O PROFESSOR DE GEOGRAFIA E O ENSINO MÉDIO NAS ESCOLAS PÚBLICAS DE IGUATU (CEARÁ): FORMAÇÃO E TRABALHO DOCENTE
THE GEOGRAPHY TEACHER AND THE HIGH SCHOOL OF PUBLIC SCHOOLS FROM IGUATU (CEARÁ): TEACHING WORK AND EDUCATION
EL PROFESOR DE GEOGRAFÍA Y LA ENSEÑANZA MEDIA EN LAS ESCUELAS PÚBLICAS DE IGUATU (CEARÁ): FORMACIÓN Y TRABAJO DOCENTE
O PROFESSOR DE GEOGRAFIA E O ENSINO MÉDIO NAS ESCOLAS PÚBLICAS DE IGUATU (CEARÁ): FORMAÇÃO E TRABALHO DOCENTE
GEOSABERES: Revista de Estudos Geoeducacionais, vol. 10, núm. 20, pp. 1-12, 2019
Universidade Federal do Ceará
Recepção: 05 Junho 2018
Aprovação: 15 Dezembro 2018
Resumen: La investigación tiene como objetivo analizar la formación y el trabajo docente de los profesores de Geografía de la Enseñanza Mediana de las 07 escuelas públicas del municipio de Iguatu (Ceará). La investigación se estructuró en 03 etapas a través de la realización de entrevistas a la coordenadoría regional de educación (Crede 16) y a todos los coordinadores del área de Ciencias Humanas y todos los profesores de Geografía de dichas escuelas. El perfil levantado nos permite concluir un cuadro positivo de formación inicial, pues sólo 01 profesor(a) no posee formación en el área, pero con el predominio de frágiles relaciones de trabajo marcadas por profesores temporales (64%) enseñando otras asignaturas del núcleo base (Sociología y Filosofía) y diversificado (NTTPS, Formación Ciudadana y Mundo del Trabajo) del currículo, además de actuar en otras escuelas y ciudades de la región como complemento de carga horaria e ingreso familiar.
Palabras clave: Geografía, Formación docente, Trabajo docente.
Resumo: A pesquisa tem como objetivo analisar a formação e o trabalho docente dos professores de Geografia do Ensino Médio das 07 escolas públicas do município de Iguatu (Ceará). A pesquisa estruturou-se em 03 etapas por meio da realização de entrevistas à coordenadoria regional de educação (Crede 16) e aos coordenadores da área de Ciências Humanas e todos(as) os(as) professores(as) de Geografia das referidas escolas. O perfil levantado permite-nos concluir um quadro positivo de formação inicial, pois apenas 01 professor(a) não possui formação na área, porém com o predomínio de frágeis relações de trabalho marcadas por professores temporários (64%) lecionando outras disciplinas do núcleo base (Sociologia e Filosofia) e diversificado (NTTPS, Formação Cidadã e Mundo do Trabalho) do currículo, além de atuarem em outras escolas e cidades da região como complemento de carga horária e renda familiar.
Palavras-chave: Geografia, Formação Docente, Trabalho Docente.
Abstract: The research aims to analyze the teaching work and education of high school Geography teachers of 07 public schools of the municipality of Iguatu (Ceará). The research was structured in 03 stages by means of interviews with the regional education coordinator (Crede 16) and the coordinators of the Human Sciences area and all the geography teachers from these schools. The profile identified allows us to conclude a positive initial formation situation, since only 01 teacher (a) has no training in the area, but with the predominance of fragile working relationships marked by temporary teachers (64%), teaching other basic core disciplines (Sociology and Philosophy) and diversified (NTTPS, Education for Citizenship and World of Work) of the curriculum, as well as working in other schools and cities in the region as a complement to workload and family income.
Keywords: Geography, Teacher Education, Teaching Work.
