Comunicação, Cultura e Desenvolvimento Regional
Espetacularização, Território e Acontecimento - o mapeamento de um processo de desenvolvimento humano através das redes sociais virtuais
Spectacularization, Territory and Events - the mapping of a human development process through social networks
Espectacularización, Territorio y evento: mapeo de un proceso de desarrollo humano a través de redes sociales virtuales
Espetacularização, Território e Acontecimento - o mapeamento de um processo de desenvolvimento humano através das redes sociais virtuais
Redes. Revista do Desenvolvimento Regional, vol. 26, 2021
Universidade de Santa Cruz do Sul
Recepción: 11 Junio 2020
Aprobación: 19 Abril 2021
Resumo: Com o surgimento da globalização tivemos acesso a novas liberdades, com isso novas oportunidades e possibilidades foram acessadas, transformando e reconfigurando as práticas sociais. A midiatização da vida privada ou a espetacularização da imagem através das redes virtuais é uma consequência deste processo. O artigo visa refletir sobre este processo, passando pela espetacularização, onde o indivíduo é atraído a este território midiatizado; o território em si, na tentativa de compreender as práticas sociais, as territorialidades envolvidas; assim como dos efeitos à reverberação de um acontecimento, que vai às redes e produz sentidos dentro e fora deste território virtual. Diante disso, este artigo faz uma costura teórica entre os seguintes conceitos: espetacularização, território e acontecimento, a fim de compreender como o indivíduo se desenvolve através das redes sociais. Este estudo se dá por meio da metodologia de teoria fundamentada, onde através dela, pretende-se fazer um ponto de chegada até Celso Furtado. Identifica que este desenvolvimento está inserido como um processo de alargamento de liberdades reais, dando voz ao indivíduo através das redes sociais virtuais, possibilitando que ele seja atuante nas suas relações sociais.
Palavras-chave: Espetáculo, Desenvolvimento, Redes Sociais, Território, Acontecimento.
Abstract: With the emergence of globalization, we had access to new freedoms, with which new opportunities and possibilities were accessed, transforming and reconfiguring social practices. The mediatization of private life or the spectacularization of the image through virtual networks is a consequence of this process. The article aims to reflect on this process, going through spectacularization, where the individual is attracted to this mediatized territory; the territory itself, in an attempt to understand social practices, the territorialities involved; as well as the effects to the reverberation of an event, which goes to the networks and produces meanings inside and outside this virtual territory. In view of this, this article makes a theoretical seam between the following concepts: spectacularization, territory and event, in order to understand how the individual develops through social networks. This study takes place through the methodology of grounded theory, where through it, it is intended to make a point of arrival until Celso Furtado. It identifies that this development is inserted as a process of extending real freedoms, giving the individual a voice through virtual social networks, enabling him to be active in his social relationships.
Keywords: Spectacularization, Development, Social Networks, Territory, Events.
Resumen: Con el surgimiento de la globalización, tuvimos acceso a nuevas libertades, con las que se accedió a nuevas oportunidades y posibilidades, transformando y reconfigurando las prácticas sociales. La mediatización de la vida privada o la espectacularización de la imagen a través de redes virtuales es una consecuencia de este proceso. El artículo pretende reflexionar sobre este proceso, pasando por la espectacularización, donde el individuo se siente atraído por este territorio mediatizado; el propio territorio, en un intento por comprender las prácticas sociales, las territorialidades involucradas; así como los efectos a la reverberación de un evento, que va a las redes y produce significados dentro y fuera de este territorio virtual. Ante esto, este artículo hace una costura teórica entre los siguientes conceptos: espectacularización, territorio y evento, con el fin de comprender cómo se desarrolla el individuo a través de las redes sociales. Este estudio se realiza a través de la metodología de la teoría fundamentada, donde a través de ella se pretende hacer un punto de llegada hasta Celso Furtado. Identifica que este desarrollo se inserta como un proceso de extensión de las libertades reales, dando voz al individuo a través de las redes sociales virtuales, permitiéndole ser activo en sus relaciones sociales.
Palabras clave: Espectacularización, Desarrollo, Redes Sociales, Territorio, Evento.
Introdução
Vivemos atrelados ainda em um processo de Colonização ou desenvolvimento? Ao interpretar estas novas formas de se fazer mercado, pensando na perspectiva do desenvolvimento e subdesenvolvimento de Celso Furtado, aliadas às novas formas de capturação de riquezas, cada vez mais sofisticadas, possibilitada pela modernidade líquida tecnológica, a resposta é afirmativa.
Onde lá atrás, na era das navegações, o principal objetivo era a exploração natural, hoje se vê, a capturação cultural. A colonização é um processo sofisticado, embora tenha feito parte da história, por estar enraizado, toma força através do advento das novas tecnologias e o surgimento da internet.
Desde a abertura da Internet, no final dos anos de 1990, a América Latina, assim como, em esfera global, sofreu transformações em suas práticas sociais, comunicacionais, políticas e econômicas. A globalização, que interligou e conectou o local com o global e o global com o local, nos possibilitou a liberdade de acesso à informação. Assim, os usuários, conectados, puderam usufruir de certas liberdades, alterando a sua forma de estar e atuar no mundo em sua volta. Para Amartya Sen (2000) o desenvolvimento pode ser encarado como um processo de alargamento das liberdades reais de que uma pessoa goza. E destaca que para haver desenvolvimento é necessário haver liberdade, pois ela é parte nuclear do desenvolvimento. Consoante a esta linha, segundo a FIB (Felicidade Interna Bruta) o verdadeiro desenvolvimento de uma sociedade humana surge quando o desenvolvimento espiritual e o desenvolvimento material são simultâneos, assim se complementando e reforçando mutuamente.
Com a criação das Redes Sociais, do tímido ClassMates até o boom do Facebook, a sociedade vem sofrendo mutações sofisticadas, quase que imperceptíveis aos olhos dos integrados com as novas tecnologias. Atualmente existem inúmeras Redes Sociais, dentre as principais estão: Myspace, Linkedin, Orkut, Facebook, Twitter, Pinterest, Google+ e Instagram. A maioria dos acessos às redes se dá através de um dispositivo interacional, chamado: celular. Este, passou a ser considerado um novo membro do corpo, alterando as posturas corporais diante das telas dos smartphones e tablets, deformando assim, o corpo. É cada vez mais comum os casos de "text neck", dores na cabeça ligadas a tensões na nuca e no pescoço causadas pelo tempo inclinado em uma posição indevida para visualizar a tela do aparato. Ocorre uma docilidade contida dos corpos, ou seja, o indivíduo é levado, feito metal ao ímã, pela espetacularização da imagem até as redes comunicacionais. Na era da informação, quem não quer participar do jogo das territorialidades sociais?
