Apresentação

Educação e tecnologia: consistências e fragilidades do processo

Lucila Pesce
Universidade Federal de São Paulo, Brasil
Adriana Rocha Bruno
Universidade Federal de Juiz de Fora/MG , Brasil

Educação e tecnologia: consistências e fragilidades do processo

Laplage em Revista, vol. 3, núm. 2, pp. 5-8, 2017

Universidade Federal de São Carlos

Atribuição não comercial internacional. Direitos de compartilhar igual e dar crédito aos autores e periódico.

Recepción: 10 Mayo 2017

Aprobación: 10 Junio 2017

Caro leitor, o número temático que ora apresentamos – “Educação e Tecnologia: consistências e fragilidades do processo” – ao reunir estudos de pesquisadores de várias universidades brasileiras, trata de um tema caro às investigações sobre as atuais práticas sociais e culturais. Os artigos que integram o presente número temático buscam contribuir para a ampliação da discussão acerca da integração das Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação (TDIC) nas práticas sociais contemporâneas, em particular as desenvolvidas na área da Educação.

O compêndio dos textos ora apresentados apresenta reflexões sobre o papel das TDIC na vida contemporânea, à busca de desvelar as consistências e as fragilidades atinentes à integração dos dispositivos e interfaces digitais na constituição dos sujeitos e dos grupos sociais, colocando luzes nos processos educacionais, em suas diversas formas de expressão e em seus distintos níveis e esferas.

Para além da fetichização das TDIC, demonizando-as ou as entronizam como panaceia de todos os males da Educação, os artigos do presente dossiê tratam de pesquisas que focalizam uma miríade de temas plurais e estão organizados em três eixos temáticos: a) TDIC e formação de professores; b) Educação a Distância (EaD); c) TDIC, processos formativos e práticas sociais contemporâneas.

Iniciando o primeiro eixo temático – TDIC e formação de professores – o artigo “Formação do pedagogo para o uso educacional das tecnologias digitais de informação e comunicação: uma revisão de literatura (2006-2014)”, de autoria de Lucas Marfim e Lucila Pesce apresenta uma revisão da literatura sobre a formação do pedagogo para o uso das TDIC. A leitura dos trabalhos selecionados revela alguns pontos de atenção: a) a tônica tecnicista engendrada às atuais políticas de formação de professores; b) o caráter instrumental e secundarizado das TDIC na formação docente; c) a tímida contribuição das universidades, no que diz respeito à formação para o uso educacional das TDIC; d) o descompasso entre as atuais práticas de formação docente relativa à díade Educação-TDIC e as demandas da sociedade atual, a qual, permeada pela cultura digital, demanda processos formativos que situem as TDIC como mediadoras na produção cultural, para além de meros recursos didáticos.

Adriana Rocha Bruno e Judilma Aline Oliveira Silva – no artigo intitulado “Percursos e experiências integradoras no ensino superior: múltiplas aprendizagens para docências na cultura digital” – consideram sobre suas recentes pesquisas acerca das docências no Ensino Superior (ES), em meio a cultura digital. Os estudos sinalizam que, apesar dos avanços na formação continuada dos docentes que atuam neste nível de educação, ainda é frágil a atenção dada à cultura contemporânea, que situa as TDIC como potencializadoras de aprendizagens convergentes para e com os estudantes do século XXI.

Simone Lucena e Arlene Araújo Domingues Oliveira, ao apresentarem o artigo “Os softwares sociais e a web 2.0 como espaços multirreferencias em programa de iniciação à docência”, buscam compreender as potencialidades dos softwares sociais da web 2.0, utilizados no Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (Pibid), do curso de Pedagogia, na formação dos bolsistas de iniciação à docência. Os achados da pesquisa sugerem que os sujeitos da pesquisa passaram a utilizar estes aplicativos como outro espaçotempo de formação: um espaço multirreferencial, com possibilidades de socializar, interagir e narrar instantaneamente todas as ações desenvolvidas nos diferentes ambientes de aprendizagem, graças à potência dos softwares sociais na web 2.0 para a criação, a partilha e a divulgação das autorias expressas em meio a múltiplas linguagens.

