Dossiê
PERSONAGENS FEMININAS DO LIVRO PARADIDÁTICO “TOSCO”: EDUCAÇÃO SOBRE GÊNERO E IDENTIDADE
THE FEMALE CHARACTERS OF THE DIDACTIC BOOK "TOSCO": EDUCATION ON GENDER AND IDENTITY
PERSONAGENS FEMININAS DO LIVRO PARADIDÁTICO “TOSCO”: EDUCAÇÃO SOBRE GÊNERO E IDENTIDADE
Periferia, vol. 10, núm. 2, pp. 181-202, 2018
Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Resumo: O presente trabalho é resultado da pesquisa desenvolvida no âmbito do projeto “Materiais Didáticos e Paradidáticos sobre Medicamentos, Álcool e Outras Drogas para o Ensino Básico: abordagens, linhas de ação e finalidades”, que analisa as publicações dos últimos 20 anos no Brasil. As fontes analisadas são o livro paradidático Tosco (2009), de Gilberto Mattje, escrito para alunos do terceiro e quarto ciclos do fundamental, que trata dos conflitos adolescentes e riscos implicados nessa fase da vida; e o livro Compreendendo Tosco (2011) escrito, pelo mesmo autor, como um guia de leitura autorizada do primeiro, especialmente voltado aos professores, com indicações de atividades para serem trabalhadas com os alunos. O objetivo foi analisar o processo de construção das personagens femininas do livro Tosco, considerando, como aspecto mais geral da análise, que as circunstâncias criadas para a leitura participam da construção dos seus significados (CHARTIER, 2002); como aspecto mais específico, que as representações de gênero e sexualidade são construídas por meio de múltiplas aprendizagens e práticas, por meios nem sempre explícitos (LOPES, G., 2008) e que tais aprendizagens e práticas reforçam identidades sociais e políticas forjadas por discursos ancorados na tradicional forma de acumulação de conhecimento pelo pensamento ocidental (MIGNOLO, 2008). Nossa análise buscou compreender os sentidos das políticas públicas que deram/dão sustentação à adoção destes livros pelas escolas públicas brasileiras. Concluímos que a luta das mulheres pelo direito de falar de si e por si não encontra amparo nestes livros.
Palavras-chave: paradidático, mulheres, educação.
Abstract: This work is the result of the research carried out in the framework of the project "Didactic and Teachers Guide Materials on Drugs, Alcohol and Other Drugs for Basic Education: Approaches, Lines of Action and Purposes", which analyzes the publications of the last 20 years in Brazil. The sources analyzed are Gilberto Mattje's Tosco book (2009), written for students in the third and fourth cycles of the fundamental, which deals with adolescent conflicts and risks involved in this phase of life; And Understanding Tosco (2011), written by the same author, as an authoritative reading guide of the first, especially aimed at teachers, with indications of activities to be worked on with the students. The objective was to analyze the process of constructing the female characters of the Tosco book, considering, as a more general aspect of the analysis, that the conditions created for reading participate in the construction of their meanings, and, as a more specific aspect, that the representations of gender And sexuality are constructed through multiple learning and practices, by means not always explicit (LOPES, G., 2008). The analysis is oriented in two senses, the macro and the microanalytical. The first, considering the perspective of the history of the book, edition and reading (CHARTIER, 2002), from which the conditions of publication and the various actors involved in this process give meanings to the texts, our analysis sought to understand the meanings of the policies Which gave support to the adoption of these books by the Brazilian public schools. We conclude that the struggle of women for the right to speak about themselves does not find support in these books.
Keywords: teachers guide materials, women, education.
INTRODUÇÃO
Este trabalho propõe uma análise do paradidático Tosco (Figura 1), livro adotado por 21 municípios do estado do Rio de Janeiro em parceria com a Secretaria de Prevenção à Dependência Química (SePreDeQ), entre os anos 2015 e 2017. O projeto norteador da adoção do livro pela secretaria de estado chama-se Tosco em ação[3] e teve por finalidade realizar um trabalho de prevenção ao uso das drogas e a diminuição da violência no âmbito escolar. O autor, Gilberto Mattje, é filósofo e psicólogo, especialista em psicanálise, mestre em psicologia social e da saúde, psicólogo clínico e professor universitário. O livro foi publicado pela editora sul-mato-grossense Alvorada em 2009. O objetivo desse trabalho é promover uma discussão sobre a forma como as personagens femininas do livro são construídas, com destaque para a personagem mãe do protagonista. Em nossa leitura, o livro replica um lugar comum às personagens femininas na literatura.