O artigo está dividido em três níveis. O primeiro nível aborda a questão do espetáculo - os espetáculos cotidianos recortados da vida virtual rotineira - que atrai às redes e introduz o indivíduo em meio as territorialidades virtuais, comprovando sua existência, e o faz pertencer ao jogo do mercado das aparências. O segundo nível apresenta o conceito de território – a territorialização cibernetificada “em realidade” -, a fim de compreender o sistema simbólico de poder contido neste espaço e toda a sua potencialidade. O terceiro nível resgata o conceito de acontecimento – um estudo de teoria fundamentada1, por meio do polêmico caso Patrícia Moreira e Aranha -, advindo do campo da Comunicação, com o propósito de compreender na prática os conceitos vistos nos níveis anteriores por meio de um acontecimento, envolvendo vários campos sociais em disputa.
1 A Espetacularização
A ordem nas redes sociais é a espetacularização, a popularidade e o statussocial, que são contabilizados através da quantidade de “curtidas”, e até mesmo o compartilhamento de uma foto, um vídeo postado, uma notícia, ou, a quantidade de amigos que determinado perfil possui. Segundo Debord (1997, p. 13), a especialização das imagens do mundo se realiza no mundo da imagem automatizada, no qual o mentiroso mentiu para si mesmo.
Nesse sentido, importa destacar que, devido à preocupação com o espetáculo, fotografias são editadas, retirando imperfeições (como uma maquiagem virtual) e não revelando exatamente como é você (mascarando o real).
O que importa no show é impressionar. O espetáculo, em geral, como inversão concreta da vida, é o movimento autônomo do “não vivo”. Nos tempos atuais, mais do que nunca, na história do capitalismo, a “sociedade do espetáculo” (na famosa expressão cunhada por Guy Debord) para Haesbaert (2014, p.67) instituiu o amálgama, também no interior da “funcionalidade” capitalista, dos processos culturais de identificação e (re)criação de identidades.
Uma foto tirada do celular vai parar no perfil da internet de modo a ser vista e comentada. Este é um exemplo da espetacularização nas redes sociais: todos os dias milhares de pessoas abastecem a rede com informações, como agentes de notícias, divulgando esses dados que podem ser curtidos, ou seja, aprovados, comentados e compartilhados 24 horas por dia. À luz dessas questões, com referência especial à Lévy (1996, p.28), as pessoas que veem o mesmo programa de televisão, por exemplo, compartilham o mesmo grande olho coletivo. Segundo Sahlins (1997, p. 48) “o olho é o órgão da tradição”.
Graças às máquinas fotográficas, às câmeras e aos gravadores, é possível perceber as sensações de outra pessoa, em outro momento e lugar. Os sistemas ditos de realidade virtual permitem ao indivíduo experimentar, além disso, é uma integração dinâmica de diferentes modalidades perceptivas, podendo quase reviver a experiência sensorial completa de outra pessoa. Nesta corrente, Debord (1997, p.14) afirma que o espetáculo não é um conjunto de imagens, mas uma relação social entre pessoas, mediada por imagens.
Uma comunidade virtual pode, por exemplo, organizar-se sobre uma base de afinidade por intermédio de sistemas de comunicação telemáticos. Seus membros estão reunidos pelos mesmos núcleos de interesses, pelos mesmos problemas: a geografia, contingente, não é mais nem um ponto de partida, nem uma coerção. Apesar de ‘não presente’, essa comunidade está repleta de paixões e de projetos, de conflitos e de amizades. Ela vive sem lugar de referência estável: em toda parte onde se encontram seus membros móveis… ou em parte alguma. A virtualização reinventa uma cultura nômade, não por uma volta ao paleolítico nem às antigas civilizações de pastores, mas fazendo surgir um meio de interações sociais onde as relações se reconfiguram com um mínimo de inércia (LÉVY, 1996, p. 20-21).
Nessa perspectiva, é possível indicar que o feed de notícias do Facebook, por exemplo, permite que os usuários vivenciem os momentos do outro, permitindo experimentar, de uma forma virtual e mantendo uma integração dinâmica e interativa.
Segundo entrevista realizada em 2009 pelo Instituto Humanitas Unisinos (IHU), com a pesquisadora Paula Sibilia2, as redes sociais, como Facebook, Twitter . MySpace, na opinião da professora do Departamento de Estudos Culturais e Mídia da Universidade Federal Fluminense (UFF), “são compatíveis com as habilidades que o mundo contemporâneo solicita de todos nós com crescente insistência”. Segundo ela, essas ferramentas servem para dois propósitos fundamentais: “Em primeiro lugar, elas ajudam a construir o próprio ‘eu’, ou seja, servem para que cada usuário se autoconstrua na visibilidade das telas. Além disso, são instrumentos úteis para que cada um possa se relacionar com os outros, usando os mesmos recursos audiovisuais e interativos”.
Neste contexto, para Lemos (2007, p. 257), a cibercultura é fruto de novas formas de relação social. (...) vemos, assim, a expressão de uma estética social com a efervescência das relações no ciberespaço.chats, fóruns, listas, comunidades virtuais, etc.), onde o internauta/consumidor vai inventar o ciberespaço.
A realidade virtual é, atualmente, o último passo para a imersão total. Através de um capacete estereoscópico, luvas ou roupas de dados (data suit) podemos nos mover, escutar e tocar um mundo simulado em imagens digitais, atualizadas em tempo real por computadores. Aqui atualizamos o desejo, presente no imaginário social, de construir novos mundos. A era industrial já havia feito isto sobre a natureza. Agora, com a natureza já dominada, partimos em direção à construção de mundos simulados. Hoje, com o desenvolvimento da realidade virtual, a evolução do diálogo homem-computador vai levar a interatividade a um nível onde as fronteiras parecem ser cada vez menos nítidas (LEMOS, 2007, p. 157).
Para a pesquisadora Paula Sibilia (2009), houve mudanças no comportamento: “mudaram as premissas a partir das quais edificamos o eu”. Na atual sociedade do espetáculo, contínua, “se quisermos ‘ser alguém’, temos que exibir permanentemente aquilo que supostamente somos”. Ressalta que esses são os valores que têm se desenvolvido intensamente nos últimos tempos, uma época na qual, por diversos motivos, se enfraqueceram as nossas crenças em tudo aquilo que não se vê, em tudo aquilo que permanece oculto.
No tocante a este ponto, Debord (1997, p. 13) diz que toda a vida das sociedades nas quais reinam as modernas condições de produção se apresenta como uma imensa acumulação de espetáculos; tudo o que era vivido diretamente tornou-se uma representação. Para Sibilia (2009), as redes sociais têm a capacidade de estimular o indivíduo a desenvolver a espetacularização da personalidade. Respalda: [...] tornarmo-nos visíveis, fazer do próprio “eu” um show.
Segundo a pesquisadora entrevistada, este fenômeno responde a uma série de transformações que têm ocorrido nas últimas décadas e que envolvem um conjunto extremamente complexo de fatores econômicos, políticos e socioculturais que converteram o mundo em um cenário onde todos devem se mostrar. Nos últimos anos, portanto, tem cristalizado uma série de transformações profundas nas crenças e valores nos quais os modos de vida se baseiam, e a “espetacularização do eu” faz parte dessa trama. Debord acredita que o espetáculo é a ideologia por excelência, porque expõe e manifesta, em sua plenitude, a essência de todo o sistema ideológico: o empobrecimento, a sujeição e a negação da vida real (DEBORD, 1997, p. 138).
