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ENSINO DE GEOGRAFIA, VIOLÊNCIA URBANA E SUA RELAÇÃO COM A PICHAÇÃO E A GRAFITAGEM NO ESPAÇO ESCOLAR
EDUCATION OF GEOGRAPHY, URBAN VIOLENCE AND ITS RELATIONSHIP WITH SCHOOL SPACE AND GRAFFITI
ENSEÑA DE GEOGRAFÍA, VIOLENCIA URBANA Y SU RELACIÓN CON LA PICHAÇÃO Y EL GRAFITO EN EL ESPACIO ESCOLAR
GEOSABERES: Revista de Estudos Geoeducacionais, vol. 9, núm. 19, 2018
Universidade Federal do Ceará


Recepção: 13 Abril 2018

Aprovação: 04 Agosto 2018

DOI: https://doi.org/10.26895/geosaberes.v9i19.665

Resumo: A violência presente nas cidades está ligada aos atos que acontecem na escola. Portanto, muitas práticas cotidianas ditas violentas se apresentam como similares, é o caso da pichação e da grafitagem. Sendo assim, o presente artigo retrata uma proposta de abordagem qualitativa do ensino da Geografia sobre três temas pertinentes aos estudos escolares: violência, pichação e grafitagem. Com base nessas constatações, foi realizado um trabalho de pesquisa-ação, materializado através de um projeto de intervenção didático-pedagógica, desenvolvido numa escola pública da cidade de Campina Grande, PB. Os resultados indicaram que o projeto estimulou reflexões e ampliação da compreensão dos alunos acerca da violência urbana, da pichação e do grafite, além de tornarem possíveis a relação Geografia-cotidiano.

Palavras-chave: Educação, Práticas, Violência urbana, Escola, Ensino de Geografia, Pichação e Grafitagem.

Abstract: The violence present in the cities is linked to the acts that happen in the school. Therefore, many everyday practices, said to be violent, present themselves as similar, is the case of graffiti. So, this article portrays a proposal for a qualitative approach to Geography teaching on three topics pertinent to the school studies: violence and graffiti. Based on these findings, a work of action research was carried out, materialized through a didactic-pedagogical intervention project, developed in a public school in the city of Campina Grande, PB. The results indicated that the project stimulated reflections and expansion of the students 'understanding of urban violence and graffiti, in addition to making possible Geography-daily relationship.

Keywords: Urban violence, School, Teaching Geography, Graffiti and Graffiti.

Resumen: La violencia que está presente en las ciudades vinculase a los actos que ocurren en la escuela. Luego muchas prácticas diarias llamadas violentas se presentan semejantes, es el caso de la pintada y del grafito. Así siendo el presente artículo encuadra una proppuesta de enfoque cualitativo de la enseñanza de Geografía sobre tres temas adecuados a los estudios escolares: la violencia, el grafito y la pintada. Basado en estas contestaciones ha sido hecho un trabajo de pesquisa-acción, materializado por medio de un proyecto de intervención didáctico-pedagógico, desarrollado en una escuela de red pública de la ciudad de Campina Grande, PB. Los resultados indican que el proyecto ha estimulado la reflexión y amplitud de la comprensión de los alumnos cerca de la violencia, de la pintada y del grafiti, alleende hacer una posible relación entre Geografía y diaria.

Palabras clave: Violencia urbana, Escuela, Enseñanza de Geografia, Pintada y Grafiti.

INTRODUÇÃO

Este trabalho tem por finalidade apresentar os resultados obtidos no projeto realizado em uma escola na cidade de Campina Grande-PB, através do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência - PIBID, do curso de Licenciatura Plena em Geografia, da Universidade Estadual da Paraíba – UEPB.

O trabalho foi desenvolvido em uma turma do Ensino Médio da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Senador Argemiro de Figueiredo (Polivalente), na disciplina de Geografia, com temáticas que envolveram: violência urbana, a Geografia no Ensino Médio, a pichação e grafitagem.

