Entrevistas

A evolução do pensamento pedagógico na história

Lucas Montenegro
Universidade Federal de São Carlos – Campus Sorocaba , Brasil

A evolução do pensamento pedagógico na história

Laplage em Revista, vol. 1, núm. 1, pp. 125-127, 2015

Universidade Federal de São Carlos

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Recepção: 10 Abril 2015

Aprovação: 30 Abril 2015

Entrevistados: Paulo Gomes Lima & Silvio César Moral Marques

Por ocasião da publicação do livro Fundamentos da Educação: recortes e discussões – Vol. II, ocorrida em março de 2015, os profesores Paulo Gomes Lima e Silvio César Moral Marques nos concederam a presente entrevista, destacando a finalidade da obra, o conceito de educação e contribuições para a formação de educadores na atualidade.Paulo Gomes Lima é doutor em Educação Escolar pela Unesp-Araraquara/SP, professor do Departamento de Educação e Ciências Humanas da UFSCar-Campus Sorocaba e docente do mestrado em Educação da mesma universidade. Já Silvio Cesar Moral Marques é doutor em Filosofia pela USP, professor dessa disciplina na UFSCar-Campus Sorocaba lotado no Departamento de Geografia, Turismo e Humanidades (DGTH) e docente do Programa de Pós-Graduação em Educação.

1) Qual a proposta central do livro e que público busca atingir? Em outras palavras, o que vocês esperam que as pessoas descubram, reflitam e compreendam ao lê-lo?

(PAULO GOMES LIMA): O livro é um convite para a aprendizagem, a pesquisa e formação de educadores. A centralidade do livro está em disponibilizar para a sociedade brasileira o resultado de pesquisas em imersão, nas quais participaram doutores e mestres e a inserção de nossos mestrandos, oportunizando-lhes a condição de autores "junto com", cumprindo nessa diretriz a finalidade da universidade na transversalidade ensino, pesquisa e extensão.

2) Este é o volume 2 da obra. Sucintamente, para mencionarmos na matéria, do que tratava o volume 1? Ele também foi organizado por vocês?

(SILVIO C.M.MARQUES): O volume 1 surgiu como fruto da iniciativa do Professor Paulo Gomes Limado Departamento de Ciências Humanas e Educação. Alguns professores do Programa de Pós-Graduação apontavam como necessidade a publicização dos trabalhos de ensino e pesquisa desenvolvidos tanto por docentes, como pelos mestrandos. Atento à essa demanda, o Prof. Paulo consultou a Editora Paco sobre a viabilidade de produzir um material que não somente pudesse contribuir com a demanda interna da UFSCAR-Campus Sorocaba, mas a formação de professores e educadores como um todo. Não havia até aí um projeto de transformar o conjunto da obra numa série.

Então, os consultores da Editora, observando a riqueza e robustez da proposta, sugeriram que um selo deveria ser criado para o desenvolvimento não somente de um volume específico, mas a possibilidade de uma coleção. Assim surgiu o volume 1. Caracterizado como uma organização de obra, Fundamentos da Educação: recortes e discussões – Volume 1, reúne elementos ricos e instigantes no desdobramento dos eixos histórico filosóficos da área, de maneira clara e objetiva. A obra é organizada por Paulo Gomes Lima, Doutor em Educação Escolar pela Universidade Estadual Paulista/Araraquara, SP e Professor do Programa de Pós Graduação em Educação da Universidade Federal de São Carlos – Campus Sorocaba e do Departamento de Ciências Humanas e Educação (DCHE) da mesma instituição.O volume 1, por seu percurso, não necessariamente, cronológico, mas com riqueza de detalhes temporais, propõe-se, dentre outros, a contribuir como elemento de conscientização do pesquisador, do professor, dos estudantes e estudiosos da educação como uma possibilidade de atuação intencional numa sociedade conflituosa contribuindo para transformações sócio-histórica e política de reflexão-na-ação sobre a realidade vivida.

3) É dito que o livro mostra a Educação desde os povos primitivos. Você poderia citar uma prática educacional de um desses povos primitivos que está no livro e que tenha lhe chamado mais a atenção? E, se podemos chamar de "evolução", quais aspectos da Educação você destacaria como o que mais se modificou e o que menos se modificou ao longo da história?

(PAULO GOMES LIMA): Na educação primitiva a educação não era circunscrita a sistematização como a conhecemos na atualidade. A educação se fazia de maneira "espontânea e integral". Aprendiam as crianças simplesmente pelo convívio com os adultos - a aprendizagem da caça com os caçadores, a aprendizagem de ritos pela participação direta. A característica dessa educação é a aprendizagem pelo vivência e eixo do compartilhamento, afinal tudo pertencia a todos. A evolução da educação e da escola, de forma geral, vai ser condicionada pela divisão social do trabalho e com isso, do surgimento de grupos de administradores e executores, que certamente provocarão o início de classes sociais. Essa conformação numa educação dualista vai ser orientadora da educação há muito tempo, o que vem se modificando entre o anúncio e a denúncia da mesma é um objeto de discussão na presente obra.