Reside num novo coletivismo no qual, ‘muitos’ observam-se entre si e em que cada um observa ‘o outro’. A visibilidade de horizontal é criada assim como a visibilidade vertical é intensificada. [...] Ao invés de um único inspetor onisciente, este Panóptico conta com a custódia compartilhada dos dados que refletem mutuamente o comportamento representado (ZUBOFF,1988, p. 351).
Segundo Sibilia (2009), na atual “sociedade do espetáculo”, é somente o que se vê. Então, conclui: Portanto, se algo (ou alguém) não se expõe nas telas globais, se não está à vista de todos — sob os flashes dos paparazziou, pelo menos, sob a lente de uma modesta webcam caseira —, então nada garante que realmente exista. Nessa corrente, Castells (1999) enfatiza a necessidade lógica de estar-em-rede: para não sucumbir é preciso estar nas redes. Fora delas não há salvação.
Em uma sociedade tão espetacularizada como a nossa, a imagem que projeta o “eu” é o capital mais valioso que cada sujeito possui. Mas é preciso ter a habilidade necessária para administrar esse tesouro, como se fosse uma marca capaz de se destacar no competitivo mercado atual das aparências.
A fim de espetacularização, a imagem de si é o seu produto, ou seja, todos testam o seu melhor ângulo, transmitindo sua face na rede, disponibilizando-a no espetáculo social da rede virtual. Segundo Lévy (1996, p. 15), a palavra “virtual” é empregada com frequência para significar a pura e simples ausência de existência, a “realidade”, supondo uma efetuação material, uma presença tangível. [...] a palavra virtual vem do latim medieval virtualis, derivado, por sua vez, de virtus, força, potência.
A virtualização não é uma desrealização (a transformação de uma realidade num conjunto de possíveis), mas uma mutação de identidade, um deslocamento do centro de gravidade ontológico do objeto considerado: em vez de se definir principalmente por sua atualidade (uma “solução”), a entidade passa a encontrar sua consistência essencial num campo problemático (LÉVY, 1996, p. 19).
Segundo Lévy (1996, p. 24), a virtualização nos traz outro caráter: diz que é frequentemente associado à virtualização (a passagem do interior ao exterior e do exterior ao interior), estreitando o público e o privado. Em forma de espetáculo, passa-se a transferir o real para o virtual e o virtual para o real. E revela que subjazem, nesta relação circular, movimentos de adaptação e/ou de resistência diante das lógicas globalizantes e homogeneizadoras das dinâmicas do espaço-temporal e social atuais.
Informação, colonização e mercado
A consolidação da “compressão do tempo-espaço [...]” proposta pelo geógrafo inglês David Harvey, traduzida como ‘globalização’ na sua obra “Condição pós-moderna” (1992), em que no acelerar do tempo produtivo e do consumo – a acumulação flexível -, nascem, também, novos valores e virtudes embalados pela instantaneidade, fazendo surgir uma “[...] sociedade de descarte [...]” (p. 258), é um contexto que localmente incorpora a troca global de mercadoria e novos padrões culturais como o que ocorre no “[...] tempo e o espaço no cinema pós-moderno [...]” (p. 276). O sociólogo espanhol Manuel Castells em sua obra “A era da informação: economia, sociedade e cultura. Volume 1 - A sociedade em rede” (1999), corrobora com este entendimento, aportando que as novas formas organizacionais e tecnológicas são as premissas para as várias transformações sociopolíticas desta era - a espetacularização das relações sociais, potencializadas numa era das redes digitais.
A globalização segundo Milton Santos (2000) é um sistema cultural que homogeneíza, que afirma o mesmo a partir da introdução de identidades culturais diversas que se sobrepõem aos indivíduos. Ela possibilitou a aproximação entre diversas sociedades e nações, tanto no âmbito econômico, social, cultural ou político. Com isso, possibilitou a integração com mercados, permitindo através da conexão entre pontos distintos do planeta, o compartilhamento e a troca de informações. Surge, então, o termo Aldeia Global, cunhado pelo filósofo canadense Herbert Marshall McLuhan. A expressão foi popularizada em suas obras “A Galáxia de Gutenberg” (1962) e, posteriormente, em “Os Meios de Comunicação como Extensão do Homem” (1964), onde a ideia é de um mundo globalizado onde tudo está interligado. O mundo globalizado é construído por um conjunto de redes, seja de informações, transportes, de comércio etc. Todos esses aspectos passam a estar interligados, gerando uma maior interação espaço-temporal entre as nações.
Sendo a cultura um conjunto de elementos interdependentes, toda vez que em determinadas condições históricas avança a tecnologia e se desenvolvem as bases materiais, todos os demais elementos serão chamados a ajustar-se às novas condições, ajustamentos estes que darão origem a uma série de novos processos, com repercussões inclusive sobre a base material (FURTADO, 1964, p. 19).
A globalização da informação, possibilitada pelo desenvolvimento de novas tecnologias de informação, aliada com o advento da internet, possibilitou o intercâmbio da informação. Logo em seguida, com o surgimento das redes sociais online, as pessoas de forma instantânea trocam informações, em qualquer parte do mundo, através da rede. A globalização possibilitou a quebra de barreiras e o surgimento de novos mercados. Mas a globalização não é algo criado pela Revolução Industrial (século XVIII), ela faz parte sim deste momento histórico, mas nasce lá atrás, na era das grandes navegações do século XV, onde a Espanha e Portugal eram as potências mundiais. Eles percorriam o mundo em busca de novas terras e riquezas, colonizando territórios. Mas será que apesar da colonização ter ficado para trás, mesmo com a independência dos países, ainda não somos colonizados de certa forma por meio da tecnologia?
Se pensarmos pela liberdade de expressão, a resposta seria não, mas refletindo melhor sobre a problemática, podemos dizer que sim, já que ao assinarmos um contrato para estarmos dentro do território das redes sociais, por exemplo, permitimos a coleta de informações, de nossos dados, em troca dessa tal liberdade vigiada que nos submetemos. Ou seja, a colonização tecnológica captura nossas riquezas e as transformam em mercado, ou mercadorias.
Consoante, Furtado (2000), observa que a tecnologia elaborada no centro do sistema mundial carrega consigo o resultado de um processo particular, onde influem de forma incisiva os elementos da cultura não material. Os bens produzidos em determinado sistema nacional, possuem em sua genética os valores culturais moldados pelas classes hegemônicas dentro deste Estado Nacional específico, em virtude do interesse comum consolidado e da identidade nacional estabelecida.