INTRODUÇÃO
Atualmente, Iguatu configura-se como um dos principais municípios do Estado do Ceará sendo o 9ª mais populoso com 102 mil habitantes e o principal centro urbano da região Centro-Sul[1] do Estado sendo a cidade classificada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2008) como centro sub-regional juntamente com as cidades de Crateús e Quixadá[2] consolidando, portanto seu papel histórico na rede urbana cearense cuja importância é demonstrada nos dados oficiais da Capitania do Ceará Grande desde 1873 (JUCÁ NETO, 2009) quando ainda era a povoação de Telha.
Nesse contexto espacial, Holanda e Souza (2010) e Holanda e Amora (2011) ressaltam as dinâmicas socioeconômicas e a transformações territoriais das cidades de Juazeiro do Norte, Sobral, Crato e Iguatu e o papel desempenhado por estas como cidades médias da rede urbana cearense, principalmente no setor de comércio e serviços.
Segundo Amora e Costa (2007), a economia das cidades médias cearense é comandada pelo setor terciário dado o papel regional que elas exercem na rede urbana estadual abrigando representações regionais de órgãos públicos estaduais e federais (bancos, coordenadorias regionais de educação e saúde, conselhos regionais de profissionais, além de órgãos como o IBGE e Sebrae), universidades, hospitais e clínicas especializadas. Na área educacional, novos cursos de graduação e pós-graduação, públicos e privados, são criados, reforçando a dimensão do setor educacional na composição do terciário das cidades médias como é o caso de Iguatu.
Dentro desse contexto de importância regional e significativo crescimento populacional, aliado a importância do setor educacional na qualificação profissional como se equaciona na prática a relação entre a demanda por professores de áreas específicas da Educação Básica como a Geografia e a inexistência de um curso superior público de formação de professor de Geografia numa região com 13 municípios e com quase 400 mil habitantes (IBGE, 2017) onde Iguatu responde por 26% da população regional?
Diante desse contexto, a pesquisa tem como objetivo realizar um diagnóstico do perfil dos professores de Geografia do Ensino Médio das escolas públicas do município de Iguatu focando aspectos ligados à formação inicial e trabalho docentes fornecendo assim, subsídios teóricos e empíricos para as atividades curriculares e extracurriculares do curso de Licenciatura em Geografia do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE) – Campus Iguatu inaugurado no ano de 2018, o primeiro ofertado por uma instituição pública na região Centro-Sul do Ceará.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
A presente pesquisa está organizada metodologicamente em 02 (duas) etapas: a primeira, consiste no trabalho de gabinete por meio do levantamento da literatura que trata de aspectos como formação docente, relações de trabalho e da atuação profissional do professor de Geografia, e; a segunda, consiste em pesquisa de campo do tipo diagnóstico junto aos professores de Geografia das escolas estaduais do município de Iguatu (CE).
Entre os trabalhos consultados que abordam aspectos teóricos da formação docente em Geografia estão os de Cavalcanti (2002) e Lima (2006). Os estudos empíricos de caso, por sua vez, estão retratados nos trabalhos de Mathias e Santos (2010) no município de Irati (PR) e Damaceno Filho, Góes e Rocha (2011) em Itabuna (BA) confrontando assim o universo teórico ao empírico e conferindo, portanto subsídios teórico-metodológicos para nossa análise.
A técnica de pesquisa utilizada em campo segundo Marconi e Lakatos (2010) foi a observação direta intensiva, onde foram realizadas entrevistas do tipo padronizada como instrumento de coleta de dados e informações dos entrevistados.
A pesquisa de campo foi realizada em 03 momentos junto aos professores de Geografia e às coordenações pedagógicas e administrativas de suporte à atividade docente nas escolas estaduais do município de Iguatu, no Estado do Ceará entre os meses de abril e novembro de 2017 na seguinte ordem:
- 1° momento – Coordenadoria regional de desenvolvimento da educação (Crede 16);
- 2° momento – Coordenação da área de Ciências Humanas de cada escola;
- 3° momento – Professores(as) de Geografia do Ensino Médio.
