, n. abr./ju 2000, p. 379-397, 2000.
BANDUCCI JÚNIOR. Mercado popular na fronteira do Paraguai com o Brasil: parâmetros de legalidade e relações de alteridade. In: V Reunião Equatorial de Antropologia e XIV Reunião Mde Antropologia do Norte e Nordeste. Anais... [...]. Maceió, 2015.
BERTHOLI, Anderson. O lugar da pecuária na formação sócio-espacial sul-mato-grossense. 2006. 227 f. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento Regional e Urbano) – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2006.
BITTAR, M. Mato Grosso do Sul a construção de um estado: Regionalismo e divisionismo no sul de Mato Grosso. Campo Grande: Ed. UFMS, 2009.
BOISIER, S. Conversacionessociales y desarrollo regional: potenciacióndel capital sinergético y creación de sinergía cognitiva en una régio (Región Del Maule, Chile.. Talca: Universidad de Talca, 2000.
BOURDIEU, P. O poder simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1989.
CARLEIAL, A. N. Redes sociais entre imigrantes. Anais Encontro Nacional de Estudos Populacionais. Caxambu – MG: ABEP: 2004.
COLEMAN, J. S. Social Capital in the creation of human capital. The American Journal of Sociology, Vol. 94, Supplements: Organizations and institutions: Sociological and Economic Approaches to the Analysis of social structure, 1988. pp. S95-S120 Published by: The University of Chicago Press Stable URL: http://www.jstor.org/stable/2780243 Acesso em: 20/04/2019
CRUZ, E. P.; FALCÃO, R. P. de Q.; BARRETO, C. R. Estudo exploratório do empreendedorismo imigrante brasileiro em Pompano Beach e Orlando – EUA. Revista Gestão e Planejamento. Salvador, v. 18, p. 37-54, jan. /dez. 2017.
ESSELIN, P. M. A pecuária bovina no processo de ocupação e desenvolvimento econômico do pantanal sul-mato-grossense (1830-1910). Dourados: Editora da UFGD, 2011.
FIALHO, J. O Capital Social no Contexto da Teoria Sociológica Contemporânea. Revista Desenvolvimento e Sociedade, v. 1, n. 1, p. 69-82, 2016. Disponível em: Acesso em 27/09/2019.
FUSCO, W. Redes sociais na migração internacional: o caso de Governador Valadares. UNICAMP. Núcleo de Estudos de População, 2001.
GEERTZ, C. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1978.
HAESBAERT, R. O mito da desterritorialização e as “regiões-rede”. In: V Congresso Brasileiro de Geografia. Anais...[...], 1994. p. 206-214.
HIGGINS, S. S. Os Fundamentos Teóricos do Capital Social. Chapecó: Argos Ed. Universitária, 2005.
LAMBERTI, Eliana. Dinâmica comercial no território de fronteira: reexportação e territorialidade na conurbação Ponta Porã e Pedro Juan Caballero. 2006. Dissertação de Mestrado (Programa de pós-graduação em Geografia) – Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campo Grande, 2006.
LE BOURLEGAT, Cleonice Alexandre. Mato Grosso do Sul e Campo Grande: articulações espaço-temporais. 2000. 430 f. Tese (doutorado) - Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Ciências e Tecnologia, 2000.
MARTES, A. C. B.; DIMITRI, F. Solidarity and social networks: economic sociology of internacional migration and the Brazilian case. Max Planck Institute for the Study of Societes. 2010.
MISSIO, F. J.; RIVAS, R. M. R. Aspectos da formação econômica de Mato Grosso do Sul. Revista de Estudos Econômicos (USP), v. 49, p. 601-632, 2019.
PORTES, A. “Economic sociology and the sociology of immigration: A conceptual overview”. In: The economic sociology of immigration. Essays on networks, ethnicity and entrepreneurship. New York: Russel Sage foundation, 1995.
PORTES, A. Social Capital: Its origins and applications in modern sociology. Rev. Sociol., 24:1-24, 1998.
POWELL, W; SMITH-DOERR, L. “Networks and Economic Life”. In: SMELSER, N.: SWEDBERG, R. The Handbook of Economic Sociology, Russel Sage Fundation, 1994, p. 368-402.
PUTNAM, R. D. Comunidade e democracia: a experiência da itália moderna/ robert david. putnam, com robert leonardi e raffaella y. nanetti; tradução luiz alberto monjardim. – 5 ed. - Rio de Janeiro: Editora FGV, 2006.
PUTNAM, R. D. (1993b). "The Prosperous Community: Social Capital and Public Life", American Prospect, vol. 13, pp: 35-42.
QUEIROZ, P. R. C. Articulações Econômicas de Comunicação do antigo sul de Mato Grosso (séculos XIX e XX), In: LAMOSO, L. P. (Org.) Transportes e Políticas Públicas em Mato Grosso do Sul. 1. Ed. Dourados: Editora da UFGD, v. 1. 196p, 2008.
RIBEIRO, I. C. D.; FERNANDES, E. A.; RIBEIRO, H. M. D. A importância do capital social para o desenvolvimento de uma região. Revista Ruris, v. 6, n.1, março/2012, p. 15-41. Disponível em: ISSN: 1984-8781 - Código verificador: U6XYfemISn7P 16 Acesso em 27/09/2019.
RABOSSI, Fernando. Nas ruas de Ciudad del Este. 2004. 318f. Tese (Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social) - Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2004.
ROSA, M.; CASTELÃO, R. A. Os árabes em Corumbá: uma rede de cooperação. Albuquerque – Revista de História. vol. 6, n. 12. jul.-dez./2014, p. 70-86.
SANTOS, F. R. Redes sociales y mercado de trabajo. Elementos para una teoría del capital relacional. Madrid, CIS-Siglo veintiuno, 1991.
SANTOS, Camila Comerlato. Território Federal de Ponta Porã: o Brasil de Vargas e a “Marcha para o Oeste”. 2016. 172f. Dissertação (Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas) – Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2016.
SANTOS, M. Técnicas espaço tempo: globalização e meio técnico - científico –Informacional. São Paulo, maio de 1994.
STEINER, P. “Redes sociais e funcionamento dos mercados”. In: A Sociologia Econômica. São Paulo: Atlas, 2006, p. 76-107.
TORRECILHA, Maria Lucia. Gestão compartilhada como espaço de integração na fronteira Ponta Porã (Brasil) e Pedro Juan Caballero (Paraguai). 2013. Tese (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas) - Universidade de São Paulo, São Paulo, 2013.
TRUZZI, O. Patrícios: Sírios e Libaneses em São Paulo. São Paulo: Hucitec, 1997.
TRUZZI, O. Redes em processos migratórios. Tempo Social. USP, v. 20, n. 1, 2008.
VILELA, E. M. Sírios e libaneses: redes sociais, coesão e posição de status. Revista Brasileira em Ciências Sociais, vol.26, n.76, p.157-176, 2015.
WOOLCOCK, M. Social capital and economic development: toward a theoretical synthesis and policy framework. Theory and Society. v. 27, n. 2, p. 151-208, 1998.
Notas