Os colonizadores, segundo Quijano (2005, p. 121) exerceram diversas operações que dão conta das condições que levaram à configuração de um novo universo de relações intersubjetivas de dominação entre a Europa e o europeu e as demais regiões e populações do mundo, às quais estavam sendo atribuídas, no mesmo processo, novas identidades geoculturais. De acordo com Quijano (2005, p. 121) como parte do novo padrão de poder mundial, a Europa também concentrou sob sua hegemonia o controle de todas as formas de controle da subjetividade, da cultura, e em especial do conhecimento, da produção do conhecimento.
Apesar de estarmos em territórios independentes, por conta da raiz histórica da colonialidade, o eurocentrismo ainda se faz presente e a colonização se dá pelas perspectivas cognitivas nos modos de produzir ou outorgar sentido aos resultados da experiência material ou intersubjetiva, no imaginário, no universo de relações intersubjetivas do mundo, em suma, na cultura (STOCKING Jr, 1968; YOUNG, 1995; QUIJANO, 1992a; 1992c; 1997; GRUZINSKI, 1988). Autorizados a olhar o mundo global visto do lá de cá, imortalizado pelas lentes do cineasta Sílvio Tendler (2001), ‘do lado de cá’ passa a fazer mais sentido quando analisado pela expressão “globaritarismo’, referida por Milton Santos, imposta pelo poder regionalizado em territórios rizomatizados, assim denominados pelos filósofos franceses Gilles Deleuze e Félix Guattari (2004), onde as culturas individuais desaparecem.
2 Território
Ter-ri-tó-ri-o, de radical “terr” tem o sentido de terra, sua vogal temática “.”, tem a função de ligar o radical às desinências, constituindo o tema. E o seu sufixo “tório” vem do Latim torium e indica em geral um local ou objeto apropriado para a atividade designada na ação. Quando pensamos em território, logo nos remetemos à ideia de um lugar fechado, delimitado por fronteiras, espaços fixos de propriedade de alguém, de poder simbólico do outro. Porém, o conceito e os estudos acerca do território vão muito além desta primeira definição, que advém do senso comum, arriscamos afirmar. Devemos pensar território como circuitos abertos ao invés de fechados, para aí sim, compreender a sua total complexidade.
O território que se quer discutir aqui, e o que nos interessa, é o território cibermidiatizado, que é o atual território das redes sociais online. Este território é fruto da globalização e do surgimento das novas tecnologias, onde nestes espaços virtuais de realidade é possível estar em multiterritórios ao mesmo tempo, é onde os territórios se cruzam, se confrontam, se ressignificam. De acordo com Porto-Gonçalves (2001) num mesmo território há, sempre, múltiplas territorialidades. O território, segundo ele (2001) tende a naturalizar as relações sociais e de poder, pois se torna abrigo, lugar onde cada qual se sente em casa, mesmo que numa sociedade dividida.
No entendimento de Rogério Haesbaert, território condiz a uma dimensão espacial que indica processos de dominação material. É também um espaço apropriado em termos imateriais na produção de identidade, subjetividade e simbolismos. Vai da dominação político-econômica mais concreta e funcional à apropriação mais subjetiva e/ou cultural-simbólica (HAESBAERT, 2004). Haesbaert (1997, 2004) busca dar à territorialização um espaço que se formaliza no próprio processo de produção desse espaço, tanto no aspecto material como simbólico.
Território é definido segundo Haesbaert (2004) tanto como “espaço vivido, quanto a um sistema percebido no seio da qual um sujeito se sente em casa. O território é sinônimo de apropriação, de subjetivação fechada sobre si mesma. Ele é o conjunto de projetos e representações (...)” (GUATTARI; ROLNIK, 1986, p. 323).
De acordo com Fuini (2017, p. 24) o território como produto agenciado se revela por um processo de territorialização que se identifica com um campo de interioridade, com um sistema semiótico de signos, componentes discursivos e coletivos de enunciação, enquanto a desterritorialização seria uma linha de fuga, forças e funções desestratificadas, sem expressão distintiva.
Portanto, desterritorializar-se é tomar uma linha de fuga, sair do curso e dissolver, atravessando os estados de ordenamento mental e material. E a reterritorialização seria ir ao encontro. A desterritorialização contemporânea aparece, na perspectiva de um conjunto discursivo, com os territórios-rede e os aglomerados de exclusão. Segundo Haesbaert (1995, 2004) os territórios-rede se configuram como descontínuos, dinâmicos, móveis e suscetíveis a sobreposições e a lógica do desenraizamento sobrepõe os territórios-zona, mais tradicionais e associados à continuidade/contiguidade espacial de área, com fronteiras demarcadas e grupos enraizados.
Fica evidente que as redes podem atuar no sentido de territorialização, quando voltadas mais para a articulação interna do território (tornando-se seu elemento), quanto da desterritorialização, quando seus fluxos desestruturam territórios/fronteiras anteriormente estabelecidos (e territórios “locais” podem se transformar em elementos ou nós de redes) (HAESBAERT, 1995, p, 199).
O poder gerado no fluxo território – redes - seus nós, chamamos de poder simbólico ou território simbólico. Redes, segundo Beck (1998) são instrumentos para a economia capitalista baseada na inovação, globalização e concentração descentralizada”. É onde queríamos chegar. Este espaço, segundo Haesbaert (2004) emana poder, seja sócio, político, econômico ou até mesmo através da espetacularização da imagem do indivíduo nas redes em circulação. Dito isto, vale ressaltar que a proposta é analisar o conceito de Território sobre o olhar da Geografia Crítica e o que nos interessa é compreender as relações de poder que se estabelecem nas redes.
Segundo Marcelo Lopes de Souza, preocupado com a espacialidade dos movimentos e dos conflitos sociais, suas identidades, agendas e formas de resistência, (1995, p. 78-79) o que define o território é o poder e que é o território um espaço definido e delimitado por e a partir de relações de poder. Rogério Haesbaert, Geógrafo, focado nos conceitos de território e região (2004, p. 79) diz que o território pode ser concebido a partir da imbricação de múltiplas relações de poder, do poder mais material das relações econômicas-políticas ao poder mais simbólico das relações estritamente cultural.
Haesbaert atenta para um território complexo e chama-o de território simbólico, irrigado de conflitos e ressignificações. Segundo o autor (2014, p. 67) o “território simbólico” invade e refaz as “funções”, num caráter complexo e indissociável em relação à funcionalidade dos territórios, ou seja, a dominação lefebvreana torna-se, mais do que nunca, também simbólica - um simbólico, porém, que não advém do espaço vivido da maioria, mas da reconstrução identitária em função dos interesses dos grupos hegemônicos.
Adentrando no território simbólico de Haesbaert, não podemos deixar de falar de uma forma estruturante deste território que é a arquitetura panóptica presente nas redes sociais cibermidiatizadas. Cabe aqui, compreender um pouco desta estrutura de vigilância midiatizada, que atua sobre a estrutura e sobre o comportamento do indivíduo em meio ao jogo ou mercado das aparências virtuais reais.
