Migrações contemporâneas: desafios para os territórios e os direitos humanos

O cotidiano das mobilidades transnacionais: práticas relacionais vividas pela diáspora haitiana na cidade de Lajeado/RS

The daily transnational mobility: relational practices experienced by the haitian´s diaspora in Lajeado/RS

El cotidiano de las movilidades transnacionales: prácticas relacionales vivenciadas por la diáspora haitiana en la ciudad de Lajeado/RS

Rosmari Terezinha Cazarotto
Universidade do Vale do Taquari, Brasil
Fernanda Cristina Wiebusch Sindelar
Universidade do Vale do Taquari, Brasil
Márcia Solange Volkmer
Universidade do Vale do Taquari, Brasil

O cotidiano das mobilidades transnacionais: práticas relacionais vividas pela diáspora haitiana na cidade de Lajeado/RS

Redes. Revista do Desenvolvimento Regional, vol. 27, 2022

Universidade de Santa Cruz do Sul

Recepción: 22 Febrero 2022

Aprobación: 30 Junio 2022

Resumo: Desde o início do século XXI, observa-se a intensificação dos fluxos migratórios globais, os quais configuram-se como um recurso estratégico de governos, empresas ou redes de parentesco, por contribuir tanto para o fornecimento de mão de obra como de remessa de moeda estrangeira. Neste contexto, o Brasil tem sido destino de migrantes, especialmente de haitianos e venezuelanos. Assim, este trabalho busca compreender os espaços de inserção dos imigrantes haitianos na cidade média de Lajeado/RS, e algumas práticas sociais que dinamizam as mobilidades transnacionais no cotidiano destes. Trata-se de um estudo exploratório de abordagem quanti-qualitativa, sob o enfoque fenomenológico, através de observação participante, diários de campo, e entrevistas formais e informais. Os resultados evidenciam que, na cidade de Lajeado, os espaços de inserção e práticas sociais transnacionais dos imigrantes haitianos estão associados aos ambientes laborais, à mobilidade e circulação, ao exercício empreendedor, às remessas de dinheiro da diáspora e à constituição de igrejas haitianas.

Abstract: Since the beginning of the XXI century, there has been an intensification of the global migration streams, which are configured as a strategic resource by governments, companies or kinship networks, for contributing as much to the supply of labor as to foreing currency remittance. In this context, Brazil has been a migrant destination, specially haitians and venezuelans. Thus, this study aims to comprehend the insertion spaces of the Haitians migrants in the middle-sized city of Lajeado/RS, and some of the social practices that boost transnational mobility in their daily lives. This is an exploratory study of quantitative-qualitative approach, from the phenomenological focus, through participant observation, field diaries, and formal and informal interviews. The results evidence that in the city of Lajeado, the insertion spaces and daily transnational practices of the Haitians migrants are associated to the working environments, to the mobility and circulation, to the entrepreneurial exercise, to the diaspora money remittance and to the constitution of Haitian churches.

Keywords: International Migrations, Insertion spaces, Social practices, Haitians.

Resumen: Desde inicios del siglo XXI se ha producido una intensificación de los flujos migratorios globales, que se configuran como un recurso estratégico para gobiernos, empresas o redes de parentesco, pues contribuyen tanto a la oferta de mano de obra como al envío de divisas. En este contexto, Brasil ha sido destino de migrantes, especialmente haitianos y venezolanos. Así, este trabajo busca comprender los espacios de inserción de los inmigrantes haitianos en la ciudad media de Lajeado/RS, y algunas prácticas sociales que dinamizan la movilidad transnacional en su cotidiano. Se trata de un estudio exploratorio con enfoque cuantitativo-cualitativo, bajo el enfoque fenomenológico, mediante observación participante, diarios de campo y entrevistas formales e informales. Los resultados muestran que, en la ciudad de Lajeado, los espacios de inserción y las prácticas sociales transnacionales de los inmigrantes haitianos están asociados a los ambientes de trabajo, la movilidad y circulación, el ejercicio empresarial, las remesas de dinero de la diáspora y la constitución de iglesias haitianas.

Palabras clave: Migraciones Internacionales, Espacios de inserción, Practicas sociales, Haitianos.

1 Globalização, migração como recurso e diáspora

A migração humana é uma realidade mundial. As práticas da vida cotidiana dos migrantes na sociedade de acolhida, assim como as abordagens analíticas do fenômeno variam de acordo com o contexto histórico, espacial e social. No mundo globalizado, os progressos tecnológicos aceleram o deslocamento e encurtam as distâncias, porém os processos políticos podem facilitar ou dificultar as travessias e permanências entre Estados Nação.

A migração laboral internacional é um processo global que tem afetado as populações de todos os países e continentes (GERLACH; UKRAYNETS, 2021). Na contemporaneidade, a migração como recurso, é uma estratégia, tanto de empresas, como de governos ou redes de parentesco. Há anos existem regiões exportadoras e outras importadoras de trabalhadores, a partir de recrutamento e formação de redes étnicas. Buscar compreender quais as conexões sistêmicas acompanham o crescimento da exportação organizada de trabalhadores, se para o lucro privado ou para o aumento da receita estatal é um elemento importante a considerar (SASSEN, 2010). Por exemplo, a Coréia do Sul e a China motivam a exportação organizada de trabalhadores como parte de sua indústria e investimentos em países estrangeiros. E, de acordo com Baeninger, Gomes e Demétrio (2020), na dificuldade de encontrar pessoas para executar tarefas em unidades de abate em transnacionais como JBS e outras, nos países do Norte Global, são criados programas como o “JBS Sem Fronteiras", que visam recrutar organizadamente trabalhadores brasileiros para tais plantas industriais.

Por outro lado, a remessa de moeda estrangeira através do envio de dinheiro pelos migrantes, tem sido uma fonte significativa de receita para alguns países, cada um com suas particularidades, é claro. Para Bangladesh, as remessas representam por volta de um terço do câmbio estrangeiro, oriundas sobretudo do grande número de trabalhadores bengalis no Oriente Médio, no Japão e em vários países europeus (SASSEN, 2010). Na União Europeia, destaca-se a Romênia, país que recebeu o maior valor de remessas em 2018, alcançando o montante de 4.117 bilhões de euros. Dados do país relativos a 2015 indicam que quase 5 milhões de romenos trabalhavam no exterior (em especial, Itália, Espanha e Alemanha) e 68% destes enviaram dinheiro para suas famílias (MEHEDINTU; SOAVA; STERPU, 2020). Já para o Haiti, conforme Handerson (2015), as remessas representam 24% do Produto Interno Bruto (PIB) anual, embora as transferências legais observadas em seu estudo não incluam envios informais. Por isso, “a diáspora haitiana possui um papel crucial na vida social e econômica do país” (HANDERSON, 2015, p. 63). Deste modo, em situações como as supramencionadas, a categoria migrante pode ser utilizada como um recurso potencial tanto para o Estado Nacional, como para as empresas.

Conforme Ehwi, Maslova e Asante (2021), o envio de remessas colabora tanto de maneira financeira para o bem-estar da família e amigos ou para realização de investimentos, como também se converte na principal prática social transnacional para os migrantes comprovarem sua relação emocional com aqueles que ficaram no país de origem, mesmo que isso represente uma dificuldade financeira e a piora das condições de vida do migrante no país de destino.

