GEOCINEMA NO ENSINO DE GEOGRAFIA

GEOCINEMA IN GEOGRAPHY EDUCATION

GEOCINEMA EN LA ENSEÑANZA DE GEOGRAFÍA

ELIS ANGELA BOTTON
Instituto Federal Farroupilha, Brasil
ARTHUR BRENO STÜRMER
Instituto Federal de Alagoas (IFAL), Brasil

GEOCINEMA NO ENSINO DE GEOGRAFIA

GEOSABERES: Revista de Estudos Geoeducacionais, vol. 10, núm. 20, pp. 1-12, 2019

Universidade Federal do Ceará

Geosaberes está licenciado com uma Licença Creative Commons Atribuição-Não Comercial 4.0 Internacional.

Recepção: 15 Agosto 2018

Aprovação: 15 Dezembro 2018

Resumo: Neste artigo são apresentados os resultados parciais de um projeto de pesquisa que tomou o cinema como recurso auxiliar do processo de construção do conhecimento geográfico. Objetiva aprofundar a discussão sobre o uso do cinema nos estudos de Geografia entre os estudantes do Ensino Médio Técnico Integrado do Instituto Federal de Alagoas. Foram-lhes aplicados questionários para apontarem os assuntos mais difíceis, depois uma equipe multidisciplinar selecionou as produções cinematográficas de acordo com as ementas de Geografia. Percebeu-se que os estudantes apresentam dificuldades com temas como geopolítica, cartografia, clima, relevo e vegetação, embora demonstrem interesse por eles. Sugerem aulas mais dinâmicas, confirmando a importância da linguagem cinematográfica para o ensino de Geografia. Ao final se elaborará a apostila “Geocinema” para subsidiar o trabalho docente. Palavras–chave: Aprendizagem. Cinema. Ensino Médio. Geografia Escolar. Metodologia do Ensino.

Palavras-chave: Aprendizagem, Cinema, Ensino Médio, Geografia Escolar, Metodologia do Ensino.

Abstract: In this article we present the results of a research project that took the cinema as an auxiliary resource of the process of construction of geographic knowledge. It aims to deepen the discussion about the use of cinema in Geography studies among the students of the Integrated Technical High School of the Federal Institute of Alagoas. Questionnaires were applied to them to point out the most difficult subjects, after which a multidisciplinary team selected the productions according to the menus of Geography. It was noticed that they present difficulties with subjects like geopolitics, cartography, climate, relief and vegetation, although they show interest by them. They suggest more dynamic classes, confirming the importance of the cinematographic language for the teaching of Geography. At the end, the "Geocinema" handout will be developed to support the teaching work.

Keywords: Learning, Movie Theater, High School, School Geography, Methodology of Teaching.

Resumen: En este artículo se presentan resultados de un proyecto de investigación que tomó el cine como recurso auxiliar del proceso de construcción del conocimiento geográfico. Tiene esl objetivo de profundizar la discusión sobre el uso del cine en la Enseñanza Media Técnica Integrado del Instituto Federal de Alagoas. Se aplicó a los estudiantes cuestionarios para apuntar los asuntos más difíciles, después un equipo multidisciplinario seleccionó las producciones cinematográficas de acuerdo con las menes de Geografía. Se percibió que lpresentan dificultades con temas como geopolítica, cartografía, clima, relieve y vegetación, aunque demuestran interés por ellos. Sugeren clases más dinámicas, confirmando la importancia del lenguaje cinematográfico para la enseñanza de Geografía. Al final se elaborará la apostilla "Geocinema" para subsidiar el trabajo docente.

Palabras clave: Aprendizaje, Cine, Enseñanza Media, Geografía Escolar, Metodología de la Enseñanza.

INTRODUÇÃO

A linguagem cinematográfica, por mais comum que possa parecer, ainda é um recurso que pode ser muito explorado para uso no ensino de Geografia. O presente artigo descreve e reflete sobre o desenvolvimento de um projeto de pesquisa iniciado em 2011 no Instituto Federal de Alagoas (IFAL) – Campus Palmeira dos Índios-Al. Em fase de desenvolvimento e apresentando resultados parciais, foi orientado pelos professores da disciplina e o trabalho voluntário de monitores. Na oportunidade, passou-se a problematizar a necessidade de recursos audiovisuais para incrementar as aulas de Geografia, em função dos diferentes assuntos e temáticas constantes nas ementas da disciplina.