In território, panóptico como máquina de fazer experiências
A vida do indivíduo, atualmente e em algumas circunstâncias, é bisbilhotada e “escarafunchada” a cada passo. Ele não tem como fugir da vigilância indesejada. Um exemplo comum é a mensagem, geralmente enganosa, encontrada em ambientes públicos, principalmente onde há comércio: “sorria, você está sendo filmado”. Provavelmente, o leitor, se sente protegido; em contrapartida, perderá sua espontaneidade, cuidará melhor de suas atitudes, atentará à imagem que está transmitindo e irá se preocupar com a aparência pelo fato de “alguém” estar o espionando.
Com base em Foucault (2008, p. 168), “o panóptico pode ser utilizado como máquina de fazer experiências, modificar o comportamento, treinar ou retreinar os indivíduos. Experimentar remédios e verificar seus efeitos. Tentar diversas punições sobre os prisioneiros, segundo seus crimes e temperamento, e procurar as mais eficazes. Ensinar simultaneamente diversas técnicas aos operários, estabelecer qual é a melhor”. Para o autor, o panóptico é uma forma de adestramento, no qual ele cita um pensamento de Helvétius que diz: “qualquer pessoa pode aprender qualquer coisa”. Foucault exemplifica sua aplicação:
Criar diversas crianças em diversos sistemas de pensamento, fazer alguns acreditarem que dois e dois não são quatro e que a lua é um queijo, depois juntá-los todos quando tivessem vinte ou vinte cinco anos; haveria então discussões que valeriam bem os sermões ou as conferências para as quais se gasta tanto dinheiro; haveria pelo menos ocasião de fazer descobertas no campo da metafísica (FOUCAULT, 2008, p. 168).
Para ele, o panóptico é um local privilegiado para tornar possível a experiência com os indivíduos e para analisar, com toda certeza, as transformações que se pode obter neles (FOUCAULT, 2008, p. 169). Percebe-se que o panóptico pode até se constituir em aparelho de controle sobre seus próprios mecanismos. Conforme Foucault (2008, p. 169), [...] a partir da torre de controle, o diretor pode espionar todos os empregados que têm a seu serviço. Acrescenta ainda que poderá julgá-los continuamente, modificar seu comportamento, impor-lhes métodos que considerar melhores e, ele mesmo, por sua vez, poderá ser facilmente observado.
O autor (2008, p. 169) classifica o panóptico como um laboratório de poder. Segundo ele, graças aos seus mecanismos de observação que se ganha em eficácia e capacidade de penetração no comportamento dos indivíduos, ou seja, um aumento de saber vem se implantar em todas as frentes do poder, descobrindo objetos que devem ser conhecidos em todas as superfícies onde esse seja exercido. Conforme Foucault (2008, p. 171):
O Panóptico tem um papel de amplificação; se organiza o poder, nem pela salvação imediata de uma sociedade ameaçada: o que importa é tornar mais forte as forças sociais – aumentar a produção, desenvolver a economia, espalhar a instrução, elevar o nível da moral pública; fazer crescer e multiplicar.
O panoptismo nada mais é que um controle interno onde o indivíduo se autocensura e, com isso, mantém o funcionamento automático do poder.
O efeito mais importante do Panóptico: induzir no detento um estado consciente e permanente de visibilidade que assegura o funcionamento automático do poder. Fazer com que a vigilância seja permanente em seus efeitos, mesmo se é descontínua em sua ação; que a perfeição do poder tenda a tornar inútil a atualidade de seu exercício; que esse aparelho arquitetural seja uma máquina de criar e sustentar uma relação de poder independente daquele que o exerce, enfim, que os detentos se encontrem presos numa situação de poder de que eles mesmos são os portadores (FOUCAULT, 2008, p. 166).
Foucault (2008, p. 167) afirma que foi por isso que Bentham colocou o princípio de que o poder deveria ser visível e inverificável. No visível, o detento terá diante dos olhos a alta silhueta da torre central de onde é espionado; no inverificável, o detento nunca deve saber se está sendo observado, mas ter a certeza de que sempre pode sê-lo, exemplifica o autor. Observa-se, neste mesmo sentido, segundo Bentham, que o Panóptico é uma máquina de dissociar o par “ver- se visto”: no anel periférico se é totalmente visto sem nunca ver; na torre central, se vê tudo sem ser visto (FOUCAULT, 2008, p. 167).
Para o autor (2008, p. 67), “uma sujeição real nasce mecanicamente de uma relação fictícia”, pois vê e não se tem a certeza de que está sendo visto, causa um imaginário, algo fictício, uma relação que talvez não haja. Uma comunicação que apenas é uma informação. [...] De modo que não é necessário recorrer à força para obrigar o condenado ao bom comportamento, o louco à calma, o operário ao trabalho, o escolar à aplicação, o doente à observância das receitas. Bentham se maravilha de que as instituições panópticas pudessem ser tão leves: fim das correntes, fim das fechaduras pesadas; basta que as separações sejam nítidas e as aberturas bem distribuídas. O peso das velhas “casas de segurança”, com sua arquitetura de fortaleza, é substituído pela geometria simples e econômica de uma “casa de certeza”.
Nas sociedades ditas de controle ou, para nós, “de segurança” (e, para outros, num outro sentido, pós-modernas), consoante Haesbaert (2014, p.68), vigora a contenção da mobilidade, dos fluxos (redes) e, consequentemente, das conexões.
O território segundo o autor (2014, p.68) passa, gradativamente, de um território mais zonal ou de controle de áreas (lógica típica do Estado-nação) para um território-rede ou de controle de redes (típico da grande lógica empresarial capitalista). Aí, o movimento ou a mobilidade (e seu controle) passa a ser um elemento fundamental na construção do território.
Haesbaert (2014, p.68) aponta cinco grandes “fins” ou objetivos da territorialização, que podem ser acumulados e/ou distintamente valorizados ao longo do tempo e, um deles, o último ponto, ou último nível da territorialização averiguado pelo autor no início dos anos 2000 é o controle e/ou direcionamento da circulação, de fluxos, através de conexões e redes (principalmente fluxos de pessoas, mercadorias e informações).
Estamos em meio a múltiplos territórios, a modernidade se tornou líquida, segundo (Bauman, 2013), estamos frente a uma vigilância líquida. O indivíduo que percebe a presença da vigilância, seja ela através dos usuários da rede (o olhar do outro) ou da sútil captação de suas informações, adota um comportamento restritivo de sua liberdade. O usuário que possui ou desenvolve esta inteligibilidade, estabelece uma conduta de autocensura em muitos momentos, seja em uma simples publicação ou até mesmo em uma marcação de curtir.
Segundo Bauman (2013, p.58), o pan-óptico está vivo e bem de saúde, na verdade, armado de músculos (eletronicamente reforçados, “ciborguizados”) tão poderosos que Bentham, ou mesmo Foucault, não conseguiria nem tentaria imaginá-lo; mas ele claramente deixou de ser o padrão ou a estratégia universal de dominação na qual esses dois autores acreditavam em suas respectivas épocas. O panóptico, segundo Castro (2013, p. 5) não é uma prisão em si. É um mecanismo, um princípio geral de construção, dispositivo de vigilância, máquina óptica universal das concepções humanas.