A violência urbana é um dos fenômenos sociais mais temidos e praticados nas cidades brasileiras. A sociedade está constantemente exposta a diversos riscos, haja vista ser o Brasil um dos países mais violento do mundo, em termos absolutos. Portanto, compreender a relação entre a violência urbana e a Geografia no Ensino Médio se faz necessário, pois é de responsabilidade dessa disciplina analisar o espaço geográfico e os elementos que o transformam cotidianamente, sendo violência um desses elementos, possibilitando a reflexão sobre os seus condicionantes e consequências.

Adicionalmente, a escola constitui uma instituição social sujeita a vivenciar todos os fenômenos da sociedade, haja vista que o que acomete a sociedade também se reproduz nos muros escolares. Todavia, é preciso esclarecer que muitas práticas ditas violentas no ambiente escolar resultam da violência que o próprio sistema educacional provoca, logo, fica necessário o debate sobre as práticas ditas “violentas”, se realmente se caracterizam nessa conjuntura, o que constitui um dos pontos centrais da presente produção.

Dentre as várias práticas ditas violentas no espaço urbano, o tema “pichação” foi escolhido como estruturante para a realização do projeto de intervenção didático-pedagógica, no âmbito das ações do Subprojeto Geografia/PIBID/UEPB, visto que perguntas devem ser respondidas a respeito dessa forma de expressão, sobretudo no ambiente escolar onde uma indagação se levanta e pretende-se que a mesma seja respondida: a pichação se caracteriza como uma forma de violência, banalização e violação do patrimônio escolar? Ou é apenas uma forma de rebeldia necessária, diante da violência que o próprio sistema educacional acomete os jovens?

Não obstante, nas ações desenvolvidas na pesquisa, também foi apresentada uma possibilidade de solução para este problema aos jovens da mencionada escola que, em sua maioria, praticam pichação, pelo fato de enxergarem a escola como um território desprazeroso. Essa possibilidade foi a grafitagem, método que, a cada ano, vem sendo utilizado nas escolas, pois já foi verificado sua eficácia no “combate” à pichação, não de uma forma discriminatória, mas como um método mais aceito esteticamente para expressão dos alunos sobre certas angústias, como a violência urbana e escolar.

Foi empregado, como suporte metodológico, um aprofundamento bibliográfico a respeito destes temas tão distantes e, ao mesmo tempo, tão reedificados. Sendo assim, a procura por artigos acadêmicos e obras científicas variadas para constituir um aparato teórico plausível foi importante, assim como as práticas desenvolvidas durante as aulas de Geografia, como exposições teóricas sobre o tema, palestras, trabalho de campo e intenções práticas, realizados coletivamente entre bolsista, supervisora escolar e convidados também estão marcados na estruturação desta obra.

O presente artigo está estruturado em quatro partes. A primeira, se refere a Geografia no Ensino Médio, sua relação com a violência urbana e a que caracteriza o espaço escolar. Na segunda parte, a pichação e a grafitagem vem à tona, como uma nova temática de ensino sobre a violência urbana na disciplina de Geografia e na tentativa de preservação do espaço escolar. Em seguida, é exposta a metodologia, e, por fim, as análises e discussões sobre os resultados referentes ao que foi realizado.

A GEOGRAFIA NO ENSINO MÉDIO, A VIOLÊNCIA URBANA E A ESCOLA

O Brasil é um país altamente violento, onde, em perímetro urbano, os diferentes tipos de violência explodem. Em Campina Grande – PB não é diferente, assaltos, homicídios e outros tipos de violência são praticados diariamente e todas essas práticas interferem no espaço escolar, pois:

O convívio social nas cidades está, cada vez mais, sendo marcado por um outro aspecto fortemente influenciador nas relações sociais: a violência urbana, que invade espaços ou instituições sociais, outrora considerados “imunes” a essa violência, como é o caso, por exemplo da instituição escolar (SOUZA, 2011, p. 1).