Realizaram reuniões periódicas entre orientadores e monitores, nas quais surgiram reflexões e discussões sobre o processo de ensino e aprendizagem da Geografia, onde as metodologias de ensino e o uso de filmes como recurso didático se sobressaíam, ganhando relevância. Desses encontros saíram sugestões de títulos de filmes, desenhos animados, documentários, entrevistas, programas televisivos e outros que foram analisados criticamente, recebendo nova sinopse, instruções para uso em sala de aula, atividades e planos de aula.

As discussões sobre linguagem cinematográfica como possibilidade no processo de ensino e aprendizagem de Geografia originou, assim, uma proposta piloto de investigação no cotidiano das aulas. Uma série de filmes foi elencada para utilização em sala de aula com duas turmas do Ensino Médio Técnico Integrado. A proposta foi acompanhada de registro e avaliação de cada material em vídeo que fosse utilizado. Diante das constatações positivas quanto a sua viabilidade em compor um acervo específico para as aulas, achou-se por bem dar continuidade aos trabalhos sobre a temática.

A experiência apontou desde logo para a possibilidade de a linguagem cinematográfica contribuir para melhorar o desempenho dos estudantes na disciplina de Geografia, tornando esta mais interessante e atraente aos estudantes. Precisava-se, porém, de meios de aproximação entre os estudantes e os conteúdos, especialmente quando o assunto praticamente o exigisse: a análise da paisagem, os arranjos espaciais, ecossistemas, domínios geomorfoclimáticos e outros.

Na ausência de laboratório de Geografia, reforçara-se no grupo a certeza de que a linguagem cinematográfica supriria em parte a carência desse recurso comum em outras áreas do conhecimento e em outras instituições onde se trabalha com a educação básica.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Apesar do movimento de renovação da Geografia datar da década de 1970, pouco dela se verifica no cotidiano das escolas públicas, sempre marcado por concepções geográficas arcaicas e ultrapassadas, que consideram a Geografia como uma disciplina meramente descritiva, conteudística, mnemônica e apoiada em escassos recursos cartográficos.

A Geografia escolar, pelo contrário, é rica em seu conteúdo e variada em seus assuntos, tendo o espaço geográfico como seu campo de abrangência. A partir do legado de Milton Santos (1986, 2006), o espaço geográfico é concebido como um conjunto de sistemas de objetos, ações e informações que ultrapassam a mera visão da materialidade do espaço como teatro de ação, mas é condição para ela.

Com base nesse entendimento, o ensino da Geografia teria por objetivo formar sujeitos capazes de se situar corretamente no mundo a partir do mais amplo conhecimento mesmo do que não está ao seu alcance, o fisicamente distante e fora de seu campo de visão.

Apesar das tentativas de renovação da Geografia e a consequente mudança em seu ensino, o que ocorre, na prática, é o predomínio da memorização, sem que se desenvolva a criticidade, a reflexão e a compreensão do espaço geográfico. Assinala o professor Kaercher (1998) que o movimento de renovação da Geografia brasileira conta quinze anos, mas sem a respectiva renovação na maioria das salas de aula, seja do Ensino Fundamental ou Ensino.

O ensino da Geografia, como, aliás, o de qualquer área, só será válido se conseguir fazer um diálogo com o mundo real, extraescolar, isto é, que supere uma visão, ainda muito arraigada no professor, de que o estudo serve para o genérico iluminar cabeças, ilustrar mentes, uma espécie de enciclopedismo ilustrado, uma cultura geral. A Geografia escolar tradicional se enquadra bem dentro deste perfil de ciência desinteressada, repassadora de informações atualizadas, contemporâneas aos estudantes. Precisamos superar essa visão ingênua e descompromissada. (KAERCHER, 1998, p. 71).

A Geografia é uma área de conhecimento comprometida em tornar o mundo compreensível para os estudantes, explicável e passível de transformações (BRASIL, 1998). De acordo com Andrade (1989, p. 18), “o papel do ensino em geral (e da Geografia, em particular) neste século [XX] é a busca de novas formas de melhorar a realidade”.

Entretanto, é possível trabalhar com esse campo do conhecimento de forma mais dinâmica e instigante para os estudantes, por meio de situações que problematizem os diferentes espaços geográficos materializados em paisagens, lugares, regiões e territórios; que disparem relações entre o presente e o passado, o específico e o geral, as ações individuais e as coletivas; e que promovam o domínio de procedimentos que permitam aos estudantes “ler” e explicar as paisagens e os lugares. (BRASIL, 1998, p. 135).

