Artigos
Recepción: 03 Noviembre 2022
Aprobación: 20 Julio 2023
DOI: https://doi.org/10.17058/redes.v28i1.17972
Resumo: A agricultura familiar é a forma predominante de agricultura no município de Chapecó/SC (IBGE, 2017). Os Circuitos Curtos de Abastecimento Alimentar (CCAAs) se inserem neste modelo de agricultura como uma alternativa possível de produção e consumo para aquelas famílias que, no processo histórico, ficaram à margem das cadeias do agronegócio, especialmente a partir da produção agroecológica. Nesse sentido, o objetivo desta pesquisa é analisar as dinâmicas de comercialização em CCAAs da produção agroecológica no município de Chapecó. Em termos metodológicos, este estudo caracteriza-se essencialmente como qualitativo, o instrumento de coleta de dados se deu por meio de entrevista e os resultados do campo de pesquisa foram realizadas por meio da análise de conteúdo. Os principais resultados demonstram que as famílias entrevistadas que estão na produção agroecológica possuem experiência de aproximadamente 14 anos nesse modelo de agricultura. Os dados do campo de pesquisa também demonstram pelo menos outros três aspectos: i) diversidade produtiva; ii) carência de mão de obra; iii) alta demanda da produção. No que se referem aos consumidores, esses relataram que optam por alimentos agroecológicos, especialmente, em função da qualidade dos alimentos e da saúde familiar. Há também apontamentos relacionados quanto à demanda por produtos que atualmente não são produzidos de forma agroecológica. As considerações finais apontam para as potencialidades em termos de demanda, bem como os desafios colocados para expansão e consolidação da produção agroecológica no município.
Palavras-chave: Produção de Alimentos Saudáveis, CCAAs, Agroecologia.
Abstract: Family farming is the predominant form of agriculture in the municipality of Chapecó/SC. The Short Circuits of Food Supply (CCAAs) are part of this model of agriculture as a possible alternative of production and consumption for those families that, in the historical process, were on the sidelines of agribusiness chains, especially from agroecological production. In this sense, the objective of this research is to analyze the commercialization dynamics in CCAAs of agroecological production in the municipality of Chapecó. In methodological terms, this study is essentially qualitative, the data collection instrument was carried out through an interview and the results of the research field were carried out through content analysis. The main results demonstrate that the interviewed families who are in agroecological production have approximately 14 years of experience in this model of agriculture. Data from the research field also demonstrate at least three other aspects: i) productive diversity; ii) shortage of manpower; iii) high production demand. With regard to consumers, they reported that they opt for agroecological foods, especially in terms of food quality and family health. There are also related notes regarding the demand for products that are currently not produced in an agroecological way. The final considerations point to the potential in terms of demand, as well as the challenges posed for the expansion and consolidation of agroecological production in the municipality.
Keywords: Healthy Food Production, CCAAs, Agroecology.
Resumen: La agricultura familiar es la forma predominante de agricultura en el municipio de Chapecó/SC. Los Circuitos Cortos de Abastecimiento de Alimentos (CCAA) forman parte de este modelo de agricultura como posible alternativa de producción y consumo para aquellas familias que, en el proceso histórico, quedaron al margen de las cadenas agroindustriales, especialmente de la producción agroecológica. En ese sentido, el objetivo de esta investigación es analizar la dinámica de comercialización en CCAA de producción agroecológica en el municipio de Chapecó. En términos metodológicos, este estudio es esencialmente cualitativo, el instrumento de recolección de datos se llevó a cabo a través de una entrevista y los resultados de la investigación de campo se realizaron a través del análisis de contenido. Los principales resultados demuestran que las familias entrevistadas que se encuentran en producción agroecológica tienen aproximadamente 14 años de experiencia en este modelo de agricultura. Los datos del campo de investigación también demuestran al menos otros tres aspectos: i) diversidad productiva; ii) escasez de mano de obra; iii) alta demanda de producción. En cuanto a los consumidores, informaron que optan por alimentos agroecológicos, sobre todo en cuanto a calidad alimentaria y salud familiar. También hay notas relacionadas con la demanda de productos que actualmente no se producen de forma agroecológica. Las consideraciones finales apuntan al potencial en términos de demanda, así como a los desafíos que se plantean para la expansión y consolidación de la producción agroecológica en el municipio.
Palabras clave: Producción de Alimentos Saludables, CCAA, Agroecología.
1 Introdução
A agricultura familiar em Santa Catarina representa 142.987 (78,1%) dos 183.066 estabelecimentos rurais do estado, conforme os dados do Censo Agropecuário de 2017 realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Essa composição está associada às características geográficas e fortemente enraizada no processo de ocupação do território catarinense, especialmente a partir de meados do século XIX, e que perdurou por aproximadamente cem anos, ao considerar o processo de colonização da região Oeste de Santa Catarina.