Como fonte de informações sobre os elementos que motivaram a criação da obra supracitada recorremos ao livro-suplemento, intitulado Compreendendo Tosco (CT), do mesmo autor, publicado em 2011 pela mesma editora (Figura 2). Segundo o próprio, o livro Tosco resulta da percepção do ambiente escolar como espaço de crescente agressividade e violência, propondo, através da história narrada, auxiliar na minimização dessa situação. O projeto “Tosco em ação” expande a proposta inicial do livro ao construir possibilidades de trabalhar a multiplicidade de questões que concorrem para o cenário de violência no ambiente escolar. Nesse sentido, afirma o autor:
“Compreender toda essa gama de comportamentos, suas razões, e conhecer minimamente todo o processo, poderá significar mais domínio no lidar com adolescentes. Parte-se do pressuposto que, se sabendo o que acontece com o interlocutor, sabe-se porque este desperta determinados sentimentos e emoções.” (MATTJE, 2011:16)
O suplemento Compreendendo Tosco, (MATTJE, 2011), é um guia de orientação didático-pedagógica sobre o livro Tosco para os professores (FIGURA 2). Ele é escrito especialmente para os professores como parte do projeto “Tosco em ação”, onde o autor apresenta as fundamentações teóricas que o conduziram na escrita do livro paradidático Tosco. O CT está dividido em dois preâmbulos de abertura, 4 capítulos e mais a bibliografia:
Primeiras palavras; Aristóteles; 1 – Identificando o adolescente; 2 – Da agressividade à agressão; 3 – Concepções teóricas subjacentes no livro Tosco; Importar tabla 4 – Trabalhando com Tosco; Bibliografia.
No preâmbulo Primeiras Palavras, o autor apresenta a história do livro Tosco e afirma que “o livro tenta desenvolver valores éticos e morais nos adolescentes estudantes”, sendo o CT um subsídio ao fazer pedagógico dos educadores. O preâmbulo seguinte, intitulado Aristóteles, traz uma longa citação do filósofo sobre os jovens, onde descreve as características desses retomadas no capítulo 1 pelo autor, sugerindo equivalência entre juventude, puberdade e adolescência e atemporalidade das questões que as envolvem.
O autor se atém à fase da adolescência, discorrendo a respeito dos desafios e ambiguidades emocionais e comportamentais típicos do período, expressos em protestos e manifestações variadas. Esse período de transição da infância para a fase adulta, defende o autor, pode gerar adolescentes indecisos e ansiosos que buscam no coletivo a proteção necessária contra a angústia diante de tantos caminhos possíveis, oferecendo-lhes opções e cobrando-lhes decisões.
Também são elencados pelo autor a complexidade de fatores para a abordagem dos temas relacionados ao estudo, ao sexo, às drogas, à interação social e ao trabalho. E define a agressividade, tal como é entendida na psicanálise, como um comportamento necessário, pois significa a expressão de energia instintiva em busca de satisfação em função da sobrevivência. Acrescenta também que o meio social pode repetir e fortalecer muitas situações de frustração e sofrimento, tendo como resposta a raiva e, em seguida, o desejo de destruição provocado por uma dor imensurável, pelo sentimento de um “eu” sem esperança na realização de suas necessidades.
O autor afirma ser o ambiente escolar um espaço privilegiado para trabalhar essas e outras temáticas, pois a escola se tornou um lugar fecundo para esse tipo de manifestação, porque consegue abrigar os três principais protagonistas apontados pelo autor como essenciais: os agressores, as vítimas e os espectadores. Essas atitudes agressivas e conflituosas são chamadas no texto de “desadaptadas” e de bullying. É neste contexto que o professor se vê em meio a um jogo de representações, sendo alvo de expectativas e de frustrações.
No capítulo 3, o autor apresenta os fundamentos teóricos do livro, “as concepções subjacentes ao livro Tosco” (MATJJE, 2009, p. 23) citando os autores Donald Wnnicott, Lev Vigotsky, Wilfred Bion, David Ausubel, George Snyders, Carl Jung e Paulo Freire, e completa afirmando que “O material segue a dinâmica sugerida por Joseph Campbell e Cristopher Vogler, roteiristas de Hollywood que se baseiam no pensamento de Carl Jung, com seus arquétipos sociais...”(MATJJE, 2009, p. 23). No quarto e último capítulo, que corresponde à metade do suplemento, há uma série de 27 propostas de atividades pedagógicas sugeridas aos docentes envolvidos no projeto “Tosco em Ação”. As atividades propostas no livro CT indicam formatos e não conteúdos a serem abordados, cabendo aos professores defini-los. O conjunto do aqui chamaremos de situações-problemas narradas no livro, contudo, se não trabalhadas e correm o risco de serem naturalizadas reforçando que o deveria desconstruir. No que tocante à questão de gênero, indagamos quantas situações-problemas não estão já naturalizadas a ponto de passarem desapercebidas e reforçarem o que pretendem questionar.