Rafael Freitas e Mercedes Carvalho no artigo “Tecnologias móveis: tablets e smartphones para a aprender matemática” – refletem sobre a utilização desses dispositivos e interfaces, como recursos didáticos para a aprendizagem dos conteúdos matemáticos. Ao fazê-lo, os autores buscam compreender como tais instrumentos podem contribuir para a formação inicial de professores, que ensinarão Matemática no Ensino Fundamental. As análises dos dados sinalizam dois aspectos: a) o interesse destes alunos sobre as possibilidades e as limitações do uso das tecnologias móveis, como recursos de ensino e aprendizagem dos conteúdos matemáticos, por meio de aplicativos como o SAMD (Multiply e Desafio matemático); b) a presença tímida de propostas que abordem as tecnologias móveis como recursos de aprendizagem matemática, em boa parte da formação inicial desses graduandos.

Finalizando o primeiro eixo temático, Lúcia Helena Schuchter, Sebastião Gomes de Almeida Júnior e Elisiana Frizzoni Candian – em artigo intitulado “Políticas de formação docente no contexto da Cibercultura” – ao considerarem que as políticas públicas de formação docente para o uso das tecnologias digitais são indispensáveis no atual cenário sociohistórico, apresentam os achados de uma revisão de literatura acerca do referido tema. Nesse movimento, os autores apontam que a maioria dos trabalhos acadêmicos consubstancia-se como diagnósticos, prescrições, denúncias e proposições para a necessidade de mudança, em uma conjuntura na qual as políticas públicas desenvolvidas até o presente momento apresentam-se ineficientes e insatisfatórias para atender às demandas dos docentes.

O segundo eixo temático – Educação a Distância – é representado por dois artigos. O primeiro, de autoria de Gisele Grinevivius Garbe, Monica Parente Ramos e Daniel Sigulem, intitula-se “Sucesso e evasão em cursos de especialização a distância”. O estudo investiga fatores associados à aprovação de alunos, em cursos de especialização oferecidos na modalidade de EaD, pela Universidade Federal de São Paulo, por meio do Sistema Universidade Aberta do Brasil – UAB. Os achados da pesquisa indicam o fator organização como o principal preditor de sucesso. Também se mostraram associados à aprovação nos cursos, os fatores experiência e a categoria curso ofertado na modalidade a distância.

A figura do tutor, na modalidade EaD, é problematizada por Cláudia Coelho Hardagh e Nuria Nuria Pons Vilardell Camas, no artigo “(De) formando o educador: uma discussão teórica acerca do professor e tutor na EaD”. O estudo busca compreender o processo de inserção do professor universitário nas aulas de modalidade EaD, no período de expansão (2010-2016) dos cursos totalmente EaD ou semi-presenciais, em Instituições de Ensino Superior. A problematização ergue-se em meio a conceitos como proletarização e alienação, que distanciando o professor de sua autonomia, na criação de aulas, na gestão do conteúdo e na relação humana com seus alunos. O texto, ao versar sobre as mudanças do mundo do trabalho físico para o contexto da cibercultura, aponta que tais modificações demandam uma nova prática, em espaço e em tempo virtual para a educação online.

Cinco artigos integram o último bloco temático: TDIC, processos formativos e práticas sociais contemporâneas. O primeiro deles, “Cultura digital: uma compreensão do poder nas percepções estéticas no uso das tecnologias educacionais digitais – TEDs”, de autoria de Marcelo Aparecido Freitas Vieira e Margaréte May Berkenbrock-Rosito, intenta compreender a dimensão estética nos processos formativos e interpretar o desenvolvimento da autonomia e da emancipação dos sujeitos da “Geração Z”, na Educação Básica, diante da utilização da Tecnologia Educacional Digital, a partir dos dados do CETIC.br. Os resultados são apresentados por meio das seguintes categorias: a estética do poder “Eu sei” da geração Z, quando o consumidor precede o usuário e a estética do poder “não sei”: a relação dos docentes com a Tecnologia Educacional Digital, como fenômenos midiáticos na contemporaneidade. Como contraponto, os pesquisadores vislumbram a possibilidade de libertação dos fenômenos midiáticos na ampliação de práticas instrumentais tecnológicas, à busca do caminho da conscientização da Cultura Digital, no âmbito da relação do sujeito contemporâneo consigo mesmo, com o outro e com o mundo.