A concentração do modelo familiar na agricultura catarinense é ainda mais elevada quando observamos o cenário da região Oeste, pois o percentual da agricultura familiar registrou 84,2% dos estabelecimentos rurais que compõem os 118 municípios desse território no ano de 2017 (IBGE, 2017). Por sua vez, essa região é marcada fundamentalmente por municípios de pequeno porte, essencialmente rurais, com cidades de referência em cada microrregião e tendo Chapecó/SC como a cidade-polo em termos políticos, econômicos e sociais.
No contexto histórico, a agricultura familiar da região Oeste e, consequentemente, no município de Chapecó, a partir dos anos 1980, sofre um processo acentuado de marginalização e exclusão de famílias dos processos produtivos das grandes cadeias do complexo agroindustrial, primeiramente, em função da crise da suinocultura e, posteriormente, da avicultura (TESTA et al., 1996). A este respeito, muitos foram os destinos desse contingente populacional, como a migração para os centros urbanos da região e para cidades litorâneas e capitais, principalmente, em busca de oportunidades de emprego (RENK; DORIGON, 2014).
Nessa esteira, outro cenário desencadeado a partir dessa crise estrutural nas últimas décadas do século XX foi a oportunidade para algumas famílias, principalmente aquelas residentes em Chapecó e em cidades vizinhas, de realizar a comercialização de seus produtos em Circuitos Curtos de Abastecimento Alimentar (CCAAs), especialmente por meio de feiras. Inicia-se, a partir daí, uma longa marcha de construção de canais de comercialização de produtos da agricultura familiar sob a égide da qualidade, da produção local, da valorização dos hábitos alimentares regionais e do próprio fortalecimento da agricultura familiar.
É nesse sentido que a produção agroecológica passa a construir gradativamente seu espaço, ou seja, um mercado consumidor no âmbito do município de Chapecó. Isto porque, com o passar dos anos, temos, por um lado, cada vez mais pessoas preocupadas com a qualidade do alimento que está adquirindo1 e, de outro, se inserem os princípios da produção agroecológica, que, por sua vez, busca a sustentabilidade em seus processos a partir de uma agricultura sem a utilização dos insumos químicos e, mais do que isso, fomenta a diversificação e a preservação dos recursos naturais (ALTIERI, 2000).
Para não parecer que a trajetória foi marcada somente por flores, do início dos anos de 1990 até os dias atuais, inúmeros foram os desafios enfrentados por esses(as) agricultores(as) familiares. Entre tais desafios, destacamos aqueles que compreendemos como os três principais: i) adequação e regularização quantos aos requisitos sanitários, tanto no processo de produção como no de transporte e de comercialização; ii) o apoio do governo municipal local e de comunidades/associação de moradores que, com o passar dos anos, foram retirando seus aportes, especialmente quanto aos espaços de realização das feiras no município de Chapecó; iii) a questão da demanda por parte dos consumidores e a oferta por parte dos feirantes, isto porque boa parte dos espaços das feiras da agricultura familiar em Chapecó acabaram sendo descontinuadas e/ou estão caminhando nesse sentido, especialmente por não se constituírem como um espaço dinâmico de comercialização de produtos de base agroecológica (FOSSÁ; TERNUS; BADALOTTI, 2020).
Nos últimos anos, outros canais de comercialização agroecológica começaram a surgir e se intensificaram, especialmente a partir de março de 2020, com o início da crise pandêmica do Covid-19. Nos referimos aos agricultores que se desafiam na estratégia das vendas das cestas, bem como aqueles que realizam sua comercialização a partir de aplicativos de celulares e das redes sociais. Além desses, estabeleceram-se na cidade de Chapecó algumas empresas especializadas em ofertar alimentos saudáveis, os quais se incluem os produtos agroecológicos.
É sobre esta temática que esta pesquisa lançou seu olhar com o propósito de compreensão dessa realidade social. Para tanto, para alcançar este propósito, definiu-se como problema de pesquisa a seguinte questão: Como ocorrem as dinâmicas de comercialização em CCAAs da produção agroecológica no município de Chapecó? Em consequência disso, estabeleceu-se como objetivo geral analisar as dinâmicas de comercialização em CCAAs da produção agroecológica no município de Chapecó. Como objetivos específicos, foram estabelecidos dois: no primeiro, busca-se identificar como esta dinâmica contribui para o fortalecimento dessas famílias de agricultores(as) tanto no âmbito social como no ambiental e econômico; como segundo objetivo específico, compreender as razões deste consumo sustentável a partir das percepções dos consumidores.
Em termos de estrutura, este artigo foi composto por quatro seções, além desta introdução. Na primeira seção consta um debate sobre o estado da arte da produção agroecológica na agricultura familiar com comercialização em CCAAs. Em seguida, são apresentados os aspectos metodológicos que guiaram a realização deste artigo. Na terceira seção são apresentados e analisados os resultados do campo de pesquisa. Por fim, na seção quarta são tecidas as considerações finais relacionadas aos aspectos investigados nesta pesquisa.