O enfoque desse trabalho são as personagens femininas da história, com destaque para a “mãe”, antagonista na história e sem nome próprio, assim como o protagonista, conhecido apenas por seu apelido, Tosco. Nossa proposta é problematizar a questão de gênero na construção discursiva do livro Tosco, textual e imagética, entendendo que moralidades e valores ali expressos podem não suscitar discussões, mas consolidar preconceitos e desigualdades de gêneros.
PENSANDO RELAÇÕES DE GÊNERO, ESTADO E MERCADO EDITORIAL
Refletindo sobre o conceito gênero, recuperamos o já clássico entendimento de que ele não designa apenas o caráter biológico que diferencia homens e mulheres, podendo erroneamente ser compreendido como sinônimo de “mulher”. Joan Scott traz a importância de pensar nas formas de usos dos conceitos de sexo e gênero na linguagem, nas instituições, nos símbolos para poder historicizá-los e torná-los analíticos e não apenas descritivos (SCOTT, 1995). “Gênero” não pretende significar o mesmo que sexo, pois enquanto sexo se refere à identidade biológica da pessoa, gênero está ligado à construção social dos sujeitos (LOURO, 1996). Raquel Soihet nos lembra a historiografia tradicional onde a “identificação mulher/natureza, em oposição àquela de homem/cultura”, que localizava o papel da mulher no espaço privado, Importar tabla enquanto o espaço público era domínio dos homens (SOIHET, 1997: 98).
Nas últimas décadas os debates sobre gênero se tornaram ainda mais complexos, compreendendo novas e amplas formas de constituir identidades sexuais e abordar as questões de gênero. Recentemente, Adriana Vianna e Laura Lowenkron, em artigo onde analisam a constituição mútua dos conceitos de gênero e Estado em trabalhos acadêmicos etnográficos, exploraram as naturalizações e os deslocamentos desses na relação prático-teórica dos processos sociais e material, um duplo fazer expresso na “estatização do gênero e a generificação do Estado” (VIANNA, LOWENKRON, 2018, p. 22). Enfatizam que os processos de fixar e estabilizar sentidos e representações se projetam, a despeito da “permanente instabilidade e fluidez dessas categorias ou campos semânticos”, como forma estruturante das relações de poder (2018, p. 49) tanto por aqueles que pensam mais detidamente as questões de gênero quanto por aqueles que se ocupam de pensar o Estado. Negando externalidades, mas compreendendo interações recíprocas entre ambas instâncias, as autoras afirmam:
É a partir desses jogos de fluidez e fixação que aparecem flutuações e variações de atributos morais e de gênero consignados ao Estado, fazendo com que seja possível nas mesmas situações tomá-lo como agressivo, violador e entidade responsável por danos sociais e afetivos profundos e referir-se a ele como instância protetora ou arena última de reparação desses mesmos danos (VIANNA; LOWENKRON, 2018, p. 49).
Ao pensarmos sobre desigualdades, hierarquias e opressões presentes nas experiências de interação social e nas formas de como o Estado participa “ora epíteto geral e englobante; ora materialidade institucional específica; ora uma pessoa concreta, um policial, um governante, um burocrata” (VIANNA, LOWENKRON, 2018, p. 49), faz-se necessário atentarmos para o fato de que “o cotidiano das instâncias administrativas que se fazem Estado nas vidas das pessoas está atravessado por pedagogias da desigualdade de toda ordem, inclusive de gênero” (VIANNA, LOWENKRON, 2018, p. 50). Nesse sentido, trazemos à discussão as relações de gênero no livro em tela, observando que os modos como o texto traz o tema à cena não configura problematização da temática, uma vez que o enraizamento e a naturalização da questão podem perpetuar violências de gênero e não combatê-las. As autoras assim colocam:
Caberia talvez nos perguntarmos se é possível para a maior parte de nós, considerando a força e abrangência do Estado como ideia e como pluralidade material em nossas vidas, organizar-nos narrativamente em relação a nós mesmos, nossos projetos de futuro, nossas mágoas e alegrias sem de algum modo enredarmo-nos em narrativas de e sobre o Estado, acionando para isso gramáticas fortemente generificadas e vice-versa (VIANNA; LOWENKRON, 2018, p. 51).