Ao redor do mundo, e igualmente no Brasil, os fluxos migratórios internacionais têm aumentado significativamente no século 21. Conforme Oliveira (2021), as migrações observadas no Brasil na última década evidenciam tanto mudanças quantitativas, em virtude do número significativo de ingresso de migrantes estrangeiros, como alterações qualitativas, dada a pluralidade de países de origem dos migrantes situados, em especial, no Hemisfério Sul (BAENINGER, 2018). Neste sentido, estima-se que 1,3 milhão de imigrantes, especialmente de venezuelanos e haitianos, tenham ingressado no país entre 2011 e 2020 (OLIVEIRA, 2021).

O fluxo de haitianos para o Brasil insere-se no contexto histórico da dispersão deste povo como fenômeno estrutural, a partir dos anos 1960, com destaque para a última década. Entre os fatores que favoreceram este cenário estão a presença brasileira no Haiti, através das Nações Unidas (Missão das Nações Unidas para a Estabilidade no Haiti - Minustah, de 2004 a 2017), a crise econômico-financeira global de 2008, a qual movimentou os eixos de deslocamentos humanos no mundo, o forte terremoto que atingiu o Haiti em 2010 e a crescente crise humanitária observada no país nos últimos anos. Ainda, no início da última década, diversos indicadores econômicos brasileiros foram bastante atrativos, tais como, uma situação de proximidade ao pleno emprego, um câmbio favorável, a promoção de eventos mundiais (Copa do Mundo e Olimpíadas), sua consolidação como potência do agronegócio e a inserção nos BRICS. Além disso, este também foi um período marcado pela alteração do marco legal da migração (CAVALCANTI; OLIVEIRA; MACEDO, 2020).

Neste contexto, este trabalho busca compreender os espaços de inserção dos imigrantes haitianos na cidade média de Lajeado/RS, e algumas práticas sociais que dinamizam mobilidades transnacionais no cotidiano destes. Quanto aos procedimentos metodológicos, trata-se de um estudo exploratório de abordagem quanti-qualitativa, sob o enfoque fenomenológico. A pesquisa fenomenológica “parte do cotidiano, da compreensão do modo de viver das pessoas, e não de definições e conceitos”, buscando “resgatar os significados atribuídos pelos sujeitos ao objeto que está sendo estudado” (GIL, 2019, p. 15).

A pesquisa vem sendo desenvolvida desde 2013, sendo que os dados deste artigo foram coletados entre os anos de 2019 a 2022. Nele articulam-se informações de dados quantitativos, obtidos junto a bancos de dados oficiais do Ministério da Economia e do Ministério da Justiça e Segurança Pública, por meio da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) e do Observatório das Migrações Internacionais (OBMigra), seguidas de uma abordagem qualitativa através de observação participante, com imersão das pesquisadoras no campo-tema da pesquisa e registros em diários de campo, entrevistas formais e informais com os imigrantes, lideranças políticas e religiosas locais, bem como com outros moradores da cidade de Lajeado/RS.

O artigo está estruturado em cinco seções, além desta introdução. Na próxima seção faz-se uma revisão de literatura destacando a instrumentalização política da diáspora haitiana. Após, apresenta-se uma breve caracterização da cidade de Lajeado e o papel que desempenha na rede urbana regional. Na quarta seção, aborda-se a cidade de Lajeado como rota de destino ou de passagem de imigrantes internacionais, com foco nos migrantes haitianos. Na quinta, disserta-se sobre espaços e práticas sociais transnacionais na vida cotidiana dos imigrantes haitianos em Lajeado e, por fim, apresentam-se as considerações finais deste trabalho.

2 A instrumentalização política da diáspora haitiana

O debate contemporâneo das migrações internacionais tem colocado em relevo o papel que os países desempenham na divisão internacional do trabalho. Ao analisar o caso do Haiti, Seguy (2014) explica que, na atualidade, o papel exercido por este país tem sido fornecer mão de obra barata para o exterior. Neste âmbito, distingue dois fluxos migratórios haitianos: o chamado de cérebros, principalmente para o Canadá, e outro de trabalhadores manuais, para as ilhas da circunvizinhança do Haiti e para os Estados Unidos e, a partir de 2010, também para o Brasil. O autor ainda observa que a saída de pessoas, com curso superior, mais aguda do mundo é a do Haiti, posto que 80% dos haitianos com graduação deixam o país.

De acordo com Handerson (2015), em torno de 4 a 5 milhões de haitianos estão espalhados pelo mundo, principalmente nos Estados Unidos, França, Canadá e Caribe, o que representa aproximadamente metade da população do país.

Inserido num contexto de emigração e mobilidade, no universo haitiano, o termo diáspora reporta a um jeito de ser e estar no mundo, o qual remete a ações relacionais entre a sociedade de origem e a de estabelecimento. A diáspora configura, define e concebe a esfera social do haitiano. Refere-se a união dos haitianos mundo afora, com reconhecimento legal dessa categoria. Neste contexto, a diáspora pode ser compreendida tanto como uma construção ideológica como uma prática que orienta as relações sociais. Assim, diáspora e peyi blan não correspondem apenas a lugares geográficos, mas a um mundo idealizado e vivido (HANDERSON, 2015).

No Haiti, atualmente, dois ministérios tratam de assuntos envolvendo a diáspora haitiana: o Ministério dos Assuntos Estrangeiros e o Ministério dos Haitianos Residentes no Exterior (MHAVE) (HANDERSON, 2015). Na plataforma do MHAVE é possível observar um espaço específico denominada diáspora, no qual tratam de assuntos como: personalidades da diáspora e formas de atrair investimentos da diáspora, evidenciando que, o termo diáspora é recorrente no imaginário e prática do povo haitiano, inclusive nos órgãos oficiais.

A criação e as motivações da diáspora haitiana se inserem numa trajetória histórica. O colonialismo e seus corolários contribuíram para o crescimento de dificuldades de sobrevivência deste povo, de modo que os primeiros fluxos migratórios em massa de haitianos já foram observados no início do século XX rumo à Cuba, como resultado da crise observada na indústria do açúcar, e na década de 1930 para a República Dominicana (ARAÚJO, 2020).

De acordo com Fang (2015), para os EUA, onde vivem cerca de um milhão de haitianos na diáspora, três ondas foram observadas, uma nos anos 1960, e após nas décadas de 1980 e 1990. Antes disso, era incomum a migração de haitianos. O início da motivação se deu com o governo ditatorial de François Duvalier, o qual conclamava a substituição de uma classe educada e profissional por uma nova aristocracia negra. A violência se propagou atingindo fortemente a classe média e pessoas com estudos, fazendo com que estes se direcionassem para a fuga, formando corredores migratórios para os EUA ou França ou ainda para regiões francesas do Canadá e da África. Assim, iniciou o encorajamento da fuga de cérebros. Com esta atitude, Duvalier reduziu o risco de uma oposição política futura da classe qualificada, mas também colocou em ação o esgotamento dos talentos humanos que continuariam a assombrar o Haiti até hoje. Nesta época, os EUA não fizeram esforço para legalizar e nem mesmo para frear a migração devido à Guerra Fria e à vizinha Cuba. Já nas outras duas ondas, as instabilidades e agitações políticas motivaram a solicitação de refúgio e a reunião familiar.