Tornar a Geografia mais interessante para o estudante é um desafio que deve ser assumido pelo professor dessa disciplina. O primeiro passo é torná-la concreta, prática. Segundo Schäffer (2007), a atual prática pedagógica em Geografia tem desenvolvido os conteúdos associados às saídas de campo, usando-se também de imagens, leituras e escrita.

Relacionado a isso, Kimura (2008) acrescenta:

A Geografia constitui-se em um campo fértil de oportunidades para experimentar de maneira muito rica e estimulante de várias habilidades e, desta forma, possibilitar ao aluno desenvolver competências criativas de percepção e cognição a serem incorporadas ao seu crescimento (KIMURA, 2008, p. 26).

Neste contexto, a linguagem cinematográfica é uma possibilidade no ensino de Geografia, pois é uma fonte de cultura e informação. É um meio de expressão artística, um importante instrumento de comunicação e, por isso, ignorá-lo como meio didático-pedagógico equivale a omitir, no processo educativo, uma discussão sobre a riqueza que somente o cinema pode transmitir em termos da variedade de espaços, culturas, valores e sociedades.

É um recurso que pode ser usado para criar condições para um conhecimento maior da realidade e para uma reflexão mais aprofundada. Além disso, a quantidade cada vez maior de filmes, documentários e curta-metragem de valor científico de boa qualidade, torna desejável – talvez obrigatória – sua utilização como instrumento de complementação e/ou substituição do material pedagógico tradicional (CAMPOS, 2006).

A utilização da linguagem cinematográfica tem a vantagem de comunicar a realidade com profundidade e envolvimento. O objeto da Geografia ganha movimento, leva os estudantes a descobrirem novos cenários e ambientes, além de ser expressão, direta ou indiretamente, dos valores do autor do roteiro, do diretor, da sociedade e do momento histórico no qual foi produzido.

Assim, a escola não deve apenas repassar conteúdos, mas fazer com que os estudantes se sintam parte integrante da sociedade e do mundo, de forma que possam melhor agir para o bem da comunidade e do meio em que vivem. Desta forma, o modelo pedagógico curricular seguido pela Geografia escolar – conteudístico e fortemente padronizado – despreza tanto a consciência crítica da maioria da sociedade quanto sua capacidade de participação ativa.

Oliveira (2006) resume o modo como a Geografia torna-se refém de certo recurso didático:

O processo didático-pedagógico na Geografia escolar limita-se, meramente, à utilização de um determinado livro didático e este é escolhido pelo possível “conhecimento” do conjunto de conteúdos nele contido; porque dispõe de caderno do professor e sugestões de atividades e, ao uso dos programas e provas do vestibular para listar o conteúdo programático a ser desenvolvido no decorrer do ano letivo. (OLIVEIRA, 2006, p. 13-14).

Para além dessa constatação, é necessária a proposição de alternativas que complementem o uso do livro didático no que ele apresenta de sugestões além da linguagem escrita e visual estática, sem que se caia no senso comum da simples reprodução, por exemplo, das listas de filmes que geralmente acompanham o livro didático.

A linguagem cinematográfica, apesar de bastante difundida, todavia é pouco problematizada. As tendências sinalizam que, associada a outros meios – como os da informática e da internet – influencie na renovação das práticas pedagógicas do professor de Geografia, mesmo em escolas dotadas com o mínimo de recursos didáticos audiovisuais.

A proposta curricular do Estado de São Paulo (2011) recomenda a abordagem dos conteúdos básicos de Geografia a partir de um rol sortido de recursos e meios, pressupondo-se que o professor trabalhe com informações e dados variados:

Para tanto, no processo de construção do conhecimento, é fundamental adotar metodologias que usem – além dos recursos didáticos tradicionais, como os livros didáticos e paradidáticos – os diferentes meios de comunicação e expressão, assim como os recursos da informática e da internet, instrumentos indispensáveis para a circulação de informações e difusão da ciência e da tecnologia no mundo contemporâneo. (SÃO PAULO, 2011, p. 79).