Enquanto peça central de uma política pública educacional, o projeto “Tosco em ação”, o livro Tosco pode ser tomado como um lugar de circulação dos conceitos de gênero e Estado, sem que isto implique problematização das “moralidades, racionalidades e políticas” a acioná-lo, operando “reiterações narrativas” que perpetuam desigualdades, hierarquias e opressões enquanto dispositivo pedagógico, que se torna ao ser constituído como base de uma política pública.
Contribuindo com essa perspectiva, Bourdieu (2002) afirma que o homem sequer precisa declarar sua suposta superioridade, vez que, tendo assumido esse papel sociocultural há muito tempo, a legitimidade do seu discurso já foi reconhecida pelo grupo dominado. E acrescenta:
(...) sempre vi na dominação masculina, e no modo como é imposta e vivenciada, o exemplo por excelência desta submissão paradoxal, resultante daquilo que eu chamo de violência simbólica, violência suave, insensível, invisível a suas próprias vítimas, que se exerce essencialmente pelas vias puramente simbólicas da comunicação e do conhecimento, ou mais precisamente, do desconhecimento, do reconhecimento ou, em última instância, do sentimento. (BOURDIEU, 2002)
Roger Chartier, recupera Michel de Certeau quando afirma “a leitura não se protege contra o desgaste do tempo (nós nos esquecemos e nós a esquecemos); ela pouco ou nada conserva de suas aquisições” (CHARTIER, 1998:11), nos fala sobre a diferença entre o texto escrito e as leituras possíveis desse mesmo texto enfatizando o caráter conservador, fixo e durável do primeiro, enquanto a segunda é efêmera, dispersa e raramente deixa marcas. Por isso, “liberta-se de todos os entraves que visam submetê-la” (CHARTIER,1998: 11). Tal aspecto constitui o fundamento obrigatório dos processos de escrita e leitura e continua:
Um tal projeto repousa, por princípio, num duplo postulado: que a leitura não está, ainda, inscrita no texto, e que não há, portanto, distância pensável entre o sentido que lhe é imposto (por seu autor, pelo uso, pela crítica, etc.) e a interpretação que pode ser feita por seus leitores; consequentemente, um texto só existe se houver um leitor para lhe dar um significado (CHARTIER,1998, p. 11)
Roger Chartier faz uma distinção importante entre dois conjuntos de dispositivos: 1 – “os que destacam estratégias textuais e intenções do autor”; 2 – “os que resultam de decisões de editores ou de limitações impostas por oficinas impressoras” para lembrar que toda compreensão de qualquer texto depende “das formas através das quais ele atinge o seu leitor” (CHARTIER,1998, p. 18). Do conjunto dessas formas, imagens e gravuras podem funcionar como “protocolos de leitura ou lugares de memória” com finalidades pedagógicas e disciplinadoras. Contudo, nenhum dispositivo é capaz de circunscrever as possibilidades das práticas de leituras a ponto efetivar pretensões de fazer os livros funcionarem para regulação das condutas e modelação dos espíritos (CHARTIER,1998, p. 25).
A QUESTÃO DE GÊNERO NO LIVRO TOSCO
Tosco é o apelido dado ao protagonista da história, do que decorre ser o nome do livro. A história conta a vida desse menino, fruto de um casamento conturbado, o segundo da mãe, que abandonou o primeiro marido e mais três filhos em outra cidade para começar uma nova família com o pai do Tosco. No entanto, o atual marido tinha problemas de alcoolismo e agressividade e, quando presente, exercia sua função de patriarca da família através da violência. A mãe era, por sua vez, uma mulher de autoestima muito baixa, emocionalmente desorganizada e que replicava a dinâmica familiar violenta. Não há referência a outros membros da família, materna ou paterna, tais como avós, tios e primos. Tendo uma vida familiar onde a violência (física, verbal, moral) era o mais recorrente meio de interação e comunicação, o protagonista da narrativa, desde muito pequeno, apresentava problemas de sociabilidade e disciplina na escola. A partir dos 7 anos de idade, ele dá início a uma escalada de violações de regras e violências constantes até os 16-17 anos, quando o ápice do enredo ocorre, com confronto e violência policiais, prisão e morte de um amigo do protagonista. Aos 9 anos, o pai, após um desentendimento com a mãe, abandona a família e não retorna. A partir desse ponto, a narrativa descreve o percurso do jovem e agressivo protagonista nas drogas, na iniciação sexual, na participação de grupos que cometem delitos até sua redenção, por influência do novo professor de educação física, e, sobretudo, pelas mudanças pequenas, mas significativas, nas escolhas do adolescente, indicando ter o personagem, apesar de todo ambiente contrário, o desejo essencial de se construir na “diferença positiva” e de compartilhar, igualmente às demais pessoas, alegrias e felicidades da vida, entendidas aqui como ter boa formação escolar/profissional, emprego e família, como em um filme de ação hollywoodiano com final feliz.