No primeiro momento foi entrevistado um servidor responsável pelo órgão que coordena a educação pública estadual na região, a Coordenadoria Regional de Desenvolvimento da Educação (Crede 16), localizada na cidade de Iguatu e que responde por 07 municípios.
Após levantamento das informações administrativas e identificação das escolas iniciou-se o segundo momento da pesquisa, na qual todos os(as) coordenadores(as) da área de Ciências Humanas das 07 escolas estaduais foram entrevistados(as) (Quadro 1).
Modalidade | Quantidade | Escola | Número de alunos |
Regular | 03 | Liceu de Iguatu Dr. José Gondim | 2.929 |
Governador Adauto Bezerra | |||
Francisco Holanda Montenegro (atual Maria Dáurea Lopes) | |||
Profissionalizante | 02 | Lucas Emmanuel Lima Pinheiro | |
Amélia Figueiredo de Lavor | |||
Tempo Integral | 02 | Antônio Albuquerque de Sousa Filho* (atual Edson Luiz Cavalcante Gouvêa) | |
Filgueiras Lima** | |||
Total | 07 | - |
Obs.: Oficialmente as escolas Francisco Holanda e Antônio Albuquerque foram extintas em 2018, porém seus professores, técnico-administrativos e alunos foram transferidos para as escolas recém-inauguradas.
*1º ano como escola de tempo integral (2017); ** 2º ano como escola de tempo integral (2017).
Fonte: CREDE16; Censo Escolar 2017 (MEC, 2017).No terceiro momento, todos(as) os(as) professores(as) que lecionam a disciplina de Geografia foram entrevistados garantindo a análise integral de todo o universo pesquisado. A entrevista contemplou questões sobre a formação inicial e continuada, jornada e relação de trabalho, disciplinas lecionadas e carga horária semanal, por exemplo.
As escolas pesquisadas estão situadas na sede municipal de Iguatu, com exceção da Escola Francisco Holanda Montenegro localizada no Distrito de José de Alencar. As escolas estão divididas em ensino regular, profissionalizante e de tempo integral, além de um Centro de Educação de Jovens e Adultos (CEJA), este último não incluído na pesquisa por necessitar de análises diferenciadas em função do público e dos professores que atuam por área e não por disciplina. Vale ressaltar que a rede estadual de ensino no Estado do Ceará passa por uma migração de algumas escolas de ensino regular para o ensino integral, por isso, as 2 escolas de tempo integral pesquisadas ainda possuem turmas regulares remanescentes.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
O município de Iguatu pertence a 16ª Coordenadoria Regional de Educação do Estado do Ceará (Crede 16) juntamente com outros 06 municípios abrangendo 18 escolas, as quais estão divididas em 04 modalidades diferentes: regular, profissionalizante, tempo integral e educação de jovens e adultos (Quadro 2).
Município | Modalidade de escola | Total | |||
Regular | Profissionalizante | Tempo Integral | Educação de Jovens Adultos | ||
Iguatu | 03 | 02 | 02 | 01 | 08 |
Acopiara | 02 | 01 | - | - | 03 |
Jucás | 02 | 01 | - | - | 03 |
Cariús | 01 | - | - | - | 01 |
Orós | 01 | - | - | - | 01 |
Quixelô | 01 | - | - | - | 01 |
Catarina | 01 | - | - | - | 01 |
TOTAL | 11 | 04 | 02 | 01 | 18 |
Além das 08 escolas estaduais (incluindo o CEJA) que ofertam o Ensino Médio no município de Iguatu, a Educação Básica nesse nível é completada com os cursos técnicos integrados ao Ensino Médio ofertados pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE), além de cursos regulares de 04 escolas particulares.
No tocante à Educação Superior, a cidade de Iguatu mesmo configurando-se como um importante centro da rede urbana cearense polarizando várias outras cidades, principalmente através do comércio e de serviços ainda apresenta uma baixa oferta de cursos superiores nas instituições públicas com campus na regional da Crede 16 como o IFCE, a Universidade Regional do Cariri (URCA) e a Universidade Estadual do Ceará (UECE).