2 A agricultura familiar e a produção agroecológica em cadeias curtas
A agricultura familiar, no início dos anos de 1990, passou por um processo de virada conceitual a partir de três grandes movimentos: i) no meio acadêmico, a partir da publicação de livros em português que subsidiaram a compreensão, as diferenças socioeconômicas e o seu papel no desenvolvimento nacional; ii) as grandes manifestações reivindicatórias nacionais dos movimentos sociais do campo, especialmente o movimento chamando “O grito da Terra”; iii) estudo em parceria entre a FAO/INCRA em 1994, as quais estabeleceram as principais diretrizes relacionadas à agricultura familiar (VEIGA, 1991; ABRAMOVAY, 1992; LAMARCHE, 1993).
A criação do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF), em 1996, é tida como um marco histórico no tratamento do Estado ao estabelecer a primeira política pública específica à categoria (GAZOLLA; SCHNEIDER, 2013). Nos termos de Grisa e Schneider (2015), é a partir do PRONAF que se estabelece no país um ciclo de construção de políticas públicas de apoio à agricultura familiar, considerada pelos autores como “três gerações de políticas públicas”, que perduraram pelo menos até o ano de 2013.
Ao passo do processo histórico, a partir de meados de 2016, com a ocorrência do impedimento da Sra. Dilma Rousseff e a posse ao cargo de Presidente da República pelo Sr. Michel Temer, a agricultura familiar brasileira passou por uma fase de desestruturação, de desmonte tanto das políticas públicas construídas nas últimas décadas como das equipes técnicas na esfera institucional, retornando o entendimento governamental dos anos 1980 em que a agricultura brasileira era considerada homogênea em termos do apoio do Estado (LEITE et al., 2023).
Há de se considerar também que, ao longo das últimas décadas, no âmbito da agricultura familiar acerca das políticas públicas, ocorreram diversas mobilizações e ações tanto de universidades como de organizações da sociedade civil no sentido de mobilizar e apoiar ações para que ocorresse no país um fortalecimento da produção e consumo de alimentos saudáveis, especialmente os de base agroecológica (GRISA; SCHNEIDER, 2015). No âmbito do Estado brasileiro, a criação do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) em 2003, o incremento das linhas “verdes” do PRONAF ainda no Plano Safra 2003/2004 e o estabelecimento em 2009 de que, pelo menos, 30% dos recursos do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) fossem adquiridos diretamente da agricultura família são exemplos dessa intencionalidade em promover a segurança alimentar a partir de uma agricultura diferenciada do modelo convencional estabelecida no país (CAZELLA et al., 2020).
A este respeito, destacamos que, ao longo dos anos, os desafios que tais políticas públicas enfrentaram, e ainda enfrentam, foram enormes nas mais diversas perspectivas. No que se refere ao financiamento das atividades produtivas, Aquino, Gazolla e Schneider (2021) apresentam o baixíssimo desempenho das linhas “verdes” do PRONAF nas últimas duas décadas. A análise dos autores revela as dificuldades e os entraves que a produção agroecológica enfrenta no país em termos de apoio e efetividade das políticas públicas de financiamento (AQUINO; GAZOLLA; SCHNEIDER, 2021).
As dificuldades se referem, inclusive, quanto ao desenvolvimento da produção e do consumo de alimentos de base agroecológica, e nos remete à emblemática afirmação de Schneider e Gazolla (2017, p. 9), ao mencionarem que: “Há algo profundamente errado com o modo como se produz e consome alimentos na nossa sociedade.” Em outros termos, queremos expressar que as formas de produção, comercialização e consumo de alimentos de base agroecológica, em linhas gerais, estão muito abaixo de suas potencialidades e também sufocadas pelos grandes sistemas globais de produção de alimentos (SCHNEIDER; GAZOLLA, 2017).
Este cenário de profundas contradições em que se referem aos hábitos alimentares atuais nos fazem refletir sobre alternativas e possibilidades de reconversão, especialmente a partir da introdução de alimentos agroecológicos. Sob esta perspectiva, nos ampararmos na contribuição de Poulain (2013), o qual nos posiciona acerca das resistências culturais da alimentação que podem nos servir como horizontes para ampliação do consumo e a consequente ampliação dos mercados sustentáveis, tanto para produtores como para consumidores.
Nas últimas décadas, inicialmente no continente europeu e mais recentemente no Brasil, vem se fortalecendo um campo teórico nesta perspectiva, ou seja, a ampliação do debate, estudos e pesquisas relacionados à problemática da alimentação, consequentemente, às redes alimentares alternativas e aos CCAAs. É oportuno ressaltar que essa abordagem contempla uma discussão interdisciplinar, incluindo diversas categorias analíticas, as quais destacamos: agricultura familiar; desenvolvimento rural; agroecologia; segurança alimentar; saúde, economias locais, território e inovação e tecnologia.