Se vivemos em uma cidade segura, consciente e crítica a respeito dos problemas sociais urbanos, teremos escolas com essas mesmas características. Por outro lado, se possuímos uma população insegura, pouco esclarecida e não emancipada, as escolas refletem a mesma problemática. Dessa forma, o espaço escolar é um ambiente de repercussão das características da sociedade. Portanto, para entender-se os fundamentos da violência escolar, é preciso primeiro rever fatores sociais de desigualdades sociais urbanas.

Contudo, muitas vezes, a escola não cumpre a sua parte em formar cidadãos conscientes e críticos sobre a questão da violência urbana, embora a educação tenha um papel de destaque no tratamento da violência, conforme a compreensão de Rauber (2009, p. 13), quando afirma que “a violência poderá ser atenuada mais pelo combate ao desemprego e pela melhoria da educação, que pela repressão policial, pois isso apenas agrava o problema”. Sendo assim, um ciclo se forma diante desse fenômeno social, em que tem-se um espaço urbano que se caracteriza pelas diversas formas de violência, um sistema educacional defasado e impossibilitado de promover mudanças sociais e não adaptado à realidade local e jovens sem perspectivas de futuro, estando na borda da marginalização, susceptíveis a todo tipo de violência, constituindo o ciclo: violência urbana - precarização da educação - desmotivação do aluno em estudar.

A Geografia também está inserida nessa problemática, pois, como uma ciência objetivada no estudo dos fenômenos, instituições e práticas sociais, tem sua margem de “culpa” nesse ciclo cada vez mais vicioso e nefasto, pois, fundamentada no tradicionalismo costumeiro, é considerada uma disciplina mnemônica, que não interfere em praticamente nada na construção científica, crítica e social do aluno, o que provoca muitas inquietações nos profissionais dessa área do conhecimento. Cavalcanti (2010) mostra bem essa ansiedade de muitos professores dessa disciplina em se libertarem desses ciclos e vícios educacionais:

O que preocupa o professor na atualidade? Que perguntas ele se faz? O que o aflige? Quais são os desafios ele quer e precisa enfrentar? Que questões permanentes são específicas do professor de Geografia? Como ele concebe seu trabalho e o papel social que exerce? Pela experiência com os professores, ao ouvir seus testemunhos, ao observar suas práticas, é possível perceber que seus questionamentos giram em torno de “estratégias” ou “procedimentos” que devem adotar para fazer com que seus alunos se interessem por suas aulas, para conseguir disciplina nas turmas, para garantir autoridade em sala de aula, para convencer os alunos da importância da Geografia para suas vidas. Ou seja, os professores de Geografia estão, frequentemente, preocupados em encontrar caminhos para propiciar o interesse coletivo dos alunos, aproximando os temas da espacialidade local e global dos temas da espacialidade vivida no cotidiano (Ibidem, p. 1).

Nessa conjuntura, visando superar os problemas elencados, os professores de Geografia procuram criar possibilidades para dinamizar o ensino, sobretudo incorporando às aulas os aspectos da dinâmica social, sendo o espaço urbano um lócus importante para ensejar o tratamento de temáticas específicas como a violência, a pichação e o grafite.

A VIOLÊNCIA NO ESPAÇO ESCOLAR, A PICHAÇÃO E O GRAFITE

As pichações, nos últimos anos, estão fazendo parte da paisagem de muitas escolas brasileiras, principalmente nas instituições localizadas nas cidades. Essas formas de expressão, majoritariamente praticadas por jovens, são o reflexo das várias formas de violência que acometem as cidades, onde os jovens excluídos utilizam o espaço escolar para manifestar sentimentos, símbolos e informações, se caracterizando como formas graves de interferência no domínio público.