Superar o uso dos recursos didáticos tradicionais torna-se quase um imperativo nos dias de hoje. Além da profusão de compartilhamento de vídeos entre os próprios estudantes, é usual acessarem-se filmes que não passaram por qualquer seleção e mediação de um educador. Considere-se que há uma grande valorização da linguagem cinematográfica entre os jovens, mas que nem sempre seu conteúdo é apreendido em seu contexto, razão pela qual seu uso deve ser consciente e planejado para que se possa aproveitar ao máximo a linguagem cinematográfica. O que se tem valorizado é, em si, essa maneira única de reunir sons e imagens.

Como diz Pontshuka et al (2007), “a linguagem cinematográfica é, com efeito, a integração de múltiplas linguagens”, todas sendo um produto do trabalho humano e que permite certa autonomia na leitura de imagens e descoberta de novos cenários e ambientes.

Assim, a utilização da linguagem cinematográfica como recurso didático integrando uma metodologia de ensino permite inserir os estudantes no mundo da cinematografia, partindo do seu universo de valores e referências culturais para atravessar outros contextos e dialogar com as realidades apresentadas nas películas. Por isso, a mediação que o professor de Geografia faz entre o estudante e linguagem cinematográfica torna o ensino de Geografia mais importante do que possa parecer. Além de ser bastante produtivo, é envolvente e desafiador.

OBJETIVO GERAL

O objetivo do projeto, cujos resultados serão aqui relatados e discutidos, é discutir o uso da linguagem cinematográfica no ensino de Geografia, agregando qualidade ao processo de construção do conhecimento geográfico no âmbito do Instituto Federal de Alagoas.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Os objetivos específicos dizem respeito ao detalhamento que permitiu atingir o objetivo geral. Por sua natureza, contextualizam a proposta investigativa não necessariamente em ordem progressiva quanto aos dois primeiros objetivos específicos, pois que mesmo ao selecionar os filmes se prestava atenção às dificuldades de compreensão dos estudantes em relação aos assuntos da Geografia, estabelecendo-se um movimento cíclico permanente.

Os objetivos específicos são:

1. Identificar as dificuldades no aprendizado da Geografia entre estudantes do Ensino Médio Técnico Integrado do Instituto Federal de Alagoas (IFAL) – Campus Palmeira dos Índios-AL;

2. Utilizar filmes selecionados como recurso didático nas aulas de Geografia, visando à montagem de um acervo que facilite a assimilação dos conteúdos e desperte o interesse dos estudantes do Ensino Médio Técnico Integrado;

3. Elaborar a apostila “Geocinema”, contendo um roteiro de estudo e discussão de temas importantes para a Geografia através dos filmes elencados no acervo, para posterior divulgação.

O projeto ainda tem como metas: melhorar o desempenho na aprendizagem de Geografia dos estudantes; estimulá-los a se envolver com esta área de conhecimento, adotando nova postura diante do saber geográfico; constituir um grupo de estudo que parta da experiência adquirida com o projeto, viabillizando o envolvimento de docentes e discentes; além de induzir o desenvolvimento de novos trabalhos na área e consolidar um centro de referência em estudos de recursos didáticos de Geografia e novos métodos de ensino utilizando a linguagem cinematográfica.

METODOLOGIA

A pesquisa realizada é de cunho exploratório e aplicado, em que a revisão teórica sustentará as proposições assentadas na prática. Como menciona Freire (1988), “toda prática contém uma teoria, ambas são indissociáveis e se constroem reciprocamente” (FREIRE, 1998, p. 17). A pesquisa exploratória proporciona maior familiaridade com o problema desde o levantamento bibliográfico até a aplicação de questionários e entrevistas. Seu uso tem como objetivo investigar, comprovar ou rejeitar hipóteses (RODRIGUES, 2007).

Para identificar as dificuldades enfrentadas pelos estudantes no aprendizado da Geografia do Ensino Médio Técnico Integrado, foram selecionadas oito turmas de 1º, 2º e 3º anos, no Instituto Federal de Alagoas (IFAL) – Campus Palmeira dos Índios-AL. Distribuídas em dois turnos – matutino e vespertino –, optou-se por incluir os três cursos oferecidos na instituição – Informática, Edificações e Eletrotécnica.

O instrumento de pesquisa utilizado consistiu de um questionário com questões fechadas, objetivando captar o envolvimento dos estudantes do Ensino Médio Técnico Integrado com o estudo da Geografia, em especial identificar os assuntos com os quais os discentes apresentavam maior dificuldade de aprendizagem e compreensão.