O nosso entendimento por CCAA coaduna com o conceito adotado e entendido por Balestro (2017, p. 148), que consiste em
[...] aquelas em que os alimentos são identificados e atribuídos a um produtor, de forma que o número de intermediários entre o produtor/agricultor e consumidor seja mínimo ou idealmente nenhum. Isto posto, o ambiente das CCAAs, reorganiza as relações entre consumidor e produtor ao mesmo tempo que possibilita trocas de conhecimento sob as formas de produção, bem como se estabelecem relações de confiança.
As CCAAs apresentam dinâmicas variadas nas relações de mercado que se estabelecem como elo entre os produtores, no caso brasileiro essencialmente no âmbito da agricultura familiar, e consumidores. No entendimento de Renting, Marsden e Banks (2017), as CCAAs podem ser categorizadas em pelo menos três características principais: i) face a face, especialmente por meio de feiras de agricultores, tendas, venda na beira da estrada, cestas prontas, colha e pague, encomendas e e-commerce; ii) de alcance próximos, ou seja, se ampliam as possibilidades de comercialização a partir de arranjos institucionais mais complexos por meio da cooperação entre produtores e suas organizações; iii) de alcance ampliado, por meio de selos de certificações, códigos de produção e efeitos de reputação, as quais ocorrem geralmente a partir de especialidades regionais, como vinhos e queijos.
No âmbito da agricultura familiar, partir da estratégia das CCAAs, a produção agroecológica encontra um espaço adequado em termos de comercialização. Isto porque, em nossa compreensão, há inúmeras conectividades entre a agricultura familiar, entre o conceito de CCAAs e os princípios que guiam as formas de produção agroecológica (ROVER; DAROLT, 2021).
Essas interligações se dão por meio da produção diversificada, manejo adequado do solo, do cuidado com os recursos hídricos e do meio ambiente, foco na produção de alimentos saudáveis e nutritivos, estabelecimentos de preços razoáveis tanto para o produtor (agricultor[a] familiar) como para o consumidor, trocas de conhecimentos e proximidade nas relações comerciais e logísticas (BONILLA, 1992; ALTIERI, 2000; BALESTRO, 2017).
Para Rover e Darolt (2021, p. 21), esse “[...] movimento emerge a organização de diversas formas de circuitos curtos de comercialização, especialmente aqueles ligados a sistemas de produção agroecológicos/orgânicos [...]”. Estes condicionantes podem conduzir a processos dinâmicos que contribuam a um cenário favorável ao desenvolvimento sustentável nas perspectivas ambientais, sociais e econômicas.
3 Procedimentos metodológicos
A aproximação com a realidade (mediada pela pesquisa e seus procedimentos metodológicos) leva a produzir conhecimentos a partir de experiências em diferentes espaços e contextos sócio-históricos. Em se tratando do conhecimento científico, esse aperfeiçoa o uso da racionalidade ao propor uma forma sistemática, metódica e crítica de desvelar e explicar a realidade (KÖCHE, 2015). Nessa mesma direção, Deslandes, Gomes e Minayo (2015) afirmam que os métodos e instrumentos são caminhos mediadores para permitir ao pesquisador o aprofundamento de sua pergunta central e suas perguntas específicas, levantadas a partir do encontro com seu objeto de pesquisa.
Como hipótese de pesquisa, partiu-se das contribuições de Marconi e Lakatos (2018), em que apontam que essa deve ser formulada como solução preliminar a determinado problema de pesquisa. Dessa forma, constitui-se como questão problematizadora geral deste trabalho a seguinte pergunta: Como ocorrem as dinâmicas de comercialização em CCAAs da produção agroecológica no município de Chapecó? Em consequência, temos como questionamentos específicos, em primeiro lugar: Como este processo contribui para o fortalecimento desses(as) agricultores(as) familiares em Chapecó?; em segundo lugar: Quais as razões deste consumo sustentável a partir das percepções dos consumidores?
Ao considerar a temática e a problemática, o objetivo central do estudo é analisar as dinâmicas de comercialização da produção agroecológica no município de Chapecó. Como objetivos específicos, buscamos: compreender como esse processo contribui para o fortalecimento dessas famílias tanto no âmbito social como no ambiental e no econômico; e entender as razões deste consumo sustentável a partir das percepções dos consumidores.
O município de Chapecó, selecionado para realização da pesquisa, foi escolhido de forma intencional, considerando de que já se conhece a realidade local quanto à agricultura familiar e de que o capital social, ou seja, a presença de agricultores(as) familiares com certificação agroecológica e com longa experiência nos processos de comercialização, com condições de responder os objetivos pretendidos em nossa pesquisa. Assim, nosso propósito é dialogar tanto com consumidores como com agricultores(as) familiares que atuam tanto na produção como na comercialização em CCAAs de produtos agroecológicos no município pesquisado.