Estando na diáspora, os vínculos com o país de origem precisam ser mantidos, sejam eles sociais, econômicos, políticos ou afetivos. Envolvem um sentimento de pertencimento à terra natal independente do país onde vivem no exterior, motivo pelo qual alguns autores chamam de transnacionalismo, caracterizado como práticas sociais de caráter transnacional em que os imigrantes se veem imbricados (PERELA; CAVALCANTI, 2017; ARAÚJO, 2020). Desta perspectiva, os imigrantes transnacionais são atores de processos hegemônicos de mais de uma nação (FELDMAN-BLANCO, 2009). Fortalecendo o sentimento de pertencimento a um nacionalismo à longa distância, o qual se difunde nas últimas décadas (BASCH; SCHILLER; BLANC, 2005), fenômeno presente, por exemplo, na região do Vale do Taquari/RS a partir da segunda década do século XXI (CAZAROTTO; MEJÍA, 2018; CAZAROTTO; SINDELAR, 2020; MEJIA; CAZAROTTO, 2021).

A categoria e significado da diáspora é, também, um produto do pensamento produzido pelo Estado haitiano, nos termos de Bourdieu:

O Estado é mais do que uma entidade institucional ou burocrática que detém o monopólio da força, é também uma “estrutura mental”, ou seja, um sistema de compreensão e organização da realidade social capaz de impor estruturas de pensamento que permeiam as visões sobre o mundo e a vida a partir de princípios de divisão e separação [ou união]. Pensar o Estado significa, portanto, pensar nele a partir de categorias próprias, ou seja, a partir dos conceitos e palavras que o próprio Estado transfere aos seus cidadãos, por meio dos órgãos de socialização, repressão e controle. Dessa forma, os modos de pensar do Estado são naturalizados e internalizados na mente das pessoas, sacralizando a defesa, fetichização e reprodução contínua das fronteiras (AVALLONE, 2019, p. 33) (tradução nossa).

Em outras palavras, a (re) criação de identidade nacional ou o sentimento de pertencer ao Haiti, são (re)produzidas sem a estranheza de estar em “outro lugar”.

Na década de 1990, no Haiti, foi criada e difundida a ideia do décimo departamento haitiano, quando em seu discurso de posse o ex-presidente Jean-Bertrand Aristide, em 1991, recebe no Palácio Nacional, em Porto Príncipe, haitianos que tinham migrado para os Estados Unidos e outros países, e os cumprimenta como diáspora e membros do décimo departamento geográfico. Em 2003, o referido departamento geográfico tornou-se oficial. Em torno deste departamento, o governo fazia e faz acreditar que os haitianos, independentemente de onde se encontram, podem fazer parte da vida política do seu país mesmo que participando virtualmente (HANDERSON, 2015).

Para além da dimensão política, a diáspora, com foco no transnacionalismo, é uma experiência social, econômica e cultural, interconectada. Revela que o cotidiano do migrante é permeado por dinâmicas que os conectam em redes pelas quais criam e disseminam estratégias de mobilidade e de estabelecimento. Assim, compreender as dinâmicas sociais que produzem relações multi-situadas, na abordagem das migrações internacionais contemporâneas, é relevante diante das diversas possibilidades de pesquisa e sentidos atribuídos pelos imigrantes.

3 A cidade de Lajeado: uma breve caracterização

Lajeado é um município com uma população total estimada em 86.005 habitantes (IBGE, 2022), sendo que aproximadamente 99,6% destas pessoas vivem na área urbana, segundo dados do último censo (IBGE, 2012). Localiza-se na porção centro-oriental do estado do Rio Grande do Sul e dista em torno de 113 km da capital, Porto Alegre. É a maior cidade do Vale do Taquari, região composta por 36 municípios (Figura 1).

Localização geográfica do Município de Lajeado/RS
Figura 1
Localização geográfica do Município de Lajeado/RS
Fonte: Adaptado de CODEVAT (2017).

Na estrutura e organização urbana regional, a cidade de Lajeado desempenha uma importante função. Atua como Capital Regional C na hierarquia urbana, polariza, centraliza e influencia o território da região do Vale do Taquari (IBGE, 2020). Através de suas funções administrativas e econômicas, exerce a centralidade e a capacidade de gestão territorial no espaço regional. Ela também intermedia fluxos de natureza diversa (pessoas, produtos, mercadorias, insumos, capitais, informações etc.) que circulam entre as áreas rurais e cidades pequenas, que constituem sua região de influência, e a metrópole de Porto Alegre, da qual também experimentam a influência no contexto da rede urbana estadual. A crescente especialização e qualificação de alguns serviços oferecidos por essa cidade média como educação superior, saúde, tecnologia e logística tem também atraído empresas e usuários da região metropolitana, intensificando assim os fluxos e as interações entre esses espaços (SILVEIRA et al., 2021).

A economia regional tem forte dependência da produção agropecuária. Em termos de sua produção rural e estrutura fundiária, a região do Vale do Taquari caracteriza-se pela presença de pequenas propriedades rurais, vinculadas à agricultura familiar, cuja produção principal é constituída pela criação de frangos, suínos e produção de leite.

Decorrente da modernização da produção agrícola, no período de 1970 a 2010, o Vale do Taquari passou por profundas mudanças que provocaram uma reconfiguração espacial. Novos contornos na redistribuição da população e mudanças nas estruturas de emprego foram vivenciados pelos agricultores familiares. Nesse intervalo, ocorreu o fortalecimento das cadeias produtivas de frangos, suínos e leite, as quais passaram a se agregar aos complexos agroindustriais com seus respectivos sistemas integrados à indústria de alimentos (BARDEN et al., 2018). Organizada a especialização da produção, estes complexos passaram a se inserir nos circuitos internacionais de comércio e consumo.

No ramo de carnes e leite, foi tomando forma um conjunto de arranjos espaciais da produção do setor agroalimentar, implementando e intensificando a divisão de suas atividades em distintos espaços na região, porém próximos. No conjunto destas localizações, a circulação de pessoas, bens, serviços e informações dinamizam as interações que dão unidade à rede urbana regional. Nos termos de Côrrea (1989), estas interações criam itinerários, roteiros de circulação intrarregionais e também em nível estadual, nacional e internacional. Dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA, 2020) indicam que a região possui uma das maiores concentrações de infraestrutura tecnológica no setor industrial de carnes do Rio Grande do Sul. São 12 frigoríficos distribuídos em alguns dos 36 municípios da região.

Na cidade de Lajeado funcionam dois frigoríficos, a Companhia Minuano de Alimentos e a BRF, indústrias de abate e processamento de carnes, as quais são as principais empregadoras dos imigrantes internacionais na cidade. Conforme a RAIS (BRASIL, 2022), Lajeado é o município do RS que concentra o maior número de trabalhadores, com vínculo formal de emprego, no setor industrial de “abate e fabricação de produtos de carne”, com 5.646 postos de trabalho em 2020, que representa 15,1% do total de empregos formais do município. Destes, 752 são ocupados por imigrantes internacionais (sendo 95,2% haitianos), o que representa 13,3% dos vínculos formais de emprego nestas empresas. Esta realidade foi sendo configurada especialmente na última década.

4 Rota de destino ou de passagem de imigrantes haitianos?

A chegada dos imigrantes haitianos em Lajeado foi percebida em, 2012, quando as agentes comunitárias de saúde relataram que durante suas visitas domiciliares encontravam pessoas que “falavam outra língua", com quem tinham dificuldades de se comunicar. Contudo, com a grande enchente observada no município em 2013, a Secretaria de Assistência Social tomou conhecimento do grande número de imigrantes presentes na cidade. No local para acolher os desabrigados chegavam caminhões lotados com imigrantes, em torno de 300, além de haitianos, bengaleses, senegaleses e ganenses (MEJIA; CAZAROTTO, 2018).