Os cursos de licenciatura, de forma mais específica, os quais tem como objetivo a formação de professores são ofertados pelas 03 instituições de ensino. No entanto, Iguatu e a região ainda possuem uma lacuna na formação de professores, principalmente na área das Ciências Humanas (História, Filosofia, Sociologia e, até recentemente, Geografia), além de Artes e Letras – Língua Espanhola (Quadro 3).
Município | Instituição de Ensino Superior | Curso de Licenciatura |
Iguatu | Universidade Estadual do Ceará (UECE) | Biologia, Física, Matemática, Pedagogia, Letras (Língua Portuguesa e Língua Inglesa) |
Universidade Regional do Cariri (URCA) | Educação Física | |
Instituto Federal do Ceará (IFCE) | Química e Geografia* |
*O curso de Licenciatura em Geografia iniciou suas atividades em março/2018.
Fonte: Elaborado pelo autor.Vale ressaltar que os dados referentes ao curso de Licenciatura em Geografia não entraram na presente análise em função de não possuir estudantes concludentes, pois suas atividades foram iniciadas em 2018.
Segundo a Crede 16, a carga horária da disciplina de Geografia nas 18 escolas da coordenadoria, em 2017, foi atendida por 39 professores[3] revelando uma média de 2,2 professores de Geografia por escola.
Deste total, apenas 06, ou seja, 15% são efetivos da rede estadual de ensino, os quais também estão concentrados nas escolas da sede do município de Iguatu. Desses profissionais apenas 04 estão em sala de aula, pois 02 ocupam cargos de gestão (coordenação pedagógica e direção escolar) nas referidas escolas de atuação.
No tocante ao município de Iguatu, a disciplina de Geografia na rede estadual de ensino é lecionada por 11 professores (Quadro 04), dos 39 que perfazem a docência da disciplina nas escolas da Crede 16 correspondendo a 28% dos docentes da regional.
Escola | Número de turmas | Número de professores |
Liceu de Iguatu Dr. José Gondim | 25 | 02 |
Lucas Emmanuel Lima Pinheiro | 12 | 02 |
Governador Adauto Bezerra | 11 | 02 |
Amélia Figueiredo de Lavor | 09 | 01 |
Antônio Albuquerque* | 09 | 01 |
Francisco Holanda Montenegro | 07 | 02 |
Filgueiras Lima** | 06 | 01 |
Total | 79 | 11 |
*1º ano como escola de tempo integral (2017); ** 2º ano como escola de tempo integral (2017).
Fonte: pesquisa de campo (2017).Considerando todos os professores de Geografia (efetivos e temporários) da Crede 16, podemos perceber uma concentração espacial dos mesmos na cidade pólo da regional de educação [Iguatu], além de um reduzido número de professores efetivos precarizando as relações de trabalho e o ensino-aprendizagem nas demais cidades da região Centro-Sul, principalmente.
Os professores de Geografia do Ensino Médio da rede estadual no município de Iguatu são, em sua grande maioria, do sexo masculino (73%), enquanto apenas 27% são mulheres reafirmando os dados do Ministério da Educação (MEC, 2009 apud MATHIAS; SANTOS, 2010), os quais revelam que, à medida que se avança para as séries finais do Ensino Fundamental e para o Ensino Médio, há um predomínio de homens na atividade docente. Segundo Louro (1997), a representação dominante do professor está ligada historicamente à autoridade e ao conhecimento, enquanto que a da professora se vincula mais ao cuidado e ao apoio ‘maternal’ à aprendizagem dos alunos, características essas associadas à Educação Infantil e séries iniciais do Ensino Fundamental.