Loraux (apud Stevens) identifica que nas tragédias gregas, a galeria de mulheres e homens que morrem de forma violenta não é pequena, entretanto, ao comparar vinte e uma personagens femininas com igual número de personagens masculinas, constata-se uma enorme diferença nas modalidades de suas mortes. Enquanto os homens têm quase sempre uma morte gloriosa e heroica, que será perpetuada pela literatura clássica, as mulheres têm muitas vezes morte sacrificial, imposta pelas necessidades da cultura violenta dos homens. Apesar de não constar no nosso livro-objeto a morte de nenhuma personagem feminina, a citação acima nos impõe considerar que desde os tempos clássicos até a pós-modernidade, a mulher seja representada na arte literária, tal como as sociedades são organizadas, como isenta de autonomia na determinação de seu destino e frágil em contextos violentos em detrimento das personagens masculinas ou submissas à autoridade masculina.
Sobre esse contexto, Stevens afirma que não é coincidência as mulheres estarem em posição de destaque nesse processo de questionamentos e inovações do fazer historiográfico, assim como Raquel Soihet, comentada acima, mas também e literário, tendo em vista a importância reduzida que foi dada a elas até um passado recente. O não dito a respeito das mulheres torna-se terreno fértil para a especulação e criação por parte dos escritores que, segundo o autor, com liberdade poética, mentem verdadeiramente.
No livro, o autor, a título de criar situações que suscitem debates, forja uma variedade de ocorrências às personagens femininas ao longo da trama. Destinado ao espaço escolar, especialmente aos alunos do 3º e 4º ciclo do ensino fundamental, chama atenção o fato de que todas as professoras tenham sido incapazes de lidar com o protagonista e outros alunos em situações de conflito e agressividade. Suas falas não eram ouvidas pelo protagonista (Figura 5) e brincadeiras abusivas eram recorrentes, como a que os alunos presenteiam a professora com uma vassoura, sendo o Tosco escolhido pela turma para entrega- Importar tabla lo (Figura 6).
A única exceção ocorre quando uma de suas professoras percebeu Tosco como um líder nato diante da turma e lhe pediu para ajudá-la com os colegas da turma:
A nova professora parecia mais experiente. No primeiro dia me chamou. Pensei que seria mais uma daquelas broncas que eu não ouviria. Mas foi legal.
-Quero conversar com você. Você é um líder nato e preciso de sua ajuda. Sem sua colaboração, não vai ter aula aqui. Por favor, tome conta da turma para mim. Aqui é você quem manda (MATTJE,2009:26)
Na avaliação do protagonista, a professora inovou pelo tom conciliador adotado com ele, contrastando com o fato de que todas as outras autoridades escolares femininas foram contestadas por ele em tom ofensivo. O elemento implícito da cena descrita é a hierarquia que o coloca numa posição diferenciada dos demais alunos da turma. Ao afirmar que sem a mediação dele a aula não poderia acontecer, a professora se coloca numa condição de dependência e inferioridade à ocupada por ele. Há um deslocamento das relações de poder na sala de aula, ainda que provisório, localizado e em que pese representações docentes como as de “mediadora”, “facilitadora” ou “incentivadora”, as quais não encontram ancoragem na narrativa em tela.
A composição das personagens secundárias, importantes contribuições ao desenvolvimento do enredo também reforçam lugares-comuns da literatura reservados às mulheres. Leka, por exemplo, a primeira a chamá-lo de Tosco, é descrita como “uma menina linda, daquelas feitas a pincel”. Laura, companheira de classe e, futuramente, sua companheira de vida e mãe do seu filho, é descrita como a mulher compreensiva, capaz de conseguir ver nele todas as qualidades escondidas atrás do Tosco aparente. Mas também aquela que põem em ação a lógica de organização social masculina, expressa pelas aspirações do protagonista, conformando o arcabouço patriarcal projetado na idealização da mulher cuidadora e maternal. Entre o envolvimento com uma e outra, era o “pegador das mocreias. Pegava todas”, com pouco papo, foi “passando todo mundo”, diz (MATTJE, 2009: p. 26).