De acordo com os dados do Relatório Anual OBMigra (2021), de 2010 a 2020, na cidade em análise, chegaram 1.640 imigrantes internacionais, dos quais 1.016 são haitianos, o que representa 61,95% do total. No âmbito regional chegaram 3.585 imigrantes, onde a principal nacionalidade se repete, a haitiana, com 2.210 pessoas, representando 61,64% do total.

Os dados oficiais são importantes, porém o cotidiano revela particularidades, como a movimentação do fluxo de chegada e saída de imigrantes, tanto no âmbito intrarregional entre as cidades do Vale do Taquari, como entre outras cidades do Brasil e do continente americano.

Em Lajeado e região, ao acompanhar o processo migratório dos haitianos, desde 2013, observa-se que os sonhos dos imigrantes não diferem da constatação de Cavalcanti, Oliveira e Macedo (2020), quando afirmam que, dentre as economias do Sul Global, desde 2010, o Brasil se tornou um “Norte global alternativo e temporário” para migrantes internacionais devido às restrições impostas por países ricos do Norte Global. Esta situação remete à narrativa de um colaborador da pesquisa,

antigamente nem pensava de vir pro Brasil, não é só eu, nenhum haitiano, é geral, vou falar geralmente, se nenhum haitiano, tipo tinha interesse, nosso interesse antigamente era França, Canadá e Estados Unidos, é meu sonho, é nosso sonho dos haitianos, é Canadá, França e Estados Unidos” (DIÁRIO DE CAMPO, 23.04.21).

Além disso, embora os imigrantes continuem a chegar, muitos a partir das redes de contato, outros por reunião familiar, o sonho de muitos continua sendo chegar nos Estados Unidos ou Canadá. Além do mais, em virtude da crise econômica enfrentada pelo Brasil desde meados de 2015 e agravada com a pandemia do Covid-19 (o que contribuiu para a desvalorização da moeda nacional frente ao dólar e o aumento da inflação), é possível observar que desde o início de 2021, grupos de migrantes partem mensalmente em direção à fronteira do México. Ressalta-se que estes grupos têm consciência de que o caminho a percorrer é difícil, perigoso e que o acesso aos EUA é incerto, porém os que ficam alegam com entusiasmo: “o haitiano é um povo preto que tem muita resistência e de verdade eles chegam aí aonde querem chegar” (DIÁRIO DE CAMPO 21.10.21).

Os que permanecem também ficam na expectativa de saber se os caminhos estarão abertos para que também possam ir. Alegam que não é por falta de emprego que saem ou querem sair de Lajeado. Gostam da cidade, porém alegam que o custo de vida aumentou muito desde que chegaram, assim como, têm dificuldades de enviarem as remessas de recursos da diáspora em virtude do câmbio. Enquanto acompanham as notícias dos que “viajaram”, continuam nas suas práticas do dia a dia. Assim, considerando as reflexões teóricas apresentadas ao longo do trabalho, na próxima seção apresenta-se uma reflexão crítica a respeito da inserção espacial e das práticas sociais transnacionais da diáspora haitiana na cidade de Lajeado.

5 Espaços de inserção e práticas sociais transnacionais

Os espaços de inserção e práticas sociais transnacionais dos imigrantes haitianos em Lajeado estão associados, especialmente, aos ambientes laborais, à mobilidade e circulação, ao exercício empreendedor, às remessas de dinheiro da diáspora e às igrejas haitianas. São práticas que no cotidiano do imigrante o ligam em mais de um território, ou seja, em territórios relacionais que transpassam as fronteiras nacionais. Para Almeida (2009), a inserção de imigrantes nos territórios mundializados cria indivíduos imigrados, em realidades multiescalares, provisórias, pois eles estão aqui, mas de certa maneira também continuam lá. A seguir detalha-se os resultados encontrados durante a pesquisa.

Trabalho e renda: uma condição para a presença tolerável

A migração contemporânea para o Brasil e suas regiões está pautada pela dificuldade de encontrar mão de obra para alguns setores da economia (ZAMBERLAM et al., 2014). A reestruturação da produção acentuou a diferenciação das economias regionais a partir da especialização dos lugares e como consequência ampliou as desigualdades (SASSEN, 2010; SANTOS, 2006). Isso reflete nas novas direções dos fluxos migratórios internacionais e “à medida que as localidades se inserem nas lógicas globais, as migrações internacionais tenderão a se intensificar” (BAENINGER, 2016, p. 23).

Neste contexto, as empresas que estão na linha de frente destas transformações alteram suas estratégias de atração de mão de obra tendo em vista o esgotamento da mesma para alguns setores. Nesta lógica estão parcela das pessoas em situação de mobilidade humana internacional, muitas das quais, vivenciam o projeto migratório. Embora, para o Brasil, o fluxo migratório dos haitianos tenha se fortalecido exponencialmente após o terremoto de 2010, estes estão inseridos em comunidades que incentivam a migração, seja no país de origem ou onde se encontram, fora dele. De acordo com Siqueira (2017), a procura por rotas migratórias não ocorre simplesmente para morar em outro país, mas sim, porque esta é uma decisão socialmente construída, por isso um projeto migratório.

Durante o tempo de emigração os esforços se concentram em conseguir trabalho para que os ganhos garantam sua sobrevivência e possibilitem poupança e envio de remessas. Muitos migrantes se submetem a condições de trabalho precárias, apenas pensando no dinheiro que está sendo enviado à família e que tudo ficará muito melhor quando voltarem ao seu país de origem (SIQUEIRA, 2017).

Na cidade de Lajeado, de acordo com o Gráfico 1, nota-se uma curva ascendente em relação aos vínculos formais de trabalho de migrantes haitianos de 2013 a 2020. No período, evoluiu de 101 trabalhadores para 789. Com exceção de 2016, quando ocorreu uma pequena redução, o que pode ser justificado pela saída de migrantes que retornaram aos fluxos internacionais de migração. Cabe mencionar ainda que a chegada de migrantes haitianos à cidade foi anterior a 2013, no entanto, a RAIS apenas detalha as informações desta nacionalidade a partir deste ano (anteriormente, os haitianos eram incluídos no grupo de outros países latino-americanos) (BRASIL, 2022). Ainda fica evidenciado, na série histórica apresentada, a forte concentração dos vínculos formais de emprego, para o conjunto dos haitianos, no setor de abate e fabricação de produtos de carne, sendo que em 2020 representava 91,3%.

Imigrantes haitianos no mercado formal de trabalho na cidade de Lajeado (2013 a 2020).
Gráfico 1
Imigrantes haitianos no mercado formal de trabalho na cidade de Lajeado (2013 a 2020).
Fonte: BRASIL (2022).

Essa realidade vai ao encontro das constatações de Sayad (1988) quando diz que o trabalho é o que faz existir o imigrante, não qualquer trabalho, mas “o trabalho para imigrantes”. Os migrantes são considerados um problema social, por isso sua presença só é tolerada na condição de trabalhador. Uma percepção partilhada por diferentes setores da sociedade.

Conforme Piore (1979), os imigrantes se adaptam mais facilmente às condições do mercado de trabalho intensivo. Muitos trabalhadores locais desprezam tais postos por serem de baixa remuneração, baixo status e baixa possibilidade de evolução profissional, porém são atrativos para os imigrantes quando vislumbram a possibilidade de ganhar mais do que em seu país de origem. O autor chamou este tipo de posto de trabalho de secundário, diferenciando-o do posto primário, o qual caracterizou-o como mais qualificado, com mecanismos de promoção e carreira.