Este estudo apresenta-se em caráter preponderantemente qualitativo, contudo, não se renunciará à consulta às bases de dados estatísticas que possam contribuir para compreensão da realidade social investigada. Por pesquisa qualitativa assumimos a perspectiva em que são valorizados os sentidos e os significados de indivíduos ou grupos frente aos problemas sociais (CRESWELL, 2010).
Na visão de Vieira (2004, p. 18), o método qualitativo oferece possibilidades de “[...] maior grau de flexibilidade ao pesquisador para adequação da estrutura teórica ao estudo do fenômeno [...]”. Denzin e Lincoln (2010) caracterizam o “fazer” do método qualitativo como sendo amplo e de caráter de “confeccionador” de colchas. O método qualitativo relaciona-se a um trabalho artesanal, realizado com muito cuidado e critério a todos os detalhes. O método qualitativo deve ser entendido como um instrumento, um caminho para construção da crítica social (SCHWANDT, 2006).
A abordagem qualitativa justifica-se pelo conjunto de suas características, ou seja, considerando o ambiente natural como coleta de dados, análise descritiva tanto para coleta quanto para exposição dos resultados, compreensão da realidade a partir dos sujeitos investigados e enfoque indutivo para análise dos dados (GODOY, 1995).
A entrada no campo de pesquisa é definida por Flick (2009, p. 109) como “[...] mais crucial na pesquisa qualitativa do que na quantitativa. Aqui, o contato buscado pelos pesquisadores é o mais próximo ou mais intenso, o que, em resumo, pode ser demonstrado em termos das expectativas associadas a alguns dos métodos qualitativos atuais.” Nesse horizonte, utilizar-se-á da entrevista semiestruturada como instrumento de obtenção/construção dos dados de pesquisa.
Para Minayo (2010, p. 261), a entrevista tomada em seu “[...] sentido restrito de coleta de informação sobre determinado tema científico é a estratégia mais usada no processo de trabalho de campo.” Para fins deste estudo, a escolha foi por um processo de “entrevista aberta ou em profundidade” como àquela “[...] em que o informante é convidado a falar livremente sobre um tema e as perguntas do investigador, quando são feitas, buscam dar mais profundidade às reflexões.” (MINAYO, 2010, p. 262).
Em estudo qualitativo, os sujeitos devem possuir atributos e condições para contribuir na busca do objetivo; dessa forma, o número de sujeitos deixa de ser uma questão quantitativa e vincula-se a potencialidade desses sujeitos em contribuir para construção de sentidos em relação ao problema investigado. Neste sentido, o número de entrevistados não foi estabelecido ex ante à pesquisa de campo, mas sim no decorrer do processo por intermédio do princípio de saturação. Este procedimento consiste em encerrar as entrevistas a partir do momento em que o pesquisador perceba que novos entrevistados não estejam mais fornecendo fatos novos ao objeto de estudo investigado. Os sujeitos de pesquisa foram selecionados a partir de dois grupos: i) agricultores(as) familiares com estabelecimentos rurais com certificação agroecológica pertencente ao município selecionado para esta pesquisa; ii) consumidores chapecoenses frequentadores dos espaços de feira e/ou consumidores que adquirem via redes sociais ou aplicativos de celulares via delivery. Ao todo foram entrevistados, no decorrer do campo de pesquisa, seis famílias de agricultores(as) familiares. Segundo associação de produtores agroecológicos do município de Chapecó, havia apenas oito famílias produtoras com certificação agroecológica no segundo semestre de 2022, as demais não foram entrevistadas em função da disponibilidade. Em continuidade foram entrevistados cinco consumidores de produtos agroecológicos no município de Chapecó, a escolha se de forma intencional em um espaço de feira localizado no município. O período de realização da pesquisa ocorreu entre julho a setembro do ano de 2023.
Anteriormente ao momento da entrevista, foi lido e apresentado o “Termo de Livre Consentimento Esclarecido” para cada entrevistado(a). As entrevistas foram gravadas digitalmente, para posterior transcrição e análise das informações. Posteriormente à realização das sessões de entrevistas, foram realizadas as transcrições para documento de texto.
Em relação aos procedimentos de análise dos dados, este foi elaborado por meio da análise de conteúdo nos termos de Bardin (2016) e contará com pelo menos três etapas fundamentais: i) aproximação e pré-análise; ii) exploração, seleção e análise do material; iii) tratamento dos resultados, articulação com outros estudos e teorias existentes.