Os dados obtidos foram tabelados, alimentando gráficos que permitiram visualizar melhor aqueles dados referentes aos temas geográficos de maior dificuldade de assimilação, que foi um dos que mais auxiliaram na seleção de filmes, curta-metragens e documentários.

A seleção dos materiais, acompanhada de revisão bibliográfica, concentrou-se justamente em filmes, curta-metragens e documentários, adotando-se como critério central para a adequação dos mesmos aos conteúdos estabelecidos nas ementas da disciplina de Geografia para os cursos. Elas praticamente não variam de um curso para outro, facilitando os procedimentos de análise. Para a efetivação desta etapa do projeto foi formada uma equipe multidisciplinar composta, inicialmente, por quatro professores: dois licenciados em Geografia, um em História e outro em Línguas.

A seleção seguiu quatro fases:

1ª) busca do material;

2ª) assistência às produções cinematográficas;

3ª) elaboração das atividades sobre cada produção;

4ª) aplicação em contexto de ensino;

5ª) construção de roteiros de aula para uso do material.

A busca concentrou-se em títulos reconhecidos pela sua contribuição à reflexão sobre cada tema, por terem sido reconhecidos quanto a sua qualidade na elucidação de um tema em específico e outros que já ocupam lugar consagrado nas aulas de Geografia, além de vídeos postados – mesmo recentemente – em sites de compartilhamento de vídeos com conteúdo geográfico.

O objetivo da equipe multidisciplinar foi o de identificar uma função pedagógica às diversas produções cinematográficas nacionais e estrangeiras, fazendo a ponte entre o material coletado e o aluno, ou seja, construindo propostas de uso didático da cinematografia. Além disso, o material selecionado respeitou as necessidades de aprendizagem a partir do levantamento das dificuldades de compreensão sobre os assuntos apontados pelos estudantes durante a coleta de dados.

Concluída esta etapa, será elaborada uma apostila denominada Geocinema: a Geografia em ação, com as indicações de filmes, atividades didático-pedagógicas para cada filme e roteiro de estudo temático. A apostila Geocinema virá acompanhada de um tutorial contendo orientações sobre o uso das Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs), tal como os passos para instalação de aplicativos, formatos de arquivos e conversão de vídeo e armazenamento do material cinematográfico, dentre outros.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Questionados se gostam de Geografia e do por que, os estudantes do Ensino Médio Técnico Integrado responderam, na sua maioria absoluta (54%), que possuem afinidade com a disciplina, enquanto percentual significativo (34%) a reconhecem como atraente por ter um papel ligado à atualização. Neste sentido, a Geografia ganha destaque como disciplina de conhecimentos gerais ou, como observou Stürmer (2017) “em alguns meios, como ‘Atualidades’ – quando é acompanhada pela História”.

Um grupo de estudantes (12%) reúne aqueles que não compreendem os assuntos, não possuem qualquer afinidade com a Geografia atribuem suas dificuldades de compreensão à ampla variedade de assuntos (Figura 1).

Figura 1
– Interesse nos estudos de Geografia
Figura 1 – Interesse nos estudos de Geografia
Fonte: pesquisa de campo, 2015

Sobre os diferentes assuntos abordados nas aulas de Geografia, os estudantes apontam a Geopolítica como o assunto preferido, seguido por Cartografia. Na sequência e, juntos, Clima, Relevo e Vegetação constam entre os assuntos mais bem aceitos. São assuntos tanto da Geografia dita “humana” quanto daqueles da “física” (Figura 2).

Figura 2
– Assuntos de Geografia preferidos
Figura 2 – Assuntos de Geografia preferidos
Fonte: pesquisa de campo, 2015

A Geopolítica representa bem o gosto pela Geografia “humana”, que inclui o estudo da sociedade no espaço e, assim, outros temas como: a construção de cidades, os movimento populacionais, o exercícIo da territorialidade e as novas ordenações imprimidas pela globalização. Embora a Geografia “humana” seja a preferida pelos estudantes, geralmente oferece alguma dificuldade (Figura 3), porque envolve conteúdos de história, Geografia, economia e política correlacionados.

Figura 3
– Dificuldades em Geografia
Figura 3 – Dificuldades em Geografia
Fonte: pesquisa de campo, 2015

De outro lado, há interesse também pelos assuntos da Geografia “física”: estudo do Clima, Relevo e Vegetação (15%). A Cartografia, preferida por 16% dos estudantes, é declarada como um assunto difícil, mesmo que se trate basicamente de uma técnica de representação, espacialização e comunicação de dados.