As escolas em Campina Grande-PB, também vivenciam essa realidade. As pichações realizadas nos muros e paredes das salas de aulas constituem os exemplos, considerados pela comunidade escolar como violência, embora, na maioria dos casos, sirvam como recursos de divulgação de opiniões e ideologias, ou mesmo como formas de expressões naturais que os alunos usam contra a própria violência escolar. Portanto, a escola como instituição vai refletir os fenômenos sociais urbanos, pois são os indivíduos da cidade os seus membros.

Segundo Rauber (2009, p. 15), “No Brasil, a desigualdade e a exclusão social são agravantes para aumentar a violência urbana”. Sendo assim, é na escola onde é possível perceber quais são as dinâmicas e características sociais dos membros fundamentais da cidade e da instituição de ensino, que são os jovens, que, em vez de preservarem o patrimônio público (o seu patrimônio), picham-no, mas com significados próprios de cunho libertário e político; A esse respeito, se faz pertinente apresentar o que diz a literatura:

A pichação é uma forma de escrita feita nas paredes e carteiras escolares, muitas vezes com caracteres indecifráveis e sempre mutáveis, causando, no mínimo, desconforto, por não serem passíveis de compreensão, assimilação ou aniquilação. Mas ela também pode ser considerada arte e intervenções políticas anônimas, cujos autores vêem a escola como um suporte (BARCHI, 2007, p. 1).

Acerca dessa forma de “rebeldia” contra o sistema educacional, vejam-se as palavras de um gestor de uma escola de Sorocaba-SP, que passou por situação dessa natureza, apresentadas na citação de Barchi (2007):

Trouxe vocês professores a esta sala de propósito, pois é exatamente aqui que a escola menos funciona. Olhem para essas paredes. Essas pichações não são porque os alunos são maldosos ou têm péssimo caráter ou são bandidos. Elas são feitas porque, na verdade, são como um pedido de socorro, uma forma silenciosa de os alunos expressarem o quanto a escola não funciona direito (BARCHI, 2007, p.2).

Associado a compreensão de que o ambiente escolar, muitas vezes, não cumpre o seu papel, muitos adolescentes que não enxergam importância no ato de estudar, aderem ao aprendizado da pichação, como uma forma de expressar nos muros e paredes os seus sentimentos. Os fatores vistos acima, que são realidades da maioria das cidades brasileiras, contribuem para a introdução de mais jovens sedentos por novas possibilidades de ver e agir na cidade, procurando modos de se expressarem socialmente.

No caso do ambiente escolar, as pichações tem, na maioria dos casos, um caráter de denúncia. Entretanto, essas reclamações ultrapassam os muros escolares e se referem ao sistema capitalista como um todo que, por si só, já é excludente e a cidade é o locus considerado apropriado para dar visibilidade às injustiças, aos questionamentos. Dessa forma, as pichações ultrapassam as fronteiras escolares, afetando as diversas cidades de grande e médio porte, onde prédios públicos e privados são alvo cotidiano de pichações, o que já é considerado pelas autoridades e sociedade como um todo, como vandalismo, ensejando a cobrança de medidas severas para os praticantes.

Pela “Lei n° 12.408/2011, Art. 65, pichar ou por outro meio conspurcar edificação ou monumento urbano incorre em pena de detenção, que varia de três meses a um ano cumulada com multa (BRASIL, 2011). Por outro lado, a grafitagem não é considerada crime, mas uma atividade cultural, fruto de manifestações artísticas, desde que autorizadas pelos proprietários privados ou pelo setor público, seguindo as normas estabelecidas para a conservação do patrimônio, conforme a legislação:

Não constitui crime a prática de grafite realizada com o objetivo de valorizar o patrimônio público ou privado mediante manifestação artística, desde que consentida pelo proprietário e, quando couber, pelo locatário ou arrendatário do bem privado e, no caso de bem público, com a autorização do órgão competente e a observância das posturas municipais e das normas editadas pelos órgãos governamentais responsáveis pela preservação e conservação do patrimônio histórico e artístico nacional. (BRASIL, 2011).