De acordo com Granada et al. (2021), os locais de abate, corte e desossa de animais, se encontram em condições precárias de trabalho, às quais se submetem trabalhadores que não têm outra alternativa além de aceitar condições desumanas de emprego e de salário que permitam sua sobrevivência. Esta informação é corroborada pelos dados da RAIS, os quais demonstram que os salários pagos aos trabalhadores haitianos são relativamente baixos. Em 2013, todos os trabalhadores haitianos recebiam até dois salários-mínimos. Já em 2020, 91,3% destes migrantes recebiam até esta faixa de remuneração.

Este fato fica visível nas narrativas dos migrantes quando questionados sobre os maiores desafios atualmente, “se manter com o salário que recebem e mandando para familiares também no Haiti” (DIÁRIO DE CAMPO 21.10.21). Ao questionar como está sendo viver no Brasil, o entrevistado respondeu:

um pouquinho melhor, melhor porque trabalha numa empresa, vive junto com minha família, estamos juntos vivendo aqui no Brasil. Posso dizer para que esse momento é um pouco complicado para nós no Brasil, desde o momento que cheguei aqui [2013] agora é um pouquinho complicado, para todo mundo, para os estrangeiros, tipo, para te dizer o custo está um pouquinho caro tudo está um pouco complicado, a gente que tem família lá não consegue mandar dinheiro. Mas graças a Deus como não se está doente nós se vira, nós se vira (DIÁRIO DE CAMPO, 21.10.21).

Além disso, analisando o perfil dos trabalhadores, verifica-se que em 2020 a maioria era do sexo masculino (66,8% do total) e com baixa escolaridade, já que 68,1% possuem até o ensino médio incompleto (BRASIL, 2022), corroborando Seguy (2014), que destaca a vinda de trabalhadores manuais para o Brasil.

Remessas de dinheiro da diáspora: as obrigações com aqueles que ficam

Conforme Araújo (2020, p. 12), “os indivíduos que emigram são considerados porta-vozes do grupo; é estabelecida, deste modo, uma relação de compromisso e reciprocidade entre os que ficam e os que partem”. Assim, tendo em vista a migração como uma negociação coletiva das redes familiares e não um projeto individual (SASSEN, 2010; MASSEY (2013), verifica-se que a moeda é fundamental para a concretização dos projetos migratórios.

De acordo com Handerson (2015), na diáspora haitiana, a remessa de dinheiro para a família transnacional é um símbolo de prestígio. Denominam de lajan diáspora, ou moedas da diáspora, as remessas recebidas por compatriotas que vivem no exterior. Anseiam por ganhar salário em dólar ou euro, pois como estão conectados com seus conterrâneos que vivem na França, Canadá e EUA, sabem que as possibilidades de remessas são muito maiores, aumentando assim sua reputação.

No Brasil, a possibilidade de ter documentação que possibilite emprego formal, de certa forma, ameniza a frustração de não receber em dólar ou euro. Contudo, diante da desvalorização do real, o desencanto com o Brasil vem se intensificando e muitos estão novamente ingressando na rota migratória, com expectativa de entrar nos EUA, Canadá ou mesmo no Chile. Na narrativa de um imigrante haitiano, na cidade em tela, “agora o Chile está bom para trabalhar, muitos vão pra lá” (DIÁRIO DE CAMPO, 15.07.21). Também comenta que sua esposa também necessita enviar remessas financeiras aos familiares que ficaram no Haiti, pelos mesmos motivos. Relatou que antes de 2014 precisava de R$ 230,00 para enviar US$ 100,00 ao Haiti, e em junho de 2019, um dos momentos da pesquisa, precisava de R$ 460,00 e, em 2021, R$ 600,00. Ainda alega que se quiserem retornar ao Haiti precisam de muito dinheiro, no caso, passagem para quatro pessoas, o que seria inviável (DIÁRIO DE CAMPO, 12.07.21).

No Brasil, de 2007 a 2014, o dólar não ultrapassou a casa dos R$ 3,00 (média do dólar comercial no período foi de R$ 1,96), sendo que em 2011 não superava os R$ 2,00. Porém, a partir de março de 2015, com a piora da situação econômica do país, a desvalorização do real amplia-se e a cotação do dólar ultrapassa R$ 3,00, chegando inclusive em alguns períodos a ser superior a R$ 4,00 (cotação média R$ 3,52 entre 2015 e 2019). No entanto, a situação é ainda mais agravada com a chegada da pandemia do Covid-19 em março de 2020, quando o dólar ultrapassou a cotação de R$ 5,00 e desde então tem se mantido nestes patamares, com raras exceções (BCB, 2022).

Neste contexto, progressivamente o valor das remessas enviadas para o Haiti tem diminuído. Em relato de uma haitiana que chegou na cidade em 2020, "a situação está muito difícil pois, para enviar 100 dólares para o Haiti, precisa de R$ 600,00, e hoje no Haiti US$ 100,00 é pouco” (DIÁRIO DE CAMPO, 15.05.21). Além disso, o envio de recursos também contribui para a piora das condições de vida desses migrantes no local de estabelecimento conforme observado por Ehwi, Maslova e Asante (2021).

Destarte, observa-se que enquanto os haitianos não conseguem adquirir os recursos que lhes garantam a mobilidade social no país de origem, continuam a se mobilizar por cidades e países. O sonho é obter recursos suficientes que lhes garantam boa qualidade de vida no dia em que retornarem ao país de origem, por isso, alegam que o momento não é o de retorno, mas sim de mobilidade.

Mobilidade e circularidade: característica do universo haitiano

A mobilidade à procura de melhores condições de vida quando a localidade não oferece os recursos mínimos necessários é um fenômeno comum entre os imigrantes. Segundo Nieto (2014), o constante movimento é característico da diáspora haitiana. Para Joseph e Neiburg (2020), a mobilidade é constitutiva das paisagens haitianas, no território nacional e na diáspora. Esse fenômeno se observa desde o início da pesquisa, em 2013, contudo, em alguns períodos se intensifica, como foi observado nos anos de 2016 e 2021. Em 2016, para driblar os efeitos da crise política no Brasil, o Chile foi visto como uma alternativa, onde o salário era US$ 100,00 mais alto que no Brasil. Muitos também tentaram, e continuam tentando, os EUA, porém foram deportados (PRADO, 2016).

Contudo, na cidade de Lajeado, dos que novamente entraram na rota migratória internacional, em 2016, posteriormente alguns retornam à cidade de chegada e decidiram firmar sua vida no Vale do Taquari. A constituição da família aparece como um elemento definidor de permanência mais longa. Fenômeno conhecido como espaços de circulação oriundos da repetição da migração (repeated migration) (KENNETH; VANDERKAMP, 1986), fazendo com que os imigrantes decidam inserir-se novamente no processo migratório, e, posteriormente, retornem ao local já conhecido.

Tal mobilidade também é movida pelas mudanças políticas nos países em que possuem redes de contato. A chegada de Biden ao poder nos EUA, as mudanças políticas no Chile, por exemplo, acenderam novamente a chama do sonho americano fazendo com que, em 2021, em plena pandemia do Covid 19, haitianos e haitianas na cidade de Lajeado se mobilizassem para partir intensamente, mês a mês, em grupos naquela direção. Nos grupos, com entusiasmo, fomentaram o encorajamento de seus conterrâneos para seguirem juntos na viagem, pois tinham ciência das longas caminhadas, dos caminhos perigosos que haveriam de enfrentar. Era recorrente o discurso de que em Lajeado só ficariam 20% dos haitianos que aqui estavam (DIÁRIO DE CAMPO, 20.11.21). Contudo, em 2022, o fluxo de saída se acalmou. Tendo em vista que alguns foram deportados dos EUA e outros permanecem na fronteira do México com os EUA.