4 Análise e discussão dos resultados
Os agricultores familiares que produzem e comercializam alimentos através dos circuitos curtos de abastecimento alimentar em Chapecó, possuem unidades de produção que apresentam em média 15 hectares (ha), contudo, as propriedades variam de 1,2 ha até 48 ha. Ao desconsideramos a propriedade de maior área, a média passa para 8,5 ha, caracterizando as propriedades das famílias entrevistadas como pequenas e muito pequenas.
No que se refere aos vínculos com estes espaços rurais, a predominância de décadas dessas famílias em suas propriedades, com exceção dos participantes da Entrevista 04, que se estabeleceram há 12 anos. Os(as) agricultores(as) das Entrevistas 01, 02 e 03 registraram que estão há mais de 60 anos vivendo na propriedade, as quais herdaram no processo sucessório. De acordo com os dados da pesquisa, o número de pessoas envolvidas na produção no conjunto das famílias de entrevistados foi de 17 pessoas, variando de duas a quatro pessoas de propriedade para propriedade. Em relação à faixa etária, 41,2% dos participantes na produção agroecológica possuíam acima de 60 anos, 35,3% possuíam até 30 anos, 11,8% entre 41 e 50 anos e entre 31 e 40 anos e entre 51 a 60 anos registraram 5,9%.
Em continuidade, o conjunto de famílias entrevistadas apresenta experiência no que se refere ao tempo que se dedica à produção agroecológica, o tempo médio é próximo de 14 anos, em que os(as) agricultores(as) da Entrevista 05 já estavam há mais de 30 neste modelo de agricultura. Ao questionarmos os motivos os quais levaram às famílias a produzir alimentos de forma agroecológica, a qualidade de vida foi ressaltada na Entrevista 04: “[...] pensando na qualidade de vida, numa alimentação mais saudável e também levar um alimento de qualidade para as pessoas [...]”.
Nesta esteira, a Entrevista 02 sinalizou que foi em momentos de formação que inseriu a família no sistema agroecológico:
[...] ensinavam a gente trabalhar com agroecologia, foi ali que eu soube o que era agroecologia, aí quando veio essa visão de que o agroecológico era produtos mais puros, que não tinham veneno, daí eu fui optando por esse tipo, não queria saber mais de veneno, foi no começo dos anos 2000 que eu comecei a entrar nesse sistema. (ENTREVISTA 02).
Já os relatos das Entrevistas 05 e 06 acrescentam que a questão econômica/comercial também foi um diferencial para suas inserções na produção agroecológica, conforme destacamos: “[...] a área convencional tem com muita concorrência, né? Trabalhar na área agroecológica é um diferencial [...]” (ENTREVISTA 05); “Com a produção de verduras você consegue ter uma receita de capital de giro semanal, mensal que facilitou de se organizar.” (ENTREVISTA 06).
No que se refere aos alimentos produzidos de forma agroecológica, naturalmente, as famílias apresentam grande diversidade de culturas e produtos, os quais se distribuem em verduras, legumes, frutas, sementes e chás. Estes dados se aproximam com os resultados encontrados em pesquisa com a mesma temática realizada por Menezes et al. (2020) indicando a incorporação de um grupo diversificado de produtos que outrora estava chamada economia feminina nos estabelecimentos rurais. É importante ressaltar que, das seis famílias entrevistas, quatro possuem autorização/regularização para processamento que resultam, por exemplo, na produção e/ou processamento de geleias, chás, sucos, mandioca descascada, entre outros.
Ainda em relação à produção agroecológica, vários foram os desafios colocados. Na Entrevista 01, os(as) agricultores(as) relatam que: “O que nós sentimos aqui seria a mão de obra, porque exige muito da gente.” Esta é uma dimensão regional da condição demográfica em que a variável migração tem desempenhado um papel crucial, de modo que a maior parte das propriedades rurais contam unicamente com o casal de proprietários (RENK; DORIGON, 2014).
Na Entrevista 05, é argumentado que na produção agroecológica “[...] não existe uma fórmula científica, você precisa adquirir conhecimento e experiência e se dedicar.” O clima foi outro aspecto apontado, em que os agricultores da Entrevista 06 apontam que: “A gente não consegue controlar o clima e acaba que a gente não consegue produzir bastante.” Já na Entrevista 02, foi mencionado que, além da dificuldade quanto à orientação técnica, não há incentivos por parte do Estado, que “[...] não tem dinheiro público disponível, o PRONAF é só convencional, teve uma época que tinha o PRONAF Agroecologia, mas virou só burocracia.”
No tocante ao financiamento das atividades produtivas, das seis famílias entrevistadas, apenas três em algum momento contaram com o financiamento via sistema bancário, contudo, as operações foram realizadas via PRONAF tradicional, ou seja, não ocorreram via PRONAF Agroecologia. Von der Weid (2006) e Fossá et al. (2023) demonstraram em seus estudos o cenário restritivo em relação ao PRONAF Agroecologia, especialmente quanto aos entraves burocráticos.