Doriedson Alves de Almeida, no artigo sob o título “Apropriação das TIC em redes públicas de ensino no baixo amazonas” reflete sobre aspectos locais e globais que determinam a formulação e a implementação das políticas públicas afeitas a esse campo. Nesse movimento, o autor sinaliza que estas compõem as estratégias estabelecidas no plano macro de políticas e projetos, quase sempre concebidos em gabinetes e poucos atentos às realidades locais. Diante desse cenário, não resta a tais escolas e comunidades outra alternativa, senão a de subverter o instituinte. O pesquisador parte dessas premissas para propor outros modelos, amparados em vieses críticos, que situam as escolas e as comunidades como protagonistas, nas formulações, nas implementações e nas gestões que envolvem as ações de governo, invertendo as lógicas hegemônicas. O estudo finaliza com a advertência de não haver no modus operandi da gestão do atual Estado brasileiro modelos capazes de permitir maior consistência, ao que o autor denomina de formas de apropriação contra-hegemônica e cultural das TIC.

Deise Juliana Francisco e Luiz Wilson Machado da Costa e Silva Neto, no artigo “Questões sobre integração das tecnologias digitais da informação e comunicação e a ética em pesquisas” investigam a aplicação da ética em pesquisa online e em Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVA). Ao fazê-lo, tratam das estratégias relativas à realização de pesquisas online ou em AVA e as questões correlatas ao exercício da pesquisa dessa natureza.

Ana Maria Di Grado Hessel e Werley Carlos de Oliveira – no artigo “o pensamento complexo aplicado no ambiente virtual de aprendizagem do SESC SP” – relatam uma experiência de formação online para funcionários do SESC SP, subsidiada pelo software LMS Saba. Amparada no pensamento complexo, a pesquisa apresenta conceitos como auto-eco-organização e autopoiese no bojo da narrativa, como fundamentos explicativos dos aspectos selecionados no processo de análise e interpretação. Os resultados esclarecem que o uso do ambiente virtual desvelou uma nova dinâmica, na qual um modelo colaborativo passou a enriquecer o processo de aprendizagem.

Finalizando o último bloco temático, Maria Dolores Fortes Alves e Guilherme Vasconcelos Pereira – no artigo intitulado “Tecnologia assistiva na perspectiva de educação inclusiva: o ciberespaço como lócus de autonomia e autoria” – investigam a contribuição da Tecnologia Assistiva (TA), na perspectiva da educação inclusiva e o ciberespaço como lócus ímpar do processo de mediação e construção da autonomia e da autoria de pensamento dos sujeitos implicados no processo de ensino aprendizagem. Ao fazê-lo, os autores destacam que a efetivação da inclusão se consubstancia como um processo complexo, em que professor e aluno constituem uma relação pedagógica que cumpra com a função social da escola, na vida dos indivíduos singulares.

Vivemos um momento em que a sociedade assiste à ebulição de práticas sociais e culturais engendradas às Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação (TDIC). E é neste momento que o presente número da Laplage em Revista apresenta artigos, que se debruçam sobre múltiplos objetos de pesquisa, amparando-se em distintos referenciais teóricos e metodológicos. Em meio a essa polifonia, convidamos você, leitor, a aprofundar seu olhar sobre esse tema candente, no atual momento histórico da Educação.

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[Artículo corregido , vol. 3, 5-8] http://www.laplageemrevista.ufscar.br/index.php/lpg/article/view/353/503

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