Essa constante mobilidade implica na dificuldade de elaboração e concretização de projetos de longo prazo na localidade de instalação, e os projetos que se mantêm são os que ultrapassam fronteiras. Ainda cabe mencionar que o Brasil, no contexto de estratégias de mobilidade e permanência, é visto como um Norte Global alternativo, enquanto as barreiras e muros são erguidos para que as fronteiras geográficas permaneçam fechadas para os estranhos que batem à porta (BAUMAN, 2017).

Práticas empreendedoras: escapando do mercado de trabalho ao migrante constituído

Concomitante ao constante e persistente fluxo de entrada e saída de imigrantes haitianos na cidade de Lajeado, também existe um movimento de acomodação ou permanência. Dentre os fatos que evidenciam este fenômeno, um deles é o do imigrante empreendedor, que decide abrir o seu próprio negócio. Os empreendimentos desenvolvidos por imigrantes haitianos na cidade estão relacionados ao comércio, costura e confecção de roupas, minimercado, filmagens de celebrações festivas e videoclipes, dentre outros. A maioria dos atuais empreendedores, anteriormente, trabalhavam em postos de trabalho ligados aos frigoríficos.

De acordo com Tedesco (2017, p. 215) “a estratégia de empreender é comum em meio aos imigrantes. Serve para fugir da desocupação e/ou condição marginal laboral. [...] Os imigrantes buscam algum benefício próprio que o mercado de trabalho a ele constituído não lhe dá”. No processo migratório, o indivíduo elabora e reelabora seu projeto migratório de acordo com as possibilidades materiais e imateriais que lhes são postas (CAVALCANTI et al., 2017). Assim, no local de instalação, enquanto atores com capacidade de agir e tomar decisões nos diferentes contextos (GOURCY, 2013), os migrantes criam estratégias de sobrevivência a partir de trabalho autônomo, escapando do tipo de trabalho que lhes é “indicado” na sociedade de instalação.

Contudo, observa-se que, no âmbito do protagonismo efetivo do sujeito empreendedor, há uma articulação que conecta familiares em rede transnacional, por onde circulam internacionalmente ideias, estratégias e recursos financeiros. Por exemplo, ao visitar uma loja criada por um haitiano, nela estava a irmã do proprietário, que tinha chegado há duas semanas do Haiti. Relatou que o outro irmão que mora nos EUA contribui com o suporte financeiro para o empreendimento do irmão instalado em Lajeado e financiou a vinda da irmã (DIÁRIO DE CAMPO, 12.07.2021). Tem-se, assim, uma circulação transnacional de recursos financeiros com vistas a viabilizar o projeto migratório no país de imigração. Confirmam-se as ideias já consolidadas de Massey (2013), que afirma que o projeto migratório não é individual, mas sim um projeto de família. No caso deste exemplo, é evidente que as redes familiares atuam de forma decisiva.

Ao ser questionado se a abertura da loja influenciou de alguma forma na decisão de permanecer no país, o proprietário alegou que não quer passar miséria no México para tentar chegar aos EUA ou Canadá, por exemplo, como muitos estão fazendo. “É muito sofrido. Muitos estão indo para o Canadá ou França” (DIÁRIO DE CAMPO, 12.06.2021), relata. Se por aqui a situação ficar pior pensa em ir embora, porém quer ir com visto. Por isso, os planos para o futuro consistem em trabalhar para conseguir abrir uma loja maior.

Envolvidos num som ambiente sintonizado em uma rádio haitiana, no momento da visita, fregueses brasileiros e haitianos frequentavam a loja, solicitando prestação de serviços como concerto de roupas. A loja conta com um funcionário para realizar as costuras e possui um cartão de divulgação. Perguntado sobre como a pandemia afetou o negócio, disse: “Está difícil para todo mundo, para os estrangeiros é pior” (DIÁRIO DE CAMPO, 12.06.21). Estão conseguindo se manter, diminuíram as vendas, em especial as confecções de ternos para os casamentos haitianos devido às restrições e até cancelamento de aglomerações devido a pandemia.

Em um dos estabelecimentos comerciais que acompanhamos, e que fechou em 2022, existia a realização de um jogo conhecido dos haitianos “todo haitiano sabe, todo haitiano joga” (DIÁRIO DE CAMPO, 12.06.21), em que o sorteio é realizado no Haiti, e acompanham pela internet. Este fato evidencia mais um exemplo de prática transnacional.

Ainda, é importante mencionar a recorrência da fragilidade dos pequenos negócios abertos que facilmente podem se tornar instáveis e insustentáveis, o que novamente levaria à modificação do projeto migratório. Durante o processo, no caso específico dos empreendimentos que acompanhamos desde 2017, dois estabelecimentos fecharam, os demais resistiram, inclusive em tempos difíceis da pandemia da Covid 19 e um minimercado abriu em 2022 (DIÁRIO DE CAMPO, 23.01.22).

Igrejas haitianas: (re)criação de identidade

A religião é um dos pilares da migração haitiana. As práticas religiosas são portadoras do fortalecimento das redes de solidariedade e troca, com a função simbólica de manter o vínculo com o Haiti (AUDEBERT, 2012). Em Lajeado, durante o processo de estabelecimento na cidade, os haitianos fundaram duas igrejas evangélicas, Igreja Evangélica de Jesus Cristo de Lajeado e Igreja Haitiana Betel de Lajeado. A primeira, com filial em Arroio do Meio, cidade conurbada com Lajeado, onde também vivem muitos haitianos. Recentemente um grupo ocupou um terceiro espaço, junto a uma igreja brasileira, sendo os turnos divididos entre haitianos e brasileiros. Pela manhã, a igreja é usada pelos haitianos e à noite pelos brasileiros. Este espaço, assim como a segunda igreja supracitada é resultante de divergências entre os grupos de haitianos gerando uma cisão em que, aos poucos, os dissidentes de uma igreja fundam outra.

Contudo, circulam entre as igrejas, e quando da realização de festas, e demais comemorações, participam de todas. Como relata uma colaboradora da pesquisa “gosto muito de conhecer as diferentes igrejas, chega aqui é uma coisa, vai lá é outra” (DIÁRIO DE CAMPO, 15.05.21).

Nas igrejas construídas em Lajeado os rituais das celebrações são realizados na língua materna, o crioulo, ou em francês, e as celebrações religiosas são conduzidas por lideranças haitianas. São espaços de expressão de fé e de encontro dos migrantes. Também representam um movimento de acomodação ou permanência do grupo étnico, mesmo que parcela do contingente dessa população constantemente esteja em mobilidade.

Recriar igrejas para renovar a fé praticada em sua terra natal é recorrente após o estabelecimento dos migrantes em contexto de diáspora. Em terra estrangeira, a fé faz parte do pouco que não foi perdido e nem ficou distante na trajetória migratória (LUSSI, 2013).

A igreja passa a ser um grande ponto de referência, um espaço de relações de convívio para amenizar situações de múltiplas dificuldades que o imigrante possa encontrar (TEDESCO, 2010). Segundo Marinucci (2012), diante das dificuldades vivenciadas por um grupo étnico, após ultrapassar as fronteiras geográficas de seu país, a religião possibilita a recriação da identidade, gera um sentimento de pertencimento, de estarem juntos, fortalecidos pelos laços interpessoais nestes espaços de interlocução agora criados. Ou seja, garantem a prática, embora parcial, da própria memória e da própria cultura que trouxeram de sua trajetória, assegurando assim a identidade do grupo (MARINUCCI, 2012).