Dentre as possibilidades de expressar os sentimentos, reivindicações e críticas, inclusive no ambiente escolar, o grafite vem sendo apresentado como a melhor. Freire et al. (2017) apresentam resultados exitosos no ensino e aprendizagem de Geografia a partir da utilização da grafitagem no espaço escolar, na medida em que conseguiram dar unidade à turma envolvida na atividade, além de atribuir significado aos conteúdos trabalhados antes e após a prática.

Nessa conjuntura, o grafite surge exatamente como uma forma de transformar os pichadores em grafiteiros. Por constituir uma arte, com estética, é bem visto por muitos, dando novos contornos ao problema, assim como novas possibilidades da juventude se expressar licitamente.

Entretanto, Fernandes e Barbosa (2014) apresentam algumas considerações relevantes acerca do grafite, pois visto que está inserido no sistema capitalista e adquiriu um valor comercial, ainda não está amplamente disponível para a realidade da maioria das escolas brasileiras, pois demanda alguns investimentos nos produtos a serem utilizados nas artes, o que constitui um desafio a ser superado nas unidades educacionais que se dispuserem a incorporar esse tipo de atividade.

Superadas as dificuldades, o grafite constitui a forma mais viável de colocar em prática a conscientização frente as pichações e outras formas de violência urbanas e desenvolver um senso crítico dos alunos que serão membros do trabalho de conservação o espaço escolar.

No contexto do ensino de Geografia, o grafite passa a ser uma nova forma teórica e prática de ver o mundo dos adolescentes, assim como uma nova proposta metodológica de ensino, onde a relação pichação x grafite, provocará uma gama de propostas, debates, didáticas e testes para o ensino da Geografia urbana e da temática violência, nele inserida.

METODOLOGIA

Este artigo foi desenvolvido a partir de uma proposta de abordagem qualitativa do ensino de Geografia, a partir da Pesquisa-ação, materializada através de projeto de intervenção didático-pedagógica, desenvolvido com alunos matriculados na Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Senador Argemiro de Figueiredo, localizada na cidade de Campina Grande, PB. Foi parte integrante das atividades do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência-PIBID, do curso de Licenciatura Plena em Geografia da Universidade Estadual da Paraíba – UEPB.

A execução do mencionado projeto se deu a partir de três etapas: Levantamento bibliográfico sobre as temáticas da violência urbana, violência escolar, pichações e grafitagem; Realização de aulas teóricas sobre os temas em questão, através de aulas expositivas, diálogos, aulas de campo, palestras, elaboração de textos dissertativos argumentativos, como preparação para o Exame Nacional do Ensino Médio. Por último, realização de um minicurso sobre grafitagem e desenhos em cartolina com os alunos, juntamente com um grafiteiro.

Na primeira etapa foi realizado um levantamento bibliográfico sobre os conteúdos principais do projeto; na segunda parte foram desenvolvidas as intervenções durante as aulas de Geografia com turma do 3o ano do Ensino Médio da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Argemiro de Figueiredo, na disciplina Geografia, durante o ano letivo de 2016.

Na primeira aula, foram expostos slides em Data Show intitulados de “Geografia da violência”, mostrando os principais dados da violência em níveis globais, nacionais e locais, a partir da análise e interpretação de mapas, gráficos, imagens e dados sobre o conteúdo. A utilização desses recursos foi importante, pois mostrou novos horizontes e informações que ainda eram desconhecidas pelos alunos, além de fazer uso das novas tecnologias que, a cada dia, são necessárias para produzir conhecimento com mais qualidade.

Num segundo encontro foi aplicado um simulado preparatório para o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) sobre violência urbana. Como a turma é do último ano do Ensino Médio, viu-se a necessidade de realização dessa modalidade de aula que, além de aprofundar a compreensão sobre o tema, de forma crítica, ainda prepara os alunos para o exame, que pode fornecer a chance deles ingressarem no ensino superior.