A idade dos professores, por sua vez, varia entre 27 e 45 anos com o tempo de formação bastante diversificado que varia entre 01 a 19 anos. Com exceção de apenas 03 professores, os demais possuem mais de 05 anos de formação revelando experiência docente na Educação Básica.
Quanto à formação dos professores, um dos pontos mais importantes para a análise da qualidade do ensino, todos os profissionais investigados são licenciados em Geografia, com exceção de apenas um professor que está concluindo a graduação na área perfazendo um indicador de 91% de professores formados em Geografia muito superior aos indicadores nacionais.
Segundo o Ministério da Educação (2017) apenas 39,5% dos professores de Geografia das séries finais do Ensino Fundamental e do Ensino Médio possuem licenciatura na área ou bacharelado na mesma disciplina com curso de complementação pedagógica concluído. Considerando apenas os professores de Geografia do Ensino Médio do país formados na área, o percentual eleva-se para 59% (SALDAÑA, 2017).
Dos 10 professores licenciados em Geografia, 02 também possuem a formação de bacharel. O(A) único(a) professor(a) não formado(a) em Geografia é tecnólogo(a) em Irrigação e Drenagem e com mestrado em Engenharia Agrícola, porém está concluindo a Licenciatura em Geografia à distância. Vale destacar que para 02 dos 11 professores a formação em Geografia representa a segunda graduação, após a formação inicial em Pedagogia e Tecnologia em Irrigação e Drenagem.
Com relação à dupla formação licenciatura-bacharelado na Geografia, Cavalcanti (2002) defende a posição de que os cursos de Geografia, em nível de graduação, devem formar ao mesmo tempo o bacharel e o licenciado a partir de um currículo que contemple competências teóricas e práticas para trabalhar com a Geografia em suas várias modalidades superando a dualidade bacharel versus licenciado.
A dupla formação licenciado-bacharel e a segunda formação em Geografia podem revelar uma migração de área de atuação e de perfil profissional em direção à licenciatura e à Geografia como opções de inserção no mercado colocando a docência como grande área de absorção de profissionais na região.
Com relação às instituições formadoras (Quadro 5), chama atenção a diversidade e a predominância de instituições públicas estaduais e federais de ensino e outras regiões do Estado e, inclusive de outros Estados como a Paraíba, decorrência da ausência do curso de Licenciatura em Geografia na região Centro-Sul do Estado.
A Universidade Regional do Cariri (URCA), a Universidade Estadual do Ceará (UECE) e o Instituto Dom José (IDJ) são as principais formadoras dos professores de Geografia investigados. Vale ressaltar que o curso ofertado pelo IDJ é semipresencial com encontros semanais.
Dos 11 professores, 07 são formados em cursos presenciais, 03 em cursos semipresenciais e 01 está concluindo o curso de Geografia à distância. Os cursos semipresenciais ou à distância de formação de professores, embora de qualidade questionáveis por vários especialistas colocam-se como grandes opções de formação em regiões com ausência de cursos superiores presenciais.
Estabelecendo uma relação entre a formação dos professores e o vínculo empregatício, podemos constatar que os professores efetivos são oriundos das cidades de maior distância em relação à Iguatu revelando uma grande mobilidade territorial na relação espaço de formação (Fortaleza-CE/ 370 km e Campina Grande-PB/ 560 km) e espaço de atuação do licenciado permitido pelos concursos públicos. Entre os professores temporários, os quais completam a demanda da carga horária de Geografia, estão os formados pela URCA (Crato-CE/ 140 km) e pelo IFCE e IDJ, estas duas últimas instituições de ensino com campi/unidades de ensino no Centro-Sul do Estado. Entre os professores temporários também estão aqueles formados em cursos semipresenciais ou totalmente à distância.