As demais famílias foram se estruturando por conta própria, aos poucos, conforme as possibilidades financeiras. A Entrevista 01 é profícua ao demonstrar esta realidade: “[...] investimos bastante na estufa e coisas do tipo, foi feito financiamento e até hoje estamos pagando, mas vimos que não é o caminho ir atrás de dinheiro, então você vai devagar, vai comprando e pagando.”
No que diz respeito à comercialização da produção agroecológica, as famílias entrevistadas se utilizam do comércio local por meio de estratégias que se enquadram no conceito de CCAAs, especialmente quanto a modalidade Face-Face. Entre os canais de comercialização estão: i) feiras municipais/feira em universidade; ii) entrega a domicílio de cestas/delivery; iii) PNAE; iv) supermercados/comércio especializado; v) vendas no estabelecimento rural. É importante ressaltar que duas famílias de agricultores realizam a divulgação, bem como as vendas, via redes sociais, especialmente pelo Instagram, como uma nova forma de comunicação, operacionalizando os pedidos e entrega via WhatsApp. Nesta esteira, é importante ressaltar que estas novidades,
[...] definidas como novas práticas dos atores, que em interações com os diferentes tipos de conhecimentos e experiências de outros, constroem soluções sociotécnicas criativas em seus contextos locais, visando melhorar ou resolver problemas que afetam rotineiramente sua vida social ou seus processos de trabalho. Igualmente, as novidades ressaltam a agência dos atores nos processos criativos em que estes assumem atitudes proativas nos processos de construção social das novas práticas e técnicas. (GAZOLLA; AQUINO, 2021, p. 284).
Quanto à demanda, o cenário apresentado pelos(as) agricultores(as) que se dedicam à produção agroecológica no município de Chapecó é altamente positivo. O relato da Entrevista 06 demonstra este cenário: “[...] se a gente produzisse mais, venderia mais.” Isso é complementado, respectivamente, nas Entrevistas 01, 02, 03, 04 e 05: “Sim, tem procura, tem até lista de espera.”; “Tem bastante gente que procura, trabalhamos com as cestas.”; “Temos bastante demanda, vendemos tudo que temos.”; “Até que sim, a gente está conseguindo manter uma boa variedade [...]”; “Temos bastante demanda.” Em relação à demanda dos produtos, essa pode ser explicada a partir dos hábitos e vínculos regionais ainda entrelaçados socialmente e culturalmente com o rural (MALUF; ZIMMERMANN, 2020).
Já em relação aos desafios e oportunidades da comercialização dos produtos agroecológicos, dois aspectos principais se sobressaíram. O primeiro está relacionado à capacidade de produção e a manutenção da qualidade do produto. Para a família depoente na Entrevista 01, “[...] a maior dificuldade é a gente produzir na nossa qualidade, um bom produto vende em qualquer lugar.” Em continuidade, na Entrevista 02 consta o seguinte relato: “Não é difícil vender, é fácil, difícil é ter o produto, nós temos pouca mão de obra.” O segundo aspecto posto por parte dos entrevistados está relacionado ao preço dos produtos, conforme é destacado na Entrevista 05: “Hoje é o preço, nossa região não é uma região que tem tradição de se alimentar com produtos mais saudáveis, gostam muito de comprar aquele produto mais barato, mais em conta, nem que tenha agrotóxico ou que seja produzindo de uma forma mais incorreta [...]”.
A este respeito, coadunamos que
[...] sistemas sociais relacionados com os alimentos e a alimentação constituem conjuntos complexos de inter-relações entre seus componentes, que evoluem com contradições, portanto, com conflito e desequilíbrio nas relações sistêmicas presentes nas dinâmicas econômicas, sociais e políticas. (JOMALINIS; MALUF, 2022, p. 159).
No que se refere à interação com os consumidores, uma das características fundamentais dos CCAAs, nos termos de Zimmermann et al. (2022), há afirmações que demonstram esta dinâmica entre os produtores e seus clientes. A família da Entrevista 01 relata: “Olha, eu até antes de entrar na feira eu achava falta, eu gosto, sou meio tímido, mas só que eu acho falta da gente estar interagindo com o povo.” Já na Entrevista 04 é apontado que “[...] é uma relação de confiança mesmo, queremos abrir nossa propriedade daqui um tempo para as pessoas virem conhecer.” Em complemento, na Entrevista 03 se afirma que “[...] fizemos amizades, eles já conhecem o produto, nós já conhecemos o cliente.”
A partir da perspectiva de interação com os(as) consumidores(as), adentramos na apresentação e análise dos achados do campo de pesquisa a partir da visão do grupo de entrevistados. Conforme já mencionamos, foram entrevistados(as) cinco consumidores(as) no momento em que realizam suas compras junto aos produtores agroecológicos no município de Chapecó. Na média, os(as) entrevistados(as) possuíam aproximadamente 54 anos, variando entre 39 e 67 anos de idade. Em relação ao grau de escolaridade e renda familiar, 100% responderam possuir ensino superior completo e rendimentos superiores a cinco salários mínimos. Em relação ao grau de escolaridade, os resultados coadunam com o perfil de consumidores apontados por Portilho (2005), os quais possuíam alto grau de escolaridade.