De acordo com Haesbaert, (2014, p. 69) mais do que suas formas, entretanto, importa o tipo de poder e os sujeitos neles envolvidos.
O capitalismo se funda, geograficamente e a partir de uma perspectiva hegemônica, sob dois grandes padrões territoriais – um mais típico da lógica estatal tradicional, preocupada com o controle de fluxos pelo controle de áreas, quase sempre contínuas e de fronteiras claramente definidas; outro mais relacionado à lógica empresarial, também controlada pelos fluxos, porém prioritariamente através de sua ‘canalização’ em dutos e nódulos de conexão, ou seja, as redes, de alcance, em última instância, global (HAESBAERT, 2014, p. 69).
De acordo com Haesbaert (2014, p. 70-71) as organizações em rede, como sabemos, nunca preenchem o espaço social em seu conjunto, inserindo-se assim, de alguma forma, dentro de dinâmicas sociais excludentes. A defesa de um “espaço de todos” (ou o “espaço banal” de François Perroux relido por Milton Santos), de um território efetivamente a serviço de processos crescentes de democratização, não pode se restringir apenas à modalidade de territórios-rede.
Se o território é moldado dentro de relações de poder, segundo o autor (2014), o controle de uma área pelo controle da sua acessibilidade depende do tipo e dos sujeitos que o promovem, adquire os mais diversos níveis de intensidade. Pensando nestes níveis de intensidade que o território possui, Haesbaert (2014) identifica “múltiplas territorializações”, são elas: as territorializações de caráter mais desterritorializantes; territorializações “uniterritoriais”; territorializações político-funcionais mais tradicionais; territorializações mais flexíveis, que adquirem a sobreposição territorial e; as territorializações múltiplas. (Haesbaert, 2014, p. 72)
Essa última, Haesbaert (2014, p. 73) trata-se de uma multerritorialidade, constituída por grupos que se territorializam na conexão flexível de territórios-rede multifuncionais, multigestionários e multi-identitários, como no caso de alguns grupos pertencentes a diásporas de migrantes, ou até mesmo qualquer indivíduo que acessa a rede através de seu dispositivo e se depara com as territorialidades múltiplas na internet, no mundo dos aplicativos e nas redes sociais.
Podemos chamar estas territorialidades de territórios plurais, estes, consoante Zambrano (2001, p. 18) “são uma multiplicidade de espaços diversos, culturais, sociais e políticos, com conteúdo jurisdicionais em tensão, que produzem formas particulares de identidade territorial”. De acordo com o autor (2001, p. 29-30), a pluralidade de territórios indica sua multiplicidade, ou seja, trata-se de um território plural, como reunião de vários territórios e territorialidades em jogo. Barel (1986, p. 135) conclui que o indivíduo, por exemplo, vive ao mesmo tempo ao seu “nível”, ao nível de sua família, de um grupo, de uma nação. Existe, portanto, multipertencimento territorial.
Se pensarmos o conceito de território como estado físico da matéria, ele seria líquido, pois permeia e se infiltra em várias camadas e campos distintos, e as relações sociais seriam um magma de significações imaginárias (Castoriadis, 1992), que se molda e depois se cristaliza. Ao se pensar o magma como estado físico da matéria, ele é um sólido plástico, por isso possui plasticidade, ele sai e solidifica. Sai do interior da terra e se solidifica formando novas camadas na região exterior.
O magma sai do centro da terra através da erupção da lava, que eclode com toda a força, com jatos que se estendem a quilômetros de altura e ao se deslocar pela superfície da terra, a lava vai recapeando a geografia do território, dando-o novas configurações, presentes de vivacidade, reatualizando, ressignificando as práticas se pensarmos o magma como relações sociais. A erupção de um vulcão é como um acontecimento, que eclode e transforma o jogo social das relações. A seguir, veremos a partir de um acontecimento que ocorreu fora das redes, da arena para as redes e das redes para fora das redes. Este acontecimento é bastante peculiar e nos serve como caso para observar seu movimento em meio ao território, dentro e fora das redes sociais.
3 A produção de sentidos e o poder simbólico através do acontecimento
Caso Patrícia Moreira e Aranha
Em 2014, durante as oitavas de final da Copa do Brasil de 2014, em Porto Alegre, no estádio da Arena, ocorreu um ato generalizado, considerado racista. Os torcedores do Grêmio direcionaram ao goleiro do Santos, Mário Lúcio Duarte Costa, o Aranha, o coro “Ma-ca-co”. Diante deste fato ocorrendo na partida, um cinegrafista da ESPN Brasil flagrou alguns torcedores no ato do manifesto. Dentre estes, a torcedora do Grêmio, Patrícia Moreira da Silva, acabou tornando-se a imagem representativa deste acontecimento.
Por consequência disto, o clube gaúcho foi julgado e punido pelo STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva), que eliminou a equipe da Copa do Brasil. Entre a ocorrência do ato e após a eliminação do Grêmio da competição, a torcedora passou a sofrer perseguição nas redes tanto das pessoas que repudiavam a sua atitude, bem como por parte dos próprios torcedores do Grêmio. Patrícia saiu dos espaços de sociabilidade virtual, pois ficou, de certa forma, desconfortável a sua permanência neles. Patrícia sofreu vários ataques, tendo praticamente que permanecer exilada do convívio social. Sua casa sendo apedrejada e posteriormente incendiada por um torcedor do Grêmio é a exasperação desta força de punição que se faz exercer e ultrapassa as redes, do virtual ao real. O acontecimento jogado para as redes, ainda mais envolvendo esferas potencializadas, como o racismo e o futebol, ganha um poder de fermentação nas interações sociais virtuais e faz um movimento de retorno, e esse movimento, no caso de Patrícia Moreira, é de intensa punição.
O acontecimento considerado racista por parte dos torcedores gremistas foi proliferado em diferentes mídias e convergiu entre as mídias feito vírus. As redes sociais sofreram uma espécie de fermentação deste acontecimento, que foi produzido pelos próprios usuários das redes. Patrícia acabou sendo a imagem representativa deste acontecimento e começou a sofrer julgamento social nas redes sociais. Sua imagem é ligada diretamente ao racismo, sendo assim, a sua vida vigiada, suas informações e dados pessoais são jogados na roda do debate dos usuários e por eles mesmos postos em pauta para uma espécie de julgamento da personagem.
Neste episódio houve uma movimentação interessante para compreender os processos comunicacionais. A circulação que permeia todas as esferas sociais pôs em debate público o acontecimento e fez com que ele passasse por mutações de sentidos, sofresse apropriações e reapropriações (ressignificações), transformando a linguagem e o discurso sobre o racismo. O debate público instaurado foi intenso e pôde se perceber dessa movimentação que houve a produção de uma espécie de inquisição, como um tribunal religioso, servindo para condenar todos aqueles que eram contra os dogmas pregados pela sociedade politicamente correta. Isto ficou claro nas manifestações e reproduções meméticas e discursivas através das redes, o discurso do ódio está claro e fica muito claro o julgamento e punição de Patrícia, a personagem representativa do acontecimento cibermidiatizado. Estamos vivendo em uma nova era comunicacional? É o eclodir de movimentos? Surge uma nova essência social?