Perfil da IES | Instituição de Ensino Superior | Quantidade | |
Pública | Estadual | Universidade Regional do Cariri (URCA) campus Crato | 03 |
Universidade Estadual do Ceará (UECE) campus Fortaleza | 02 | ||
Universidade Estadual do Ceará (UECE) unidade Iguatu* | 01 | ||
Federal | Universidade Federal do Ceará (UFC) campus Fortaleza | 01 | |
Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) – campus Campina Grande | 01 | ||
Instituto Federal do Ceará (IFCE) campus Iguatu** | 01 | ||
Particular | Particular | Instituto Dom José (IDJ) unidade Jucás e Orós*** | 02 |
Total | 11 |
*O curso foi ofertado pela UECE na cidade de Iguatu através da Faculdade de Educação, Ciências e Letras de Iguatu (FECLI), campus da UECE.
**Único professor(a) não formado(a) em Geografia.
***O IDJ tem seu diploma expedido pela Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA), Sobral (CE).
Fonte: Elaborado pelo autor.Com relação ao vínculo empregatício, dos 11 professores que lecionam a disciplina de Geografia apenas 04, ou seja, 36% são efetivos da rede estadual de ensino. Esse número é ainda menor quando extrapolamos a análise para os professores de todas as disciplinas das Ciências Humanas.
As escolas estaduais do município de Iguatu contam com 142 professores[4] em sala de aula, dos quais 80 (56%) são efetivos. No entanto, a distribuição entre as áreas do conhecimento não é igualitária reduzindo-se a apenas 20% nas disciplinas da área de Humanas e suas tecnologias – Geografia, História, Sociologia e Filosofia (Figura 1).
Os dados acima revelam também uma grande diferença entre a atenção dada às disciplinas das áreas de Linguagens e Matemática/Ciências da Natureza, em decorrência de uma construção histórica em torno da importância das inteligências e habilidades linguísticas e lógico-matemática, respectivamente associadas ao domínio da leitura e escrita e do cálculo. Essa atenção é ratificada na prática, pelas provas de verificação de desempenho escolar do Ensino Médio, em Língua Portuguesa e Matemática como o Sistema Permanente de Avaliação da Educação Básica do Ceará (Spaece[5]) ressaltados por alguns professores nas entrevistas.
Percebe-se claramente a relação entre o grau de importância dada às disciplinas de Português e Matemática, as provas de verificação de aprendizagem dos respectivos conteúdos e o maior número de professores efetivos nas referidas áreas relegando as disciplinas das Ciências Humanas um segundo plano, o que fica explícito na fala do(a) professor(a) A: “a relação com os professores temporários na área de Humanas na escola é de menor ajuda e maior cobrança”.
Segundo o(a) professor(a) B há um grande número de licenciados em Biologia e Letras na cidade de Iguatu dada a oferta de vagas pela UECE, diferentemente da área das Ciências Humanas o que pode ser uma das causas do grande número de efetivos nestas duas áreas. Essa afirmação vai de encontro à necessidade de formação de licenciados em Geografia na região Centro-Sul do Estado, uma das justificativas para a criação do curso no IFCE/ Campus Iguatu.
A prioridade exposta pelos números na relação professores efetivos e temporários e pela percepção dos professores é confirmada pela Crede 16, segundo a qual nas escolas de tempo integral há um aumento da carga horária das disciplinas de Português e Matemática, além das disciplinas da base técnica em relação às escolas regulares.
A carreira docente muitas vezes é compartilhada com outras funções formais ou informais objetivando a complementação da renda familiar. Com exceção de apenas 01 professor(a) que exerce a profissão de técnico(a)-administrativo(a) em outra instituição pública, a carreira docente é a principal atividade de trabalho para todos revelando um compromisso e dedicação à atividade. No entanto, 05 (45%) professores complementam a renda lecionando em outras escolas, públicas ou particulares, no Ensino Fundamental e Médio, Educação de Jovens e Adultos e cursos pré-vestibulares, inclusive em outros municípios como Jucás (Distrito de São Pedro do Norte), Orós (Distrito de Palestina) e Jaguaribe (sede municipal), por ordem de distância rodoviária.