Personagens femininas protagonizam conflitos na escola[4] mais do que os meninos (Figura 7). Esses, por sua vez, estão mais envolvidos com a formação de grupos para ações criminosas, uso de arma de fogo, briga de gangues, violência policial, prisão e morte fora do espaço da escola. Esses são aspectos da narrativa que reforçam a identidade de pertencimento dos homens aos espaços públicos, à rua. Nessa linha, a escola constitui um espaço público diferenciado, porque comprometido com a extensão da proteção oferecida às crianças e adolescentes no espaço privado da casa e onde as mulheres têm larga Importar tabla participação.
Entre as figuras de autoridade da escola, o único citado pelo protagonista como alguém capaz de compreendê-lo é o professor Jeferson, uma personagem masculina (Figura 8). É relevante que após uma sucessão de professoras descritas como incapazes, o docente a exercer influência na vida do protagonista e que é responsável por sua transformação seja do sexo masculino. Já no final do livro, o personagem afirma ter escolhido o professor como o pai que não teve.
São várias as personagens masculinas do livro. O admirado amigo delinquente Pitbull é morto pela polícia, a quem tenta substituir. O invejado amigo Samuel que, mesmo criado pela avó e com pais criminosos, conseguia ser bom amigo, bom aluno, bom namorado, bom neto e bom trabalhador, e acaba sendo inspiração e exemplo para o Tosco. De um modo geral, os personagens masculinos não são afrontados pelo personagem. Mesmo na escola, são as professoras as afrontadas pelo adolescente. Os personagens masculinos, rivalizam, confrontam, mas se impõem ao adolescente (Figura 9).
A PERSONAGEM MÃE
O início do livro, narrado em primeira pessoa, traz os conflitos familiares do protagonista, a função do pai e da mãe na criação dos filhos.
Lá em casa, tudo continuava igual ou pior. Meu pai vivia sumido. E era frequente estar bêbado. Mas acho que era melhor assim, porque quando ele estava em casa, os ânimos sempre se alteravam. A briga começava sem motivo (MATTJE, 2009:10)
Há maior ênfase às informações sobre a mãe, se comparada às fornecidas sobre o pai. Enquanto sobre a vida do pai anterior ao casamento não há qualquer informação, sobre a mãe o narrador/personagem diz:
Descobri que minha mãe tinha largado o primeiro marido com três filhos pequenos porque se apaixonou por outro cara, que era meu pai. Eu era fruto dessa aventura da minha mãe que não tinha dado certo. Quer dizer, eu acho que nunca deu certo. Harmonia era a última coisa que eu via entre meu pai e minha mãe (MATTJE, 2009:11)
A personagem “mãe” é apresentada como uma mulher inconsequente, guiada por seus impulsos e paixões. No fragmento abaixo, na descrição do reencontro dela com as filhas abandonadas anos atrás, observa-se a violência física como linguagem-limite de comunicação e a emergência de um estado de insensibilidade e indiferença.
Minha mãe estava nervosa como nunca a vi. Não me lembro por quê, mas nesse dia ela furiosamente me bateu por algo insignificante. Quando meu pai chegou, ela também partiu para cima dele, mas aí a conversa é outra. Meu pai acabou batendo nela. Eu não senti nada (MATTJE, 2009:11)
No trecho abaixo, o pai estende essa linguagem-limite para além do espaço doméstico, quando, bêbado, reverte a reprovação do filho.
(...) meu pai foi visitar a escola. Antes, me deu um dinheiro e me mandou até o mercadinho da esquina. –Filho, busque uma garrafa de branquinha. É para me acalmar, senão arrebento aquela escola e os professores. O troco é seu. Mas vá correndo. Rasguei e voltei logo. Depois, completamente bêbado, meu pai disse que iria sozinho conversar com a professora. Foi, voltou, e fui aprovado!
Foi a primeira e última vez que meu pai fez alguma coisa por mim (MATTJE, 2009:15-16).