Sabe-se que o ensino de Cartografia depende em muito dos materiais didáticos disponíveis na instituição escolar, sejam eles analógicos ou digitais. Sobre este ponto, os dados colhidos mostram que, no geral, não faltam materiais didáticos (Figura 4).

Figura 4
– Materiais didáticos de Geografia
Figura 4 – Materiais didáticos de Geografia
Fonte: pesquisa de campo, 2015

Observou-se, porém, que 23% dos estudantes sentem necessidade de mais mapas, livros e outros. Tais materiais podem até ser considerados tradicionais pelo público leigo – e por grande parcela dos próprios estudantes –, embora para os professores eles sejam materiais imprescindíveis pela sua natureza “concreta”, palpável e, no caso de materiais mais elaborados como modelos didáticos no formato de maquetes, croquis, globos, cartogramas, etc., sua importância é ainda maior. Isso porque cada indivíduo apresenta particularidades em seu processo de aprendizagem, requerendo diferentes meios ou apoio em materiais didáticos capazes de chamar mais a atenção para o assunto (conteúdo) e para a aula de Geografia.

A linguagem cinematográfica parece transitar entre os métodos de ensino tradicionais, renovados e críticos, consistindo, na prática, em um dos materiais que, se bem utilizado (em contexto, articulado com atividades de debate, saídas de campo, reflexões de cunho geográfico, textos do livro didático e trabalhos avaliativos) torna o ensino de Geografia realmente mais atraente, instigante, aproximando o estudante de realidades espaciais às vezes distantes e em tempos diversos. Essa linguagem não substitui os materiais que se mencionou acima, as diferentes mídias e a desejável integração entre elas, tampouco o empenho de individual de cada estudante.

Quanto a esse ponto, os resultados comprovam o que os estudantes pouco revelam aos professores e pais/responsáveis no tocante aos hábitos de estudo. Por exemplo, a causa das dificuldades com a cartografia pode ser explicada pela pouca dedicação ao estudo, haja vista que 58% declararam estudar somente em época de avaliações, isto é, desvinculado do seu cotidiano e que lhes proporcionaria estabelecer mais relações entre conteúdos e viviências pessoais. Por sua vez, uma parcela de estudantes (31%) dedica até 1h/dia ao estudo (Figura 5).

Deste modo, suspeita-se que 89% dos estudantes agem segundo o costume ainda corrente de tomar os estudos de Geografia como que exigindo apenas a habilidade de memorização para serem aprendidos. O número de estudantes na situação acima é assustador, entretanto a constatação da permanência de uma concepção de Geografia menemônica entre eles é mais preocupante. Infere-se que dela derivam as dificuldades com determinado assuntos da geografia, assim como podem levar à frustração de expectativas a quem pretenda estudar essa disciplina somente para ser aprovado e ter nota para “passar”. Assim, sendo, há um desafio que se coloca aos professores de Geografia (antes das avaliações), justificando, em parte, o trabalho de pesquisa sobre o Geocinema, a fim de trazer aos estudantes a possibilidade de um estudo menos formal que nas aulas expositivas e conectado com assuntos que requerem formação de opinião, como se vê em outros trabalhos (FIORAVANTE, 2013; SANTOS; AMAZONAS, 2017).

Figura 5
– Tempo de estudo
Figura 5 – Tempo de estudo
Fonte: pesquisa de campo, 2015

Quando, porém, os estudantes têm a oportunidade de sugerir melhorias no ensino de Geografia, 51% desejam aulas mais dinâmicas, ou seja, novas formas de abordagem dos conteúdos de Geografia (Figura 6).

Figura 6
– Sugestões de melhorias no ensino de Geografia
Figura 6 – Sugestões de melhorias no ensino de Geografia
Fonte: pesquisa de campo, 2015