A complementação da renda familiar através da docência em outras escolas tem uma relação direta com a carga horária semanal de trabalho docente, outro importante aspecto na análise do professor na Educação Básica. Apenas 02 professores não possuem carga horária semanal de 40 h/a o que corresponde à no máximo 27 h/a em sala de aula completadas com atividades de planejamento de aula ou alguma função pedagógica como o professor coordenador de área (PCA) ou o programa professor diretor de turma onde o mesmo fica responsável pelo acompanhamento do processo de ensino-aprendizagem de uma turma específica. Os(as) únicos(as) professores(as) que possuem apenas 20h/a de trabalho semanal nas escolas pesquisadas estão entre os que lecionam e/ou ocupam outros cargos na mesma ou em outra escola, inclusive em outros municípios atingindo as 40 h/a semanais ou mais.
Dessa forma, todos os professores lecionam a carga horária semanal de 40 h/a condição essencial para a viabilidade financeira da profissão, muito embora a jornada de trabalho seja exaustiva. Dos 11 professores de Geografia, 02 superam esta carga horária atingindo uma terceira jornada de trabalho, adicionando mais um turno ou o final de semana.
Associado à carga horária semanal de trabalho está o número de disciplinas lecionadas. Um fato preocupante é que apenas 01 professor(a) leciona somente a disciplina de Geografia, para os demais, portanto, faz-se necessário outras disciplinas para complementação de carga horária de trabalho e/ou renda familiar. O(A) outro(a) professor(a) que leciona apenas Geografia, não será analisado(a) nesse aspecto, pois trata-se de uma situação temporária por motivo de licença maternidade da professora da Geografia, sendo que a mesmo(a) ocupa também cargo de gestão na escola.
Praticamente todos os professores tem na Geografia sua disciplina principal, ou seja, com a maior carga horária semanal. Desse universo, apenas 01 professor(a) possui a maior parte da carga horária com outra disciplina (Sociologia), o(a) qual declarou preferir lecionar a disciplina de Sociologia, apesar de licenciado(a) em Geografia.
Exceto os(as) 02 professores(as) que lecionam somente Geografia (incluído a situação temporária), 07 professores(as) lecionam mais 01 (uma) disciplina e 02 lecionam mais 02 (duas) disciplinas incluindo as da base comum e diversificada do currículo.
Os professores complementam a carga horária com outras disciplinas como Sociologia (03 professores) e Filosofia (01 professor(a)), disciplinas da base comum da área de Ciências Humanas. Na parte diversificada do currículo, outras disciplinas compõem essa dupla ou tripla função docente, como Formação Cidadã (02 professores), Núcleo Trabalho, Pesquisa e demais Práticas Sociais – NTTPS[6] (01 professor(a)), Mundo do Trabalho (01 professor(a)) e Voleibol (01 professor(a). Todas as disciplinas da base diversificada citadas estão ligadas a uma filosofia de formação para o mercado de trabalho/empreendedorismo, mesmo nas escolas não-profissionalizantes.
Dos professores de Geografia, 03 ocupam cargos nas referidas escolas de atuação, sendo 02 professores coordenadores de área (PCA) e 01 coordenador(a) pedagógico(a), os quais todos(as) são profissionais efetivos(as).
Diante de um cenário de não-licenciados em Geografia lecionando a disciplina, bem como de licenciados em Geografia lecionando diversas disciplinas do currículo, Damaceno Filho, Góes e Rocha (2011), lançam a seguinte indagação: Como o professor de Geografia poderá compreender o processo de construção e produção do conhecimento de uma disciplina pela qual não teve a devida formação?
Callai (2003), ressalta, por exemplo, um grande prejuízo resultante dessa relação formação-atuação, pois existem conceitos, conteúdos e habilidades específicos da Geografia que não foram vivenciados pelo professor não-formado na área. O mesmo entendimento e prejuízo vale para licenciados em Geografia lecionando Filosofia e Sociologia, por exemplo.