De acordo com Baruki e Bertolin (2010), o patriarcado, que é um sistema de organização social que se estabelece a partir da dominação de gênero, é fundamental para entender o fenômeno da violência contra a mulher. Ao refletir sobre a violência intrafamiliar, as autoras defendem que ela assume diferentes formas podendo ser física, psicológica, sexual ou pela negligência. E como a violência pode se manifestar de várias maneiras, verifica-se, atualmente, certa banalização das injustiças sociais. Como lembram Vianna e Lowenkron, o Estado, enquanto visto por sua institucionalidade complexa, é tanto instado a intervir na alteração dessas iniquidades, quanto a atuar na legitimação de outras, na medida em que é também o estabilizador social através de normativas. A insensibilidade presente nas falas anteriores do protagonista, como fruto de uma rede de agressões mútuas, conflui para a naturalização de relações desumanizadoras, nas quais o Estado agencia políticas e leis. Apagar tais aspectos concentrando as violências no ambiente familiar sobrecarrega sujeitos e desobriga reflexões mais ampliadas sobre o papel do Estado e da escola na manutenção dessas violências e desigualdades, minimizando os espaços institucionais como reprodutores de desigualdades de gênero, como ocorreu recentemente nos debates em torno da temática nos espaços educacionais.
Em nossa cultura, o “pai” representa a “Lei”, o princípio da interdição, segundo sentencia a tradição psicanalítica. No segundo capítulo, quando pai desaparece e o personagem afirma: “Passei a ser o homem da casa. Mas foi por pouco tempo” (MATTJE, 2009: 16), o princípio da interdição é recolocado pelos namorados da mãe.
Nesse momento cessam as falas sobre o pai. Em contrapartida, a ausência do pai intensifica os desentendimentos do filho com a mãe. Quando a mãe arruma um namorado, Tosco, com ódio, faz de tudo para “estragar o ambiente” (MATTJE, 2009: 16). A saída de cena do pai implicou também na abreviação das narrativas sobre ele. O filho não o recupera sequer em lembranças, em aspirações. Ele é apagado. Esse silenciamento, em contraste com as repetidas situações aviltantes protagonizadas pela mãe, acaba promovendo o desgaste da personagem feminina e uma espécie de preservação da figura masculina às avessas, onde a ausência do pai é menos nociva do que a presença da mãe, com quem a relação vai se degradando. Quando um amigo muito admirado pelo personagem Tosco morre, e sua mãe tenta dissuadi-los dos perigos associados ao seu atual estilo de vida ao que ele assim reage:
Não falei uma palavra. Mas quando ela se aproximou, dei-lhe um safanão. Ela se estatelou contra a parede. Vi seus olhos arregalados. Ficamos todos os dois calados. Entrei no quarto e dormi (MATTJE.2009:33).
O ápice da degradação da personagem mãe acontece no flagrante da mãe durante o ato sexual com o namorado pelo filho. Neste ponto a trama, a violação do corpo com violência, sexo e drogas pela mãe e pelo filho é coroada com a impossibilidade desses corpos usarem a fala como linguagem para estabelecer comunicação. Os sentidos do corpo (visão, audição, fala, tato) são usados como negação de si e do outro: para o filho, a mãe só fala gritando, não sabe conversar, é biscate, vagabunda. Daí não ouvir o que ela diz. A comunicação eficaz para o personagem é oferecida pela polícia e pelos amigos delinquentes: a surra, a pancada. O sentido do tato é atingido pela dor na carne onde o sexo não agrega afetos e os abraços somente chegam no epílogo.
A degradação é da família. Consolida-se uma representação da mãe como uma mulher desqualificada, que fracassa tanto pela criação do filho quanto pela impossibilidade de construir relacionamentos estáveis e duradouros, embora seu comportamento reflita a imposição social patriarcal da mulher que deve viver sob a proteção de uma figura masculina. As agressões sofridas pela mãe não são reparadas ao longo da história, que é centrada nos dilemas do Tosco. Segundo o protagonista, a mãe não é capaz de operar os mesmos dispositivos reestruturantes de sua conduta como ele o faz, estimulado pelo professor Jefferson, personagem masculino com nome próprio, quando decide modificar seu comportamento, traçar novos objetivos, enfrentar seus medos, desafiar os determinismos socioculturais, tomar as volições pessoais como base para a conquista de uma vida feliz e plena. A “mãe” não trabalha nem o deseja, sua casa é malcuidada, suas conversas reduzem-se aos vizinhos, sua curiosidade à televisão. Ela selou as misérias do próprio destino ao não entender sua participação na construção dele, passando pela incapacidade de discernir sobre as próprias emoções e sentimentos, das mais confusas às mais claras e exultantes.