A Figura 2 registra algumas das ações que acontecem dentro das igrejas haitianas de Lajeado. A foto ilustra um momento da Festa da Igreja Haitiana Betel de Lajeado, na qual pode ser observado o coral de vozes femininas haitianas, uma cerimônia de casamento e a participação da comunidade haitiana (DIÁRIO DE CAMPO, 04.08.19).

Festa na Igreja Haitiana Betel de Lajeado, fundada por haitianos – Festa realizada no dia 04-08-2019
Figura 2
Festa na Igreja Haitiana Betel de Lajeado, fundada por haitianos – Festa realizada no dia 04-08-2019
Fonte: Dos autores.

Para a exaltação de sentimentos de fé e unidade entre os haitianos, o canto e a música desempenham importante papel. Representa uma linguagem transnacional, em cultos religiosos, que conecta os haitianos em Lajeado, evocando também laços com correligionários em outras localidades e nações (MEJIA; CAZAROTTO; ROGÉRIO, 2018).

De acordo com Tedesco (2010) a religião é um recurso cultural, social e pragmático da comunidade de migrantes que ajuda na coesão e identificação coletiva. Em Lajeado, as igrejas haitianas já passaram por diversas mudanças quanto ao endereço, muito em função de surgimento de novas igrejas e aumento de adeptos, contudo sempre se mantiveram nos bairros Centro Antigo e Moinhos, locais onde muitos migrantes residem devido à proximidade das duas indústrias que mais contratam migrantes internacionais para o trabalho.

Considerações finais

Este artigo abordou o processo de instrumentalização política da diáspora haitiana e a cidade de Lajeado como rota de destino ou de passagem destes imigrantes. Entendendo a mobilidade como um elemento estruturante das relações sociais da população haitiana, pontua-se a imigração como um projeto familiar, que conecta o imigrante a diferentes espaços transnacionais, mantendo os vínculos com aqueles familiares que ficaram no Haiti. A diáspora, nesse contexto, não representa apenas um movimento, mas uma experiência social que conecta os haitianos ao seu país de nascimento.

Em busca de melhores condições de vida e inserindo-se no mercado de trabalho internacional, esses imigrantes acabam participando de lógicas que organizam a oferta e procura de mão de obra. A pesquisa analisou os espaços de inserção econômica e social na cidade de Lajeado/RS, evidenciando uma realidade de dificuldades econômicas, considerando a importância da remessa de valores para o Haiti. Nesse sentido, alguns dos espaços produtivos transnacionais têm se convertido, também, em espaços transnacionais da diáspora migratória haitiana.

Por outro lado, mesmo considerando o contexto de desigualdade e dificuldades, os imigrantes haitianos configuram práticas de sociabilidade e estratégias de sobrevivência no contexto migratório. Nesse sentido, as redes sociais conferem identidade coletiva e possibilidades de mobilidade para os imigrantes – fazendo circular proteção, informações, recursos econômicos e incentivos. A pesquisa identificou práticas sociais transnacionais na vida cotidiana dos imigrantes haitianos em Lajeado, possibilitando a sua permanência na cidade ou então as condições para a continuidade do “caminho” migratório.

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, M. G. de. Diáspora: Viver entre-territórios e entre-culturas? In: SAQUET, M. A.; SPOSITO, E. S. (orgs.). Territórios e territorialidades: Teorias, processos e conflitos. São Paulo: Expressão Popular, 2009. p. 175-195.

ARAÚJO, A. A. de A. Família, capital social e migração: a diáspora haitiana. Idéias, Campinas, SP, v.11, p.1-20, 2020.

AUDEBERT, C. Territoires migratoires et réseaux transnationaux em La Diaspora Haïtienne. Rennes: Presses Universitaires, 2012.

AVALLONE, G. La movilidad humana en la red de las palabras de Estado. REMHU: Revista Interdisciplinar da Mobilidade Humana. Brasília, v. 27, n. 57, p. 25-42, 2019.

BAENINGER, Rosana. Migração Transnacional: elementos teóricos para o debate. In BAENINGER, Rosana et alii (org.). Imigração Haitiana no Brasil. Jundiaí: Paco Editoral, 2016.

BAENINGER, Rosana. Migrações Sul-Sul. In BAENINGER, Rosana; BÓGUS, Lúcia Machado; MOREIRA, Júlia Bertino et alii (orgs.). Migrações Sul-Sul. 2ª edição. Campinas, SP: Núcleo de Estudos de População “Elza Berquó” – Nepo/Unicamp, 2018.

BAENINGER, Rosana; GOMES, Rafael de Araújo; DEMÉTRIO, Natália Belmonte (Coords.). População e Cidades - Espaços Regionais da Agricultura Globalizada: Trabalhadores Rurais e Imigrantes Internacionais no Agronegócio em São Paulo. Campinas, SP: NEPO/UNICAMP, 200p., 2020.

BANCO CENTRAL DO BRASIL. SGS - Sistema Gerenciador de Séries Temporais: Dólar comercial (venda). Disponível em: https://www3.bcb.gov.br/sgspub/localizarseries/localizarSeries.do?method=prepararTelaLocalizarSeries. Acesso em: 13 fev. 2022

BARDEN, J. E.; SINDELAR, F. C. W.; CAZAROTTO, R.; SILVA, G. R. da. Dinâmica Populacional e transformações socioespaciais: uma análise a partir da região do Vale do Taquari/RS. Geosul, Florianópolis, v. 33, n. 66, p. 246-261, 2018.

BASCH, L.; SCHILLER, N. G.; BLANC, C. S. Nations Unbound: Transnational Projects, Postcolonial Predicaments and Deterritorialized Nation-States. Basel: Gordon and Breach, London, Routledge, 2005.

BAUMAN, Zygmunt. Estranhos à Nossa Porta. ZAHAR, 2017.

BRASIL. Ministério da Economia. Relação Anual de Informações Sociais. Brasília: Ministério da Economia, 2022. Disponível em: http://bi.mte.gov.br/bgcaged/login.php. Acesso em: 25 jan. 2022.

CAZAROTTO, R. T.; MEJÍA, M. R. G. Repercussão socioespacial da imigração haitiana numa pequena cidade: o caso de Encantado – Rio Grande do Sul – Brasil. R. Ra’eGa, Curitiba, v. 45, p. 170-186, dez. 2018.

CAZAROTTO, R. T.; SINDELAR, F.C.W. A dinâmica da imigração laboral internacional contemporânea: o caso do Vale do Taquari/RS no período de 2010-2018. Geosul. UFSC. 2020.

CAVALCANTI, L.; Botega, T.; Tonhati, T.; Araújo, D. (orgs.) Dicionário Crítico de Migrações Internacionais. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2017.

CAVALCANTI, L.; OLIVEIRA, T.; MACEDO, M. Imigração e Refúgio no Brasil. Relatório Anual 2020. Série Migrações. Observatório das Migrações Internacionais; Ministério da Justiça e Segurança Pública/ Conselho Nacional de Imigração e Coordenação Geral de Imigração Laboral. Brasília, DF: OBMigra, 2020.

CODEVAT. Plano estratégico de desenvolvimento do Vale do Taquari 2015-2030. Lajeado: Ed. da Univates, 2017.

CORRÊA, Roberto Lobato. A rede urbana. São Paulo: Editora Ática, 1989.

EHWI, R. J.; MASLOVA, S.; ASANTE, L. A.Flipping the page: exploring the connection between Ghanaian migrants’ remittances and their living conditions in the UK. Journal of Ethnic and Migration Studies. v. 47, n. 19, p. 4362–4385, 2021.