Em outro momento foi realizada uma aula de campo no bairro do Catolé, na cidade de Campina Grande, onde se encontra a escola, para que fosse mostrado na prática e a partir do lugar de vivência dos alunos alguns aspectos da violência urbana, como setores do bairro onde são praticados assaltos, locais de alta vulnerabilidade à violência, relatos de experiência e a relação entre violência urbana e outros problemas da cidade.

Como a violência que acontece no espaço escolar também constituiu ponto de interesse do trabalho, a aula seguinte foi dedicada a esta temática, com a participação de um palestrante, que trouxe acaloradas reflexões sobre a problemática, que é praticada pelo próprio sistema educacional e pelos alunos. Tais reflexões e indagações usadas nas palestras colocaram a violência escolar na seguinte conjuntura: “a violência nada mais é que uma representação social dependente das determinações sócio-históricas. As definições são imprecisas e levam a um questionamento: Seria violência nas escolas ou violência das escolas?” (DUPÂQUIER, 2000, p. 5).

Por último, foi concretizado um minicurso com um grafiteiro, que mostrou as bases teóricas, técnicas e materiais usados para desenvolver pichos e grafites.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

O desenvolvimento do projeto se deu de forma satisfatória. Algumas adaptações tiveram que ser feitas, em decorrência da viabilidade para o desenvolvimento da pesquisa. Dessa forma, alguns momentos não foram realizados e outros não aconteceram da forma que foram planejados, porém, momentos não planejados aconteceram e surtiram efeitos interessantes sobre as aulas promovidas. O aparato teórico foi grande, foi proposto o entendimento de muitos termos e temas, mas o resultado final foi favorável ao que foi pensado desde o início.

Falando primeiramente sobre o simulado desenvolvido (Figura 1), foi uma atividade proveitosa, haja vista que, por tratar-se de uma turma concluinte do Ensino Médio e ansiosa pelo ingresso no mundo acadêmico e como o exame do ENEM aborda questões referentes à violência nas cidades, foi importante esse momento. O simulado constava de questões aplicadas no Exame Nacional do Ensino Médio- ENEM, questões essas sobre a temática da violência urbana.



Figura 1 - Aplicação de Simulado preparatório para o ENEM 2016 sobre o tema violência urbana.
Fonte: Arquivo pessoal de Eduardo Soares da Silva (2016).

A violência urbana é um dos principais problemas enfrentados no espaço das cidades, constituindo um dilema que, apesar de antigo, se faz presente com maior frequência na vida dos citadinos em tempos atuais. Com o objetivo de adentrar na questão prática da problemática já dita, foi realizado no bairro do Catolé uma aula de campo, usando como referência os principais sujeitos - os discentes. Os objetivos foram alcançados, apesar de algumas dispersões e falta de atenção iniciais, logo houve integração e aconteceram discussões e relatos acalorados sobre a relação que os alunos que moram no bairro do Catolé tiveram e ainda tem com a violência urbana. A Figura 2 apresenta algumas imagens da atividade desenvolvida.

Uma aula de campo tem a capacidade de aumentar a capacidade de compreensão dos discentes, pois aumenta o leque espacial do fenômeno, estuda na prática tal fenômeno e trás um novo ambiente de estudo – além dos muros escolares. “É, portanto, um recurso de várias possibilidades de abordagem (temática e interdisciplinar) e de múltiplas perspectivas de exploração no sentido de aprendizagem” (SCHÃFFER apudSILVEIRA et al., 2014, p. 39).

Os propósitos da aula foram alcançados: mostrar através de uma metodologia que vai além dos muros da escola a realidade social vivida pelos habitantes das médias cidades no Brasil. Porém fenômenos inesperados aconteceram, que apesar de desviar um pouco o foco principal da aula, por outro lado, ajudaram na aproximação entre os sujeitos do projeto. Tentou-se uma visita a delegacia de polícia do bairro, para através de amostragem estatística, fornecida pelos funcionários, evidenciar como os índices de violência e fazer uma análise dos mesmos.