4) O livro é dividido em 22 capítulos, distribuídos em 394 páginas: cada capítulo é dedicado há uma "vertente pedagógica" do vasto período estudado? Você poderia mencionar o título de alguns desses capítulos que pudesse dar uma ideia da abrangência cronológica desse conteúdo?

(SILVIO C.M.MARQUES): Num esforço de apresentarmos contribuições de autores com base idealista e/ou realista na educação os textos foram organizados de maneira a contribuir para que o próprio leitor percebesse essa intencionalidade. O mérito da obra é tentar cobrir os autores que produziram as maiores e contribuições mais evocadas historicamente na linha do tempo da pedagogia, portanto, a obra poderia ser compreendida como um material que se completa e que se ajusta a cada volume, a medida em que apresenta e problematiza o pensamento de autores de determinada época e seu legado para a história da educação. Para se ter uma ideia da organização de capítulos citamos: “A educação para os povos primitivos”; “A educação chinesa”; “A educação egípcia”; “A educação hindu”; “A educação hebraica”; “A educação grega”; “A educação romana”, dentre outros e chegamos ao capítulo XXII, com a discussão da temática: “O surgimento da universidade e a escolástica como meio pedagógico”. Vale a pena conferir.

5) No Brasil, atualmente, você saberia me dizer qual é a pedagogia predominante e de que grande "escola educacional" ela provém ou deriva?

(PAULO GOMES LIMA): A despeito de ser anunciado que vivemos uma dimensão de pedagogia centrada no construtivismo, inclusive explicitado esse eixo em documentos oficiais, não podemos fazer a adesão a essa compreensão, pois a escola brasileira ainda é predominantemente tradicional com traços de tecnicismo entre saberes e fazeres. É claro que entendemos que os tempos mudaram, mas até que ponto a escola mudou, uma vez que suas práticas e discursos ainda estão centrados numa educação por repetição e a criatividade é reduzida ao desenvolvimento de competências, habilidades e atitudes previstas? Temos, portanto, uma escola que se diz progressista, mas contraditória, pois é predominantemente tradicional.

7) No texto há um trecho em que é dito que as tendências pedagógicas são "[...] muitas vezes não identificadas como provenientes de discursos, ideologias, visões de mundo". Você saberia me apontar quais discursos, ideologias e 'visões de mundo' ensejam a adoção das práticas pedagógicas brasileiras?

(SILVIO C.M.MARQUES): Acredito que o Paulo começou a responder essa questão anteriormente, pois a escola brasileira tem um discurso progressista, mesclada com maneiras tradicionais e tecnicistas de trabalho entre atividades-meio e atividades-fim. Não se trata apenas de identificar uma tipologia ideológica específica, visto que estruturalmente o dualismo dessa escola - uma para a classe hegemônica e outra para a população é bem explícito, mas é o caso de fazermos os enfrentamos e reflexões considerarmos que tipo de cidadãos educadores conscientes de seu papel social na transformação social desejam? E acompanhada dessa questão uma outra: que sociedade se deseja ou desejamos para a ruptura com a injustiça social e, consequentente para fazer valer a universalização e educação de qualidade para todos sem dualismos?

8) Para finalizar: quem são os autores que compõem o livro? Vocês estão entre eles, não é mesmo? Quem tiver interesse na obra como fazer para adquirir?

(SILVIO C.M.MARQUES): Fomos muito felizes na composição da autoria de cada um dos capítulos de "Fundamentos da Educação: recortes e discussões - Volume 2, pois participaram pesquisadores com reconhecido mérito nacional e internacional, bem como docentes de universidades externas e da UFSCAR, além de aproximarmos a construção da obra e ensinarmos o caminho para aspirantes ao magistério e à pesquisa na área da educação, os nossos pós-graduandos, sendo grande parte deles docentes comprometidos com o desenvolvimento da educação no país e nós, dentre os mesmos, na organização e diretividade da obra.

(PAULO GOMES LIMA): Observamos que a preocupação do livro e dos próximos volumes que virão [...] tem como objetivo contextualizar se não todas, algumas contribuições significativas e recorrentes, quer cronológicas ou não; dos fundamentos da educação, possibilitando a dimensão da descoberta, da crítica na área e principalmente a formação de um olhar crítico-reflexivo. Portanto, a obra é recomendável e apropriada para estudos em aprofundamento e para estudantes que iniciam pesquisas em educação. A sua linguagem é atual, reflexiva e recorrente, as temáticas para além da pertinência, colaboram para a compreensão e analogia com a educação contemporânea, o que nos remete a defendê-la como uma das leituras de referência para cursos de licenciaturas em geral. Quem tiver interesse em adquirir a obra, basta acessar o site da Paco Editorial e buscar a obra no seu catálogo.

(LUCAS MONTENEGRO): Professores, muito obrigado pela concessão da entrevista. Sucesso na divulgação da obra.

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[Artigo corrigido , vol. 1, 125-127] http://www.laplageemrevista.ufscar.br/index.php/lpg/article/view/12/363

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