Ao questionarmos há quanto tempo tais consumidores, quando possível, optam por produtos agroecológicos, todos(as) ressaltam que há muitos anos adotam este comportamento de compra, sendo que, em média, os(as) entrevistados(as) estão há aproximadamente 10 anos. Em relação aos locais de compra destes produtos, todos(as) revelaram que realizam nos espaços de feira, além de também realizarem as suas aquisições por meio de delivery/aplicativos/redes sociais.
No que se refere aos motivos que levaram os consumidores a optarem por alimentos agroecológicos, a qualidade do alimento e o processo de produção sem o uso de agrotóxicos se sobressaíram. O relato da Entrevista 07 afirma que: “Pela qualidade, variedade e por incentivar os produtores locais, porque o pessoal que planta aqui, vende aqui.” Já a consumidora da Entrevista 08 aponta: “A minha escolha pelos orgânicos ou agroecológicos é pela saúde, com intuito de diminuir consumo de agrotóxicos e transgênicos.” Em complemento, nas Entrevistas 09 e 10 são apontados aspectos relacionados à saúde, respectivamente: “Saúde, beleza e são fresquinhos, é colhido na hora.”; “[...] preocupação com saúde, preocupação com o uso de agrotóxicos, acompanho sempre os debates acerca da alimentação saudável.”
No que se refere à diversidade do consumo dos produtos agroecológicos, este está atrelado às preferências individuais e familiares. Contudo, os legumes e verduras foram os itens citados por todos(as) os(as) consumidores(as) entrevistados(as). Apesar da diversidade registrada em termos de produção, os(as) consumidores(as) entrevistados(as) se mostraram interessados em produtos que atualmente não são comercializados, entre os quais: i) maior variedade de frutas; ii) frango caipira; iii) milho verde; iv) brotinhos; v) melão colonial; e vi) bolachas caseiras (da vovó).
5 Considerações finais
Esta pesquisa, ao se propor analisar as dinâmicas de comercialização em CCAAs da produção agroecológica no município de Chapecó, coloca no debate uma temática de fundamental importância ao segmento da agricultura familiar, assim como também todo o conjunto da sociedade. A perspectiva da produção de alimentos agroecológicos, apesar de estar cada vez mais valorizada, ainda se apresenta de forma restrita e inserida em um ambiente de inúmeros desafios no município estudado.
As CCAAs se colocam como um conceito fundamental quanto ao abastecimento alimentar, pois é por meio dos canais locais que a agricultura familiar pode potencializar a comercialização de sua produção. Em Chapecó, as CCAAs, no que se refere à comercialização agroecológica, ocorrem por meio das feiras municipais, feira em universidade, casas especializadas e duas iniciativas de agricultores familiares que se desafiam a vender seus produtos por intermédio das redes sociais e aplicativos de conversa.
Os principais desafios dessa dinâmica, os quais foram colocados pelos agricultores e agricultoras entrevistados(as), estão associados aos fatores de produção, como a escassez da mão de obra, e aos aspectos relacionados à comercialização dos seus produtos, especialmente a valorização em termos dos preços dos produtos.
Um elemento fundamental está atrelado à demanda existente por alimentos produzidos de forma agroecológica, pois todas as famílias produtoras entrevistadas consideraram que a procura por estes produtos é maior do que a oferta. Assim, esse cenário pode ser o fio condutor para um rearranjo estrutural, em que mais famílias do município de Chapecó possam se inserir nessa forma de agricultura. As estratégias de CCAAs podem potencializar essa dinâmica na medida em que são desenvolvidas, principalmente na aproximação entre produtores e consumidores. O fortalecimento dos mercados locais pode significar, de um lado, a geração de trabalho e renda e, de outro, aos consumidores, o acesso a alimentos saudáveis, de qualidade à base de produção agroecológica.
Entretanto, é necessário que a dinâmica da comercialização agroecológica entre na pauta pública, pois agentes públicos, organizações da sociedade civil e consumidores precisam se articular em torno deste processo no sentido de fortalecimento das ações e iniciativas existentes. Como dizia aquele ditado antigo, “pelo andar da carruagem”, o que se tem é justamente o contrário, um número reduzido de famílias produtoras, ausência de incentivos por parte dos governos municipal e estadual e, como causa dos dois aspectos listados anteriormente, fragilidades exponenciais na organização dos movimentos sociais do campo e da cidade que pautam tanto a produção como o consumo de alimentos agroecológicos no município de Chapecó.
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Notas