Figura 2 - Aula de campo sobre a violência urbana no bairro do Catolé, Campina Grande-PB.
Fonte: Arquivo pessoal de Eduardo Soares da Silva (2016).

A aula de campo promoveu uma maior aproximação entre pibidiano e a turma envolvida, o que foi fundamental para continuação do projeto. Foi percorrido ruas do bairro, onde os alunos foram os sujeitos das análises e explicações do contexto da violência urbana. Os mesmos deram depoimentos acalorados e fizeram reflexões críticas sobre como é a realidade do bairro em que vivem.

Na sequência do desenvolvimento do projeto de intervenção, continuaram-se as discussões acerca da violência urbana, a partir da realização de uma palestra sobre a violência escolar, proferida por um convidado do pibidiano (ver Figura 3). O mesmo, promoveu excelentes reflexões e conseguiu fazer os alunos terem uma visão filosófica e científica da violência.



Figura 3 - Slide da palestra sobre violência urbana desenvolvida em turmas do 3o ano do Ensino Médio da Escola Estadual Senador Argemiro de Figueiredo.
Fonte: Arquivo pessoal de Eduardo Soares da Silva (2016).

O ponto máximo da palestra foi a distinção entre a violência contra a escola da violência da escola. Onde ficou esclarecido que violência contra a escola se compreende por meio de expressões como: depredações, vandalismos, arrombamentos, roubos. Já as expressões como organização autoritária, currículos fechados, ambiente confuso e não acolhedor, com práticas discriminatórias dizem respeito à violência da escola.

A partir desse ponto foi possível direcionar e interligar as duas temáticas principais do projeto: violência urbana e violência escolar, pichação e grafitagem. Onde as questões temáticas, já elucidadas dariam espaço para as intervenções práticas, que tiveram respaldo com as aulas de grafitagem.

Como culminância das atividades do projeto de intervenção, foi convidado um grafiteiro que, de forma demonstrativa, apresentou técnicas de utilização grafite, símbolos da pichação e da grafitagem, desenvolveu um conhecimento teórico a respeito do universo do gratite, este quase sempre interpretado com discriminação. Após a sua fala, foi dada liberdade para os alunos usarem o spray e deixarem a mente desenvolver a arte. A Figura 4 apresenta algumas imagens da atividade desenvolvida pelo grafiteiro.

A palestra com o grafiteiro, além de atrair a atenção dos alunos da turma participante da pesquisa também chamou a atenção de alunos de outras salas, curiosos pelo momento e que acabaram participando, desenhando e rabiscando lugares, ações e seres de seus mundos. Esses alunos, que estavam com aulas vagas, deixaram de movimentar-se pelos corredores e participaram da aula prática com os alunos da turma do projeto, o que desenvolveu ainda mais a troca de saberes e experiências.

As pichações e os grafites feitos sobre cartolinas, colados no quadro, tinham um significado político, pessoal e geográficos, foram feitos nomes de ruas, bairros, pessoas e frases, todos com significado para os participantes.



Figura 4: Intervenções sobre pichação e grafitagem: diferenças sociais e ideológicas.
Fonte: Arquivo pessoal de Eduardo Soares da Silva (2016).

Como resultado das intervenções realizadas a partir do tema em questão foi possível compreender que a violência urbana é um tema importante para o ensino de Geografia, que está relacionada às ações consideradas “violentas” no espaço escolar, mais especificamente as pichações, que são realizadas no ambiente educacional, direta ou indiretamente. Também ficou evidente que os estudos sobre pichação e grafitagem são necessários para entender-se o mundo dos alunos e para saber-se o que é permitido e considerado ilegal do ponto de vista do sistema escolar. E, o mais grave, que o sistema escolar também age de maneira violenta na vida dos alunos e que a técnica do grafite pode proporcionar novos caminhos para o desenvolvimento da arte e do melhoramento do convívio do aluno com a escola.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A idealização deste estudo surgiu a partir das aulas de Geografia em uma turma de Ensino Médio de uma escola estadual da cidade de Campina Grande, PB. As dificuldades foram obstáculos significantes, haja vista que o calendário foi complicado para realização de projetos escolares ou até mesmo para cumprir o cronograma de aulas. A experiência prática estimulou reflexões sobre as percepções que os discentes possuíam a respeito da violência urbana, da pichação e do grafite.