Essa é a mãe projetada pelo discurso do filho no decorrer da trama. Raras são as vezes em que ela fala. Às outras personagens femininas, já citadas, é dado o discurso direto, à mãe, contudo, é quase sempre negado. Observar a dinâmica implicada na concessão ou recusa dada a essa mulher ao discurso direto na narrativa, cria contraste com as mudanças operadas pelo filho, que termina a história ainda surdo ao que a mãe teria a dizer, embora o personagem vá relativizando sua percepção da mãe, como quando ele é expulso da escola:
Encontrar outra escola foi um sufoco. Mas a minha mãe encontrou uma, até que legal. Na verdade, adorei minha mãe ter se importado comigo. No meu silêncio, fiquei feliz. Essa foi uma das poucas vezes em que vi minha mãe fazendo algo por mim. Será que minha mãe estava preocupada comigo? (MATTJE. 2009:53)
Nessa altura da trama, Tosco está participa do time de futebol do professor Jeferson, a quem transmuta na figura paterna ausente. Nesse aspecto, as personagens mãe e filho apresentam um ponto de interseção: ambos padecem da necessidade essencial de uma figura masculina que fornece proteção e amparo, o que reforça o poder masculino e iguala na fragilidade mulheres e crianças e jovens.
A chegada do professor acaba sendo o ponto de inflexão da trama, quando tudo começa a mudar. A relação mãe-filho avança da beligerância à desconfiança mútua, as certezas aterrorizantes de um sobre o outro de antes são substituídas pela dúvida.
Minha mãe me olhava desconfiada, porém não falava nada. Percebi que em seu silencio me aprovava, e isso era uma novidade. Notei que minha roupa estava mais bem lavada, e um dia me surpreendi com minha cama arrumada. Também não falei nada. Este era o costume, pois não éramos amigos. Grifo nosso (MATTJE 2009:65)
Após algumas recaídas e muita insistência, Tosco arruma um emprego e a mãe o ajuda. Uma relação precária, mas amena, vai se instalando entre ambos a pouco e pouco. Na formatura, Tosco inclui a mãe no discurso emocionado de agradecimento pela conquista:
Fui o orador da turma. (...) agradeci publicamente a minha mãe por ter me aguentado e cuidado de mim do jeito dela. Eu nunca tinha visto minha mãe chorar, emocionada. Quebrei o protocolo e fui abraçá-la. Eu não me lembrava do último abraço de minha mãe. Chorei, chorei, chorei! (MATTJE. 2009:122).
Após isso, arruma emprego, passa para a universidade pública e se casa com a mulher escolhida. O roteiro de filme da ação abriga a estrutura narrativa de um conto de fadas e atualiza os desafios e ritos de passagens clássicos reservados aos jovens do sexo masculino em uma sociedade tecnológica.
CONSIDERAÇÕES
O livro Tosco é parte de uma política pública para adolescentes de escolas pública em 21 municípios do estado do Rio de Janeiro. Enquanto um paradidático escrito para atender a certas demandas da editora, o livro aposta promover reflexão sobre variados assuntos, entre eles, a agressividade e o bullying.
Em nossa perspectiva, o presente livro, cujo texto autoral apresenta aportes teóricos orientados à compreensão psicanalítica sustenta uma política pública educacional conduzida pela editora, que o publica, encarregando-se de criar as condições necessárias à adoção pelas escolas ao apresentar um guia de elaboração dos trabalhos para professores mais do que outras agências estatais, como a Secretaria de Educação, por exemplo.
A despeito de todas as estratégias de leitura, interpretação e elaboração de sentidos coletivos, tal como propostos no CT, o livro-texto apresenta questões relativas ao debate de gênero ancoradas numa narrativa às avessas. Na narrativa a ausência da figura paterna pode justificar as estruturas do patriarcalismo e reforçar a desigualdade de gênero, quando entendemos que a psicanálise é inteiramente política (LAGO, 2001). Falamos às avessas, porque é no discurso conformado pelo não-dito, onde se inscreve no silêncio sobre o pai que desaparece da vida do protagonista e no silêncio dado à mãe que, embora sempre presente, quase sempre fala pela boca do filho. Esse dado reforça a falta de autonomia, de protagonismo dada à personagem feminina, reproduzindo a tendência da literatura de cercear a voz e a fala autoral das mulheres, já apontado por diversos estudos feministas (LAGO, 2001).
Os diversos entendimentos do Estado que ora chancela, como mediador, os conflitos, ora aparece como perpetuador de iniquidades a quem se deve combater, acabam por lançar o projeto “Tosco em ação” na arena das incertezas, ao deixar ao escrutínio do corpo docente modos de abordar o conteúdo que o texto traz. Nesse esquema, corre-se o risco de se tornar refém do texto escrito, capturado por sua literalidade que, associada aos valores correntes sobre gênero, mais confirme do que negue o que no texto é dito.
REFERÊNCIAS
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Notas