Damaceno Filho, Góes e Rocha (2011), a partir da realidade baiana da cidade de Itabuna, acreditam que a alocação de professores em outras disciplinas diferentes da sua formação deriva de questões econômicas e da falta de professores formados na área. A solução perpassa pela valorização salarial do profissional e realização de concursos públicos.
Extrapolando a realidade para o contexto das Ciências Humanas, percebe-se claramente que há uma tendência dos professores da rede estadual das disciplinas de Geografia e História completarem suas cargas horárias, respectivamente com as disciplinas de Sociologia e Filosofia, prioritariamente criando dois escalões na área, Geografia e História e depois, Sociologia e Filosofia com menor carga horária, introduzidas mais recentemente no Ensino Médio e com um grande número de professores não-licenciados na área. Nas escolas pesquisadas no município de Iguatu, nenhum professor de Geografia leciona a disciplina de História e vice-versa e apenas 1 professor de Geografia leciona a disciplina de Filosofia, mesmo assim, com apenas 01 h/a semanal.
A disciplina de Filosofia, por exemplo, com metade da carga horária de Geografia conta com o mesmo número de professores nas escolas estaduais do município de Iguatu, revelando um fragmento da mesma como complemento de carga horária segundo dados levantados nas escolas pesquisadas e na Crede 16. Vale ressaltar que as disciplinas de Artes, Filosofia e Sociologia segundo o Censo Escolar de 2015 (SALDAÑA, 2017) estão entre as disciplinas com o maior número de professores sem formação na área, respectivamente com 26%, 23% e 12% apenas e todas no campo das Humanidades.
CONCLUSÕES
A formação e atuação profissional dos professores de Geografia do Ensino Médio das escolas estaduais do município de Iguatu, Estado do Ceará permite-nos concluir a existência de grandes e antigos obstáculos ao processo de ensino-aprendizagem na disciplina de Geografia, os quais perpassam pelo elevado número de professores temporários, concentração espacial dos professores efetivos na cidade polo da regional de educação (Iguatu), alocação em outras disciplinas das Ciências Humanas, além da carga horária de trabalho completada em outras escolas e níveis de ensino ratificando problemas levantados nacionalmente pelas pesquisas censitárias educacionais.
Podemos perceber também uma relação direta entre os professores efetivos, a formação em instituições públicas com cursos presenciais e as maiores distâncias das cidades de localização das instituições formadoras em relação ao município de Iguatu revelando grande mobilidade entre os espaços de formação e atuação profissional possibilitada pelos concursos públicos. Do outro lado, percebe-se também uma relação direta entre boa parte dos professores temporários, os cursos semipresenciais e à distância, além da formação nas cidades da região Centro-Sul do Ceará.
A pesquisa revela também um ótimo indicador quanto à formação dos professores na área da disciplina, muito acima da média nacional, além do fato da carreira docente ser a principal e única profissão para a maioria dos professores de Geografia, elementos importantes para o processo de ensino-aprendizagem.
Extrapolando a análise para as disciplinas das Ciências Humanas e outras áreas do conhecimento, fica claro a existência de uma maior atenção dada às disciplinas de Português e Matemática decorrente de um contexto histórico e das provas de verificação de aprendizagem, podendo refletir no maior número de professores efetivos em relação à área de Humanas. Do outro lado, as disciplinas com o maior número de professores sem formação na área (Filosofia, Sociologia e Artes) a nível nacional são justamente as formações em licenciatura inexistentes na região Centro-Sul do Estado do Ceará corroborando para os baixos indicadores do país.
Nesse contexto educacional e espacial de poucos avanços, mas ainda de muitos obstáculos, a criação do curso de Licenciatura em Geografia do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE) – Campus Iguatu criado em março de 2018 pretende colocar-se como importante lócus de debate e formação de professores de Geografia para a região Centro-Sul do Ceará, em especial, corroborando para a melhoria dos indicadores de aprendizagem e valorização da disciplina na Educação Básica.
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Notas