FANG, K. The Importance of the Diaspora’s Investment in Haiti. The Yale Review of International Studies, June 2015.

FELDMAN-BIANCO, B. Reinventando a localidade: globalização heterogênea, escala da cidade e a incorporação desigual de migrantes transnacionais. Horizontes Antropológicos, v. 15, n. 31, p. 19-50, 2009.

GERLACH, I.; UKRAYNETS, L. The Impact of Remittances of Ukrainian Migrants on the Stabilisation of the Economy During the Covid Crisis. Studia Europejskie – Studies in European Affairs, 3/2021.

GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2019.

GOURCY, C. D. Partir, rester, habiter: le projeto migratoire dans la litterature exilaire. Revue Européene des Migrations Internationales, v. 29, n. 4, p. 43-57, 2013.

GRANADA, D.; GRISIOTTI, M.; DETONI, P.; CAZAROTTO, R.; OLIVEIRA, M. C. Saúde e migrações: a pandemia de Covid-19 e os trabalhadores imigrantes nos frigoríficos do Sul do Brasil. Horizontes antropológicos, Porto Alegre, ano 27, n. 59, p. 207-226, 2021.

HANDERSON, Joseph. Diáspora, sentidos sociais e mobilidades haitianas. Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, ano 21, n. 43, p. 51-78, jan./jun. 2015.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Censo Brasileiro de 2010. Rio de Janeiro: IBGE, 2012.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Regiões de influência das cidades: 2018. Rio de Janeiro : IBGE, 2020.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Cidades@. Rio de Janeiro: IBGE, 2022. Disponível em: https://cidades.ibge.gov.br/, acesso em 13 fev. 2022.

JOSEPH, Handerson; NEIBURG, Federico. A (i)mobilidade e a pandemia nas paisagens haitianas Horiz. antropol., Porto Alegre, ano 26, n. 58, p. 463-479, set./dez. 2020

KENNETH, E. G.; VANDERKAMP, J. Repeat migration and disappointment. Canadian Journal of Regional Science, I Revue canadienne des sciences regionales, v. 3, n. IX, p. 299-322, 1986.

LUSSI, Carmem. Circularidade entre migrações e fé: reflexões sobre a alteridade na Igreja de comunhão. Tese (doutorado) – Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Departamento de Teologia, 2013.

MARINUCCI, Roberto. Reconfiguração da identidade religiosa em contexto migratório. Estudos de Religião, v. 26, n. 42, 169-191, jan./jun. 2012.

MASSEY, D. S. Structure sociale, stratégies des ménages et causalité cumulative de la migration. In: PICHÉ, V. (org.). Les théories de la migration. Paris: Ined, p. 309-340, 2013.

MEHEDINTU, A.; SOAVA, G.; STERPU, M. Remittances, Migration and Gross Domestic Product from Romania’s Perspective. Sustainability, v. 12, n. 212 , 2020.

MEJIA, M.R.G; CAZAROTTO, R.T; ROGÉRIO, M. S. O direito à cidade de migrantes contemporâneos: o caso de Lajeado - Rio Grande do Sul – Brasil. In: MEJIA, M. R. G (org.). Migrações e direitos humanos: problemática socioambiental. Lajeado: Ed. da Univates, 2018.

MEJIA, M.R.G; CAZAROTTO, R.T. A Festa da Bandeira haitiana em Encantado, RS, Brasil. PÉRIPLOS, v. 05, p. 169-192, 2021.

MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO. Registro dos estabelecimentos do setor de produção de carne. Brasília: MAPA, 2020. Disponível em: http://sigsif.agricultura.gov.br/sigsif_cons/%21ap_estabelec_nacional_rep?p_relatorio=estabelecimentos.rdf. Acesso em 27 mai. 2020.

NIETO, Carlos. Migración haitiana a Brasil: redes migratorias y espacio social transnacional. - 1a ed. - Ciudad Autónoma de Buenos Aires: CLACSO, 2014.

OLIVEIRA, A. T. R. de. A dinâmica demográfica de imigrantes e refugiados no Brasil da década de 2010. In: CAVALCANTI, L; OLIVEIRA, T.; SILVA, B. G. Relatório Anual 2021 – 2011-2020: Uma década de desafios para a imigração e o refúgio no Brasil. Série Migrações. Brasília, DF: OBMigra, 2021.

PIORE, M. J. Birds of passage: migrant labor and industrial societies. Cambridge: Cambridge University Press, 1979.

PRADO, E. S. A. Para fugir da crise, haitianos trocam o Brasil pelo Chile. Folha de São Paulo. São Paulo, maio 2016. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2016/05/1768958-para-fugir-da-crise-haitianos-trocam-o-brasil-pelo-chile.shtml.

PERELA, S.; CAVALCANTI, L. Transnacionalismo (verbete). In: CAVALCANTI, L.; BOTEGA, T.; TONHATI, T.; ARAÚJO, D. (Orgs.). Dicionário sobre Migrações Internacionais. Brasília: Editora Universidade de Brasília, p. 709 - 712, 2017.

RELATÓRIO ANUAL OBMigra, 2021.

SANTOS, Milton. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. São Paulo: Hucitec, 2006.

SASSEN, S. A criação de migrações internacionais. In: SASSEN, S. Sociologia da Globalização. Porto Alegre: Artmed, p. 113-138, 2010.

SAYAD, A. A imigração ou os paradoxos da alteridade. São Paulo: Edusp, 1998.

SEGUY, F. A catástrofe de janeiro de 2010, a “Internacional Comunitária” e a recolonização do Haiti. 2014. 389 p. Tese (Programa de Pós-Graduação em Sociologia) -Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2014.

SILVEIRA, R. L. L. da; FACCIN, C. R.; GIACOMETTI, N. B. de.; SILVEIRA, T. F.; SEIBERT, C. As áreas urbanas funcionais das cidades médias de Santa Cruz do Sul e Lajeado na Região Funcional de Planejamento 2 - Rio Grande do Sul. In: SILVEIRA, R. L. L.; FACCIN, C. R. (Orgs.). Urbanização, Cidades Médias e Dinâmicas Urbanas e Regionais. São Carlos: São Carlos: Pedro & João Editores, 2021. p. 67-96.

SIQUEIRA, S. Projeto Migratório (verbete). In: CAVALCANTI, L.; BOTEGA, T.; TONHATI, T.; ARAÚJO, D. (Orgs.). Dicionário sobre Migrações Internacionais. Brasília: Editora Universidade de Brasília, p. 570 - 574, 2017.

TEDESCO, João Carlos. As igrejas evangélicas e neopentecostais no cenário da imigração brasileira para a Itália. 34º Encontro Anual da Anpocs. Caxambu-MG, 2010. Disponível em: http://www.anpocs.com/index.php/papers-34-encontro/st-8/st21-5/1560-jtedesco-as-igrejas/file. Acesso em: 21 set. 2021.

TEDESCO, João Carlos. Ser imigrante e empreendedor: lógicas e sentidos. Aspectos da imigração brasileira na Itália. Mediações - Revista de Ciências Sociais, v. 22, p. 213-242, 2017.

ZAMBERLAM, Jurandir; CORSO, Giovane; CIMADON, João Marcos; BOCCHI, Lauro. Os Novos Rostos de imigração no Brasil – haitianos no Rio Grande do Sul. CIBAI Migrações. Pastoral da Mobilidade Humana, Brasil, 2014. 81p.

HTML generado a partir de XML-JATS por