Ficou compreendido que, como instituição social, a escola é reflexo da violência que acomete a sociedade e os alunos, como membros dessa sociedade e das escolas, serão os praticantes dos diversos atos “ditos violentos”. A escola, por sua vez, em seu sistema curricular de ensino, também funciona como parâmetros de violência, promovendo conflitos e estabelecendo obstáculos ao desenvolvimento diversificado dos alunos.

A resposta às necessidades para um melhor entendimento sobre violência, o piche e a grafitagem estabeleceu novos paramentos de compreensão de nossas cidades e do espaço social em que vivemos, assim como um aparato teórico mais avançado para adolescentes, pré-universitários, beirando o mercado de trabalho.

Contudo o mais gratificante foi mostrar como aulas de Geografia podem realmente esclarecer fatos que devem ser encarados por outros olhos e como a mesma pode ser dinâmica e crítica como ela tanto existe em seu ensino.

Agradecimentos

Os autores agradecem o apoio concedido, mediante o pagamento de bolsas, pela Coordenação de Apoio de Pessoal de Nível Superior – CAPES, assim como a toda a comunidade da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Senador Argemiro de Figueiredo – POLIVALENTE, em especial a Professora Supervisora Débora do Nascimento Fernandes Alencar. Os autores agradecem também ao palestrante Rafael Bruno pelos esclarecimentos oferecidos e aos serviços importantes do grafiteiro Jed.

Referências

BARCHI, R.. Pichar, pixar, grafitar, colar: os discursos e representações sobre as pichações nas escolas analisados na perspectiva ambiental e libertária. Revista Teias, Rio de Janeiro, ano 8, nº 15-16, 2007.

BRASIL. Lei 12.408/2011. Altera o art. 65 da Lei no 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, para descriminalizar o ato de grafitar, e dispõe sobre a proibição de comercialização de tintas em embalagens do tipo aerossol a menores de 18 (dezoito) anos. Disponível em: . Acesso: 12 abr. 2017.

CAVALCANTI, L. S. A, Geografia e a realidade escolar contemporânea: avanços, caminhos, alternativas. In: Anais do I Seminário Nacional: Currículo Em Movimento – perspectivas atuais. Anais... Belo Horizonte, 2010.

DUPÂQUIER, J. La violence em mileiu scolarie. 2 ed. Ed. Paris: Presses Universitaries de France, mar, 2000.

FERNANDES, L. D.; BARBOSA, J. G. M. Pichação como manifestação cultural: arte ou vandalismo? In: Anais do I Simpósio Mineiro De Geografia. Alfenas, 2014.

FREIRE, Z. B.; MELO, J. A. B.; SARAIVA, L. A. P. Currículo, do prescrito ao real: a flexibilização curricular a partir do cotidiano dos educandos. Geografia: Ensino & Pesquisa, v. 21, n. 01, p. 113-122, jun-abr, 2017.

RAUBER. F. A. Segregação Sócio-espacial e Violência Urbana. Toledo - PR, 2009.

SILVEIRA, R. M. P. et. al. Aula de campo como prática pedagógica no ensino de Geografia para o Ensino Fundamental: proposta metodológica e estudo de caso. Rev. Bras. Educ. Geog., Campinas, v. 4, n. 7, p. 125-142, jan./jun., 2014.

SOUZA, E. C. S. Violência urbana e cultura escolar: estudos das percepções dos atores sociais em uma escola pública em Ananideua - PA. Rev. NUFEN, São Paulo , v. 3, n. 2, p. 116-137, dez. 2011 . Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2175-25912011000200007&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 28 fev. 2018.



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