Percebe-se que há conveniência em se problematizar o uso da linguagem cinematográfica como recurso didático complementar. Os estudantes, ao serem solicitados sobre suas ideias para melhorar o ensino de Geografia, colocaram-se como sujeitos passivos (72%) em seu papel na dinamização das aulas (participar ativamente das aulas, opinar sobre os assuntos, sugerir atividades, organizar-se para aproveitar melhor as saídas de campo). Neste caso, é importante que a linguagem cinemetográfica seja utilizada de modo a não estimular o comportamento passivo do estudante, sob pena de, ao invés de o Geocinema estimular o estudo de Geografia, acabar reforçando o fator “[falta de] consciência dos estudantes”, como visto acima.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A linguagem cinematográfica encontra terreno fértil para seu uso no ensino de Geografia no Ensino Médio Técnico Integrado. Diante da relativa falta de materiais didáticos para trabalhar conteúdos percebidos como de difícil compreensão, mas se tendo estudantes com declarada afinidade com a disciplina de Geografia e, inclusive, preferência por determinados assuntos, entende-se a relevância em se discutir com maior profundidade a linguagem cinematográfica para a dinamização das aulas.

Os Institutos Federais têm investido bastante no ensino, pesquisa e extensão, o que não corresponde ao recebimento de aportes didático-pedagógico específicos, destinado à disciplina de Geografia. Por isso, busca-se suprir as lacunas existentes com recursos tecnológicos disponíveis na web e atividades extracurriculares, como o Cine Ifal – a primeira grande experimentação da linguagem cinematográfica na instituição, para divulgar filmes de interesse de componentes curriculares diversos e fomentar o debate, em rodas de conversa, entre professores e alunos.

A linguagem cinematográfica veio a se somar aos demais recursos existentes no Instituto Federal de Alagoas – Campus Palmeira dos Índios, abrindo novas possibilidades de uso não só da sala de aula, mas nos auditórios, anfiteatro ao ar livre, complementando visitas técnicas e sendo exibidos em sala de recursos audiovisuais.

Por ser um recurso didático atraente e estimulante aos estudantes, o Geocine ou Geocinema se mostra muito útil para introduzir os assuntos de Geografia, analisar contextos geográficos complexos, paisagens de todo tipo e os tipos de relevo, clima, hidrografia e vegetação, por exemplo.

Um de seus diferenciais é mesclar som e imagem que, de um lado, facilita a compreensão dos conteúdos curriculares e, de outro, contribui para “alfabetizar o aluno para a leitura que se tem e se pode ter de mundo” (OLIVEIRA, 2006, p. 18), gerando um aprendizado contextualizado e completo (ARNAUD et al, 2016) como uma meta para o ensino de Geografia.

Ressalva se faça que, mesmo na abundância de materiais didáticos e com aulas de Geografia mais dinâmicas, a aprendizagem e desenvolvimento dos estudantes, bem como a compreensão dos mais diversos assuntos de Geografia, dependem de vários fatores. Resumidamente, o primeiro é o maior empenho dos estudantes – mais tempo a se dedicar nos estudos de Geografia –, mudando sua concepção de disciplina onde se aprende decorando assuntos para a prova. O segundo é a adoção, pelo professor, de linguagens alternativas, materiais didáticos diversificados, articulados entre si e associados às Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs). O terceiro fator é a variação constante dos espaços utilizados para as aulas de Geografia, que não precisa limitar-se a um único espaço: deve experimentar espaços internos e externos à sala de aula e, na medida do possível, transitar entre o interior e exterior da própria escola (Instituto Federal), conhecendo e interagindo com a comunidade do entorno.

Por fim, o “recado” que os estudantes deixaram para ser registrado nesta pesquisa foi a de que a Geografia lhes é interessante no Ensino Médio (Técnico) – para o que concorre a multiplicidade de assuntos abordados, típicos tanto da área de “humanas” como da área das ciências “naturais” –, a tendência a apresentar conteúdos curriculares atuais e a necessidade que perceberam de haver mais materiais didáticos para esta disciplina. Não obstante, é preciso dinamizar as aulas para que superem as dificuldades que têm com alguns assuntos de Geografia.

A dinamização das aulas de Geografia, em estando apoiada na atuação do professor, encontrará bom termo ao se buscar meios auxiliares ao ensino de Geografia, como é o caso do projeto Geocinema, o qual é mais que um expediente para transmitir conteúdos, dar novo formato às aulas ou suprir a falta de materiais didático-pedagógicos na escola.

Em suma, o Geocinema tem o poder de abrir discussões sobre: como melhor ensinar Geografia; por que se usar excessivamente da linguagem escrita em uma disciplina historicamente taxada de menemônica e ainda muito dependente do “currículo pronto” trazido pelo livro didático; bem como se poderia valorizar mais as linguagens alternativas com as quais o estudante já está suficientemente familiarizado.

referências

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