Acreditamos que estas questões são altamente reflexivas e nos remete a uma gama de possibilidades. Aqui remetemos a algo que não está presente somente neste acontecimento, mas sim em tantos outros. O discurso do ódio foi e é algo vivo no discurso e na linguagem das redes sociais. Nestas redes, que produzem uma ambiência de disputa e de enfrentamento, algo posto como um acontecimento e que traz consigo, ainda, questões fortes para o debate público como o racismo e o futebol, é como ser jogado aos leões nas antigas arenas gregas, onde havia a caça aos cristãos da Roma antiga, atirados na arena para serem devorados por leões. Exatamente o que foi feito com Patrícia Moreira da Silva, a qual foi jogada e devorada pelos leões da arena tecno-sócio-virtual. De acordo com Gomes (2013, p.6 e 7), a virtualidade digital traz como consequência a estruturação de um novo modo de ser no mundo. Para Fausto Neto, a complexificação tecnológica expõe o trabalho da circulação, muda os ambientes, as temporalidades, as práticas sociais e discursividades, o status dos sujeitos (produtores e receptores), as lógicas de contatos entre eles e os modos de envio e reenvio de discursos entre eles (FAUSTO NETO, 2008, p. 12).
Esta ambiência se caracteriza como uma verdadeira arena antiga, chamada também como Circus Maximus — ou Circo Máximo — e foi uma das maiores estruturas da Roma Antiga. O circo máximo caracteriza uma espécie de apogeu da visibilidade, sendo essa ambiência uma ambiência de poder, disputa e julgamento.
Este acontecimento está inserido na problemática da midiatização. A midiatização afeta a disputa de direcionamento de sentido e é o fogo cruzado entre as instituições. Chamamos este acontecimento de cibermidiatizado, pois é fortemente debatido nas redes sociais e são os atores sociais que dão forma e formato ao acontecimento, são eles que direcionam e põem o acontecimento em debate público. O acontecimento, segundo Queré (2005) “é tratado como “um fenômeno de ordem hermenêutica”, ou seja, a partir deste revelam-se possibilidades de sentido”. E ainda Queré (2005) destaca que todo acontecimento produz sentidos e experiências e instala questões problemáticas.
A produção de memes
A produção mimética é outra característica forte desta ambiência, pois produz e reproduz sentidos, realiza mutações e novas apropriações. Os chamados memes são representações de identidades, considerados como uma unidade de informação que se multiplica de cérebro em cérebro ou entre locais onde a informação é armazenada (como livros). Segundo Dawkins (2007), em respeito à sua funcionalidade, “o meme é considerado uma unidade de “evolução cultural” que pode de alguma forma auto propagar-se”. O estudo dos modelos evolutivos da transferência de informação é conhecido como meméticas. Mais do que transformação, o desenvolvimento - como a produção mimética - segundo Furtado (1994, p. 37), é invenção, pois comporta um elemento de intencionalidade. O desenvolvimento dispõe de meios, que abrem um horizonte de opções, inovados pelos indivíduos.
A sociedade em rede representa, para Castells, ‘uma transformação qualitativa da experiência humana’. Em termos de relação entre natureza e cultura, o primeiro modelo foi o de dominação da natureza sobre a cultura, o segundo foi o de dominação da natureza pela cultura (era moderna, revolução industrial) e no estágio atual a cultura se refere à cultura, ‘suplantando a natureza a ponto de a natureza ser renovada artificialmente como uma forma cultural’. Entramos em um modelo genuinamente cultural de interação e organização social, e os fluxos das mensagens e imagens entre as redes constituem o encadeamento básico de nossa estrutura social (CASTELLS, 1999, p. 505).
De acordo com Castells (2005, P. 19), sociedade em rede, em termos simplificados, é uma estrutura social baseada em redes operadas por tecnologias de comunicação e informações fundamentadas na microeletrônica e em redes digitais de computadores que geram, processam e distribuem informações a partir de conhecimento acumulado nos nós dessas redes.
As redes sociais de internet, de acordo com Castells (2013), propiciam uma nova forma de mobilização, denominada por ele de “conectividade”. Para Castells (2005, p 1) as redes constituem “a nova morfologia social de nossas sociedades, e a difusão da lógica de redes modifica de forma substancial a operação e os resultados dos processos produtivos e de experiência, de poder e de cultura.”
Redes são instrumentos para a economia capitalista baseada na inovação, globalização e concentração descentralizada; para o trabalho, trabalhadores e empresas voltadas para a flexibilidade e adaptabilidade; para uma cultura de desconstrução e reconstrução contínuas; para uma política destinada ao processamento instantâneo de novos valores e humores públicos; e para uma organização social que vise a suplantação do espaço e invalidação do tempo. Mas a morfologia da rede também é uma fonte de drástica reorganização das relações de poder (CASTELLS, 1999, p. 498).
Para Castells (2005) e Prado (2000) rede é um conjunto de nós e, segundo Castells (2005), nó depende do tipo de redes concretas e cita vários exemplos destas, porém, ficamos com o último citado que refere os “equipamentos móveis gerando, transmitindo e recebendo sinais na rede global da nova mídia, no âmago da expressão cultural e da opinião pública, na era da informação”. (Castells, 2005, p. 498).
No acontecimento “Aranha e Patrícia Moreira da Silva”, envolvendo o caso de racismo e outras esferas sociais, assim, como em qualquer outro acontecimento, os memes, pertencentes ao ciberacontecimento, realizaram sua função. Abaixo vejamos uma amostra destas produções:
Esta produção mimética manifesta claramente uma exposição de perseguição através do Twitter (“Prendam essa boneca inflável”). Como em qualquer julgamento, para haver perseguição, primeiro deve-se ter a identificação. Neste exemplo podemos observar que o usuário manifesta a sua posição pela #fechadoComOAranha, identificando-se com as causas e razões do goleiro e produz este material, colocando-o em circulação nas redes. Segundo Castells (2013), uma característica dos novos movimentos sociais é que são locais e globais ao mesmo tempo. As imagens veiculadas no “ciberespaço” se espalham com uma velocidade surpreendente. Nessa nova interação, os movimentos expressam uma “profunda consciência da interligação de questões e problemas” da humanidade. Sobre essas imagens veiculadas, Castells as denomina “imagens de mobilização”.
Esta outra, se apropria de aspectos da leitura labial, prática muito difundida para compreender o que os técnicos de futebol falam aos seus jogadores de fora do campo e muito utilizada em programas televisivos esportivos como Fantástico e Globo Esporte, dentre outros. Esta produção delimita o meme para “Racismo no jogo Grêmio x Santos” e chama o leitor para a leitura labial, misturadas às imagens “printadas” da torcedora ao dizer a palavra “Ma-ca-co”, com a tradução: “Eu sou digna de pena!”. Também se caracteriza como punitivo e de perseguição de Patrícia.
Estas foram palavras de Patrícia Moreira em entrevista no programa “Encontro com Fátima Bernardes” da Rede Globo: “Não consigo mais voltar pra minha casa, fico pulando de galho em galho”. Esta produção mimética resgata a sua fala e imagem de sua entrevista no programa de tevê. Explicita a sua fragilidade e desnudamento perante as câmeras televisivas. Ao mesmo tempo acaba sendo revelador, pois nos mostra o nível da perseguição que a torcedora sofre. Estar pulando de galho em galho, assim como o “macaco” (irônico), pois não tem mais um lugar fixo, todos os espaços ficaram desconfortáveis.
Nesta outra, o seu rosto é retirado de uma imagem e inserido em outro corpo feminino, que está à mostra e agarrado a um macaco de pelúcia. No contexto, a produção é irônica e depreciativa. Trabalha a vulgaridade e insinua uma estratégia midiática de que Patrícia queria aparecer na mídia com segundas intenções, desvirtuando assim o sentido, trazendo para a arena das discussões outros aspectos e comportamentos sociais para a imagem da torcedora. Ela tornou-se um rosto, a imagem midiatizada, perdeu o corpo, tanto que foi capaz de ganhar outro.
Esta produção desloca a imagem da selfie tirada por um macaco, uma imagem reconhecida no ambiente da circulação, com uma mensagem direcionada à torcedora, dando-lhe o troco em razão de sua ofensa. O poder da palavra “Ma-ca-co” saído da boca de Patrícia, insultando o goleiro na partida, alia-se com a imagem da Selfie do macaco e faz um movimento de retorno a Patrícia Moreira, como um efeito bumerangue. Segundo Castells (1999, p. 497) “O poder dos fluxos é mais importante que os fluxos do poder”
Com a informação e a comunicação circulam basicamente pelo sistema de mídia diversificado, porém abrangente, a prática da política é crescente no sistema da mídia. A liderança é personalizada e formação de imagem é geração de poder, não que toda política possa ser reduzida a efeitos de mídia ou que valores e interesses sejam indiferentes para os resultados políticos. Mas sejam quais forem os atores políticos e suas preferências, eles existem no jogo do poder praticado através da mídia e por ela, nos vários e cada vez mais diversos sistemas de mídia que incluem as redes de comunicação mediada por computadores (CASTELLS, 1999, p. 504).
Outro movimento presente neste cenário de produção de sentidos é o poder simbólico vigilante (característico da midiatização vigiante), envolvendo a personagem e as produções dos memes, ou seja, através da produção de sentidos multifacetada, este acontecimento cibermidiatizado provoca novas reflexões e arrebanha mais e mais pessoas para uma espécie de julgamento nas redes sociais. A produção de memes, pode ser interpretada como uma nova forma de produção criativa dos internautas, nova forma de interagir no mundo, um novo padrão de comunicação, um novo desenvolvimento cognitivo-comunicacional-social.
É a capacidade criativa do homem se volta para a descoberta dele mesmo, empenha-se em enriquecer o seu universo de valores, que se pode falar de desenvolvimento, pois este somente se efetiva quando a acumulação conduz à criação de valores que se difundem em importantes segmentos da coletividade (FURTADO, 1994, p. 37).
Celso Furtado (1994, p. 37) ainda destaca dois movimentos de produção de valores. Assim podemos dizer, o primeiro diz respeito à técnica, ao empenho do indivíduo de dotar-se de instrumentos e de aumentar sua capacidade de ação. O segundo refere-se à utilização última desses meios, aos valores que o indivíduo adiciona ao seu patrimônio existencial. Novas configurações, novas formas de se comunicar, onde as novas tecnologias trouxeram enormes possibilidades, liberdades e responsabilidades também. O que é público e privado nas redes sociais e até onde vai a nossa liberdade, nosso território, sem ferir a privacidade do outro, são debates necessários ao se fazer pesquisa em torno das redes sociais.
Considerações Finais
A partir deste estudo foi possível verificar que a cibercultura é fruto de novas formas de relação social, e com ela, novas formas de interação com o mundo se codificam a cada dia, suas configurações territoriais mudam as premissas e edificam o eu, um exemplo disto, é a espetacularização da imagem nas redes sociais virtuais.
Este espaço da espetacularização, atrai o indivíduo pela necessidade de comprovar a sua existência, já que quem não é visto não é lembrado, então, a presença do eu se faz necessária. Se quisermos “ser alguém”, temos que participar do jogo das aparências e exibir permanentemente aquilo que “supostamente somos”.
Neste espaço, onde os valores têm se desenvolvido, segundo Sibilia (2009), as redes sociais estimulam e desenvolvem o indivíduo à espetacularização da personalidade, fazendo do próprio “eu” um show. A imagem do “eu” em nossa sociedade tornou-se um capital valioso e esse mercado das aparências é vítima da capturação de riquezas, explorado por grandes empresas globais em sua área de marketing, assim como por profissionais de recursos humanos e até mesmo o próprio indivíduo na curiosidade da vida privada do outro.
Compreendeu-se que este território, altamente cibermidiatizado, de múltiplas territorialidades em contato, forma um espaço complexo de contrastes e afinidades, que se cruzam, se confrontam e se ressignificam. Em outras palavras, o território é o poder, é um espaço definido e delimitado por e a partir de relações de poder
Nota-se que o espetáculo que atrai às redes e introduz o indivíduo em meio as territorialidades virtuais, desenvolve a produção de sentidos a partir da sua presença neste território. A marca de um acontecimento, causa neste espaço uma arena de discussão, de julgamento, e de produção de sentidos, dentro e fora do espaço virtual.
Além de todas estas afetações, há também o desenvolvimento da produção mimética, que é outra característica forte deste território. É ela que produz e reproduz sentidos, realiza mutações e novas apropriações. Os memes são representações de identidades, unidades de informação que se multiplicam de cérebro em cérebro ou entre locais onde a informação é armazenada.
No território das redes sociais virtuais e nas suas territorialidades, as afetações são causadas dentro e fora dos espaços territoriais midiáticos. O acontecimento é potencializado às redes pela nova configuração social de indivíduos e pelas novas práticas instauradas através da arquitetura mercadológica globalizante. O advento da globalização com o surgimento da internet, possibilitou o alargamento de liberdades, transformando o espaço ou o território destas liberdades, em mercadorias de dados e de aparências, ou seja, de riquezas.
Conclui-se que o indivíduo é atraído pelo espetáculo para dentro do território e a partir daí está imerso no jogo de territorialidades midiatizantes que potencializam, multiplicam e transformam cada indivíduo em nós da rede (Castells), onde o que recebe é o mesmo que reproduz e fortalece a teia. Este tear globalizado de interações sociais entrelaçado de fios e conexões de poder, revelando-se em campo enriquecedor a ser explorado cientificamente. A partir deste artigo, recomenda-se estudos de aprofundamento teórico tendo Celso Furtado como ponto de partida e não apenas de chegada.
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Notas